quinta-feira, 23 de novembro de 2023

FÁBULA: BOBAGEM - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Fábula: Bobagem

              Luís Fernando Veríssimo

Emocionado e um pouco bêbado, aos cinco minutos do ano novo ele resolveu telefonar para o velho desafeto.

- Alô?

- Alô. Sou eu.

- Eu quem?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirnYwpJWvgNPoq4P3ZHGlSKPfCOEljlvnUwIiPxikQkxlNn_YlbKgbgXVq9cHUQTQmypaqcF8Gf1u1vrMgUavjTNQ7jhxa4LXjwyP4jeuT878PXjhIYh06EgCELgM1MyR_7xbmqg-hy3JcWELqeLyumFweKhQsbF0wN9HfyzG1CBxSwCHCinsSJxoT3Nk/s1600/TELEFONE.jpg


- Eu, pô. O outro fez silêncio. Depois disse:

- Ah. É você.

- Olha aqui, cara. Eu estou telefonando pra te desejar um feliz ano-novo. Entendeu?

- Obrigado.

- Obrigado, não. Olha aqui. Sei lá, pô...

- Feliz ano-novo pra você também.

- Eu nem me lembro mais por que nós brigamos. Juro que não me lembro.

- Eu também não lembro.

- Então, grande. Como vai Vivinha?

- Bem, bem. Quer dizer, mais ou menos. As enxaquecas... Ele ficou engasgado. De repente se deu conta de que tinha saudades até das enxaquecas da Vivinha. Como podiam ter passado tantos anos sem se ver? Como tinham deixado uma bobagem afastá-los daquela maneira? As pessoas precisavam se reaproximar. Aquele seria o seu projeto para o fim do milênio. Reaproximar-se das pessoas. Só dar importância ao que aproximava. Puxa? Estava tão enternecido com as enxaquecas da Vivinha que mal podia falar.

- A vida é muito curta. Você está me entendendo? Assim não dá. Era como se estivesse reclamando com o fornecedor. A vida vinha com a carga muito pequena. Era preciso um botijão maior, senão não dava mesmo. E ainda desperdiçavam vida com bobagem. Ele quis marcar um encontro para ontem. No Lucas, como antigamente. O outro foi mais sensato e contrapropôs hoje, prevendo que ontem seria um dia de ressaca e segundos pensamentos. E tinha razão. Ontem à noite, ele voltou a telefonar. Falou secamente. Pediu desculpas, disse que não poderia ir ao encontro e despediu-se com um formal "Melhoras para a Vivinha. Tinha se lembrado da bobagem que motivara a briga.

Entendendo o texto

01. Qual é o estado emocional do personagem principal no início da história "Bobagem"?

a) Irritado.

b) Triste.

c) Emocionado e um pouco bêbado.

d) Desanimado.

02. Quando o personagem decide ligar para seu velho desafeto?

a) À meia noite de Natal.

b) Às cinco da tarde.

c) Às cinco da manhã do ano novo.

d) No meio da tarde do ano novo.

03. Como o desafeto inicialmente reage ao telefonema?

a) Agradecer calorosamente.

b) Fica confuso e pergunta quem é.

c) Recusa-se a falar.

d) Expressar raiva imediatamente.

04. Qual é o projeto que o personagem decidiu realizar para o fim do milênio?

a) Viajar pelo mundo.

b) Aprender um novo idioma.

c) Reaproximar-se das pessoas.

d) Escrever um livro.

05. Onde o personagem propõe marcar um encontro com seu desafeto?

a) Em casa.

b) Sem trabalho.

c) Não Lucas, como antigamente.

d) Em um restaurante chique.

06. Qual é a ocorrência do fracasso na proposta de encontro?

a) Aceita imediatamente.

b) Contrapropõe um dado diferente.

c) Recusa-se categoricamente.

d) Fique em silêncio.

07. O que o personagem fez ontem à noite após a proposta de encontro?

a) Liga novamente para o desafeto.

b) Decidir cancelar o encontro.

c) Volta ao telefone de forma seca.

d) Expressa arrependimento pela briga.

08. Por que o personagem pede desculpas durante a segunda ligação?

a) Por ter se embriagado.

b) Por não conseguir lembrar da briga.

c) Por ter esquecido de desejar feliz ano-novo.

d) Por ter lembrado da bobagem que motivou a briga.

09.Como o personagem se despede-se durante a segunda ligação?

a) Com um caloroso "Até logo".

b) Desejando melhorias para a Vivinha.

c) Com um convite para o próximo encontro.

d) Ignorando ou desprotegido.

10. Qual é a reflexão principal do personagem ao final da história?

a) A importância de guardar o rancor.

b) A brevidade da vida e a necessidade de reaproximação.

c) A inutilidade de pedir desculpas.

d) A preferência por manter distância das pessoas.

FÁBULA: A NOVATA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Fábula: A Novata

              Luís Fernando Veríssimo

Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na redação. Os olhares que recebeu quando se encaminhou para a mesa do editor. De curiosidade. De superioridade. Ou apenas de indiferença. Do editor não recebeu olhar algum.

- Quem é você? - ele perguntou, sem levantar a cabeça. Sandrinha se identificou.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtuMQAPSlUDClKScN2DDBqjAAQUYyogInwuYgNiOAiixhhhajVVYrfvL9r958kQn0YaEYi4YecFwI2Bf0_S-7MWtA35kNqwOCjOi6-hSeC1OuZaekHnwjF7T-NGRYQ2LRROA0XNjnWsB5U8Hi5G42mibkO8O4uWYaJzqYrIqZ97AoERMuNVhzLx__LYiw/s1600/rUDI.jpg


- Ah, a novata - disse ele.

- Você deve ser das boas. Recém formada e já botaram a trabalhar comigo. Você sabe o que a espera?

- Bem, eu...

- Esqueça tudo o que aprendeu na escola. Isto aqui é a linha de frente do jornalismo moderno. Aqui você tem que ter coragem. Garra. Instinto. Você acha que tem tudo isso?

- Acho que sim. Ele a olhou pela primeira vez. Seu sorriso era cruel.

- É o que veremos - disse. - já vi muita gente quebrar a cara aqui. Desistir e pedir transferência para a crônica policial. É preciso ter estômago. Você tem estômago?

- Tenho.

Ele gritou:

- Dalva! Uma mulher aproximou-se da mesa. Tinha a cara de quem já viu tudo na vida e gostou de muito pouco.

O editor perguntou:

- Você já pegou o Rudi?

- Estou indo agora.

- Leve ela. Dalva olhou para Sandra como se tivesse acabado de tira-la do nariz. Voltou a olhar para o editor.

- Não sei, chefe. O Rudi...

- Quero ver do que ela é feita.

- Está bem. Antes de saírem, Dalva perguntou para Sandra:

- Que equipamento você usa? Sandra mostrou o que tinha dentro da bolsa. Dalva mostrou o seu.

- Certo. Vamos sincronizar gravadores. Testando. Um, dois, três... As duas aproximaram-se da porta do apartamento de Rudi. Antes de bater na porta, a veterana avisou:

- Chegue para trás. De dentro do apartamento veio uma voz assustada.

- Quem é?

- Abra! A porta entreabriu-se. Rudi espiou para fora. Dalva empurrou a porta ao mesmo tempo que tirava o gravador da bolsa. Sandra a seguiu para dentro do apartamento. Rudi recuou.

- Isto é invasão de privacidade! - gritou.

- Quieto! Prepare-se para falar, Rudi. E lembre-se: tudo que você disser pode ser usado na edição de domingo.

- Não vou dizer nada. Dalva forçou-o a sentar. O gravador já estava a milímetros da sua boca.

- Ah, vai - disse Dalva.

- Vai dizer tudo. Loção de barba!

- Ahn... "Animal", de Givenchy!

- Cuecas justas ou tipo short?

- Justas.

- De que loja?

- Não tenho uma loja favorita.

- Pense melhor, Rudi.

- Está bem. A "Papoulas".

- Sua cor favorita.

- Verde. Não! Azul!

- Vamos, Rudi. É verde ou é azul?

- Azul, azul!

- Quem você levaria para uma ilha deserta?

- Não sei. Me deixem pensar.

- "Pensar'", Rudi? "Pensar"?! Você acha que está respondendo para o suplemento cultural? Vamos, quem você levaria para uma ilha deserta? Dalva registrou com surpresa que Sandrinha é que fizera a pergunta Rudi respondeu.- A minha mãe. Não. A Malu Mader.

- Qual delas?

- Não pode ser as duas?

- Você sabe que não, Rudi. Estamos perdendo tempo. Quem?

- A Malu Mader.

- Pasta de dente.

- Crest.

- Seu livro de cabeceira.

- Kalil Gibran.

- Maior emoção.

- Foi, foi... Quando minha cadela "Tutsi" teve filhotinhos.

- Prato preferido?

- Não sei. Não sei!

- Sabe sim.

- Picadinho de carne com ovo.

- Sua filosofia.

- Viver e deixar viver.

- Se você não fosse você, quem gostaria de ser?

- 0... o...

- Estamos esperando!

- O Gerald Thomas ou o padre Marcelo Rossi!

- Qual dos dois?

- Fale! Agora Sandrinha também tinha seu microfone perto da boca de Rudi.

- O padre Marcelo Rossi! Rudi começou a soluçar. Às duas se olharam. Dalva permitiu-se um sorriso.

- Você é boa, novata. Acho que vai se dar bem neste trabalho... - Obrigada. Mas Sandra não tinha terminado.

- Não pense que acabou ainda, Rudi. Sabonete!

Entendendo o texto

01. Quem é Sandrinha na história "A Novata"?

a) A editora do jornal.

b) Uma colega de trabalho de Rudi.

c) A mãe de Rudi.

d) Uma entrevistada por Dalva.

02. Qual é a ocorrência inicial do editor ao encontrar Sandrinha na redação?

a) Ele a cumprimenta calorosamente.

b) Ele a ignora completamente.

c) Ele a elogia por sua coragem.

d) Ele fez uma pergunta sobre suas habilidades.

03. O que o editor enfatiza sobre o trabalho na redação?

a) A importância da experiência prévia.

b) A necessidade de coragem e instinto.

c) A ênfase na crônica policial.

d) A preferência por jornalismo cultural.

04. Quem é Dalva na história?

a) Uma editora-chefe.

b) A mãe de Sandrinha.

c) Uma colega de trabalho de Rudi.

d) Uma entrevistada de Rudi.

05. O que Dalva pediu a Sandra antes de entrar no apartamento de Rudi?

a) Para verificar o equipamento.

b) Para se afastar da porta.

c) Para fazer anotações.

d) Para chamar a polícia.

06. Qual é a profissão de Rudi?

a) Policial.

b) Jornalista.

c) Cantor.

d) Ator.

07. Como Dalva e Sandra fornecem informações de Rudi?

a) Ameaçando-o.

b) Subornando-o.

c) Entrevistando-o de forma amigável.

d) Invadindo sua privacidade.

08.Quem Rudi escolhe levar para uma ilha deserta quando questionado por Dalva?

a) Sua mãe.

b) Malu Mader.

c) As duas opções acima.

d) Nenhuma das opções acima.

09.Qual é a ocorrência de Rudi ao ser questionado sobre sua filosofia de vida?

a) Ele responde imediatamente.

b) Ele soluça e hesita.

c) Ele se recusa a responder.

d) Ele ri sarcasticamente.

10. Qual é o objeto da última pergunta feita a Rudi por Dalva e Sandra?

a) Livro de cabeceira.

b) Pasta de dente.

c) Sabonete.

d) Maior emoção.

 

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CRÔNICA: PALAVREADO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Palavreado

               Luís Fernando Veríssimo

Gosto da palavra “fornida”. É uma palavra que diz tudo o que quer dizer. Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é. Não gorda mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com “forno”. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtuGa02wfZUpZof9tkNRMPAt9gRNVRndRVn6PZ7WYvanCUBuFvCwU1dAs3QdTFa5fJhtc2DgvO1JLoE1RaiUmE8USm4NYr9x7XcIxLhA3YyVfpKxX6aBupkXBMso735wuhEV4a1tYH7aq0KcmjpC-YquUTnr6yjBAWDsrzkJ7Om12GXn5gLWVQLgBSFVc/s320/PALAVREADO.jpeg

Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida. Lascívia, imperatriz de Cântaro, filha de Pundonor. Imagino-a atraindo todos os jovens do reino para a cama real, decapitando os incapazes pelo fracasso e os capazes pela ousadia.

Um dia chega a Cântaro um jovem trovador, Lipídio de Albornoz. Ele cruza a Ponte de Safena e entra na cidade montado no seu cavalo Escarcéu. Avista uma mulher vestindo uma bandalheira preta que lhe lança um olhar cheio de betume e cabriolé. Segue-a através dos becos de Cântaro até um sumário – uma espécie de jardim enclausurado -, onde ela deixa cair a bandalheira. É Lascívia. Ela sobe por um escrutínio, pequena escada estreita, e desaparece por uma porciúncula. Lipídio a segue. Vê-se num longo conluio que leva a uma prótese entreaberta. Ele entra. Lascívia está sentada num trunfo em frente ao seu pinochet, penteando-se. Lipídio, que sempre carrega consigo um fanfarrão (instrumento primitivo de sete cordas), começa a cantar uma balada. Lascívia bate palmas e chama:

– Cisterna! Vanglória!

São suas escravas que vêm prepará-la para os ritos do amor. Lipídio desfaz-se de suas roupas – o sátrapa, o lúmpen, os dois fátuos – até ficar só de reles. Dirige-se para a cama cantando uma antiga minarete. Lascívia diz:

– Cala-te, sândalo. Quero sentir o seu vespúcio junto ao meu passe-partout.

Atrás de uma cortina, Muxoxo, o algoz, prepara seu longo cadastro para cortar a cabeça do trovador.

A história só não acaba mal porque o cavalo de Lipídio, Escarcéu, espia pela janela na hora em que Muxoxo vai decapitar seu dono, no momento entregue aos sassafrás, e dá o alarme. Lipídio pula da cama, veste seu reles rapidamente e sai pela janela, onde Escarcéu o espera.

Lascívia manda levantarem a Ponte de Safena, mas tarde demais. Lipídio e Escarcéu já galopam por motins e valiums, longe da vingança de Lascívia.

“Falácia” é um animal multiforme que nunca está onde parece estar. Um dia um viajante chamado Pseudônimo (não é o seu verdadeiro nome) chega à casa de um criador de falácias, Otorrino. Comenta que os negócios de Otorrino devem estar indo muito bem, pois seus campos estão cheios de falácias. Mas Otorrino não parece muito contente. Lamenta-se:

– As falácias nunca estão onde parecem estar. Se elas parecem estar no meu campo é porque estão em outro lugar.

E chora:

– Todos os dias, de manhã, eu e minha mulher, Bazófia, saímos pelos campos a contar falácias. E cada dia há mais falácias no meu campo. Quer dizer, cada dia eu acordo mais pobre, pois são mais falácias que eu não tenho.

– Lhe faço uma proposta – disse Pseudônimo. – Compro todas as falácias do seu campo e pago um pinote por cada uma.

– Um pinote por cada uma? – disse Otorrino, mal conseguindo disfarçar o seu entusiasmo. – Eu devo não ter umas cinco mil falácias.

– Pois pago cinco mil pinotes e levo todas as falácias que você não tem.

– Feito.

Otorrino e Bazófia arrebanharam as cinco mil falácias para Pseudônimo. Este abre o seu comichão e começa a tirar pinotes invisíveis e colocá-los na palma da mão estendida de Otorrino.

– Não estou entendendo – diz Otorrino. – Onde estão os pinotes?

– Os pinotes são como as falácias – explica Pseudônimo. – Nunca estão onde parecem estar. Você está vendo algum pinote na sua mão?

– Nenhum.

– É sinal de que eles estão aí. Não deixe cair.

E Pseudônimo seguiu viagem com cinco mil falácias, que vendeu para um frigorífico inglês, o Filho and Sons. Otorrino acordou no outro dia e olhou com satisfação para o seu campo vazio. Abriu o besunto, uma espécie de cofre, e olhou os pinotes que pareciam não estar ali!

Na cozinha, Bazófia botava veneno no seu pirão.

*

“Lorota”, para mim, é uma manicura gorda. É explorada pelo namorado, Falcatrua. Vivem juntos num pitéu, um apartamento pequeno. Um dia batem na porta. É Martelo, o inspetor italiano.

– Dove está il tuo megano?

– Meu quê?

– Il fistulado del tuo matagoso umbráculo.

– O Falcatrua? Está trabalhando.

– Sei. Com sua tragada de perônios. Magarefe, Barroco, Cantochão e Acepipe. Conheço bem o quintal. São uns melindres de marca maior.

– Que foi que o Falcatrua fez?

– Está vendendo falácia inglesa enlatada.

– E daí?

– Daí que dentro da lata não tem nada. Parco manolo!

ENTENDENDO O TEXTO

01. Qual é a sensação transmitida pela palavra "fornida" na perspectiva do autor?

     a) Magrez

     b) Cheiura e roliçez

     c) Freeza

     d) Delicadeza

02. Como o autor descreve a personificação da palavra "lascívia" na crônica?

     a) Uma rainha reclusa

     b) Uma princesa audaciosa

     c) Uma imperatriz atraente

     d) Uma condessa impiedosa

03. Qual é o nome do jovem trovador que chega ao Cântaro na crônica?

     a) Lipídio de Albornoz

     b) Muxoxo

     c) Escarcéu

     d) Pundonor

04. O que salva Lipídio da vingança de Lascívia na crônica?

      a) Sua habilidade em cantar

      b) A intervenção de Escarcéu, seu cavalo

     c) O silêncio arrependido de Lascívia

     d) A chegada de Muxoxo

05. Qual é a relação entre "falácia" e "pseudônimo" na segunda parte da crônica?

     a) Pseudônimo é o criador de falácias

     b) Pseudônimo é um viajante que compra falácias

    c) Pseudônimo é o algoz de Otorrino

    d) Pseudônimo é o cavalo de Lipídio

06. O que Otorrino recebe em troca das falácias vendidas a Pseudônimo?

     a) Dinheiro

     b) Pinotes

     c)Verdade

    d) Mais falácias

07. Como Pseudônimo explica a Otorrino a natureza dos pinotes?

     a) São visíveis e tangíveis

     b) Nunca estão onde parecem estar

     c) São como falácias, sempre no campo

     d) Representam uma riqueza verdadeira

08. Qual é a relação entre "lorota" e "Falcatrua" na terceira parte da crônica?

     a) São rivais em negócios

     b) São parceiros em um esquema de venda

     c) São parentes distantes

     d) São inimigos declarados

09. Quem é Martelo na crônica e quem ele acusa Falcatrua de fazer?

      a) Um inspetor italiano; vender falácia inglesa enlatada

      b) Um comerciante local; explorar lorota

      c) Um trovador; cantar para Lascívia

     d) Um cavalheiro; salvar Lipídio

10. Qual é o desfecho da situação envolvendo Falcatrua e a acusação de Martelo?

     a) Falcatrua é presa

     b) Lorota é expulsa

     c) Falcatrua escapa ileso

    d) Falcatrua e Lorota se casam

CRÔNICA: O JARGÃO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: O JARGÃO

                Luís Fernando Veríssimo 

Nenhuma figura é tão fascinante quanto o Falso Entendido. É o cara que não sabe nada de nada, mas sabe o jargão. E passa por autoridade no assunto. Um refinamento ainda maior da espécie é o tipo que não sabe o jargão. Mas inventa. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0OfWV6aT5jhCSVNaSYIFQ4ovpQq6vxw-aNEyr2PT1jNxKlhvDPKW5_JoZ_fON9QXofvR6UX9F_4poiVWNLpJ9cHMBlvXPlx-ujRC6fIcYxMOBFhZ0tji2t__WoV5AnvKvN0L1vAkeB6iMMbvzndwMCbZIfR-g_z7Tq6WsBA_7HIAzttOUQlEumkds0Lw/s320/JARGAO.png


      - Ó Matias, você que entende de mercado de capitais...

      - Nem tanto, nem tanto... (Uma das características do Falso Entendido é a falsa modéstia.) 

      - Você, no momento, aconselharia que tipo de aplicação? 

      - Bom. Depende do yield pretendido, do throwback e do ciclo refratário. Na faixa de papéis top market – ou o que nós chamamos de topimarque –, o throwback recai sobre o repasse e não sobre o release, entende? 

      - Francamente, não. Aí o Falso Entendido sorri com tristeza e abre os braços como quem diz “É difícil conversar com leigos...”. Uma variação do Falso Entendido é o sujeito que sempre parece saber mais do que ele pode dizer. A conversa é sobre política, os boatos cruzam os ares, mas ele mantém um discreto silêncio. Até que alguém pede a sua opinião, e ele pensa muito antes de se decidir a responder: 

     - Há muito mais coisa por trás disso do que você pensa... 

   Ou então, e esta é mortal: 

     - Não é tão simples assim...

   Faz-se aquele silêncio que precede as grandes revelações, mas o falso informado não diz nada. Fica subentendido que ele está protegendo as suas fontes em Brasília. E há o falso que interpreta. Para ele, tudo o que acontece deve ser posto na perspectiva de vastas transformações históricas que só ele está sacando. 

    - O avanço do socialismo na Europa ocorre em proporção direta ao declínio no uso de gordura animal nos países do Mercado Comum. Só não vê quem não quer. 

   E se alguém quer mais detalhe sobre a sua insólita teoria, ele vê a pergunta como manifestação de uma hostilidade bastante significativa a interpretações não ortodoxas, e passa a interpretar os motivos de quem o questiona, invocando a Igreja medieval, os grandes hereges da história, e vocês sabiam que toda a Reforma se explica a partir da prisão de ventre de Lutero? 

Mas o jargão é uma tentação. Eu, por exemplo, sou fascinado pela linguagem náutica, embora minha experiência no mar se resume a algumas passagens em transatlânticos onde a única linguagem técnica que você precisa saber é “Que horas servem o bufê?”. Nunca pisei num veleiro, e se pisasse seria para dar vexame na primeira onda. Eu enjoo em escada rolante. Mas, na minha imaginação, sou um marinheiro de todos os calados. Senhor de ventos e velas e, principalmente, dos especialíssimos nomes da equipagem. 

  Me imagino no leme do meu grande veleiro, dando ordens à tripulação: 

     - Recolher a traquineta! 

     - Largar a vela bimbão, não podemos perder esse Vizeu. 

   O vizeu é um vento que nasce na costa ocidental da África, faz a volta nas Malvinas e nos ataca a boribordo, cheirando a especiarias, carcaças de baleia e, estranhamente, a uma professora que eu tive no primário. 

    - Quebra o lume da alcatra e baixar a falcatrua! 

    - Cuidado com a sanfona de Abelardo! 

   A sanfona é um perigoso fenômeno que ocorre na vela parruda em certas condições atmosféricas e que, se não contido a tempo, pode decapitar o piloto. Até hoje não encontraram a cabeça do Comodoro Abelardo. 

   - Cruzar a spínola! Domar a espátula! Montar a sirigaita! Tudo a macambúzio e dos quartos de trela senão afundamos, e o capitão é o primeiro a pular. 

   - Cortar o cabo de Eustáquio! 

VERÍSSIMO, Luís Fernando. As mentiras que os homens contam. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, pp. 69-71 (Adaptado).

Entendendo o texto

01. Quem é o personagem principal da crônica "O JARGÃO"?

      O personagem principal da crônica é o Falso Entendido, que se destaca por sua falta de conhecimento real, mas habilidade em usar jargões para parecer uma autoridade em diversos assuntos.

02. Qual é a característica marcante do Falso Entendido?

      O Falso Entendido possui a habilidade de utilizar jargões, mesmo sem entender completamente seu significado, criando uma falsa impressão de expertise nos assuntos discutidos.

03. Como o Falso Entendido reage quando questionado sobre sua suposta especialidade?

      O Falso Entendido muitas vezes responde com falsa modéstia, sorri com tristeza e utiliza termos técnicos e complexos, deixando os interlocutores confusos.

04. Quais são algumas variações do Falso Entendido demonstrações na crônica?

       Além do Falso Entendido clássico, há o que parece saber mais do que diz, o que interpreta eventos de forma peculiar e o que guarda o silêncio estratégico, indicando conhecimento privilegiado.

05. Como o autor descreve a tentativa de jargão em sua própria vida?

       O autor revela ser fascinado pela linguagem náutica, mesmo sem experiência no mar, criando uma imaginação de si mesmo como um hábil marinheiro comandando um veleiro e utilizando termos técnicos fictícios.

06. Qual é a importância do jargão na narrativa?

      O jargão serve como uma ferramenta para ilustrar a falsa expertise e a tentativa de aparentar conhecimento em áreas específicas, mesmo quando a compreensão real é limitada.

07. Como o autor explora o humor na crônica?

      O autor utiliza o contraste entre a falta de conhecimento real dos personagens e a confiança aparente gerada pelo uso de jargões, criando situações cômicas e irônicas.

08. Existe um clímax na crônica "O JARGÃO"?

      O texto não apresenta um clímax tradicional, mas sim uma sucessão de situações humorísticas envolvendo o Falso Entendido e suas interações com os outros personagens.

09. Como a crônica se desenvolve até seu estágio final?

      A crônica se desenvolve explorando as diversas facetas do Falso Entendido, suas interações e a tentativa do uso de jargões. Não segue uma narrativa linear, mas sim uma sequência de episódios humorísticos.

10. Qual é a mensagem subjacente na crônica "O JARGÃO"?

      A crônica aborda satiricamente a vaidade de parecer explorador utilizando jargões, destacando a falta de substância por trás de uma linguagem técnica aparentemente sofisticada.