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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

CONTO: O BOQUINHA DA NOITE - JAIR VITÓRIA - COM GABARITO

 Conto: O BOQUINHA DA NOITE

             Jair Vitória

        Boca da noite, Boquinha da Noite – um apelido bem dado e bem certo. E que não vinha de coisas estranhas. Gostava tanto de dança que chegava à casa da pagodeira logo à boca da noite. Dançava de dar íngua nas virilhas e debaixo dos braços. Homenzinho já beirando os cinquenta mas que era uma espoleta nas gafieiras. Os rapazes ficavam basbacados com os mandos deles nas rodas de
dança. E as moças gostavam de dançar com ele...

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      Andava ele quase de felicidade malvivida; mas, se sabia disso, não se importava. Pulava o Rio Grande toda vez que havia um baile no Triângulo Mineiro. Dançava até molhar toda a roupa de suor. Saía para o terreiro, torcia a camisa, secava um pouco, depois voltava e, enquanto houvesse o fole falando música e houvesse dama, estava ele sacolejando as cadeiras. Cabelo já empainando. Tinha um cavalo castanho de encher os olhos. E só, também.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – era o Boquinha da Noite enforquilhado no lombo do Castanho, esfregando na sela as carnes do fundo. Tinha também um cachorro pintado que era seu amigo fiel. Meio de bem, meio de mal com a tal felicidade. Por outros tempos, longe, ele tinha ficado de mal com ela. Tinha sido lá nas margens do São Francisco, para as bandas de Xique-Xique. Naquele rincão ele perdeu a bem-amada. Ficou sorumbático um naco de tempo. Andou de bico virado para as coisas do mundo. Mas um dia pegou a trouxa e, sonhando com as terras de São Paulo, apontou o nariz para o sul. E tinha vivido e vivia sozinho – sem mulher. Pererecava e sambangava daqui e dali e achava pedaços de alegria nos bailes de roça. Morava numa espelunca em vivência com outro rapaz solteiro já meio também chegado nos anos. Era o Ninico.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – sempre o Boquinha enforquilhado no Castanho. Queria ver as mulheres-esposas e moças com os olhos brilhantes para o lado dele. O cavalo era bonito, sabia muito bem daquilo. Enganar a si mesmo não era tolice tanta. As mulheres olhavam para o cavalo, mas olhavam para ele
também. Era bom demais dar de possuir um cavalo bonito.

        -- Castanho, vai comer um pouco de capim, que a gente vai mais de noitinha num baile.

        O cavalo começava a pastar o capim-jaraguá bem depressa.

        -- Tigre, sai pra lá, sá bichinho. Esse cachorrinho anda de maus modos, Ninico.

        Ninico pôs o prato vazio no jirau e não falou nada. A noite vinha
pingando orvalho no capinzal.

        Mas apareceu uma mudança e encheu a tapera onde o Boquinha passava em frente aos pacataus, pacataus, pacataus. Família de grande prole. Havia uma moça de beleza pequena e de sorriso malfeito. Entretanto, tinha o corpo de bom feitio. Voz até grossa e de falar áspero.

        -- Sabe o nome da moça que mudou pra tapera do Jorginho, Ninico?

        -- Sei não, inda não. Só vi pelas costas ainda. É bonita?

        -- Bonita até falar chega, pois...

        -- Mas você não pode mais não nem pensar em moça.

        -- Tu é besta, sô; sou homem de cativar mulher demais ainda.

        -- Ora Boquinha, deixa de pensamento bobo.

        -- Pois vou ganhar a Odete pra mim. esse é o nome dela, ODETE, nome doce de fazer arrepio pelo corpo afora.

        -- Você pega com muita coisa que eu vou lá e tomo essa moça de você, Boquinha...

        -- Pensa nem isso não, Ninico... vou ser o dono dela.

        A noite estava no terreiro, pretinha de fazer medo. Boquinha da Noite dormiu com a cabeça cheia de primaveras. No dia seguinte bateu visita na casa da família novata. Castanho estava no terreiro da sala mastigando o freio e o cachorro Tigre foi cheirar a lata de lavagem na cozinha. Boquinha tagarelou com o chefe. Conversou com os rapazotes. Depois ganhou uma xícara de café da moça. Ficou trêmulo e queimou a boca de apuro de beber café pelando. Minou até água dos olhos do homenzinho, mas ele aguentou firme. O que mais fervia era o sangue dele em doidura de amor. Estava de bater a cabeça sem rumo de paixão pela Odete. Ofereceu ajuda que não dispunha à família pobre. O Boquinha da Noite conversou o que não sabia. O chefe da espelunca que era folgado aceitou tudo. Disse que era bom fazer amizade com os vizinhos novos.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – foi-se o Boquinha enforquilhado no arreio do Castanho. Rindo sozinho pela estrada. A Odete tinha gostado dele sim. Dera-lhe a xícara de café mais um sorriso. Agora ele estava em doidura séria de amor. Ninico iria morrer de inveja.

        Os outros rapazes iriam ficar de olhos arregalados ao vê-lo nos bailes com a mão no ombro da Odete. Ela era mais alta que ele, mas tinha nada não.

        Chegou em casa e conversou com os animais, porque o Ninico não estava. Notava toda a beleza da floresta num pedação de natureza que começava do outro lado do córrego. Beleza maior era casar de novo e com uma doninha de dezessete anos. Ele, o dançarino fanático de cabelos empainando. Feliz mais que sabiá em tardes de sol e em manhãs radiosas. Ria de falar chega a si mesmo
e de fazer graça aos animais. Sacudia a cabeça à toa.

        Quando a noite vinha de novo e o Ninico ainda não havia chegado da roça, Boquinha saiu com um frango carijó debaixo do braço. Era o primeiro de uma série de presentes que ele levaria para a família de Odete.

        -- Seo Roque, tá aqui um franguinho que eu trouxe de presente pra vocês. Na Bahia tinha desse costume com o vizinho novo.

        No vaivém da conversa, na luz mortiça da sala, Odete saiu para ajudar a esticar o assunto. O Boquinha da Noite sentiu o sangue ferver de amor. Conversou o que não sabia. O Sr. Roque disse que ele podia ficar na sala conversando com os meninos enquanto ele ia lavar os pés. Odete de amizade com o homenzinho de língua elástica sentou no mesmo banco. Quando ele foi embora, saiu tonto de paixão olhando para as estrelas. O vento sacudia as ramas e a lua começava a nadar no céu. Boquinha enchia os pulmões de ar e o coração de esperança. Decerto ela também tinha gostado dele.

        O Boquinha agora estava dando de toda a noite passar um pedaço de tempo na casa de Odete. Não era nada a casa dos velhos, mas casa da Detinha. Mandou mais frangos de presente e esqueceu um pouco dos pagodes. Odete não ia aos bailes no começo, pois não tinha roupa. Mas apareceram cortes de vestido de presente. O velho Roque viu o gosto do Boquinha da Noite pela filha. Deixou aquilo acontecer como água de regato que corre normalmente. Era
proveitoso, não precisava comprar vestido para a Detinha, ela ganhava do homenzinho atacado de paixão. Boquinha passava de galope três ou quatro vezes por dia em frente à casa da moça.

        -- Ninico, vê se gosta desse pano. Vou dá pra Detinha.

        -- É bonito sim. Mas tira isso da cabeça, sô. A moça tá aí querendo te enganar, sô.

        -- Enganar. Tu que não sabe. Já peguei na mão dela lá embaixo daquela figueirinha e dei até bicota nela. Ela riu, sô.

        -- Então o negócio tá sério mesmo, uai.

        -- Falo com o velho daqui uns tempos.

        Os rapazes da vizinhança abusavam do Boquinha. Achavam que Odete queria apenas presente dele.

        -- A Odete vai casar com Baianinho, seo Roque? – era um desses homens de língua elástica que perguntava ao pai da moça.

        -- Ham – rosnou o Sr. Roque erguendo o cutelo de cortar arroz. – Eu vou dar uma pedrada só, mas a minha pedrada vai ser certeira, eu não erro não, vou dar uma pedrada só; onde já se viu coisa dessa?!

        Roque falava daquilo, mas ficava muito contente quando a filha ganhava um corte de vestido do Boquinha da Noite e a família ganhava um frango para almoçar no domingo.

        Boquinha da Noite estava de deitar e levantar pensando na Detinha. Remediava o tempo com alegrias sonhadas de amor. Mulher mais bonita do mundo!

        Mulher mais bonita do mundo, sim senhor. Passar noites com ela num colchão de palha era viver de verdade. Aquela de outros tempos, noutro lugar, nem menos chegava perto da Detinha. Estava iludido mais que peixe pela isca. Veio a primavera de verdade e as árvores floresceram sem medo. Os ipês já tinham ficado carregadinhos de flor. Era a coisa mais bonita do mundo pensar
na Detinha com os olhos cheios de flor. Cabelo empainando, sem mentira, mas sentindo amor de verdade. Nunca deixava de levar presente à moça. Quando saía da casa da amada, depois de tempão de namoro, tinha vontade de voltar para trás quando chegava no meio do caminho. Os noitibós faziam frejo no charco, mas aquilo não espaventava seu querer de amor. Estava de não dormir direito. Dava agora de trabalhar no roçado do pai da criatura amada só para dar
de mão, sem cobrar nada. No fundo, no fundo mesmo do íntimo, Roque até gostava do Boquinha da Noite. Ele era amigo dos leais que ajudavam sem medir esforço. Mas aquele homenzinho dos cabelos empainando casar com a filha dele, isso era neca. Queria o sérico dele, os presentes. Deixava o Boquinha namorar com a filha só para iludi-lo com momentos de alegria.

        -- Sabe, Ninico, já três vezes fiz ameaça de falar com o velho no meu casamento com a Detinha.

        -- Ela aceita?

        -- Falei com ela ainda não de casamento, mas aceita sim, ora.

        -- Sei não. Acho que ela tá só te iludindo.

        -- Sou eu algum bobo... lá minha cara, sô.

        Passou mais um pedaço de tempo e o povo da redondeza comentava o caso com galhofa. Boquinha da Noite nem queria saber de nada. Era ele e ele mesmo o dono da Detinha. Estava de botar orgulho em si mesmo. Cabeça erguida enforquilhado na sela do Castanho.

        Um dia, voltando da roça por uma vereda onde as formigas passeavam também, o Boquinha ensaiou demoradamente para pedir Detinha em casamento. Com muito esforço o pedido de casamento saiu com voz tremida. Roque ouviu com naturalidade, sem dar importância.

        -- Sei, sei, eu não sou contra nada, Severino – Roque respondeu falando o nome de batismo do Boquinha da Noite.

        Boquinha da Noite pegou o trilho e foi para casa com um sufocamento de felicidade. Contou ao companheiro Ninico o caso que tinha acontecido. Ninico torceu o bigode e até acreditou que o Boquinha da Noite conseguiria mesmo casar com a Detinha. Ficou matutando aquilo muito tempo. O Boquinha da Noite era um homenzinho de língua solta mesmo, dono de uma lábia comprida.
Até ele próprio estava com inveja do Boquinha. Ah, sujeitinho de sorte. Como era possível um homem feito beirando os cinquenta anos casar com uma menina de dezessete?

        Detinha precisava arranjar um namorado de verdade mesmo. Roque falou isso com um risinho sarcástico pendurado nos lábios. Boquinha da Noite pensava que aquilo fosse namoro sério. Mas Detinha precisava de um namorado jovem.

        E foi o que aconteceu num baile. Detinha toda cheirosa e bonita dentro de um vestido presenteado pelo Boquinha. Ele, feliz que nem um passarinho. Naquela noite namoraria à beça. Mas Detinha deu-se de esquerda e olhou firme para outro moço. Depois de pouco tempo trançaram as mãos. Noite alta de amargura. Severino... Boquinha da Noite ficou macambúzio num canto. Desapontado mais que nunca. Detinha rindo à solta com o braço do rapaz enlaçado em sua cintura mesmo com a sanfona calada. Uma provocação ferindo fundo!

        Madrugada de amargura. Boquinha da Noite saiu com palpite de morte no coração. Ninico ficou no pagode. Em casa pegou o Castanho, botou a arreata no lombo do animal, encavalou-se e saiu com palpite de morte já mais crescido ainda. Que presente e que presentes tinha dado à Detinha.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – a madrugada acordando sob os cascos do Castanho na estrada do Rio Grande. E mais vontade de morrer aparecendo. E o rio, cheio de roncar medo. Era uma baixada longa e perigosa. Um palpite sem limite de morte. Nadar ele não sabia, tinha até medo d'água.

        Disparou o Castanho apertando com cegueira as esporas e batendo o chicote com alucinação. Um cavalo bom de rédea e obediente até demais. Foi o cavalo disparado e sem parar caiu no rio até de meio-mergulho. Uma loucura na madrugada. A lua não estava olhando e nem velando por ninguém. A água brava! Foi-se o corpo do homem para não mais ser encontrado. O cavalo amanheceu pastando no varjão, ainda arreado; Detinha chorou umas lágrimas
sentidas quando soube de tudo aquilo, mas depois o tempo apagou o sentimento de culpa.

        Contam os visionários demais, que, pela boquinha da noite, um homem dança no meio do rio, sobre as águas, e uma sanfona soa indefinidamente. Mas o vulto some quando os visionários demais afirmam a visão, e o som da sanfona vai embora quando eles aguçam os ouvidos.

VITÓRIA, Jair. O Boquinha da Noite. In: Cuma-João. 2. ed. São Paulo: Ática, 1978. p. 49-54.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 111-115.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal característica de Boquinha da Noite que dá nome ao conto?

      Sua paixão por dança, que o levava a frequentar bailes até altas horas da noite.

02 – Qual a relação de Boquinha da Noite com o cavalo Castanho?

      O cavalo era seu fiel companheiro, um símbolo de status e um meio de transporte para os bailes.

03 – Como o passado de Boquinha da Noite influencia seu comportamento presente?

      A perda da bem-amada no passado o deixou solitário e em busca constante de afeto, o que o leva a perseguir a paixão por Odete.

04 – Qual o papel de Odete na vida de Boquinha da Noite?

      Odete representa a esperança de amor e felicidade para Boquinha, mas também se torna o objeto de sua obsessão e, posteriormente, a causa de sua tragédia.

05 – Como o ambiente rural e os bailes são retratados no conto?

      O ambiente rural é retratado como um espaço de sociabilidade e onde os bailes são eventos importantes para a comunidade.

06 – Qual a importância da figura de Ninico na narrativa?

      Ninico serve como contraponto a Boquinha, oferecendo uma visão mais realista da situação e tentando alertá-lo sobre as ilusões de Odete.

07 – Como o final do conto pode ser interpretado?

      O final é trágico e ambíguo. Pode ser interpretado como uma punição por sua obsessão, uma libertação de sua dor ou até mesmo uma elevação ao status de lenda local.

08 – Quais os temas principais abordados no conto?

      Amor, paixão, obsessão, ilusão, morte, solidão e a busca por felicidade são alguns dos temas presentes na narrativa.

09 – Qual a importância da linguagem utilizada pelo autor para contar a história?

      A linguagem simples e direta, com expressões populares, contribui para a construção de um universo realista e próximo do universo dos personagens.

10 – Qual a sua opinião sobre a atitude de Boquinha da Noite ao longo da história?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Esta é uma pergunta aberta que incentiva a reflexão individual sobre as ações e motivações do personagem.

 






domingo, 9 de junho de 2024

FILME(ATIVIDADES): INTERESTELAR: A APOSTA MAIS ARRISCADA DE NOLAN-(FRAGMENTO) - COM GABARITO

 Filme(Atividades): Interestelar: a aposta mais arriscada de Nolan – Fragmento  

        Interestelar tinha tudo para ser o melhor filme de ficção científica da história e entrar para aquelas seletas listas de melhores filmes de todos os tempos. Christopher Nolan na direção, Hans Zimmer com a trilha sonora e, no elenco, uma constelação: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Michael Caine, Matt Damon, Casey Affleck, Topher Grace. E, principalmente, uma ideia genial.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqb3_e3qKkkpZF-ZzzvmRq2zakP9GO6QvIShW6GZzmBZ6Luv3Cmy2Z3P6unXoM-HMEm6yMp31vl0f5YviifJltFFMPSWRdOsDywjGrGeecxRUFO25AM85iwintFb70yO1BvQxnhn2B4zHQqD6AKkY3gXxFsE8Q9xp5JDhUnxf70s4Dq7Kzo_sCt1WeUSg/s320/FILME.jpg


        [...]

        O primeiro ato é apenas bom. Foi o primeiro momento em que comecei a sentir certo desapontamento. Apesar de Mackenzie Foy ser uma atriz extraordinária e conseguir criar uma personagem ótima para Murphy, a filha de Cooper, essa parte do filme não se sustenta. Com um ar “spielbergiano”, o drama familiar acaba se mostrando fraco e Nolan não consegue exprimir sua marca. O roteiro não consegue criar o vínculo necessário. Outro momento, em que Cooper começa a entrar em sua jornada interestelar, é mal aproveitado e aleatório. Porém, o que mais incomodou foram as atuações sem grça de Lithgow e, principalmente, Michael Caine. Atores ótimos delimitados em personagens sem grandes aproveitamentos na trama. Enfim, o começo não convence.

        O segundo ato, porém, resgata todo o fôlego perdido no começo do filme. É o melhor momento do longa e deixa o espectador boquiaberto em inúmeras passagens. Aqui, destaque para as cenas de computação gráfica e, principalmente, para o trabalho impecável de Hans Zimmer com a trilha sonora. Autor das músicas de filmes como Rain Man, Gladiador, Sherlock Holmes e a trilogia nova de Batman, o compositor dá uma verdadeira aula. Consegue mesclar silêncio e momentos de som ensurdecedor.

        [...].

MANS, Matheus. Publicada em: 20 nov. 2014. Disponível em: http://literatortura.com/2014/11/interestelar-aposta-maisarriscada-de-nolan. Acesso em: 20 out. 2015. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 347.

Entendendo o filme:

01 – A primeira informação sobre o filme é dada por seu título. O que o interlocutor deduziria sobre um filme chamado Interestelar? De que forma os conhecimentos de morfologia ajudariam você nessa dedução?

      O título Interestelar propõe que o enredo envolve aventuras no espaço sideral, como sugerem o radical -estel-, que remete a “estrelas”, e o prefixo -inter, que significa “entre”.

02 – Qual o sentido denotativo de constelação? Esse é o sentido usado no texto? Justifique.

      Constelação significa “conjunto de estrelas”. No texto, é empregado conotativamente para se referir a um grupo de atores consagrados.

03 – O que há em comum entre as palavras interestelar e constelação?

      São termos que partilham o radical –(e)stel-, isto é, palavras formadas a partir de “estrela”.

04 – As obras artísticas costumam estabelecer relações interdiscursivas. Segundo a resenha, qual discurso é retomado pelo diretor de Interestelar?

      O resenhista vê traços da obra do diretor Steven Spielberg no filme de Christopher Nolan.

05 – A referência a esse discurso é feita por meio de uma palavra derivada. Qual é ela? Explique a função de seu sufixo.

      O termo spielbergiano contém o sufixo -ano, responsável por sugerir a ideia de “semelhante” ou “comparável”.

06 – O crítico menciona seu “desapontamento” diante do filme. O que o provoca?

      Segundo o crítico, o filme traz um drama familiar fraco, momentos mal aproveitados e atuações decepcionantes de alguns bons atores.

07 – O vocábulo desapontamento formou-se a partir de uma palavra da língua inglesa, disappointment, e por isso os puristas sugerem o uso de decepção em seu lugar. Você concorda com essa posição? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – No segundo parágrafo, o “desapontamento” é substituído por uma sensação inversa. Que vocábulo do texto a traduz melhor? Como ele é formado?

      O vocábulo boquiaberto, formado pelo processo de composição por aglutinação: boca + aberta (com alterações fonológicas).

09 – A palavra identificada no item anterior tem por base uma metonímia. Explique essa ideia.  

      Ficar de boca aberta é uma reação física que expressa a noção de encantamento, admiração. A metonímia está na apresentação do efeito (a boca aberta) pela causa (a admiração).

10 – A palavra extraordinária contém o prefixo extra-, cujo sentido é “na parte de fora, externamente”. Explique de que modo o prefixo altera o significado de ordinário.

      O radical é -ord-, que tem seu sentido (“ordinário”, “comum”) alterado para “fora do comum”, com a inclusão do prefixo extra-. Assim, algo extraordinário é algo que está “além do comum”, “além do ordinário”.

11 – Extraordinário passou pelo mesmo processo de formação de ensurdecedor? Justifique sua resposta.

      Não. Ensurdecer é um termo formado por derivação parassintética, enquanto extraordinário é formado por derivação prefixal e sufixal (ordinária existe, mas surdecedor não).

12 – A expressão som ensurdecedor forma, com uma palavra que a antecede no texto, uma figura de linguagem. Escreva o nome dessa figura no caderno e explique sua função na composição do elogio ao produtor musical Hans Zimmer.

      Trata-se da antítese, constituída pela oposição silêncio X som ensurdecedor, sugerindo a harmonia da trilha sonora do filme e a maestria de Zimmer ao executá-la.

 

 

POEMA: PARADA CARDÍACA - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

 Poema: Parada cardíaca

               Paulo Leminski

Essa minha secura

essa falta de sentimento

não tem ninguém que segure,

vem de dentro.

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Vem da zona escura

donde vem o que sinto.

Sinto muito,

sentir é muito lento.

Paulo Leminski. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 203.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 317.

Entendendo o poema:

01 – Que verso esclarece o significado da expressão metafórica "minha secura".

      O segundo verso.

02 – Explique a imagem “Zona Escura” Para representar o que "vem de dentro".

      Zona escura sugere uma área não conhecida dentro do eu lírico.

03 – O poema explora os dois sentidos da expressão sinto muito. Quais são eles?

      Sinto muito pode indicar um sentimento intenso ou equivaler à expressão empregada para desculpar-se.

04 – Qual dos sentidos de sinto muito é coerente nesse contexto? Por quê?

      A expressão sinto muito foi empregada com o valor de “desculpe-me”, já que o poema sugere sua dificuldade de sentir, tornando incoerente a referência a um sentimento intenso.

05 – Como deve ser entendido o título do poema? Que figura de linguagem o constrói?

      “Parada cardíaca” é uma metáfora e, nesse contexto, sugere que o coração, entendido tradicionalmente como a sede do sentimento, não está funcionando, logo não tem capacidade de sentir.

 

domingo, 26 de maio de 2024

MÚSICA(ATIVIDADES): JUÇARA - PAULO PADILHA - COM GABARITO

 Música(Atividades): Juçara

             Paulo Padilha

Juçara sara, que o pessoal repara
Todo mundo tá querendo ver a Juçara sarar
Juçara jura que essa gripe não tem cura
Juçara menina pura, Juçarinha sara, cura
Será que Ju sarará

Tá jururu Juju

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH6D78SGruU0hS2v155esDjX-i1SG-AT6ncx-HsJlQsrKQVY6SqeIjPD2d3HuE_G6JcGsytuuDBy_hwPXd6L_kU5KqjKajZtlBfT_E9vl0hlWUpSVtWII7BfIQopcmW8oq1i8JTgSifhPYg1DdyQajoFbjcvcPb5iJC6ClOJqk0QYp_8qZ75UZVFGgD3I/s320/baile-do-padilha.jpg

Que tá na cara, Juçara, o pessoal repara
Geralmente a gripe sara na hora de namorar
Juçara sara, Juçara, Juçara cura
Juçara menina pura, jura Çara, sara jura,
Jura que Ju sarará

Tá jururu Juju

Juçara
Sara Juçara que eu te pego no metrô do Jabaquara
Jura, sara, sai da cama e vem cantar
Juçara
Juçara canta e os seus males espanta
Juçara cura a garganta, Juçara Juju levanta
Que o show vai começar

Saracoteia Juçara
Saracoteia que sar
Juçara agora resolveu me dar o fora
Juçara tá indo embora, Juçara não quer cantar
Na cara dura, Juçara menina pura
Juçara, juçara santa já se curou da garganta
Agora Juçara canta mas só pensa em namorar

Caramba Juçara, para de paquerar
Caramba, Juçara, que o show vai começar

Jurubatuba, jurubeba, jerimum, girabrequim
Jerusalém, jacarandá, jacurici
Juçara, Jacira, Jacinto, Jacy
Jerônimo, Geraldo, Jeremias, Juraci...

 

Composição: Paulo Padilha. Disponível em: http://letras.mus.br/paulo-padilha/375788. Acesso em: 13 ago. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 269-270.

Entendendo a música:

01 – O que o eu lírico pede a Juçara? E qual aa explicação da moça para não o atender?

      O eu lírico pede a Juçara que volte a cantar com ele, mas ela alega que está doente.

02 – É possível identificar outra razão para o comportamento de Juçara? Qual?

      Sim. A moça seria namoradeira e pouco comprometida com as obrigações.

03 – Descreva como o compositor explora as sílabas do nome da personagem no primeiro e no terceiro versos da canção.

      No primeiro verso, explora a igualdade sonora das sílabas ça e ra com a forma do verbo sarar, além de estabelecer uma equivalência sonora (rima interna) de Juçara com repara. No terceiro, aproveita as sílabas ju e ra para introduzir a forma verbal jura, que cria uma rima interna com cura.

04 – Explique como se produzem os efeitos sonoros do verso “Será que Ju sarará”.

      O produtor do texto usa a primeira sílaba do nome Juçara como apelido e transforma as duas últimas na terceira pessoa do singular do verbo sarar no futuro do presente. Essa forma retoma, parcialmente, a palavra será, que abre o verso.

05 – O verso “Tá jururu Juju” é usado como refrão. O que significa? De que figura de linguagem ele faz uso?

      Significa que Juju (Juçara) está triste, desanimada, sem forças. Faz uso de uma assonância.

06 – As duas últimas palavras do verso “Juçara sara, Juçara, Juçara cura” sugerem, pela identidade do som, outra palavra da língua. Qual é ela? Explique como seu significado se articula com o sentido da canção.

      “Juçara cura” sugere a palavra saracura, usada para referir-se a uma “diversão muito intensa” ou a um ato de travessura, ações que podem ser associadas à namoradeira Juçara.

07 – O fonema /a/ predomina na canção, mas ocorre também a exploração enfática de dois outros sons vocálicos. Quais são eles?

      O fonema /u/, de Juçara, que aparece por exemplo em cura, jura e pura, e o fonema /ã/, presente em canta, garganta, espanta, caramba e levanta.

08 – A última estrofe se encaixa na canção pelo aspecto sonoro. Use seus conhecimentos a respeito de fonemas para explicar isso.

      A última estrofe pode ser considerada uma brincadeira sonora estimulada pelo nome Juçara; por isso, nela são apresentados outros nomes próprios, todos deles iniciados pelo fonema /3/, representado pelas letras j ou g.

09 – Além da temática popular, a canção se vale de palavras e expressões típicas da linguagem informal. Cite algumas delas.

      Poderiam ser citadas tá na cara, jururu, dar o fora, caramba.

sábado, 25 de maio de 2024

CONTO: CURSO SUPERIOR - MARCELINO FREIRE - COM GABARITO

 Conto: Curso Superior

           Marcelino Freire

        O meu medo é entrar na faculdade e tirar zero eu que nunca fui bom de matemática fraco no inglês eu que nunca gostei de química geografia e português o que é que eu faço agora hein mãe não sei.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOKEZ-Mrexo7NM1rFl2YltVY4spyhNaxzur8d0L3RWlf9f_NCJnnAS7gghrF6OJpXfn4auKrtQ7tlCxmHN3Kyr6vn4Ua61Q96Ga7xeLQJKH8q4i8ZvoQKD8Bk-vbDryCHghBuYqmun6leEi2d0a3GbQXHdjXIK-TVPxX43e4grR-DB-bVv5317xH5SAac/s1600/FACULDADE.jpg

        O meu medo é o preconceito e o professor ficar me perguntando o tempo inteiro por que eu não passei por que eu não passei por que eu não passei por que fiquei olhando aquela loira gostosa o que é que eu faço se ela me der bola hein mãe não sei.

        O meu medo é a loira gostosa ficar grávida e eu não sei como a senhora vai receber a loira gostosa lá em casa se a senhora disse um dia que eu devia olhar bem para a minha cara antes de chegar aqui com uma namorada hein mãe não sei.

        O meu medo também é do pai da loira gostosa e da mãe da loira gostosa e do irmão da loira gostosa no dia em que a loira gostosa me apresentar para a família como o homem da sua vida será que é verdade será que isso é felicidade hein mãe não sei.

        O meu medo é a situação piorar e eu não conseguir arranjar emprego nem de faxineiro nem de porteiro nem de ajudante de pedreiro e o pessoal dizer que o governo já fez o que pôde já pôde o que fez já deu a sua cota de participação hein mãe não sei.

        O meu medo é que mesmo com diploma debaixo do braço andando por aí desiludido e desempregado o policial me olhe de cara feia e eu acabe fazendo uma burrice sei lá uma besteira será que vou ter direito a uma cela especial hein mãe não sei.

FREIRE, Marcelino. Curso superior. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 97.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 209-210.

Entendendo o conto:

01 – Explique por que o narrador-personagem teme fracassar no curso universitário.

      Ele acredita ter tido uma formação ruim em várias disciplinas.

02 – Como é possível ao leitor construir a personalidade do personagem?

      A personalidade do personagem é construída com base nas imagens que visualizamos no decorrer de sua vida.

03 – Cursar a universidade incluiria o personagem em um ambiente distinto daquele em que vive, possibilitando a ele estabelecer outras relações sociais. Que efeito tem no texto a imagem da “loira gostosa” em relação à dificuldade de inclusão do personagem nesse novo ambiente?

      Na lógica do conto, a figura da “loira gostosa” contrasta com a do personagem, e um relacionamento amoroso com ela provocaria reações negativas tanto do grupo social da moça quanto do dele, uma vez que se pressupõe um olhar preconceituoso das pessoas diante de relacionamentos multiétnicos.

04 – O medo do personagem se estende para o período posterior à formatura. O que o aflige?

      O fato de, na opinião dele, o diploma não ser suficiente para obter um emprego e o respeito dos demais grupos sociais.

05 – Em geral, os contos apresentam uma situação inicial que é desequilibrada, por exemplo, por um fato.

a)   Qual é a situação inicial nesse conto? Ela está explícita?

A situação inicial, que não está explícita mas pode ser deduzida do contexto, é a de um jovem que está concluído a educação básica e pode ter acesso ao curso superior graças à política de cotas.

b)   O que desestabiliza a situação inicial?

A possibilidade de entrada no curso superior, a reflexão sobre as dificuldades que o personagem enfrentará e as dúvidas sobre o resultado do processo.

c)   Os vários conflitos imaginados pelo personagem são sintomas de um conflito maior. Qual?

O conflito entre o jovem negro e a sociedade preconceituosa.

 

segunda-feira, 13 de maio de 2024

MÚSICA(ATIVIDADES): A LINHA E O LINHO - CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL E IVETE SANGALO - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): A LINHA E O LINHO

                                          Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivete Sangalo

 É a sua vida que eu quero bordar na minha

Como se eu fosse o pano e você fosse a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsCCZSq31WX0TcKYCtrXlkYhNDswAmOefLnMbOBw_RButByKCe1rmdSxOgn4wrbhkPfwDteVo1xj-kGjH1bmZhljBSUkadU4PiTYkkXf_xykE-a5NhcvnFNf1OaprZiD7h3jfnxWCrfZARY8Dm7zng39IGHz3_a-CoUQm60vZqAbdFbtVjiqI0Nj_P9HA/s320/Bordado.jpg

O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A sua vida o meu caminho, nosso amor
Você a linha e eu o linho, nosso amor
Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

 

Entendendo o texto

01. Qual é o tema principal abordado na música "A Linha e o Linho"?

a) As estações do ano.

b) A importância da amizade.

c) A construção de um relacionamento amoroso.

d) O amor pela natureza.

02. Que figura de linguagem é utilizada na frase "Como se eu fosse o pano e você fosse a linha"?

a) Metáfora.

b) Hipérbole.

c) Personificação.

d) Metonímia.

03. Qual elemento é comparado à agulha do real nas mãos da fantasia na música?

a) Uma pena.

b) Uma folha seca.

c) Uma flor.

d) Uma estrela.

04. Segundo a música, qual é o papel do linho em relação à linha?

a) Representar a realidade.

b) Representar a fantasia.

c) Ser o protagonista da história.

d) Simbolizar a jornada.

05. Como é descrita a relação entre os personagens na música? a) Como uma colcha de cama.

b) Como uma toalha de mesa.

c) Como uma correnteza.

d) Como um ninho da beleza.

 

domingo, 12 de maio de 2024

POEMA: A UMA SENHORA NATURAL DO RIO DE JANEIRO, ONDE SE ACHAVA ENTÃO O AUTOR - BASÍLIO DA GAMA - COM GABARITO

 Poema: A uma senhora natural do Rio de Janeiro, onde se achava então o autor

               Basílio da Gama

Já, Marfiza cruel, me não maltrata
Saber que usas comigo de cautelas,
Qu'inda te espero ver, por causa delas,
Arrependida de ter sido ingrata.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje-__tkzEaBV-IReOOeHkp68HGqOGrKzctAWZSeCAYX4FH8UfmsLzXOT7L_GdthMBb-RelVYeTlLK-XLWvn9cKsLUYC4Ehk4H5hVRvbSapQX0pDGYiFi4ZodMkO42NbBt4I3Uuu3JKP2lpzP1R7gS2uqjpjriqKzL2I5Z3oYSX1O2LLQVRm9JtMjk32nY/s1600/olhos.jpg



Com o tempo, que tudo desbarata,
Teus olhos deixarão de ser estrelas;
Verás murchar no rosto as faces belas,
E as tranças d'oiro converte-se em prata.

Pois se sabes que a tua formosura
Por força há de sofrer da idade os danos,
Por que me negas hoje esta ventura?

Guarda para seu tempo os desenganos,
Gozemo-nos agora, enquanto dura,
Já que dura tão pouco, a flor dos anos.

GAMA, Basílio da. In: CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: das origens ao Romantismo. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 119.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 133-4.

Entendendo o poema:

01 – Os dois quartetos do poema são estruturados a partir de uma figura de linguagem, o eufemismo. Transcreva dois exemplos de eufemismo, explicando o efeito de sentido produzido no soneto.

      Possibilidades de respostas: “usas comigo de cautelas”: utilizando esse eufemismo, o eu lírico afirma de maneira mais sutil que Marfiza tem recusado seus convites amorosos, mas que um dia se arrependerá de sua ingratidão. “Teus olhos deixarão de ser estrelas”: Os olhos de Marfiza perderão o brilho (sonhos, perspectivas, desejos, etc.) que, em geral, caracteriza a juventude.

02 – Depois de ler os dois quartetos, é possível compreender a pergunta que o eu lírico faz para Marfiza no primeiro terceto. Explique essa afirmação.

      A pergunta do eu lírico é uma demonstração de sua indignação diante das negativas de Marfiza e diante daquilo que ele considera óbvio: a passagem do tempo e o consequente e inexorável envelhecimento humano.

03 – Que preceito tipicamente árcade está presente de maneira direta no último terceto do poema?

      O carpe diem. A supervalorização de cada minuto da existência. Pelo fato de o dia de amanhã ser incerto, o poeta deveria gozar o momento presente.

04 – Qual é o sentimento predominante do autor em relação à senhora mencionada no poema?

      O autor demonstra esperança e um desejo de reconciliação com a senhora, apesar da sua aparente indiferença.

05 – Como o autor descreve a inevitabilidade do envelhecimento da senhora?

      O autor descreve que os olhos que hoje são estrelas um dia deixarão de brilhar, as faces belas murcharão e as tranças douradas se transformarão em prata devido ao passar do tempo.

06 – Qual é a principal crítica do autor em relação ao comportamento da senhora?

      O autor critica a senhora por negar-lhe uma relação no presente, quando ambos sabem que a juventude e a beleza são passageiras e estão destinadas a serem afetadas pelo tempo.

07 – Como o autor justifica sua solicitação à senhora?

      O autor justifica sua solicitação à senhora ao apontar que, dado o inevitável declínio da beleza com a idade, é sensato desfrutar do presente enquanto ainda são jovens e belos.

08 – Qual é a ênfase principal do autor no último verso do poema?

      No último verso, o autor enfatiza a transitoriedade da juventude e da beleza ("a flor dos anos") e a importância de aproveitar esse tempo efêmero enquanto ainda é possível.