sábado, 24 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: DIA DE COMPRAS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: Dia de Compras

                Walcyr Carrasco

ABRO A GELADEIRA. NEM OVOS! Nos armários, nem sabão! Rendo-me ao inevitável. Faço a lista. Parto. Supermercado sábado de manhã é a sucursal do inferno! Mal entro, quase sou atropelado por um adolescente que corre com um carrinho vazio, a irmãzinha dentro. Deveria haver semáforo para carrinhos de compras! Cuidadoso, mantenho meu carrinho à direita, devagar. Uma senhora enfia o dela nos meus calcanhares. Rosno. Ela pede desculpas e segue. Abro a listinha. O problema é que a ordem dos produtos na lista nunca é a mesma em que estão dispostos. Vou para um corredor e pego a lata de molho de tomate. Parto para outro item. Ando quilômetros. O item seguinte está próximo de onde eu estava antes! Logo tenho a impressão de que fiz o trajeto São Paulo—Rio a pé! Guardo a lista. Decido andar entre as gôndolas, pegando o que deve estar em falta.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn0vJMSe0NDMx7X3gK_C8L_Cx3wSmuLtJm4pPzw47SPJKcDF9uh2FJ_dLO4N5espL-T1is1FPRE5-2cytkrK9qQzqfWQD4T0JrlWQnK9OF3naYraWru2y9P1-5poVP-Pmq6SDSkXHNRjWvDd9aIPXW4i048nie7Gni4RPmmAWVZXPQ2CobrGJtDeKBMfI/s320/MERCADO.jpg


— Óleo, preciso. Arroz, preciso. Chocolate, não preciso. Mas quero!

Que fome! Atolo o carrinho de bolachas, salgadinhos, geleias, como se fosse comer tudo imediatamente. Viro à direita e desembarco em um congestionamento. Senhoras maquiadas passeiam pelas gôndolas, tranquilamente. Comportam-se como se estivessem pegando as crianças na escola, paradas na faixa dupla. Ou seja, abandonam os carrinhos no meio do corredor. Empurro um deles. A dona me encara, brava. Ergo a cabeça e continuo. Mais adiante, alguns casais. As crianças comportam-se como se estivessem em um playground. Correm. Gritam. Os pais sorriem, enquanto uma menina derruba uma lata de pêssegos em calda nos meus pés. Atiro-me para o próximo corredor.

Uma senhora idosa pede para eu verificar a validade de um produto. Sorrio, mas sei que caí numa armadilha. A validade é detalhe. Quer puxar papo. Em supermercados é que se nota a solidão das grandes cidades.

— Como o preço do arroz subiu! — diz, entabulando uma conversa.

— Hum, hum.

-— Desse jeito não sei aonde vamos parar.

— Hum, hum.

— Eu venho sempre aqui porque a minha filha e a minha neta trabalham

fora. Minha neta é muito inteligente, já vai prestar vestibular!

— Hum, hum.

— Gosto de conversar com gente como o senhor para me atualizar. O senhor é muito simpático!

— Hum, hum!

Consigo me esgueirar até a fila. É enorme. Vinte minutos. A minha frente, um casal nervoso. Quando está terminando, a caixa pára.

— Este produto está sem código.

Vem um rapazinho. Some. Descubro que a fila do lado andou muito mais depressa. Que raiva! Finalmente, vem o preço. Ele faz o cheque. Novo ritual, enquanto é aprovado. Tenho vontade de abandonar o carrinho e sair correndo.

Chega minha vez. Esvazio o carrinho. Boto tudo em sacolas. Demoro. A caixa me ajuda. Quem está atrás me encara com olhar assassino. Pago. Deu mais do que eu previa, sempre dá mais! Encho o carrinho de novo. Na pressa, boto lataria em cima de frutas, tudo vira uma confusão! Vou para o carro. Tiro as sacolas, guardo. Chego ao prédio. Agora, retiro do carro. Boto no elevador. Arranco do elevador. Entro no apartamento. Estou exausto, mas nada de descansar! Esvazio as sacolas. Ovos se quebraram. Limpo as latas. Enfio tudo na geladeira, nos armários.

Desabo na cadeira. A lista cai do meu bolso.

Esqueci metade. Ah, que vida! Semana que vem, vou ter de voltar!

Entendendo o texto

01. O que leva o narrador a fazer uma lista de compras antes de ir ao supermercado?

a) A falta de organização.

b) A necessidade de planejamento.

c) O desejo de evitar esquecimentos.

d) A tradição familiar.

   02. Por que o narrador compara o supermercado a "a sucursal do inferno"?

         a) Devido ao calor intenso dentro do estabelecimento.

         b) Por causa da multidão e da confusão.

         c) Devido à presença de produtos inflamáveis.

         d) Por ser um lugar escuro e assustador.

   03. Qual é a reclamação do narrador em relação à ordem dos produtos no supermercado?

         a) Os produtos sempre estão em falta.

         b) A disposição dos produtos não corresponde à ordem da lista.

         c) Os preços dos produtos são muito elevados.

         d) Os corredores do supermercado são estreitos demais.

   04. O que o narrador afirma que "deveria haver" para evitar acidentes dentro do supermercado?

         a) Semáforos para carrinhos de compras.

         b) Seguranças controlando o fluxo de pessoas.

         c) Um sistema de navegação para clientes.

         d) Mais espaço para circulação.

  05. Como o narrador descreve o comportamento das crianças dentro do supermercado?

         a) Disciplinadas e calmas.

         b) Correndo e gritando como se estivessem em um playground.

          c) Ajudando os pais nas compras.

          d) Sendo repreendidas por seus pais o tempo todo.

  06. Qual é a observação do narrador sobre a solidão nas grandes cidades, conforme sua experiência no supermercado?

         a) As pessoas se encontram com amigos o tempo todo.

         b) Os supermercados são lugares de socialização.

         c) As pessoas frequentemente estão em busca de interação.

         d) É possível notar a solidão nos momentos de interação superficial, como conversas de caixa de supermercado.

   07. O que o narrador esquece de comprar, mesmo após enfrentar a confusão do supermercado?

          a) Ovos.

          b) Arroz.

          c) Sabão.

          d) Chocolate.

   08. Como o narrador se sente após terminar as compras no supermercado?

          a) Revigorado e relaxado.

          b) Exausto e frustrado.

          c) Satisfeito e contente.

          d) Impaciente e irritado.

    09. O que o narrador faz quando percebe que esqueceu metade das coisas que precisava comprar?

          a) Decide fazer uma nova lista imediatamente.

          b) Desiste e planeja voltar ao supermercado na semana seguinte.

          c) Liga para alguém ir buscar o que falta.

          d) Tenta se convencer de que pode passar sem os itens esquecidos.

  10. Qual é o sentimento geral do narrador em relação à experiência de fazer compras no supermercado?

          a) Prazer e diversão.

          b) Apatia e indiferença.

          c) Irritação e cansaço.

          d) Empolgação e entusiasmo.

 

 

  

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