Poema: Trem
de Ferro
Manuel
Bandeira
Café com pão
Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isto maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força Oô... Foge, bicho Foge, povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho De ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar! Oô... Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matá minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no Sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente... |
Bandeira, Manuel 1886 - 1968.Antologia Poética.
Rio de Janeiro: J. Olympo,
1976, 8. ed. , p. 96.
Entendendo o poema:
01 – Você gostou do poema? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
02 – Os versos do poema lido
são, na maioria, longos ou curtos? Em sua opinião, há uma razão para essa
escolha? Em caso afirmativo, qual seria ela?
Os versos do
poema são, na maioria, curtos. Os versos curtos dão ritmo rápido ao poema,
aludindo ao movimento do trem.
03 – Vamos reler um trecho do poema:
“Café com pão
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Café com pão
(...)
Muita força
Muita força
Muita força
(...)
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...”
Agora responda as questões abaixo:
a) Que
impressão a repetição dos versos pode causar no leitor?
A repetição desses
versos lembra o barulho produzido por um trem com locomotiva a vapor.
b)
Em sua opinião, a repetição dos versos da
primeira estrofe dá ao leitor a impressão de que o trem está andando rápido ou
devagar?
Devagar. A alternância entre sílabas tônicas e átonas e as vogais
nasais dão ao leitor a impressão de que o trem está se locomovendo devagar.
04 – Volte ao poema e
encontre a estrofe que sugere o som do apito do trem. Copie-o.
“Virge Maria que foi isto maquinista?”,
sugere o som do apito do trem quando ele está saindo, isto é, o apito inicial
que tem o som mais longo que os emitidos quando o trem já está em curso.
05 – No poema, há alguém que
fala. Quem você imagina que seja? Explique o que você observou para responder.
Por meio dos versos: “Virge Maria que foi
isto maquinista? / Ai seu foguista / Bota fogo / Na fornalha /
Que eu preciso / Muita força.”, que quem fala é o próprio trem de ferro.
Os versos: “Vou depressa / Vou correndo /
Vou na toda / Que só levo / Pouca gente / Pouca gente / Pouca gente...”, também
revela a fala do trem.
06 – Como é o trem de que o
poema trata: a vapor ou elétrico? Explique como você descobriu.
A vapor. É
possível descobrir por meio dos versos: “Voa fumaça / Corre, cerca / Ai seu
foguista / Bota fogo / Na fornalha / Que eu preciso / Muita força / Muita
força.”
07 – Em sua opinião, o que
significa a expressão “Oô...”?
Resposta pessoal
do aluno. Provavelmente o som do apito do trem em curso, avisando que está
passando.
08 – Releia o seguinte
trecho do texto:
“Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho.”
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho.”
Você acha que a repetição da
palavra passa no começo dos
versos sugere que o trem está andando rápido ou devagar?
O ritmo desses
versos, a repetição do som de s
e a sequência de elementos (ponte, poste, pasto, boi...) dão a ideia de que o
trem está passando por eles rapidamente.
09 – No poema, aparecem
algumas palavras, como:
VIRGE
- PRENDERO -
CANAVIÁ
Encontre no texto outros
exemplos como esses. Em seguida, anote a opção que, em sua opinião, está
correta.
Possibilidades:
oficiá – me dá – pra – matá – mimbora.
a)
Esse tipo de linguagem é aquela usada em
livros, jornais, revistas, júris, vários programas de tevê, etc.
b)
Esse tipo de linguagem é aquela
falada em certas regiões do país, por alguns grupos de pessoas.
10 – Volte ao poema e
observe a maneira como ele foi pontuado. Depois, conclua se a pontuação é mais
livre, informal ou mais rígida, formal.
De acordo com o
texto, a pontuação é mais livre, informal.
11 – Agora explique com suas
palavras o que você entendeu do poema. Comente também se você gostou ou não
dele e por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
12 – A terceira estrofe
indica que o trem adquiriu maior velocidade. Que palavras desta estrofe têm a função
de mostrar o aumento da velocidade?
“Agora sim”, “voa”, “corre”.
13 – Observe o verso “Corre,
cerca”. Explique como a cerca, que é elemento sem vida, pode correr.
A ilusão de que a
cerca corre é dada pelo movimento do trem.
14 – Na quarta estrofe, há
dois versos iniciados com a palavra “foge” e seis com a palavra “passa”. A
repetição destes verbos e o significado deles indicam que velocidade para o
trem no trecho em questão?
A repetição indica que o trem se
movimenta numa velocidade bem maior, espantando animais e gente que encontra
pelo caminho e deixando rapidamente para trás os pontos do seu trajeto.
15 – O ritmo do poema
acompanha o ritmo do trem. Releia a 5ª estrofe e verifique: a velocidade do
trem é maior ou menor do que no restante do poema? Qual a causa da mudança?
Sua velocidade é
menor. A causa é travessia de um canavial, onde ele se sente preso.
16 – Na 5ª estrofe o trem
está preso num canavial e cada pé de cana lhe parece um oficial, isto é, um
soldado. Quais as semelhanças entre o pé de cana e o oficial que permitem a
Manuel Bandeira fazer essa comparação?
Os pés de cana
estão enfileirados, como soldados; a cor verde da cana é semelhante à cor da
farda dos soldados.
17 – Quem é o eu que fala no
poema? Qual o dialeto usado por ele? Que marcas linguísticas desse dialeto
aparecem no texto?
O eu que fala no
poema é o trem de ferro. Ele usa o dialeto popular.
Algumas marcas linguísticas desse
dialeto: a supressão da letra final de palavras como “Virge”, “prendero”,
“canaviá”, “oficiá”, “mata”, a anteposição do pronome oblíquo ao verbo em
início de frase (“me dá tua boca”); a junção do pronome átono e palavra
iniciada por vogal (“mimbora”); o uso de gíria (“vou na toda”).