sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

NOTÍCIA: ADOLESCENTES QUE ENGRAVIDAM SOFREM MAIOR RISCO DE PROBLEMAS FÍSICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS - JULIANA CONTE - COM GABARITO

 Notícia: Adolescentes que engravidam sofrem maior risco de problemas físicos, psicológicos e sociais

Juliana Conte

Publicado em: 26 de março de 2019

Revisado em: 11 de agosto de 2020

        Taxa de filhos de mães adolescentes no Brasil é maior que a média mundial. Adolescentes que engravidam têm alto risco de uma série de danos, e as mulheres mais pobres são as mais atingidas.

        Os índices de gravidez na adolescência no Brasil servem para nos lembrar de que ainda temos muitas dificuldades a enfrentar nessa área. Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) mostram que dos quase 3 milhões de nascidos em 2016, 480 mil eram filhos de mães entre 15 e 19 anos, compondo uma taxa de 16% de todos os nascimentos. Apesar de ter havido uma queda de aproximadamente 20% nesse número em dez anos, ainda temos 68 bebês de mães adolescentes para cada mil meninas entre 15 e 19 anos, enquanto a taxa mundial é estimada em 46 para cada mil meninas dessa faixa etária.

        Explicar o motivo que levam a esse cenário não é tão simples, mas os especialistas consultados para esta reportagem foram unânimes em duas hipóteses: independentemente da classe social, os adolescentes estão transando cada vez mais cedo. Ao mesmo tempo, falta educação sexual.

        A preocupação com o uso de método contraceptivo sempre recai sobre a mulher, e geralmente elas têm conhecimento sobre a importância de se prevenir. “A grande maioria das gestantes adolescentes tem noção da necessidade de usar métodos contraceptivos. Sabe que existe camisinha, pílula ou DIU. Mas entre saber e usar, há um abismo”, afirma a dra. Fernanda Surita, ginecologista do Hospital da Mulher de Campinas-SP. Os profissionais apontam, ainda, para um fenômeno chamado “pensamento mágico”. O casal dificilmente acredita que a gravidez vá de fato acontecer com eles. Muitos pensam que “é só uma vez, então não vai acontecer nada”.

        A ginecologista dra. Beatriz Barbosa trabalha no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoerinha, na zona norte de São Paulo, desde 2003. Às quartas-feiras ela atende no ambulatório somente gestantes, muitas delas adolescentes. A médica expressa seu desânimo com a situação, dizendo que muitas vezes se sente como se “enxugasse gelo”. Apesar do esforço que toda equipe faz para aconselhar as pacientes, principalmente no pós-parto, ela conta que o risco de atender uma grávida reincidente é alta. Ela se recorda de um episódio de uma menina que engravidou 10 meses após o primeiro parto. Conta que levou um susto quando viu a ficha dela em cima da mesa e achou que era um erro. “Mas não era. Foi muito rápido. Mal tinha dado tempo de ela se recuperar e já ia enfrentar tudo de novo.”

        No breve tempo em que fiquei aguardando para entrevistar a médica, encontrei duas garotas que não deviam ter mais que 15 anos. Tentei conversar com uma delas, que estava acompanhada da mãe, mas sem sucesso. “Aqui é assim praticamente toda semana. Atendo uma média de 20 pacientes, a grande maioria adolescentes. Já cheguei a atender uma de 12 anos. Apesar dos índices do Ministério apontarem para uma queda nos índices de gravidez precoce, na prática clínica não é isso que notamos”, comenta Beatriz.

        Muitos ginecologistas acreditam que é preciso reforçar a orientação sobre a necessidade de usar métodos contraceptivos, principalmente os de longa duração. Isso ajudaria bastante nos casos em que a jovem se esquece de tomar a pílula. “O SUS oferece o DIU de cobre, mas a adesão é muito baixa e o produto chega até a vencer nas unidades de saúde”, comenta César Eduardo Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

        Adolescentes grávidas sofrem com falta de estrutura

        Ser mãe adolescente, sem nenhum tipo de planejamento nem apoio familiar, ocasiona diversos problemas na vida da gestante e perpetua um ciclo de pobreza e exclusão social difícil de ser quebrado. Adolescentes pobres têm cinco vezes mais risco de engravidar que as mais ricas. Com filhos, dificilmente elas conseguirão conciliar os estudos, entrar no mercado de trabalho e ter independência financeira.

        Muitas atrasam o pré-natal (momento extremamente importante para garantir a integridade física do bebê) porque não se sentem preparadas para contar para a família que estão grávidas. Dessa maneira, a janela para identificar e resolver algum problema de saúde potencialmente grave, como sífilis, fica limitada, o que aumenta ainda mais o risco de instabilidade dali em diante. Ao mesmo tempo, elas ainda são muito jovens, então elas demonstram preocupações quase infantis. “Elas chegam assustadas e com algumas dúvidas que não condizem com a situação. Perguntam ‘mas como esse bebê vai sair daqui?’”, afirma Beatriz Barbosa.

        Tanto o Hospital Cachoeirinha, em São Paulo, como o Hospital da Mulher, em Campinas, promovem atendimento especializado multidisciplinar para dar suporte a essas gestantes. As áreas de nutrição (a maioria chega abaixo do peso e desnutrida), de assistência social e de psicologia são as mais acionadas. Apesar de cada uma abordar uma vertente, todas procuram identificar se a garota não foi vítima de violência sexual. “Estabelecemos um acolhimento para entender, primeiramente, a dinâmica familiar em que a jovem está inserida. Depois disso, tentamos inseri-la em políticas públicas como bolsa família, cesta básica emergencial, cursos para gestante etc.”, explica Dalva Rossi, assistente social do Hospital da Mulher de Campinas.

        Gravidez na adolescência e pouco diálogo em casa

        Nem todos os adolescentes que têm filhos muito cedo apresentam histórico de desestruturação familiar, mas é muito comum serem prole de gerações que também tiveram filhos antes dos 20 anos. A falta de conversa sobre sexo em casa também costuma ser tradição nessas famílias.

        Eles não conversam sobre o assunto em casa e, provavelmente, nem na escola. Na verdade, o ensino sobre os temas sexualidade e prevenção da gravidez sofreu grande retrocesso no país em meados de 2011, quando se instaurou uma polêmica envolvendo o material educativo Escola sem Homofobia (que ficou tachado de “kit gay”). Na época, todo o suporte didático que era distribuído desde 2003 para crianças a partir dos 12 anos foi recolhido sob a justificativa de que “incentivavam o homossexualismo (sic) e a promiscuidade”. “Falta espaço para discutir sexualidade porque ainda a encaramos como tabu. Os pais acham que se falarem com os filhos sobre o assunto vão estimular a relação sexual precoce, o que é um mito”, afirma Rossi.

        Riscos de uma gravidez na adolescência

        Além do aspecto social, a gravidez na adolescência está associada a uma série de riscos à saúde da mulher e do bebê. Elevação da pressão arterial (eclampsia e pré-eclâmpsia) com risco de crises convulsivas são alguns dos problemas que podem acometer a grávida muito jovem com maior frequência que em outras faixas etárias.

        Entre os agravos mais comuns no bebê, estão a prematuridade e o baixo peso ao nascer. “O índice de mortalidade entre filhos de mães adolescentes é muito alto. Cerca de 20% da mortalidade infantil no Brasil decorrem do óbito precoce de bebês nascidos de mães entre os 15 e 19 anos”, destaca a dra. Evelyn Eisenstein, membro do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

        Outro problema muito comum é a deficiência nutricional, com riscos de anemia. Por isso, muitas vezes, é necessário haver suplementação de cálcio e ferro para as gestantes.

        Qualquer pessoa consegue imaginar a desorganização que ter filhos de forma não planejada pode provocar na vida. No caso específico de mulheres jovens, cada uma dessas condições é um agravante com alto impacto no futuro de famílias que provavelmente já se encontram em situação vulnerável. Como acontece na maioria das vezes quando tratamos questões envolvendo pessoas socialmente mais vulneráveis, o mais eficaz é concentrar os esforços em políticas públicas na prevenção.

CONTE, Juliana. Adolescente que engravidam sofrem maior risco de problemas físicos, psicológicos e sociais. Drauzio Varella. UOL, 26 mar. 2019. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/adolescentes-que-engravidam-sofrem-maior-risco-de-problemas-fisicos-psicologicos-e-sociais. Acesso em: 8 jun. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Faraco – Moura – Maruxo – 1ª ed., São Paulo, 2020. Ed. Saraiva. p. 138-140.

Entendendo a notícia:

01 – Após a leitura da reportagem, discuta com os colegas e o professor: Você conhece alguém que já tenha passado pela situação reportada no texto? Ela vivenciou os problemas apontados na reportagem?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É importante que os alunos façam a relação entre o texto e algo que eles já tenham vivenciados na família, entre os amigos, na própria escola.

02 – Reúna-se com um colega para analisar o texto em seus termos mais globais.

a)   Acessem o site em que está o texto. Qual é o objetivo desse portal? O texto lido está alinhado com esse objetivo? Por quê?

Nesse portal, são divulgadas textos sobre saúde e qualidade de vida, com uma linguagem acessível a toda a população. A reportagem está alinhada com esse objetivo geral do site em que circula, pois aponta possíveis problemas de saúde a que se expõe uma adolescente grávida.

b)   Quem pode se interessar por textos dessa natureza?

Qualquer pessoal que esteja em busca de informações sobre o tema tratado nele.

c)   O texto foi organizado som subdivisões. Com que propósito isso foi feito?

As subdivisões sinalizadas por subtítulos, têm o propósito de indicar subtemas.

d)   Considerando o que você já sabe dos gêneros do campo jornalístico, por que o texto é exemplo de uma reportagem?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque possui elementos característicos da reportagem: o lide; a investigação jornalística acerca de um assunto específico; o levantamento de dados; o tratamento do assunto de maneira mais subjetiva, quando comparado à notícia; a função de informar o leitor sobre determinado assunto; possíveis entrevistas com especialistas.

03 – A reportagem apresenta diversos dados de uma pesquisa.

a)   No primeiro parágrafo, qual é a importância do uso desse tipo de informação em uma reportagem?

Esse tipo de informação ajuda a dar credibilidade para aquilo que está sendo apresentado ao longo do texto.

b)   Considerando o segundo parágrafo, para que fatos esses dados apontam?

Os adolescentes iniciam a vida sexual cada vez mais cedo, falta educação sexual entre eles.

c)   No terceiro parágrafo, um desses dados se mostra mais complexo do que se pode pensar. Qual é e por quê?

É a questão da falta de educação sexual e expliquem que nesse parágrafo a jornalista indica que os jovens têm informação, mas não acreditam que a gravidez vá acontecer com eles especificamente.

04 – Os hospitais Cachoeirinha (São Paulo - SP) e da Mulher (Campinas – SP) oferecem à população atendimento especializado multidisciplinar. E na região em que você mora, como é o atendimento às mulheres nos hospitais públicos e/ou em unidades básicas de saúde?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – No quarto parágrafo, a médica entrevistada aponta que, diante da situação, ela se sente como se “enxugasse gelo”. Qual é o sentido dessa expressão? Que fato a leva a se sentir assim?

      Sentido de insistir em algo que parece ser inútil. A expressão sugere que por mais que a médica esteja se esforçando para orientar as pacientes grávidas, esse trabalho parece não surtir efeito, pois elas não a ouvem. A profissional sente-se desanimada, porque a taxa de reincidência de gravidez na adolescência no local onde ela trabalha é constantemente alta.

06 – De acordo com o texto, as adolescentes pobres têm cinco vezes mais risco de engravidar do que as mais ricas. Qual é a justificativa apresentada para essa afirmativa?

      Isso provavelmente acontece porque as adolescentes mais pobres têm menos informação sobre os métodos contraceptivos em comparação com as jovens economicamente mais favorecidas.

 

 

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