ARTIGO DE OPINIÃO: O português da gente
Rodolfo Ilari e Renato Basso
Como se sabe, os escritores brasileiros
do período romântico interpretaram o ideário de sua escola literária num
contexto criado pela independência política; por isso, entenderam a exaltação
da natureza como exaltação da natureza tropical e elaboraram um mito das
origens da nacionalidade em que no lugar do cavaleiro medieval aparece o índio.

Logo depois da Independência, surgiu no
Brasil a questão de saber em que língua deveria expressar-se a literatura
brasileira, e muitos intelectuais optaram por denominações como “língua
nacional” ou mesmo “língua brasileira” – denominações nas quais Portugal não
estava presente. Alguns escritores foram além de uma atitude meramente
programática, usando uma linguagem literária em que os “brasileirismos” tinham
um papel considerável.
José de Alencar foi um desses
escritores, e o melhor exemplo desse estilo é a obra Iracema, que, embora
se apresentasse como romance, tem todas as características de um longo poema em
prosa. Diferentemente de tudo quanto tinha aparecido até então em língua
portuguesa, o estilo dessa obra não deixou de provocar reações iradas do outro
lado do Atlântico: o filólogo português Pinheiro Chagas fez dele uma avaliação
muito depreciativa, à qual Alencar responderia acrescentando à segunda edição
de Iracema um post-scriptum que ficou célebre.
Mas a polêmica entre Alencar e Pinheiro
Chagas não foi a única em que autores brasileiros e portugueses se enfrentaram
a propósito da linguagem literária. Contudo, a polêmica entre Alencar e
Pinheiro Chagas permanece como um marco, pela lucidez do pensamento de Alencar
e por ter lançado a ideia de que a linguagem literária deveria ser construída a
partir da linguagem efetivamente usada pelos brasileiros. Trata-se de um
programa que, por um lado, livra o escritor do peso dos modelos antigos e, por
outro, o engaja numa pesquisa de linguagem que pode levar a resultados
riquíssimos, como mostraram, bem mais tarde, as obras de alguns modernistas
(particularmente os da vertente regionalista) e, acima de tudo, a linguagem
literária de Guimarães Rosa, na qual o popular e o literário se confundem num
constante jogo de espelhos.
ILARI, Rodolfo e BASSO,
Renato. O português da gente. São Paulo: Contexto, 2006, p.214-218. Adaptado.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed.
– Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 210.
Entendendo o texto:
01 – De que maneira o contexto
da independência política influenciou os escritores brasileiros do período
romântico e como isso se refletiu em sua produção literária, segundo o texto?
Após a
independência política, os escritores românticos brasileiros interpretaram o
ideário de sua escola literária exaltando a natureza tropical em vez da
natureza europeia e construindo um mito de origem da nacionalidade onde o índio
substituiu o cavaleiro medieval como figura central.
02 – Qual foi a questão
linguística que surgiu no Brasil logo após a Independência e quais denominações
foram propostas por alguns intelectuais para a língua falada no país?
A questão
linguística que surgiu foi sobre em que língua a literatura brasileira deveria
ser expressa. Alguns intelectuais propuseram denominações como "língua
nacional" ou "língua brasileira", excluindo a referência a
Portugal.
03 – Quem foi José de Alencar
e qual de suas obras é citada como um exemplo do uso de
"brasileirismos" na linguagem literária?
José de Alencar
foi um escritor brasileiro que utilizou uma linguagem literária com um papel
considerável de "brasileirismos". A obra citada como melhor exemplo
desse estilo é Iracema, que é descrita como tendo características de um longo
poema em prosa.
04 – Qual foi a reação do filólogo
português Pinheiro Chagas à obra Iracema e como José de Alencar respondeu a
essa crítica?
O filólogo
português Pinheiro Chagas fez uma avaliação muito depreciativa da obra Iracema.
José de Alencar respondeu a essa crítica acrescentando um post-scriptum que se
tornou célebre à segunda edição do livro.
05 – Qual a importância da
polêmica entre Alencar e Pinheiro Chagas, de acordo com o texto, para a
literatura brasileira?
A polêmica entre Alencar e Pinheiro
Chagas é considerada um marco pela lucidez do pensamento de Alencar e por ter
lançado a ideia de que a linguagem literária deveria ser construída a partir da
linguagem efetivamente usada pelos brasileiros.
06 – Qual o programa literário
defendido por Alencar e quais são os dois aspectos desse programa destacados no
texto?
O programa
literário defendido por Alencar era o de construir a linguagem literária a
partir da linguagem efetivamente usada pelos brasileiros. Os dois aspectos
destacados são: libertar o escritor do peso dos modelos antigos e engajá-lo
numa pesquisa de linguagem que pode levar a resultados ricos.
07 – Que autores e movimentos
literários posteriores são mencionados como exemplos da concretização do
programa de Alencar em relação à linguagem literária?
São mencionados
como exemplos da concretização do programa de Alencar as obras de alguns
modernistas (particularmente os da vertente regionalista) e, acima de tudo, a
linguagem literária de Guimarães Rosa, na qual o popular e o literário se
misturam constantemente.