domingo, 28 de outubro de 2018

PARÁBOLA: PÉS DE GENTE - LUCIENE FREITAS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Parábola: Pés de gente

        Cabisbaixa, sentada no meio-fio, observava.
        Pés que passam, para lá e para cá. Pés que diferem dos pés parados, fincados no chão. São pés de gente!
        Não é necessário identificação para senti-los importantes. Bonitos ou feios.
        Semelhantes a formigas gigantescas, correndo de um lado para outro. São pés que carregam corpos, corpos que contém cérebros, cérebros que levam o mundo, cada mundo com uma história, uma visão diferente da vida, um ideal.
        Pés de gente precisam ser regados com amor para darem bons frutos. Quando nascem no abandono dos pedregulhos, surgem como ervas daninhas, tornando feio o lugar que habitam.
        Atraem pela beleza, pelo trato, pelos calçados. Assustam pelos pontapés, pés sujos, descalços...
        Movimenta-se todo dia, descansam quando podem, até o dia em que não mas andarão...
                                            Luciene Freitas. Livro A Dança da Vida.
Entendendo a parábola:

01 – No texto há registro da linguagem:
a)   Culta.
b)   Regional.
c)   Científica.
d)   Informal.

02 – O texto que você acabou de ler é:
a)   Uma crônica em que o autor trata de um assunto do dia-a-dia.
b)   Um conto de fadas.
c)   Uma narrativa figurada que transmite um ensinamento moral chamada de parábola.

03 – O narrador é:
a)   Narrador-personagem.
b)   Narrador-observador.
c)   Narrador-onisciente.

04 – De acordo com o narrador como:
      -- Os pés atraem?
      Pela beleza, pelo trato, pelos calçados.

      -- Os pés assustam?
      Pelos pontapés, pés sujos, descalços ...

05 – Por que o narrador compara os pés a formigas gigantescas?
      Porque correm de um lado para outro e carregam corpos.

06 – Segundo o texto, complete:
a)   Pés de gente precisam ser regados com amor para darem.

b)   Quando nascem no abandono dos pedregulhos, surgem como ervas daninhas, tornando feio o lugar do habitat.



TEXTO: ARTISTAS DE CIRCO - FOLHINHA - COM GABARITO

Texto: Artistas de circo

      Artistas de circo viajam pelas cidades para apresentar espetáculos. Moram em uma casa chamada trailer, que fica presa atrás de um carro. O trailer é estacionado onde o circo é montado. Crianças de circo começam a trabalhar cedo. Quando não estão na escola ou ensaiando, brincam no terreno em que o circo fica estacionado.
        No circo Vostok, antes do show, vendem pipoca e refrigerantes. Recebem parte do dinheiro que conseguem com as vendas.
        O trapezista mais jovem do mundo trabalhou no Grande Circo Popular do Brasil. Além de ser o melhor no trapézio, Serginho Vieira, 9, faz acrobacias. Diego Esbano, 13, que trabalhou no circo Beto Carrero, roda laço de fogo e apaga velas com chicote. Diz que gosta desse trabalho.
        Uma lei obriga as escolas aceitarem as crianças que moram em circos em qualquer época no período de aulas. Elas acham difícil acompanhar aulas e professores tão diferentes em apenas um ano de aula. Jeniffer Camargo, 5, dança vestida de palhaça no circo Vostok.
        Ela diz que Adora morar no circo, mas tem saudade das amigas das outras escolas.
        O Grande Circo Popular do Brasil tem professores que dão aulas de reforço para quem não consegue estudar sozinho. As crianças fazem à lição juntas, no trailer.
        O Circo Popular tem também pré-escola para crianças de 2 a 6 anos.

                               “Artistas de circo”. In: Folhinha, 06 de ago. 1994.
Entendendo o texto:

01 – O texto acima fala de:
a) apresentações em um circo.
b) crianças de circo que estão sempre viajando.
c) a importância do circo para as crianças.
d) comidas que são vendidas em um circo.

02 – Qual a finalidade do texto abordado?
a) Narrar uma história.
b) Mostrar uma entrevista.
c) Registrar uma memória.
d) Informar algo.

03 – Onde os artistas de circo moram?
a) Floresta.
b) Barco.
c) Tenda.
d) Trailer.

04 – Marque V para verdadeiro e F para falso. De acordo com o texto:
(F) crianças de circo só trabalham e estudam, nunca brincam.
(V) no circo Vostok as crianças que vendem pipoca e refrigerante ganham parte do dinheiro que conseguem com as vendas.
(F) as escolas não podem aceitar as crianças de circo em qualquer época do ano, só quando começam as aulas, em fevereiro.
(V) o trapezista mais jovem do mundo trabalhou no Grande Circo Popular do Brasil.

05 – Em que dia, mês e ano essa reportagem foi publicada?
      No dia 06 de agosto de 1994.

06 – No circo tem professores que dão aulas de reforço para quem não consegue estudar sozinho. Onde eles fazem a lição de casa?
      Elas estudam no trailer.

07 – Complete o quadro abaixo com a idade e a função de cada uma das crianças no circo, de acordo com o texto.
NOME          =     IDADE        =          O QUE FAZ NO CIRCO
Serginho      =       09              =          Acrobacias.
Diego           =         13            =     Roda laço de fogo e
                                                       Apaga velas com chicote.
Jeniffer        =         05             =     Dança vestida de palhaça.



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

CRÔNICA: NOITES DO BOGART - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

CRÔNICA: NOITES DO BOGART
                     Luís Fernando Veríssimo


- Ana Paula...
- Jorge Alberto!
- Escuta, eu...
- Jorge Alberto, este é o Serge, meu namorado. Serge, Jorge Alberto, meu ex-marido.
- Prazer, Sérgio. Ana, eu...
- Serge.
- Hein?
- O nome dele não é Sergio, é Serge.
- Ah. Escuta, eu posso sentar?
- Claro!
- Você parece ótima.
- Eu estou ótima. Nunca estive tão bem.
 - Pois é, Ana. Sei lá. Você não devia estar assim, tão bem. Desculpa, viu, Serge? Ele fala português?
- Ele é de Canoas.
- Ah. Desculpa, viu, Serge. Não tem nada a ver com você, mas puxa. Ana! Nós nos separamos há, o quê? Três semanas? E você está ai, radiante.
- Você queria que eu estivesse o quê? Arrasada?
- Não, podia estar bem. Mas não assim, em público, pô.
- Ah, você acha que eu não devia sair de casa?
- Olha, depois que o meu pai morreu, minha mãe levou dois anos para aparecer na janela. Entendeu? Não sair de casa: aparecer na janela.
- Mas Jorge Alberto, você não morreu. Eu não sou viúva. Nós só nos separamos. A vida continua, meu querido! Serge, não repara.
- Mas aqui, Ana? Logo aqui? Lembra a última vez que nós dançamos juntos? Foi aqui.
- Lembro muito bem. Aliás, foi na noite em que decidimos nos separar.
- Pois então. Isso não significa nada para você? Eu não quero bancar o antigão e tal, Ana. Mas algumas coisas devem ser respeitadas. Alguns valores ainda resistem, pombas!
- Mas vem cá: você também não está aqui?
- Sim, mas olha a minha cara. Eu pareço radiante? Vim aqui curtir fossa. Estou sozinho. Não estou me divertindo. Homem pode sofrer em bar. Mulher não.
- Mas eu não estou sofrendo, estou ótima.
- Exatamente. E está pegando mal pra burro. Você não podia fazer isso comigo, Aninha.
- Eu não acredito...
- Deixe eu perguntar pro Serge aqui...
- Deixa o Serge fora disso.
- Não, o Serge é homem e vai me dar razão. Serge, suponhamos o seguinte...

                   Veríssimo, Luís Fernando. O marido do doutor Pompeu.
                                        São Paulo, Círculo do Livro, 1989. p. 81-2.

1 – A pontuação das duas primeiras frases do texto já evidencia a diferença de estado de espírito dos interlocutores. Comente.
     O aluno deve perceber o contraste entre a entoação sugerida pelas reticências (que traduzem a decepção de Jorge Alberto) e o ponto de exclamação (que indica a espontaneidade de Ana Paula).

2 – Uma característica da língua falada coloquial que deve ser evitada na língua escrita é a mistura dos tratamentos tu/você. Aponte passagens do texto em que ocorre e proponha formas apropriadas à língua escrita culta.
     A falta de uniformidade do tratamento ocorre particularmente nas formas do imperativo afirmativo (escuta, desculpa, olha, vem e outras), da segunda pessoa do singular, que não condizem com o pronome de tratamento você, o qual comanda as formas da terceira pessoa do singular. Caso a questão apresente muitas dificuldades aos alunos – que podem não ter estudado ainda a formação do imperativo –, deve-se remetê-los às aulas de gramática.

3 – O texto consegue reproduzir várias características da língua falada. Faça um cuidadoso levantamento dessas características.
     As frases incompletas, a mistura de tratamentos, as interjeições, as repetições, as indicações espaciais (logo aqui), a linguagem familiar (Aninha).

4 – Em alguns pontos, o texto demonstra maior apego à tradição escrita do que às formas faladas coloquiais, dando-nos a impressão de que o que está escrito não corresponde ao que deve ter sido efetivamente dito. Aponte e comente alguns desses pontos.
     É o caso das terminações verbais do infinitivo, que não são pronunciadas com clareza. O mesmo ocorre com os plurais. São exemplos frases como “Ah. Escuta, eu posso sentar?” ou “Mas algumas coisas devem ser respeitadas”.

5 – “--- Não, podia estar bem. Mas não assim, em público, pô”. Esse fragmento deixa transparecer com nitidez o principal “problema” enfrentado por Jorge Alberto. O que você acha desse “problema?”
     O aluno deve perceber que o despeito de Jorge Alberto decorre principalmente da publicidade que Ana Paula faz de sua alegria. Como ele mesmo admite, ela podia estar alegre por ter se livrado dele – mas não em público...



MÚSICA(ATIVIDADES): O POETA DA ROÇA - PATATIVA DO ASSARÉ - COM GABARITO

Música(Atividades): O POETA DA ROÇA
            Patativa do Assaré


Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana  é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que véve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastéro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso so entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.

                                                                                     ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá:
                                                Filosofia de um trovador nordestino. 2. Ed. Petrópolis: Vozes, 1978.
 ENTENDENDO A CANÇÃO
1 -   O que mais chamou a sua atenção nessa canção?
     Resposta pessoal.

2 -   Qual é o ambiente inspirador do poeta?
     A roça.

3 -   Há diversas palavras no texto associadas ao universo da roça, do sertão. Cite algumas.
     “mata”, “cigarro de páia”, “paioça”, “eito”, “vaquêro”, “toro”, “novio”, etc.

4 -   O nome do poema é “O poeta da roça”. O eu poético do texto é alguém que fala da vida na roça ou é alguém que faz parte dela? Comprove sua resposta com versos do poema.
     É alguém que faz parte dela. “sou fio das mata, cantô da mão grossa, / Trabáio na roça, de inverno e de estio”.

5 -   Qual é a atividade profissional desse eu poético?
     Ele é lavrador, roceiro, trabalhador rural.

6 -   O eu poético define a sua pessoa, o seu jeito de ser poeta, com estas expressões: “Sou fio da mata, cantô da mão grossa”, “Sou poeta das brenha”. Copie no caderno a afirmativa que traduz o que o poeta expressa com esses versos.
     a)   Ele é um homem simples que não sabe cantar.
     b)     Ele é apenas um trabalhador rural.
     c)       Ele é um poeta simples, do campo, da roça.

7 -   O poema retrata a roça como um lugar com dificuldades próprias. Localize e transcreva em seu caderno um verso que comprove essa afirmação.
     “[...] o buliço da vida apertada, / Da lida pesada, [...]”

  8 -   Há uma estrofe em que o poeta fala de seres maravilhosos e encantatórios, próprios da crendice popular. Copie-a em seu caderno.
     “Eu canto o caboco com suas caçada, / Nas noite assombrada que tudo apavora, / Por dentro da mata, com tanta coragem / Topando as visage chamada caipora”.

    9 -     O eu poético só “canta” coisas belas, corajosas, heroicas? Comprove sua resposta.
     Não. Ele também fala da miséria e da fome, como nos versos: “Eu canto o mendigo de sujo farrapo, / Coberto de trapo e mochila na mão, / Que chora pedindo o socorro dos home, / E tomba de fome, sem casa e sem pão”.

   10-   O eu poético está feliz no lugar onde vive?
     Sim, na última estrofe ele diz que vive “contente e feliz com a sorte”.

   11-   Quem fala, no poema, diz-se um poeta conhecido além da roça e do sertão? Em seu caderno, copie os versos que justificam a sua resposta.
     Não. Ele diz: “Meu verso só entra no campo e na roça / Nas pobre paioça, da serra ao sertão.”

    12 - Analisando os versos:
      Meu verso rastéro, singelo e sem graça
     Não entra na praça,no rico salão
    [...] só entra no campo e na roça.

    Percebemos que são versos simples, mas seguem a mesma métrica e     fazem pouco uso de figuras de linguagem, o que facilita o entendimento do    interlocutor, pois não tem vocabulário rebuscado, ele é genuinamente caipira    o que facilita a compreensão no campo e na roça. Por isso, ele não entra na    praça, no rico salão, é um estilo simples, porém poético.

OBS.: Patativa do Assaré era analfabeto(sua filha é quem escrevia o que ele ditava), sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida na Europa.

POESIA: ÓRION - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POESIA:  ÓRION
                    Carlos Drummond de Andrade

A primeira namorada, tão alta
Que o beijo não alcançava,
O pescoço não alcançava,
Nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.
Luzia na janela do sobradão.
                                                ANDRADE, Carlos Drummond de.
             Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

    1)Órion é uma constelação de estrelas brilhantes e visíveis. Com base nessa definição, responda:
     a)    O poeta faz uma comparação no poema. Que comparação é essa?
Ele compara a distância que existe entre ele e a sua primeira namorada com a distância que há entre ele, na Terra, e a constelação Órion.

   b)   O termo “Luzia” pode ser interpretado de duas maneiras diferentes no poema. Quais são elas? Identifique a classe gramatical a que essa palavra pertence em cada um dos sentidos.
No poema, “Luzia” pode ser o nome da namorada, um substantivo próprio, ou é o pretérito imperfeito do verbo “luzir”, isto é, brilhar.

    c)    Em seu caderno, interprete o seguinte verso: Luzia na janela do sobradão.
Há uma sobreposição de significados: “Luzia”, que estava na janela do sobradão, brilhava como Órion, como estrela, e “Luzia” (brilhava) na janela.

    d)    O que você compreendeu do verso: “Eram quilômetros de silêncio.”?
Resposta pessoal. Sugestão: entre o eu poético e a primeira namorada não havia comunicação, não havia um contato verbal.

    e)     Que recurso usado na estrutura do poema reforça a ideia de silêncio?
A separação das estrofes: o último verso está sozinho na 2ª estrofe, o que reforça a ideia de incomunicabilidade, solidão, silêncio sugerido pelo verso.

POEMA: A LUA NO CINEMA - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

A LUA NO CINEMA


A lua foi ao cinema,
Passava um filme engraçado,
A história de uma estrela
Que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
Uma estrela bem pequena,
Dessas que, quando apagam,
Ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
Ninguém olhava pra ela,
E toda a luz que ela tinha
Cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
Com aquela história de amor,
Que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!

Paulo Leminski. Distraídos venceremos. São Paulo, Brasiliense, 1993.

1 - Nos versos “Não tinha porque era apenas / uma estrela bem pequena” da segunda estrofe do poema, o uso da palavra “porque” introduz:
(A) a causa de não ter namorado. 
(B) uma oposição a um filme engraçado.
(C) a consequência de uma história de amor. 
(D) uma comparação do tamanho da estrela com a intensidade da luz.

2- Este poema:
(A) explica o nascimento do cinema. 
(B) faz a propaganda de um filme engraçado.
(C) apresenta as características de uma lua solitária.
(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.


CONTO: LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA - BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS - COM GABARITO

       LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA
  
    “A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio. Carregava sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro. Paninho bordado com flores, pássaros, borboletas. Ela passava o exercício e, de mesa em mesa, ia corrigindo. Um cheiro de limpeza coloria o ar quando ela passava. Sua letra, como era bem desenhada, amarradinha uma na outra!
         (...)
         Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto. E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz. Eu, como já sabia ler um pouco, fingia não saber e aprendia outra vez. Na hora da chamada, o silêncio ficava mais vazio e o coração quase parado, esperando a vez de responder “presente”. Cada um se levantava, em ordem alfabética e, com voz alta, clara, vaidosa, marcava sua presença e recebia uma bolinha azul na frente do nome. Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai. Queria ter mais nome, pra ela me chamar por mais tempo.
        O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios. E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas. Não acertando os deveres, Dona Maria elogiava a letra, o raciocínio, o capricho, o aproveitamento do caderno. A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.
         (...)
         Nas aulas de poesia, Dona Maria caprichava. Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas. Ninguém suspirava, com medo da poesia ir embora: Olavo Bilac, Gabriela Mistral, Alvarenga Peixoto e “Toc, toc, tamanquinhos”. Outras vezes declamava poemas de um poeta chamado Anônimo. Ele escrevia sobre tudo, mas a professora não falava de onde vinha nem onde tinha nascido.
        E a poesia ficava mais indecifrável.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de.  Ler, escrever e fazer conta de cabeça.
São Paulo: Global, 2004. pp. 34-35.

1.   Pelo texto é possível inferir que o narrador:
a)  (  ) Se interessava mais pela professora, seu modo de se vestir e escrever no quadro, do que pela aula em si.
b)  (X) Tinha uma profunda admiração pela professora e se esforçava em aprender, também, para agradá-la.
c)  (  ) Não se interessava pelas aulas que não fossem de poesia.
d)  (  ) Era o melhor aluno da classe.

2.   Assinale o trecho em que o autor usa o recurso da comparação para descrever poeticamente a forma como ele via o gosto da professora se vestir:
a)  (  ) Carregava sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro.
b)  (  ) Paninho bordado com flores, pássaros, borboletas.
c)  (X) A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio.
d)  (  ) O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios.

3.   Assinale o trecho em que está expressa uma relação de finalidade:
a)  (X) E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz.
b)  (  ) Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto.
c)  (  ) O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios.
d)  (  ) Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai.

4. A conjunção adversativa mas comumente indica ideias opostas. No trecho a seguir, no entanto, seu uso, associado à expressão “não só” sugere outra ideia, que não é a de oposição. Assinale a alternativa que expressa a ideia sugerida no seguinte trecho:
      “Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas.”
a) ( ) Concessão.  b)(X) Adição.     c)(  ) Oposição. d) (  ) Comparação.

5.   Por meio do trecho “E a poesia ficava mais indecifrável.”, é possível inferir:
a)  (  ) Para o narrador, o nome do autor dos poemas é fundamental para compreendê-las.
b)  (   ) A professora lia poesias muito difíceis para seus alunos.
c)  (X) O fato de ser indecifrável, para o narrador, é inerente à poesia e, como o “autor chamado Anônimo” tratava de temas diversos e não era possível saber sua origem, essas poesias eram ainda mais indecifráveis.
d)  (  ) Ele não gostava das poesias do “Anônimo”, porque não as conseguia compreender.

6. No trecho “A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.”, o termo em destaque pode ser substituído, sem alterar o sentido, por:
a) (  ) Entretanto. 
b) ( X ) Desse modo. 
c) (   )  Mas. 
d) (  )  Ainda que.

7. A ideia de proporção sugerida pelo trecho: “E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas.” significa que:
a) (X) À medida que a professora economizava espaço para escrever no quadro, os alunos economizavam espaço em seus cadernos.
b) (   ) A condição para que os alunos escrevessem menos era a de que a professora diminuísse o tamanho de sua letra no quadro.
c) (   ) Os alunos escreviam fora das margens para economizar o caderno porque a professora pedia, escrevendo sem deixar espaços no quadro.
d) (  ) Os alunos não deviam escrever nas “beiradinhas das folhas”, mas como a professora não fazia margens no quadro, eles não respeitavam as do caderno.