terça-feira, 10 de setembro de 2019

POEMA: LETRAS LOUVANDO PELÉ - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Letras louvando Pelé
             Carlos Drummond de Andrade

        Pelé, pelota, peleja. Bola, bolão, balaço. Pelé sai dando balõezinhos. Vai, vira, voa, vara, quem viu, quem previu? GGGGoooollll.
        Menino com três corações batendo nele, mina de ouro mineira. Garoto pobre sem saber que era tão rico. Riqueza de todos, a todos doada, na ponta do pé, na junta do joelho, na porta do peito.
        E dança. Bailado de ar, bola beijada, beleza. A boa bola bólide, brasil-brincando. A trave não trava, trevo de quatro, de quantas pétalas, em quantas provas, que não se contam? Mil e muitas. Mundo.
        O gol de letra, de lustre, de louro. O gol de placa, implacável. O gol sem fim, nascendo natural, do nada, do nunca; se fazendo fácil na trama difícil, flóreo. Feliz. Fábula.
        Na árvore de gols Pelé colhe mais um, romã rótula. No prato de gols papa mais um, receita rara. E não perde a fome? E não periga a força? E não pesa a fama?
        Ama.
        Ama a bola, que o ama, de mordente amor. Os dois combinam, mimam-se, ameigam-se, amigam-se. “Vem comigo”, e entram juntos na meta. Quem levou quem? Onde um termina e a outra começa, mistura fina?
        Saci-pererê, saci-pelelê, só pelé, Pelé, na pelada infantil. Assim se forma um nome, curto, forte, aberto. Saci com duas pernas pulando por quatro. Nunca vi. Nem eu. Mas vi. Saci corta o ar em fatias diáfanas. Corta os atacantes os defensores, saci-bola, tatu-bola, roaz, reto, resplandece.
                      ANDRADE, Carlos Drummond de. “Letras louvando Pelé”. In: MONTEIRO, J. Lemos. A estilista. São Paulo, Ática, 1991. p. 120-1.
                                               Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 44-5.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Peleja: Combate, luta, batalha.

·        Três corações: Referência a Três Corações (MG), cidade onde Pelé nasceu.

·        Bólide: Meteorito.

·        Flóreo: Florido.

·        Romã: Fruta doce e de forma esférica.

·        Rútila: Brilhante.

·        Mordente: Provocante, excitante.

·        Diáfana: Transparente, fina.

·        Roaz: Destruidor, devastador, voraz.

02 – O que a afirmação “O gol sem fim, nascendo natural, do nada, do nunca...” expressa?
      Surpresa e admiração.

03 – Chama-se simbiose à associação entre dois seres vivos com o objetivo de se beneficiarem mutuamente e, por extensão, à associação e entendimento íntimo entre duas pessoas. Copie do texto o parágrafo que, através de uma prosopopeia, revela a simbiose entre Pelé e a bola.
      Ama a bola, que o ama, de mordente amor. Os dois combinam, mimam-se, ameigam-se, amigam-se. “Vem comigo”, e entram juntos na meta. Quem levou quem? Onde um termina e a outra começa, mistura fina?     

04 – Com que comparação (e metáfora) Carlos Drummond de Andrade expressa ser Pelé o autor de jogadas mágicas, sobrenaturais?
      Chamando-o de saci-pelelê.

05 – O que se destaca mais no texto: o significado das palavras ou o significante e o ritmo?
      O significante e o ritmo.

06 – Você acredita que a formação escolar é dispensável quando se tem o dom e a habilidade para se tornar um atleta profissional bem-sucedido?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Para você o que o esporte pode representar para os jovens de origem humilde?
      Resposta pessoal do aluno.

MENSAGEM ESPÍRITA - LIVRO PÃO NOSSO - NO SERVIÇO CRISTÃO - EMMANUEL/CHICO XAVIER - PARA REFLEXÃO

No Serviço Cristão

“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal do Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito, estando no corpo, o bem ou o mal.” – Paulo. (2ª Epístola aos Coríntios, 5:10.)
Não falta quem veja no Espiritismo mero campo de experimentação fenomênica, sem qualquer significação de ordem moral para as criaturas.
Muitos aprendizes da consoladora Doutrina, desse modo, limitam-se às investigações de laboratório ou a discussões filosóficas.
É imperioso reconhecer, todavia, que há tantas categorias de homens desencarnados, quantas são as dos encarnados.
Entidades discutidoras, levianas, rebeldes e inconstantes transitam em toda parte. Além disso, incógnitas e problemas surgem para os habitantes dos dois planos.
Em vista de semelhantes razões, os adeptos do progresso efetivo do mundo, distanciados da vida física, pugnam pelo Espiritismo com Jesus, convertendo-nos o intercâmbio em fator de espiritualidade santificante.
Acreditamos que não se deve atacar outro círculo de vida, quando não nos encontramos interessados em melhorar a personalidade naquele em que respiramos.
Não vale pesquisar recursos que não nos dignifiquem.
Eis por que para nós outros, que supomos trazer o coração acordado para a responsabilidade de viver, Espiritismo não expressa simples convicção de imortalidade: é clima de serviço e edificação.
Não adianta guardar a certeza na sobrevivência da alma, além da morte, sem o preparo terrestre na direção da vida espiritual. E nesse esforço de habilitação, não dispomos de outro guia mais sábio e mais amoroso que o Cristo.
Somente à luz de suas lições sublimes é possível reajustar o caminho, renovar a mente e purificar o coração.
Nem tudo o que é admirável é divino.
Nem tudo o que é grande é respeitável.
Nem tudo o que é belo é santo.
Nem tudo o que é agradável é útil.
O problema não é apenas de saber. É o de reformar-se cada um para a extensão do bem.
Afeiçoemo-nos, pois, ao Evangelho sentido e vivido, compreendendo o imperativo de nossa iluminação interior, porque, segundo a palavra oportuna e sábia do Apóstolo, “todos devemos comparecer ante o tribunal do Cristo, a fim de recebermos, de acordo com o que realizamos, estando no corpo, o bem ou o mal”.
EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 22 de fevereiro de 1950.

CRÔNICA: MEU REINO POR UM PENTE- PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

Crônica: Meu reino por um pente      
               Paulo Mendes Campos

     Filhos – diz o poeta – melhor não tê-los.
   Já o Professor Aníbal Machado me confiou gravemente que a vida pode ter muito sofrimento, o mundo pode não ter explicação alguma, mas, filhos, era melhor tê-los. A conclusão parece simples, mas não era; Aníbal tinha ido às raízes da vida, e de lá arrancara a certeza imperativa de que a procriação é uma verdade animal, uma coisa que não se discute, fora de alcance do radar filosófico.
        "Eu não sei por que, Paulo, mas fazer filhos é o que há de mais importante."
        Engraçado é que depois dessa conversa fui descobrindo devagar a melancólica impostura daquelas palavras corrosivas do final de Memórias Póstumas: "não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria". Filhos, melhor tê-los, aliás, o mesmo poeta corrige antiteticamente o pessimismo daquele verso, quando pergunta: mas, se não os temos, como sabê-lo? Resumindo: filhos, melhor não tê-los, mas é de todo indispensável tê-los para sabê-lo; logo, melhor tê-los.
        Você vai se rir de mim ao saber que comecei a crônica desse jeito depois de procurar em vão meu bloco de papel. Pois se ria a valer: o desaparecimento de certos objetos tem o dom de conclamar, por um rápido edital, todas as brigadas neuróticas alojadas nas províncias de meu corpo. Sobretudo instrumentos de trabalho. Vai-se-me por água a baixo o comedimento quando não acho minha caneta, meu lápis-tinta, meu papel, minha cola... Quando isso acontece (sempre) até taquicardia costumo ter; vem-me a tentação de demitir-me do emprego, de ir para uma praia deserta, de voltar para Minas Gerais, renunciar... Ridículo? Sim, ridículo, mas nada posso fazer. Creio que seria capaz (talvez seja presunção) de aguentar com relativa indiferença uma hecatombe que destruísse de vez todos os meus pertences.
        O que não suporto é a repetição indefinida do desaparecimento desses objetos sem nenhum valor, mas, sem os quais, a gente não pode seguir adiante, tem de parar, tem de resolver primeiro. Stanislaw Ponte Preta andou espalhando que eu usava ventilador para pentear os cabelos. Calúnia. Sou o maior comprador de pentes do Estado da Guanabara. Compro-os em quantidades industriais pelo menos duas vezes por mês, de todos os tamanhos, de todas as cores. Sou quase amigo de infância do vendedor de pentes que estaciona ali na esquina de Pedro Lessa e Rua México.
        A princípio, pensou que eu estava substabelecendo o comércio dele, comprando para vender mais caro, mas um dia eu lhe contei minha tragédia familiar, e ele sorriu e confessou: "Lá em casa é a mesma coisa". Chego em casa com os meus pentes e os distribuo a mancheias. Dois para você, quatro para você - segundo o temperamento e a distração de cada um. Aviso a todos que vou colocar um no armário do quarto, um no banheiro, um em cada mesa de cabeceira, dois na minha gaveta. Terminada essa operação ostensiva, fico malicioso e furtivo; secretamente, vou escondendo outros pentes por todos os cantos e recantos, debaixo do colchão, no alto de um móvel, atrás do exemplar dos Suspiros Poéticos e Saudades. Em seguida, reúno solenemente toda a família, inclusive o Poppy, tiro do bolso um pente singular, o mais ordinário encontrável na praça, e digo: "Este é o meu pente; este ninguém usa; neste, sob pretexto algum, ninguém toca! Estão todos de acordo? Ou algum dos presentes deseja fazer alguma objeção?" Estão todos de acordo.
        A sinceridade do meu clã nesses momentos é de tal qualidade que, por um dia ou dois, tenho a ilusão de que, afinal, venci, de que descobri o approach certo para a família incerta. Mas, meu São Luís de Camões, ó caminhos da vida, sempre errados! Os dias passam, o vento passa a descabelar-nos, e os meus pentes, os meus pentes também passam. Misteriosamente, inexplicavelmente, eles desaparecem, pouco a pouco, com certa malícia, um a um, dois a dois, até chegar o momento dramático no qual, depois de vasculhar todos os meus esconderijos, fico em cabelos no meio da sala e, como Ricardo III em plena batalha, exclamo patético: "Um pente, um pente, meu reino por um pente!".
        Eu não fui – diz o primeiro; – eu não fui – diz o segundo; – eu não fui – diz o terceiro. Poppy, cuja especialidade é comer meias e sapatos, não diz nada, mas abana o rabo negativamente.
        Não foi ninguém, foi Mr. Nobody, foi o diabo, foi a minha sina.
        A minha mansão tem apenas três quartos e uma sala. Pois é inacreditável a quantidade de objetos que estão desaparecidos aqui dentro. Um dia, quando me mudar, a gente vai achar tudo. E sorrir um para o outro com uma nostalgia imprecisa, e dizer em silêncio que, filhos, e pais, melhor tê-los.
             Paulo Mendes Campos. “Meu reino por um pente”. In: Balé do pato e outras crônicas. São Paulo, Ática, 1998. p. 25-8.
                                                Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 30-1.
Entendendo a crônica:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Conclamar: Chamar.

·        Edital: Aviso oficial que se coloca em lugares públicos ou se anuncia na imprensa.

·        Estado da Guanabara: Antigo nome do estado do Rio de Janeiro.

·        Singular: Notável, único; particular.

·        Mr. Nobody: Em inglês, “Sr. Ninguém”.

02 – Por que o cronista introduz a discussão sobre ter ou não ter filhos?
      Porque seus filhos somem com os seus objetos pessoais.

03 – O que o cronista pretende dizer quando usa a expressão “vai-se-me por água abaixo o comedimento”?
      Quer dizer que fica nervoso, irritadiço, destemperado.

04 – Você já ouviu as expressões “a mancheias” e “ficar em cabelos”? Pesquise num dicionário seus significados.
      A mancheias: Em grande quantidade.
      Ficar em cabelos: Ficar despenteado, descabelado; ou aturdido, perdido no meio da sala.

05 – Na frase: “A minha mansão tem apenas três quartos e uma sala”, a palavra mansão está empregada no seu sentido real ou subjetivo? Por quê?
      Subjetivo. Usa-se “mansão” em referência à residência de grandes dimensões e luxo requintado.

06 – O que você pensa a respeito da responsabilidade de ser pai/mãe? Por que se pode afirmar que não é fácil educar os filhos? Existe um momento apropriado para a paternidade/maternidade?
      Resposta pessoal do aluno.


TEXTO: A HORA DA VERDADE - FERNANDO PAIXÃO - COM GABARITO

Texto: A hora da verdade
          
Fernando Paixão

      A história que você vai ler fala de um sentimento que todo mundo conhece: o ciúme. É normal a gente ter ciúme de quem gosta. O anormal é deixar-se dominar por esse sentimento e perder o pé da realidade. E foi exatamente isso o que aconteceu com a Iara, a personagem de Pedro Bandeira.
        Quando comecei a ler o livro não imaginava que aquela garota cheia de garra, jogadora brilhante de vôlei e companheira inseparável de Adele, fosse capaz de qualquer coisa para conseguir recuperar o ex-namorado. E o curioso é que o rapaz mais cobiçado do colégio está justamente apaixonado por Adele. Fiquei espantado de como Iara pôde arquitetar um plano tão diabólico e manipular tanta gente para atingir seu objetivo a qualquer custo.
        É claro que eu não vou revelar se ela consegue ou não executar seu plano até o final. Para saber a resposta, você deve ler o livro. Tenho certeza de que você vai se envolver muito com essa história que nos faz pensar bastante sobre as relações humanas.
        Então siga a trama de Pedro Bandeira e descubra até onde o ciúme pode levar uma pessoa.
                              O Editor PAIXÃO, Fernando. “Apresentação”. In: BANDEIRA, Pedro. A hora da verdade. São Paulo, Ática, 1998.
                                                   Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 50-1.
Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Arquitetar: Elaborar.

·        Manipular: Acionar, envolver, iludir.

·        Trama: Enredo, intriga.

02 – O texto que você leu é predominantemente informativo, injuntivo ou literário? Por quê?
      Informativo, porque utiliza uma linguagem objetiva e referencial para nos informar sobre a obra de Pedro Bandeira; e injuntivo, porque visa nos convencer a lê-lo.

03 – Além das funções metalinguística e referencial, predominantes no texto, que outra função da linguagem temos no último parágrafo?
      A conativa.

04 – O que o editor crê que a história irá provocar nos leitores?
      Surpresa, envolvimento, interesse e reflexão sobre as relações humanas.

05 – Os fatos narrados na história são possíveis de ocorrer na vida real? Por quê?
      Sim, porque o ciúme é um sentimento humano que pode assumir várias proporções.

A FÁBULA DO LEÃO E DOS BÊBADOS - LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

fábula do leão e dos bêbados
                           Lourenço Diaféria


Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia um deles ao entardecer à sombra do parque onde o prenderam.
Assim levava a vida, ou assim esperava a morte.
Sua missão não era valorosa; incumbia-lhe, todos os dias, e de preferência aos sábados e domingos, fingir que era de fato um leão feroz e assustar os visitantes com pálidos rugidos.
Em troca, recebia três fartas refeições ao dia (fora o breakfast), água fresca, sombra, agradável companhia, e o título honorífico de rei das selvas, que na verdade era o que mais o comovia.
Mas não era de fato um leão de verdade; faltavam-lhe a certeza de sua intrepidez, o horizonte aberto, a liberdade, que não ia além do arame farpado entre as sebes disfarçado.
Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.
Um belo dia aconteceu, porém, que três bebuns, enganando-se de boteco, erraram o atalho e foram cair, por puro acaso, nos domínios reservados ao leão domesticado. E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam: a moita onde dormiam desmaiados nada mais era que a juba da fera enjaulada.
Surpreendeu-se o leão com tamanha audácia, que não constava nas cláusulas contratuais que assinara com o empresário-empregador. E logo lhe veio à mente, num impulso atávico, o justo desejo de provar daquele banquete que se oferecia assim de mão-beijada. De fato, há muito o leão não saboreava um prato humano, como nos velhos tempos de antanho.
Já se lambia o bicho, com sua língua áspera e salivada.
Mas a civilização também cobra os seus tributos - e o leão, que conhecia algo de Direito, antes de se lançar ao ataque, resolveu reler o seu contrato, a ver se nas entrelinhas (sábio leão!) não constava algo que o prejudicasse: pois não queria o rei das selvas perder o emprego por justa causa. Pra tanto procurou um leão mais velho - e presumidamente mais experiente - e lhe propôs a delicada questão: se era lícito, naquela conjuntura, devorar os três bebuns incautos, que haviam invadido o parque e ali dormiam.

O velho leão examinou o contrato, verificou se não era falso, e concluiu que, pelo escrito, nada impedia legalmente que o leão mais novo os devorasse. Mas enquanto consultavam a lei, corria o tempo, de sorte que, por sorte, os três bebuns, passada a carraspana despertaram para a vida. Sobressaltados, antes que o leão, apoiado na lei, voltasse e os atacasse, trataram os três de fazer o que a situação impunha: mandar-se.
E foi desta maneira que o leão perdeu o acepipe, frustrando-se o ensejo de fartar-se com carne de primeira, tenra e fresquinha (ainda por cima regada a canjebrina). 
Amuado, foi novamente ao leão mais velho (e mais experiente) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato. 
Ao que o mais velho respondeu, com a sabedoria própria dos leões fabulosos:
- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato. Mas não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem. Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.

Vocabulário:
decrépito: velho, caduco
espairecer: entreter-se
honorífico: honroso
intrepidez: coragem
sebe: arbusto
juba: crina
audácia: coragem
cláusula: artigo; preceito
atávico: reaparecimento de uma característica dos ascendentes
antanho: antigamente
incauto: imprudente
carraspana: bebedeira
acepipe: guloseima
ensejo: oportunidade
canjebrina: cachaça
escrúpulo: cuidado

  Trabalhando com o texto

1. O texto que você acabou de ler apresenta os elementos essenciais da narrativa: personagens, fato, tempo, lugar (espaço), narrador.

a)   Quem são as personagens?
O leão, o leão mais velho e três bêbados.

b)   O que acontece?
Um leão pensa em devorar três bêbados que, desavisados, vão parar em seu domínio. Mas acaba deixando-os escapar.

c)   Onde acontece a história?
Num parque.

d)   Quando ocorrem os fatos?
Tempo indeterminado (“Um belo dia...”)

e)   Quem narra a história: um narrador-personagem ou um narrador-observador? Justifique.
Narrador-observador. Narra em terceira pessoa, não participa dos acontecimentos narrados (“Surpreendeu-se o leão...”).

2. O que seria necessário para que o animal desta fábula fosse “um autêntico leão”?
    Ser feroz, estar em liberdade, entregue a seus próprios instintos.

3. Por que o leão não devorou os bêbados? Marque a alternativa correta.

(A) Porque as cláusulas contratuais o proibiam.

(B) Porque, enquanto ele e o leão mais velho consultavam o contrato, os três bêbados, conscientes do risco que corriam, fugiram.

(C) Porque, além de não querer perder o emprego, não estava faminto.



4. Explique o uso da expressão destacada na frase:

“E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam [...]”.
O autor brinca com a palavra tresloucados (loucos, desvairados): como eram três os bêbados incautos, usou “três-loucados”.

5. Inverossimilhante é tudo aquilo que não tem aparência de verdadeiro. Releia o último parágrafo e transcreva um trecho inverossímil.
“Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados”.

6. De onde provém a comicidade do texto? Escolha a alternativa correta.

(A) Do fato de um leão estar preso.

(B) Do fato de dois leões conversarem com humanos.

(C) Da presença de um animal renegar seus instintos em nome de um contrato.

(D) Do fato de um leão pedir ajuda a um amigo mais velho.


7. No texto alteram-se termos próprios de uma linguagem formal e termos característicos de uma linguagem bem coloquial (informal).

a) Procure alguns exemplos de uso mais formal da linguagem.
     Vocabulário cuidado e pouco comum (atávico, antanho, honorífico, conjuntura, acepipe...).

b) Procure exemplos de uso coloquial.
     Uso de gírias e expressões populares (bebuns, carraspana, boteco, mão-beijada, mandar-se).

8. Para reproduzir as falas das personagens, o autor utiliza dois tipos de discurso: o discurso direto e o discurso indireto.
Localize trechos em que aparecem exemplos desses dois tipos de discurso. Justifique sua resposta.

Discurso direto: “Ao que o mais velho respondeu(...):
- Queixas-te de barriga cheia (...). A vida não está difícil só para os animais, rapaz.” O autor reproduz as palavras da personagem. Aparece travessão introduzindo a fala.

Discurso indireto: “Amuado, foi novamente ao leão mais velho (...) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato”. O narrador conta com suas próprias palavras o que o leão teria dito ao amigo.


domingo, 8 de setembro de 2019

POEMA: PASSARINHO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

Poema: PASSARINHO
              Mário Quintana

        Sempre me pareceu que um poema era algo assim como um passarinho engaiolado. E que, para apanhá-lo vivo, era preciso um meticuloso cuidado que nem todos têm. Poema não se pega a tiro. Nem a laço. Nem a grito. Não, o grito é o que mais o mata. É preciso esperá-lo com paciência e silenciosamente como um gato.
        Ora, pensava eu tudo isso e o céu também, quando topo com uns versos de Raymond Queneu, que confirmam muito da minha cinegética transcendental. Eis por que aqui os traduzo, ou os adapto, e os adoto, sem data venia:
        Meu Deus, que vontade me deu de escrever um poeminho...
        Olha, agora mesmo vai passando um!
        Pst pst pst
        Vem para cá para que eu te enfie
        Na fieira de meus outros poemas
        Vem cá para que eu te entube
        Nos comprimidos de minhas obras completas.
        Vem cá para que eu te empoete
        Para que eu te enrime
        Para que eu te enritme
        Para que eu te enlire
        Para que eu te empégase
        Para que eu te enverse
        Para que eu te emprose
        Vem cá...
        Vaca!
        Escafedeu-se.
                                          Mario Quintana. “Passarinho”. In: A vaca e o hipogrifo. Porto Alegre, Garatuja, 1977. p. 108-9.
                                                 Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.66-7.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Cinegética: Arte de caçar.

·        Data vênia: Expressão latina que significa “com a devida vênia” (licença, permissão).

·        Empégase: Neologismo baseado em Pégaso, cavalo alado da mitologia grega.

·        Escafeder-se: Fugir às pressas.

·        Transcendental: Que transcende; muito elevado; superior, metafísico.

02 – Além da sensibilidade e da criatividade, que outra virtude o poeta julga essencial para escrever um poema?
      A paciência.

03 – Através de que expressão o autor sugere que o poema é uma atividade que ultrapassa a realidade puramente material?
      Através da expressão “cinegética transcendental”.

04 – Por que o poeta Queneu se aborrece e ofende o poema, chamando-o de vaca?
      Porque o poema estava “na ponta da língua”.

05 – Copie em seu caderno os neologismos que o poeta cria em seu poema e explique os seus significados.
      Empoeta / enritme / enlire / empégase / enverne / emprose.

06 – Você acha que a paciência combina com a vida altamente competitiva do século XXI? A paciência é mesmo uma virtude? Discuta com os colegas e apresente o seu ponto de vista.
      Resposta pessoal do aluno.