domingo, 14 de janeiro de 2018

CONTO: COM CERTEZA TENHO AMOR - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

CONTO:COM CERTEZA TENHO AMOR
                 MARINA COLASANTI

   Moça tão resguardada por seus pais não deveria ter ido à feira. Nem foi, embora muito o desejasse. Mas porque o desejava, convenceu a ama que a acompanhava a tomar uma rua em vez de outra para ir à igreja, e a rua que tomaram passava tão perto da feira que seus sons a percorriam como água e as cores todas da feira pareciam espelhar-se nas paredes claras.
     Foi dessa rua, olhando através do véu que lhe cobria metade do rosto, que a moça viu os saltimbancos em suas acrobacias. E foi nessa rua, recortada como uma silhueta em suas roupas escuras, o rosto meio coberto por véu, que o mais jovem dos saltimbancos, atrasado a caminho da feira, a viu.
        Era o mais jovem era o mais forte era o mais valente entre os onze irmãos. A partir daquele encontro porém, uma fraqueza que não conhecia deslizou para dentro do seu peito. À noite suspirava como se doente.
         - Que tens?  -  perguntaram-lhe os irmãos.
         - Não sei -  respondeu. E era verdade. Sabia apenas que a moça velada aparecia nos seus sonhos, e que parecia sonhar mesmo acordado porque mesmo acordado a tinha diante dos olhos.
         Àquela rua a moça não voltou mais. Mas ele a procurou em todas as outras ruas da cidade até vê-la passar, esperou diante da igreja até vê-la entrar, acompanhou-a ao longe até vê-la chegar em casa.
         Agora sorria, cantava, embora de repente largasse a comida no prato porque não nada mais lhe passava na garganta.
         - Que tens? – perguntaram-lhe os irmãos.
         - Acho, não sei... – respondeu ele abaixando a cabeça sobre o seu rubor – creio... que tenho amor.
         Na sua casa, a moça também sorria e cantava, largava de repente a comida no prato e se punha a chorar.
         - Tenho... sim... com certeza tenho amor – respondeu à ama que lhe perguntou o que tinha.
         Mas nem a ama se alegrou, nem se alegraram os dez irmãos. Pois como alegrar-se com um amor que não podia ser?
         De fato, tanto riso tanto choro acabaram chamando a atenção do pai da moça que, vigilante e sem precisar perguntar, trancou-a no quarto mais alto da sua casa. Não era com um saltimbanco que havia de casar a filha criada com tanto esmero.
         Mas era com o saltimbanco que ela queria se casar.
         E o saltimbanco, ajudado por seus dez irmãos, começou a se preparar para chegar até ela.
          Afinal uma noite, lua nenhuma que os denunciasse, encaminharam-se os onze para a casa da moça. Seus pés calçados de feltro calavam-se sobre as pedras.
          O mais jovem era o mais forte, teria ele que sustentar os demais. Pernas abertas e firmes, cravou-se no chão bem debaixo da janela dela. O segundo irmão subiu para os seus ombros, estendeu a mão e o terceiro subiu. O quarto escalou os outros até subir nos ombros do terceiro. E, um por cima dos outros, foram se construindo como uma torre. Até que o último chegou ao topo.
          O último chegou ao topo, e o topo não chegou à altura da janela da moça. De cima a baixo os irmãos passaram-se a palavra. Os onze pareceram ondejar por um instante. Então o mais jovem e mais forte saiu de debaixo dos pés do seu irmão deixando-o suspenso no ar, e tomando a mão que este lhe estendeu subiu rapidamente por ele, galgando seus irmãos um a um.
           No alto, a janela se abriu.

                                  Marina Colasanti, 23 histórias de um viajante.  
                                                   São Paulo: Global, 2005. P. 51-55.

Entendendo o texto:
01 – Um conto de amor pode abordar diferentes aspectos desse tema. Qual é, resumidamente, o assunto desse conto?
      O amor proibido entre uma jovem dama e um saltimbanco.

02 – Releia o início do conto.
           a) Tendo em mente que a moça era muito resguardada, por que, em sua opinião, ela desejava tanto ir à feira?
      Pode-se pensar que, justamente por ser muito resguardada, a moça queria ir à feira para ter algum contato com um ambiente que não fosse a casa ou a igreja.

           b) Na sua opinião, apesar de não ter ido à feira, ela encontrou o que desejava?
      Resposta Pessoal.

03 – O narrador apresenta primeiro as reações do saltimbanco no encontro com a moça. Quando passa a falar das reações dela, o estado da moça é semelhante ao do ovem. Que estado é esse?
      A moça estava muito emocionada e sem apetite.

04 – Pelas informações contidas no texto, parece que as personagens já haviam se apaixonado antes? Explique sua resposta.
      Pela incompreensão das personagens sobre seu sentimento, conclui-se que nunca antes haviam experimentado o amor.

05 – O pai da moça não aceitou o amor dos jovens: não queria que a filha se casasse com um saltimbanco.
a)   Que razões ele poderia ter para proibir esse casamento?
       Provavelmente ele queria que a filha se casasse com um homem rico, bem posicionado socialmente.

           b) Nas histórias de amor, os amantes precisam vencer obstáculos para ficarem juntos. Que obstáculos a jovem e o saltimbanco enfrentam?
      A proibição do pai da moça, (o primeiro obstáculo); o fato de a torre feita pelo saltimbanco e por seus irmãos não ter alcançado a janela da jovem.

06 – Releia o final do conto.
           a) Na sua opinião, seria possível acontecer algo assim na vida real? Explique.
      Resposta Pessoal.

           b) No conto, o que tornou possível a solução adotada pelo irmão mais novo?
      O elemento mágico que permite que a torre humana se sustente.



TEXTO: INUNDAÇÃO - MIA COUTO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: INUNDAÇÃO

     Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança.

           A casa, aquela casa nossa, era morada mais da noite do que dia. Estranho, dirão. Noite e dia não são metades, folha e versos? Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual? Explico. Bastava que a voz de minha mãe em canto se escutasse para que, no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira. E nós éramos meninos para sempre.
           Certa vez, porém, de nossa mãe escutámos o pranto. Era um choro delgadinho, um fio de água, um chilrear de morcego. Mão em mão, ficámos à porta do quarto dela. Nossos olhos boquiabertos. Ela só suspirou:
           --- Vosso pai já não é meu. [...]

            COUTO, Mia. O fio das missangas: contos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009. P 25. (Fragmento).

Entendendo o texto:

01 – Que tipo de linguagem se observa no texto? Justifique sua resposta.
        A linguagem é subjetiva ou figurada, carregada de lirismo. Há o emprego da 1ª pessoa, de metáforas, antíteses e personificação de elementos como “a chuva sonhava, tamborileira”.

02 – Segundo o narrador, ele “acredita” por educação, mas não “crê”.
       Explique a diferença de sentido entre esses verbos no contexto.
       Crer expressa uma ação mais firme e tem, no texto, conotação religiosa:  exige maior convicção do que simplesmente a de acreditar.

03 – As lembranças eram aves para o narrador, e não peixes, como afirmavam alguns. Por quê? O que representavam as nuvens?
        Suas lembranças não eram barradas por nenhuma corrente, nem   desapareciam com a inundação de um rio. Eram livres como as aves, podiam voar pelo céu, onde cada nuvem representava uma lembrança.

04 – A partir do segundo parágrafo, o que se pode concluir quanto ao relacionamento entre mãe e filhos? Esclareça sua resposta.
       A mãe deveria ser muito severa, pois os filhos a obedeciam de imediato, quando apenas ouviam sua voz. Por isso, o dia parecia tornar-se noite, o   que acontecia com frequência. Restava-lhes, escutar o barulho da chuva e, levados pela imaginação, ser crianças de novo.

05 – No último parágrafo, em vez da “voz em canto”, os filhos ouviram o choro da mãe Explique a reação deles diante desse fato.
       A mãe representava para eles, até então, a imagem de uma mulher forte, autoritária, a quem não se podia refutar. O choro dela mostrou-lhes seu lado humano, frágil, e isso os assustou.

06 – No terceiro parágrafo, observe o acento gráfico na 1ª pessoa do plural do pretérito prefeito do indicativo das formas verbais: escutámos e ficámos.
       Nesse caso, de que maneira elas são pronunciadas?
       Pronunciam-se as vogais acentuadas de forma aberta.

07 – Copie no caderno o sentido dos adjetivos nestas frases:
       - “Era um choro delgadinho”.     
       - “Nossos olhos boquiabertos”.
       Na 1ª frase, um choro manso, baixo; na 2ª, olhos arregalados.

08 – Explique por que foram empregadas as palavras destacadas nas frases a seguir e que sentido elas expressam.
       - “...a voz de minha mãe”.            - “Mão em mão ...”
       - Vivo num rio sem fundo.            - ...me preparo para ir...
       Essas palavras têm a função de ligar uma palavra a outra. De determina de quem é a voz. Em indica o modo como as mãos estavam. Sem expressa falta de um fundo. Para indica a finalidade da preparação.

09 – Às vezes, esse tipo de palavras pode ter outra função. Explique qual é essa função e que sentido essas palavras apresentam nestas frases.
        - “Vos guio por essa nuvem, minha lembrança”.
        - “Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual?”.
        As palavras por e em ligam termos que completam o sentido das formas    verbais guio e repartir-se, respectivamente. Por expressa direção ou lugar; em, o modo.


TEXTO: O BRASIL NUNCA SOFRERÁ UM GRANDE TERREMOTO? COM GABARITO

TEXTO: O Brasil nunca sofrerá um grande terremoto?


     Não dá para descartar uma mega tragédia desse tipo, mas a possibilidade é muito pequeno. Pelo menos enquanto a gente estiver vivo. “Já devem ter   ocorrido grandes terremotos no Brasil há centenas de milhões de anos. Mas, nos dados sismológicos coletados desde o século 18, não há registro de tremor  forte em nosso território”, afirma o geólogo João Carlos Dourado, especialista    em sismologia da Unesp de Rio Claro (SP). A certeza de que o Brasil era uma   terra abençoada por Deus e imune a terremotos, porém, foi abalada no início   de dezembro, quando um tremor de 4,9 graus na escala Richter no vilarejo de Caraíbas (MG) causou a primeira morte no país. De fato, o Brasil tem pelo menos 48 falhas pequenas sob sua crosta – uma delas teria causado o chacoalhão   fatal. Mas a imagem de um país remendado não é para assustar. Primeiro, porque o Brasil fica no meio de uma placa tectônica, a Sul-Americana, longe   das instáveis regiões de contato entre placas. Segundo, porque as fraturas daqui geram no máximo terremotos médios como o de Caraíbas. Mesmo   que um abalo atinja uma cidade grande, provavelmente os efeitos não serão   devastadores. “As casas do vilarejo desabaram por serem construções muito   simples, sem suporte estrutural. Em áreas urbanas, as estruturas são reforçadas e mais resistentes a tremores dessa intensidade”, diz João Carlos.

                                                 RATIER, Rodrigo. Superinteressante.                                                São Paulo, n. 248, p.42, na. 2008. (Fragmento).

 Entendendo o texto:
     01 – De acordo com o texto, por que grandes cataclismas como terremotos dificilmente serão vistos no Brasil?
      Pelo fato de o Brasil estar situado no centro de uma grande placa tectônica, e não na junção entre placas, em que elas se movimentam.

     02 – O que aconteceu na época que teria motivado a publicação desse texto?
      Um caso inédito, em que uma pessoa morreu após uma abalo sísmico ocorrido no interior de Minas Gerais.

    03 – Como o geógrafo consegue minimizar a preocupação dos leitores?
      Ao afirmar que, se houver terremotos no Brasil, as consequências não serão tão graves, pois eles ocorrerão em escalas menores.

     04 – Em que orações do texto há conjunções que expressam ações contrárias ou opostas à oração anterior? Como se chamam essas conjunções?
      “Mas a possibilidade é muito pequena”; “mas, nos dados sismológicos coletados desde o século 18, não há registro de tremor forte em nosso território”, “porém, foi abalada no início de dezembro”; “mas a imagem de um país remendado não é ...”. As condições mas e porém são coordenativas adversativas.

     05 – Releia este trecho:
      “Segundo, porque as fraturas daqui geram no máximo terremotos médios como [geram] o de Caraíbas. Mesmo que um abalo atinja uma cidade grande, provavelmente os efeitos não serão devastadores”.
      - Que valor semântico apresentam as conjunções destacadas? Como elas se chamam?
      A conjunção porque introduz uma explicação sobre o motivo de os terremotos no Brasil virem a ser mais brandos, caso ocorram (coordenativa explicativa). A conjunção como estabelece uma comparação entre o tipo de terremoto de Caraíbas, no Brasil, e os outros terremotos do mundo (subordinativa comparativa). E a conjunção mesmo que expressa uma concessão ou permissão, ou seja, os efeitos dos terremotos serão pequenos, mesmo ocorrendo em cidades grandes (subordinativa concessiva).


sábado, 13 de janeiro de 2018

TEXTO: XENOFOBIA E RACISMO(FRAGMENTO) - COM GABARITO

Texto: XENOFOBIA E RACISMO (fragmento)

  As recentes revelações das restrições impostas, há mais de meio século, à imigração de negros, judeus e asiáticos durante os governos de Dutra e Vargas chocaram os brasileiros amantes da democracia. Foram atos injustos, cometidos contra estes segmentos do povo brasileiro que tanto contribuíram para o engrandecimento de nossa nação.
        Já no Brasil atual, a imigração de estrangeiros parece liberalizada e imune às manchas do passado, enquanto que no continente europeu marcha-se a passos largos na direção de conflitos raciais onde a marca principal é o ódio dos radicais de direita aos imigrantes.
        Na Europa, a história se repete com o mesmo enredo centenário: imigrantes são bem-vindos para reforçar a mão-de-obra local em momentos de reconstrução nacional ou de forte expansão econômica; após anos de dedicação e engajamento à vida local, começam a ser alvo da violência e da segregação.
                                                                           (O Globo, 13/7/01)

1) A seleção vocabular do primeiro período do texto permite dizer que:
a) o adjetivo  recentes  traz como inferência que as  revelações  referidas no texto ocorreram nos dias imediatamente antes da elaboração do artigo.
b) a escolha do substantivo  revelações  se refere a um conjunto de informações que, para o bem do país, deveria permanecer oculto.
c) o substantivo  restrições  indica a presença de limitações oficiais na política migratória do país.
d) o adjetivo impostas se liga obrigatoriamente a um poder discricionário, como o presente nas ditaduras de Dutra e Vargas.
e) em razão das referências históricas imprecisas do texto, o segmento há mais de meio século se refere a uma quantidade de anos superior a 50 e inferior a 100.

2) Se as restrições de imigração eram impostas a negros, judeus e asiáticos, podemos dizer que havia, nesse momento, uma discriminação de origem:
a) racial e religiosa
b) exclusivamente racial
c) econômica e racial
d) racial e geográfica
e) religiosa, econômica, racial, geográfica e cultural

3) Em relação ao primeiro período do texto, o segundo:
a) explicita quais as revelações referidas.
b) indica, como informação nova, que os atos cometidos eram negativos.
c) esclarece qual a razão dos atos referidos terem chocado os brasileiros.
d) mostra a consequência dos fatos relatados anteriormente.
e) comprova as afirmativas iniciais do jornalista com dados históricos.

4) Ao classificar os atos restritivos à imigração de injustos, o autor do texto mostra:
a) somente a opinião dos brasileiros amantes da democracia
b) a sua opinião e a de alguns brasileiros
c) a sua opinião e a dos leitores
d) somente a sua opinião
e) a sua opinião e a dos brasileiros em geral

5) Ao escrever que os atos injustos foram cometidos “contra esses segmentos do povo brasileiro…”, o autor do texto mostra que:
a) a população brasileira da era Vargas sofria pela discriminação oficial.
b) negros, judeus e asiáticos são vistos como brasileiros pelo autor do texto.
c) o povo brasileiro é constituído de raças e credos distintos.
d) alguns segmentos de nosso povo foram autores de atos injustos.
e) o Brasil e seu povo já passaram por momentos históricos difíceis.

6) O segundo parágrafo do texto é introduzido pelo segmento “Já no Brasil atual…”; tal segmento indica:
a) uma oposição de local e tempo
b) uma oposição de tempo
c) uma consequência do primeiro parágrafo
d) uma comparação de duas épocas
e) uma indicação das causas dos fatos relatados

7) Ao escrever que a imigração de estrangeiros parece “imune às manchas do passado”, o autor do texto quer indicar que:
a) os estrangeiros já esqueceram as injustiças de que foram vítimas.
b) a imigração ainda traz marcas dos atos injustos do passado.
c) os imigrantes atuais desconhecem os fatos passados.
d) nada mais há que possa manchar o nosso passado histórico.
e) o processo migratório atual em nada lembra os erros do passado.

8) De todas as ideias expressas abaixo, aquela que NÃO está contida direta ou indiretamente no texto é:
a) Os imigrantes são bem-vindos no Brasil de hoje.
b) A atual situação dos imigrantes na Europa faz prever conflitos futuros.
c) Os estrangeiros acabam sendo perseguidos, em alguns países, apesar de seus bons serviços.
d) A expansão econômica da Europa provocou a saída de emigrantes.
e) Os imigrantes são fator de colaboração para o progresso das nações.




TEXTO: A CASA ILHADA - MILTON HATOUM - COM GABARITO

Texto: A casa ilhada
            Milton Hatoum


 Era junho, auge da enchente, por isso tivemos que embarcar na beira do Igarapé do Poço Fundo e navegar até a casa no meio da ilhota.
 Os moradores das palafitas nos olhavam com surpresa, como se fôssemos dois forasteiros perdidos num lugar d Manaus que podia ser tudo, menos uma atração turística. No entanto, o cientista Lavedan, antes de voltar para Zurique, insistiu para que o acompanhasse até a casa ilhada, teimando em navegar num rio margeado de casebres pobres.
        [...]
        Eu conhecia de vista a casa ilhada: um bangalô atraente e misterioso, que só parecia das sinal de vida depois do anoitecer, quando as luzes iluminavam a fachada e o jardim. Sempre que atravessava a ponte sobre o igarapé, via uma ponta do telhado vermelho e, de um ângulo, podia ver as portas e janelas fechadas, como se algo ou alguém no interior da casa fosse proibido à cidade ou ao olhar dos outros.
        [...]
        O catraieiro atracou ao lado de um barco abandonado, em cuja proa se podia ler Terpsícore em letras vermelhas e desbotadas Lavedan soletrou o nome do barco, enganchou a alça da sacola no ombro e saltou na lama; sem olhar para trás, caminhou com firmeza na direção da casa.
        Entendi que devia esperá-lo na canoa.
        Hoje, não saberia dizer quanto tempo Lavedan demorou dentro da casa. O catraieiro me emprestou um chapéu de palha; depois assobiei, cantarolei, observei detalhes da casa e do lugar; talvez tenha injuriado o suíço misterioso, de quem só sabia o nome e as qualidades de ictiólogo contadas por ele mesmo. Meses mais tarde conheceria algo do homem transtornado que ele foi ou que sempre será. No entanto, ao regressar da casa, Lavedan parecia sereno, reconfortado; murmurou palavras de agradecimento e pediu desculpa por ter ocupado uma parte da minha manhã.
        [...]
        Isso aconteceu em 1990. Ou, para ser preciso: 16 de junho de 1990. Não me lembro com nitidez do que me ocorreu há duas semanas, mas, se me lembro desta data, é porque no dia 18 de junho daquele ano os jornais noticiaram a morte do único morador da casa ilhada. O corpo, sem sinal de violência, fora encontrado na tarde do dia anterior.  A fotografia da casa me conduziu à notícia da morte. Encarei tudo isso como uma coincidência Até que, dois meses depois, recebi uma carta de Lavedan. [...]

                                HATOUM, Milton. A cidade ilhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. P. 69-72. (Fragmento.)

01 – Milton Hatoum apresenta uma linguagem enxuta, objetiva e, nesse conto, revive algumas lembranças de sua cidade natal, Manaus.
a)   Explique por que os dois visitantes despertaram tanto a atenção dos moradores.
       Com a enchente, quase ninguém deveria navegar por aquele local, que era pouco atraente; e também por serem pessoas estranhas à região.
  
             b) O que tornava a casa ilhada um lugar diferente?
        Ela ficava completamente isolada e fechada; não se via ninguém; só a noite era iluminada.

02 – Ao chegar a casa ilhada, o suíço Lavedan, pesquisador de peixes, desceu rapidamente da canoa e entrou na casa.
           a) Na sua opinião, por que ele conferiu o nome do barco ao lado da casa, antes de entrar sozinho?
      Lavedan deveria conhecer o morador da casa e seu barco, por isso se assegurou, antes de entrar, se essa pessoa continuava a residir ali.

           b) Segundo o texto, Lavedan teria se demorado muito na visita à casa ilhada? Justifique sua resposta.
      Sim, pois o narrador e acompanhante precisou colocar um chapéu de palha para se proteger do sol, enquanto tentava ocupar o tempo, à espera do suíço.

            c) De acordo com o texto, Lavedan parecia agitado e decidido, ao dirigir-se à casa; mas voltou calmo. O que teria se passado nesse lugar?
       O suíço talvez tivesse resolvido algum problema pessoal com o morador da casa.

03 – A atitude tensa de Lavedan encontra explicação no último parágrafo.
           a) O que se pode concluir quanto aos fatos ocorridos na casa ilhada?
      É possível que o suíço estivesse envolvido na morte do morador da casa.

           b) Na última frase, o que o emprego da locução até que nos sugere em relação à frase anterior?
      O narrador, que antes não tinha suspeitado de nada, mudou sua opinião ao receber a carta de Lavedan.

04 – Releia este trecho.
      “Lavedan soletrou o nome do barco, enganchou a alça da sacola no ombro e saltou na lama [...]”
           a) Observe as ações praticadas pelo sujeito.  Quantos são os verbos que expressam essas ações?
      Três: soletrou, enganchou, saltou.

           b) Como cada verbo flexionado constitui uma oração, quantas são as orações nesse trecho? Separe-as e observe se, separadas, elas têm o sentido completo.
      São três: 1ª oração: Lavedan soletrou o nome do barco; 2ª enganchou a alça da sacola no ombro; 3ª e saltou na lama. Todas apresentam sentido completo.

a)   Que orações, no trecho em estudo, estão unidas por uma palavra?
       Que sentido essa palavra expressa? Por quê?
       A 2ª e a 3ª orações estão ligadas pela palavra e, que expressa a soma ou o acréscimo de outra ação que acontece em sequência à anterior.

           d) Observe que entre a primeira e a segunda orações se empregou uma virgula, separando-as. Nesse caso, as ações ocorrem da mesma forma que entre a segunda e a terceira orações? Por quê?
      Não, pois não há uma palavra ligando-as, por isso as ações acontecem sem a ideia de continuidade; são ações separadas.

           e) A palavra e pode unir palavras da mesma natureza (substantivo + substantivo, adjetivo + adjetivo etc.). No caderno, copie do texto uma passagem em que isso ocorre.
       “Atraente e misterioso”, “a fachada e o jardim”, “as portas e janelas”.

            f) As palavras que ligam elementos da mesma natureza ou ligam orações recebem o nome de conjunções. No caderno, transcreva do segundo parágrafo as conjunções que unem orações expressando:
       - comparação                 - oposição                 - finalidade
       Comparação: “Como se fôssemos dois forasteiros perdidos num lugar de Manaus”.  Oposição: “No entanto, o cientista Lavedan [...] insistiu”.
       Finalidade: “para que o acompanhasse até a casa ilhada”.

      g) No terceiro parágrafo, há duas orações introduzidas por conjunções que situam o tempo em que os fatos ocorrem. Quais são elas?
         “...quando as luzes iluminavam a fachada e o jardim” e “sempre que atravessava a ponte sobre o igarapé”.

        h) Como já pôde observar, as orações ficam, em geral, separadas por pontuação ou ligadas por conjunção. Explique a diferença de sentido, quando isso acontece, lendo estas frases.
       - “[...] depois assobiei, cantarolei, observei detalhes da casa e do lugar;
       - [...] depois assobiei e cantarolei e observei detalhes da casa e do lugar;
       No primeiro caso, cada ação termina antes que a outra comece, pois são ações        separadas, não contínuas. No segundo caso, as ações são contínuas, encadeadas, acontecem em sequência à anterior, dando maior dinamismo aos fatos.

i)             No quarto parágrafo, explique por que a conjunção no entanto introduz uma oração cuja ideia se opõe a um fato anterior.
        Na oração anterior (“que sempre será”), o narrador julga que Lavedan será sempre um homem transtornado; mas afirma, logo depois, o contrário, ou seja, que “Lavedan parecia sereno”.

       j) No último parágrafo, que conjunção também expressa uma ideia contrária a outra? Esclareça sua resposta.
      A conjunção mas. O narrador diz que não conseguia se lembrar de fatos recentes ocorridos com ele, mas não se esquecera de uma data distante, a da morte do morador da ilha.

       k) Que conjunção introduz uma oração que explica o motivo de ele se lembrar daquela data?
        A conjunção explicativa porque (“é porque no dia... da casa ilhada”).


TEXTO: SALVAR VIDAS ESTÁ NO NOSSO SANGUE - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: SALVAR VIDAS ESTÁ NO NOSSO SANGUE  
  

    Uma bolsa de sangue doada pode salvar até três vidas.
  Com 450 ml desse líquido tão precioso, o qual nosso organismo repõe em apenas alguns dias, é possível renovar a esperança de vida de muitos pacientes. O Beneficência Portuguesa de São Paulo possui o maior banco privado da América Latina. Só em 2008, teve mais de 30 mil bolsas coletadas, que atenderam a cerca de 51 mil transfusões. Uma média de 80 doações por dia, com a presença de aproximadamente 40 mil candidatos ao longo do ano. Números que nos enchem de orgulho. Afinal, nada é mais responsável do que salvar vidas.

        Folha de São Paulo, São Paulo, 24 jun. 2009.
(Encarte Folha Corrida.) Folhapress.
 Entendendo o texto:

     01 – Qual é a entidade filantrópica responsável por essa campanha e qual é o objetivo?
      O hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. O objetivo da campanha é informar à população a importância de doar sangue e persuadi-la a participar da ação.

02 – Que argumentos foram usados para estimular as pessoas a colaborar com a campanha?
      A informação de que, com uma simples doação, é possível salvar a vida de até três pessoas, e o doador recupera em pouco tempo o que doou.

03 – Relacione o texto verbal à imagem.
      Quem doa pode salvar vidas. O coração simboliza a vida, e a mão seria a de um possível doador.

04 – Explique o duplo sentido expresso no título da campanha.
      No sentido objetivo, o título informa que podemos salvar vidas ao doar nosso sangue. No sentido subjetivo, que nós temos o hábito de salvar vidas.

05 – No título, o verbo salvar está no infinitivo impessoal. Por que o infinitivo é chamado de forma nominal? Justifique sua resposta com base no texto.
      Ele equivale a um nome, isto é, ao substantivo salvação.

06 – Que outras formas nominais, presentes no texto, equivalem a adjetivos?
     O particípio doada caracteriza o substantivo bolsa; privado refere-se a banco; coletadas caracteriza bolsas; e os três particípios concordam com os substantivos.

07 – Observe os verbos empregados no presente do indicativo:  está, pode, repõe; é, possui, enchem. O que expressam esse tempo e esse modo verbais? Releia o texto.
       O presente expressa verdade universal, bem como fatos que ocorrem no momento em que se fala; o modo indicativo expressa ações que ocorrem realmente.

08 – Leia esta frase: “...o qual nosso organismo repõe em apenas alguns dias...”.
      - O verbo destacado pertence a qual conjugação? Por quê?
      Pertence à 2ª conjugação, porque deriva de pôr, que se origina da forma latina poer.

      - Empregue-o, em uma frase, na 1ª pessoa do plural do   Pretérito perfeito.
      Por causa do frio da rua, repusemos nossos casacos.

      - O que se pode concluir quanto à classificação desse verbo?
      Trata-se de um verbo anômalo; o radical e as desinências sofrem alterações       expressivas.

09 – Que formas verbais no texto foram flexionadas no pretérito perfeito do indicativo? Que sentido elas expressam no contexto?
      As formas verbais teve e atenderam, que indicam ações concluídas.

     10 – Que tempos são derivados do pretérito perfeito do indicativo?
       O pretérito mais-que-perfeito do indicativo, o pretérito imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo.

     11 – Releia esta frase: “...é possível renovar a esperança de vida de muitos pacientes”. Reescreva-a, substituindo a forma nominal pelo substantivo equivalente.
       É possível a renovação da esperança de vida de muitos pacientes.