terça-feira, 21 de julho de 2020

POEMA: NAMORADOS - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: Namorados

                Manuel Bandeira

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...

A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

Manuel Bandeira

Entendendo o poema:

01 – Analise as afirmativas a seguir e depois assinale a opção correta.

I – Lançando mão de um procedimento moderno, o poeta torna tênue o limite entre prosa e poesia.

II – A métrica rígida do poema é um procedimento comum do estilo de época ao qual se filia o texto.

III – O título do poema encerra uma ironia, pois não há no texto o lirismo que caracteriza as composições poéticas românticas.

a)   I e III são corretas.

b)   Somente III é correta.

c)   II e III são corretas.

d)   Somente I é correta.

e)   I e II são corretas.

02 – A pergunta feita pelo rapaz provocou na moça:

a)   A constatação da fugacidade do tempo.

b)   A lembrança de um certo namorado de infância.

c)   Um brilho amargo e saudoso no olhar de menina.

d)   Um retorno ao comportamento infantil diante do inusitado.

e)   A descoberta da efemeridade dos namoros da sua infância.

03 – Em relação ao poema de Manuel Bandeira, analise as afirmativas sobre o ato comunicativo.

I – Percebe-se no poema, a presença da comunicação unilateral, porque em nenhum momento emissor e receptor trocam de papel.

II – O texto não apresenta sentido algum, apenas traz passagens da infância de personagens.

III – Predominância da utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.

É correto o que se afirma apenas em:

a)   I.

b)   II.

c)   III.

d)   I e II.

e)   I e III.

04 – Verifica-se a ocorrência de personificação no seguinte verso:

a)   “A moça olhou de lado e esperou”.

b)   A menina brincou de novo nos olhos dela”.

c)   “—Antônia, você é engraçada! Você parece louca”.

d)   “A moça arregalou os olhos, fez exclamações”.

e)   “—Antônia, você parece uma lagarta listrada”.

05 – No poema, destaca-se como característica da poesia modernista.

a)   A reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.

b)   A utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.

c)   A criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.

d)   A escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.

e)   O recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.

06 – O poema não apresenta rimas nem estrofes, sendo considerado também como conto poético. Podemos classificá-lo, então, como:

a)   Poema narrativo.

b)   Poema descritivo.

c)   Poema dissertativo.

07 – O texto não diz a idade das personagens, por isso podemos levantar hipóteses. Que palavras nos permite imaginar a idade do casal?

      Rapaz, moça. Ele dezessete anos e ela quinze anos.

08 – O que o rapaz quis dizer com “ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara”?

      Porque ela era uma adolescente, fase de muitas mudanças no corpo, e provavelmente eles se conheciam desde criança.

09 – Ao comparar Antônia a uma lagarta listrada, a moça arregalou os olhos, fez exclamações. Por quê?

      Porque é uma lagarta rara, muito bela, e aparece durante o verão e a primavera.

10 – Quais teriam sido as exclamações feitas por Antônia?

      Quando ele disse que não se acostumava com seu corpo, com sua cara e depois quando disse que ela parecia uma lagarta listrada.

11 – Sobre o poema, considere as seguintes afirmativas:

I – No poema “Namorados”, a poesia de Manuel Bandeira flerta com o prosa. Percebe-se um caráter narrativo, que permite a presença de mais de uma vez.

II – Embora o poema “Namorados” apresenta um assunto comum à tradição da poesia – a relação e a declaração amorosas –, o tratamento dado a ele pelo poeta é surpreendentemente simples, até cômico, em registro oralizante, um exemplo do que fez a crítica chama-lo de “poeta do cotidiano”.

III – A estranheza gerada pela comparação da moça a lagarta listrada é a chave da declaração do namorado, que pode ser lida ambiguamente: como uma mera estranheza e, portanto, uma imperfeição que combina com o verso que a descreve como louca; ou como uma estranheza atraente, sendo a loucura meramente uma forma moderna de expressar o “diferente”.

IV – Um dos aspectos interessantes da obra de Manuel Bandeira é a nítida passagem que se faz do simbolismo ao modernismo nos seus primeiros livros. Além de refletir a nossa própria história literária, esse processo de mudança também revela como a obra do autor se modificou sem perder muitas de suas características iniciais, mantendo-se sempre ligada a algumas formas da tradição, misturando, por exemplo, o verso livre de alguns poemas às formas fixas de outros.

Assinale a alternativa correta:

a)   São verdadeiras apenas as afirmativas I, II e IV.

b)   São verdadeiras apenas as afirmativas III e IV.

c)   São verdadeiras apenas as afirmativas I, III e IV.

d)   São verdadeiras apenas as afirmativas I, II e III.

e)   São verdadeiras as afirmativas I, II, III e IV.

 

 


POEMA: LEITO DE FOLHAS VERDES - GONÇALVES DIAS - COM GABARITO

Poema: LEITO DE FOLHAS VERDES 

     Gonçalves Dias

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu, sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d`alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

Publicado no livro Últimos Cantos (1851). Poema integrante da série Poesias Americanas.

In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.1

Entendendo o poema:

01 – Pode-se afirmar sobre o poema:

a)   O verso 24 faz referência ao eu lírico; o verso 20, à pessoa amada; o verso 27, ao rival de Jatir.

b)   É registrada a passagem do tempo na natureza: desde a noite até a manhã seguinte.

c)   O poema é todo escrito em versos brancos e pode ser classificado como poesia simbolista.

d)   O eu lírico é masculino e espera a sua amada, que não chega.

e)   A natureza, no poema, não desempenha nenhuma função específica.

02 – Assinale a alternativa correta com relação ao texto:

a)   Principalmente pela manifestação de elementos simbólicos, tais como “luar”, “vales”, “bosque” e “perfumes”, pode-se dizer que o poema muito se aproxima da estética simbolista.

b)   O poema romântico indianista recupera as antigas cantigas de amigos medievais, para expressar o amor por meio da espera.

c)   O poema de Gonçalves Dias demonstra profunda influência renascentista, recebida principalmente de Camões.

d)   Apesar da intensa presença da natureza, o poema em questão já se aproxima do parnasianismo, pela presença dos elementos mitológicos.

e)   Mesmo sendo romântico, notam-se ainda no poema, os aspectos marcantes do Arcadismo, principalmente no que diz respeito ao bucolismo.

03 – Que tema é abordado neste poema?

      É uma lírica amorosa, marcada pela impossibilidade da realização amorosa.

04 – Que elementos mais caros à tradição romântica temos nesse poema?

      O sentimentalismo, a idealização amorosa, a idealização da figura feminina, a natureza expressiva, o medievalismo e o nacionalismo.

05 – Em que estrofe o eu lírico feminino anseia pela volta de seu amado e questiona o porquê de sua demora?

      Na primeira estrofe.

06 – O que acontece na última estrofe?

      Temos a desilusão do eu lírico. Com a chegada da manhã, a esperança e a expectativa dão lugar à decepção e a tristeza.

 


CRÔNICA: DEBAIXO DA PONTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Crônica: DEBAIXO DA PONTE

                  Carlos Drummond de Andrade

  Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio; a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás, porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam contra falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los, fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.

        À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho.

        Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne. 

        Nem todos os dias se pega uma posta de carne. Não basta procurá-la; é preciso que ela exista, o que costuma acontecer dentro de certas limitações de espaço e de lei. Aquela vinha até eles, debaixo da ponte, e não estavam sonhando, sentiam a presença física da ponte, o amigo rindo diante deles, a posta bem pegável, comível. Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe frequentá-lo, e aqueles três o sabiam, de longa e olfativa ciência.

        Comê-la crua ou sem tempero não teria o mesmo gosto. Um de debaixo da ponte saiu à caça de sal. E havia sal jogado a um canto de rua, dentro da lata. Também o sal existe sob determinadas regras, mas pode tornar-se acessível conforme as circunstâncias. E a lata foi trazida para debaixo da ponte. Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram. Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de raridade da carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento), quando começaram a sentir dores.

        Dores que foram aumentando, mas podiam ser atribuídas ao espanto de alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentado sem que lhe houvesse chegado notícia prévia de alimento. Dois morreram logo, o terceiro agoniza no hospital.

        Dizem uns que morreram da carne, dizem outros que do sal, pois era soda cáustica. Há duas vagas debaixo da ponte.

    ANDRADE, Carlos Drummond de. Debaixo da ponte. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1967, p. 896-897.

Entendendo a crônica:

01 – “A ponte é de todos, na parte de cima, de ninguém, na parte de baixo”. Apesar de o autor afirmar que a parte de baixo não pertence a ninguém, você sabe que muitos a habitam por não ter onde morar. Em sua opinião, o que deveria ser feito, principalmente por parte dos governantes, para que o acesso à moradia fosse algo conquistado por todas as pessoas?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – No primeiro parágrafo, ao introduzir o cenário, o narrador já anuncia o envenenamento das personagens quando diz:

a)   Ninguém lhes cobrava aluguel.

b)   Não pagavam conta de luz e gás.

c)   Não reclamavam contra falta d’água.

d)   Problema de lixo não tinham.

03 – O narrador, ao não atribuir nomes próprios as personagens, busca apresenta-los como:

a)   Desiludidos da sociedade urbana.

b)   Excluídos dos direitos de cidadania.

c)   Representantes de grupos sociais diferentes.

d)   Tipos sociais de prestígio.

04 – Ao terminar o texto com a afirmação “Há duas vagas debaixo da ponte”, o narrador sugere que a tragédia será:

a)   Repetida.

b)   Transformada.

c)   Revertida.

d)   Averiguada.

05 – O trecho em que aparece o primeiro fato que gera o conflito da narrativa é:

a)   À tarde, surgiu precisamente um amigo (...)

b)   E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (...)

c)   Um de debaixo da ponte saiu à caça de sal.

d)   E a lata foi trazida para debaixo da ponte.

06 – A perspectiva de quem narra é marcada por:

a)   Satisfação.

b)   Espanto.

c)   Naturalidade.

d)   Horror.

07 – São títulos plausíveis para esse texto, EXCETO:

a)   A fome.

b)   Tragédia urbana.

c)   Debaixo da ponte.

d)   Nem só de pão vive o homem.

08 – Outro trecho, que também nos faz refletir bastante, diz o seguinte: “Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los, fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.” Você já parou para pensar que a sua situação é diferente dos personagens da crônica, pois realmente pode dar endereço a alguém, sabe por quê? Porque você possui um lar, uma moradia. Dessa forma, como se sente?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Quando o autor afirma que “até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua”, ele está reafirmando que o ar é essencial à nossa sobrevivência, por isso devemos adotar atitudes no sentido de preservá-lo, conservá-lo em toda a sua totalidade. Contudo, não é exatamente isso que presenciamos, pois a poluição se tornou mais um entre os graves problemas ambientais. O que você pensa sobre isso?

      Resposta pessoal do aluno.

10 – Há ironia em todos os trechos abaixo transcritos, EXCETO:

a)   Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebe-los, fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.

b)   Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato.

c)   Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram.

d)   Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo.

11 – A noção de indigência está presente em todos os trechos transcritos, EXCETO:

a)   Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram.

b)   Iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento).

c)   Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de raridade da carne.

d)   Dores que foram aumentando, mas podiam ser atribuídas ao espanto de alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentando sem que lhe houvesse chegado notícia prévia de alimento.

12 – “Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe frequentá-lo, e aqueles três o sabiam, da longa e olfativa ciência”. O pronome sublinhado no trecho acima refere-se a:

a)   Vazadouro.

b)   Supermercado.

c)   Frequentar o vazadouro.

d)   Frequentar supermercados.

 


CONTO: OS SETE CORVOS - IRMÃOS GRIMM - COM GABARITO

Conto: Os sete corvos

            Irmãos Grimm

    Um homem tinha sete filhos e nunca tinha uma filha, por mais que desejasse. Até que, finalmente, sua mulher lhe deu esperanças de novo e, quando a criança veio ao mundo, era uma menina. A alegria foi enorme, mas a criança era franzina e miúda e, por causa dessa fraqueza, foi preciso que lhe dessem logo os sacramentos. O pai mandou um dos filhos ir correndo até a fonte, buscar água para o batismo. Os outros seis foram atrás do irmão e, como cada um queria ser o primeiro a puxar a água para cima, acabaram deixando o balde cair no fundo do poço. Aí eles ficaram assustados, sem saber o que deviam fazer, e nenhum dos sete tinha coragem de voltar para casa. Foram ficando por lá, sem sair do lugar.

        Como estavam demorando muito, o pai foi ficando cada vez mais impaciente e disse: – Na certa ficaram brincando e se esqueceram de voltar, aqueles moleques levados...

        Começou a ficar com medo de que a menininha morresse sem ser batizada e, com raiva, gritou:

        -- Tomara que eles todos virem corvos!

        Mal o pai acabou de dizer essas palavras, ouviu um barulho de asas batendo no ar, por cima da cabeça. Levantou os olhos e viu sete corvos negros como carvão. Voando de um lado para outro.

        Os pais ficaram tristíssimos, mas não conseguiram fazer nada para quebrar o encanto.

        Felizmente, puderam se consolar um pouco com sua filhinha querida, que logo recuperou as forças e cada dia ia ficando mais bonita. Durante muito tempo, ela ficou sem saber que tinha tido irmãos, porque os pais tinham o maior cuidado de nunca falar nisso. Mas um dia, ela ouviu por acaso umas pessoas comentando que era uma pena que uma menina assim tão bonita como ela fosse a responsável pela infelicidade dos irmãos.

        A menina ficou muito aflita e foi logo perguntar aos pais se era verdade que ela já tinha tido irmãos, e o que tinha acontecido com eles. Os pais não puderam continuar guardando segredo. Mas explicaram que o que aconteceu tinha sido um desígnio do céu, e que o nascimento dela não tinha culpa de nada. Só que a menina começou a ter remorsos todos os dias e resolveu que precisava dar um jeito de livrar os irmãos do encanto. Não sossegou enquanto não saiu escondida, tentando encontrar algum sinal deles em algum lugar, custasse o que custasse. Não levou quase nada: só um anelzinho como lembrança dos pais, uma garrafinha d'água para matar a sede e uma cadeirinha para descansar.

        Andou, andou, andou, cada vez para mais longe, até o fim do mundo. Aí, ela chegou junto do sol. Mas ele era quente demais e muito terrível, porque comia os próprios filhos. Ela saiu correndo, fugindo, para bem longe, até que chegou junto da lua. Mas a lua era fria demais e muito malvada e cruel. Assim que viu a menina, disse:

        -- Huuummm sinto cheiro de carne humana...

        A menina saiu correndo bem depressa, fugindo para bem longe, até que chegou junto das estrelas.

        As estrelas foram muito amáveis e boazinhas com ela, cada uma sentada em uma cadeirinha separada. Então, a estrela da manhã se levantou, deu um ossinho de galinha à menina e disse:

        -- Sem este ossinho, você não vai conseguir abrir a montanha de vidro. E é na montanha de vidro que estão os seus irmãos.

        A menina pegou no ossinho, embrulhou-o com todo cuidado num lenço e continuou seu caminho, até que chegou à montanha de vidro. A porta estava bem fechada, trancada com chave, e ela resolveu pegar o ossinho de galinha que estava guardado no lenço. Mas quando desembrulhou, viu que não tinha nada dentro do pano e que ela tinha perdido o presente que as boas estrelas tinham dado. Ficou sem saber o que fazer. Queria muito salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da montanha de vidro. Então, a boa irmãzinha pegou uma faca, cortou um dedo mindinho, enfiou na fechadura e deu um jeito de abrir a porta. Assim que entrou, um gnomo veio ao seu encontro e lhe perguntou:

        -- Minha filha, o que é que você está procurando?

        -- Procuro meus irmãos, os sete corvos – respondeu ela. O gnomo então disse:

        -- Os senhores Corvos não estão em casa, mas se quiser esperar até que eles cheguem, entre e fique à vontade.

        Lá em cima, o gnomo pôs a mesa para o jantar dos corvos, com sete pratinhos e sete copinhos. A irmã então comeu um pouco da comida de cada prato e bebeu um gole de cada copo. Mas no último, deixou cair o anelzinho que tinha trazido.

        De repente, ouviu-se nos ares um barulho de gritos e batidas de asas. Então o gnomo disse:

        -- São os senhores Corvos que estão chegando.

        Eram eles mesmos, com fome e com sede. Foram logo em direção aos pratos e copos. E, um por um, foram gritando:

        -- Quem comeu no meu prato? Quem bebeu no meu copo? Foi boca de gente, foi boca de gente...

        Mas quando o sétimo corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu lá de dentro. Ele olhou bem e reconheceu que era um anel do pai e da mãe deles, e disse:

        -- Quem dera que fosse a nossa irmãzinha, porque aí a gente ficava livre.

        Quando a menina, que estava escondida atrás da porta, ouviu esse desejo, apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez. Começaram todos a se abraçar e se beijar e a se fazer mil carinhos e depois voltaram para casa muito felizes.

         Fonte: Os sete corvos. In: ABREU, Ana Rosa etal. Alfabetização: Livro do aluno. Brasília, DF: Fundescola/SEF/MEC, 2000. p. 46.

Entendendo o conto:

01 – Quem são as personagens principais? E as personagens secundárias?

      As personagens principais são a mãe, o pai, os sete filhos e a menina. As secundárias são o Sol, a Lua, as estrelas, a Estrela D’Alva e o anãozinho.

02 – Quais são os cenários onde a história se passa? É possível descrevê-los?

      Inicialmente, a história se passa no local onde a família vivia, que ficava perto de uma fonte. Não há elementos suficientes para descrevê-lo. Depois, a menina chega ao fim do mundo, onde estão o Sol, a Lua e as estrelas. Ela termina na Montanha de Cristal, onde vivem seus irmãos. Este local tem um portão que pode ser aberto com um osso e tem um anão como guardião.

03 – Quem está narrando esse conto? Um narrador-personagem ou um narrador-observador?

      Um narrador-observador.

04 – Ele é narrado em 1ª ou em 3ª pessoa?

      É narrado em 3ª pessoa.

05 – O que acontece na história (qual é seu enredo)?

      Um casal que tinha sete filhos homens, esperava o nascimento de sua primeira filha, no dia em que os meninos foram buscar água para o batismo da recém-nascida, que era muito fraca, uma maldição lançada pelo pai os transformou em corvos. A menina cresceu sem saber sobre a história dos irmãos e quando a descobriu saiu pelo mundo em busca deles. No percurso, ganhou um objeto mágico (um osso) da Estrela d’Alva, capaz de abrir o portão da Montanha de Cristal, lugar no qual os irmãos viviam. Ao perder o objeto, cortou um pedaço de seu dedo para poder entrar no local. O reencontro transformou os corvos em humanos novamente e todos ficam felizes e voltam para casa.

06 – Qual é o momento de maior tensão na narrativa (clímax)?

      O clímax ocorre quando a menina perde o ossinho que ganhou da Estrela d’Alva com o qual abriria o portão da Montanha de Cristal onde seus irmãos viviam.

07 – Como o problema se resolve (qual é o desfecho)?

      O problema se resolve com a menina cortando um pedaço do próprio dedo para servir de chave e abrir o portão.

08 – Na sua opinião, os diálogos são importantes na história?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Os diálogos representam a fala das personagens, o que aproxima o texto do leitor, conduzindo a narrativa para o momento em que é feita a leitura.

09 – Que conflito impulsionou a trama da narrativa?

a)   O casal não conseguia ter uma filha, apenas meninos.

b)   A menina nasceu com a saúde debilitada.

c)   A falta de água para batizar a menina.

d)   As crianças não queriam uma irmã.

10 – Releia um trecho do texto: “Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha [...]”. O que explica a preocupação dos pais?

a)   Eles não acreditavam que a criança sobreviveria.

b)   Eles temiam que a criança ficasse muito pequena.

c)   Eles acreditavam que a criança seria muito magrinha.

d)   Eles tinham receio de que a criança não se desenvolvesse.

11 – As formas verbais “caiu”, “mandou” e “falou” transmitem ideia de:

a)   Tempo futuro.

b)   Tempo presente.

c)   Tempo passado.

d)   Situação atemporais.

12 – No trecho: “Os meninos ficaram sem saber o que fazer”, a expressão destacada indica que os meninos estavam:

a)   Amedrontados.

b)   Encantados.

c)   Ansiosos.

d)   Confusos.

13 – Quais personagens são citadas no trecho da história?

a)   Um homem e seus sete filhos.

b)   Sete corvos e um bebê recém-nascido.

c)   Um homem, seus sete filhos e uma recém-nascida.

d)   Um homem, seus sete filhos, uma mulher e uma recém-nascida.