quinta-feira, 8 de outubro de 2020

POEMA: UMA CARNIÇA - CHARLES BAUDELAIRE - COM GABARITO

 Poema: Uma carniça

                                                    Charles Baudelaire

Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos
Numa bela manhã radiante:
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos.
Uma carniça repugnante.

As pernas para cima, qual mulher lasciva.
A transpirara miasmas e humores.
Eis que as abria desleixada e repulsiva.
O ventre prenhe de livores.

Ardia o sol naquela pútrida torpeza.
Como a cozê-la em rubra pira
E para o cêntuplo volver à Natureza
Tudo o que ali ela reunira.

E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que sobre a relva escassa
Chegaste quase a sucumbir.

Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço.
Dali saíam negros bandos
De larvas, a escorrer como um líquido grosso
Por entre esses trapos nefandos.

E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga.
Que esguichava a borbulhar.
Como se o corpo, a estremecer de forma vaga.
Vivesse a se multiplicar.

E esse mundo emitia uma bulha esquisita.
Como vento ou água corrente.
Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita
E à joeira deixa novamente.

As formas fluíam como um sonho além da vista.
Um frouxo esboço em agonia.
Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista
Apenas de memória um dia.

Por trás das rochas, irrequieta, uma cadela
Em nós fixava o olho zangado
Aguardando o momento de reaver àquela
Carniça abjeta o seu bocado.

– Pois há de ser como essa coisa apodrecida
Essa medonha corrupção
Estrela de meus olhos, sol da minha vida.
Tu, meu anjo e minha paixão!

Sim! Tal serás um dia, ó deusa da beleza.
Após a bênção derradeira.
Quando, sob a erva e as florações da natureza
Tornares afinal à poeira.

Então, querida, dize à carne que se arruína.
Ao verme que te beija o rosto
Que eu preservarei a forma e a substância divina
De meu amor já decomposto!

As flores do mal, Charles Baudelaire.

Fonte: Livro Se liga na língua. 9° ano. Ed. Moderna. 1° Ed. São Paulo, 2018, p. 28 e 29.

Entendendo o poema:

01 – Quais palavras e expressões usadas pelo poeta não fazem parte do vocabulário geralmente ligado à beleza?

      Carniça repugnante; carcaça; fedor; moscas; larvas; trapos nefandos; coisa apodrecida; medonha corrupção; verme.

02 – Qual imagem apresentada no poema poderia ser considerada feia ou desagradável?

      A figura de uma carcaça entreaberta, em decomposição e cheia de larvas, com moscas zumbindo ao redor dela.

03 – No poema, o eu lírico se dirige à pessoa amada. Quais palavras ou expressões a descrevem?

      Meu amor; estrela de meus olhos; sol da minha vida; meu anjo e minha paixão; deusa da beleza; querida.

04 – Compare a resposta da pergunta 1 de relação de sentido se estabelece entre as expressões?

      Contraste, oposição.

05 – Segundo o eu lírico, em que momento a pessoa amada se tornará semelhante à carniça que ele e ela observam? Copie os versos que se referem a tal momento.

      No momento em que a pessoa amada morrer, representado pela imagem sugerida nos versos “Após a bênção derradeira. / Quando, sob a erva e as florações da natureza / Tornares afinal à poeira.”

06 – Releia a estrofe final. Por que o poema pode ser considerado uma declaração de amor?

      Porque o eu lírico afirma que, apesar da ruína que inevitavelmente tomará a pessoa amada, ele preservará sua imagem e o amor que sente por ela.

 

 

POEMA: CAI A CHUVA NO PORTAL - LÍDIA JORGE - COM GABARITO

 Poema: Cai a Chuva no Portal

             Lídia Jorge

Cai a chuva no portal, está caindo
Entre nós e o mundo, essa cortina
Não a corras, não a rasgues, está caindo
Fina chuva no portal da nossa vida.
Gotas caem separando-nos do mundo
Para vivermos em paz a nossa vida.

Cai a chuva no portal, está caindo
Entre nós e o mundo, essa toalha
Ela nos cobre, não a rasgues, está caindo
Chuva fina no portal da nossa casa.
Por um dia todos longe e nós dormindo
Lado a lado, como páginas dum livro.

Lídia Jorge. Fonte. Livro: Se liga na língua. 8° ano. P. 49.

Entendendo o poema:

01 – Qual sentimento a chuva provoca no eu lírico? Explique sua resposta.

      A chuva provoca o sentimento de segurança, conforto, já que protege o eu lírico e seu interlocutor, permitindo-lhes estar em paz, sozinhos, enquanto cai.

02 – Existe uma aproximação entre a chuva e dois outros elementos que aparecem como metáforas. Identifique-os.

      Os objetos cortina e toalha.

03 – No contexto do poema, qual é a característica comum à chuva e a esses dois elementos?

      A chuva, a cortina e a toalha aparecem como elementos que ocultam, separam o eu lírico e seu interlocutor do mundo. Visualmente, os três elementos teriam em comum serem finos.

04 – Em um dos versos do poema ocorre uma comparação. Transcreva-o e explique por que essa comparação não pode ser considerada uma metáfora.

      O verso é “Lado a lado, como páginas dum livro”, em que, pela existência de um termo comparativo (como), não se configura uma metáfora.

05 – Reescreva o mesmo verso empregando uma metáfora.

      Sugestão: Lado a lado, somos páginas dum livro.

06 – Leia o poema em voz alta. A sonoridade aproxima as palavras cortina e vida; toalha e casa. O que é semelhante entre as palavras de cada par?

     O sons vocálicos: no primeiro par, destaca-se o i seguido de a; no segundo, a repetição do a.

CONTO: AQUELA CONVERSA DE TRAVESSEIRO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Conto: Aquela conversa de travesseiro

            Luís Fernando Veríssimo

     -- Quem é o meu quindinzinho?

     -- Sou eu.

     -- Quem é a minha roim-roim-roim?

     -- Sou eu.

        Aí ele inventou de dizer que jamais se separariam e que ele seria, para ela, como aquele nervinho da carne que fica preso entre os dentes.

        E ela:

        -- Credo, Osmar, que mau gosto!

        E saiu da cama para nunca mais.

        O amor também pode acabar por uma má escolha de metáforas.

        Namorados?

Luís Frenando Verissimo. Fonte: Livro Se liga na língua. 8° ano. P. 51.

Entendendo o conto:

01 – Qual metáfora foi uma má escolha? Por quê?

      A metáfora que aproxima a moça de um “nervinho da carne que fica preso entre os dentes”, pois ela produz uma imagem feia, de mau gosto.

02 – Explique a metáfora a minha roim-roim-roim, usada por Osmar.

      A palavra roim-roim-roim parece imitar um ruído gracioso, engraçadinho; portanto, a metáfora aproxima a namorada do ser mimoso que emite esse ruído.

03 – O que o uso dessa metáfora sugere sobre as formas de tratamento usadas pelos namorados?

      Sugere um tratamento infantilizado, que enfatiza o aspecto afetivo.

04 – Explique por que a metalinguagem contribui para o humor desse texto.

      A referência à metáfora inclui no texto um conhecimento técnico que contrasta com a cena banal vivida pelo casal e provoca humor.

 

 

BIOGRAFIA(FRAGMENTO): UBERABINHA (GRANDE OTELO) - SÉRGIO CABRAL - COM GABARITO

   Biografia: Uberabinhahttp://www.ctac.gov.br/otelo/imagens/1pix.gif
                     Sergio Cabral    

Para se ter uma ideia de quanto Grande Otelo trabalhava na segunda metade da década de 1950, basta que se diga que, em 1957, foram lançados seis filmes com a sua participação: Metido a bacana; Brasiliana; Baronesa transviada; Rio, Zona Norte; De pernas pro ar; e Com jeito, vai. E não era somente cinema: no dia 6 de agosto daquele ano, o produtor e diretor Carlos Machado promoveu na elegante boate Night and Day, no Centro do Rio, a estreia de Mister Samba, um espetáculo que focalizava a vida e a obra de Ary Barroso, que tinha Grande Otelo entre os seus protagonistas.

       Com a casa lotada de cariocas e de turistas vindos de todas as regiões brasileiras e de outros países, ele dividia com Elisete Cardoso, a estrela do show, a interpretação de “Boneca de piche”, um dos grandes êxitos da carreira de Ary. Grande Otelo e Elisete interpretavam essa canção havia vários anos, desde o tempo em que a grande cantora, ainda desconhecida do grande público, recebia a ajuda do amigo. Ele conseguia apresentações em clubes, circos, onde, enfim, houvesse um dinheirinho para socorrê-la naquela fase de tanta dificuldade financeira, para cantarem em dupla “Boneca de piche”.

          Certa noite, o público percebeu que alguma coisa incomodava Grande Otelo. Desaparecera o brilho do seu rosto e a alegria de sempre. Ao cantar os versos “Boneca de piche / Da cor de azeviche”, calou a boca, começou a vomitar em pleno palco e correu para os bastidores. Um médico que assistia ao show levantou-se assustado e correu para o camarim. Depois de aplicar uma injeção de coramina, ensopou um algodão com amônia e levou-o ao nariz do paciente, que protestava com veemência. Poucos minutos depois, com o brilho do rosto de volta, o artista manifestou a intenção de continuar o trabalho.

        – Vou voltar para o palco.

        – Não faça isso. Vamos saber o que você tem – advertiu o médico.

        Otelo não levou a discussão adiante. Esperou apenas que Elisete Cardoso encerrasse a interpretação de “No rancho fundo” para voltar ao palco e dar continuidade ao número exatamente na parte interrompida.

        “Boneca de piche

        Da cor do azeviche…”

          Elisete sorriu feliz e não escondeu a emoção, enquanto o público aplaudia cada verso do delicioso samba de Ary Barroso.

           Terminado o show, o médico voltou ao camarim e os dois saíram pela noite carioca. Divertiram-se muito lembrando de casos que ambos viveram ou testemunharam na primeira infância em São Pedro de Uberabinha, a cidade onde nasceram, situada a 863 metros acima do nível do mar, no nordeste do Triângulo Mineiro. Em 1929, a cidade mudaria o nome para Uberlândia, por sugestão de um dos seus filhos ilustres, João de Deus Faria. O médico, chamado Josias de Freitas, era um menino de dois anos quando Otelo, filho da cozinheira da sua casa, Maria Abadia de Souza, nasceu. Em 1957, Josias vivia no Rio, onde abriu consultório e ganhou muito prestígio como cirurgião; mais tarde, viria a assumir a direção-geral do Hospital Grafée Guinle, que transformou na maior trincheira do país na luta contra a aids.

           Por ter apenas dois anos quando Grande Otelo nasceu, Josias não se lembrava da data exata do nascimento do amigo. Nada de mais, pois o próprio Otelo também ignorava. E por isso acabou inventando uma: o dia e o mês, 18 de outubro, segundo justificava, seriam os mesmos do seu batizado. Já o ano, 1915, inventara mesmo. É que ele nunca recorrera à única fonte possível para conhecer toda a verdade, já que, na época, principalmente numa cidade do interior, quase sempre os filhos do povo deixavam de ser registrados nos cartórios oficiais. Se ele tivesse o cuidado de recorrer ao arquivo da paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Uberlândia, veria no livro número 11, de 150 folhas, com a relação de todos os batizados que deveriam ser realizados entre 1o de janeiro de 1915 e 19 de outubro de 1917, o dia certo em que veio ao mundo. Talvez por sobrar folhas em branco, o livro foi até janeiro de 1918. Na página 108, o registro número 42 dá conta de um batizado realizado pelo vigário da paróquia, cônego Pedro Pezzuto, com os seguintes dizeres: “A vinte e um de janeiro de 1918, batizei o inocente Sebastião, nascido a 18 de outubro do ano passado, filho legítimo de Francisco Bernardo da Costa e de Maria Abadia. Padrinhos: Marcelino Felipe de Campos e Maria de Pina”. Portanto, a versão do futuro ator sobre o seu nascimento estava correta pelo menos em relação ao dia e ao mês, embora não tivessem nada com a data do batizado, que foi dia 21 de janeiro. Ele só errou no ano em que nasceu. Na verdade, era dois anos mais novo, pois, segundo o registro da igreja, nasceu em 1917 e não em 1915, como dizia.

Sérgio Cabral. Grande Otelo: uma biografia. São Paulo: Editora 34, 2007. p. 19-21.

Fonte: Livro Se liga na língua. 9º Ano - Ed.Moderna.1º edição, 2018 – p.117.

Entendendo a biografia:

01 – O produtor da biografia do ator Grande Otelo a iniciou com o relato de um espetáculo.

a)   Qual era o tema desse espetáculo?

A vida e a obra de Ary Barroso.

b)   Que fato inesperado aconteceu durante a apresentação?

Grande Otelo sentiu-se mal e precisou set atendido por um médico.

c)   Como a situação se resolveu?

Um médico aplicou-lhe uma injeção de coramina e o fez inalar amônia, o que permitiu sua volta ao palco.

02 – O relato do show pôs em destaque o médico Josias de Freitas.

a)   Por que ele é importante para o relato da vida de Grande Otelo?

Porque, além de ter ajudado nessa situação específica, o médico fez parte do passado do artista.

b)   Há indícios no texto de que o médico também é uma figura de destaque social? Justifique.

Sim. O médico Josias de Freitas foi diretor-geral do Hospital Grafée Guinle, que foi muito importante na luta contra a aids.

03 – O capítulo transcrito oferece informações sobre a origem do biografado.

a)   Qual é o primeiro nome dele?

Sebastião.

b)   Onde ele nasceu?

Em São Pedro de Uberabinha, atual Uberlândia.

c)   Considerando a verdadeira data de nascimento de Grande Otelo, quantos anos ele tinha em 26 de novembro de 1993, quando faleceu?

76 anos.

d)   Segundo a data que o próprio artista indicava como correta, quantos anos ele teria vivido?

78 anos.

04 – O texto menciona a família de Grande Otelo.

a)   Qual era a condição financeira dessa família?

Era uma família pobre.

b)   Cite dois fatos que justifiquem sua conclusão.

A mãe de Grande Otelo era cozinheira em uma residência, e seu nascimento não foi registrado, como costumava acontecer com a população de baixa renda.

05 – Releia o início do texto.

a)   Que imagem de Grande Otelo o leitor constrói com base no primeiro parágrafo?

A imagem de um homem que trabalhava muito e fazia bastante sucesso.

b)   A relação que o artista mantinha com a cântaro Elisete Cardoso acrescenta outra característica dele. Qual? Justifique.

Revela que Grande Otelo era solidário, porque procurava apresentações para ambos em clubes e circos para que a amiga pudesse ter rendimentos em uma fase de dificuldade financeira.

ARTIGO: DESPERDÍCIO NABABESCO(FRAGMENTO) - DRÁUZIO VARELLA - COM GABARITO

 Artigo: Desperdício nababesco

Dráuzio Varella

Publicado em: 29 de novembro de 2016

Revisado em: 11 de agosto de 2020

        Médicos solicitam excesso de exames que poderiam ser evitados com uma consulta bem feito e que oneram os sistemas de saúde público e privado.

        É nababesco o desperdício de exames no Brasil. No consultório, canso de ouvir a frase: “Doutor, já que vou colher sangue, pede todos os exames, tenho plano de saúde”. Nos atendimentos na Penitenciária Feminina de São Paulo, a mesma solicitação, com a justificativa: “Tenho direito, é o SUS que paga”.

        Fico impressionado com o número de exames inúteis que os pacientes trazem nas consultas. Chegam com sacolas abarrotadas de radiografias, tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e uma infinidade de provas laboratoriais que pouco ou nada contribuíram para ajudá-los.

        Num dos grandes laboratórios da cidade, mais de 90% dos resultados caem dentro da faixa de normalidade. Numa das operadoras da Saúde Suplementar, pelo menos um terço das imagens realizadas junta pó nas prateleiras, sem que ninguém se dê ao trabalho de retirá-las.

        São múltiplas as causas dessas distorções.

        Nas consultas-relâmpago em ambulatórios do serviço público e dos convênios, os médicos se defendem pedindo exames, que poderiam ser evitados caso dispusessem de mais tempo para ouvir as queixas, o histórico da doença e examinar os pacientes.

        Para solicitar ultrassom ou tomografia para alguém que se queixa de dores abdominais, basta preencher o pedido. Dá menos trabalho do que avaliar as características e a intensidade da dor, os fatores de melhora e piora, e palpar o abdômen com atenção.

        O SUS e a Saúde Suplementar estão diante do mesmo desafio: como reduzir os custos. Sem fazê-lo, ambos sistemas se tornarão inviáveis, antes do que imaginamos.

Como regra, o paciente sai da consulta confiante de que as imagens revelarão o que se passa no interior de seu organismo, com muito mais precisão do que o médico seria capaz de fazê-lo.

        O problema é que, muitas vezes, o exame será marcado para semanas ou meses mais tarde, porque os serviços de imagem ficam sobrecarregados com o excesso de demanda. A demora prejudicará, sobretudo, aqueles em que há urgência para chegar ao diagnóstico, deixados para trás pela enxurrada de pedidos desnecessários.

        As operadoras de saúde que hoje se queixam da infinidade de exames subsidiários que encarecem as contas a pagar, esquecem que até há pouco faziam comerciais na TV que mostravam resgates por helicóptero e exibiam aparelhos de ressonância, para convencer os usuários de que ofereciam serviços de qualidade.

        Nós, médicos, colaboramos decisivamente para aumentar o custo da Medicina: é de nossos receituários que partem as solicitações. Fazemos a vontade dos que nos pedem “todos os exames”, pedimos provas laboratoriais sem pensar na relevância para o caso e nos damos ao luxo de solicitar exames e prescrever medicamentos sem ter noção de quanto custam.

        Nas faculdades de Medicina, ninguém fala de dinheiro. Os estudantes não recebem noções elementares de economia e o preço dos tratamentos é ignorado, como se vivêssemos em outro planeta.

        Nos hospitais-escola, o descompromisso com a realidade econômica é universal. Com o argumento de que os internos e residentes precisam aprender, ficam justificadas as imagens mais exóticas e a repetição diária de dosagens de íons, provas de função renal e hepática, hemogramas, glicemias e o que mais passar pela cabeça dos plantonistas das UTIs e das unidades semi-intensivas.

        É preciso entender o óbvio: os recursos públicos destinados à saúde são insuficientes. Eles não vêm do governo, saem dos impostos pagos por nós. Cada vez que somos atendidos pelo SUS, fazemos uso de uma parte do dinheiro que é de todos, se o gasto for exagerado muitos ficarão em desvantagem. É bem provável que sejam os mais necessitados.

        Nos planos de saúde acontece o mesmo, com uma diferença: o preço da mensalidade aumenta para todos. É simples, assim. Hoje, os gastos com saúde das empresas constituem a segunda despesa mais alta do orçamento anual, só perdem para a folha de pagamento.

        O SUS e a Saúde Suplementar estão diante do mesmo desafio: como reduzir os custos. Sem fazê-lo, ambos sistemas se tornarão inviáveis, antes do que imaginamos.

        A viabilidade do SUS e da Saúde Suplementar não será alcançada por meio de ideologias, mas com medidas práticas que reduzam os custos da assistência médica e com intervenções preventivas para evitar que as pessoas fiquem doentes.

                                        Dráuzio Varella. Fonte: Livro Se liga na língua. 9° ano. Ed. Moderna, 1° ed. São Paulo, 2018. P. 52.

Entendendo o artigo:

01 – Explique, com suas palavras, a tese do texto.

      O articulista defende a ideia de que grande parte dos exames realizados no Brasil é desnecessária.

02 – Qual é a contribuição da palavra nababesco para a força dessa tese?

      Como nababesco indica algo extremamente custoso, reforça a dimensão do desperdício e, com isso, enfatiza a crítica.

03 – Por que as frases ouvidas dos pacientes podem ser consideradas argumentos nesse contexto?

      As frases provam que os pacientes exigem exames apenas porque têm direito a eles, evidenciando a falta de utilidade de muitos desses exames.

04 – Explique a estratégia usada no terceiro parágrafo para confirmar a validade da tese.

     O autor cita dados numéricos que confirmam a tese.

05 – Para desenvolver a argumentação, o produtor do texto, no último parágrafo transcrito, cria uma relação de causa e consequência. Escreva um período para explicitar essa relação e articule suas partes com o conector uma vez que.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Os médicos pedem muitos exames, uma vez que não têm tempo ou interesse em analisar o paciente para fazer um diagnóstico.

 

REPORTAGEM: "DIÁLOGOS NA USP" DISCUTE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES - ANDRÉ NETTO - COM GABARITO

 Reportagem: Diálogos na USP” discute as mudanças climáticas e possíveis soluções

                      As mudanças climáticas estão acontecendo agora e não precisamos esperar o futuro para ver os efeitos. Especialistas garantem que a solução passaria por medidas de Estado

Por André Netto

    A Organização das Nações Unidas vem alertando que a meta do Acordo de Paris, assinado em 2015, de limitar o aumento da temperatura média global “abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais”, corre o sério risco de não ser alcançada. Isso porque as principais economias, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, estão aquém de suas promessas. O planeta está agora quase um grau mais quente do que estava antes do processo de industrialização, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Os 20 anos mais quentes da história foram registrados nos últimos 22 anos, sendo que os anos de 2015 a 2018 ocupam os quatro primeiros lugares do ranking, diz a OMM. O ano passado, por exemplo, bateu todos os recordes. Se essa tendência continuar, as temperaturas poderão subir de 3 a 5 graus até 2100.

        Mas, afinal, o quão quente o planeta ficou e o que podemos fazer em relação a isso?

        Para falar sobre mudanças climáticas e as possíveis soluções, o Diálogos na USP recebeu os professores Emerson Galvani, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, presidente da Associação Brasileira de Climatologia entre 2008 e 2010, e Marcelo Marini Pereira de Souza, titular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Avaliação de Impacto.

        Marcelo Marini alerta para o fato de que as mudanças climáticas já estão ocorrendo, não é algo que ocorrerá no futuro. “Não é um clique para daqui a pouco, esse clique já aconteceu”, comenta. Segundo o professor, os problemas não têm apenas viés econômico, mas também um grande impacto ambiental, sendo que “o grande problema ambiental hoje é a perda de biodiversidade”, causada principalmente pela ação humana e por essas mudanças no clima. “O ser humano insiste em contribuir com esse processo e não atender às questões globais, atendendo apenas aos interesses econômicos”, afirma.

        Emerson Galvani destaca que não há mais dúvidas de que o planeta está esquentando: “Hoje já é consenso que a temperatura está aumentando, tanto em áreas urbanizadas quanto não urbanizadas”. De acordo com o professor, a causa seria “uma força natural, associada aos ciclos geológicos, e uma força humana”. Ele cita como exemplo de força humana os veículos que utilizamos no dia a dia e que liberam gases estufa.

                              Governo do Estado de São Paulo. Aprender sempre. 9° ano do ensino fundamental. Língua Portuguesa.

Entendendo a reportagem:

01 – Do que o texto fala?

      Fala do aumento da temperatura no planeta e as implicações desse fato.

02 – Releia este trecho:

        “A Organização das Nações Unidas vem alertando que a meta do Acordo de Paris, assinado em 2015, de limitar o aumento da temperatura média global “abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais”, corre o sério risco de não ser alcançada.” Como essa afirmação é sustentada no texto?

      Essa afirmação se sustenta pela citação de fatos e dados, comprovado cientificamente. Caso não o fosse, ela não teria a possibilidade de ganhar a credibilidade do leitor.

03 – Que causas são atribuídas a esse fato?

      As causas de ordem natural e aquelas advindas das ações humanas.

04 – Observando as causas antrópicas, provocadas pelo homem, pense em três intervenções que você, individualmente, poderia fazer para ajudar a diminuir a velocidade dessas mudanças climáticas. Escreva um parágrafo expondo suas ideias.

      Resposta pessoal do aluno.

     

 

TEXTO: O QUE O BRASIL GANHA COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS - MARCOS BUCKERIDGE - COM GABARITO

 Texto: O que o Brasil ganha com as mudanças climáticas

         Marcos Buckeridge é diretor do Instituto de Biociências da USP e presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo

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   O Brasil precisa acordar. Diante do maior desafio já enfrentado pela humanidade, a mudança climática global, o País tem à sua frente uma janela de uma a duas décadas para despertar. Precisa intensificar programas de adaptação que, ao mesmo tempo, aproveitem as oportunidades que o enfrentamento das consequências desse grande problema oferece.

        Evidências científicas mostram que até meados de 2040 o mundo deverá atingir a marca de 1,5°C, caso continuemos emitindo gases de efeito estufa como ainda fazemos hoje. As pessoas perguntam: mas o que significa para mim essa pequena variação de apenas 1°C? De fato, 1°C, ou mesmo 1,5, ou até 3°C podem significar muito pouco se considerarmos nossas preferências pessoais. Porém, uma variação na temperatura média mundial de 1,5°C implica variações de temperatura, chuvas e vários eventos climáticos bem mais amplos e intensos do que o significado pessoal de 1,5°C.

        Os efeitos climáticos são, sobretudo, o que os climatologistas chamam de eventos extremos, ou seja, mudanças no clima local que provocam enchentes, secas, ondas de calor etc. A frequência desse tipo de evento já vem aumentando em vários lugares do planeta. Em outras palavras, teremos um maior número de noites quentes, maior frequência de tempestades, maior probabilidade de ocorrência de eventos mais fortes como furacões e tornados. Tudo isso exacerba os riscos relacionados à saúde humana, infraestrutura das cidades, agricultura e muitos outros setores da sociedade.

        A Conferência das Partes (COP) 21, realizada em Paris em 2015, encomendou um relatório especial ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Os governos querem saber o que fazer para evitar que o mundo ultrapasse a marca de 1,5°C.

        O IPCC reuniu 91 pesquisadores de 40 países que trabalharam durante dois anos com a contribuição de mais 133 pesquisadores de todo o mundo. Os cientistas do IPCC examinaram mais de 6 mil publicações científicas e responderam a mais de 42 mil comentários de cientistas e governos dos 195 países da Organização das Nações Unidas (ONU). Estes números são importantes, pois salientam que as conclusões a que chegamos nesses relatórios são fortemente embasadas na melhor ciência que existe no mundo. Na sua imensa maioria, as publicações utilizadas são de papers científicos editorados. Além disso, o IPCC proíbe fazer prescrições políticas. Em outras palavras, não podemos indicar caminhos para os tomadores de decisão. As conclusões são colocadas como o estado de arte da ciência naquele tópico e naquele momento; por isso, devem servir apenas como guia para que o tomador de decisão escolha por onde ir com embasamento sólido. Se levados em consideração, os pontos levantados pelos relatórios do IPCC tendem a diminuir a probabilidade de que decisões acabem levando ao erro.

                       Governo do Estado de São Paulo. Aprender sempre. 9° ano do ensino fundamental. Língua Portuguesa.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, defina o que é chamado de mudanças climáticas.

      Segundo o texto, “mudanças climáticas são, sobretudo, o que os climatologistas chamam de eventos extremos, ou seja, mudanças no clima local que provocam enchentes, secas, ondas de calar, etc.”

02 – De acordo com o texto, quais são as consequências das mudanças climáticas na vida das pessoas?

      De acordo com o texto, haverá descontroles climáticos, maior frequência de tempestades, maior probabilidade de ocorrência de eventos mais fortes como furacões e tornados, o que, ainda, segundo o texto, exacerba os riscos relacionados à saúde humana, infraestrutura das cidades, agricultura e muito outros setores da sociedade.

03 – E você, o que pensa sobre as mudanças climáticas em relação às consequências delas para as nossas vidas? Você acha que ainda é possível mudar o cenário atual?

      Resposta pessoal do aluno.