sexta-feira, 15 de outubro de 2021

CRÔNICA: O GATO SOU EU - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: O gato sou eu

              Fernando Sabino

        – Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.

        – Continuou dormindo?

        – Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.

        – Que espécie de gato?

        – Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.

        – A que você associa essa imagem?

        – Não era uma imagem: era um gato.

        – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?

        – Associo a um gato.

        – Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.

        – Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.

        – Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.

        – Uma projeção do senhor?

        – Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.

        – Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.

        – Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.

        – Em quem o senhor está falando?

        – Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.

        – Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e disto não abro mão.

        – Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.

        – Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?

        – Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.

        – Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato sou eu, não é mesmo?

        – Aí é que você se engana. O gato é você, na sua opinião. E sua opinião é suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o gato é uma representação do que significo para você. Portanto, insisto em dizer: o gato sou eu.

        – E eu insisto em dizer: não é.

        – Sou.

        – Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais aqui.

        – Observe como inconscientemente você está rejeitando minha interferência na sua vida através de uma chantagem…

        – Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?

        – É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um gato.

        – Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta até dentro do meu sonho.

        – Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir nele a forma de um gato.

        – Já disse que o gato sou eu!

        – Sou eu!

        – Ponha-se para fora do meu gato!

        – Ponha-se para fora daqui!

        – Sou eu!

        – Eu!

        – Eu! Eu!

        – Eu! Eu! Eu!

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173-6.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p.142-8.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavra abaixo:

·        Onírico: que diz respeito a sonhos.

·        Reverencial: que manifesta reverência, respeito profundo.

·        Subconsciente: que existe na mente, mas não está ao alcance imediato da consciência.

02 – Converse com a turma e o professor a respeito das hipóteses levantadas antes da leitura.

a)   A situação engraçada imaginada por você, com base no título, foi tratada na crônica?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Que situação você imaginou? O que o levou a imaginar essa situação?

Resposta pessoal do aluno.

c)   O paciente e o psicanalista se entenderam na conversa?

Não.

d)   Você imaginava que eles iriam se entender?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Embora essa seja uma crônica narrativa, ela não apresenta narrador.

a)   A ausência de intervenções do narrador compromete o entendimento da história narrada? Por quê?

Não. As informações sobre os personagens, suas reações e os demais elementos da estrutura narrativa da crônica são todos perceptíveis com base no diálogo entre os personagens.

b)   Essa característica de a ação ser inteiramente construída pelo diálogo entre os personagens aproxima a crônica “O gato sou eu” de outro gênero textual. Qual?

(  ) Conto.

(X) Texto dramático.

(   ) Poema.

Justifique a resposta que você assinalou.

Essa característica aproxima a crônica do texto dramático, no qual comumente não há narrador, pois a ação é toda construída pelos diálogos entre personagens.

04 – O paciente conta ao psicanalista algo que provoca uma tensão na conversa entre eles.

a)   Qual é o fato contado que provoca essa tensão?

O fato de o paciente ter sonhado com um gato é o que provoca a tensão na conversa entre ele e o psicanalista.

b)   Quanto a estrutura narrativa, como pode ser classificada essa tensão?

(   ) Apresentação.

(X) Conflito.

(   ) Clímax.

(   ) Desfecho.

Explique sua resposta.

Do ponto de vista narrativo, isso e um conflito, pois ambos, psicanalista e paciente, acreditam ser o gato, o conflito se dá pois um procura dissuadir o outro dessa ideia.

05 – A palavra , na frase a seguir, costuma ser classificada como um advérbio de lugar.

        – Aí então, eu sonhei que tinha acordado.”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

a)   Considerando o contexto, é possível afirmar que essa palavra faz referência a um lugar? O que ela expressa?

Não faz referência a um lugar; expressa uma continuidade, complemento a algo que já fora dito.

b)   Com base nesse sentido, é possível afirmar que essa frase de abertura coincide com o início da conversa?

Não.

c)   A brevidade é uma das marcas do gênero crônica. Levante hipótese que justifique o uso dessa palavra na abertura do texto.

Uma hipótese possível é que, ao começar a crônica por essa palavra, o autor enfoca, logo na abertura, o conflito da narrativa, o que contribui para a brevidade característica da crônica.

06 – Releia o trecho a seguir e escreva no final de cada parágrafo quem é o personagem que está falando, se paciente ou psicanalista.

        “– [...] Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato. Paciente.

        – A que você associa essa imagem? Psicanalista.

        – Não era uma imagem: era um gato. Paciente.

        – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela? Psicanalista.

        – Associo a um gato.” Paciente.

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

a)   Na fala do psicanalista, o sentido da palavra imagem é literal ou figurado? Explique.

Para o psicanalista, o sentido de imagem é figurado, pois, para ele o gato “simboliza” algo, no caso, “uma profunda vivência interior”, portanto imagem tem um sentido de representação simbólica.

b)   E na fala do paciente? Explique.

Para o paciente, o sentido de imagem é literal, pois para ele o gato não pode ser uma representação, reprodução visual, daí afirmar: “Não era uma imagem: era um gato”.

07 – Leia o trecho a seguir e as afirmações sobre ele. Depois marque a alternativa correta.

        “– Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

I – O psicanalista acredita despertar temor no paciente.

II – Para o psicanalista, o gato simboliza alguém desconhecido pelo paciente.

III – A palavra que sintetiza o conteúdo da fala do psicanalista é “representação”.

a)   Todas as informações estão corretas.

b)   Somente I e III estão corretas.

c)   Somente I e II estão corretas.

d)   Somente III é correta.

08 – Releia este trecho e, antes de responder às questões, identifique a quem pertence cada turno de fala.

        “– Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu. Psicanalista.

        – Uma projeção do senhor? Paciente.

        – Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você. Psicanalista.

        – Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.” Paciente.

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 174.

a)   A que classe de palavras pertence a palavra eu na frase do psicanalista “O que se sonha não passa de uma projeção do eu”?

A palavra eu é um substantivo.

b)   E na frase do paciente “Eu sou eu”, a que classe gramatical a palavra eu pertence?

A palavra eu, nessa frase, é um pronome.

c)   Explique o efeito de humor produzido nesse trecho com base nas diferenças de classe gramatical da palavra eu.

O paciente em sua fala, demonstra compreender que o psicanalista se refere à individualidade do ser, ao “eu” como pronome pessoal (1ª pessoa do singular), um ser que se diferencia de outro, enquanto o psicanalista se refere à subjetividade do indivíduo, ao “eu” como substantivo.

d)   Explique som suas palavras o que o psicanalista quis dizer ao paciente com: “O eu, no caso, é você.”

Resposta pessoal do aluno.

09 – Cabe ao psicanalista analisar as falas do paciente. Em um momento da crônica, porém, é o paciente que passa a analisar o psicanalista.

a)   Transcreva a fala do paciente que marca essa mudança de atitude.

“– Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?”

b)   Ao analisar o psicanalista, o paciente busca convencê-lo de quê?

Busca convencê-lo de que ele é o gato, e não o psicanalista.

c)   Que argumento ele usa para isso?

O argumento de que, como o sonho no qual aparece o gato é dele (do paciente), o gato é ele e não o psicanalista.

d)   O psicanalista concorda com esse argumento? Explique.

Não, ele acredita que o argumento do paciente é suspeito porque foi produzido pela consciência, o que contrasta com a imagem do gato que, segundo o psicanalista, é produto do inconsciente.

10 – Releia o trecho:

        “-- Ponha-se para fora do meu gato!

         -- Ponha-se para fora daqui!”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 175.          

a)   A primeira fala apresenta um trocadilho. Qual pode ser?

Em vez de o paciente dizer “Ponha-se para fora do meu quarto!”, ele diz “Ponha-se para fora do meu gato!”.

b)   Explique o uso desse trocadilho no contexto da crônica.

O psicanalista e o paciente reivindicam ser o gato. Ao dizer “Ponha-se para fora do meu gato!”, o paciente expressa o desejo de o psicanalista desistir da ideia de ser o gato.

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

CRÔNICA: CONSELHO DE UM VELHO APAIXONADO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: CONSELHO DE UM VELHO APAIXONADO

                     Carlos Drummond de Andrade

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem da água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino: O Amor.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida. Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado…

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados… Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite… Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado… Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela… Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua ida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O Amor. Ame muito… Muitíssimo…

Carlos Drummond de Andrade

 

Entendendo o poema

  01. No trecho: “Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos”; o termo em destaque pode ser trocado por

         (A) apoio.

         (B) carinho.

         (C) gentileza.

         (D) elegância.

 

   02. A informação principal desse texto é representada por um provérbio, qual?

         (A) “se conselho fosse bom ninguém dava, vendia.”

         (B) “fazer o bem, sem olhar a quem.”

         (C) “amar ao próximo como a si mesmo.”

         (D) “aqui se faz, aqui se paga.”

  03. O texto de Drummond fala sobre:

        a. A maior capacidade de amar das pessoas mais velhas, porque são mais espertas que as mais moças.

        b. A incapacidade de amar dos velhos, que só podem fazê-lo através de sua imaginação e de suas lembranças.

        c. Uma pessoa madura e apaixonada, que busca aconselhar os mais jovens a estarem atentos aos sinais de um grande amor e a não desperdiçarem a chance de vivê-lo.

        d. O amor como uma coisa divina, o que nos faz concluir que esta seria a razão pela qual, nas cerimônias de casamento, o padre diz que o que Deus uniu o homem não separa.

         e. A magia do amor, que deixa as pessoas sem juízo e sem capacidade de exercerem seu livre-arbítrio.

        

 

CRÔNICA: A FOTO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: A Foto

   Luís Fernando Veríssimo

        Foi numa festa de família, dessas de fim de ano. Já que o bisavô estava morre não morre, decidiram tirar uma fotografia de toda a família reunida, talvez pela última vez. A bisa e o bisa sentados, filhos, filhas, noras, genros e netos em volta, bisnetos na frente, esparramados pelo chão. Castelo, o dono da câmara, comandou a pose, depois tirou o olho do visor e ofereceu a câmara a quem ia tirar a fotografia. Mas quem ia tirar a fotografia?

        – Tira você mesmo, ué.

        – Ah, é? E eu não saiu na foto?

        O Castelo era o genro mais velho. O primeiro genro. O que sustentava os velhos. Tinha que estar na fotografia.

        – Tiro eu – disse o marido da Bitinha.

        – Você fica aqui – comandou a Bitinha.

        Havia uma certa resistência ao marido da Bitinha na família. A Bitinha, orgulhosa, insistia para que o marido reagisse. “Não deixa eles te humilharem, Mário Cesar”, dizia sempre. O Mário Cesar ficou firme onde estava, do lado da mulher. A própria Bitinha fez a sugestão maldosa:

        – Acho que quem deve tirar é o Dudu…

        O Dudu era o filho mais novo de Andradina, uma das noras, casada com o Luiz Olavo. Havia a suspeita, nunca claramente anunciada, de que não fosse o filho do Luiz Olavo.

        O Dudu se prontificou a tirar a fotografia, mas Andradina segurou o filho.

        – Só faltava essa, o Dudu não sair.

        E agora?

        – Pô, Castelo. Você disse que essa câmara só faltava falar. E não tem nem timer!

        O Castelo impávido. Tinham ciúmes dele. Porque ele tinha um Santana do ano. Porque comprara a câmara num duty free da Europa. Aliás, o apelido dele entre os outros era “Dutifri”, mas ele não sabia.

        – Revezamento – sugeriu alguém – Cada genro bate uma foto em que ele não aparece, e…

        A ideia foi sepultada em protestos. Tinha que ser toda a família reunida em volta da bisa. Foi quando o próprio bisa se ergueu, caminhou decididamente até o Castelo e arrancou a câmara da sua mão.

        – Dá aqui.

        – Mas seu Domício…

        – Vai pra lá e fica quieto.

        – Papai, o senhor tem que sair na foto. Senão não tem sentido!

        – Eu fico implícito – disse o velho, já com o olho no visor. E antes que houvesse mais protestos, acionou a câmara, tirou a foto e foi dormir.

               VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 19-20.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 124-130.

Entendendo a crônica:

01 – Comente com seus colegas e professor sobre as hipóteses levantadas por você antes da leitura:

a)   Que situações engraçadas ou embaraçosas ao se tirar uma foto de família você havia imaginado?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Uma ou mais dessas situações imaginadas por você foram tratadas na crônica?

Resposta pessoal do aluno.

02 – Leia as informações a seguir sobre o narrador da crônica e indique a alternativa correta. Que elementos do texto permitem justificar a sua resposta?

I – O narrador, em 1ª pessoa, é Castelo, portanto o texto é um relato pessoal dele.

II – O narrador, em 3ª pessoa, apenas relata o que observa na reunião de família.

III – O narrador, em 1ª pessoa, é Domício e conta tudo com distanciamento.

IV – O narrador, em 3ª pessoa, conhece conflitos da família de Domício.

a)   Somente a afirmação I é correta.

b)   Somente a afirmação III é correta.

c)   Somente a afirmação IV é correta.

d)   As afirmativas II e IV estão corretas.

Justificativa: Trata-se de um narrador observador que não participa da história, o que pode ser comprovado pela utilização dos verbos na 3ª pessoa (tirou, ofereceu, sustentava, etc.).

03 – No texto, não há menção a datas, contudo é possível reconhecer a época em que a história está ambientada.

a)   Em que época a história se passa?

A história não se passa nos dias atuais, mas num passado próximo.

b)   O que permite essa constatação?

A utilização de uma máquina fotográfica que não tem a função de selfie e ninguém dispõe de um aparelho celular com essa função. Além disso, Castelo tem um Santana, carro que não é fabricado desde 2008.

04 – Embora curto, o texto tem vários personagens de uma mesma família. Ligue os nomes ao grau de parentesco de cada personagem.

I – Castelo.                                 a) Filho de Andradina.

II – Bitinha.                                 b) Marido da Bitinha

III – Mário Cesar.                       c) Nora de seu Domício.

IV – Andradina.                         d) Genro de seu Domício.

V – Dudu.                                  e) Esposa de Mário Cesar.

VI – Luiz Olavo.                         f) Filho de seu Domício.

      I – d. II – e. III – b. IV – c. V – a. VI – f.

05 – Na crônica, os personagens decidem tirar uma foto de toda a família.

a)   Por quê?

Pelo fato do bisavô, Domício, “estar morre não morre”, esta talvez fosse a última oportunidade de registrar todos os membros da família juntos.

b)   E na sua família, há álbum de fotos?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Em geral, como são feitos e publicados os álbuns de família hoje em dia?

De modo geral, os álbuns são feitos digitalmente e publicados em redes sociais.

d)   Em sua opinião, quais são os efeitos positivos e negativos desse tipo de produção e publicação?

Resposta pessoal do aluno.

06 – Tirar foto da família de seu Domício gerou um problema.

a)   Qual?

A família não entrava em um acordo sobre quem tiraria a foto, pois quem a tirasse não seria fotografado.

b)   Se a foto simboliza toda a família, o que esse problema representa?

Como a foto simboliza toda a família, não sair nela é como não pertencer à família.

c)   Se você fizesse parte dessa família, resolveria o problema de outra forma? Qual?

Resposta pessoal do aluno.

07 – Releia o trecho:

        “[...] A própria Bitinha fez a sugestão maldosa:

        – Acho que quem deve tirar é o Dudu…

        O Dudu era o filho mais novo de Andradina, uma das noras, casada com o Luiz Olavo. Havia a suspeita, nunca claramente anunciada, de que não fosse o filho do Luiz Olavo.”

               VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 19-20.

a)   Por que a sugestão da Bitinha foi maldosa?

Porque, como havia a suspeita d que Dudu não era filho de Luiz Olavo, ele poderia tirar a foto e, consequentemente, não sair nela, já que muito provavelmente não pertencia à família.

b)   Essa maldade é compreendida apenas pelo narrador? Explique.

Não. O narrador conta essa suspeita ao leitor e dá a entender que ela é compartilhada pela família. Portanto, é uma suspeita coletiva, mas, segundo o narrador, nunca claramente anunciada.

08 – Releia o trecho:

        “O Castelo impávido. Tinham ciúmes dele. Porque ele tinha um Santana do ano. Porque comprara a câmara num duty free da Europa. Aliás, o apelido dele entre os outros era “Dutifri”, mas ele não sabia.”

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 19-20.

a)   Faça uma breve pesquisa e explique o tipo de estabelecimento comercial que caracteriza o duty free. Se necessário, consulte um dicionário inglês-português.

Duty free é um estabelecimento comercial presente apenas em aeroportos internacionais e cujos produtos são isentos de impostos (duty: imposto; free: sem).

b)   Castelo frequenta lojas duty free e tem um Santana do ano. O que isso revela sobre seu poder aquisitivo?

São indícios de um bom poder aquisitivo.

c)   O apelido “Dutifri” dado ao Castelo é carinhoso ou pejorativo? Explique com base no contexto.

O apelido é pejorativo, pois revela, da parte de quem deu esse apelido, inveja em relação à condição financeira de Castelo ou a impressão de que ele é esnobe ao viver ostentando suas aquisições.

09 – A leitura do boxe sobre interjeição, permite afirmar que nem toda interjeição vem acompanhada do ponto de exclamação. Observe o trecho:

        “– Pô, Castelo. Você disse que essa câmara só faltava falar. E não tem nem timer!”.

 VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.P. 20

a)   Com base nessa explicação, identifique a interjeição que se encaixa nessa afirmação.

A interjeição, nesse trecho, é .

b)   No contexto, que sentimento é expresso por essa interjeição?

Essa interjeição expressa decepção, já que a câmera é incapaz de tirar uma foto sem alguém acionar o botão.

10 – No final do texto, o cronista provoca uma surpresa no leitor.

a)   Qual?

Seu Domício decide tirar a foto, apesar da resistência de muitos.

b)   Essa surpresa concretiza ou frustra o propósito da foto?

Essa surpresa frustra o propósito da foto, já que ela foi motivada exatamente pela presença de seu Domício, que “estava morre não morre”.

11 – Por que seu Domício reagiu dizendo “Eu fico implícito”? O que essa fala sugere?

      Reagiu com essa fala em resposta à afirmação de que não teria sentido ele não estar na foto. Essa fala sugere que, embora a imagem de seu Domício não aparecesse na foto, ele seria lembrado por ter participado da reunião familiar em que ela foi produzida.

12 – O que você achou da tomada de decisão de seu Domício? Comente com seus colegas e professor.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

 

POEMA: À CATA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

  POEMA:  À CATA

                 Luís Fernando Veríssimo

 

Um homem cata a si mesmo.               Catarina!

Cataloga-se. Como catarse.                 Catástrofes:

Lembra cata-ventos.                             Catatonia,

Cata-piolhos.                                         catarro,

Catapora.                                              catarata.

Cataplasmas.                                        Ah, a catarata.

E cataratas.                                           E um dia, pumba:

Ah, as cataratas.                                   A catacumba.

Catapulta-se.

Entendendo o texto

01. O significado da expressão que compõe o título do poema: Á cata, é

a. movimento rápido.                                         

b. movido pelo vento.

c. objeto de sopro.  

d. catalisador.

 

02. Marque  a opção que completa a frase da maneira mais adequada.

A julgar pelos três primeiros versos do poema, podemos dizer que o homem de quem fala o eu lírico está...

a.   indeciso.

b.   em busca de sua identidade.

c.   sentindo-se culpado.

 

03.Transcreva as palavras do poema relacionadas ao campo da saúde.

Catapora -  Cataplasmas -   catarata – Catatonia.                                   

 04. Entre os termos que você copiou, há um que se refere a uma doença típica da infância e outro que nomeia uma doença típica da velhice. Identifique-os. (Se necessário, pesquise.)
  Catapora, ou varicela, é uma infecção causada pelo vírus varicela-zoster. É altamente contagiosa, mas quase sempre sem gravidade. É uma das doenças mais comuns em crianças menores de 10 anos.

Catarata é uma opacificação do cristalino do olho, com ou sem diminuição da capacidade visual. A maior parte dos casos de cataratas deve-se ao envelhecimento da pessoa.


05. Considerando as partes do texto em que esses dois termos aparecem, podemos dizer que...

a.   o poema parece referir-se à vida de um homem em ordem cronológica, da infância até o fim de sua vida.

b.    o poema segue uma linha cronológica fantasiosa, em que o homem começa a vida idoso e vai rejuvenescendo até tornar-se uma criança.

c.    os dois termos contradizem-se, criando um paradoxo.


06.  Os dois últimos versos do poema confirmam a resposta que você deu à pergunta anterior? Por quê?

      Resposta pessoal.


07. O que significa a expressão que compõe o título do poema: à cata?

    Nesse contexto significa a procura da identidade do eu lírico.


08. Que relação pode haver entre esse título e o conteúdo do poema?

    O título e conteúdo estão relacionados, pois o eu lírico faz uma reflexão sobre sua vida através da purgação de suas paixões.


MÚSICA(ATIVIDADES): SEGUE O SECO - CARLINHOS BROWN - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): SEGUE O SECO

                                                    Carlinhos Brown

A boiada seca

Na enxurrada seca

A trovoada seca

Na enxada seca

 

Segue o seco sem sacar que o caminho é seco

sem sacar que o espinho é seco

sem sacar que o seco é o Ser Sol

Sem sacar que algum espinho seco secará

E a água que sacar será um tiro seco

E secará o seu destino, seca


 Ô chuva vem me dizer

Se posso ir lá em cima pra derramar você

Ó chuva preste atenção

Se o povo lá de cima vive na solidão

Se acabar não acostumando

Se acabar parado calado

Se acabar baixinho chorando

Se acabar meio abandonado

Pode ser lágrimas de São Pedro

Ou talvez um grande amor chorando

Pode ser o desabotoado céu

Pode ser coco derramado.

A boiada seca

Na enxurrada seca

A trovoada seca

Na enxada seca

 

 Entendendo o texto

01. Nesse texto, o eu lírico se refere

(A) a seca e o sofrimento que ela causa as pessoas.

(B) a ausência da chuva.

(C) aos danos causados ao homem.

(D) a saída do homem do campo.

 

02. Que palavra da letra da canção pode sintetizar o texto?

(A) sofrimento. 

(B) solidão.

(C) chuva.                                                      

(D) seca.    

 

03. A certa altura da letra, o eu lírico se dirige a um interlocutor que foi personificado e lhe fez um pedido. Quem é esse interlocutor?

  (A)  a água. 

  (C) o povo.

  (B)  a chuva.       

  (D) a trovoada.

04. O trecho da canção utiliza diferentes recursos de construção textual, para a criação do efeito de seca. Um dos recursos consiste:

  (A) na ausência de pontuações.

  (B) no emprego de pleonasmos.

  (C) na repetição de um mesmo som.

  (D) na utilização de léxico regional.

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): SÚPLICA CEARENSE - O RAPPA - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): Súplica Cearense

                O Rappa

 Oh! Deus, perdoe esse pobre coitado,

Que de joelhos rezou um bocado,
Pedindo pra chuva cair, cair sem parar

Oh! Deus será que o senhor se zangou,
E é só por isso que o sol se arretirou,
Fazendo cair toda chuva que há

Oh! Senhor, pedir pro sol se esconder um pouquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho,
Pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão

Oh! Meu Deus, se eu não rezei direito,
A culpa é do sujeito,
Desse pobre que nem sabe fazer a oração.

Meu Deus, perdoe encher meus olhos d'água,
E ter-lhe pedido cheio de mágoa,
Pro sol inclemente, se arretirar, retirar

Desculpe, pedir a toda hora,
Pra chegar o inverno e agora,
O inferno queima o meu humilde Ceará

Oh! Senhor, pedi pro sol se esconder um pouquinho,
Pedi pra chover, mas chover de mansinho,
Pra ver se nascia uma planta no chão, planta no chão

Violência demais, chuva não tem mais,
Roubo demais, política demais,
Tristeza demais. Interesse tem demais!

Ganância demais, fome demais,
Falta demais, promessa demais,
Seca demais, chuva não tem mais!

Oh! Deus. Só se tiver Deus. Oh! Deus.

                                                   Composição: Gordurinha / Nelinho.

Entendendo o texto

01 . Pode-se dizer que o texto "Súplica cearense" une duas modalidades de texto, que são:

    a) oração e narração.     

    b) drama e dissertação.

    c) crônica e carta comercial.

    d) oração e editorial.

    e) receita e narração.

 

02. Que abordagem a canção relata?

Esta canção, traz consigo as dificuldades sofridas pelo povo do nordeste do Brasil, numa perspectiva de um sertanejo que reclama à “Deus” o sofrimento ocasionado pela seca.

03. O que o título sugere?

       Ele sugere um nordestino suplicando a Deus os problemas que estão acontecendo e, inserido na cultura local, culpando-se, dentro de sua religiosidade, por não haver chuva que torne sua região menos inóspita e, de certa forma, perguntando ao ser superior à que levanta suas preces os motivos de ser tão castigada a região.

04.  Quais os problemas sociais que a letra da música "Súplica Cearense " aborda?   

Seca, inundação, fome, pobreza, violência, corrupção e ganância.