quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TEXTO: AMARELINHO -(FRAGMENTO) - JOSÉ GANYMÉDES - COM GABARITO

Texto: Amarelinho
    
        José Ganymédes

        O amarelinho gostava de ficar com o nariz achatado nas vitrinas namorando os televisores coloridos funcionando. Legal! Muito mais bonito do que os branco e preto! Ele ficava até que aparecia um empregado para implicar:
        -- Menino, vá embora!
        -- Por quê? 
        -- Porque aí não é lugar de meninos!
        -- Eu tô só vendo...!
        -- Mas fica esfregando a mão no vidro, suja tudo! Não sabe ver só com os olhos? Vamos, vá embora, menino!
        Ele ia. Caminhava um pouco. Magoado, com raiva, querendo brigar. Então, virava-se para trás, fingia que estava com a metralhadora nas mãos e...
        -- Pápápápápá! – fazia com a boca imitando o disparo da automática. – Matei você!
        Em seu mundo de oito anos, o Amarelinho imaginava a vítima caída no chão, morta no meio de uma poça de sangue. Igual ele via na televisão. Aí, ele fugia em um velocíssimo carrão, cujos pneus chiavam pelo asfalto das avenidas. E pronto! – estava vingado.
        Só assim, depois de feita a justiça pelas próprias mãos, que ia embora, à procura de outra vitrina para, outra vez, ficar lambendo com os olhos.
        Estava no jardim público, quando passou uma mulher e perguntou:
        -- Menino, você não tem pai?
        -- Não...
        -- Nem mãe?
        Fez que sim.
        -- Então é melhor ir pra casa, menino! Tão pequeno, aí, sozinho na rua a essas horas? Onde você mora?
        -- Na favela.
        A mulher abriu a bolsa e tirou uma nota.
        -- Tome, é pra comprar um doce...
        Ele pegou a nota e ficou olhando para a mulher. Um doce custava o dobro. O que iria comprar com aquela nota?
        A mulher foi embora. O Amarelinho enfiou a nota e a mão no bolso do short encardido e continuou passeando. Viu um Papai Noel de vermelho que batia um sininho. Ele tinha barba branca, esquisita, não parecia nascer no rosto dele. Papai Noel nem olhou. O Amarelinho encolheu os ombros, entrou no bar, comprou balas. Desembrulhou uma, enfiou na boca, e a outra guardou para mais tarde.
        Na esquina havia uma grande loja de brinquedos. Ele estava passando por lá quando... viu!
        Os olhos arregalaram! Ela estava dependurada, igualzinha à de verdade, o cano de aço, o gatilho, o casco de madeira: a mais linda metralhadora que jamais tinha visto em toda a sua vida!
        Muita gente na loja. Hipnotizado pela arma de brinquedo, ele também entrou. Olhou. Não contente, esticou a mão, passou o dedo. Chegou a rir enquanto fazia pápápápápá com a boca. Nisso aproximou-se um vendedor carrancudo:
        -- Vá embora, moleque!
        -- Só tô vendo, moço!
        -- E precisa passar a mão suja? Vá embora.
        -- Quanto custa?
        -- Um dinheirão. Não é pro seu bico, é só pra filho de gente rica. Vá embora, menino!
        E empurrou-o para fora.
        O Amarelinho saiu. Porém, na calçada, tornou a olhar para a arma. Vendo aquilo, o empregado deu-lhe um carreirão. O Amarelinho correu. Pouco mais adiante, parou, virou-se para trás, fez gesto de quem empunhava a metralhadora:
        -- Pápápápápá, matei você! – disse, cuspindo de lado e imaginando o vendedor morto na calçada.
        Em seguida, retomou o caminho e foi embora. Porém repetindo:
        -- Eu quero uma metralhadora daquelas!
                                              Amarelinho, Ganymédes José.
                              Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.132-3.
Entendendo o texto:
01 – Que informações o texto nos dá sobre Amarelinho, sua vida e sua família?
      Segundo o texto. Amarelinho é um garoto pobre, que mora na favela. É órfão de pai.

02 – “Igual ele via na televisão”.
a)   A que espécie de programas Amarelinho assistia?
Assistia a filmes violentos, com cenas de assassinato e fuga, do tipo “mocinho e bandido”.

b)   A atitude de Amarelinho mostra que ele se identifica com que personagens desses filmes?
Ele provavelmente se identificava com os “bandidos”.

c)   A história das personagens com que Amarelinho se identificava seria parecida com a dele?
Nos filmes policiais, os “bandidos” são, muitas vezes, pessoas marginalizadas pela sociedade como Amarelinho e que acabam optando pelo crime.

d)   Você já assistiu ao tipo de filme ao qual o texto se refere? Acha que ele influencia o seu comportamento? De que maneira?
Resposta pessoal do aluno.

e)   Nem todas as pessoas que têm uma vida igual a de Amarelinho reagem como ele. Por quê? Justifique sua resposta.
Algumas pessoas são mais conformadas. Outras têm espírito de luta. Outras ainda preferem a não-violência.

03 – O empregado da primeira loja e o vendedor da segunda loja comportam-se de maneira semelhante. Descreva o comportamento dos dois.
      Ambos afirmam que ali não é lugar para Amarelinho e que ambos acreditam que o menino está sujo e pode sujar a vitrine ou a mercadoria.

04 – A reação de Amarelinho é semelhante tanto na primeira loja quanto na segunda. Por quê?
      Porque recebeu o mesmo tratamento por parte dos vendedores, ofereceu a eles uma mesma resposta, ou seja, seu sonho de vingança.

05 – A atitude de Amarelinho em relação a mulher que lhe deu uma nota para comprar um doce foi diferente. Por quê?
      Porque ele reagiu de forma diferente a um tratamento diferente.

06 – A barba do Papai Noel não parecia nascer do rosto dele. Parecia falsa.
a)   Por que Amarelinho deu de ombros, não se importou com a indiferença de Papai Noel?
Porque para Amarelinho, o Papai Noel era falso tanto por sua barba falsa, quanto por sua atitude de desprezo.

b)   O presente da mulher e a indiferença do Papai Noel não parecem afetar muito Amarelinho. Por quê?
Porque ele está habituado a receber auxílio que não auxilia realmente e indiferença. Ambos fazem parte de sua história e contribuem para que sua vida seja o que é.

07 – As atitudes das personagens podem ser consideradas atos de violência? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.       
         

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

POEMA: A DOCE CANÇÃO - CECÍLIA MEIRELES -COM GABARITO

Poema: A Doce Canção
           Cecília Meireles

Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade – e não pena.

Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve, no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco-íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto,
Deus não soube, tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
– todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o ausente,
para trazer o Universo
de pólo a pólo contente!

                                MEIRELES, Cecília. “A doce canção”. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1983. p. 156.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 366-7.

Entendendo o poema:

01 – Que características o eu lírico atribui ao seu canto?
      O eu lírico assinala que utiliza palavras doces e se expressa de maneira serena e com voz pura.

02 – Por que se pode dizer que não havia motivo par as outras criaturas sentirem inveja do canto?
      Porque, apesar de belo, o canto expressa uma profunda tristeza.

03 – Qual o temor manifestado pelo eu lírico na última estrofe?
      O temor de que Deus aumente o seu sofrimento (mal).


TEXTO: O DRAMA DE UM APAIXONADO - FREDDIE MERCURY - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: O DRAMA DE UM APAIXONADO
          
Freddie Mercury

        Quando a conheci tinha 16 anos. Ela eu não sei. Fomos apresentados numa festa por um “carinha” que se dizia meu
amigo. Acredite, foi amor à 1ª vista. Ela me enlouquecia e o nosso amor ascendeu ao ponto de eu não poder mais viver sem ela. Mas era um amor proibido, meus pais não aceitavam. Eu fui até repreendido na escola.
        Passamos a nos encontrar às escondidas até que não deu mais. Fiquei sem controle, eu a queria e não a tinha, eu a amava; a desejava. Cheguei a bater com o carro, quebrei tudo que havia
dentro de casa e quase matei minha família. Estava meio louco! precisava DELA, não podia viver sem ela.
        Hoje tenho 19 anos, estou internado num hospital, sou inútil e vou morrer. Fui abandonado pelos meus pais, amigos e por
ELA. Ela que foi a minha vida e a minha destruição. Eu sei que devo tudo a ela: o meu desespero, a minha vida e a minha morte.
        O nome dela?
        COCAÍNA !!!
        Pense nisso!
                                                               Freddie Mercury
Entendendo o texto:

01 – “Quando a conheci tinha 16 anos. Ela eu não sei.” O pronome pessoal oblíquo “a” grifado nessa frase se refere a:
a)   Ela.
b)   Namorada.
c)   Droga.
d)   Eu.

02 – Pra que o texto se tornasse interessante o autor:
a)   Fala de droga.
b)   Cria um suspense.
c)   Usa palavras sublimes.
d)   Interfere na história.

03 – “Eu fui até repreendido na escola”. A palavra “até”, grifada nessa frase tem ideia de:
a)   Inclusão.
b)   Exclusão.
c)   Tempo.
d)   Explicação.

04 – “Fomos apresentados numa festa por um “carinha” que se dizia meu amigo”. Foram usadas aspas na palavra “carinha”, porque:
a)   É uma citação.
b)   Trata-se do uso de linguagem caipira.
c)   Trata-se do uso de gíria.
d)   A palavra foi retirada de outro texto.

05 – “Ela me enlouquecia e o nosso amor ascendeu ao ponto de eu não poder mais viver sem ela”. A essa realidade se dá o nome de:
a)   Vício.
b)   Amor.
c)   Paixão.
d)   Realidade.

06 – Só não está de acordo com o texto:
a)   Ele bateu o carro.
b)   Ele quebrava tudo dentro de casa.
c)   Ele matou sua família.
d)   Ele estava meio louco.

07 – Esse texto pode-se classificar como:
a)   Informativo.
b)   Formativo.
c)   Humorístico.
d)   Jornalístico.

08 – O texto termina com:
a)   Uma dúvida.
b)   Uma certeza.
c)   Um elogio.
d)   Um alerta.

09 – Esse texto conta a história de um:
a)   Velho que agora se julga inútil.
b)   Jovem que agora se julga muito útil.
c)   Criança que vê o mundo pela frente.
d)   Jovem que agora se julga inútil.

10 – “Mas era um amor proibido, meus pais não aceitavam. Eu fui até repreendido na escola.” Os pais e professores não aceitavam aquele namoro, pois:
a)   Com a experiência eles já previam os acontecimentos.
b)   Eles não compreendem os mais jovens.
c)   Achavam que o jovem era novo demais para um caso desse.
d)   Faltava experiência para eles poderem proibir o namoro.



MENSAGEM ESPÍRITA: VALEI-VOS DA LUZ - (EMMANUEL) - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - PARA REFLEXÃO

Valei-vos da luz



“Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem.” – Jesus. (João, 12:35.)
O homem de meditação encontrará pensamentos divinos, analisando o passado e o futuro.
Ver-se-á colocado entre duas eternidades – a dos dias que se foram e a que lhe acena do porvir.
Examinando os tesouros do presente, descobrirá suas oportunidades preciosas.
No futuro, antevê a bendita luz da imortalidade, enquanto que no pretérito se localizam as trevas da ignorância, dos erros praticados, das experiências mal vividas. Esmagadora maioria de personalidades humanas não possui outra paisagem, com respeito ao passado próximo ou remoto, senão essa constituída de ruína e desencanto, compelindo-as a revalorizar os recursos em mão.
A vida humana, pois, apesar de transitória, é a chama que vos coloca em contacto com o serviço de que necessitais para a ascensão justa. Nesse abençoado ensejo, é possível resgatar, corrigir, aprender, ganhar, conquistar, reunir, reconciliar e enriquecer-se no Senhor.
Refleti na observação do Mestre e apreender-lhe-eis o luminoso sentido. Andai enquanto tendes a luz, disse Ele.
Aproveitai a dádiva de tempo recebida, no trabalho edificante.
Afastai-vos da condição inferior, adquirindo mais alto entendimento.
Sem os característicos de melhoria e aprimoramento no ato de marcha, sereis dominados pelas trevas, isto é, anulareis vossa oportunidade santa, tornando aos impulsos menos dignos e regressando, em seguida à morte do corpo, ao mesmo sítio de sombras, de onde emergistes para vencer novos degraus na sublime montanha da vida.

TEXTO: GAVIÃO-DE-PENACHO - ILDEU BRANDÃO - COM GABARITO

Texto: Gavião-de-Penacho
            Ildeu Brandão

        -- Pai, ô pai, o gavião – eu gritei, e papai se levantou, estava deitado descansando um pouco, e veio correndo e gemendo, tinha dado uma topada forte no portal. [...]
        [...] Nós dois paramos de estalo na entrada do galinheiro, pois um gavião enorme estava de pé, com as asas abertas, na frente do galo legorne, que era grande mas tinha ficado pequeno na frente dele, porém o enfrentava com coragem, assim meio assustado, as penas arrepiadas.
        O gavião era uma beleza, era grande mesmo, imenso, as asas de uma brancura por dentro, e por fora cinzento-avermelhadas, assim como as costas. Na cauda, que eu vi quando ele se voltou numa rodada de vigilância, tinha rajas bruni-negro-vermelho-claro, mas o que o fazia importante era o penacho enorme que subia da parte de trás da cabeça e que estava levantado pela raiva. Eu senti um meio medo, confesso, e olhei para papai, que estava assim como atraído, os olhos pregados no bicho e esquecido até da espingarda, que estava com o cano apontado para o chão.
        O gavião nos encarou, tinha o bico meio aberto, mas sempre se defendendo do galo, quem sabe se esperando um jeito de atacá-lo.
        Puxei a aba do paletó de papai, ele despertou e levou a espingarda no ombro e fez pontaria, mas não atirou e ficou olhando para o gavião, que também o olhava, as asas abertas e o penacho levantado em desafio. Durou pouco aquele olha-que-olha, pois o gavião voou, deu uma esbarrada no galo e passou roçando nas nossas cabeças, no rumo do céu. Papai virou o corpo e eu também, e fomos acompanhando o voo bonito e ritmado, e depois que ele ganhou altura papai atirou, mas foi um tiro assim sem vontade, eu reparei, baixou a espingarda e falou manso, olhando por cima dos meus ombros:
        -- Fiquei com pena de atirar.
    Ricardo Ramos, org. A palavra é... bicho. São Paulo, Scipione, 1989.
Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p.70-1.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Bruni: Redução de brunido (brilhante, luzidio).

·        Rajas: Listras.

02 – O trecho que você acabou de ler faz parte de uma narração. Que elementos do texto comprovam essa afirmação?
      Há um narrador-personagem, identificado pelo eu, e outra personagem, que interage com o narrador, identificado como papai. Existe sequência temporal e discurso direto.

03 – Faça um levantamento do tempo e do modo dos verbos empregados no primeiro parágrafo do texto.
      No texto, “Gavião-de-penacho”, os verbos nos tempos do pretérito (perfeito e imperfeito) do modo indicativo.

04 – Com base no texto lido, responda: que tempo e modo predominam no texto informativo? e no narrativo?
      No texto informativo predomina o presente do indicativo e no texto narrativo predominam os tempos do pretérito do indicativo.

05 – No texto “Gavião-de-penacho”, que aspectos do gavião foram selecionados pelo narrador para descrever essa ave?
      O tamanho, as asas por dentro e por fora, as costas, a cauda, o penacho e o bico.

06 – A cada um dos aspectos selecionados pelo narrador para a descrição da ave foram atribuídas características. Quais são elas?
      Tamanho: grande, imenso; Asas: brancura por dentro e cinzento-avermelhadas por fora; Costas: cinzento-avermelhadas; Cauda: rajas bruni-negro-vermelho-claro; Penacho: enorme e levantado pela raiva; Bico: meio aberto.

07 – Identifique no terceiro parágrafo o trecho que dá ideia do movimento que o gavião faz.
      “[...] quando ele se voltou numa rodada de vigilância [...]”.

08 – Um descrição subjetiva apresenta as impressões pessoais do observador. Você considera subjetiva ou objetiva a descrição o pássaro em “Gavião-de-penacho”?
      Embora seja uma descrição objetiva, apresenta alguns elementos subjetivos, isto é, impressões pessoais do narrador. Dizer, por exemplo, que o gavião era imenso está mais ligado ao medo do observador do que propriamente à envergadura da ave.


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

POEMA: ADEUS, MEUS SONHOS! ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

Poema: Adeus, Meus Sonhos!

             Álvares de Azevedo

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto...
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

                   AZEVEDO, Álvares de. “Adeus, Meus Sonhos”. In: PIRES, Homero (org.). Obras completas de Álvares de Azevedo. 8. ed. São Paulo, Nacional, 1942. p. 285.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 200-1.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Votar: Dedicar, devotar.

·        Sina: Destino, sorte.

·        Cândido: Puro, ingênuo.

02 – Que palavras e expressões do poema caracterizam o chamado mal-do-século?
      Pranteio, morro, triste, pobres dias, treva, luto, murchas flores, etc.

03 – Identifique a causa principal do desejo de morrer manifestado pelo eu lírico.
      O fato de ter dedicado os seus duas a um amor sem fruto (não consumado).

04 – Um dos sonhos do eu lírico é o da realização amorosa. Entretanto, ao utilizar a metáfora “estrela”, na última estrofe, revela a impossibilidade de realizar o seu sonho. Explique essa afirmação.
      A estrela é um astro distante, inalcançável.

05 – Identifique os versos que repetem a ideia do vazio interior que deixa o eu lírico sem motivações para a vida.
      “E tanta vida que meu peito enchia
       Morreu na minha triste mocidade!”
      “E tanta vida que meu peito enchia
       Morreu na minha triste mocidade!”



CONTO: O ALFAIATE VALENTÃO - JACOB E WILHELM GRIM - COM GABARITO

Conto: O alfaiate valentão
           Jacob e Wilhelm Grim

        Era uma vez um alfaiate que estava sentado à janela da sua casa, costurando um paletó. Nisto ouviu uma vendedora de doces que passava gritando: “Doces! Pudim especial!”
        O alfaiate espichou a cabeça para fora da janela e chamou-a. A mulher subiu os três degraus da casa do homenzinho e descobriu o tabuleiro para que ele se servisse à vontade.
        -- Quero cinquenta gramas deste pudim, disse o alfaiate.
        A mulher pesou os cinquenta gramas, recebeu o dinheiro e lá se foi a resmungar por ter perdido tempo com um freguês tão miserável.
        -- Agora, exclamou o alfaiate lambendo os beiços, vou regalar-me. Comerei este pudim com pão, para render, mas primeiro tenho que acabar este paletó.
        Assim dizendo colocou o pedacinho de pudim ao ado do pão e pôs-se a costurar com tamanha pressa que os pontos até pareciam alinhavo. Enquanto isso o cheiro do pudim atraiu um bom número de moscas que vieram sentar-se nele, muito gulosas.
        -- Fora daqui, gatuninhas! – Gritou o alfaiate ao percebe-las. Ninguém as convidou para este banquete.
        As moscas fugiram, mas logo depois voltaram e em maior número. Danado da vida, o alfaiate deu com a costura em cima delas matando sete.
        -- Sim, senhor! Exclamou ele para si próprio, admirado da sua bravura. Sou um valente sem igual Duma só pancada mato sete! Vou escrever numa faixa de pano e andar com ela pela rua. Toda a gente vai tremer de medo de mim.
        Escreveu estas palavras na faixa: MATO SETE DUMA VEZ, atou a faixa à cintura e preparou-se para correr mundo. Um homem valente como ele, que matava sete duma vez, não podia continuar o humilde alfaiate que tinha sido até ali. [...].
        [...] Andou, andou até que foi parar no parque dum palácio real e, como estivesse cansado da caminhada, resolveu deitar-se na grama. Enquanto dormia, várias pessoas apareceram por ali e leram os dizeres da faixa: “Sete duma vez”. Deve ser um grande herói, pensaram consigo, e foram correndo contar o caso ao rei. Seria um aliado precioso nas guerras. O rei ouviu o caso, pensou uns instantes e por fim mandou que seus ministros convidassem o herói para ficar a serviço do reino. Os ministros esperaram com todo o respeito que ele acordasse e então fizeram o convite.
        -- Pois foi para isso mesmo que cheguei até aqui, respondeu o alfaiate. Vim oferecer meus préstimos a este poderoso rei. Diga que aceito a proposta com muito gosto.
        O rei mostrou-se muito contente. Deu-lhe uma das mais belas casas do reino para morar e ofereceu-lhe uma grande festa.
        Isto encheu de inveja os ministros – inveja e medo.
        -- Muito perigoso este homem aqui, disseram entre si. Caso brigue conosco, que será de nós, já que ele mata sete duma vez? E foram queixar-se ao rei.
        -- Majestade, disseram os ministros, não podemos viver na companhia dum homem tão perigoso. O vosso ministério é composto de sete ministros e como ele mata sete duma só pancada, poderá dar cabo de todo o ministério num instantinho.
       O rei ficou muito triste. Não queria perder os seus ministros, mas também não tinha coragem de demitir o alfaiate, pois quem mata sete de uma pancada pode matar sete mais um e esse um pode ser um rei. Em vista disso começou a pensar no meio de se livrar dum homem tão perigoso. Por fim mandou chama-lo e disse:
        -- Já que você é tão valente quero que me faça uma coisa. Na floresta existem dois gigantes que cometem os maiores horrores, roubando, matando e incendiando tudo quanto querem sem que meus soldados tenham ânimo de enfrenta-los. Se conseguir libertar o reino desses monstros darei a você a minha filha em casamento e, como dote, metade dos meus domínios. Cem homens a cavalo irão com você atacar os gigantes.
        -- Dispenso os cem homens a cavalo, respondeu o alfaiate, contentíssimo por ter uma grande façanha a realizar. Eu mato sete duma só pancada. Os gigantes são dois. Logo para dar cabo deles só preciso de meia pancada. Os homens a cavalo poderão acompanhar-me apenas para assistir à matança dos gigantes.
        Assim foi feito. O alfaiate e os cem homens se dirigiram para a floresta. Lá chegados ficaram estes num certo ponto e o herói dirigiu-se sozinho para a caverna dos gigantes. Encontrou-os dormindo um ao lado do outro, debaixo duma grande árvore que existia na entrada da caverna. Sem ser pressentido, o alfaiate trepou à árvore e ficou bem escondidinho entre as folhas de modo que pudesse atirar pedras na cara dos dorminhocos. E começou a atirar uma por uma, com toda a força as pedras que levara num alforje. As primeiras não serviram nem para acordar os brutos, mas uma que acertou no olho dum deles o fez despertar.
        -- Não gosto de brincadeiras, ouviu? disse o gigante pegando um tapa no companheiro, certo de que fora este o autor da pedrada.
        -- Você está sonhando, disse o companheiro. Não toquei em você nem com a ponta do dedo.
        E ajeitaram-se ambos para continuar a soneca. Minutos depois o alfaiate arrumou-lhe nova pedra no olho com mais força ainda.
        -- Que significa isto? berrou o gigante furioso. Continua você a esbarrar em mim?
        -- Não esbarrei coisa nenhuma, respondeu o companheiro também danado. Não me aborreça.
        Dormiram novamente. O alfaiate, então, jogou a pedra maior de todas. Sentindo o choque, o gigante ergue-se, tomado dum acesso de cólera terrível, e certo de que o causador da brincadeira tinha sido o companheiro, atirou-se a ele de murros e pontapés. A luta foi tremenda. Várias árvores foram arrancadas para que os troncos servissem de armas. Depois de alguns minutos, os dois gigantes se haviam estraçalhado mutuamente. O alfaiate então desceu da árvore, enfiou a sua espada no peito de cada um e foi em procura dos cem cavaleiros.
        -- Pronto! disse ao chegar. Já liquidei com os dois malvados. A luta foi terrível. Eles chegaram a arrancar árvores para lutar comigo, como vocês poderão ver. Mas foi tudo inútil. Contra quem mata sete dum golpe, dois não podem...
        -- E nem sequer ficou ferido? perguntaram os cavaleiros, muitos espantados.
        -- Eles não puderam tocar em mim. Nem um arranhãozinho...
        Os cem cavaleiros verificaram com os seus próprios olhos que os gigantes estavam mortos e bem mortos, cada um deles com uma estocada no peito. E voltaram no galope para contar ao rei o grande acontecimento.
        O rei [...] não teve remédio: deu sua filha em casamento ao alfaiate, sem saber que ele era um simples alfaiate. Se o soubesse, com certeza mandaria que o matassem, porque era um rei muito orgulhoso.
        Houve grandes festas, sendo o feliz herói coroado rei de metade do velho reino. Tempos mais tarde a jovem rainha ouviu seu esposo falar enquanto dormia.
        -- Anda, rapaz! dizia ele tonto. Alinhava logo esse colete senão te prego com o metro na cabeça.
        Ficou desconfiada. Pensou muito naquilo e por fim convenceu-se de que se casara com um simples alfaiate. Foi correndo contar ao rei a sua descoberta. O rei danou com o desaforo e armou um plano.
        -- Deixe a porta aberta de noite, recomendou ele. Quando o patife estiver no melhor do sono, meus criados entrarão no quarto e o amarrarão com boas cordas. Em seguida o botaremos num navio que o vá soltar a mil léguas daqui.
        A rainha alegrou-se com o plano do rei e na sua alegria não percebeu que um pequeno pajem estava ouvindo a conversa. O diabinho correu logo a contar ao alfaiate toda a conversa pilhada.
        -- Não se assuste, disse o alfaiate. Eu darei uma lição a essa gente.
        Nessa mesma noite o alfaiate em vez de dormir fingiu que dormia e pode ver sua esposa erguer-se da cama, sem fazer o menor barulho, para ir destrancar a porta. Logo em seguida os criados do rei apareceram, na ponta dos pés.
        Assim que os viu dentro do quarto, o matreiro alfaiate fingiu que estava sonhado e murmurou de modo que todos ouvissem muito bem:
        -- Anda, rapaz! alinhava logo esse colete senão te dou com o metro na cabeça. Já matei sete duma vez, já dei cabo de dois monstruosos gigantes [...] e portanto não tenho medo nenhum dos que estão entrando neste quarto.
        Foi água na fervura. Os criados do rei ficaram com as pernas moles e trataram de retirar-se, bem na pontinha dos pés. A lição foi boa. Nunca mais o rei, nem a rainha, nem ninguém mexeu com o alfaiate, que pode reinar toda a sua vida no seu pedaço de reino e sonhar livremente com as antigas tesouras e metros e paletós e coletes, sem que ninguém se animasse a conspirar contra a vida dele.
          Contos de Grimm. Trad. e adapt. de Monteiro Lobato. São Paulo, Brasiliense, 1975.
Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p. 48-54.

Entendendo o conto:

01 – Você acha que histórias como a do alfaiate valentão foram feitas só para crianças? Ou será que os adultos também se divertem com elas?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Vamos pensar um pouco sobre a profissão de alfaiate: o que faz um alfaiate? O mesmo que um costureiro?
      O alfaiate confecciona roupas para homens. O costureiro faz roupas para mulheres.

03 – Localize no texto trechos que caracterizam o alfaiate, conforme os adjetivos dados:
a)   Pequeno: “A mulher subiu os três degraus da casa do homenzinho [...]”.

b)   Pobre: “[...] e lá se foi a resmungar por ter perdido tempo com um freguês tão miserável”. / “[...] não podia continuar o humilde alfaiate que tinha sido até ali”.

04 – Leia: “—Sim senhor! exclamou ele para si próprio, admirado da sua bravura. Sou um valente sem igual”.
a)   Para você, o que é um ato de bravura?
Resposta pessoal do aluno.

b)   Por que o alfaiate se julgava valente?
Ele se julgava valente porque matara sete moscas de uma vez.

c)   Ele de fato foi valente?
Não, matar sete moscas não pode ser considerado sinal de valentia. 

05 – Quando o alfaiate chegou ao reino, houve um mal-entendido. O que as pessoas pensaram ao ler na faixa “mato sete duma vez”?
      As pessoas pensaram que ele fosse um homem muito corajoso, que havia matado sete monstros, ou sete gigantes, ou sete bandidos de uma só vez, daí o mal-entendido.

06 – Por que o rei deu uma tarefa tão difícil ao alfaiate? Justifique com alguma passagem do texto.
      Porque ele pensava que o pequeno alfaiate era um homem muito perigoso, capaz de mata-lo. “[...] pois quem mata sete de uma pancada pode matar sete mais um e esse um pode ser um rei”. Em vista disso começou a pensar no meio de se livrar dum homem tão perigoso.

07 – Para entender melhor o texto, copie em seu caderno as frases abaixo, substituindo os termos destacados por outros de sentido semelhante. Faça as alterações necessárias e, se for precioso, use o dicionário.
a)   “Agora, exclamou o alfaiate lambendo os beiços, vou regalar-me”.
Lábios/sentir um grande prazer, alegrar-me.

b)   “Fora daqui, gatuninhas!”
Ladras, ladroninhas.

c)   “Vim oferecer meus préstimos a este poderoso rei”.
Serviços.
d)   “Sem ser pressentido, o alfaiate trepou à árvore e ficou bem escondidinho [...]”.
Visto, observado.

e)   “E começou a atirar uma por uma, com toda a força as pedras que levara num alforje”.
Saco duplo, espécie de sacola.

f)    “[...] os gigantes estavam mortos e bem mortos, cada um deles com uma estocada no peito [...]”.
Golpe com a ponta de uma espada.

g)   “O diabinho correu logo a contar ao alfaiate toda a conversa pilhada”.
Roubada, escutada às escondidas, apanhada de surpresa.

h)   “[...] o matreiro alfaiate fingiu que estava sonhando [...]”.
Astuto, sabido.

08 – Neste conto há muitos trechos típicos da linguagem formal.
a)   Retire do sexto parágrafo do texto expressões que você considera formais e copie-as no seu caderno.
“Pôs-se a costurar”, “tamanha pressa”, “vieram sentar-se nele”.

b)   Passe essas expressões para uma linguagem informal.
Começou a costurar, tanta (muita) pressa, vieram e se sentaram nele.

09 – Releia: “O diabinho correu logo a contar ao alfaiate toda a conversa pilhada”.
a)   Foi mesmo um diabinho que contou ao alfaiate toda a conversa do rei com a filha?
Não, foi um pajem.

b)   Como chamamos a figura de linguagem em que uma palavra não aparece no seu sentido original, mas sim num sentido figurado?
Metáfora.

10 – É possível dizer quando aconteceu a história do alfaiate  valentão? Há alguma expressão que marque o tempo?
      Não, o texto começa com “Era uma vez”, expressão que não delimita o tempo.

11 – Você acredita que existam gigantes e outros seres invencíveis?
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Os contos populares apresentam características bem definidas. Veja algumas delas e responda às questões:
a)   O herói tem um objetivo a cumprir, chamado desígnio. Qual era o objetivo do alfaiate ao fazer a faixa com dizeres “Mato sete duma vez”?
Ele queria que todos o temessem, queria ser visto como herói.

b)   O rei faz uma viagem. Isso ocorre com o alfaiate?
Sim, o alfaiate resolveu correr o mundo.

c)   O herói tem obstáculos para superar ou tarefas para cumprir. Qual foi a tarefa do alfaiate?
Derrotar os gigantes.

d)   O herói sempre conta com a mediação, isto é, com algum tipo de ajuda, que pode vir do próprio homem, da natureza ou mesmo do sobrenatural. Quem ou o que colaborou para que o alfaiate vencesse todos os obstáculos?
Sua própria esperteza.

e)   O herói conquista seus objetivos. O alfaiate alcançou seu objetivo?
Sim, ele se tornou herói, casou-se com a princesa e virou rei.