CRÔNICA: Um
muro no meio do caminho
Raimundo Matos
-- Tá na hora de ir para a escola.
Vamos com esse café que você está atrasado!
Juca deu um pulo da mesa, pegou a pasta
com os livros e cadernos, pendurou de um lado e lá se foi porta afora.
“—Cuidado quando atravessar a rua!” Foram as últimas palavras que ouviu vindas
da sala, antes de sair pra pegar o elevador.
“Essa rua é tão chata, tão conhecida,
tão sem graça, tão boba, tão igualzinha todos os dias, que eu posso fazer o
caminho de olhos fechados e não vai acontecer nada. Aposto! Se pelo menos
tivesse que tomar ônibus, metrô, outro ônibus, mas não, todos os dias a mesma
coisa. Todas as portas fechadas, as cortinas cerradas, os portões com cadeado,
os jardins com cachorros, cachorros não, feras! Será que não tem um jeito de
modificar esse caminho? ... Tem que ter”!
Pensando assim, nem notou que o
elevador estava parado, esperando. Entrou. Apertou o botão para o térreo, mas
lá se foi a geringonça para cima. Foi subindo, subindo, subindo e breck. A
porta se abriu e entrou a moça do oitavo, aquela do nariz bem fino.
Zuuuuuuuuuuuum!
Quando a porta abriu no térreo, pulou
pra fora esbarrando no zelador.
-- Que menino mal-educado – falou a
moça de nariz fino quando passou pelo zelador.
Juca estava na calçada. A barulheira
dos carros era infernal. Na sua frente, a rua. Comprida e chaaaaaaaaata!
Suspirou, arrastando-se até a escola.
Tudo igual o ano inteiro.
Na entrada da escola, foi logo de
colega em colega. Quero um muro no meio do caminho! Quero um muro no meio DO
CAMINHO! Quero um muro NO MEIO CAMINHO! Quero UM MURO NO MEIO DO CAMINHO! QUERO
UM MURO NO MEIO DO CAMINHO!
Alguns colegas arregalavam os olhos e
não entendiam nada, nem queriam entender. Outros iam logo fazendo perguntas,
querendo detalhes. Uma menina, do terceiro B, deu a maior força.
Durante a aula de História, passou um
bilhete pro Chico, que foi passando de mão em mão. Alguém perguntou: -- PRA QUÊ?
Alguém respondeu: -- EU TAMBÉM QUERO! O mais comportado da sala, que sentava na
frente, nem se deu conta do que estava acontecendo. Só tinha olhos para a
professora Teresa. Os papéis iam e vinham como formiga no formigueiro. Pra lá e
pra cá, bem ligeirinhos. Uma beleza responder aqueles bilhetes.
-- Pedro Álvares Cabral descobriu o
Brasil em 1500. Os habitantes da nova terra eram os índios. Na terra descoberta
tinha muita madeira, o pau-brasil. Quando as caravelas foram embora ficaram
dois ladrões. Na nova terra tudo cresce e floresce. Tudo isso entrava por um
ouvido e saia por muitos. A maioria da classe não prestava atenção em nada. Os
bilhetes iam e vinham. Alguém levantou a mão e pediu para fazer pipi, quando
voltou, trouxe muitos bilhetes apoiando a ideia do Juca. Uma menina de
maria-chiquinha passou pela porta e gritou.
-- Queremos um muro no meio do caminho!
Em seguida, passou um cartaz dizendo a
mesmíssima coisa.
A carteira do Juca estava branquinha de
papel. Chega mais um bilhete e junto com ele, uma grande mão de unhas
vermelhas.
-- Me dê esses papéis, João Luiz.
Silêncio profundo como um poço
profundo.
-- Que história é essa de um muro no
meio do caminho? A professora Teresa, parada na frente, tentava controlar a sua
irritação.
-- O que é que você anda lendo, João
Luiz?
Novamente o silêncio. Muitos olhos
arregalados, uns tantos ouvidos atentos. Um silêncio profundo.
-- RESPONDA!!!
-- Ora, professora, um muro no meio do
caminho para tornar a rua mais interessante! – disse Juca com ar inocente.
-- O muro é uma barreira, retrucou a
professora Teresa.
-- Depende de como se faz o muro, ora.
-- Um muro é um empecilho! O dedo em
riste da professora saltou na frente do Juca.
-- Mas ele pode ser um trilho, professora. Um
brinquedo!
-- Isso são coisas de criança!
-- Criança é gente de cara e dente e
nariz pra frente!
A professora respirou fundo, passou a
mão nos cabelos bem arrumados e num tom de voz firme pôs fim naquela conversa.
-- Vamos continuar a aula!
Ouviu-se um grande e único bocejo na
sala. A professora Teresa continuou a sua aula, mas muito perturbada: refletia
na ideia do Juca. “Onde já se viu?! Um muro no meio do caminho, impossível!”.
Raimundo Matos.
Um muro no meio do caminho.
Editora Salesiana Dom Bosco (excertos).
Entendendo o texto:
01 – Qual o significado das
palavras abaixo:
·
Cerradas: fechadas.
·
Retrucou: respondeu.
·
Infernal: insuportável.
·
Empecilho: obstáculo.
·
Detalhes: pormenores.
·
Refletia: pensava.
·
Apoiando: aprovando.
02 – As palavras cerrado e serrado, tem significados diferentes, faça uma frase
empregando as palavras, de acordo com o seu significado.
a)
Cerrado: resposta
pessoal do aluno.
b)
Serrado: resposta
pessoal do aluno.
03 – Quem é o protagonista,
isto é, a personagem principal do texto?
É o Juca.
04 – Que ideia a rotina
despertou em Juca?
A ideia de
construir um muro no meio da rua.
05 – Como os amigos
acolheram essa ideia?
Eles gostaram da ideia.
06 – A professora aderiu à
ideia? Por quê?
Não. Ela achava que o muro seria uma
barreira.
07 – Quais as
características do Juca?
Criativo,
novidadeiro, animado, líder.
08 – E da professora? Como
você a caracterizaria? Como moderna? Tradicional? Exigente? Boazinha?
Resposta pessoal
do aluno.
09 – Relacione os nomes
próprios que aparecem no texto “Um muro no meio do caminho”:
Juca, Teresa,
João Luiz, Chico, Pedro Álvares Cabral, Brasil.
10 – Escreva um nome próprio
de acordo com o que se pede abaixo:
·
Nome de sua cidade: Resposta
pessoal do aluno.
·
Nome de sua escola: Resposta
pessoal.
·
Nome de um rio de sua região: resposta pessoal.
·
Nome de um jornal: resposta
pessoal.
·
Nome do seu time de futebol: resposta pessoal.
·
Nome de um animal de estimação: resposta pessoal.
11 – Dê o plural destes
substantivos abaixo:
·
Nariz: narizes.
·
Rapaz: rapazes.
·
Cartaz: cartazes.
·
Luz: luzes.
·
Voz: vozes.
·
Cruz: cruzes
·
Noz: nozes.
·
Vez: vezes.