terça-feira, 9 de março de 2021

POESIA: PAPAI NOEL ÀS AVESSAS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: Papai Noel às Avessas

Carlos Drummond de Andrade

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celuloide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

                             Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. P. 68-69.

                     Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 62-3.

Entendendo a poesia:

01 – Observe, primeiro, que o narrador, embora quase imperceptível, se deixa ver ao inserir comentários em seu relato. Localize estes comentários.

      1ª estrofe – 2° e 3° versos.

      2ª estrofe – 3° verso.

02 – Note, em seguida, que a poesia é, aparentemente, singelo e banal (relato de um evento anônimo em linguagem do cotidiano). De onde vem, então, sua força expressiva?

      Da inversão da imagem tradicional de Papai Noel.

03 – Por último, que sentido podemos atribuir aos seguintes versos?

a)   “Coisas que continuavam coisas no mistério do Natal”.

O Natal não altera o cotidiano.

b)   “Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes”.

Que fora da casa estava calmo e tranquilo.

CRÔNICA: O CARNAVAL E O MENINO - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Crônica: O carnaval e o menino

                   CARLOS HEITOR CONY

        "No grande teatro da vida / vão levar mais uma vez / a revista colossal: / pierrô, arlequim, colombina / vão a preços populares / repetir o carnaval."

        Taí a quadrinha de antigamente, eu era menino e esperava o carnaval com certo temor, medo dos mascarados e, ao mesmo tempo, vontade de ser um deles.

        Até que fui – e não apenas durante o carnaval. Grudei na cara várias máscaras – e se não obtive poder e glória, ao menos sobrevivi no meu canto, fazendo um tipo de carnaval a meu modo, véspera de cinzas.

        Já encarei de tudo. Desde os retiros espirituais no seminário (segundo as santas regras de Santo Afonso Maria de Ligório), até o retiro forçado na cela da Polícia Especial.

        Também fui a outros folguedos. Para opróbrio dos meus descendentes, saí de morcego assustando outras crianças em Paquetá. Minha mãe havia feito complicada fantasia de chinês (ou japonês, dava na mesma), cuja atração era o chapéu de cartolina, em óbvio feitio de chapéu de chinês.

        Tomaram meu silêncio como aprovação. Suei frio ao me imaginar com aquele chapéu, mas aí o meu irmão virou a mesa, ele ia sair de reles marinheiro americano, (não era bem uma fantasia mas um quebra-galho carnavalesco); urinou em cima do meu chapéu chinês.

        Não havia tempo para a fabricação de um artefato elaborado como aquele. O pai deu-lhe safanões por conta do chapéu e de outras patifarias genéricas e acumuladas.

        Minha mãe foi ao armarinho, comprou pano preto, a horrível máscara que cheirava a papelão e a cola – e assim passei e passeei os três dias pelas ruas cheias de sol de Paquetá, dando susto nas crianças que conhecia e evitando aquelas que não conhecia, podiam ser mais fortes do que eu e aí o sovado seria eu.

        Quando a tarde caía, botava a máscara para trás da cabeça, sentindo-me amaldiçoado, perguntando-me sem resposta: quem foi o cretino que inventou essas coisas? Em casa, queriam saber se eu havia gostado. Respondia que sim.

        No rádio, tocavam as músicas do ano, o grande teatro da vida, o pierrô, o arlequim, a colombina a preços populares -o pai não achava os preços tão populares assim. E numa madrugada ele me acordou e me levou até a ponte onde chegava a última barca trazendo os escombros, mutilados pedaços de um rancho que voltava do Rio. Os fogos-de-bengala, ainda vivos e esverdeados, iluminavam as espumas que vinham morrer na praia dos Tamoios. As lanternas de vidro colorido refletiam-se nas cabeleiras empoadas dos mestres-salas.

        Ao pisar terra firme, o rancho renascia de seu cansaço e se arrastava uma vez mais na marcha-hino que louva a ilha, "Paquetá é um céu profundo / que começa neste mundo / mas não sabe onde acabar". O ritmo era mais lento e as luzes ficavam mais tristes dentro da madrugada. Longe, o faroleiro do Xeréu apagava seu facho vermelho: era outro dia.

        Vestia o morcego outra vez, a máscara com cheiro de papelão e cola, e eu sozinho, eu-morcego, batendo as ruas cheias de sol, encontrava outros morcegos, era uma espécie de fantasia oficial dos meninos de Paquetá.

        E sentia frio na espinha quando esbarrava com uma caveira, de camisola branca e encardida, a cruz preta nas costas, devia ser um garoto igual a mim, mas nunca se sabe, e esta dúvida me perseguia a tarde inteira, por que botam caveiras nas ruas do carnaval?

        E eu não entendia o grande teatro da vida (tampouco o entendo agora) nem o pierrô com seu branco rosto banhado de luar. E quando tirava a máscara, ela estava molhada de suor, um suor tão salgado e meu que parecia lágrima.

CONY, Carlos Heitor. Folha de São Paulo. 24 fev. 1998. Caderno A, p. 2.

            Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 29-30.

Entendendo a crônica:

01 – A crônica de Carlos Heitor Cony está atravessada de sentimentos contraditórios. Por exemplo, o medo que o menino tinha dos mascarados e a vontade de ser um deles. Que outros desses sentimentos você identifica no texto?

      Sentimentos contraditórios – 4°, 9° e 13° parágrafos.

02 – O autor nos diz que tinha vontade de ser um mascarado; e que finalmente foi um. E completa afirmando: “e não apenas durante o carnaval”. O que ele quis dizer com esta afirmação?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Até que fui – e não apenas durante o carnaval. Grudei na cara várias máscaras – e se não obtive poder e glória, ao menos sobrevivi no meu canto, fazendo um tipo de carnaval a meu modo, véspera de cinzas.

03 – Como interpretar o início do último parágrafo: “E eu não entendia o grande teatro da vida (tampouco o entendo agora)”? 

      Resposta pessoal do aluno.

 

CRÔNICA: A CASA DO MEU AVÔ - DANUZA LEÃO - COM GABARITO

 Crônica: A casa do meu avô

                    Danuza Leão

       Meu avô paterno, que se chamava Heródoto, tinha dois irmãos, Kociusko e Aristóbulo; sua casa era bem diferente da casa da minha avó materna.

        Eram também 11 tios e tias, mas todos nervosos, desobedientes, brigões e barulhentos. Falavam alto, discutiam e davam grandes gargalhadas – tudo ao mesmo tempo. Depois que a minha avó morreu, meu avô se casou de novo; os três filhos do primeiro casamento odiavam a madrasta, é claro, e eram correspondidos com intensidade, coisas de uma família normal. Sendo assim, seus enteados – entre eles meu pai – tinham muita liberdade: para fazer e sobretudo para pensar.

        Todos adoravam comer e, como a casa era perto do mar, havia sempre grandes peixadas, muito mexilhão, muito camarão de rio e de mar e muita lagosta. No quintal, um canteiro só de pimenta malagueta, e a família se fartava. Comia-se macarrão com pimenta, ovo frito com pimenta, pão com pimenta, sempre tirada na hora, do pé – em conserva, nem pensar. A pimenta era amassada com a faca e espalhada sobre o que se ia comer. Todo mundo saía da mesa fungando, e meu avô dizia: "Se não chorar, não vale". Os mais velhos, quando iam à casa de outros parentes, levavam pimentas num vidrinho, para o que desse e viesse.

        No quintal, um monte de galinhas soltas, e também um galo grande, lindo, de penas ruivas, e um galinho garnisé branco. A primeira percepção de vida que senti – sem entender – foi quando segurei pela primeira vez um ovo que a galinha tinha acabado de botar. O ovo era quente, mas um quente diferente, perturbador; um quente vivo.

        Havia uma mangueira e os mais novos amarravam um saquinho na ponta de uma vara para tirar as mangas ainda verdes; as frutas eram massageadas para que parecessem maduras e vendidas numa rua longe da casa – espertos, os meninos. Quando se comia galinha, o que era raro, era ao molho pardo, e a garotada não perdia a cena, com direito a muito cacarejo e muito sangue. A briga na mesa era pela moela, o objeto de desejo de todos. O pescoço era jogado para um cachorro vira-lata que não tinha dono e sempre aparecia para descolar alguma sobra de comida. Ah, na casa desse meu avô nunca se falou em religião nem nunca ninguém foi à missa.

        Lá não havia muita disciplina; a madrasta de meu pai não conseguia mandar nos que não eram seus filhos e, como os dela queriam fazer o que os meios-irmãos faziam, o resultado era uma confusão permanente. Um dia, a família resolveu se mudar e, quando chegaram à casa nova e contaram, notaram que faltava uma criança; foi preciso voltar para buscá-la.

        Quando meu avô ficou tuberculoso, o médico recomendou uma cidade de bom clima, e a família mudou-se para Barbacena. Fomos visitá-lo uma vez; seu prato, seu copo e seus talheres eram separados dos outros, e não se podia chegar perto para não pegar a doença. Ele ficava o dia todo na varanda, triste, numa cadeira de vime, com as pernas cobertas por uma manta, tomando leite, coitado.

        Era especial, meu avô, e com ele não havia essa de economizar nos sentimentos: quando eu nasci, mandou fazer meu nome em metal, bem grande, e botou na fachada da casa onde morava. Ah, meu avô querido.

        Depois que ele morreu, a família se dispersou, mas ainda guardo dele a mais linda carta que já recebi, contando um sonho que havia tido comigo, querendo me abraçar e não conseguindo.

        O tempo passou, mas ainda sei trechos dessa carta de cor – e continuo gostando muito de comer pimenta.

        E, como ele dizia, se não chorar, não vale.

  LEÃO, Danuza. Folha de São Paulo, 28 jul. 2002. Caderno C. p. 22.

                   Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 27-8.


Entendendo a crônica:

01 – Por que a figura do avô paterno foi tão marcante para a autora?

      Era especial, meu avô, e com ele não havia essa de economizar nos sentimentos: quando eu nasci, mandou fazer meu nome em metal, bem grande, e botou na fachada da casa onde morava. Ah, meu avô querido.

02 – Observe que há um momento neste segundo texto em que aparece o motivo “a primeira vez” (que já encontramos na crônica “Mar”, de Rubem Braga). De que “primeira vez” nos fala a autora?

      No quintal, um monte de galinhas soltas, e também um galo grande, lindo, de penas ruivas, e um galinho garnisé branco. A primeira percepção de vida que senti – sem entender – foi quando segurei pela primeira vez um ovo que a galinha tinha acabado de botar. O ovo era quente, mas um quente diferente, perturbador; um quente vivo.

03 – O aspecto que ganha realce quando lemos as duas crônicas de Danuza Leão são as diferenças entre as duas famílias. Esta crônica vai se construindo tendo a primeira como ponto de referência (A casa da minha avó): a autora vai contrastando os temperamentos das pessoas e o modo de vida de cada família. Como exercício de leitura, faça um levantamento dessas diferenças.

·        A casa da minha avó: temperamento – 4° e 11° parágrafos.

                                    Modo de vida – 1°, 3°, 5°, 8° e 9° parágrafos.

·        A casa do meu avô: temperamento – 2° e 6° parágrafos.

                                 Modo de vida – 1°, 2°, 3°, 5°, 6° e 9° parágrafos.

 

CRÔNICA: PROFESSORES DE INGLÊS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Professores de Inglês

                  Cecília Meireles

        Hoje qualquer pessoa pode aprender inglês com a maior facilidade: há institutos e cursos especializados, livros que dispensam professor, aulas pelo rádio e pela televisão, métodos tão modernos que nem me atrevo a descrever, com medo de me sentir inatual. Mas houve um tempo em que não era assim: os professores de inglês eram difíceis de encontrar, os alunos também não pareciam muito numerosos, a literatura francesa dominava com uma encantadora prepotência, e parece que todo brasileiro educado devia saber, em matéria de idiomas, apenas português e francês.

        Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem como eu andava à procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez possível.

        Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos cursos de arte e literatura. Parecia-me que aquele era o caminho. E dispunha-me a uma dedicação total aos meus exercícios. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa, mas com cursos no estrangeiro, grande prática em aulas particulares e outras especificações, iniciou suas aulas com um pequeno discurso sobre a absoluta necessidade de se conjugar perfeitamente os verbos "to be" e "to have", antes de se conhecer sequer uma palavra do vocabulário.

        Ora, nem todos os estudantes haviam descoberto Keats ou Shelley, e frequentavam as aulas por simples obrigação. Ninguém estava pensando em versos ingleses: nem mesmo a professora. E foi um tal de recitar indicativos, condicionais e subjuntivos, presentes, futuros e passados, ora perfeitos, ora imperfeitos, ora mais que perfeitos, afirmativa, negativa e interrogativamente, que aqueles solos e coros me conduziam a uma inevitável sonolência.

        Mas havia salas próximas em que se estudavam piano e violino. De modo que eu podia descansar na música, sempre que os verbos chegavam àquele ponto de monotonia em que só me restava ou enlouquecer ou dormir.

        A minha segunda professora de inglês era inglesa mesmo. Também acreditava na eficácia dos verbos "to be" e "to have". Acrescentava-lhes ainda o "to get", ao qual se referia com um sorriso tão carinhoso que até dava vontade de se começar por aí. Mas essa professora tinha um método encantador: oferecia-me uma xícara de chá, para acompanhar as aulas. Sua sala era absolutamente igual às que se veem nos livros ilustrados para o ensino do inglês. Exceto a lareira, tudo estava lá. E como eu já sabia um pouco de verbos, passamos àquelas frases em que o chapéu ora é nosso, ora é da nossa prima e o gato ora está embaixo da mesa, ora em cima da cadeira. Mas era tão difícil chegar a Keats e Shelley!

        A terceira professora gostava de histórias de fantasmas, de sinos que batem à meia-noite, e em cima da sua mesa havia uma bola de cristal, por onde ela adivinhava o futuro. Mas no meio das suas histórias levantavam-se às vezes o "to be" e o "to have" e ela me pedia para recitar todos os seus modos e tempos acompanhando os meus esforços com um sorriso que talvez não fosse completamente macabro, mas era bastante assustador.

        Feitas essas primeiras experiências, pareceu-me melhor ir diretamente aos autores, e, de vez em quando, aperfeiçoar-me por meio de quantos livros de "inglês sem mestre" fossem aparecendo.

        Encerrando o ciclo das professoras, começou o dos professores. Um era persa e dava-me a traduzir sentenças filosóficas, sem se ocupar dos modos e tempos do "to be" nem do "to have". 0 outro vinha da Austrália: contava histórias de feitiçaria (esse era para o inglês falado), mas no meio das histórias ficava com tanto medo do que estava contando que era preciso tranquilizá-lo e mudar de assunto.

        Por isso, no dia em que visitei a casa de Keats, em Roma, não pude deixar de pensar com ironia e tristeza: como são longos, às vezes, os caminhos da vida! E quanto tempo se pode levar para se chegar a um poeta!

MEIRELES, Cecília. Inéditos. Rio de Janeiro: Bloch, 1967, p. 151.

Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 14-5.


Entendendo a crônica:

01 – O que fez a autora querer estudar inglês?

      Segundo parágrafo (chegar à poesia inglesa).

02 – A autora começa seu texto contrastando o presente ("hoje") e o passado ("um tempo em que não era assim"), Que diferença ela nota entre estes dois momentos quanto ao ensino de inglês?

      Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem como eu andava à procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez possível.

03 – A autora passou por diferentes professoras e professores sem nenhum resultado prático. Mas nos apresenta cada um deles com muito humor. Que elementos ela vai aproveitando em cada caso para nos fazer sorrir?

      1ª professora – 3° parágrafo. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa, mas com cursos no estrangeiro, grande prática em aulas particulares e outras especificações.

      2ª professora – 6° parágrafo. Sua sala era absolutamente igual às que se veem nos livros ilustrados para o ensino do inglês.

      3ª professora – 7° parágrafo. A terceira professora gostava de histórias de fantasmas, de sinos que batem à meia-noite, e em cima da sua mesa havia uma bola de cristal, por onde ela adivinhava o futuro.

      1° professor – 9° parágrafo. Um era persa e dava-me a traduzir sentenças filosóficas, sem se ocupar dos modos e tempos do "to be" nem do "to have".

      2° professor – 9° parágrafo. 0 outro vinha da Austrália: contava histórias de feitiçaria (esse era para o inglês falado), mas no meio das histórias ficava com tanto medo do que estava contando que era preciso tranquilizá-lo e mudar de assunto.

04 – A autora arremata sua crónica com uma breve reflexão motivada por toda a experiência que nos relatou. E diz: "não pude deixar de pensar com ironia e tristeza". 0 que você acha que há de irónico e triste em toda esta "história que a vida conta"?

      Resposta pessoal do aluno.

     



TEXTO: AS RELAÇÕES DE TRABALHO - SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA - COM GABARITO

 Texto: As relações de trabalho

            Sérgio Buarque de Holanda

        Quem compare, por exemplo, o regime do trabalho dos antigos artesãos com a “escravidão dos salários” nas usinas modernas, tem um elemento precioso para o julgamento da inquietação social dos nossos dias.

   Nas velhas corporações de artesãos, o mestre e seus aprendizes formavam como uma só família, cujos membros se sujeitavam a uma hierarquia natural, mas que partilhavam das mesmas privações e confortos; as relações de empregador e empregado eram pessoais e diretas, não havia autoridades intermediárias.

        Foi o moderno sistema industrial que, separando os empregadores e empregados nos processos de manufatura e diferenciando cada vez mais suas funções, suprimiu a atmosfera de intimidade que reinava entre uns e outros e estimulou o antagonismos de classe. Nas usinas modernas, entre o trabalhador manual e o derradeiro proprietário – o acionista – existe toda uma hierarquia de funcionários e autoridades representados pelo superintendente da usina, o diretor-geral, o presidente da corporação, a junta executiva do conselho de diretoria e o próprio conselho de diretoria.

        Para o empregador moderno – assinala um sociólogo norte-americano, o empregado transforma-se em um simples número: a relação humana desapareceu.

                           HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 8. Ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975. P. 102.


Entendendo o texto:

01 – Em outro momento, Sérgio Buarque de Holanda, o autor do texto, faz a seguinte afirmação:

        “O novo regime (referindo-se às usinas modernas) tornava mais fácil explorar o trabalho, a troco de salários íntimos”. Como essa “exploração do trabalho” é chamada no texto aqui apresentado?

      É chamado de “escravidão dos salários”.

02 – “... o mestre e seus aprendizes formavam como uma só família, cujos membros se sujeitam a uma hierarquia natural...”. Considerando a hierarquia natural de uma família, a quem o mestre poderia ser comparado? E os aprendizes?

      O mestre poderia ser comparado ao pai, e os aprendizes, aos filhos.

03 – Qual a principal transformação ocorrida nas relações de trabalho, das velhas corporações de artesãos para a usinas modernas?

      Nas usinas modernas, a relação entre o empregador e o empregado perdeu a “atmosfera de intimidade”, deixou de ser direto e pessoal: a relação humana desapareceu.

04 – Que tipo de relação de trabalho há numa grande fábrica de automóveis?

      Numa grande fábrica de automóveis (bem como em qualquer grande empresa), a relação de trabalho é sempre impessoal (portanto, nada íntima). Realçar o fato de, numa grande empresa, o patrão ser uma figura abstrata, inacessível.

05 – E na pequena loja de roupas lá da esquina?

      Em toda pequena empresa, há uma relação mais pessoal entre empregador e empregado. Nesse caso, o empregado tem acesso ao patrão e o diálogo entre eles é direto, o patrão sabe o nome do empregado, frequentemente conhece pessoas de sua família, etc.

06 – Em que ocasiões você é tratado como um número e não chamado pelo seu nome?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – O texto está estruturado em quatro parágrafos. Divida-os em introdução, desenvolvimento e conclusão.

      Introdução: primeiro parágrafo.

      Desenvolvimento: segundo e terceiro parágrafos.

      Conclusão: quarto parágrafo.

08 – Qual a ideia básica apresentada no primeiro parágrafo?

      A causa da inquietação social de nossos dias.

09 – Qual o recurso utilizado pelo autor no desenvolvimento?

      O autor compara as relações de trabalho nas antigas corporações de artesãos com as relações de trabalho nas usinas modernas.

10 – Qual a ideia básica apresentada no último parágrafo?

      Desapareceu o lado humano na relação entre o empregador moderno, capitalista, e seu empregado.

11 – Essa ideia básica apresentada no último parágrafo é coerente com o desenvolvimento e a introdução do texto? Explique sua resposta.

      Sim. Depois de introduzir o tema (a inquietação social) e apontar suas causas (o fim das relações pessoais e diretas entre empregador e empregado; a excessiva hierarquização e impessoalidade das relações trabalhistas), a ideia final (a relação humana desapareceu) é consequência lógica do que foi apresentado.

TEXTO: VÍNCULOS, AS EQUAÇÕES DA MATEMÁTICA DA VIDA - MARIA HELENA MATARAZZO - COM GABARITO

 Texto: Vínculos, as equações da matemática da vida

           Maria Helena Matarazzo

     Quando você forma um vínculo com alguém, forma uma aliança. Não é à toa que o uso de alianças é um dos símbolos mais antigos e universais do casamento. O círculo dá a noção de ligação, de fluxo, de continuidade. Quando se forma um vínculo, a energia flui. E o vínculo só se mantém vivo se essa energia continuar fluindo. Essa é a ideia de mutualidade, de troca.       Nessa caminhada da vida, ora andamos de mãos dadas, em sintonia, deixando a energia fluir, ora nos distanciamos. Desvios sempre existem. Podemos nos perder em um deles e nos reencontrar logo adiante. A busca é permanente. O que não se pode é ficar constantemente fora de sintonia.

        Antigamente, dizia-se que as pessoas procuravam se completar através do outro, buscando sua metade no mundo. A equação era: 1/2 + 1/2 = 1.

        "Para eu ser feliz para sempre na vida, tenho que ser a metade do outro." Naquela loteria do casamento, tirar a sorte grande era achar a sua cara-metade.

        Com o passar do tempo, as pessoas foram desenvolvendo um sentido de individualização maior e a equação mudou. Ficou: 1 + 1= 1.

        "Eu tenho que ser eu, uma pessoa inteira, com todas as minhas qualidades, meus defeitos, minhas limitações. Vou formar uma unidade com meu companheiro, que também é um ser inteiro." Mas depois que esses dois seres inteiros se encontravam, era comum fundirem-se, ficarem grudados num casamento fechado, tradicional. Anulavam-se mutuamente.

        Com a revolução sexual e os movimentos de libertação feminina, o processo de individuação que vinha acontecendo se radicalizou. E a equação mudou de novo: 1 + 1= 1 + 1.

        Era o "cada um na sua". "Eu tenho que resolver os meus problemas, cuidar da minha própria vida. Você deve fazer o mesmo. Na minha independência total e autossuficiência absoluta, caso com você, que também é assim." Em nome dessa independência, no entanto, faltou sintonia, cumplicidade e compromisso afetivo. É a segunda crise do casamento que acompanhamos nas décadas de 70 e 80.

        Atualmente, após todas essas experiências, eu sinto as pessoas procurando outro tipo de equação: 1 + 1 = 3.

        Para a aritmética ela pode não ter lógica, mas faz sentido do ponto de vista emocional e existencial. Existem você, eu e a nossa relação. O vínculo entre nós é algo diferente de uma simples somatória de nós dois. Nessa proposta de casamento, o que é meu é meu, o que é seu é seu e o que é nosso é nosso.

        Talvez aí esteja a grande mágica que hoje buscamos, a de preservar a individualidade sem destruir o vínculo afetivo. Tenho que preservar o meu eu, meu processo de descoberta, realização e crescimento, sem destruir a relação. Por outro lado, tenho que preservar o vínculo sem destruir a individualidade, sem me anular.

        Acho que assim talvez possamos chegar ao ano 2000 um pouco menos divididos entre a sede de expressão individual e a fome de amor e de partilhar a vida. Um pouco mais inteiros e felizes.

        Para isso, temos que compartilhar com nossos companheiros de uma verdadeira intimidade. Ser íntimo é ser próximo, é estar estreitamente ligado por laços de afeição e confiança.

           (MATARAZZO, Maria Helena. Amar é preciso. 22. ed. São Paulo: Editora Gente, 1992. p. 19-21)


Entendendo o texto:

01 – Segundo a autora, qual é a grande mágica que todos nós buscamos hoje?

      “Preservar a individualidade sem destruir o vínculo afetivo”.

02 – O que representam as equações abaixo?

a)   ½  +  ½  =  1.

Uma pessoa era considerada como uma metade que se uniria a outra metade; a união dessas duas metades formaria um “inteiro”: o casal. Essa visão está consagrada em expressões como “cara-metade”, “a outra metade da laranja”, etc.

b)   1 + 1 = 1.

Nesta equação ressalta-se que o casal é a soma de duas individualidades (cada qual com suas qualidades e defeitos), ou seja, o casal é uma unidade de duas pessoas, e não um “inteiro” formado de duas “metades”.

c)   1 + 1 = 1 + 1.

Com essa expressão, a autora se refere ao casal formado por pessoas que desejam manter sua individualidade, sua independência (“cada um na sua”), mesmo que sacrificando a relação.

d)   1 + 1 = 3.

Por esta equação, a autora procura representar um novo tipo de relação, em que o casal é formado não apenas pela soma das individualidades (eu e você), mas também pela relação que os une.

03 – Do ponto de vista da matemática, algumas das equações apresentadas não são verdadeiras. Do ponto de vista do relacionamento afetivo, as equações são coerentes com os tipos de relação que representam?

      Evidentemente, do ponto de vista matemática, são falsas as equações 1 + 1 = 1 e 1 + 1 = 3. Porém, no contexto da argumentação elas passam a ter certa coerência: na equação 1 + 1 = 1, o 1 da soma representa o casal (uma unidade) e na equação1 + 1 = 3, o 3 representa o casal (2 pessoas) mais a própria relação que os une.

04 – Quais os perigos da equação 1 + 1 = 1?

      O casamento torna-se fechado e os parceiros se anulam mutuamente.

05 – Das equações apresentadas, qual é a melhor, segundo a autora? Por quê?

      A equação 1 + 1 = 3, pois respeita a individualidade das pessoas (1 +1), enquanto a relação torna-se um terceiro elemento (=3). Ou seja, a individualidade, representada pelo “meu” e pelo “seu”, continuará a ser preservado, mas cedendo espaço também para o “nosso”.

06 – Qual a conclusão do texto? Essa conclusão é coerente com a argumentação exposta?

      A conclusão é que podemos chegar ao ano 2000 menos divididos, mais inteiros e felizes, que é coerente com a argumentação exposta. Vale dizer: se seguirmos os conselhos que o texto nos apresenta, é perfeitamente plausível (embora não necessariamente verdadeiro) que venha a ocorrer o que nos diz a conclusão.

07 – Que conselho final o texto apresenta?

      “Temos que compartilhar com nossos companheiros de uma verdadeira intimidade”.

08 – A autora reduz um tema tão complexo, como a relação de casais, a equações matemáticas bastante simples. Você saberia explicar por quê?

      Ressaltar o caráter de auto-ajuda do livro e o perfil do consumidor desse tipo de leitura. Em publicações dessa natureza, assuntos complexos são, na maioria das vezes, tratados de forma banal.

09 – Segundo Fabrício Marques, da revista superinteressante, manuais de auto-ajuda são obras que abastecem as pessoas de conselhos práticos e referências de comportamento, embora não façam os milagres que prometem. Essas obras quase sempre não têm nenhum valor literário, apenas distribuem afagos, mensagens reconfortantes e conselhos práticos. Em sua opinião, o texto que acabou de ler tem valor literário? Justifique sua resposta.

      Obviamente, é um texto de auto-ajuda, sem valor literário ou artístico. O texto se limita as referências de comportamento e aos conselhos práticos do bem viver a dois, além de reforçar a auto-estima dos leitores.

 

TEXTO: A REFORMA DE LUTERO (FRAGMENTO) - CLAUDIO VICENTINO - COM GABARITO

 Texto: A reforma de Lutero (Fragmento)

           Cláudio Vicentino

        Em 1517, na Alemanha, o monge e professor da Universidade de Wittenberg, Martinho Lutero, rebelou-se contra o vendedor de indulgências João Tetzel, dominicano a serviço do papa Leão X, que recolhia recursos para a construção da basílica de São Pedro.

        Lutero, revoltado com a desmoralização da Igreja, fixou na porta de sua igreja as 95 teses, em que criticava ferozmente a Igreja papal.

        Em 1520, Leão X ordenou a sua retratação, sob pena de ser considerado um herege. Lutero queimou em praça pública a ordem papal, sendo excomungado em 1521.

      VICENTINO, Cláudio. História memória viva – 8ª série. 11. Ed. São Paulo: Scipione, 1999. P. 45.

Fonte: Práticas de Linguagem. Leitura & Produção de Textos. Volume 4. Ernani & Nicola. Editora Scipione. P. 49-50.


Entendendo o texto:

01 – Quem são os personagens do fato narrado?

      Martinho Lutero, monge e professor da Universidade de Wittenberg, e o papa Leão X.

02 – Quando o fato ocorreu?

      Entre os anos de 1517 e 1521.

03 – Onde ele ocorreu?

      Na Alemanha.

04 – O que aconteceu?

      Martinho Lutero rebelou-se contra a Igreja Católica.

05 – Que tipo de acontecimento está centrado o texto?

      O acontecimento está entrado em conflitos, onde temos uma rebelião, uma ruptura.

06 – O narrador participa dos fatos ou se coloca como observador? Justifique a posição do narrador.

      O narrador se coloca como observador, o fato é narrado com impessoalidade (no caso, com o chamado distanciamento histórico).