sábado, 29 de dezembro de 2018

POEMA: MENINO MARINHEIRO - ELIAS JOSÉ - COM GABARITO

 Poema: Menino Marinheiro
           Elias José
                         

 O menino,
 marinheiro imaginário,
 navega pelos mares
 mais bravios
 em seu barco azul.

 O barco azul é cheio de luz,
 cheio de flores e doces
 e música que o vento traz.

 Nos dias quentes, vem o sol
 e amacia e aquece o balanço
 do barco e dos corpos.
 A noite fria traz gomos de céus,
 com traços de lua e estrelas
 pra enfeitar o barco do menino.

 Muitas vezes, leve, livre e sereno,
 sem pressa, sem rota, sem rumo,
 lá vai o barco azul.

 Outras vezes, o barco azul
 enfrenta tempestades,
 relâmpagos, raios e ventania.

 Quase sempre, há piratas e perigos
 e brigas e perdas e naufrágios.
 Mas o barco azul vence tudo e todos
 e segue sem pressa, sem rota e sem rumo.
 Forte e sempre sereno, o barco segue.

 O que leva de tão importante o barco?
 Leva flores, doces e colares de estrelas
 pra namoradinha imaginária
 do imaginário marinheiro.


                 Elias José. Forrobodó no forró. São Paulo: Mercuryo Jovem. 2006. p. 37.

Entendendo o poema:
01 – Em poemas, a pontuação nem sempre obedece às orientações que devem ser aplicadas aos textos em prosa. No poema a seguir isso não ocorre, pois seu autor pontuou-o como se fosse um texto em prosa. Mas, para fins de estudo, foram suprimidas propositalmente todas as vírgulas. Leia-o e depois faça o que se pede.
a)   Empregue, no poema, vírgulas onde convencionalmente elas deveriam ser utilizadas.
Estão marcadas no texto. (,)

b)   Troque ideias com os colegas e justifique o emprego das vírgulas nestes versos:
Muitas vezes, leve, livre e sereno,
Sem pressa, sem rota, sem rumo,
Lá vai o barco azul.
      As vírgulas separam termos que exercem a mesma função sintática em “leve, livre e sereno” (adjuntos adnominais de barco) e “sem pressa, sem rota” (adjuntos adverbiais de vai); e indicam deslocamento de adjunto adverbial em “Muitas vezes”, e “Sem rumo”.

REPORTAGEM: VIRANDO ADULTO - ANDRÉ MUGGIATI - COM GABARITO

REPORTAGEM: Virando adulto
      
     Índio cresce na base do sofrimento
                                       ANDRÉ MUGGIATI 
                       DA AGÊNCIA FOLHA, EM TABATINGA

        Os índios saterés-maués têm de se submeter à mordida dolorida de grandes formigas pretas, chamadas de tucandeiras, para provar para toda a tribo que já são homens. O ritual, que marca a passagem para a idade adulta, é chamado de "festa da tucandeira". Os garotos entre 10 e 15 anos vestem uma luva trançada de palha com dezenas de tucandeiras, famosas pela ferroada dolorida.
        "Quando a gente mete a mão na luva da tucandeira parece que está pegando fogo, como se estivesse em um braseiro", diz o índio sateré-maué Manelito Sateré, 25, que passou pelo ritual quando tinha 13 anos de idade.
        Mordidas diárias em 20 dias.
        Os índios dançam com as luvas durante cerca de quatro horas a cada dia de ritual. Ao todo são duas etapas de dez dias consecutivos, intercaladas por um descanso de dez dias. Os rituais ocorrem todos os anos entre agosto e outubro.
        "Quando a gente tira a luva, o braço está suando sangue", diz Manelito Sateré, que vive na aldeia Andirá, em Barreirinha (a cerca de 400 km a leste de Manaus). De acordo com ele, as formigas pretas representam, para os índios, mulheres disfarçadas. "Antes de pôr a mão na luva pela primeira vez, a gente sente um frio na barriga, parecido com a primeira vez em que vai transar com uma mulher", diz Sateré. Segundo ele, as mordidas das tucandeiras fazem do menino um homem. É importante que eles sejam virgens ao pôr a mão na luva pela primeira vez. "Dói menos", diz Sateré.
        Segundo o administrador da Funai em Parintins (390 km a leste de Manaus), Lúcio Ferreira Menezes, os meninos não são obrigados a participar do ritual. "Quando eles veem os outros pondo a mão na luva, acabam tendo vontade de colocar também e provar que já são adultos", afirma.
        'Macho' não foge da luva.
        Já Sateré diz que quem não se submete ao ritual é considerado menos homens e tem dificuldade em conseguir namorada. Adultos também gostam de colocar a mão na luva durante a festa. Demonstram sua força para o restante da tribo.
        "As mulheres também preferem os homens que colocam as luvas e não choram", afirma Sateré.
        "Durante essas quatro horas você chora, você grita, você sofre", diz Menezes, que também é índio sateré-maué e colocou a mão na luva pela primeira vez aos 12 anos.
        Nos dias de ritual e durante os intervalos, os índios só podem comer farinha seca e formigas torradas.
        "Uma pessoa com 60, 70 quilos, após o final das festas está com, no máximo, 50", conta Menezes.
        Os saterés-maués são cerca de 6.000 índios. Vivem ao leste do Amazonas e se concentram nos municípios de Parintins, Maués e Barreirinha.
        Detalhes do ritual.
        Todo o ritual é preparado pelo pajé. Primeiro, ele adormece as tucandeiras com um líquido preparado com caju. Adormecidas, dezenas de formigas são colocadas presas nos buracos da luva, com os ferrões virados para dentro. O pajé dá então uma baforada de tabaco para acordar as formigas e coloca a luva no menino.
        Consolo das mulheres
        A luva é trançada de tal forma que, se o garoto tentar arrancar, fica ainda mais apertada. O pajé canta os cantos sagrados do ritual, e todos os homens da aldeia dançam durante quatro horas seguidas.
        Terminada a dança, os homens, com o corpo mole devido às mordidas, são tratados por suas namoradas e mães. É o momento do consolo.

                     MUGGIATI, André. Folha de São Paulo, 21 out. 1996.
Folhateen, p. 5-6. (Título nosso).
Entendendo o texto:
01 – Complete os itens a seguir, sobre a reportagem “Virando adulto”.
a)   O quê?
O ritual de passagem dos saterés-maués.

b)   Quem?
Os garotos sarerés-maués entre 10 e 15 anos.

c)   Quando?
Todos os anos, nos meses de agosto a outubro.

d)   Onde?
Próximo a Barreirinha, no Amazonas.

e)   Por quê?
Para provar à comunidade que os meninos se tornaram homens.

02 – Na reportagem “Virando adulto” duas pessoas são entrevistadas e dão seus depoimentos a respeito do ritual com as formigas.
a)   Quem são essas pessoas?
O índio sateré-maués Manelito Sateré, hoje adulto, que passou pelo ritual quando tinha 13 anos, e Lúcio Ferreira Menezes, administrador da Funai.

b)   Como podemos distinguir as palavras desses depoimentos das do autor do restante da reportagem?
Pelo uso de aspas.

03 – Releia o trecho abaixo e tente dar o significado do termo ritual, com suas palavras. Se não conseguir, procure no dicionário.
        [...] O ritual, que marca a passagem para a idade adulta, é chamado de “Festa da tucandeira”.
      Ritual: cerimônia de caráter sagrado, religioso ou simbólico na qual práticas consagradas por uso ou norma se realizam, sempre da mesma maneira, sempre em um determinado momento.

04 – Transcreva do primeiro parágrafo o trecho que explica qual o objetivo dos garotos quando participam do ritual das tucandeiras.
      “Os índios saterés-maués têm de se submeter à mordida dolorida de grandes formigas pretas, chamadas de tucandeiras, para provar para toda a tribo que já são homens.”

05 – A respeito do ritual, responda:
a)   Qual a duração diária?
Quatro horas.

b)   Qual o número de etapas?
Duas etapas.

c)   Qual a duração de cada etapa?
Dez dias.

d)   Qual o período de descanso entre as etapas?
Dez dias.

e)   Quantos dias dura o ritual, excluindo-se o período de descanso? Durante quantas horas, no total, os garotos ficam com as mãos nas luvas?
Vinte dias. Oitenta horas.

06 – Na sua opinião, por que um índio sateré-maué, par ser considerado adulto, deve passar pelo ritual das tucandeiras?
      Porque ele precisa provar que é corajoso para se tornar adulto.

07 – Observe esta transformação de frase:
As formigas atacam o inimigo com o ferrão.
As formigas atacam o inimigo com ferroadas.

 Faça o mesmo tipo de substituição nas frases abaixo. Efetue adaptações quando necessário.
a)   Os capoeiristas atacam o adversário com as pernas.
Os capoeiristas atacam o adversário com pernadas.

b)   Os ursos atacam os inimigos com as patas.
Os ursos atacam os inimigos com patadas.

c)   Sem querer, a costureira feriu o cliente com a agulha.
Sem querer, a costureira deu uma agulhada no cliente.

d)   Distraído, o operário machucou o dedo com o martelo.
Distraído, o operário deu uma martelada no dedo.

e)   Os vândalos atacaram armados de paus.
Os vândalos atacaram a pauladas.

08 – Observe a transformação:
       Quando a dança termina, os homens são tratados por suas namoradas e mães.
    Terminada a dança, os homens são tratados por suas namoradas e mães.
   Faça a mesma transformação nas frases abaixo. Efetue adaptações quando necessário.
a)   Quando as formigas adormecem, são colocadas dentro das luvas.
Adormecidas, as formigas são colocadas dentro das luvas.

b)   Quando o ritual acaba, os meninos se tornam adultos.
Acabado o ritual, os meninos se tornam adultos.

c)   Quando a luva é retirada, a mão está sangrando.
Retirada a luva, a mão está sangrando

NOTÍCIA: CAMINHÃO-CÂMERA - RENATO LISBOA - COM GABARITO

Texto: Caminhão-Câmera  

    CLICA PAISAGENS DA CIDADE
                                          
    A paisagem potiguar será captada nos próximos dois dias pela maior câmera fotográfica móvel do mundo: um caminhão-baú com sete metros de comprimento, uma verdadeira casa sobre rodas que percorre o Brasil desde Monte Roraima até Foz do Iguaçu, totalizando 5 mil quilômetros de viagem. Os lugares fotografados no Rio Grande do Norte ainda serão definidos.
        A ideia é do fotógrafo português Mica Costa-Grande, que é acompanhado no projeto “Brasil pelo buraco da agulha” pela sua mulher, a jornalista Sofia Salgado, e seus dois filhos.
        A família deve chegar hoje à tarde a Natal e começar amanhã sua expedição potiguar. O casal tem planos de mostrar as fotos em exposições no exterior e de editar um livro fotográfico com as imagens panorâmicas.
        Os papéis das fotos têm a dimensão de 3,7 m por 1,27 m. “Não há nada de enigmático no processo. O que tem de diferente é o tamanho da câmera e a sua mobilidade”, diz Salgado. Feitas as imagens, o material é enviado o mais rápido possível para São Paulo, onde é feito o tratamento das imagens.
        Os lugares que poderão ser registrados por Costa-Grande são os seguintes: o mirante da Av. Café Filho (em frente ao Tribunal de Contas do Estado); a Redinha; o Centro de Convenções; Areia Preta, ao lado do restaurante Tábua de Carne, com o orifício da “câmera” voltado para as dunas da Redinha; por último, a praia de Pirangi.

        Adaptado de: LISBOA, Renato. 23 jan. 2008. Disponível em: http://canindesoares.com /2008/01/23/caminhão-camara-clica-paisagens-da-cidade.
                                                                                                        Acesso em 28 abr. 2011.
Entendendo o texto:
01 – Caminhão câmera clica paisagens da cidade é uma notícia. Releia o texto procurando informações que respondam às perguntas a seguir:
a)   O que a notícia relata?
O caminhão-câmera do projeto “Brasil pelo buraco da agulha” chegará a Natal, a fim de fotografar a paisagem potiguar.

b)   Quem são as pessoas envolvidas no fato noticiado?
O fotógrafo Mica Costa-Grande e sua mulher, a jornalista Sofia Salgado.

c)   Onde aconteceu ou acontecerá o fato?
Os lugares que poderão ser fotografados são: o mirante da Av. Café Filho, a Redinha, o Centro de Convenções, Areia Preta e a praia de Pirangi.

d)   Quando aconteceu ou acontecerá o fato?
Nos dias 23 e 24 de janeiro de 2008.

e)   Por que aconteceu ou acontecerá o fato?
O casal pretende mostrar as fotos em exposições no exterior e editar um livro com as imagens panorâmicas.

02 – No título da notícia está presente o verbo clicar.
a)   Qual o sentido desse verbo no contexto do título?
Fotografar.

b)   Observe esta frase, retirada de um site: “Para saber mais sobre a programação de nossa emissora de televisão, clique aqui”. Nela, o verbo clicar tem o mesmo sentido que tem no título da notícia? Se não, que sentido é esse? Consulte o dicionário, se necessário.
Apertar um dos botões do mouse sobre um ícone, numa página de internet.

c)   O verbo clicar vem do substantivo clique (do inglês click), que é uma onomatopeia: procura reproduzir um ruído curto e leve. Baseando-se nessa informação, responda: nos dois contextos em que o verbo clicar foi usado nos itens acima, o que faz esse “ruído curto e leve”?
No caso do título da notícia, o botão da câmera fotográfica. No caso do item B, o botão do mouse.

03 – A notícia foi extraída de um jornal que circula principalmente no estado do Rio Grande do Norte e, particularmente, em Natal. Copie trechos do texto que revelem essa circunstância.
      O próprio título do texto, Caminhão-câmera clica paisagens da cidade, pode ser mencionado: só os habitantes locais sabem a que cidade ele está se referindo. O quinto parágrafo também pode ser mencionado, pois se refere diretamente a pontos turísticos locais, o que indica que são familiares ao leitor a quem a notícia se dirige.

04 – Você acha que essa notícia tem interesse para pessoas que não vivem no Rio Grande do Norte? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, pois o projeto “Brasil pelo buraco da agulha” é culturalmente amplo: por meio das fotos que o caminhão-câmera fará tanto no Rio Grande do Norte quanto em outros estados brasileiros todos poderão conhecer um pouco mais sobre nosso país.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ANÁLISE DA POESIA : MANIFESTO PAU-BRASIL - OSWALD DE ANDRADE - COM GABARITO

Análise da Poesia: Manifesto Pau-Brasil
                           
               Oswald de Andrade

        "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
        O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
        Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
        O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
      A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.
         Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.
        A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, critica, donas de casa tratando de cozinha.
           A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.
          Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.
        Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.
          A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.
        Uma sugestão de Blaise Cendrars: – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.
        Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das ideias.
     A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
        Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
         Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.
        Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado – o artista fotógrafo.
        Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski.
        A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
        Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.
        Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases:
1º) A deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarmé, Rodin e Debussy até agora.
2º) O lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.
        O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
        Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.
A síntese
O equilíbrio
O acabamento de carrosserie
A invenção
A surpresa
Uma nova perspectiva
Uma nova escala.
        Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil
        O trabalho contra o detalhe naturalista – pela síntese; contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.
        Uma nova perspectiva.
        A outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ética. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
        Uma nova escala:
        A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O redame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails.
        Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.
        A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de ideias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.
        Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.
        Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
        A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
        Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
        Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pega" e de equações.
        Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.
        Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.
        O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
        Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
        O estado de inocência substituindo o estada de graça que pode ser uma atitude do espírito.
        O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
        A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
        Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.
        Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil."
              Lançado por Oswald de Andrade, no Correio da Manhã, em 18 de março de 1924.
TELES, Gilberto M. Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1977.

Entendendo a poesia:
01 – Duas características da poesia modernista que aparecem sugeridas no último parágrafo do Manifesto da Poesia Pau-Brasil são:
a) incorporação da temática cotidiana – enfoque no presente.
b) valorização dos encontros familiares – enaltecimento da natureza.
c) aproveitamento do elemento musical – retrato de cenas familiares.
d) citação jornalística da realidade – reprodução do noticiário histórico.

02 – U. F. Uberlândia-MG Muitos autores brasileiros do Modernismo foram influenciados pelas vanguardas artísticas europeias, as hoje chamadas vanguardas históricas. Leia o texto abaixo e indique a que vanguarda ele se filia.
“O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista.
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos que gritam
E transmitem o antigo clamor do homem.”
                                            Murilo Mendes.
a) Surrealismo.
b) Futurismo.
c) Cubismo.
d) Dadaísmo.

03 – PUC-RS A produção poética da transição do século XIX para o XX evidencia duas tendências principais: uma que rejeita formalmente o Romantismo, outra que busca a genuína expressão poética. Registra-se, ainda, na época, o caso isolado do poeta _________, cuja reduzida produção caracteriza-se pela linguagem __________ e, ao mesmo tempo, ___________.
a) Alphonsus de Guimaraens / subjetiva / plástica.
b) Augusto dos Anjos / cientificista / corrosiva.
c) Eduardo Guimaraens / erudita / sugestiva.
d) Augusto dos Anjos / impressionista / sonora.
e) Alphonsus de Guimaraens / cientificista / grotesca.

04 – PUC-RS Associar a “Consciência Humana” à imagem de um “morcego”, assim como fazer poesia sobre o “verme”, ou afirmar que o homem, por viver “entre as feras”, também sente necessidade “de ser fera” são algumas das imagens poéticas de ________. Apesar das críticas contundentes de que foi alvo, o poeta, muito distante da obsessão _________ pela forma, ou da sugestão das imagens __________, já revelava, a seu tempo, elementos de modernidade.
a) Cruz e Sousa / simbolista / parnasianas.
b) Augusto dos Anjos / parnasiana / simbolistas.
c) Alphonsus Guimaraens / parnasiana / realistas.
d) Cruz e Sousa / romântica / parnasianas.
e) Augusto dos Anjos / simbolista / parnasianas.

05 – PUC-RS INSTRUÇÃO: Para responder à questão, enumerar a segunda coluna de acordo com a primeira, relacionando as ideias, expressões, autores e obras ao que convencionou denominar de Pré-Modernismo e Geração de 22.
1. Pré-Modernismo.
2. Geração de 22.
( ) Oswaldo de Andrade
( ) Lima Barreto
( ) Mario de Andrade
( ) Os Sertões
( ) fragmentação da narrativa
( ) ruptura com a tradição
( ) ecletismo
( ) irreverência.

A sequência correta, de cima para baixo, é a da alternativa:
a) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2.
b) 2 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2.
c) 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 2 – 2.
d) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2.
e) 1 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1.

06 – FEI-SP Manuel Bandeira é um importante poeta:
a) realista.
b) barroco.
c) romântico.
d) modernista.
e) árcade.



SONETO: BRINQUEDOS DE CRIANÇA - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

SONETO: Brinquedos de Criança


Recordo ainda… E nada mais me importa…
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança
Algum brinquedo novo a minha porta…

Mas veio um vento de desesperança
Soprando cinzas da noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança…

Estrada afora após segui… Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente
Sou um pobre menino… Acreditai…
Que envelheceu, um dia, de repente!...

                                                       Mário Quintana. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966).
Entendendo o poema:
01 – Por que o poema “Brinquedos de Criança” é considerado um soneto?
      Porque ele é caracterizado exatamente como um poema de 14 versos – com dois quartetos e dois tercetos.

02 – Na sua leitura e entendimento do texto. O que o autor recorda?
      Seu tempo de infância, seus brinquedos.

03 – Como as crianças brincavam antigamente?
      Elas faziam seus próprios brinquedos, bonecas de pano e carrinhos com latas.

04 – Para o autor, o que significa “Eu quero meus brinquedos novamente”?
      Significa que ele quer voltar ao tempo de criança, a inocência, a alegria.

05 – Quem é o eu lírico que fala da infância, no poema? E que sentimentos deixa transparecer quando fala no poema?
      Uma pessoa idosa. Ela sente saudades da infância.