segunda-feira, 22 de abril de 2019

CRÔNICA: UMA TIA - DANUZA LEÃO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Uma tia
      
        DANUZA LEÃO 

        Uma tia. Só que não estou falando de uma tia qualquer; estou falando daquela tia de antigamente, que nem sei se ainda existe.
        Ela era assim: magrinha, já nascida com cerca de 75 anos e com os ombros curvados; era tão discreta que nunca ficava doente – e, se ficava, não dizia (para não dar despesa); por ser a mais velha de uma escadinha de 12 ou 13 irmãos, ficou combinado que nunca se casaria. Naquele tempo, era assim: o destino da mais velha era ajudar a criar os mais novos e cuidar da mãe na velhice.
        Como não tinha renda de nenhuma natureza, depois que a mãe morreu, passou a morar ora com uma irmã, ora com outra, fazendo a única coisa que sabia: ajudar. Um parente estava no hospital? Lá ia ela. Alguém da família teve um bebê? Lá estava ela, firme, dormindo num colchonete para que a mãe pudesse dormir. Se se apegava à criança, ninguém estava interessado. Depois de cumprida a missão, voltava para casa e não se falava mais naquilo.
        Dizem que as mães fazem tudo pelos filhos – e até fazem –, mas essas tias são diferentes. Talvez por não terem nunca perdido tempo pensando em homens canalizam seus sentimentos para as sobrinhas e têm sempre uma predileta. No caso, era eu.
        Por mim ela fazia tudo e, de vez em quando, me dava um presente: uns dois palmos de renda amarelecida pelo tempo, que eu adorava – restos do enxoval de um vago noivado que não chegou ao casamento. O noivo desapareceu, nunca mais se tocou no assunto, e as pulseiras e broches de ouro com flores de coral foram devolvidas, como faziam as moças direitas.
        Essa tia não possuía um só bem material, mas era sempre muito cheirosa; cheirava a água-de-colônia, que usava pouco, para economizar. E, quando dei a ela – que já beirava os 90 anos – um casaquinho rosa de tricô, banal, trazido de Paris, ela só o usava em ocasiões muito especiais, para não gastar.
        Em qualquer idade, ficar doente e ter uma tia dessas é uma bênção. Com o quarto em penumbra, ela se sentava numa cadeira em silêncio total e só se levantava – isso várias vezes ao dia – para botar as costas da mão na testa para ver como estava a febre. E isso, falando bem baixinho. Uma mãe faz isso? Faz, mas, quando a febre baixa, aproveita para dar um pulinho ao cabeleireiro para estar linda no jantar da noite.
        Com essa tia, é diferente; você pode contar com ela para rigorosamente tudo, e esse amor não pede nada em troca. Nem mesmo agradecimento.
        É doloroso, mas faz parte da vida não dar valor às pessoas que temos certeza de que nos amam. Quantos domingos eu fiquei lendo e relendo os jornais, sem chamá-la para almoçar fora, coisa de que ela teria gostado tanto (sempre pedindo os pratos mais baratos, claro)? Quantas vezes deixei de levar para ela uma caixinha com três sabonetes ou um frasco de lavanda que nem precisava ser francesa? Pois é.
      O tempo passou, ela morreu, e eu – que não a via muito porque tinha o trabalho, os filhos, o dia-a-dia, a maldita ginástica que não podia perder – nem sofri tanto assim. Passou.
        As reações às vezes são lentas; uns quatro ou cinco anos depois, tive uma cólica renal e, no meio da dor, lembrei-me dela. Dela, que teria ficado sentada no chão do banheiro, passando a mão pelos meus cabelos, só de carinho, enquanto eu tomava aqueles longos banhos quentes para melhorar a dor; dela, que fazia a bainha de meu vestido cinco minutos antes da festa, se fosse preciso; dela, a única que lembrava e contava episódios de minha infância que só ela sabia. Dela, que gostava de mim como nunca, jamais, ninguém gostou nem gostará, e eu só soube depois. Dela, que quando me via em algum sufoco, sempre terminava dizendo: "Vou rezar muito por você, e a Nossa Senhora vai te ajudar", sem tentar me convencer a ir à missa ou a acreditar em Deus.
        E eu, que nunca disse o quanto gostava dela.

                 Danuza Leão. As aparências enganam. São Paulo: Publifolha, 2004.
Entendendo a crônica:

01 – Na crônica, a autora fala de uma tia “que nem sei se ainda existe”. Você tem uma tia assim?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – No texto inteiro, há trechos que descrevem a tia. Mas, em certa passagem, essa descrição é bastante evidente.
a)   Que passagem é essa?
Está descrito no 2° parágrafo.

b)   Como essa tia é descrita pela autora?
É descrita física e psicologicamente.

c)   Localize a expressão que introduz esse trecho explicitamente descritivo.
A expressão é: “Ela era assim”.

03 – Que papel ela desempenhava na família?
      O de cuidar dos irmãos mais novos e da mãe na velhice.

04 – A característica principal dessa tia é que ela ajudava sempre que necessário. Indique passagens do texto que explicitam isso.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Há várias passagens que indicam isso, às vezes de forma melancólica, às vezes de forma bem-humorada.

05 – Com que outro membro da família a tia é comparada? Na sua opinião, por que a autora faz essa comparação?
      Com a mãe. A mãe é associada ao zelo e ao cuidado para com os filhos, características principais dessa tia.

06 – Embora a autora fale de uma tia em especial, é possível afirmarmos que ela buscou descrever um tipo de tia que pode existir em qualquer família. Esse procedimento de linguagem é o que chamamos de generalização. Indique passagens do texto que evidenciem a generalização. 
      Ela generaliza por meio do uso de determinadas expressões como “ter uma tia dessas”, ou “essas tias são diferentes. O tempo todo, há essa dicotomia no texto: a tia em especial, e a generalização dessa figura da parentela.

07 – Todo o texto é percorrido por um sentimento da sobrinha para com a tia.
a)   Que sentimento é esse?
A saudade da tia perdida é o que marca o texto, do começo ao fim.

b)   Localize uma passagem que justifica sua resposta ao item anterior.
No parágrafo que começa em “As reações às vezes são lentas [...]”, esse sentimento fica explícito.

08 – Ao fim da crônica, a autora declara seu arrependimento por não ter sido mais generosa com a tia da seguinte forma: “E eu, que nunca disse o quanto gostava dela”. Na sua opinião, por que Danuza Leão termina o texto dessa forma?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Uma crônica é um texto em que o autor, a partir da observação de um fato corriqueiro, um evento singular, um hábito ou uma situação usual do quotidiano, leva seus leitores a refletirem. O fato observado por Danuza Leão é de qual natureza: um fato corriqueiro, um evento singular ou uma situação habitual do quotidiano? Explique.
      É uma situação habitual. Há indícios no texto que apontam para isso, por exemplo o uso do procedimento da generalização, indicado na questão 6 desta seção.

10 – Ao escrever sua crônica, a autora mistura diferentes níveis de linguagem. Observe: “E, quando dei a ela – que já beirava os 90 anos – um casaquinho rosa de tricô, banal, trazido de Paris, ela só o usava em ocasiões muito especiais, para não gastar.”
a)   Qual é p sentido do verbo beirar nessa passagem?
Nessa passagem, significa “aproximar-se de”.

b)   Consulte o dicionário e verifique que significados ele registra para essa palavra.
O dicionário registra entre outros, os seguintes significados: “costear, ladear, ir pela margem de”; “fazer limite com”.

c)   Por que o uso do verbo beirar, nesse trecho pode ser considerado um indício de que há mistura de níveis de linguagem no texto?
Na linguagem formal, o uso de “aproximar-se” é mais usual.

11 – Releia o trecho a seguir: “Com essa tia, é diferente; você pode contar com ela para rigorosamente tudo, e esse amor não pede nada em troca. Nem mesmo agradecimento.”
        A quem se refere o pronome você nessa passagem? Justifique sua opinião.
      A primeira impressão é que ela se refere ao leitor. Mas, ao ler o trecho com mais atenção, percebe-se que o pronome generaliza a ideia, ou seja, “você pode contar com ela” é o mesmo que dizer “é possível contar com ela” ou “pode-se contar com ela”. O pronome então funciona como índice de indeterminação do sujeito.

12 – Releia esta passagem da crônica: “O tempo passou, ela morreu, e eu – que não a via muito porque tinha o trabalho, os filhos, o dia-a-dia, a maldita ginástica que não podia perder – nem sofri tanto assim. Passou.”
a)   No início e no fim desse parágrafo, emprega-se o verbo passou. O sentido é o mesmo nas duas ocorrências? Explique.
Na primeira ocorrência, o verbo refere-se à passagem do tempo, sendo sinônimo de “transcorrer”.
Na segunda ocorrência, o sentido é outro: “deixar de ocorrer”, “cessar”, “terminar”.

b)   Qual é o sujeito de passou na segunda ocorrência? Explique.
O sujeito – não expresso – pode ser subentendido pelo contexto o sofrimento passou.

13 – No penúltimo parágrafo do texto, que começa em “As reações às vezes são lentas [...]”, repete-se várias vezes a palavra dela após ponto e vírgula ou ponto final. Na sua opinião, o que a autora consegue com essas repetições?
      Essas repetições marcam a insistência na figura da tia. Essa palavra, repetida assim, cria um ritmo semelhante à batida de martelo, o que comunica a ideia de que ela, a autora, não mais se esquecerá dessa tia.

14 – A última palavra do texto é dela. Na sua opinião, por que a autora finaliza o texto com essa palavra?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Volta-se na insistência sobre a figura da tia e a autora consegue terminar o texto de forma circular, como se fechasse um ciclo.




MENSAGEM ESPÍRITA: DIA NOVO, OPORTUNIDADE RENOVADA - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ESPÍRITOS PUROS - PARA REFLEXÃO

Mensagem: Dia novo, oportunidade renovada
                  
                      Joanna de Ângelis

        Dia novo, oportunidade renovada.
        Cada amanhecer representa divina concessão que não podes nem deves desconsiderar.
        Mantém, portanto, atitude positiva em relação aos acontecimentos que devem ser enfrentados; otimismo diante das ocorrências que surgirão; coragem no confronto das lutas naturais; recomeço de tarefa interrompida; ocasião de realizar o programa planejado.
        Cada amanhecer é convite sereno à conquista de valores que parecem inalcançáveis.
        À medida que o dia avança, aproveita os minutos, sem pressa nem postergação do dever.
        Não te aflijas ante o volume de coisas e problemas que tens pela frente.
        Dirige cada ação à sua finalidade específica.
        Após concluir um serviço, inicia outro e, sem mágoa dos acontecimentos desagradáveis, volve à lição com disposição, avançando, passo a passo, até o momento de conclusão dos deveres planejados.
        Não tragas do dia precedente o resumo das desditas e dos aborrecimentos.
        Amanhecendo, começa o teu dia com alegria renovada e sem passado negativo, enriquecido pelas experiências que te constituirão recurso valioso para a vitória que buscas.
                                                                            Joanna de Ângelis

Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo I
        SOBRE OS ESPÍRITOS
PRIMEIRA ORDEM- ESPÍRITOS PUROS

112 – Características gerais – Nenhuma influência da matéria. Absoluta superioridade moral e intelectual em relação aos Espíritos das outras ordens.

113 – Primeira classe. Classe única – Os Espíritos dessa classe percorrem todos os graus da escala e se livraram de todas as impurezas da matéria. Por terem atingido o grau máximo de perfeição de que uma criatura é suscetível, não têm mais que sofrer provações nem expiações. Por não estarem mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, plenamente realizados no seio de Deus.
        Desfrutam de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos nem às necessidades nem às vicissitudes da vida material; no entanto, essa felicidade não é a de uma ociosidade monótona vivida em contemplação perpétua. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudando-os a se aperfeiçoarem e designando suas missões. Assistir os homens em suas aflições, incitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os afastam da felicidade suprema é, para eles, uma agradável ocupação. Às vezes, são chamados de anjos, arcanjos ou serafins.
        Os homens podem comunicar-se com esses Espíritos, mas muito presunçoso seria quem pretendesse tê-los constantemente às suas ordens.

NOTÍCIA: A INDÚSTRIA CAÇA-TALENTOS - O ESTADO DE S. PAULO - COM GABARITO

NOTÍCIA: A indústria caça-talentos
     
      Cresce o número de programas que prometem fama instantânea a uma multidão de anônimos

        A onda de atrações caça-talentos está em alta. Multiplicam-se como nunca as promessas de estrelato em programas de TV: há concurso para atuar em novelas, competição de calouros e até disputa de sósias. Em comum, as atrações exploram o deslumbramento de anônimos pela fama. É um vale-tudo por 15 minutos via satélite.
        [...]
                                       O Estado de São Paulo, edição on-line, 9/9/2001.
Entendendo o texto:
01 – No primeiro parágrafo, há trecho em que o enunciador do texto explica alguma coisa. O que ele explica?
      O aumento das promessas de estrelato na TV.

02 – Nesse parágrafo, há alguma(s) palavra(s) ou expressão(ões) que expressa(m) opinião? Explique.
      O trecho opinativo do parágrafo é “as atrações exploram o deslumbramento de anônimos pela fama. É um vale-tudo por 15 minutos via satélite”. É opinativo porque exprime um julgamento, uma tomada de posição do enunciador: ao caracterizar a situação ele projeta no texto sua opinião.

03 – Dê sua opinião sobre as atrações caça-talentos comentadas no texto.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Nos trechos seguintes da matéria jornalística, registra-se a opinião de três pessoas. Localize os trechos em que o enunciador expõe a opinião dessas pessoas. Observe o que têm em comum.
      As opiniões aparecem claramente nos trechos em discurso direto (em comum: os trechos estão entre aspas).

sábado, 20 de abril de 2019

POEMA: DESENCONTRÁRIOS - PAULO LEMINSKI - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Desencontrários
              
           Paulo Leminski

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

                          LEMINSKI, Paulo. Melhores poemas. São Paulo: Global, 1997.
Entendendo o poema:

01 – Como se sente o eu lírico em relação ao trabalho poético?
      Segundo o texto, a criação poética exige muita paciência e empenho. O eu lírico se sente impotente e frustrado, pois não encontra a palavra certa, adequada, na produção de seus versos. Há um desacordo entre o que ele pensa e o que consegue expor, poia as palavras não se agrupam de forma harmônica.

02 – Retire do texto um pronome pessoal oblíquo átono e um tônico.
      Me, se (átonos); si (tônico).

03 – Em que verso o pronome pessoal foi usado apenas como realce, podendo ser retirado?
      “E ela se foi num labirinto”.

04 – Explique por que o pronome pessoal é reflexivo nestes versos:
        “Parecia fora de si,
        A sílaba silenciosa.”
      Pode-se reforçar a ação reflexiva, colocando-se a expressão de si mesma. O sujeito (a sílaba) pratica e sofre a ação de estar fora de.

05 – Corrija as frases em que houver redundância no emprego do pronome possessivo.
a)   O atleta ergueu seus braços e lançou seu corpo com grande impulso.
O atleta ergueu os braços e lançou o corpo com grande impulso.

b)   Após a cirurgia, pus colírio em meus olhos por vários dias, conforme recomendação do meu médico.
Após a cirurgia, pus colírio nos olhos por vários dias, conforme recomendação do médico.

c)   A moça tinha suas mãos e seus pés feridos, mas recusava nossa ajuda.
A moça tinha as mãos e os pés feridos, mas recusava nossa ajuda.

d)   Com medo, a criança escondeu sua cabeça por baixo da coberta, encolheu suas pernas e aquietou-se.
Com medo, a criança escondeu a cabeça por baixo da coberta, encolheu as pernas e aquietou-se.





POEMA: DESPROPÓSITO GERAL - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

Poema: Despropósito geral
              Paulo Leminski

Esse estranho hábito,
Escrever obras-primas,
Não me veio rápido.
Custou-me rimas.
Umas, paguei caro,
Liras, vidas, preços máximos.
Umas, foi fácil.
Outras, nem falo.
Me lembro duma
Que desfiz a socos.
Duas, em suma.
Bati mais um pouco.
Esse estranho abuso,
Adquiri, faz séculos.
Aos outros, as músicas.
Eu, senhor, sou todo ecos.
                            Paulo Leminski. Melhores poemas.
                         São Paulo: Global, 1997.
Entendendo o poema:

01 – Leminski, em “Despropósito geral”, trata da composição de poemas, segundo o eu lírico, obras-primas. Essa função da linguagem – no caso, a poesia que fala do fazer poético – denomina-se Função:
     a) Fática.
     b) Poética.
     c) Referencial.
     d) Metalinguística.

02 – Como o eu lírico analisa sua experiência como escritor?
       Segundo o eu lírico, a arte de versejar foi um trabalho penoso para ele. Ironicamente ele fala sobre a difícil composição das rimas, muitas vezes forçada e artificial, sem nenhum propósito, sem que valesse realmente a pena tanto sacrifício. De maneira crítica, ele condena o poema tecnicamente elaborado e considera musical a poesia espontânea. 

03 – Em que verso há um pronome relativo? Que palavra ele substitui?
      No 10° verso: “Que desfiz a socos.” O pronome que substitui a palavra rima. (“Me lembro duma [rima] que desfiz a socos”.)

04 – Classifique os demais pronomes presentes no texto.
      Esse: pronome demonstrativo adjetivo.
      Me: pronome pessoal oblíquo, átono, substantivo.
      Umas, outras, outros: pronomes indefinidos substantivos.
      Que: pronome relativo.
      Eu: pronome pessoal reto.
      Senhor: pronome de tratamento, substantivo.

05 – Identifique as funções sintáticas dos pronomes relativos nas frases a seguir.
a)   Os acordos que foram firmados entre os países da América Latina continuam em vigor.
Sujeito.

b)   A maneira firme como defendeu os direitos humanos causou admiração entre os jurados.
Adjunto adverbial de modo.

c)   Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro, nasceu em Itabira, cujas lembranças lhe foram constantes.
Adjunto adnominal.

d)   O presidente viajou para a Argentina, onde participará de um debate sobre Sociologia.
Adjunto adverbial de lugar.

e)   Visitamos a cidade de Bilbao, na Espanha, local em que se construiu um belíssimo museu de arte.
Adjunto adverbial de lugar.

f)    A substituição a que os torcedores eram favoráveis, finalmente foi feita.
Complemento nominal.

g)   O anúncio publicitário ao qual se referiu nesta reportagem ganhou prêmio por criatividade.
Objeto indireto.

h)   Alguns produtos perecíveis que compramos no supermercado, não tinham prazo de validade.
Objeto direto.

i)     A doce criança que ainda és parece-me eterna.
Predicativo do sujeito.

j)     Todas quantas desfilaram esta noite vestiam modelos da linha Versage.
Sujeito.

k)   Apresentou-me os pais, por quem demonstrava um afeto profundo.
Objeto indireto.

l)     A companhia aérea pela qual viajamos oferece um excelente serviço de bordo.
Adjunto adverbial de modo.

m)  O médico selecionou as pessoas por quem seria feita a doação de sangue.
Agente da passiva.


NOTÍCIA: MORTE E MISTÉRIO EM SÃO PAULO - REVISTA ISTO É - COM GABARITO

NOTÍCIA: Morte e mistério em São Paulo

        Um crime ocorrido na noite do domingo 28, num casarão do bairro de Perdizes, em São Paulo, está intrigando a polícia. O publicitário C. R., 40 anos, e a mulher, A. T., 33 anos, foram mortos a tiros. Não se trata de um roubo, já que nada foi levado da casa, onde também funcionava a produtora de comerciais de C. R. Tudo indica que o crime teria sido cometido por alguém conhecido do casal, já que A. foi achada morta de pijama na entrada da casa, um indício de que teria aberto a porta para o matador. Já C. R. foi encontrado no corredor. Ele teria tentado se refugiar na sala de tevê, cuja porta foi arrombada. A polícia investiga um desfalque de R$ 100 mil que teria sido sofrido recentemente por C. R.

                                                                 Revista Isto É, 7/4/2004.
Entendendo o conto:
01 – De que acontecimento(s) o texto trata?
      Trata de um crime ocorrido em São Paulo no qual duas pessoas foram assassinadas.

02 – Quais as circunstâncias desse acontecimento (onde, quando, como e por quê)?
      Ocorreu em São Paulo, no dia 28 de março de 2004; o crime foi cometido, pelo que tudo indica, por um conhecido do casal e não se sabe o porquê.

03 – O texto narra um fato já acontecido ou algo ainda em andamento? Retire do texto elementos que comprovem sua resposta.
      Um fato já acontecido. Os verbos no pretérito e as indicações de tempo são marcas do passado.

04 – Podemos dividir o texto “Morte e mistério em São Paulo” em partes.
a)   Em quantas partes você dividiria esse texto?
Resposta pessoal do aluno.

b)   Em que parte estão as informações que você julga as mais importantes?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Que informações são essas?
As informações mais importantes são: o que aconteceu – um duplo assassinado – e em quais circunstâncias.

05 – De acordo com o texto “Morte e mistério em São Paulo”, leia atentamente e responda:
a)   O fato apresentado no conto é real ou ficcional? Explique.
Trata-se de um fato ficcional.

b)   No conto foram informados dados como a data e a hora em que o fato apresentado aconteceu?
Não, o texto não possui referenciais enunciativos precisos.

c)   O texto de Alcântara Machado é um conto. Por sua vez, “Morte e mistério em São Paulo” é uma notícia. Que diferenças que você percebe entre eles? E quem seriam os possíveis leitores de cada um desses textos?
O conto é de natureza ficcional, literária. A notícia, por sua vez, é constituída pelo relato de um acontecimento, ou acontecimentos. O leitor de uma notícia é alguém interessado em informar-se sobre um fato.

CRÔNICA: CORINTHIANS (2) VS PALESTRA (1) - ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO - COM GABARITO

Crônica: Corinthians (2) vs Palestra (1)
                         
Antônio de Alcântara Machado
       

Prrrrii!
      — Aí, Heitor!
A bola foi parar na extrema esquerda. Melle desembestou com ela.
A arquibancada pôs-se em pé. Conteve a respiração. Suspirou:
    — Aaaah!
Miquelina cravava as unhas no braço gordo da Iolanda. Em torno do trapézio verde a ânsia de vinte mil pessoas. De olhos ávidos. De nervos elétricos. De preto. De branco. De azul. De vermelho.
      Delírio futebolístico no Parque Antártica.
        Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se, caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava.
        — Neco! Neco!
        Parecia um louco. Driblou. Escorregou. Driblou. Correu. Parou. Chutou.
        — Gooool! Gooool!
        Miquelina ficou abobada com o olhar parado. Arquejando. Achando aquilo um desaforo, um absurdo.
        Aleguá-guá-guá! Aleguá-guá-guá! Hurra! Hurra! Corinthians!
        Palhetas subiram no ar. Com os gritos. Entusiasmos rugiam. Pulavam. Dançavam. E as mãos batendo nas bocas:
        — Go-o-o-o-o-o-ol!
        Miquelina fechou os olhos de ódio.
        — Corinthians! Corinthians!
        Tapou os ouvidos.
        — Já me estou deixando ficar com raiva! A exaltação decresceu como um trovão.
        — O Rocco é que está garantindo o Palestra. Aí, Rocco! Quebra eles sem dó!
        A Iolanda achou graça. Deu risada.
        — Você está ficando maluca, Miquelina. Puxa! Que bruta paixão!
        Era mesmo. Gostava do Rocco, pronto. Deu o fora no Biagio (o jovem e esperançoso esportista Biagio Panaiocchi, diligente auxiliar da firma desta praça G. Gasparoni & Filhos e denodado meia-direita do S. C. Corinthians Paulista, campeão do Centenário) só por causa dele.
        — Juiz ladrão, indecente! Larga o apito, gatuno!
        Na Sociedade Beneficente e Recreativa do Bexiga toda a gente sabia de sua história com o Biagio. Só porque ele era frequentador dos bailes dominicais da Sociedade não pôs mais os pés lá. E passou a torcer para O Palestra. E começou a namorar o Rocco.
        — O Palestra não dá pro pulo!
        — Fecha essa latrina, seu burro!
        Miquelina ergueu-se na ponta dos pés. Ergueu os braços. Ergueu a voz:
        — Centra, Matias! Centra, Matias!
        Matias centrou. A assistência silenciou. Imparato emendou. A assistência berrou.
        — Palestra! Palestra! Aleguá-guá! Palestra Aleguá! Aleguá!
        O italianinho sem dentes com um soco furou a palheta Ramenzoni de contentamento. Miquelina nem podia falar. E o menino de ligas saiu de seu lugar, todo ofegante, todo vermelho, todo triunfante, e foi dizer para os primos corinthianos na última fileira da arquibancada:
        — Conheceram, seus canjas?

      O campo ficou vazio.
        — Ó... lh'a gasosa!
        Moças comiam amendoim torrado sentadas nas capotas dos automóveis. A sombra avançava no gramado maltratado. Mulatas de vestidos azuis ganham beliscões. E riam. Torcedores discutiam com gestos.
        — Ó... lh'a gasosa!
        Um aeroplano passeou sobre o campo.
        Miquelina mandou pelo irmão um recado ao Rocco.
        — Diga pra ele quebrar o Biagio que é o perigo do Corinthians.
Filipino mergulhou na multidão.
        Palmas saudaram os jogadores de cabelos molhados.
        Prrrrii!
        — O Rocco disse pra você ficar sossegada.
        Amílcar deu uma cabeçada. A bola foi bater em Tedesco que saiu correndo com ela. E a linha toda avançou.
        — Costura, macacada
        Mas o juiz marcou um impedimento.
        — Vendido! Bandido! Assassino!
        Turumbamba na arquibancada. O refle do sargento subiu a escada.
        — Não pode! Põe pra fora! Não pode!
        Turumbamba na geral. A cavalaria movimentou-se. Miquelina teve medo. O sargento prendeu o palestrino. Miquelina protestou baixinho:
        — Nem torcer a gente pode mais! Nunca vi!
        — Quantos minutos ainda?
        — Oito.
        Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio! Arremeteu. Chute agora! Parou. Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio Biagio! Calculou. Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu.
        — CA-VA-LO!
        Prrrrii!
        — Pênalti!
        Miquelina pôs a mão no coração. Depois fechou os olhos. Depois perguntou:
        — Quem é que vai bater, Iolanda?
        — O Biagio mesmo.
        — Desgraçado.
        O medo fez silêncio.
        Prrrrii!
        Pan!
        — Go-o-o-o-ol! Corinthians!
        — Quantos minutos ainda?
        Pri-pri-pri!
        — Acabou, Nossa Senhora!
        Acabou.
        As árvores da geral derrubaram gente.
        — Abr'a porteira! Rá! Fech'a porteira! Prá! O entusiasmo invadiu o campo e levantou o Biagio nos braços.
        — Solt'o rojão! Fiu! Rebent'a bomba! Pum! CORINTHIANS!
        O ruído dos automóveis festejava a vitória. O campo foi-se esvaziando como um tanque. Miquelina murchou dentro de sua tristeza.
        — Que é — que é? É jacaré? Não é!
        Miquelina nem sentia os empurrões.
        — Que é — que é? É tubarão? Não é!
        Miquelina não sentia nada.
        — Então que é? CORINTHIANS!
        Miquelina não vivia.
        Na Avenida Água Branca os bondes formando cordão esperavam campainhando o zé-pereira.
        — Aqui, Miquelina.
        Os três espremeram-se no banco onde já havia três. E gente no estribo. E gente na coberta. E gente nas plataformas. E gente do lado da entrevia.
        A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berrando, assobiando e cantando. O mulato com a mão no guindaste é quem puxava a ladainha:
        — O Palestra levou na testa!
        E o pessoal entoava:
        — Ora pro nobis!
        Ao lado de Miquelina o gordo de lenço no pescoço desabafou:
        — Tudo culpa daquela besta do Rocco!
        --- Ouviu, não é Miquelina? Você ouviu?
        — Não liga pra esses trouxas, Miquelina.
        --- Como não liga?
        — O Palestra levou na testa!
        --- Cretinos.
        — Ora pro nobis!
        --- Só a tiro.
         — Diga uma cousa, Iolanda. Você vai hoje na Sociedade?
        — Vou com o meu irmão.
        — Então passa por casa que eu também vou.
        — Não!
        — Que bruta admiração! Por que não?
        — E o Biagio?
        — Não é de sua conta.
        Os pingentes mexiam com as moças de braço dado nas calçadas.

               Antônio de Alcântara Machado. Brás, Bexiga e Barra Funda –
Notícias de São Paulo. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Villa Rica, 1994.

Entendendo a crônica:
01 – Vimos que o título do texto é “Corinthians (2) vs. Palestra (1)”. Com base em sua leitura do texto, explique esse título e diga o que significam os números que aparecem entre parênteses.
      O título remete ao resultado de uma partida de futebol entre o Corinthians e Palestra. Os números entre parênteses representam o placar final do jogo ao qual o título se refere.

02 – A paixão pelo futebol é apenas uma das razões que fazia a personagem Miquelina ser torcedora do Palestra. Que outras razões são sugeridas no texto?
      Miquelina gostava de um dos jogadores que atuava no Corinthians, mas passou a namorar um jogador do time adversário (o Rocco, do Palestra). Ao mudar de namorado, mudou também de time.

03 – As intervenções do narrador do texto são pontuadas por muitos diálogos. Releia-os atentamente. Depois responda no caderno:
a)   É sempre possível saber quem são as personagens que “falam” nesses diálogos?
Não. Em muitos diálogos os locutores não são localizáveis.

b)   Na sua opinião, por que isso acontece?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Que efeito de sentido esses diálogos provocam no leitor?
As falas de Miquelina e as de Iolanda são pontuadas por discursos relatados alheios, o que cria no texto uma atmosfera de confusão, de entrecruzamento de vozes, que procura imitar a plateia de uma partida de futebol.

d)   Nesses diálogos, há também inúmeras interjeições e expressões típicas da oralidade. Localize alguns exemplos.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “pri-pri-pri”; “ora pro nobis”; “gooool”.

e)   Que recursos próprios da língua escrita o autor do texto utiliza para tentar imitar a fala das personagens?
As letras maiúsculas contínuas (“CORINTHIANS” ou “CA-VA-LO”) para imitar o grito; o uso excessivo dos pontos de exclamação em contexto dialogal; a repetição das vogais das sílabas tônicas das palavras, o que imita o alongamento vocálico produzido na fala; o uso do hífen e do apóstrofo na grafia de determinadas palavras.

04 – O que significa a palavra prrrrii que aparece em algumas passagens do texto?
      Trata-se de uma onomatopeia (palavra que representa um ruído) para o som produzido pelo apito.

05 – Leia em voz alta este trecho do texto:
        “Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio! Arremeteu. Chute agora! Parou. Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio Biagio! Calculou. Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu.
        — CA-VA-LO!”
a)   Em sua opinião, os pontos de exclamação são utilizados com que finalidade?
É um recurso da língua escrita que mostra ao leitor a maneira como o texto deve ser lido em voz alta.

b)   Uma palavra que se repete nesse trecho é . Essa palavra possui um único sentido ou ela varia de acordo com a ocorrência? Explique.
O sentido da palavra varia conforme a ocorrência.

c)   A sucessão dos verbos no pretérito perfeito simples é intercalada por palavras, como agora, que traduzem a ideia de presente, de ação que está ocorrendo no momento em que se fala. Por que, na sua opinião, o autor faz essa “mistura” de presente com passado?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nesse caso, o presente remete ao momento dialógico da enunciação. O passado é relato do narrador.

d)   Por que a palavra cavalo está escrita com tosas as letras maiúsculas e com as sílabas separadas?
Porque essa grafia representa o grito.

06 – Procure no dicionário os significados da palavra pingente, que aparece no última linha do texto. Qual o sentido que essa palavra tem no texto? Explique.
      Pingente, no texto, significa um passageiro que viaja pendurado num transporte coletivo.