quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

CRÔNICA: EM BUSCA DA PAZ - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Em Busca da Paz

                      Walcyr Carrasco

FÉRIAS! QUEM VAI VIAJAR costuma ser acometido pela síndrome de mudança de vida. Basta sentir um cheirinho de mato ou uma brisa marinha para querer jogar o emprego, os compromissos e a rotina cheia de horários para o alto, É o sonho de morar fora da cidade. Quer-se largar tudo e viver no campo ou na praia, mergulhado em silêncio e tranquilidade. Um casal de amigos tinha um sítio em Ibiúna, onde esperava passar a velhice. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrrailf6Ljb6ScvZGVlPfSDKQ-cjv1YdC0jC-RNKj_ZZgnpsdWHZYdFh3c5WGwqzytcaJzgSmQwZbT8ZUOoMHFRvwxDqDkTi1c7kjeTo7LkI92-bM3tqyBUmdlpKSedeZw3j1giexJxpoJmt26rzul8M8RFg8ViRM5MyCaWXqUXLFsul2J_7fORQeiElE/s1600/FERIAS.jpg


Casa simples e três cachorros, que a dona chamava carinhosamente de "meus filhos peludos". Acabaram sequestrados juntamente com os caseiros. Os "filhos peludos" mantiveram-se a distância, abanando o rabo para os meliantes. Os reféns ficaram presos em uma casa, no meio- da mata. Apavorados. 

A família não poderia pagar um resgate, nem que fosse dividido em suaves prestações. A certa altura, os bandidos saíram. Meus amigos conseguiram abrir uma janela. Saltaram. Ela torceu o tornozelo. Fugiram pelo mato, morrendo de medo das cobras e de outros bichos, ou de ficarem perdidos para sempre.

         Gente urbana imagina que toda mata é semelhante à selva amazônica. Desaguaram em uma chácara a quilômetros de distância. Ainda tiveram de fugir dos cães de guarda. Esses, sim, furiosos.

E montar restaurante à beira-mar? Conheço uma penca de gente que lá pelos 40 anos almeja ser dono de bar ou restaurante. Imaginam que basta ficar bebendo e comendo com os fregueses, e passar a vida dando risada. Acompanhei um casal durante todo o processo. Ela murmurava:

— Vou servir umas comidinhas caseiras, tipo feijão gordo, arroz bem soltinho, mandioca frita. Quem não vai gostar?

Eu fazia a pergunta desagradável:

— Quem vai fritar a mandioca?

Mal arrumaram o ponto, em uma praia distante, ela descobriu a resposta. Acorda todos os dias às 4 da manhã para botar o feijão no, tacho. Os cabelos, antes lavados com xampu, transformaram-se em uma massa envolta em óleo de cozinha. Lá está ela, a postos, quebrando ovos, fritando, cortando, temperando e brigando com garçons. Ele se esfalfa no caixa e reclama das costas! Ao se deitarem, moídos de cansaço, suspiram pelos tempos no asfalto. Iam ao cinema. Liam. Podiam sentir preguiça! De suspiro em suspiro, a esperança reviveu. Puseram o restaurante à venda!

Eu também já tive o sonho. Fui para o sítio de um amigo com o objetivo de comprar algum em torno. Passamos o dia com o corretor. No primeiro, para chegar à casa era preciso atravessar o estábulo no meio das vacas, com o risco de levar uma chifrada. Outro, lindo, repleto de buganvílias, era na beira da estrada. Mais barulhento que o Minhocão! Dormi no sítio onde fora convidado. Os cachorros latiram embaixo da minha janela até o amanhecer. Passei a noite desejando estar nomeio de um belo congestionamento!

           Nem tudo está perdido. Finalmente, descobri uma pessoa que conseguiu realizar o sonho de ser feliz. Uma antiga colega de escola, Eugênia. Mudou-se para Peruíbe. Trabalha como tradutora. Escreveu alguns livros. O último narra sua vida na praia, divertida e... bem, não tão pacífica assim! Morar na praia ou no campo é mel para hóspedes! Durante as férias sua casa fica invadida por parentes, amigos, amigos dos amigos. Passa o verão preparando cafés da manhã, almoços, secando toalhas e lavando o chão. Vive na praia, mas fica aterrorizada diante da chegada do sol. Realizou o sonho, mas está sempre torcendo pela vinda da chuva e do mau tempo. Que vida! Já não se fazem sonhos como antigamente! Férias são boas quando são justamente o que "o nome diz: simplesmente férias!

Entendendo o texto

01. Qual é o impulso que as pessoas costumam sentir durante as férias, de acordo com a crônica?

     a) Mudar de emprego.

     b) Morar fora da cidade.

     c) Iniciar um restaurante à beira-mar.

     d) Viajar para a selva amazônica.

02. O que aconteceu com o casal de amigos quando foram sequestrados no sítio em Ibiúna?

     a) Pagaram o resgate.

     b) Fugiram pela estrada.

     c) Os "filhos peludos" lutaram contra os meliantes.

     d) Saltaram pela janela e fugiram pelo mato.

03. O que a personagem do casal imaginava ao decidir abrir um restaurante à beira-mar?

     a) Passar a vida dando risada.

     b) Trabalhar apenas no caixa.

     c) Servir comidinhas caseiras.

     d) Viajar para uma praia distante.

04. O que ocorreu após o casal abrir o restaurante à beira-mar?

     a) Venderam o restaurante.

     b) Tiveram sucesso imediato.

     c) Enfrentaram desafios e se cansaram.

     d) Mudaram para uma chácara.

05.  Qual era a pergunta desagradável feita pelo narrador ao casal que abriu o restaurante?

     a) Quem vai fritar a mandioca?

     b) Quem vai cuidar do caixa?

     c) Quem vai lavar os pratos?

     d) Quem vai comprar os ingredientes?

06. O narrador, ao buscar um sítio, teve problemas com:

      a) Vacas.

      b) Cachorros.

      c) Buganvílias.

      d) Congestionamento.

07. Quem é Eugênia e como ela realizou seu sonho de viver na praia?

      a) Dona de restaurante; abriu um em Peruíbe.

      b) Tradutora; mudou-se para Peruíbe e escreveu livros.

      c) Corretora de imóveis; comprou uma casa à beira-mar.

      d) Chef de cozinha; abriu um restaurante famoso.

08. Como Eugênia se sente em relação à vida na praia, de acordo com a crônica?

      a) Feliz e tranquila.

      b) Atormentada e agitada.

      c) Desiludida e arrependida.

      d) Realizada e pacífica.

09. O que Eugênia faz durante as férias em sua casa na praia?

     a) Abre um restaurante temporário.

     b) Viaja para o campo.

     c) Fica aterrorizada diante do sol.

     d) Realiza seu sonho de ter paz.

10. Qual é a conclusão do autor sobre o conceito de férias ao final da crônica?

     a) Férias são boas quando há muito sol.

     b) Férias são ideais quando se vive no campo.

     c) Férias são simplesmente férias, independentemente do local.

CRÔNICA: EU, CIDADÃO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Eu, Cidadão

                      Walcyr Carrasco

COMO BOM CIDADÃO, decidi racionar meus gastos com energia elétrica. Chamei a empregada:        

— Você está proibida de tomar banho aqui em casa.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLPS-R6AJoIZyPpzDnt-uUSlRLs5myViohyKfnZiDW0wuOldXdAGN2BPgdIcQQIepxTOI5ym8t6XlEAJiA1NuKf7vD-N67JRI8cz-PWHQnoMAZ3JCZwGs-fMF9eSDtQlzq5hmxDLlmhyphenhyphendwlAb9eXTJRACGYSOsNbfBTEm8lKwaq9Wj1_b7fhYRnsVbD-4/s273/LUZ.jpg

— Mas o senhor quer que eu vá embora suja?

— Quando for para casa, você vai ter de pegar um ônibus lotado. O primeiro banho terá sido inútil, pois terá de tomar outro ao chegar. Economize!

Ela me olhou raivosamente. Com certeza não economizou pensamentos!

Lembrei-me dos conselhos de um avô, segundo os quais banhos frios ajudam a manter a pele elástica. Abri o chuveiro. Ai, que frio! Saí pelo banheiro saltitando como uma rã.

Conversei com meu personal trainer. A esteira gasta, muito energia.

— Você substitui eliminando o elevador.

Moro no 122 andar. Quando cheguei ao terceiro, minhas pernas latejavam. No quarto, eu me agarrava nas paredes como uma lagartixa. No sexto, bati na porta da vizinha, pedindo socorro. As panturrilhas duras recusavam-se a dar sequer um passo! De qualquer maneira, funcionou. Com as pernas em chamas, nem penso em voltar à esteira!

O microondas está criando teias de aranha. Ultimamente só comia refeições dietéticas adquiridas em supermercados. Entretanto, já que é para usar o fogão a gás... vamos à luta! Chafurdei em salsichas com mostarda. Fiz um bolo de cenoura com calda de chocolate. Ganhei dois quilos, mas sem peso na consciência.

Tudo pelo racionamento!

Luz, só para ler. Outro dia recebi visitas no escuro.

— Assim não consigo enxergar o seu rosto — reclamou uma amiga.

— Vamos nos contentar com uma conversa agradável, sem olhar um para o outro — retruquei.

Não ofereci café, pois minha cafeteira é elétrica. Sugeri:

— Aceita um refrigerante morno?

A visita demorou quinze minutos.

Aposentei um antigo e heroico freezer. Era meu orgulho. Tem bem uns dezessete anos. Aparelhos velhos gastam mais.

—- A gente podia criar abelhas dentro dele — propôs o caseiro da chácara.

Para tudo há um novo uso: Não seria o impulso para me transformar em um grande produtor de mel? Botamos o freezer encostado na cerca, certos de que abelhas pertencentes a algum movimento das sem colmeia se instalassem. Dois dias depois, ouvimos um barulhinho.

— Não disse que elas vinham? — comemorou o caseiro.

Fomos espiar cautelosamente. Dependurado nas grades havia um bando de... morcegos! Fugimos.

Na chácara há uma piscina. Proibi a limpeza.

— Como o senhor vai nadar?

 -— Não vou, neste frio.

A água começa a esverdear. Tento agora descobrir como evitar a dengue.   

Só temos um problema: o cortador de grama.

— Se eu não cortar, isso aqui vira mato.

Resolvi comprar uma ovelha. Nada mais útil. Poderia pastar e ainda

fornecer nutritivos litros de leite. E lã, caso eu encontrasse alguém capaz de fiar e tecer. Foi difícil. Tive de ir até perto de São Roque, onde consegui uma linda e econômica ovelhinha. Mal cheguei, o cachorro rosnou.

— E cão de caça, ele vai querer comer a ovelha.

Não deu outra. O caseiro passou dias de pavor tentando impedir os instintos selvagens do cão. A ovelhinha tremia, e nada de comer a grama! Para sobreviver, teve de dormir presa na cama do caseiro. Está sendo devolvida. Foi um prejuízo, que espero recuperar na conta de luz!

Parei de ouvir música. Para me distrair, canto em voz alta. Assim, além de evitar o meu consumo, evito o dos vizinhos. Ouvi falar em um abaixo-assinado, mas nada ainda chegou até mim.

Já ouvi um zunzunzum falando em camisa-de-força. Nem sempre uma atitude cívica é bem compreendida. O bom cidadão é, antes de tudo, um mártir!

Entendendo o texto

01. Por que o narrador proíbe a empregada de tomar banho em sua casa?

O narrador proíbe a empregada de tomar banho em sua casa para economizar energia elétrica, argumentando que o banho seria inútil, já que ela teria que tomar outro ao chegar em casa.

02. Como o narrador decide economizar energia ao utilizar a esteira?

O narrador decide economizar energia eliminando o uso do elevador e subindo os 122 andares do prédio a pé, substituindo assim o exercício da esteira.

03. Qual é a solução encontrada para justificar o uso do fogão a gás em vez do microondas?

         O narrador decide usar o fogão a gás para preparar refeições, abandonando a dieta de alimentos dietéticos adquiridos em supermercados.

04. Por que o narrador propõe um encontro no escuro a uma amiga que o visita?

          O narrador sugere um encontro no escuro para economizar energia elétrica, justificando que podem ter uma conversa agradável sem precisar olhar um para o outro.

05. Qual é a ideia inicial do narrador para o antigo freezer e como isso se transforma em um problema?

          Inicialmente, o narrador pensa em transformar o antigo freezer em uma colmeia para abelhas e produção de mel. No entanto, o resultado é a invasão do freezer por morcegos, tornando a ideia um problema.

06. Por que o narrador proíbe a limpeza da piscina em sua chácara?

          O narrador proíbe a limpeza da piscina alegando que não pretende nadar no frio. Ele está mais preocupado em evitar a dengue, procurando uma alternativa para lidar com a água parada.

07. Como o narrador tenta resolver o problema do cortador de grama em sua casa?

          O narrador decide comprar uma ovelha para pastar a grama, fornecendo leite e lã como benefícios adicionais. No entanto, isso se transforma em um problema quando o cachorro da casa tenta atacar a ovelha.

08. Por que o narrador para de ouvir música?

          O narrador para de ouvir música para reduzir o consumo de energia. Em vez disso, ele escolhe cantar em voz alta como forma de distração, evitando assim o uso de dispositivos musicais.

09. O que o narrador faz para evitar o consumo de energia dos vizinhos enquanto se distrai?

          O narrador canta em voz alta para se distrair, evitando assim o consumo de energia dos vizinhos e optando por uma forma mais econômica de entretenimento.

10. Como o narrador caracteriza a atitude cívica ao final da crônica?

      O narrador sugere que uma atitude cívica nem sempre é bem compreendida e que o bom cidadão, muitas vezes, é um mártir. Ele menciona ter ouvido falar em um abaixo-assinado e até mesmo em uma possível camisa-de-força, destacando a incompreensão social das suas ações em prol do racionamento de energia.

 

CRÔNICA: SÍNDROME DE CARRAPATO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Síndrome de Carrapato

               Walcyr Carrasco

GOSTO DE PASSEAR EM LOJAS. Em vez de me esfalfar em monótonas pistas de exercício, tento ativar a musculatura andando em shoppings ou em ruas comerciais. Pensei até em criar um método de emagrecimento desse tipo. Seria um sucesso, mesmo que não tirasse a barriga de ninguém. Admiro uma coisa, outra. Eventualmente, compro. Mas está ficando difícil. Não sei se é a crise, mas os vendedores andam com síndrome de carrapato. Grudam. Entro na loja e imediatamente vem alguém com um sorriso de orelha a orelha.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcYXweeW3OrPjzVyApxMAl-w8XMafu5uLOP6qHr1DWIYqFa6ewGIcZ8bWcGRY8qsAyv5ZQ1X9eEQi1GXRydiSz3c3g6e8NLEvel1_D8ihGatlqEccQmDxGCj_6M4agIK95ZQhlaeVwHRnc-f4SsUVN0usPOKG1d6Bn7ne8AF61Qmlcfbp51yublVX2A18/s320/CLIENTE.jpg


— Posso ajudar?

Tenho vontade de dizer que estou muito bem, não preciso de ajuda. Sorrio. — Só estou olhando. 

Caminho, tentando desfrutar a visão de copos, roupas, o que seja. O

vendedor corre atrás.

— Este até está com preço promocional.

         — Obrigado.        

Tento fugir, ele insiste.

— É só até amanhã.

Quase grito que já sei. Continuo a sorrir e dou dois passinhos. O vendedor dá dois passinhos atrás de mim e fica parado logo atrás, como um falcão observando a presa. Perco toda a vontade de continuar na loja. Vou embora, diante da cara decepcionada. Existe o tipo que faz questão de perguntar o nome e dizer o seu. Dali a pouco, se resolvo perguntar o preço:

— Qual é mesmo seu nome?

Se é para se fazer de simpático, por que não tenta um esforço de memória?

Há o que tenta se enturmar a qualquer custo. Outro dia, procurava uma

mochila para viagem. Vi uma bolsa de lona perfeita na vitrine.

— Quero essa aqui.

A mocinha correu para mostrar uma maior e mais cara.

— Esta é quase o mesmo preço, e é maior.

— Obrigado, mas prefiro a menor.   

Abriu a bolsa na minha frente.

         — A alça é de couro muito bom.    

— Sei. Vou levar.

         — Viaja muito?            

Sinto-me em um interrogatório. Resolvo não dar trela.

         — Pouco. .

— Vai para o Guarujá?

— Não. Ao Rio.

— Costuma ir muito para o Rio?

— Às vezes.

Entrego o cartão de crédito. As perguntas continuam. Não respondo e saio, provavelmente com fama de antipático. Pior foi o rapaz de uma grife de roupas masculinas.

— Gostei dessa calça. Tem meu número?

— Humm... experimente esta aqui.

Dois números menor. A braguilha mal fechava. Ele sorri, falso.

— Ficou muito bom.

Olho no espelho. Se respirasse mais fundo, era capaz de estourar o botão

da cintura.

— Não serviu.

— Garanto que está ótima. Usando número menor, Você fica mais magro.                   

Quase atiro as calças no nariz dele. Juro nunca mais pisar na loja — é horrível quando tentam nos fazer de bobos.

Vitoriosa foi uma vendedora de um shopping carioca. Escolhi a mercadoria exposta. Cheguei ao balcão decidido.

— Quero o "maio da vitrine. Qual o meu número?

Percorreu minha silhueta com um leve sorriso nos lábios.

— Grande.

Imaginei que a causa do sorriso fosse a barriga. Mandei trazer. Pediu no estoque, com toda a naturalidade.

— Quer experimentar?

— Acho que não precisa.

Saquei o talão de cheques. Só então notei que a padronagem não conferia.

— Não é este aqui. É ó azul.

:— Mas o azul é sunga!

Abriu o pacote, desfraldando uni maio feminino inteiriço, ideal para uma mãe de família de classe média. Perplexo, descobri a causa da confusão. Homem, no Rio, usa sunga. Maio sempre é feminino. Nós, paulistanos, é que falamos um termo ou outro. Ainda tentei argumentar:

— Você acha que eu, peludo desse jeito, ia usar maio de alcinha?

Sem se constranger, a diaba respondeu:

— O senhor pediu, eu vendi.

Fiquei imaginando a cena. Eu, com minhas pernas cabeludas, experimentando um maio listrado e ela dizendo:

— Ah, ficou bom, sim. É exatamente o seu número!

Levei a sunga. Pelo menos dessa vez a vendedora tinha savoir-faire.

Entendendo o texto

Foco Narrativo:

01. Qual é a abordagem principal do autor ao descrever suas experiências em lojas?

      A) A busca por produtos específicos.

      B) A relação com os vendedores.

     C) A preferência por shoppings.

     D) A luta contra a síndrome de carrapato.

Temática Central:

02. O que o autor sugere como método de emagrecimento no início da crônica?

     A) Dieta rigorosa.

     B) Exercícios monótonos.

    C) Passeios em shoppings.

    D) Método de emagrecimento não mencionado.

Comportamento dos Vendedores:

03. Como o autor se sente em relação aos vendedores que insistem após ele dizer "só estou olhando"?

     A) Irritado.

     B) Empolgado.

     C) Agradecido.

     D) Desinteressado.

Interação com Vendedores:

04. Como o autor reage quando um vendedor pergunta sobre seu nome?

      A) Diz seu nome imediatamente.

      B) Ignora a pergunta.

     C) Pergunta o nome do vendedor.

     D) Finge não lembrar seu próprio nome.

Estratégias de Vendedores:

05. Qual é a estratégia utilizada pelo vendedor ao mostrar uma bolsa maior e mais cara?

     A) Desconto especial.

     B) Elogios à qualidade.

    C) Comparação de preço.

    D) Venda persuasiva.

Atitude do Autor diante das Perguntas dos Vendedores:

06. Como o autor reage quando o vendedor tenta se enturmar fazendo perguntas pessoais?

     A) Responde detalhadamente.

     B) Ignora as perguntas.

     C) Dá respostas evasivas.

     D) Fica desconfortável.

Rejeição de Produtos:

07. Por que o autor decide nunca mais pisar em uma loja de roupas masculinas?

     A) Tamanho inadequado.

     B) Preço elevado.

     C) Vendedor insistentemente persuasivo.

     D) Má qualidade das roupas.

Confusão na Compra:

08. O que acontece quando o autor pede um maiô na loja?

      A) O vendedor faz uma confusão na cor.

      B) O vendedor não encontra o produto.

      C) O vendedor sugere um produto feminino.

      D) O autor decide não comprar nada.

Interação Cômica com a Vendedora:

09. Como o autor reage à sugestão da vendedora sobre o maiô feminino?

    A) Fica constrangido.

    B) Ri da situação.

    C) Argumenta com a vendedora.

    D) Aceita a sugestão sem contestar.

Conclusão e Atitude Final:

10. Qual é a atitude do autor diante da situação da compra do maiô?

     A) Retorna o produto.

     B) Compra o maiô feminino.

    C) Leva uma sunga.

    D) Desiste da compra.

 

 

CRÔNICA: TEMPO E A MEMÓRIA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Tempo e a Memória

               Walcyr Carrasco

OUTRO DIA OBSERVEI UMA FOTO minha, quando bebê. Um garoto gordinho, de chocalho na mão. Sei que sou eu. Ao mesmo tempo existe um certo estranhamento. Não me lembro de quando andava de gatinhas. Abro um livro da minha infância. Alice no País das Maravilhas. As ilustrações em preto-e-branco estão pintadas com lápis de cor. Fui eu! 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLqijmY23Zneuk1oojCMammZpiDG7-oLctNRxwOOs7nPEBJhX6PH_XJdzGRWgeM7roLcZth8jmWddzXwLrDTsCcSRiF6jjtQ2LXZ_j-8kJtz9dXBVKdCIRJoPqZproT0gIhTk72GRYfnV_DUJOtLKTuKNKyH1XexOIrOGrRUD3hQynQBWKWuCgLXvMPRE/s320/BEBE.jpg


Tive um ursinho de pelúcia, também. Não sei onde foi parar. Decidido a ser médico, eu lhe aplicava injeções. Acabou destruído, o coitado! Eu adorava o ursinho, como deixei desaparecer? O início de um novo ano é simbólico. Sempre se faz uma certa retrospectiva. Flashes passam pela minha cabeça. Um ano-novo em Ubatuba, quando eu era adolescente. Uma festa agitada. Andava com uma turma da qual não tenho mais notícia. Havia uma carioca, chamada Marcy. 

Só a conheci naquela passagem de ano... ou terá sido na seguinte, em Parati? Entre meus guardados há uma foto da garota. Um sorriso enorme. Não soube mais dela. A sua alegria, nunca esqueci. Tento imaginar. Como estará agora, uma mulher madura, com filhos? O que a vida lhe reservou? Um marido, uma separação? Terá ido viver fora do país? O sorriso permanece o, mesmo? Tive um grande amigo, Nelson, lá pelos vinte anos. Artista gráfico. Passei dois anos vivendo fora do país. Só nos escrevemos no começo. Quando voltei, perguntei dele a conhecidos comuns.

— Sumiu. De um dia para o outro não se teve mais notícia. A mulher procurou por todo lado. Foi na época da ditadura militar. Nunca soube que tivesse envolvimento político. Seria um segredo seu? Ou simplesmente largou tudo? Saiu de casa para ir ao cinema e nunca mais voltou? A pergunta dói. Sumiu ou foi sumido? E minha amiga Malu, psicóloga? Íamos dançar sempre. Não perdíamos festas. Só a vi muito tempo atrás, em um lançamento de livro. Beijou-me e pediu: — Não desapareça. Prometi ligar na semana seguinte. Há anos. Resta a vaga informação de que ela fez doutorado. Será que ainda dança? Outro psicólogo, o Ercílio. Gostava de psicodrama. Continuará acreditando em um modo de vida alternativo? Ou transformou-se em um homem formal? Há gente que nos acompanha a vida toda. Tenho uma amiga desde a infância. Não nos falamos muito. Outro dia, depois de uns cinco anos, ela me ligou.

— Estou com um problema afetivo. Preciso de um conselho e só tenho você a quem recorrer. Ficamos duas horas ao telefone. No final, ela agradeceu, aliviada.

— E bom ter com quem falar. Passo anos sem ver o Pérsio e o Raul, a Sônia e a Míriam. Se nos encontramos, começamos a conversar como se tivéssemos nos visto a noite anterior. Certas amizades são assim, não? A gente fica um tempo enorme sem se ver. Quando se encontra, retoma do ponto em que parou. Não consigo deixar de pensar, ao começar um ano, nas coisas que poderia ter feito. Quis ser pintor, e há uma tela horrenda que perpetrei aos onze anos. Médico. Leitor de taro. Fica uma certa lamentação pelos amigos que nunca mais vi. Por tudo que poderíamos ter vivido juntos. Também, outras pessoas entraram na minha vida. Olhando em torno, eu penso que essa é a grande vantagem dos anos. A gente forma famílias não só de sangue. Mas de pessoas que nos acompanham, de perto ou de longe, sempre em um caminho do coração. Vejo a foto de um bebê que fui. Pergunto-me.

— A vida é apenas uma grande recordação? Vem a resposta, como se o bebê da foto conversasse comigo.

— É uma continuidade. Você de hoje é fruto do de ontem. Sorrio. A entrada de um novo ano mostra que a vida continua. Passado, presente e futuro se misturam, com muita coisa boa para acontecer.

Entendendo o texto

Enredo e Foco Narrativo:

01. Qual é o principal tema abordado na crônica "O Tempo e a Memória"?

      A) Amizade.

      B) Infância.

     C) Retrospectiva.

     D) Ano-novo.

Personagens:

02. O que aconteceu com o ursinho de pelúcia do autor quando ele era criança?

      A) Foi doado.

      B) Foi perdido.

      C) Foi destruído.

      D) Foi guardado.

Tempo e Espaço:

03. Em que época o autor menciona ter passado dois anos vivendo fora do país?

     A) Na infância.

     B) Na adolescência.

     C) Na juventude.

     D) Na idade adulta.

Tipo de Linguagem:

04. Como o autor se refere à sua tentativa de ser médico na infância?

     A) "Coitado!".

     B) "Perpetrei".

     C) "Horrenda".

      D) "Sorrio".

Memórias e Recordações:

05. O que o autor observa ao começar um novo ano?

    A) Fotografias antigas.

     B) Flashes de eventos passados.

     C) Pinturas feitas na infância.

     D) Livros de sua juventude.

Enredo e Desenvolvimento:

06. Por que o autor se sente estranhado ao olhar uma foto de sua infância?

     A) Não reconhece a si mesmo.

     B) Não lembra de andar de gatinhas.

     C) Não gosta das ilustrações do livro.

     D) Não encontra seu ursinho de pelúcia.

Personagens e Desfechos Misteriosos:

07. O que aconteceu com o amigo Nelson?

    A) Envolvimento político.

    B) Largou tudo e sumiu.

    C) Mudou-se para o exterior.

    D) Virou médico.

Desenvolvimento de Personagens:

08. O que a amiga Malu fez depois de anos sem se verem?

    A) Doutorado.

    B) Desapareceu.

    C) Tornou-se médica.

    D) Escreveu um livro.

Reflexão sobre a Vida:

09. Como o autor descreve a vida ao observar a foto de um bebê que ele foi?

     A) Como uma grande lamentação.

     B) Como uma continuidade.

    C) Como uma recordação passageira.

    D) Como uma mistura de passado e futuro.

Conclusão e Tema Central:

10. O que a entrada de um novo ano representa para o autor?

    A) Fim das recordações.

    B) Continuidade da vida.

    C) Perda de amizades.

    D) Lamentação pelo passado.