sábado, 27 de julho de 2019

POEMA: O SABIÁ E O GAVIÃO - PATATIVA DO ASSARÉ - COM GABARITO

Poema: O Sabiá e o Gavião

Patativa do Assaré

Eu nunca falei à toa.
Sou um cabôco rocêro,
Que sempre das coisa boa
Eu tive um certo tempero.
Não falo mal de ninguém,
Mas vejo que o mundo tem
Gente que não sabe amá,
Não sabe fazê carinho,
Não qué bem a passarinho,
Não gosta dos animá. 

Já eu sou bem deferente.
A coisa mió que eu acho
É num dia munto quente
Eu i me sentá debaxo
De um copado juazêro,
Prá escutá prazentêro
Os passarinho cantá,
Pois aquela poesia
Tem a mesma melodia
Dos anjo celestiá.

Não há frauta nem piston
Das banda rica e granfina
Pra sê sonoroso e bom
Como o galo de campina,
Quando começa a cantá
Com sua voz naturá,
Onde a inocença se incerra,
Cantando na mesma hora
Que aparece a linda orora
Bejando o rosto da terra.

O sofreu e a patativa
Com o canaro e o campina
Tem canto que me cativa,
Tem musga que me domina,
E inda mais o sabiá,
Que tem premêro lugá,
É o chefe dos serestêro,
Passo nenhum lhe condena,
Ele é dos musgo da pena
O maiô do mundo intêro. 

Eu escuto aquilo tudo,
Com grande amô, com carinho,
Mas, às vez, fico sisudo,
Pruquê cronta os passarinho
Tem o gavião maldito,
Que, além de munto esquisito, 
Como iguá eu nunca vi, 
Esse monstro miserave 
É o assarsino das ave
Que canta pra gente uví. 

Muntas vez, jogando o bote,
Mais pió de que a serpente,
Leva dos ninho os fiote
Tão lindo e tão inocente.
Eu comparo o gavião
Com esses farso cristão
Do instinto crué e feio,
Que sem ligá gente pobre
Quê fazê papé de nobre
Chupando o suó alêio.

As Escritura não diz,
Mas diz o coração meu:
Deus, o maió dos juiz,
No dia que resorveu
A fazê o sabiá
Do mió materiá
Que havia inriba do chão,
O Diabo, munto inxerido,
Lá num cantinho, escondido,
Também fez o gavião. 

De todos que se conhece
Aquele é o passo mais ruim
É tanto que, se eu pudesse,
Já tinha lhe dado fim.
Aquele bicho devia
Vivê preso, noite e dia,
No mais escuro xadrez.
Já que tô de mão na massa,
Vou contá a grande arruaça
Que um gavião já me fez.

Quando eu era pequenino,
Saí um dia a vagá
Pelos mato sem destino,
Cheio de vida a iscutá
A mais subrime beleza
Das musga da natureza
E bem no pé de um serrote
Achei num pé de juá
Um ninho de sabiá
Com dois mimoso fiote.

Eu senti grande alegria,
Vendo os fíote bonito.
Pra mim eles parecia
Dois anjinho do Infinito.
Eu falo sero, não minto.
Achando que aqueles pinto
Era santo, era divino,
Fiz do juazêro igreja
E bejei, como quem bêja
Dois Santo Antõi pequenino. 

Eu fiquei tão prazentêro
Que me esqueci de armoçá,
Passei quage o dia intêro
Naquele pé de juá.
Pois quem ama os passarinho,
No dia que incronta um ninho,
Somente nele magina.
Tão grande a demora foi,
Que mamãe (Deus lhe perdoi)
Foi comigo à disciprina.

Meia légua, mais ou meno,
Se medisse, eu sei que dava,
Dali, daquele terreno
Pra paioça onde eu morava.
Porém, eu não tinha medo,
Ia lá sempre em segredo,
Sempre. iscondido, sozinho,
Temendo que argúm minino,
Desses perverso e malino
Mexesse nos passarinho.

Eu mesmo não sei dizê
O quanto eu tava contente
Não me cansava de vê
Aqueles dois inocente.
Quanto mais dia passava,
Mais bonito eles ficava,
Mais maió e mais sabido,
Pois não tava mais pelado,
Os seus corpinho rosado
Já tava tudo vestido. 

Mas, tudo na vida passa.
Amanheceu certo dia
O mundo todo sem graça,
Sem graça e sem poesia.
Quarqué pessoa que visse
E um momento refritisse
Nessa sombra de tristeza,
Dava pra ficá pensando
Que arguém tava malinando
Nas coisa da Natureza. 

Na copa dos arvoredo,
Passarinho não cantava.
Naquele dia, bem cedo,
Somente a coã mandava
Sua cantiga medonha.
A menhã tava tristonha
Como casa de viúva,
Sem prazê, sem alegria
E de quando em vez, caía
Um sereninho de chuva.

Eu oiava pensativo
Para o lado do Nascente
E não sei por quá motivo
O só nasceu diferente,
Parece que arrependido,
Detrás das nuve, escondido.
E como o cabra zanôio,
Botava bem treiçoêro,
Por detrás dos nevoêro,
Só um pedaço do ôio.

Uns nevoêro cinzento
Ia no espaço correndo.
Tudo naquele momento
Eu oiava e tava vendo,
Sem alegria e sem jeito,
Mas, porém, eu sastifeito,
Sem com nada me importá,
Saí correndo, aos pinote,
E fui repará os fiote
No ninho do sabiá.

Cheguei com munto carinho,
Mas, meu Deus! que grande agôro!
Os dois véio passarinho
Cantava num som de choro.
Uvindo aquele grogeio,
Logo no meu corpo veio
Certo chamego de frio
E subindo bem ligêro
Pr’as gaia do juazêro,
Achei o ninho vazio.

Quage que eu dava um desmaio,
Naquele pé de juá
E lá da ponta de um gaio,
Os dois véio sabiá
Mostrava no triste canto
Uma mistura de pranto,
Num tom penoso e funéro,
Parecendo mãe e pai,
Na hora que o fio vai
Se interrá no cimitéro. 

Assistindo àquela cena,
Eu juro pelo Evangéio
Como solucei com pena
Dos dois passarinho véio
E ajudando aquelas ave,
Nesse ato desagradave,
Chorei fora do comum:
Tão grande desgosto tive,
Que o meu coração sensive
Omentou seus baticum.

Os dois passarinho amado
Tivero sorte infeliz,
Pois o gavião marvado
Chegou lá, fez o que quis.
Os dois fiote tragou,
O ninho desmantelou
E lá pras banda do céu,
Depois de devorá tudo,
Sortava o seu grito agudo
Aquele assassino incréu. 

E eu com o maiô respeito
E com a suspiração perra,
As mão posta sobre o peito
E os dois juêio na terra,
Com uma dó que consome,
Pedi logo em santo nome
Do nosso Deus Verdadêro,
Que tudo ajuda e castiga:
Espingarda te preciga,
Gavião arruacêro! 

Sei que o povo da cidade
Uma idéia inda não fez
Do amô e da caridade
De um coração camponês.
Eu sinto um desgosto imenso
Todo momento que penso
No que fez o gavião.
E em tudo o que mais me espanta 
É que era Semana Santa!
Sexta-fêra da Paixão! 

Com triste rescordação
Fico pra morrê de pena,
Pensando na ingratidão
Naquela menhã serena
Daquele dia azalado,
Quando eu saí animado
E andei bem meia légua
Pra bejá meus passarinho
E incrontei vazio o ninho!
Gavião fí duma égua!

    Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 2002.
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.112 e 113.
Entendendo o poema

1)   De que fala o eu poético?
De pessoas que não sabem amar.

2)   O texto procura registrar a fala característica de certa região do Brasil, por isso a flexão de substantivos para o plural não é feita como recomenda a norma-padrão. Isso se nota nos versos:

I . “Eu nunca falei à toa.
     Sou um caboco rocêro”.
II. “Não qué bem a passarinho,
    Não gosta dos animá”.
III. “Não falo mal de ninguém...”

3)   Se a regra gramatical para fazer o plural tivesse sido seguida, o que aconteceria com as rimas no final dos versos 7 e 10?
Elas se perderiam: amá/animá (amar/animais).
Perderiam também o ritmo e deixaria de ser fiel à linguagem do indivíduo que se quer retratar.

4)   Cite alguns exemplos de linguagem oral regional usada pelo autor e que contribui com as rimas, mostrando o estilo oralizado do sertanejo.
armoçá/frauta/resorvê/disciprina
Ausência de marca de plural – das coisas boa / os passarinho cantá

5)   De que trata o poeta nesse poema?
Trata de uma experiência vivida pelo poeta, em que se pode perceber, no encadeamento dos versos, a expressão, os seus pensamentos, os seus juízos sobre o que descreve e a afetividade com que trata do assunto.

6)   No poema pode observar que é uma oposição que existe entre os dois pássaros: o sabiá e o gavião. Caracterize-os.
O sabiá – ave típica com canto melodioso que encanta e alegra.
O gavião – ave destituída dessas características e que, por se alimentar de outras aves, é considerado mau.

7)   De que o poeta deixa claro a partir da oitava estrofe?
A evidência de sua experiência ao retomar um fato acontecido em sua infância.

      8) Na 2ª estrofe, o eu lírico diz do que gosta. Comente o que ele diz.

      O eu lírico diz que gosta dos dias muito quentes em que se senta à sombra de um juazeiro e escuta, com prazer, os passarinhos a cantar... Esse canto lhe parece a mesma melodia dos anjos do céu.

 9) Na 3ª estrofe faz uma comparação. Qual é ela? E por que a faz? O que deseja transmitir?

      O eu lírico compara o canto do galo-de-campina ao som da flauta e do pistão. Nada tão fino e tão rico é tão belo quanto o canto que destaca. Ele o faz porque ama a natureza e nada, para ele, é tão belo. O eu lírico faz uso de palavras simples, mas de profunda sensibilidade comparativa.

  10) O que você entende dos versos: “Que aparece a linda orora / Beijano o rosto da terra”? Explique o sentido.

      É o amanhecer. Num sentido conotativo, ocorre a comparação do sol a surgir como se seus raios beijassem a terra.

    11) Nessa 1ª parte, o eu lírico cita algumas aves. Procure seus nomes no dicionário. Pesquise como são, se cantam, etc.

      As aves são o galo-de-campina, o sofreu, a patativa, o canário e o sabiá. Resposta pessoal do aluno.

   12) O maior dos seresteiros, para o eu lírico, quem é? Por quê? Você sabe o que é um seresteiro? Pesquise e relacione a palavra ao texto.

      O sabiá é o melhor dos seresteiros para Patativa. Resposta pessoal do aluno.

    13)Qual é o maior inimigo das aves, na região? A quem o eu lírico o compara?

      O gavião (coã), que é comparado à serpente e aos fariseus.

    14) Em que lugar deveria estar o gavião, segundo o eu lírico? E por quê?

      Morto, porque é assassino cruel.

    15) O eu lírico foi acompanhando o crescimento dos filhotes do sabiá. Descreva a cena da 2ª parte do poema.

      O eu lírico fala do crescimento dos filhotes, destacando a mudança física. “Não tava mais pelado / O seu corpinho rosado / Já tava todo vestido”.

    16) Houve o dia da desgraça. O dia em que o gavião devorou os filhotes. Observe a poesia colocada na força de cada palavra e descreva: a cena, a reação do garoto e o sentimento do garoto.

      O autor inicia dizendo que o mundo (tudo) está sem graça. Isso já indica a desgraça. Observar o fogo das palavras: sem graça / com desgraça. Havia um canto medonho da coã (acauã). E, percebendo algo anormal, o garoto sai correndo aos pinotes para procurar os filhotes. Seu sentimento de tristeza foi intenso a ponto de quase desmaiar. Chorou muito. Seu batimento cardíaco aumentou. Ajoelhou-se e pediu a Deus que o gavião fosse morto por uma espingarda traiçoeira, como castigo.

  17) Segundo o eu lírico, a natureza participava de tamanha rudeza. Por quê?

      Porque não havia alegria, sol canto alegre. Tudo parecia medonho...

18) Coã é o próprio gavião assassino. Por que, naquele difícil momento, ele soltou seu canto?

      Foi o canto da vitória para a coã (o gavião acauã); mas o da desgraça para o garoto e a mãe natureza.

19) O que diz o eu lírico a respeito do assassino?

      Que ele deveria levar um tiro de espingarda.

20) O que mais surpreendeu o eu lírico naquele dia?

      Ver a natureza fúnebre dos velhos sabiás.

 








CONTO: O COMPADRE DA MORTE - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: O Compadre da Morte
                Luís da Câmara Cascudo


       Diz que era uma vez um homem que tinha tantos filhos que não achava mais quem fosse seu compadre. Nascendo mais um filhinho, saiu para procurar quem o apadrinhasse e depois de muito andar encontrou a Morte a quem convidou. A Morte aceitou e foi a madrinha da criança. Quando acabou o batizado voltaram para casa e a madrinha disse ao compadre:
       - Compadre! Quero fazer um presente ao meu afilhado e penso que é melhor enriquecer o pai. Você vai ser médico de hoje em diante e nunca errará no que disser. Quando for visitar um doente me verá sempre. Se eu estiver na cabeceira do enfermo, receite até água pura que ele ficará bom. Se eu estiver nos pés, não faça nada porque é um caso perdido.
        O homem assim fez. Botou aviso que era médico e ficou rico do dia para a noite porque não errava. Olhava o doente e ia logo dizendo:
      - Este escapa!
     Ou então:
     - Tratem do caixão dele!
     Quem ele tratava, ficava bom. O homem nadava em dinheiro.
      Vai um dia adoeceu o filho do rei e este mandou buscar o médico, oferecendo uma riqueza pela vida do príncipe. O homem foi e viu a Morte sentada nos pés da cama. Como não queria perder a fama, resolveu enganar a comadre, e mandou que os criados virassem a cama, os pés passaram para a cabeceira e a cabeceira para os pés. A Morte, muito contrariada, foi-se embora, resmungando.
       O médico estava em casa um dia quando apareceu sua comadre e o convidou para visitá-la.
      - Eu vou, disse o médico - se você jurar que voltarei!
      - Prometo! - disse a Morte.
      Levou o homem num relâmpago até sua casa.
      Tratou muito bem e mostrou a casa toda. O médico viu um salão cheio-cheio de velas acessas, de todos os tamanhos, uma já se apagando, outras viva, outras esmorecendo. Perguntou o que era:
      É a vida do homem. Cada homem tem uma vela acessa. Quando a vela acaba, o homem morre.
      O médico foi perguntando pela vida dos amigos e conhecidos e vendo o estado das vidas. Até que lhe palpitou perguntar pela sua. A Morte mostrou um cotoquinho no fim.
      - Virgem Maria! Essa é que é a minha? Então eu estou, morre-não-morre!
     A Morte disse:
    - Está com horas de vida e por isso eu trouxe você para aqui como amigo mas você me fez jurar que voltaria e eu vou levá-lo para você morrer em casa.
     O médico quando deu acordo de si estava na sua cama rodeado pela família. Chamou a comadre e pediu:
    - Comadre, me faça o último favor. Deixe eu rezar um Padre-Nosso. Não me leves antes. Jura?
   - Juro -, prometeu a Morte.
   O homem começou a rezar o Padre-Nosso que estás no céu... E calou-se. Vai a Morte e diz:
   - Vamos, compadre, reze o resto da oração!
   - Nem pense nisso, comadre! Você jurou que me dava tempo de rezar o Padre-Nosso mas eu não expliquei quanto tempo vai durar minha reza. Vai durar anos e anos...
     A Morte foi-se embora, zangada pela sabedoria do compadre.
     Anos e anos depois, o médico, velhinho e engelhado, ia passeando nas suas grandes propriedades quando reparou que os animais tinham furado a cerca e estragado o jardim, cheio de flores. O homem, bem contrariado disse:
       - Só queria morrer para não ver uma miséria destas!...
        Não fechou a boca e a Morte bateu em cima, carregando-o. A gente pode enganar a Morte duas vezes mas na terceira é enganado por ela.

(CASCUDO, Luís da Câmara.Contos tradicionais do Brasil. Belo Horizonte; São Paulo, Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1986. Texto Adaptado)
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.120 a 123.
Nas linhas do texto

1)   No início da história, a personagem principal é chamada apenas de um homem ou o homem.
a)   Como o narrador passa a se referir à personagem principal depois que a Morte batiza seu filho?
Compadre.

b)   A partir de qual fato a personagem passa a ser chamada de médico?
A partir do momento em que a Morte lhe dá o poder de predizer a morte das pessoas.

2)   Qual foi a forma escolhida pela Morte para enriquecer seu compadre?
Fazê-lo médico: sempre que fosse visitar um doente, o homem veria a Morte. Conforme o lugar da cama onde ela estivesse sentada, o homem saberia se o doente iria se curar ou não: se na cabeceira, o doente se salvaria se nos pés, ele seria levado pela Morte.

3)   Quando o príncipe adoeceu gravemente, qual foi o plano do homem para enganar a Morte?
Como a Morte estava sentada nos pés da cama do jovem, o homem mandou os criados virarem a cama, trocando os pés pela cabeceira; desse modo, a Morte ficou na cabeceira e não pôde levar o príncipe.

4)   O homem enganou a Morte uma segunda vez. Quando foi isso e o que ele fez?
Quando o homem estava para morrer, pediu para rezar um padre-nosso e não ser levado enquanto não terminasse a oração. Só que ele parou no meio da reza, dizendo que não tinha dito quando ia terminá-la. Assim, a Morte não pôde levá-lo.

5)   O homem conseguiu enganar a Morte pela terceira vez? Explique sua resposta.
Não conseguiu: desatento, disse que preferia morrer a ver o jardim estragado. Tomando essa frase como pretexto, a Morte levou-o.

6)   Ao salvar o filho do rei, o homem desafiou a Morte. Marque a alternativa mais adequada para explicar o motivo dessa decisão dele.
a)   Medo do rei.
b)   Vaidade pessoal.
c)   Ganância de mais riqueza.
d)   Provocação feita à Morte.

7)   O homem foi finalmente levado pela Morte porque:
a)   não se pode enganar a Morte mais de duas vezes.
b)   ela foi mais esperta, aproveitando-se de uma distração dele.
c)   ele não conseguiu rezar o padre-nosso até o fim.
d)   ele estava muito velhinho e vivia contrariado, desejando morrer.

8)   No final da história, o médico diz: “Só queria morrer para não ver uma miséria destas!...”. No mesmo instante, a Morte se aproveitou dessa frase para leva-lo.
a)   Ele queria mesmo morrer ao dizer isso? Explique sua resposta.
Não, ele apenas queria expressar seu descontentamento com o estrago no jardim.

b)   De que outro modo ele poderia se expressar para não dar à Morte a chance de leva-lo?
“Daria todo meu dinheiro para não ver esta desgraça!”, “Não acredito que estou vendo uma desgraça destas!”, etc.

CRÔNICA: MINHAS FÉRIAS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Minhas férias
                Luís Fernando Veríssimo

     Eu, minha mãe, meu pai, minha irmã (Su) e meu cachorro (Dogman) fomos fazer camping. Meu pai decidiu fazer camping este ano porque disse que estava na hora de a gente conhecer a natureza de perto, já que eu, a minha irmã (Su) e o meu cachorro (Dogman) nascemos em apartamento, e, até os 5 anos de idade, sempre que via um passarinho numa árvore, eu gritava "aquele fugiu!" e corria para avisar um guarda; mas eu acho que meu pai decidiu fazer camping depois que viu o preço dos hotéis, apesar de a minha mãe avisar que, na primeira vez que aparecesse uma cobra, ela voltaria para casa correndo, e a minha irmã (Su) insistir em levar o toca- discos e toda a coleção de discos dela, mesmo o meu pai dizendo que aonde nós íamos não teria corrente elétrica, o que deixou minha irmã (Su) muito irritada, porque, se não tinha corrente elétrica, como ela ia usar o secador de cabelo? Mas eu e o meu cachorro (Dogman) gostamos porque o meu pai disse que nós íamos pescar, e cozinhar nós mesmos o peixe pescado no fogo, e comer o peixe com as mãos e se há uma coisa que eu gosto é confusão. Foi muito engraçado o dia em que minha mãe abriu a porta do carro bem devagar, espiando embaixo do banco com cuidado e perguntando "será que não tem cobra?", e meu pai perdeu a paciência e disse "entra no carro e vamos embora", porque nós ainda nem tínhamos saído da garagem do edifício.
          Na estrada tinha tanto buraco que o carro quase quebrou, e nós atrasamos, e, chegamos ao lugar do camping, já era noite, e o meu pai disse "este parece ser um bom lugar, com bastante grama e perto da água", e decidimos deixar para armar a barraca no dia seguinte e dormir dentro do carro mesmo; só que não conseguimos dormir, porque o meu cachorro (Dogman) passou a noite inteira querendo sair do carro, mas a minha mãe não deixava abrirem a porta, com medo de cobra; e no dia seguinte tinha a cara feia de um homem nos espiando pela janela, porque nós tínhamos estacionado o carro no quintal da casa dele, e a água que o meu pai viu era a piscina dele e tivemos que sair correndo. No fim conseguimos um bom lugar para armar a barraca, perto de um rio. Levamos dois dias para armar a barraca, porque a minha mãe tinha usado o manual de instruções para limpar umas porcarias que meu cachorro (Dogman) fez dentro do carro, mas ficou bem legal, mesmo que o zíper da porta não funcionasse e para entrar ou sair da barraca a gente tivesse que desmanchar tudo e depois armar de novo. O rio tinha um cheiro ruim, e o primeiro peixe que nós pescamos já saiu da água cozinhando, mas não deu para comer, e o melhor de tudo é que choveu muito, e a água do rio subiu, e nós voltamos pra casa flutuando, o que foi muito melhor que voltar pela estrada esburacada, quer dizer que no fim tudo deu certo.
    
Luís Fernando Veríssimo. O nariz. São Paulo: Ática, 2003. (Col. Para Gostar de Ler, v.14).
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.41

Entendendo a crônica

1)   Quem está relatando as férias? Para quem ele parece estar relatando?
Pelo título do texto, parece ser um menino ou uma menina que relata aventuras, vividas durante as férias, em uma redação escolar.

2)   Esse texto escrito aproxima-se de um texto falado. Escolha entre as possibilidades abaixo as características que comprovam essa afirmação.
a)   Frases encadeadas, sem pausa, apenas com ponto final.
b)   Repetições.

c)   Preocupação com a organização do pensamento e utilização de palavras semelhantes para evitar repetições.
d)   Vocabulário simples, imitando o jeito de falar de uma criança ou pré-adolescente.

3)   Em sua opinião, a linguagem usada nesse texto seria adequada em um jornal de circulação nacional, em uma revista para adultos, em uma revista para jovens, em um diário, em uma carta pessoal, em um livro de memórias? Por quê?
Resposta pessoal.
Professor. Essa linguagem seria adequada, sem dúvida, no diário e na carta pessoal, mas, desde que os alunos apresentem uma razão válida, outras respostas podem ser aceitas.

4) Que situação é narrada nesse texto?
    As férias de uma família em um camping.

5) Que explicação o pai do narrador deu para levar a família ao camping? Essa explicação o convenceu? Explique.
     Que estava na hora de a família conhecer a natureza de perto. Não convenceu, pois ele achava que o pai decidiu acampara devido aos preços dos hotéis.

6) Por que a família do narrador passou a primeira noite no carro?
     Havia muitos buracos na estrada, o carro quase quebrou, e eles se atrasaram, então decidiram montar a barraca no dia seguinte e dormir no carro.

7)  Explique por que, no dia seguinte, a família teve que sair correndo?
     Porque estacionaram o carro no quintal de uma casa.

8)  O narrador fez tudo exatamente como planejara? Comente.
     Não. O rio tinha um cheiro ruim, e o primeiro peixe que pescou já saiu cozido.

9) Sobre os elementos que constituem a narrativa, responda às questões.
    a) O narrador participa da história como personagem ou apenas conta o que aconteceu? Comprove com uma frase extraída do texto.
          O narrador participa. "Meu pai decidiu fazer camping..."

      b) Quem são os personagens do texto?
           O narrador-personagem, sua mãe, seu pai, sua irmã Su e seu cachorro Dogman.

       c) Em que tempo e espaço se passa a história?
           Durante o período de férias, em um camping.

10) Pela extensão do texto, podemos afirmar que crônicas são textos geralmente
      (     ) longos.
      ( X ) curtos.

11) Esse texto é uma crônica de humor. Além de entreter o leitor, esse gênero textual faz um crítica sutil, isto é, de maneira leve, sobre algum assunto do dia a dia (social, político, econômico, etc.), levando o leitor a uma reflexão. No caso desse autor, uma de suas marcas é construir a sua crônica com bastante humor e ironia.
      O que no texto nos revela ironia?
      O narrador considerar que, mesmo com todos os contratempos, no fim, tudo deu certo.

12) Um texto humorístico geralmente apresenta situações de exagero e absurdos para criar o humor. Identifique, na crônica em questão, algumas situações como essas.
     O garoto contar ao guarda que o passarinho fugiu da gaiola; a irmã insistir em levar os discos; a mãe ainda na garagem do prédio olhar embaixo do banco do carro para ver se tinha cobras; o pai confundir o quintal de uma casa com a área de camping, entre outras.

ROMANCE: DIÁRIO DE UM BANANA(FRAGMENTO) - JEFF KINNEY - COM GABARITO

ROMANCE(FRAGMENTO): DIÁRIO DE UM BANANA
               Jeff Kinney

O trecho de diário que você vai ler é fictício, isto é, foi criado por um escritor como um recurso para contar a história de Greg, um estudante do 6º ano que tem de enfrentar o maior desafio de sua vida: sobreviver na escola. Ele encontra diferentes maneiras de lidar com os valentões do colégio e com os problemas na família.

Quinta-feira
Estou tendo um problema sério em me acostumar
ao fato de que o verão acabou e eu tenho que me
levantar todo dia de manhã para ir à escola!
Meu verão não começou muito bem, na verdade,
graças ao meu irmão mais velho, Rodrick.
Uns dois dias depois do começo das férias de verão,
Rodrick me acordou no meio da noite. Ele me disse
que eu tinha dormido o verão inteiro, mas que, por
sorte, tinha acordado bem a tempo para o primeiro
dia de aula.
Você pode achar que eu fui muito burro de cair
nessa, mas o Rodrick estava vestindo as roupas
de escola dele e adiantou o meu despertador para
parecer que era de manhã. Além disso, ele fechou
as cortinas para eu não ver que ainda estava
escuro lá fora.
[...]

Mas eu devo ter feito muito barulho porque,
quando vi, o papai tinha descido e estava gritando
comigo por comer Sucrilhos às 3:00 da manhã.

Levou um minuto para eu me dar conta do que
diabos estava acontecendo.
Depois disso, eu contei pro papai que o Rodrick
tinha pregado uma peça em mim e que era ELE
quem devia estar levando a bronca.
Meu pai desceu para o quarto do Rodrick e eu
fui junto. Não via a hora de vê-lo levar o que
merecia.

Mas o Rodrick tinha disfarçado bem as coisas.
E acho que até hoje o papai pensa que eu tenho
um parafuso solto ou coisa do tipo.

Jeff Kinney. Diário de um banana: um romance em quadrinhos. São Paulo: Vergara & Riba, 2008. v.1.
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.14 a 17
Explorando o Texto

1)   Quem são as personagens mencionadas nesse trecho do diário?
Greg, seu irmão mais velho, Rodrick, e seu pai.

2)   Existe um acontecimento que é assunto principal nessa página do diário de Greg.
a)   Qual é esse acontecimento?
Uma peça que lhe prega o irmão mais velho, que o fez acordar de madrugada, durante as férias, dizendo que já estava na hora de ir para escola.

b)   Que fez Rodrick para enganar o irmão?
Vestiu roupas da escola, adiantou a hora do despertador e fechou as cortinas para que Greg não percebesse que ainda era noite.

c)   Quando o garoto percebeu que fora enganado?
Quando o pai apareceu gritando com ele por comer Sucrilhos às 3h da madrugada.

d)   De acordo com Greg, por que o pai se irritou com ele? Que trecho mostra isso?
Possivelmente porque estava fazendo barulho demais.
“Mas eu devo ter feito muito barulho [...]”

e)   O pai castigou o irmão mais velho? Por quê?
Não, porque ele disfarçou bem as coisas, fingindo que estava dormindo.

3)   Releia o primeiro parágrafo:
     Estou tendo um problema sério em me acostumar ao fato de que o verão acabou e eu tenho que me levantar todo dia de manhã para ir à escola.

a)   A quem se referem as palavras me e eu?
A Greg.

b)   Portanto, qual das personagens é o autor do diário?
Greg.

c)   Essa personagem é também autora do livro Diário de um banana? Como você chegou a essa resposta?
Não, o autor do livro é Jeff Kinney. Observando a referência bibliográfica no final do texto.

4)   Com base no caso contado por Greg, como o leitor desse diário pode imaginar o relacionamento entre os dois irmãos?
O leitor pode imaginar que era conflituoso: Rodrick gostava de pregar peças no irmão mais novo e depois se livrava das repreensões.

5)   Greg conta esse caso no dia em que ele aconteceu? Como você chegou a essa conclusão?
Não, o fato aconteceu uns dois dias depois do começo das férias de verão, mas foi relatado num momento posterior, quando o verão já havia acabado, e o menino estava tendo dificuldades para se adaptar à rotina das aulas.

6)   O que você acha de pessoas que pregam peças nos outros, ou seja, enganam ou outros? Justifique.
Resposta pessoal.

7)   Você já viveu uma situação semelhante, em que tenha sido acusado de algo que não fez? Se isso aconteceu, conte.
Resposta pessoal.