quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

CRÔNICA: O IMPÉRIO DO SILICONE - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Império do Silicone

                Walcyr Carrasco

ANDO ESPANTADO com o número de pessoas que vem fazendo plástica e lipoaspiração. Conheço uma senhora que deve ter sido pioneira das operações. Pelos meus cálculos, tem uns setenta anos. A aparência é absolutamente indefinível:

— Quando sua família veio do Japão? — perguntei gentilmente, dia

desses.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBc72udDfx3NwnOpzFNV80hVaQjIMJAOVjAWG_VWgJFtGs10xmgOGQnuCpytrc5BOkwk2ftPAO22WU9KDhOFFbL2FupYEas9BITKd7cV22A94-hR8cVbIRQgxRPzqjEgX4Vj3W6F9YPSPydNejsFgtxyVhxXttd2hSX8NKiUAfNGNsIUAyVdwMC-T7WEo/s320/SILICONE.jpg


Momento constrangedor.

.— Sou quatrocentona — respondeu. — Não há um oriental em minha

família!

Seus olhos são tão puxados que eu juraria... Faz parte da época em que se esticava tudo. Os olhos chegavam às orelhas. Uma atriz, certa vez, ficou sem fechar os olhos seis meses. De tão esticada, não conseguia. Dormia com máscara. Atualmente a plástica avançou. É mais sutil. Mas no passado, tudo isso era feito discretamente. Senhoras de mais idade se recusam a confessar as plásticas.

— Nunca precisei — garante minha conhecida, embora suas orelhas, de

tão puxadas, já estejam se encontrando atrás da cabeça.

O grande fenômeno dos últimos tempos não está na medicina, mas na sociedade. Tornou-se chique falar em botar silicone, fazer lipo. As mais famosas anunciam aos quatro ventos:

-— Vou fazer o peito, o braço, os joelhos, as coxas...

Tornou-se maravilhoso ser transformado em uma experiência cibernética! Meu vizinho já entrou na lipo umas seis vezes.

Arranca as adiposidades. Mal convalesce, vai na churrascaria. Enche o bucho com quindins. Dali a pouco, a calça não fecha de novo.

— Está na hora de fazer uma recauchutagem — avisa. 

Aconselho:

— Lipo não é para emagrecer. Só deve ser feita depois do regime!

Ele concorda, sorrindo. E se interna no dia seguinte.

Claro que não resisti. Fui fazer uma consulta. Tirei a camisa e mostrei a

barriga. Parecia um barril. Mas a plástica não faz milagres?

-— Quero ficar mais ou menos como o Reynaldo Gianechini — expliquei.

O médico me observou. Por um instante, pensei que fosse prescrever uma camisa-de-força. Apalpou-me.

— Bem que eu gostaria de tirar sua barriga — explicou. — Nesse caso saberia o que fazer com a minha, que é bem pior.

Abriu a camisa. O umbigo derramou-se para fora. Oh, horror!

Explicou que temos o mesmo tipo de abdome, com gordura espalhada. Lipo não adiantava. Só uma operação. A barriga ficaria esticadíssima. Eu teria de ficar dobrado em dois durante alguns meses, até a barriga recuperar a flexibilidade.

— Tem garantia contra torresmos? — perguntei.

Olhou-me dolorosamente. Não, não havia. Bastavam algumas picanhas bem gordurosas para eu voltar a ser o que sou!

       Fui visitar uma amiga, conhecida pelos decotes. Estava murcha.

— Tirei o silicone -— revelou.

— Por quê?

— É mais ou menos como mudar de corte de cabelo. Uma hora a gente põe, outra hora tira. A semana que vem, faço o rosto.

  Tenho um crédito. Qualquer hora boto os seios de novo!

Um amigo trouxe a solução definitiva para minha barriga. Uma prótese. Inventaram placas para ser colocadas no peito e no abdome. A do tórax simula músculos de atleta. A outra faz a gente ficar com barriga de tanquinho, como qualquer surfista.

— Mas escute... e minhas medidas? A tal barriga de tanquinho vai ser projetada para a frente. Vai ficar parecendo uma máquina de lavar.

Silêncio. Ninguém havia pensado nisso.

Desisti. Será que daqui a alguns anos vamos esquecer como eram os narizes, as orelhas, o jeito do rosto, antes de todo mundo querer atingir determinado padrão de beleza? Orelhas grandes não têm charme? Nariz torto? Tudo bem, querer ficar mais bonito. Mas ainda não consigo entender por que as pessoas andam fazendo tanta plástica. O que era segredo, tornou-se motivo de ostentação.     

 Entendendo o texto

01. Qual é o assunto central da crônica "O Império do Silicone" de Walcyr Carrasco?

      a) Medicina avançada.
      b) Cirurgias plásticas.
      c) Estilo de vida saudável.
      d) Beleza natural.

02. Quem é o narrador na crônica?

      a) Primeira pessoa.
      b) Segunda pessoa.
      c) Terceira pessoa.
      d) Narrador onisciente.

03. Onde o narrador percebe o fenômeno da sociedade em relação à cirurgia plástica?

      a) No hospital.
      b) Na escola.
      c) Na academia.
      d) Na sociedade em geral.

04. Qual é a marca de subjetividade presente na crônica?

      a) Imparcialidade.
      b) Objetividade.
      c) Neutralidade.
      d) Opinião pessoal.

05. O que o vizinho do narrador faz após as sessões de lipoaspiração?

     a) Faz dieta rigorosa.
     b) Vai à academia.
     c) Frequenta a churrascaria.
     d) Faz sessões de bronzeamento.

06. Qual é o conselho do narrador ao vizinho sobre a lipoaspiração?

     a) Fazer a lipo antes do regime.
     b) Não fazer a lipo após o regime.
     c) Não fazer a lipo para emagrecer.
     d) Fazer a lipo mesmo sem fazer regime.

07. O que o médico diz sobre a barriga do narrador?

     a) Recomenda uma dieta.
     b) Sugere uma nova técnica de lipoaspiração.
     c) Afirma que a lipo não é suficiente.
     d) Propõe um tratamento não cirúrgico.

08. Por que a amiga do narrador tirou o silicone?

      a) Por razões de saúde.
      b) Por mudança de moda.
      c) Por recomendação médica.
      d) Por arrependimento.

09. O que o amigo do narrador sugere como solução definitiva para a barriga?

      a) Lipoaspiração.
      b) Prótese.
      c) Dieta.
      d) Exercícios físicos.

10. O que o narrador questiona no final da crônica sobre as cirurgias plásticas?

      a) A eficácia dos procedimentos.
      b) A naturalidade da beleza.
      c) A busca por padrões de beleza.
     d) A importância da saúde.

CRÔNICA: O DRAMA DA GORJETA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Drama da Gorjeta

                Walcyr Carrasco

NUNCA SEI QUANTO dar de gorjeta. Nem se devo dar. Às vezes, sinto me constrangido porque dei pouco. Na maioria das ocasiões me revolto. Com manobristas de restaurante, por exemplo. Até algum tempo atrás, ninguém cobrava pelo serviço. Quando eu entrava no carro ou saía, o manobrista ficava segurando a porta. Se não colocasse uma cédula na sua mão, seria obrigado a partir com a porta aberta, arrastando o sujeito pelo asfalto. Soltar o carro sem gorjeta, ele não soltava! Agora os restaurantes resolveram cobrar pelo estacionamento. Adianta? O manobrista continua de pé, com a porta escancarada, aguardando. Vou pagar duas vezes? Podem me chamar de sovina, mas nunca! Entro e parto com altivez, enquanto ele me atira dardos com os olhos!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_Qp4dJDoefJWVPLMccrvbipIFYY0YDEg0fV4sMyhyi4We_cBMcVUmL9I33WXMJd0RWAwTs76GGl-YOC4YAI_v2LfokjNjWdERbmOw1SpgIGLAd-7L0hqIWi3TBIImjbzb6Azjy1TTUcuGMSDBiC3E8mk7fmURzuGdC9orocvcrw_LStaS05-69tT_gx4/s320/GORJETA.jpg


Nunca me recusei a pagar o serviço em restaurante. Dia desses estava com dois amigos no Esplanada Grill. Veio a conta, calculamos a parte de cada um. O garçom insinuou:

— Os senhores bem que podem caprichar mais um pouco no cheque.

Pago os 10% do serviço e ainda devo dar por fora? Nem tinha sido atendido com tanta presteza assim! Meu amigo Ricardo ficou em dúvida:

— Venho sempre aqui. E se quando voltar não for bem tratado?

— Você chama o gerente e reclama! — aconselhei.

Partimos com uma sensação ruim! Também vi, no supermercado Santa Luzia, uma senhora dando gorjeta ao açougueiro para comprar um bom corte de carne. Quer dizer que eu, por nada oferecer, vou levar o pior?

Em hotel, sempre é uma saia-justa. O sujeito carrega as malas, mostra o quarto, liga a televisão, explica o funcionamento do ar-condicionado e sorri, como se estivesse diante do Tom Cruise. Vasculho os bolsos. Raramente encontro alguma coisa. Em geral, o dinheiro miúdo ficou com o motorista de táxi, que jamais tem troco! Abro a boca e digo:

— Ih... sinto muito, mas...

 É como se eu tivesse me transformado em uma aranha-caranguejeira. O

mocinho se afasta e sorri, arreganhando os dentes como um serial killer:

— Não tem importância!

Oh, céus! Nada é mais terrível que a raiva contida de quem não ganha gorjeta e acha que merece. O mesmo vale para quem leva gorjeta pequena. Havia uma padaria nos Jardins onde sempre tomava café da manhã. Certa vez um senhor comeu seu pão com manteiga e deu o troco ao rapaz do balcão:

— Isso é para você tomar um café.

A resposta foi rápida:

— O senhor desculpe, mas para um café está faltando.

Envergonhadíssimo, o homem completou o valor. Eu, por mim, arrancava as moedas da mão do ingrato!

De flanelinhas, nem se fala. São capazes de ataques de fúria, se dou pouco

dinheiro. O jeito é pedir desculpas:

— Olha, sinto muito, não vi que estava sem dinheiro quando saí de casa, mas outro dia dou mais, prometo...

Só falta assinar uma promissória!

Seja dita a verdade. Há lugares onde as pessoas são treinadas para agradecer. No mesmo Santa Luzia, no Santa Maria, nos supermercados Pão de Açúcar que contam com esse serviço, os empacotadores são capazes de receber um real com a expressão de quem ganhou um bilhete de loteria. O Almanara não cobra serviço na conta e lembra que a pessoa será sempre bem-vinda, dando ou não gorjeta. Basta oferecer um pouco a mais para ouvir um sonoro "muito obrigado"! Mas são exceções.

Digo a verdade: isso não é coisa só de São Paulo, não! Duas vezes, em restaurantes de Nova York, tive de correr atrás das garçonetes para conseguir o troco. Simplesmente se faziam de desentendidas para ver se eu, um turista selvagem, passaria pelo constrangimento de exigir o meu!

E irritante. A maioria das pessoas que conheço recebe seu salário e olha lá! Fazer o serviço com qualidade é obrigação. Não conheço nenhum professor que ganha gorjeta dos alunos se a aula é bem dada! Decidi: posso levar fama de pão duro. Mas gorjeta, comigo... só quando eu achar que merecem!

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central da crônica "O Drama da Gorjeta" de Walcyr Carrasco?

a) A importância da generosidade.
b) Os desafios ao dar gorjeta.
c) A cultura de gratificações.
d) As experiências em restaurantes.

02. Quem é o narrador na crônica?

        a) Primeira pessoa.
        b) Segunda pessoa.
        c) Terceira pessoa.
        d) Narrador onisciente.

03. Onde ocorre a situação em que o narrador sente-se constrangido por dar pouco de gorjeta?

        a) Supermercado.
        b) Hotel.
        c) Restaurante.
        d) Padaria.

04. Qual é a marca de subjetividade presente na crônica?

      a) Imparcialidade.
      b) Objetividade.
      c) Neutralidade.
      d) Opinião pessoal.

05 Em que lugar o narrador se sente constrangido ao dar gorjeta aos manobristas?

      a) Restaurante.
      b) Supermercado.
      c) Hotel.
      d) Padaria.

06. Qual é a função social abordada na crônica?

     a) Educação.
     b) Saúde.
     c) Consumismo.
     d) Serviço e gratificações.

07. Qual é a reação do narrador diante da sugestão do garçom de que ele deveria dar mais gorjeta no restaurante?

     a) Ele concorda e dá uma gorjeta maior.
     b) Ele ignora a sugestão.
     c) Ele se sente constrangido e parte com uma sensação ruim.
    d) Ele chama o gerente e reclama.

08. Onde o narrador presencia uma senhora dando gorjeta ao açougueiro para comprar um bom corte de carne?

     a) Supermercado.
     b) Hotel.
     c) Restaurante.
     d) Padaria.

09. Qual é a reação do narrador ao não encontrar dinheiro nos bolsos para dar gorjeta ao sujeito que carrega suas malas no hotel?

     a) Ele pede desculpas.
     b) Ele dá uma explicação.
     c) Ele se transforma em uma aranha-caranguejeira.
     d) Ele oferece uma gorjeta mesmo assim.

10. Em que lugares o narrador destaca que as pessoas são treinadas para agradecer, mesmo sem gorjeta obrigatória?

     a) Apenas no Santa Luzia.
     b) Apenas no Santa Maria.
     c) Apenas nos supermercados Pão de Açúcar.
     d) No Santa Luzia, Santa Maria e Pão de Açúcar.

CRÔNICA: DELÍRIOS DE HONESTIDADE - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Delírios de Honestidade

                Walcyr Carrasco

OUTRO DIA EU ESTAVA pensando em como seria o mundo se as pessoas fossem realmente honestas. Inclusive no mais prosaico cotidiano. Eu me imagino entrando em uma dessas churrascarias de luxo. Sento-me à mesa e peço um filé bem passado ao garçom. Ele me alerta:

— Não aconselho. O filé hoje está uma sola de sapato.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifWeV-_IqlTpcdLXM8T5OQNUTEgS78GLR89AlVJvJw6pe3206AriDBqOAo0uIjojjS_HW0wLArp1Z8mKUx3epWVa2bBtpcUKBkGN3F9e4kX1E5ORSApxZ_Mkf4kR5XqwnAO-dWwUWjr20BJq_2WDtNOdedzxqlklHP52ay-oBZdOzBFsCe2uAwAVtVzh4/s320/HONESTIDADE.jpg


— Peço o quê?

— Peça licença e vá para outro lugar. Olhe bem o cardápio. Pelo preço de um bife o senhor compra mais de 1 quilo no açougue. Quer jogar seu dinheiro fora?

Vou para outro e escolho: salmão. O garçom:

— Se o senhor quiser, eu trago. Mas salmão, salmão, não é. E surubim, alimentado de forma a ficar com a carne rosada.

Ainda quer?

—Nesse caso fico com escargôs.

— Lesmas, quer dizer? Por que não vai catar no jardim?

Ou então entro numa butique de grife. Experimento um jeans, que está apertadinho na barriga. O vendedor aproxima-se:

— Ficou bom? Ah, não ficou, não, está apertado e não tenho um número maior.

— Acho que dá... ando pensando em fazer regime.

— Pois compre depois de obter algum resultado. Se bem que não sei,

não... essa barriga parece coisa consolidada.

-— Eu quero o jeans. Quero e pronto!

— Não vou deixar que cometa essa loucura. Aliás, falando francamente, o que o senhor viu nesse jeans, que nem cai bem nas suas adiposidades? Só pode ser a etiqueta. Meu amigo, ainda acredita em grife?

Corro à casa de chocolates e peço um dietético. A mocinha no balcão:

— Confia nessa história de dietético? Ou só quer calar a sua consciência?

— E se eu quiser confiar, estou proibido?

— Pois saiba que engorda. Menos que o chocolate comum, mas engorda. E o senhor não me parece em condição de fazer concessões a doces. Não vou contribuir para o seu autoengano, jamais poria esse chocolate nas suas mãos. Vá à feira e peça um jiló.

Resolvo trocar de carro. Passeio pela concessionária, escolho: 

 — Este vermelho, que tal?

— O motor funde mais dia, menos dia — alerta o vendedor.

— Parece tão bonitinho...

— Desculpe, mas você acha que a lataria anda sozinha? Já alertei o dono

da loja, este carro está péssimo. Fique com aquele.

— Mas é velho e horroroso!

— Pode ser, mas anda. Está decidido, leve aquele. E não discuta!

O embate com a honestidade absoluta também poderia ser numa galeria de

arte.

— Gostei daquele -— aponto o quadro à marchande.

-— Está precisando de pano de chão?

— Não... é que... bem, posso não entender de arte, mas achei bonito.

 — Sinceramente, o senhor não entende mesmo. Isto aqui é um horror. Não vale a tinta que gastou. Está exposto porque o dono da galeria insistiu. Leve aquele, é valorização na certa.

— Aquele? É muito sombrio... eu queria alguma coisa alegre e...

— Não insista. Sombrio ou não, vou embrulhar. Faça o cheque, é melhor

pra você.

E numa loja de móveis? Mostro as cadeiras que me interessam. O decorador:

— É amigo de algum ortopedista?

— Está precisando de um? Posso indicar...

— Você é quem vai precisar. Essas cadeiras vão desmontar na terceira

vez em que alguém se sentar. Fratura na certa,

— Caras assim e desmontam? Eu devia chamar o Procon.

— Se quiser, eu chamo para o senhor!

Pior seria alguma vaidosa querendo fazer plástica. O cirurgião examina:

— Hum... hum...

— Meu nariz vai ficar bom, doutor?

— Se a senhora se contenta em trocar uma picareta por um parafuso, fica! Agora, se ambiciona uma melhora significativa, o melhor é morrer e reencarnar de novo. Pode ser que tenha mais sorte.

A paciente sai chorando. Eu, que vivo me irritando com vendedores, chego a uma conclusão: quero comprar o jeans que me oprime a barriga, o chocolate que não emagrece e o quadro colorido. Deliciar-me com as pequenas fantasias. Feitas as contas, delírios de honestidade podem transformar-se em pesadelos cruéis. Os pequenos enganos abrem as comportas dos pequenos sonhos e adoçam o dia-a-dia.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central da crônica "Delírios de Honestidade" de Walcyr Carrasco?

a) Romance.
b) Filosofia.
c) Honestidade.
d) Suspense.

02. Quem é o narrador na crônica?

        a) Primeira pessoa.
        b) Segunda pessoa.
        c) Terceira pessoa.
        d) Narrador onisciente.

03. Qual é a marca de subjetividade presente na crônica?

      a) Imparcialidade.
      b) Objetividade.
      c) Neutralidade.
      d) Opinião pessoal.

04. Onde ocorre o embate com a honestidade absoluta na crônica?

     a) Concessionária de carros.
     b) Galeria de arte.
     c) Casa de chocolates.
     d) Todas as opções estão corretas.

05.  Qual é a função social abordada na crônica?

      a) Educação.
      b) Saúde.
      c) Consumismo.
      d) Meio ambiente.

06. Qual é a linguagem predominante na crônica?

      a) Técnica.
      b) Coloquial.
      c) Formal.
     d) Científica.

07. Quem alerta o protagonista sobre a qualidade do filé na churrascaria?

      a) Garçom.
      b) Cozinheiro.
      c) Cliente ao lado.
      d) Ninguém, ele decide por conta própria.

08.Na loja de móveis, qual é a crítica feita pelo decorador em relação às cadeiras escolhidas?

      a) São desconfortáveis.
      b) São muito caras.
      c) São frágeis e podem desmontar.
      d) Não combinam com a decoração.

09. Qual é a reação do cirurgião em relação à paciente que deseja fazer plástica?

      a) Ele incentiva a cirurgia.
      b) Ele sugere uma alternativa.
      c) Ele desencoraja a paciente.
      d) Ele fica indiferente.

10. Qual é o sentimento final do protagonista em relação aos "delírios de honestidade"?

     a) Arrependimento.
     b) Alívio.
     c) Satisfação.
     d) Nostalgia.

 

 

 

 

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

CRÔNICA: A RAÇA SUPERIOR - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: A Raça Superior

                Walcyr Carrasco

A ESPÉCIE HUMANA ACREDITA ser a única inteligente. Puro engano. Há tempos imemoriais nós, os humanos, fomos derrotados por uma raça superior, muito mais esperta. Mais que derrotados, fomos domesticados. Pelos cachorros. De fato, sob qualquer índice de avaliação, a raça canina se mostra superior. Quem convive com um cão gosta de dizer que é "dono". Como acreditar, se tudo prova que o cachorro é dono do homem? Na questão da alimentação, por exemplo. Qualquer pessoa gasta dinheiro e tempo para comprar ração. Analisa os vários tipos e até experimenta uns pedacinhos para avaliar o sabor. Corre atrás de ossos para proporcionar tardes de degustação ao cachorro. Compra imitações de borracha. Indústrias pesquisam novas rações nutritivas. Gastam uma fábula em propaganda. Ou seja: sem levantar uma pata, o cachorro faz com que os seres humanos trabalhem torrando neurônios, tempo e dinheiro simplesmente para alimentá-los! Certa vez tive uma cachorrinha que só podia comer arroz com cenoura e carne moída. Estava sem empregada. Durante um mês levantava uma hora antes, preparava a comida e saía para trabalhar. Ao voltar, servia uma nova refeição e lavava o prato. Em troca, ela me lambia os dedos. Eu me sentia no cúmulo da felicidade só de receber essas lambidinhas! Seja dita a verdade: quem era dono de quem?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdbBaWaEsU7PULB844Cut0XVsTl2nJF4NpFajdmbcUtz_-AlSBrh9R5qjV91eL8Nq_CN0w-o6IC1XUNJwIFVnY5xgpronVsiLyA-_XA58xsrQRUtUEHq-KVRiUwzXs12zZTfgFkk4gYddIJjPZv1VwJpRFNSzPYEEnqyMSPA4rPzRt6Qm92g-w2LVUkaY/s320/AU%20AU.jpg


E na questão amorosa? Quando gosta, de alguém, o cão abana o rabo. Pode ser um desconhecido. Gostou, abanou. Quando está a fim, deita-se de patas para cima e lança um olhar bem pidoncho. Até o coração mais duro não resiste a dar carinho, cocar as orelhas, fazer uns afagos. Eu, não. Nunca me deitei de barriga para ficar me oferecendo. Vontade não faltou, mas e a coragem? Nós, seres humanos, usamos artifícios. Gastamos dinheiro em perfumes, em cabeleireiros, em dermatologistas. Vamos a happy hours, jantares, festas, barzinhos da moda, entramos em chats da internet, só para achar quem nos coce as orelhas. Se alguém faz festa para todo mundo que conhece, rebolando como um cãozinho, vem o veredicto:  

— Ih! Está com carência afetiva.

Toca a procurar terapeuta. Horas e horas dedicadas a analisar a pura vontade de buscar amor! Revistas dedicam quilômetros de papel a práticas de sedução. Como olhar de lado, como sorrir, como se oferecer sem dar na vista. Mais: como ter coragem de expressar os sentimentos. Cachorro, não. Abana o rabo e pronto. Muitas vezes, com ciúme, já tive vontade de morder alguém. Ao contrário, sorri simpaticamente enquanto o sangue fervia. Cães não possuem esse tipo de constrangimento. Atiram-se em cima do rival. Mordem a mão de quem acaricia. Até conseguirem seu quinhão de afeto. Mas também não guardam raiva. Depois de rosnarem um para o outro, dois cães saem pulando e brincando juntos. Que espécie sabe lidar melhor com as próprias emoções?

A questão da pele também é importante. Criamos indústrias do vestuário porque não estamos satisfeitos com a própria pele, e inventamos estratagemas para cobri-la. Boa parte da humanidade se dedica a fabricar tecidos, a inventar e a vender roupas. Qualquer pessoa ambiciona se vestir bem. Fortunas são despendidas em novos guarda-roupas. A moda vira, e toca a gastar tudo outra vez. Cachorro, não. Nasce vestido. Imagine-se quanto delírio, quanta mão-de-obra seria evitada se o ser humano tivesse a mesma tranquilidade a respeito da própria aparência. 

Chegamos ao X da questão. Criamos filosofias, escrevemos livros. Há quem faça ioga, meditação. Tudo para aprender a aceitar o fardo da existência. O cão já nasce aceitando. A vida é e não é, deve pensar o cão, com a, sabedoria de um mestre zen. É o que constato todo dia ao chegar em casa exausto do trabalho, de mau humor com o chefe, com a fatura do cartão de crédito prestes a me degolar, o cheque especial batendo as folhas em torno de minhas orelhas como uma ave de rapina.

Sento na varanda e meu cachorro se aproxima: Sem nenhuma preocupação na vida. Deita-se aos meus pés e prepara-se para receber sua dose cotidiana de carinho. Eu me submeto. Raça superior é isso aí. 

 Entendendo o texto

01. Quem é considerado a "raça superior" na crônica "A Raça Superior"?

a) Os humanos.

b) Os cachorros.

c) Os gatos.

d) Os pássaros.

02. Qual é o argumento do narrador sobre a superioridade dos cachorros na questão alimentar?

         a) Os cachorros escolhem sua própria comida.

         b) Os humanos trabalham para alimentar os cachorros.

         c) Os cachorros são mais seletivos na escolha da comida.

         d) Os humanos gastam dinheiro e tempo para comprar ração para os cachorros.

03. Como o narrador se sente ao receber lambidas dos dedos de sua cachorrinha?

a) Desprezado.

b) No cúmulo da felicidade.

c) Envergonhado.

d) Indiferente.

   04. Na questão amorosa, como o narrador compara o comportamento humano e canino?

         a) Humanos são mais diretos que os cachorros.

         b) Cachorros abanam o rabo quando gostam de alguém.

         c) Humanos usam artifícios para atrair amor.

         d) Cachorros são mais tímidos em expressar afeto.

05. O que os cachorros fazem quando estão com ciúmes?

         a) Choram.

         b) Mordem.

         c) Sorriem simpaticamente.

         d) Ficam indiferentes.

  06. O narrador menciona a questão da pele como importante. Como os cachorros lidam com isso?

         a) Eles usam roupas para cobrir a pele.

         b) Eles nascem vestidos.

         c) Eles criam indústrias do vestuário.

         d) Eles são indiferentes à própria aparência.

07. O que é destacado como X da questão na crônica?

        a) A alimentação dos cachorros.

        b) A questão amorosa entre humanos e cachorros.

        c) A aceitação da vida pelos cachorros.

        d) A criação de filosofias pelos humanos.

08. Como o narrador se sente ao chegar em casa exausto do trabalho e encontrar seu cachorro?

        a) Irritado.

        b) Indiferente.

        c) Feliz.

        d) Surpreso.

09. O que o narrador observa ao chegar em casa e interagir com seu cachorro?

        a) O cachorro está preocupado com problemas.

        b) O cachorro está ansioso.

        c) O cachorro está relaxado e sem preocupações.

        d) O cachorro está triste.

10. Qual é a conclusão do narrador sobre a raça superior no final da crônica?

        a) Os humanos são superiores aos cachorros.

        b) Os cachorros são superiores aos humanos.

        c) Não há uma raça superior.

        d) Os gatos são mais superiores que cachorros e humanos.

 

 

CRÔNICA: O TRAUMA DOS CARECAS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Trauma dos Carecas

                Walcyr Carrasco

NUNCA ENTENDI O HORROR que os carecas têm da própria calva. Talvez porque meus cabelos cresçam como capim. Já constatei o sofrimento de quem, devido aos lances da genética, ostenta a cabeça reluzente. Conheci um senhor bem-posto na vida que só andava de terno e gravata. Finíssimo! Mas também, carequíssimo. Para disfarçar, penteava o topete de um extremo    da cabeça até o outro. Ficava muito estranho. A risca do cabelo ficava na altura da orelha. Para mantê-los no lugar, mergulhava os fios em um gel gosmento. Se batia um ventinho, o cabelo todo se erguia, que nem um tapete! Ao conversar com ele, meus  olhos se fixavam na careca. Um brilho de fúria surgia em suas pupilas. Eu tentava disfarçar. Dali a pouco, estava de olho na careca. Que constrangimento!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYenbrWL4gzK42GJWZXylQ2gg-fEJ7qD7PzCKoIufp6CmUT91eG1nEVYhYrJBN8HvhaUW3X0R8U9VTsLujsk0SJRqVa50hrUaKrsYIe2Nd6Zf9kSF6krjPLRuSv5MGqaNTFLq7mek62Txso8dWIjyIg5g7FJPF5gquoSLXev7wuGRWclGTvbd7-jGPl7g/s320/CARECA.jpg


E quando o careca usa peruca? Nada é mais óbvio do que peruca com franja. A franja costuma ter uma aparência juvenil. Depois de uma certa idade, ninguém usa franja. Só os carecas. Ou seja, a peruca não serve como disfarce. Equivale a botar um cartaz anunciando: "Debaixo deste cabelo falso tem aeroporto de mosquito!".

Às vezes, com o hábito, o dono nem presta muita atenção na própria peruca. Bota torta. E o tom dos cabelos? O. loiro é parecido com pelagem de cavalo. O castanho, rebrilhoso. Ainda se salvam as pretas, que disfarçam mais. Existem técnicas modernas. Uma delas é uma espécie de tela, colada sobre a calva. Mistura-se com o cabelo. Parece normal até que os cachinhos começam a se espalhar. O cabelo cresce que nem samambaia. O topo continua curto!

Mas ninguém cometa a gafe que eu já cometi, com minha delicadeza

peculiar.

— Ah, você usa peruca?

Terá um inimigo pelo resto da vida!

Há algum tempo encontrei um amigo em um bar. Parecia ter se tornado um... ex-careca! O topo da cabeça absolutamente preto. Sem franja. Peruca não era. Já estava prestes a perguntar qual o tratamento miraculoso. Quando descobri: era uma espécie de tinta! Tinha pintado a calva de preto! De longe, parecia cabelo. De perto, era horroroso. Agora, o pior é a situação de constrangimento em que esses carecas botam um sujeito que tenta ser bem-educado. Eu não podia agir como se tivesse percebido! Passei a noite inteira fingindo que ter o topo da cabeça asfaltado era absolutamente normal!

Outro amigo, Carlos, um arquiteto, era um sujeito charmoso. Fazia o maior sucesso com as mulheres. Estranhei quando começou a economizar para comprar frascos e mais frascos de uma substância americana recém-lançada. Tinha uma careca lustrosa, mas nunca imaginei que fosse problema. Até que fui jantar em sua casa. Mostrou, orgulhoso.

— Veja, já cresceram três fios!

Bem, ele tinha dois. Com os três davam cinco. Todos os cinco espetados no alto da cabeça, que nem as palmeiras da avenida Faria Lima! Brinquei:

— Daqui a pouco você vai poder fazer maria-chiquinha!

Quem disse que careca tem senso de humor? Emburrou, e emburrado

continua!

Outro amigo confessou.

— Usei peruca anos e anos. Até o dia em que fui para o mar. As ondas levaram, a peruca! Foi um deus-nos-acuda para tentar salvar, enquanto todo mundo ria. Que situação!

Hoje passeia a carequice para cima e para baixo. Feliz. Mas reconheço. Ser careca deve causar um sentimento de horror, que ninguém mais é capaz de compreender. Ainda bem que a moda mudou. Há quem raspe a cabeça por gosto! Muitos carecas raspam tudo e fingem que é para ser fashion. Mas grande parte continua atrás da peruca ideal, aquela tão perfeita... que até pareça de verdade!

Entendendo o texto

01. Quem narra a crônica "O Trauma dos Carecas"?

      a) Um senhor bem posto.

      b) Um observador de cabelos crescidos.

      c) Um amigo do narrador.

      d) Um careca charmoso.

02. O que o narrador nunca entendeu sobre os carecas?

     a) Seu sofrimento.

     b) Sua obsessão por penteados.

     c) Seus hábitos alimentares.

     d) Seu amor por ossos.

03. Como o senhor bem-posto tentou disfarçar a calva?

     a) Usando ossos.

     b) Penteando um topete.

     c) Rasgando a calva.

     d) Pintando o cabelo de preto.

04. O que o narrador comenta sobre o uso de peruca pelos carecas?

      a) Que é uma tentativa óbvia de disfarce.

      b) Que é uma moda passageira.

      c) Que é uma tradição antiga.

     d) Que é uma solução permanente.

05. Qual é a gafe que o narrador comete ao descobrir que alguém usa peruca?

      a) Pergunta diretamente: "Ah, você usa peruca?".

      b) Ri da pessoa usando peruca.

      c) Ignorar a situação.

      d) Oferece uma peruca de presente.

06. Como o amigo do narrador disfarçava a calva?

      a) Usando uma peruca com franja.

      b) Pintando a calva de preto.

      c) Rasgando o cabelo para parecer natural.

      d) Utilizando uma tela colada sobre a calva.

07. Qual foi a ocorrência do narrador ao perceber que o amigo tinha apenas três fios de cabelo?

      a) Riu e sugeriu fazer maria-chiquinha.

      b) Ficou interessado com o crescimento capilar.

      c) Ignorou o assunto.

      d) Ofereceu ajuda para resolver o problema.

08. Como o amigo arquiteto reagiu à brincadeira sobre os fios de cabelo?

       a) Ficou alegre e fez maria-chiquinha.

     b) Emburrou e ficou emburrado.

     c) Agradeceu pelo senso de humor.

     d) Rasgou os cabelos de frustração.

09. O que o amigo confessou sobre seu uso de peruca?

      a) Que a usava para se proteger do sol.

      b) Que a perdeu no mar durante uma viagem.

      c) Que você usou por anos e anos.

      d) Que a falou apenas em graças especiais.

10. Como a moda mudou, de acordo com o narrador, em relação aos carecas?

      a) Eles raspariam a cabeça para serem fashion.

      b) Eles usariam perucas cada vez mais realistas.

      c) Eles abandonariam a ideia de disfarces capilares.

      d) Eles continuariam buscando a peruca perfeita.