sábado, 29 de agosto de 2020

REPORTAGEM: GERAÇÃO TIPO ASSIM - JORNAL DO BRASIL - COM GABARITO

 Reportagem: GERAÇÃO TIPO ASSIM

 revistacult.uol.com.br

Imagens comparativas e novas gírias reacendem a discussão sobre a erosão da linguagem entre os jovens

         Ao adolescente dos anos 90 que não consegue entender o que se conversa numa roda de contemporâneos, resta o consolo de não pertencer aos grupos acusados de promoverem a chamada erosão da linguagem. Para esses grupos, segundo estudiosos como o poeta, tradutor e ensaísta José Paulo Paes, tem sido cada vez mais cômodo seguir o caminho das imagens comparativas, evitando expor o próprio potencial intelectual ao risco de um raciocínio elaborado. Não é à toa que um dos recursos mais usados hoje para facilitar a explicação de uma ideia é o “tipo assim” (“Ele é um cara tipo assim...”). [...]

         Enquanto a discussão volta a mobilizar estudiosos, novas gírias são criadas e absorvidas numa velocidade impressionante. [...] “A conversa de adolescentes é feita de diálogos exclamativos e sem fluência, próprios de quem apenas reafirma um comportamento de grupo”, alerta Paes. O poeta reconhece, no entanto, que “existem gírias muito saborosas”. Mas restringe: “Gíria é coisa de moda. Muitas vezes você substitui uma boa intensão verbal de gírias anteriores sem que haja ganhos expressivos.”

         Em outra vertente, o escritor Affonso Romano de Sant´Anna acha normal que cada grupo social crie sua própria linguagem. “E os jovens que passaram a existir socialmente a partir dos anos 60, coma emergência do poder juvenil, também tem a sua linguagem”, diz. “Esse é um fato que não recrimino nem reprovo, mas sua constatação é inevitável.” O escritor vê a leitura como única solução para as divergências entre as linguagem usadas por jovens e adultos. “É lendo que você aumenta seu vocabulário”, sugere.

         Affonso Romano observa que hoje os jovens não são a única tribo a usar uma linguagem própria, de difícil entendimento por quem está de fora: “O mesmo acontece, por exemplo, com o pessoal que mexe com computador. Sua linguagem é restrita, falava em códigos.” [...]

         Os adolescentes não veem problema no uso de gírias e expressões recém-criadas, e julgam seu vocabulário “inofensivo”. “As gírias são um meio muito legal de se comunicar e simplificar as coisas. Além disso, é irado falar de um jeito que os professores e o pessoal lá de casa não entendam”, diz Thiago, 16 anos.

         “A moda não muda? A de coração não muda? Qual é o problema de atualizar também o vocabulário?”, questiona Tatiana, 17 anos. Sua colega Maíra, 16 anos, tenta explicar o uso frequente de expressões, como o tipo assim: “Você quer falar alguma coisa e descobre uma expressão que consegue resumir seu pensamento. O tipo assim é o espaço que a gente usa para pensar e articular as palavras. É impossível contar uma história sem usar pelo menos um aí”.

         “As gírias mudam e não vão deixar de existir. A gente não fala mais é uma brasa, mora? Que era moda nos anos 70. No lugar disso, falamos outras coisas”, justifica o estudante Marcos, 17 anos. “O mais legal disso tudo é que ampliamos o nosso vocabulário”, opina Thiago, afirmando em seguida: “Eu também sei falar formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um, aí velhinho. Estou apto a usar a linguagem formal, quando necessário.”

         A babel de gírias também afeta os diferentes grupos da mesma geração. “Tenho amigos que convivem com o pessoal que frequenta bailes funk. Eles usam gírias próprias e eu não entendo nada”, conta Tatiana. “Não vejo problema nenhum no fato das tribos não se entenderem. A gente traduz e aprende cada vez mais”, assegura Gabriel, 17 anos.

                                                      Jornal do Brasil, Caderno B, 5 maio 1996, p. 7.

(O sobrenome dos adolescentes citados e o nome do colégio em que estudam foram omitidos.)

   Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 174-8.

Entendendo a reportagem:

01 – Identifique a data em que a reportagem foi publicada, observe as palavras com que ela começa e responda:

a)   A reportagem se refere a adolescentes de que época?

Dos anos 90 do século XX.

b)   Quanto tempo separa os adolescentes de hoje dos adolescentes a que a reportagem se refere?

A resposta depende da época em que a questão estiver sendo respondida; provavelmente, de 10 a 15 anos.

c)   Os adolescentes atuais também tem um modo próprio de usar a língua, como os adolescentes da reportagem? Tem opiniões semelhantes às dos adolescentes citados na reportagem?

Resposta pessoal; o mais provável é que a resposta seja sim, já que adolescentes de qualquer época usam gírias e defendem esse uso.

02 – Releia a primeira frase da reportagem: ela se refere a um adolescente para quem resta um consolo.

a)   Se resta um consolo, significa que esse adolescente tem um problema de que precisa ser consolado; qual é o problema?

Não consegue entender a conversa de outros adolescentes como ele.

b)   Que consolo resta ao adolescente? Por que isso é um consolo?

O consolo de não pertencer aos grupos acusados de promoverem a erosão da linguagem. É um consolo porque esses grupos são criticados, censurados, depreciados.

03 – As opiniões de José Paulo Paes citadas na reportagem coincidem com as que ele dá na entrevista reproduzida nas páginas 169-170? Comprove sua resposta comparando palavras do escritor na reportagem e na entrevista.

       O objetivo é que o aluno identifique os mesmos pensamentos expressos de formas diferente.

04 – Observe a expressão que introduz o terceiro parágrafo:

       “Em outra vertente...”

a)   Que relação essa expressão estabelece entre o que se vai dizer em seguida e o que se disse antes?

Relação de oposição, de contraste, de divergência.

b)   Cite outras expressões que poderiam ser usadas para introduzir o terceiro parágrafo.

Resposta pessoal; exemplos: Ao contrário, ...Em oposição, ...Assumindo outra posição, ...Diferentemente, ...

05 – Confronte as palavras de Affonso Romano de Sant´Anna com as de José Paulo Paes:

a)   Os dois escritores tem opiniões diferentes em relação à linguagem dos jovens: qual é a diferença?

José Paulo Paes recrimina, censura a linguagem dos jovens; Affonso Romano acha normal que os jovens tenham sua própria linguagem.

b)   Com qual dos dois escritores você concorda? Ou não concorda com nenhum dos dois? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

06 – Affonso Romano sugere uma solução “para as divergências entre as linguagens usadas por jovens e adultos”: a leitura.

a)   Com que argumento o escritor justifica sua proposta de que a leitura é uma solução para essas divergências?

A leitura aumenta o vocabulário.

b)   A justificativa que o escritor apresenta para a proposta da leitura como solução revela qual é a diferença que ele vê entre a linguagem dos jovens e a dos adultos: qual é essa diferença?

Diferença de vocabulário; se a solução é a leitura porque ela aumenta o vocabulário, o escritor considera que os jovens têm de aumentar seu vocabulário para que sejam superadas as divergências entre sua linguagem e a dos adultos.

c)   Há uma contradição entre a opinião de Affonso Romano a respeito da linguagem dos jovens e a proposta de uma solução. Qual é a contradição?

Ele reprova a linguagem dos jovens, acha normal que eles tenham uma linguagem própria, mas contraditoriamente sugere solução para que essa linguagem não seja divergente da dos adultos.

07 – Releia as falas dos adolescentes citadas na reportagem.

a)   Identifique os argumentos que os adolescentes apresentam para justificar o uso de gírias.

São um meio muito legal de se comunicar e de simplificar as coisas; permitem falar de um jeito que os adultos não entendem; ajudam a expressar o pensamento; ampliam o vocabulário.

b)   Você concorda com esses argumentos? Você também defende o uso de gírias pelos jovens?

Resposta pessoal do aluno.

08 – A expressão “tipo assim” é citada na reportagem mais de uma vez, e caracteriza, no título, a geração de jovens. Analise esta expressão:

a)   A reportagem afirma que “tipo assim” é um recurso para introduzir comparações e assim “facilitar a explicação de uma ideia”, e dá, como exemplo, uma frase incompleta: “Ele é um cara tipo assim...”. Escreva essa frase em seu caderno, completando-a com uma comparação. (Por exemplo: Ele é um cara tio assim... um mauricinho.)

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Um cara tipo assim... um filhinho do papai, o primeiro da classe, o bonitão do pedaço.

b)   Segundo José Paulo Paes, o uso de comparações é cômodo, dispensa a pessoa de usar seu “potencial intelectual”. De que modo você poderia dizer a frase de seu exemplo anterior sem usar uma comparação introduzida por “tipo assim”? (Veja como poderia ficar o exemplo anterior: Ele é um cara sempre bem vestido, elegante, só frequenta lugares da moda...).

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Um cara sustentado pelo pai rico e que tem tudo que quer.

c)   Em sua opinião, José Paulo Paes tem razão? A formulação da segunda frase exige mais esforço intelectual que a frase com “tipo assim”?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, já que a substituição da comparação exige busca de palavras que descrevam com precisão o que ela deixa implícito.

d)   Maíra, uma das adolescentes citadas na reportagem, dá uma explicação diferente para o uso de “tipo assim”: que explicação ela dá? Você está de acordo com ela ou com José Paulo Paes? Ou com nenhum dos dois?

A expressão é um modo de ganhar tempo para pensar e articular as palavras. Resposta pessoal do aluno.

09 – Recorde a fala de Thiago: “Eu também sei falar formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um ‘aí velhinho’. Estou apto a usar a linguagem formal, quando necessário”.

a)   Imagine as frases com que Thiago se dirige ao padre do colégio: em vez de “aí velhinho”, o que será que ele diz?

Como vai, padre? Bom dia, padre. Como vai o senhor?

b)   Dê exemplos de pessoas a quem Thiago poderia dirigir o cumprimento “aí velhinho”.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: colegas, amigos.

c)   Thiago sabe usar a linguagem formal, “quando é necessário”: em que situações é necessário usar a linguagem formal?

Quando não há intimidade entre as pessoas; em situações de apresentação formal de um tema, de exposição, de palestra, conferência, etc.

d)   Quando não se usa a modalidade formal da linguagem, que modalidade se usa? E em que situações se usa essa modalidade?

A modalidade informal, em conversas familiares ou entre amigos, entre colegas, quando há intimidade entre pessoas, etc.

e)   Thiago diz que sabe falar formalmente, mas não gosta. Em sua opinião, por que Thiago não gosta de falar formalmente? Você gosta de falar formalmente?

Resposta pessoal do aluno.

10 – A reportagem mostra que a língua não é usada sempre da mesma maneira – ela varia conforme quem fala e conforme a situação em que se fala. Enumere a segunda coluna de acordo com a primeira.

A – Os jovens usam uma linguagem própria, de difícil entendimento por quem pertence a outra geração.

B – Tatiana não entende a linguagem do pessoal que frequenta bailes funk.

C – O pessoal que mexe com computador tem uma linguagem própria.

D – Thiago não fala com o padre do colégio da mesma maneira como fala com seus amigos.

E – Marcos afirma que a língua muda, a gente não fala mais “é uma brasa, mora?”

(C) Cada profissão tem seu vocabulário próprio.

(D) O uso da língua varia conforme o grau de intimidade entre as pessoas.

(E) A língua varia ao longo do tempo.

(A) Adultos e jovens usam a língua de maneira diferente.

(B) Há uma linguagem própria de determinados grupos sociais.

 

 

ENTREVISTA: "HÁ UMA GERAÇÃO SEM PALAVRAS" - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

 Entrevista: "HÁ UMA GERAÇÃO SEM PALAVRAS”

      José Paulo Paes

              A malhação física encanta a juventude com seus que pode ser bom. Mas seria ainda melhores se eles se preocupassem um pouco mais com os “músculos cerebrais”, porque, como diz o poeta e tradutor José Paulo Paes, “produzem satisfações infinitamente superiores”.

 Marili Ribeiro

        -- O senhor já disse que a identidade nacional estava abalada pelo desrespeito à língua portuguesa. A situação continua a mesma ou se agravou?

        -- Temos hoje o que poderíamos classificar de uma geração sem palavras. O jovem em geral tem um vocabulário limitado e quase não tem o costume de conversar. Hoje eles vivem experiências praticamente idênticas. Eles assistem ao mesmo filme, jogam o mesmo videogame, torcem para os mesmos times ou um time diferente que nem chega a ser tão diferente assim. De modo que eles não têm o que comunicar um ao outro. A conversa deles é legal, ou então é isso aí. É uma espécie de linguagem enfática, de confirmação. Com isso eles vão perdendo a capacidade de formular o pensamento. A questão da língua não é tanto a questão da correção gramatical. O principal da língua é a capacidade de expressão, de construir pensamentos e de transmiti-los, fazendo-os inteligíveis. Esta capacidade é que está se perdendo progressivamente. A gente conversa com um jovem e vê que o falar dele é interrompido a todo o momento. Muitas vezes ele não chega a completar a frase. (...)

        -- Por que o que é mais fácil, digerível, atinge mais rápido as pessoas?

        -- Tudo vai depender do ambiente em que se vive. Se o indivíduo tem suas qualidades e virtualidades estimuladas vai desenvolve-las, caso contrário elas ficarão adormecidas. Um exemplo de luta contra a inércia muito presente na atual juventude pode ser vista na preocupação com a malhação, a ginástica e o esporte. É evidente que a ginástica interior é muito mais cansativa. Os músculos da inteligência são mais difíceis de adestrar, mas dão satisfações muito maiores. (...)

        -- Some-se a isso o que o senhor chama nossa síndrome do mazombismo...

        -- No Brasil estamos vivendo uma época de total mazombismo. É o Brasil da capital Miami. Que bom se fosse Brasil capital Atenas, ou Moscou. Cidades culturais. Mas é Miami. Na linguagem nós temos o chamado latim do marketing, que é o inglês. Eu tenho uma proposta que seria a de nós adotarmos o inglês como língua nacional, para podermos estudar o português como segunda língua. Aí todos a aprenderiam.

Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiroloja virtual de roupas, 28 dez. 1996, p. 6.

          Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 169/172.

Entendendo a entrevista:

01 – Explique a frase do entrevistado que dá título à entrevista: “Há uma geração sem palavras”.

a)   Recorde o conceito de geração, e determine: a que geração o entrevistado se refere?

Refere-se à geração jovem.

b)   Calcule a idade que o entrevistado tinha quando deu a entrevista e conclua: a que geração ele pertencia?

À geração idosa; a aproximadamente duas gerações depois da geração jovem. (Tinha 70 anos: 1996 – 1926).

c)   Explique o significado que o entrevistado atribui à expressão “sem palavras”.

Vocabulário limitado, dificuldade de expressar o pensamento, frases incompletas.

02 – O entrevistado afirma que os jovens “quase não têm o costume de conversar”, que “não têm o que comunicar um ao outro”.

a)   Segundo o entrevistado, qual é causa de os jovens não terem o que comunicar um ao outro?

Vivem experiências praticamente idênticas, veem, fazem, sentem as mesmas coisas.

b)   Você concorda que os jovens não têm o costume de conversar, não têm o que comunicar um ao outro? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

03 – O entrevistado caracteriza a linguagem dos jovens como uma “linguagem enfática, de confirmação”. Com base nos exemplos que o entrevistado dá – as expressões legal, é isto aí –, explique o que ele chama de linguagem enfática, de confirmação.

      Uma linguagem feita de expressões que apenas realçam e aprovam o que o outro diz.

04 – Localize, na entrevista, o trecho em que o entrevistado fala do que ele considera ser “o principal da língua”.

a)   Segundo o entrevistado, “a questão da língua não é tanto a questão da correção gramatical”. Se essa fosse “a questão da língua”, o que se esperaria da linguagem dos jovens?

Uma linguagem de acordo com as normas gramaticais.

b)   Levando em conta aquilo que o entrevistado considera “o principal da língua”, o que se espera da linguagem dos jovens?

Que seja capaz de expressar o pensamento de forma inteligível, compreensível.

05 – Releia o início da resposta do entrevistado à segunda pergunta: ela fala dos estímulos que o jovem recebe, hoje, de seu ambiente, para lutar “contra a inércia”. Explique.

a)   A atual juventude recebe estímulos para lutar contra que tipo de inércia? Lutar como?

Contra a inércia do corpo; lutar malhando, fazendo ginástica, praticando esporte.

b)   Infere-se das palavras do entrevistado que a juventude atual não recebe estímulos para lutar contra que tipo de inércia?

Contra a inércia da mente, da inteligência.

06 – Na resposta à segunda pergunta, o entrevistado se refere a uma “ginástica interior”, e a “músculos da inteligência”.

a)   A ginástica exercita o corpo; a “ginastica interior” exercita o quê?

Exercita a mente, a inteligência.

b)   A que se refere a expressão “músculos da inteligência”?

Aos pensamentos, ideias, reflexões.

c)   Segundo o entrevistado, os “músculos da inteligência são mais difíceis de adestrar mas dão satisfações muito maiores”: quais satisfações?

O prazer de conhecer, de compreender; O prazer de ler; O prazer de descobrir, inventar, criar...

07 – Em sua resposta à última pergunta, o entrevistado reclama do “Brasil capital Miami”, e deseja um “Brasil capital Atenas, ou Moscou”.

a)   Nessas expressões, Miami simboliza o quê? Atenas e Moscou simbolizam o quê?

Miami – o modo de vida norte-americano; o consumismo, a tecnologia, o progresso material.... Atenas e Moscou – a cultura, as tradições e valores intelectuais, morais...

b)   O que caracteriza um “Brasil capital Miami”?

Um Brasil que privilegia o progresso material, o desenvolvimento tecnológico, o consumismo....

c)   O que caracterizaria um “Brasil capital Atenas, ou Moscou”?

Um Brasil que privilegiaria o desenvolvimento cultural, os valores intelectuais, a preservação das tradições.

08 – O entrevistado afirma que “no Brasil estamos vivendo uma época de total mazombismo”. Explique: estamos vivendo uma época de quê?

      De nostalgia por não sermos iguais aos Estados Unidos, de desejo de sermos como os países mais desenvolvidos.

09 – O entrevistado chama a língua inglesa de “latim do marketing”. Para explicar essa expressão, leia as informações:

        LATIM – Durante o Império Romano, a língua latina dominou grande parte do mundo; até o século XVIII, o latim foi língua de prestígio, usada para a comunicação entre eruditos, cientistas, intelectuais.

        MARKETING – Nesta expressão, significa: conjunto de ações que visam influenciar as pessoas quanto a determinada ideia, marca, pessoa, produto, etc.

        Conclua: por que o inglês é chamado, hoje, de “latim do marketing”?

      O inglês é o latim de hoje, porque é o que foi o latim: uma língua de prestígio, que domina quase todas as áreas de comunicação; é uma língua de marketing porque sua supremacia exerce influência sobre as pessoas para que assumam as características, os valores, os produtos, os comportamentos das culturas em que o inglês é a língua oficial, principalmente os Estados Unidos.

10 – Em suas últimas palavras, o entrevistado usa de ironia.

a)   Ao propor que se adote o inglês como língua nacional, o entrevistado diz o contrário do que realmente pensa. O que é que ele, na verdade, pensa?

Pensa que o inglês não deveria ter tanto prestígio, que é necessário valorizar a língua nacional, o português.

b)   A proposta feita pelo entrevistado cria um efeito humorístico: por quê?

É uma proposta absurda, irrealizável, por isso se torna cômica, engraçada; tem efeito humorístico também porque ridiculariza a importância que as pessoas atribuem ao inglês, em detrimento de sua própria língua.

CRÔNICA: AS PALAVRAS QUE NINGUÉM DIZ - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Crônica: AS PALAVRAS QUE NINGUÉM DIZ

                Carlos Drummond de Andrade

     -- Sabe o que é diadelfo? Não sabe. É isso aí: ninguém aprende mais nada na escola, não há professor que ensine o que é diadelfo. Entretanto, basta você sair por aí, na Gávea, e dá de cara com pencas de diadelfos. Tão fácil distingui-los. Pelo visto, sou capaz de jurar que você também nunca experimentou a emoção do ilapso. Ou por outra: pode até ter experimentado, mas sem identificá-lo pelo nome. Não alcançou a maravilhosa consciência de haver merecido o ilapso. Conheci um nordestino que na mocidade exercera a profissão de ultor, e que ignorava o que é ultor: como é que pode ser tão mau profissional?

        Praticamente, as coisas deixaram de ser nomeadas na boca dos falantes. O vocabulário azulou. São incapazes de reconhecer o que é beltiano, e mais ainda de qualificá-lo. Paranzela, já ouviu falar? Conhece entre suas relações alguém que algum dia lhe falou em oniquito? Se vou ao Number One e peço alfitetes, pensam que estou louco, acham que eu quero comer alfinetes. Não adianta argumentar que, como paguilha, faço jus à maior consideração: de resto, sabem lá o que seja paguilha?

        Olhe, não é só a piara que ignora tudo, inclusive que ela é piara. Os da alta, é a mesma coisa. Participei de umas boedrômias em certa mansão do Cosme Velho, e pude verificar que todos, satisfeitíssimos com o que faziam, estavam longe de imaginar que tudo aquilo que se passava em torno da piscina eram boedrômias, autênticas boedrômias. Uma situação de poslimínio é absolutamente indecifrável para muitos doutores que conheço. E quantos só dormem sossegados se têm um talambor a protegê-lo, desconhecendo embora que instalaram um talambor em casa?

        Menino, você gosta remuito de siricaia e não sabe o que é siricaia e o que é remuito? Santa ignorância! Mas que o seu pai, professor ilustre pratique o harpaxismo e nem desconfie de ser harpaxista, meus pêsames às codornas. Lamentável ainda, a incontinência de seus borborigmos em reuniões sociais, pois não?

        Quanta gente por aí, precisando de auriscálpio, e se aconselho que procure obter um, fica perturbada, imaginando coisas... Chega a manifestar aversamento, sem mesmo desconfiar do que seja aversamento. De português não aprendem um pigalho. Aventure-se alguém, numa roda seleta, a falar em cristadelfos. Os que se julgam mais informados pensarão que nos referimos a porcelanas de Delft.

        Pessoas que adoram determinados pitéus, não os visita a mínima noção de gamararologia (não quer dizer que estejam gamadas, é outra coisa muito diferente). Dispomos de alguns estratólogos, a quem ninguém trata pela correta denominação, e se esta for mencionada, haverá quem supunha tratar-se de peritos em rodoviarismo ou em extratos de contas. Fui cumprimentar uma campeã de tênis, chamando-a lindamente de vitrice, e ela abespinhou-se. Achou talvez algo de venéfico no vocábulo. Sabe tênis e não sabe o idioma.

        Vamos dar uma volta seral? Propus a outra moça, que arregalou os olhos. Não houve meio de convencê-la de que pretendia levá-la por aí, sob a paz das estrelas. Imagine se eu lhe propusesse usar subsiles. Ainda que eu aplicasse o máximo de catexe, não conseguiria nada. E talvez ela até chamasse a polícia.

        Bem, não estou exagerando. Você que me ouve, sabe (pelo menos isso) que eu evito toda e qualquer espécie de cinquete. Ah, também não sabe o que é cinquete? Era de se esperar. Não posso falar que sua cabeça mais parece uma abatiguera, porque a bem dizer, você nunca plantou nada aí, e em consequência nada aí se pode colher. Certas coisas a gente vê logo, não carece ser mirioftalmo. Passe bem, ignaro, ou melhor, passe mal!

As palavras que ninguém diz. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 95-98.

    Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 159/163.


Entendendo a Crônica:

01 – No último parágrafo, o narrador afirma: “Bem, não estou exagerando”.

a)   Determine o que está implícito nessa frase: que comportamento do narrador poderia estar sendo considerado um exagero?

Citar um número tão grande de palavras, criticando as pessoas por não conhece-las.

b)   Qual é a sua opinião: o narrador exagera ou não?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: exagera, porque é este o objetivo da crônica surpreender o leitor com grande quantidade de palavras desconhecidas.

02 – As palavras que ninguém diz citadas na crônica podem ser divididas em dois grupos:

·        Palavras que designam seres, coisas, sentimentos, ações que são raros, pouco conhecidos (por exemplo, paranzela);

·        Palavras que designam seres, coisas sentimentos, ações que são bem conhecidas, mas geralmente são nomeados por outras palavras e expressões (por exemplo, ultor).

Cite exemplos de cada um dos dois grupos.

Palavras que têm equivalente na linguagem comum (segundo grupo): abespinhar-se, aversamento, borborigmo, cinquete, ignaro, paguilha, piara, pitéu, remuito, seral, talambor, venéfico, vitrice; as demais pertencem ao primeiro grupo.

03 – Observe que o texto começa com um travessão; por quê?

      Porque o travessão indica que o texto é uma fala, que o narrador está se dirigindo ao leitor ou ouvinte.

04 – Recorde esta frase do narrador, no último parágrafo: “Você que me ouve, sabe...”. Por que o narrador usa ouve e não (você que me lê...)?

      Porque o texto é apresentado como se o narrador estivesse falando, conversando com alguém, não como se estivesse escrevendo para um leitor.

05 – O narrador acusa várias pessoas de ignorarem o significado de palavras:

a)   Várias vezes o narrador acusa você de ser ignorante; cite frases do texto dirigidas a você.

Há várias; exemplos: “Sabe o que é diadelfo? Não sabe”; “Basta você sair por aí...”; “... sou capaz de jurar que você também nunca experimentou...”; “Já ouviu falar?” Etc.

b)   Muitas vezes o narrador acusa outros – eles – de serem ignorantes; cite frases em que a ignorância dos outros é apontada.

Há várias; exemplos: “Conheci um nordestino...”; “... não é só a piara que ignora tudo.”; “Os da alta é a mesma coisa.”; “Quanta gente por aí...”; etc.

06 – Para o narrador, você é ignorante, eles são ignorantes. Que opinião a respeito de si mesmo ele deixa transparecer na crônica? Escolha a resposta entre as frases abaixo, e escreva-a em seu caderno:

·        Eu conheço palavras que ninguém conhece.

·        Eu sei mais português que você e que eles.

·        Eu uso palavras que não precisam ser usadas.

07 – O que o narrador diz não está de acordo com o título da crônica – qual é a contradição?

      O título anuncia palavras que ninguém diz, que ninguém conhece, mas o narrador acusa as pessoas de não conhecerem essas palavras.

08 – Escolha, entre as frases abaixo, a que, na sua opinião, expressa o objetivo da crônica; escreva-a em seu caderno:

·        A crônica é uma crítica a pessoas de vocabulário pobre.

·        A crônica ironiza o uso de palavras que ninguém diz.

·        A crônica mostra como a língua é rica em palavras.

·        A crônica é uma brincadeira com palavras incomuns.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: excetuada a primeira opção, as três outras são aceitáveis. O objetivo é levar o aluno a explicitar o sentido que construiu para texto.

 

TEXTO: GAROTO FOI ENCONTRADO NO LIXO - LÚCIA NAGIB - COM GABARITO

 Texto: Garoto foi encontrado no lixo

           Lúcia Nagib

   Jackie Coogan era um garotinho de 5 anos em 1921, nos Estados Unidos. Cabelo liso escorrido, gracioso e um prodígio (maravilha) para dançar e representar.

        Charles Chaplin olhou para Jackie, lembrou-se de sua própria infância pobre, como ator de teatro na Inglaterra, e decidiu: “Vou fazer um filme com esse menino”.

        Foi assim que surgiu “O Garoto”, filme que está em todas as locadoras de vídeo e que faz a gente morrer de rir e, às vezes, chorar.

        Charles Chaplin, o maior diretor e ator cômico de todos os tempos, conhecido no Brasil como Carlitos, era moço naquela época.

          Vagabundo

        Ele já divertia muita gente com filmes curtos, fazendo o papel de um vagabundo maltrapilho que não perdia o jeito de gente fina, sempre de cartola, casaca e bengala. “O Garoto” fez ainda mais sucesso. Foi o primeiro filme longo de Carlitos, que desta vez resolveu temperar as piadas com lágrimas.

        A história em si não tem nada de engraçado: Carlitos encontra um bebê, abandonado junto a uma lata de lixo. Embora pobre de dar dó, Carlitos se vira muito bem para cuidar do bebê.

        Usa um bule como mamadeira e recorta seu lençol para fazer fraldinhas! Cinco anos mais tarde, ele e seu guri, batizado de John, formam a melhor dupla de malandros da vizinhança.

          Malandros

        John se especializa em quebrar vidraças e sair correndo, para Carlitos chegar logo em seguida, como se não soubesse de nada, oferecer seu serviço de vidraceiro e ganhar um dinheirinho.

        Tudo muito engraçado, até que as autoridades aparecem para levar o menino para um orfanato. John apronta um berreiro e Carlitos fica desesperado atrás do filho adotivo. Depois de mil peripécias, os dois encontram a mãe verdadeira do menino e tudo acaba bem.

        Foi assim, trabalhando com Jackie, que dizem ser o melhor ator infantil de todos os tempos, que Chaplin virou sucesso no mundo inteiro. Depois, não parou de fazer filmes importantes, como “A Corrida do Ouro”, “Tempos Modernos”, “Luzes da Cidade”, “O Grande Ditador”.

          Música feita na hora

        Quando a gente assiste a Carlitos se diverte tanto que até esquece que é cinema mudo. Sim, porque até o final dos anos 20 os filmes não tinham som. Os diálogos eram escritos em letreiros colocados entre as imagens, e a música era tocada por uma orquestra ou um piano no cinema, durante a projeção. As músicas eram muitas vezes improvisadas na hora. Mas Chaplin, perfeccionista, também compunha a música de seus filmes. “O Garoto”, como assistimos hoje em vídeo, é acompanhado da música original, composta por seu diretor.

          Efeitos especiais eram diferentes

        A técnica no tempo de Charles Chaplin não permitia as trucagens que há hoje nos filmes americanos. Isso não quer dizer que os cineastas não gostassem de efeitos especiais. Em “O Garoto”, Carlitos adormece e sonha com o paraíso. Ele e o garoto, como seus vizinhos e até um cachorro, aparecem de asas, voando!

          Filmes exibidos em barraquinhas

        Na origem, os filmes eram um passatempo de parque de diversões, uma espécie de mágica exibida em barraquinhas. O francês Mélies, um dos primeiros cineastas, mostrava corpos cortados, cujas cabeças falavam e andavam. Ele fez um foguete se enterrar no olho da Lua!

          16 fotografias por segundo

        Hoje, quando a gente vê filmes mudos, tem a impressão de que os movimentos estão mais rápidos. A razão é que um filme é feito de fotos, uma seguida da outra, projetadas em velocidade para dar a impressão de movimento. No cinema mudo, projetavam-se cerca de 16 fotografias, ou quadros, por segundo. Hoje os projetores de filme sonoro passam 24 quadros por segundo.

                 Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 221/2-224.

Entendendo o texto:

01 – Quem foram Jackie Coogan e Charles Chaplin? O que houve de comum entre os dois?

      Os quatro primeiros parágrafos do texto.

02 – O que houve com John (o nome dado ao menino)? O que fazia ele? E por quê? Onde foi parar o caso? Como se resolve o caso?

      John se especializou em quebrar vidraças e sair correndo. Parágrafos 8 e 9.

03 – Como é o cinema de Chaplin? A fala fazia falta em seus filmes?

      Filmes divertidos, mudos, porém não se sentia falta da fala. Os diálogos eram escritos e os letreiros colocados entre as cenas.

04 – Como tudo se arranjou para que naquela época houvesse música durante as sessões? Fale.

      As músicas, muitas vezes improvisadas, eram tocadas por uma orquestra ou piano, durante as projeções.

05 – Fale sobre os efeitos especiais da época. Eram diferentes dos de agora?

      Sim, pois a técnica não permitia as trucagens de hoje.

06 – O que eram os filmes exibidos em barraquinhas?

      Eram os filmes exibidos nos parques de diversões.

07 – Qual a diferença da montagem dos filmes mudos de hoje com o cinema mudo daquela época?

      No cinema mudo, projetavam-se cerca de 16 fotografias, ou quadros, por segundo. Hoje os projetores de filme sonoro passam 24 quadros por segundo.

08 – O que são folhetins? Pesquise.

      Resposta pessoal do aluno.