sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

TEXTO: LÍNGUA BRASILEIRA - KLEDIR RAMIL - COM GABARITO

Texto: LÍNGUA BRASILEIRA

  [...] O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes.
     No Rio de Janeiro é “e aí merrmão! CB, sangue bom!” Até eu entender que merrmão era “meu irmão” levou um tempo. Para conseguir se comunicar, além de arranhar a garganta com o erre, você precisa aprender a chiar que nem chaleira velha: “vai rolá umasch paradasch ischperrtasch”.
        Na cidade de São Paulo eles boam um “i” a mais na frente do “n”: “ôrra meu! Tô por deintro, mas não tô inteindeindo o que eu tô veindo”. E no interiorrr falam um erre todo enrolado: “a Ferrrnanda marrrrcô a porrrteira”. Dá um nona língua. A vantagem é que a pronúncia deles no inglês é ótima.
        Em Mins, quer dizer, em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora, Doidemais da conta, sô! Qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as malas: “Muié, pega os trem que o bicho tá vindo”.
        No Nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó é voinha. E pra você conseguir falar com o acento típico da região, é só cantar a primeira sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda que as seguintes. As frases são sempre em escala descendente, ao contrário do sotaque gaúcho.
        Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoado por Nossa Senhora de Desterro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinhos da Ilha, têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho de parede. Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido rôschca). Carne moída é boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ovo eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho. [...]

                 Ramil, Kledir. Tipo assim. Porto Alegre: RBS publicações.
               Publicações, 2003. p. 75-76. (Fragmento). by Kledir Ramil.
Interpretação do texto:

01 -  Em seu texto, Kledir Ramil “brinca” com os chamados dialetos ou variedades regionais. Em que tipo de fato linguístico ele se baseia para representar cada uma das variedades?
      Kledir Ramil procura caracterizar cada falar regional pelas diferenças de pronúncia (a pronuncia de S e R no Rio de Janeiro; do R no interior de São Paulo; do E antes de consoante nasal na cidade de São Paulo; a entonação nordestina; a eliminação de sílabas finais em Minas) e de vocabulário (em Minas, no Nordeste e em Florianópolis).

02 – O autor se vale do seu conhecimento sobre essas diferenças para produzir efeitos de humor ao caracterizar a variedade utilizada no Rio de Janeiro. Explique como isso é feito, justificando sua resposta com elementos do texto.
      O autor procura garantir que o leitor reconheça a fala de um carioca a partir da descrição bem humorada da pronúncia dos sons R e S pelos cariocas: “Além de arranhar a garganta com o erre, você precisa aprender a chiar que nem chaleira velha.” Como acontece com as piadas, a graça da caracterização desse dialeto deriva da visão estereotipada do carioca como alguém que “força” a pronúncia desses fonemas (“e aí merrmão!”; “vai rolá umasch paradasch ischperrtach”.).

03 – As singularidades do sotaque paulistano mencionadas no texto podem ser explicadas, em parte, pela influência exercida pela pronúncia do português falado pelos imigrantes italianos. Que características desse sotaque foram destacadas?
      O autor afirma que os falantes paulistanos colocam um I a mais na frente do N. A ditongação de e em ei antes de consoante nasal em final de sílaba é frequente nos bairros de forte presença italiana, como a Mooca, o Bexiga e o Brás. A expressão Ôrra meu! é típico desses bairros.

04 – O autor distingue a pronúncia, inclusive graficamente, do R falado no interior de São Paulo daquele presente no sotaque carioca. Em que consiste essa diferença? Justifique.
      O autor, em primeiro lugar, afirma que, no interior de São Paulo, os falantes pronunciam “um erre todo enrolado”, que “dá um nó na língua”, refere-se ao R denominado, comumente, caipira. Para marcar, graficamente, a diferença entre essa pronúncia e a dos cariocas, o autor usa uma sequência de três erres (porrrteira) em lugar de apenas dois utilizados para o erre carioca (merrmão).

a)   Por que ele afirma que os falantes de “interior” de São Paulo teriam uma ótima pronúncia no inglês?
Ele faz essa afirmação porque, no inglês norte-americano, a pronuncia desse R mais marcado é representativa da norma; portanto, os falantes do interior de São Paulo não teriam dificuldades em aprender esse aspecto da pronúncia do inglês norte-americano padrão.

05 – O que, segundo o texto, caracterizaria o falar mineiro? Explique.
      Segundo o texto, o falar mineiro seria caracterizado pelo fato de os falantes “engolirem letras”: Mins em lugar de Minas; Belzonte em vez de Belo Horizonte; Nossenhora em vez de Nossa Senhora. Além disso, o autor ainda afirma que é comum o uso do vocábulo trem para designar coisas ou objetos. Ainda é possível notar as expressões demais da conta e como características do falar mineiro.

06 – No texto, Kledir Ramil afirma que os nativos tradicionais de Florianópolis “têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira”. Por que o autor caracteriza esse linguajar como “simpático”?
      O autor do texto chama de “simpáticas” as diferenças de vocabulário que caracterizam variedade falada em Florianópolis: lagartixa é crocodilinho de parede; helicóptero é avião de rosca; carne moída é boi ralado; pastel de carne é envelope de boi ralado.

07 – Releia:
        “A caracterização de uma variante regional por meio de clichês e exageros costuma vir associada a um tipo de preconceito linguístico que custamos a reconhecer”. Com base nesta afirmação, você consideraria preconceituosa a caracterização que o autor faz dos falantes carioca, paulista, mineiro e nordestino? Por quê?
      Talvez o autor não se dê conta, mas sua visão sobre esses falares regionais é, sim, preconceituosa. Para percebermos como o preconceito se manifesta no texto, basta recuperarmos a caracterização que faz de alguns deles; a fala dos cariocas é descrita como semelhante ao chiado de uma “chaleira velha”; os paulistas teriam um “erre todo enrolado”; os mineiros “engolem letras”. Em todas essas caracterizações, há uma conotação fortemente negativa e estereotipada.

a)   A visão dele é a mesma quando trata da fala de Florianópolis? Por quê?
No caso da fala de Florianópolis, observamos que o autor faz uma avaliação positiva das suas características específicas. Chega mesmo a afirmar que eles “têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira”.



POESIA: DESTES PENHASCOS FEZ A NATUREZA- CLÁUDIO MANUEL COSTA- COM GABARITO

POESIA :Destes penhascos fez a natureza
                 Cláudio Manuel Costa

 Nestes versos, a paisagem de Minas Gerais desempenha papel muito importante no desenvolvimento do soneto.

Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara


Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.

Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei, que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.

           Costa, Cláudio Manuel da. In: Proença Filho, Domício (Org.).
      A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 95.
Interpretação do texto:

01 – Na segunda estrofe, ocorre uma personificação do Amor. Como ele é apresentado?
      O Amor é apresentado como um guerreiro forte, que vence os tigres, e que toma como objetivo render o eu lírico, declarando-lhe guerra ao coração.

a)   Qual é a imagem utilizada na terceira estrofe pelo eu lírico para se referir a esse Amor? Explique o uso dessa imagem.
O eu lírico se refere ao sentimento amoroso como um “cego engano”, do qual ele não conseguiu fugir. Ao utilizar essa imagem, o eu lírico associa o Amor a algo que lhe causa sofrimento, mas que, mesmo assim acaba por vencê-lo.

02 – Quem é i interlocutor a quem o eu lírico se dirige na última estrofe? O que o eu lírico lhe diz?
      O eu lírico dirige-se às pedras. Ele diz para temerem a ferocidade do Amor (caracterizado como “tirano”), que mais se empenha onde há mais resistência.

03 – No soneto transcrito, o poeta evidencia uma forte característica de sua obra: a incorporação de elementos da paisagem local ao cenário árcade. Qual é o elemento local presente no texto?
      O elemento da paisagem local (Minas Gerais) incorporado é o cenário rochoso (penhascos e penhas).

a)   Que relação, o eu lírico estabelece, na primeira estrofe, entre esse cenário e si mesmo? Explique.
O eu lírico marca a oposição entre o cenário e sua alma: seria de esperar que entre as rochas que caracterizam o cenário se encontrasse um “peito forte”, mas entre as “penhas” se criou uma “alma terna” e um “peito sem dureza”, que não consegue resistir à guerra que o Amor declara contra ele.

04 – A apresentação do cenário é importante para o desenvolvimento do tema do soneto. Explique de que maneira o eu lírico relaciona o cenário em que nasceu a esse tema.
      O eu lírico opõe a dureza do cenário à força do Amor. Nem mesmo um cenário como esse garantiu sua proteção contra o sentimento que o tomou, conforme se observa na segunda estrofe do soneto final, o eu lírico alerta as “penhas” sobre a tirania do amor que será mais forte quanto mais resistência houver. Poderíamos dizer que, nessa estrofe, o eu lírico sugere que cenário “duro” é o que determina a força maior que o Amor empregará para vencer seu adversário.

05 – De acordo com o soneto, o que significa as palavras abaixo:
·        Penha: rocha.
·        Render: sujeitar, dominar, vencer.
·        Apurar-se: esmerar-se, esforçar-se, aplicar-se.

06 – Qual é a causa da perplexidade do sujeito lírico, expressa na primeira estrofe?
      A causa da sua perplexidade é a constatação da diferença entre a ternura de sua alma e a dureza da paisagem de pedra, onde ele se criou.

07 – Quase duzentos anos depois, em 1940, outro poeta da mesma região de Minas Gerais publicou os seguintes versos:
        “Alguns anos vivi em Itabira.
        Principalmente nasci em Itabira.
        Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
        Noventa por cento de ferro nas calçadas.
        Oitenta por cento de ferro nas almas.
        E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.”
                                                     Carlos Drummond de Andrade

a)   Qual é a semelhança entre o soneto de Cláudio e os versos de Drummond?
Ambos estabelecem relações entre a alma e a paisagem da terra natal.

b)   Qual é a diferença entre as comparações feitas pelos dois poetas?
Para Cláudio, a alma é terna, contrastando com a dureza da paisagem de pedra.
Para Drummond, a alma tem quase o mesmo teor de ferro que as pedras de Itabira.

08 – Cláudio utilizou os elementos convencionais da paisagem neoclássica (locus amoenus)? Justifique sua resposta.
      Não. Os elementos que compõem a paisagem neoclássica são suaves, idealizados e artificiais, como um jardim; os elementos utilizados pelo poeta são duros, grosseiros e realistas – a paisagem rochosa de Minas.

09 – Utilizando uma convenção literária neoclássica, o poeta personifica o Amor.
a)   Qual foi a decisão tomada pelo Amor, em relação ao sujeito lírico?
O Amor decidiu dominá-lo.

b)   Segundo a última estrofe, a dureza da pedra seria defesa suficiente contra o Amor? Por quê?
Não. Porque o Amor se torna mais forte em quem mais resiste a ele.
       




POEMA: LIRA XIX - TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA - COM GABARITO


POEMA: LIRA XIX
                Tomás Antônio Gonzaga

        Preso, o eu lírico encontra conforto no seu amor por Marília e nas lembranças que guarda da amada.

Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor a minha ideia te retrata;
Busca, extremoso, que eu assim resista

À dor imensa, que me cerca e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços.

Conheço a ilusão minha;
A violência da mágoa não suporto;
Foge-me a vista e caio
Não sei se vivo ou morto.
Enternece-se Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.

Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto,
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:

Se queres ser piedoso,
Procura o sítio em que Marília mora,
Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora.
Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta.
                   Gonzaga, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: Proença Filho, Domício (Org.).
                   A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 651-652. (Fragmento).

Interpretação do texto:
01 – Qual é o assunto desenvolvido na lira apresentada?
      O eu lírico, deprimido com a sua prisão, diz à sua amada que encontra forças para resistir ao sofrimento no amor que nutre por ela e na ilusão de contemplar sua figura.

a)   As situações poéticas apresentadas em Marília de Dirceu guardam estreita relação com episódios da vida de Tomás Antônio Gonzaga. Que semelhança existe entre a situação em que se encontra o pastor Dirceu e a vida do poeta?
O eu lírico encontra-se numa masmorra. O poeta, na vida real, foi preso logo após a inconfidência Mineira, da qual foi um dos integrantes, e escreve parte das liras no cárcere. Por isso, a relação entre a situação poética de Dirceu e os episódios vividos pelo poeta.

02 – Quais são os dois interlocutores a quem o eu lírico se dirige no poema?
      O primeiro interlocutor definido é a amada do poeta, Marília. O segundo é o Amor, que aparece personificado.

a)   O que ele diz a cada um deles?
A Marília, o eu lírico relata o sofrimento pela distância que se impôs entre eles em razão da prisão e como a imagem da amada, ainda que ilusória, o reconforta. Ao Amor, o eu lírico faz um apelo: que ele vá até sua amada e veja se ela está triste, pois, se isso acontecer, será um consolo para ele.

b)   Explique de que maneira o diálogo estabelecido com esses interlocutores indica a retomada de características da poesia de Camões.
Quando o eu lírico dirige-se à sua amada para tratar do sofrimento amoroso em razão do distanciamento entre eles, recupera um dos grandes temas clássicos desenvolvidos na poesia camoniana. A personificação do Amor, figura mitológica a quem o eu lírico faz seu apelo, é outro elemento que marca a retomada dos antigos poetas clássicos nos quais Camões se inspirava.

03 Releia.
        “Busca, extremoso, que eu assim resista
         À dor imensa, que me cerca e mata.
         [...]
         A violência da mágoa não suporto;”
a)   O que esses versos sugerem sobre o estado de espírito do eu lírico?
Esses versos mostram o eu lírico angustiado, triste, deprimido em razão do sofrimento que vive por estar preso e distante de sua amada.

b)   Os sentimentos expressos condizem com as características normalmente encontradas na poesia árcade? Por quê?
Não. A referência “à dor imensa”, “à violência da mágoa” (que o eu lírico não suporta) indicam um “exagero na apresentação dos sentimentos que é pouco comum entre os árcades.

c)   Que outros elementos apresentados no poema rompem com o convencionalismo árcade? Explique.
Além da manifestação “mais real” dos sentimentos do eu lírico, o que se evidencia como rompimento com característica do Arcadismo é o cenário: Dirceu não se encontra em uma paisagem tipicamente árcade, caracterizada como um lugar agradável (o locus amoenus), mas em uma masmorra lúgubre, muito diferente da natureza perfeita típica do Arcadismo.

04 Observe a linguagem utilizada no poema. Que elementos caracterizam a simplicidade formal pretendida pelos poetas árcades?
      É possível identificar a busca pela simplicidade formal pelo uso de uma linguagem mais clara, com um vocabulário mais simples e sem rebuscamento. Não há, no poema, metáforas complexas que dificultem a compreensão do que é dito.

05 – Esse texto foi escrito no período em que Gonzaga esteve preso por seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Observe que, logo nos primeiros versos, o eu lírico expressa seu estado de espírito. Ele se vê como um “semivivo corpo” e a masmorra é sua “sepultura”. De onde vem a força capaz de fazê-lo suportar tanto sofrimento?
      A lembrança de Marília é a força que o mantém vivo.

06 – Na segunda estrofe, o eu lírico:
a)   Confessa que a saudade de Marília leva-o a meditar no mal que fez.
b)   Sente que Marília foge dele, evitando seus beijos e abraços.
c)   Revela que sente tanta saudade de Marília que parece vê-la nitidamente.
d)   Reconhece que se enganou com Marília, pois o que parecia amor, na verdade, não passava de ilusão.

07 – Na terceira e quarta estrofes:
a)    A ilusão do eu lírico é tão intensa que ele imagina sentir as mãos de Marília a enxugar-lhe o pranto.
b)   A dor da desilusão amorosa por Marília causa violenta mágoa no eu lírico.
c)   O eu lírico imagina que Marília está com ele na cela, confortando-o ternamente.
d)   Ocorre a personificação do Amor, que ampara e conforta o eu lírico.

08 – Na última estrofe, o eu lírico pede ao Amor que conte a Marília o seu sofrimento. Se ela chorar:
a)   Ele ficará aliviado porque será uma prova de que ela está arrependida de tê-lo feito sofrer.
b)   Ele se sentirá melhor, porque sabe que a dor a arrastará até ele.
c)   Ele sentirá alívio de seus males, porque saberá que ela o ama e sofre com sua ausência.

d)   Ele se sentirá mal, porque isso só aumentará suas penas de amor.  

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES) OITAVO ANDAR(UMA CANÇÃO SOBRE AMOR) - CLARICE FALCÃO

Música(Atividades): Oitavo Andar (Uma Canção Sobre Amor)


                                                                 Clarice Falcão
Quando eu te vi fechar a porta
Eu pensei em me atirar pela janela do 8º andar
Onde a Dona Maria mora
Porque ela me adora e eu sempre posso entrar
Era bem o tempo de você chegar no T
Olhar no espelho o seu cabelo, falar com o seu Zé
E me ver caindo em cima de você
Como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer

E ai, só nos dois no chão frio
De conchinha bem no meio fio
No asfalto riscados de giz
Imagina que cena feliz

Quando os paramédicos chegassem
E os bombeiros retirassem nossos corpos do Leblon
A gente ia para o necrotério
Ficar brincando de sério deitadinhos no bem-bom

Cada um feito um picolé
Com a mesma etiqueta no pé
Na autópsia daria pra ver
Como eu só morri por você

Quando eu te vi fechar a porta
Eu pensei em me atirar pela janela do 8° andar
Em vez disso eu dei meia volta
E comi uma torta inteira de amora no jantar.
      -- Tem como objetivo mostrar a forma como as figuras de linguagem podem contribuir para o melhor entendimento do textos em seus diferentes aspectos, como neste caso que é a música. Além de apontar mensagem implícitas nas canções através da ajuda destes recursos e desta forma sinalizar as complexidades da língua portuguesa.
      Vale evidenciar que as figuras de linguagem que serão abordadas especificamente são: comparação, ironia, hipérbole e eufemismo em seus diferentes graus do texto, ou seja, algumas figuras são mais constantes que outras no objeto estudado.

Compreendendo o texto:

01 – Que temática é abordada nesta canção?
      Uma história de amor.

02 – Nos versos:
        “E me ver caindo em cima de você
        Como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer”.
Que figura de linguagem encontramos?
      Comparação.

03 – Cite as rimas encontradas na 3ª estrofe.
      Frio/fio; giz/feliz.

04 – Na quarta estrofe os verbos: chegassem e retirassem estão em que tempo verbal?
      Modo subjuntivo (expressam-se ações imprecisas, que ainda não foram realizadas) e no Pretérito Imperfeito.

05 – Na terceira estrofe existe uma metáfora em que verso?
      “De conchinha bem no meio fio.”

06 – Tem na quarta estrofe a figura de linguagem eufemismo, localize-a e copie abaixo.
      “Ficar brincando de sério deitadinhos no bem-bom.”




SONETO: CONVITE À MARÍLIA - BOCAGE - COM GABARITO

 CONVITE À MARÍLIA


        Algumas das principais características da poesia árcade podem ser identificadas neste soneto de Bocage.

Já se afastou de nós o Inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil Primavera, a mãe das flores
O prado ameno de boninas veste:

Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros, e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste:

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!

                          Bocage. Obras. Porto: Lello & Irmão, 1968. p. 142.

Interpretação do texto:
01 – Qual é o assunto tratado no poema?
      O eu lírico faz um convite à sua amada para que desfrute, com ele, a beleza e a simplicidade da natureza.

02 – Um dos elementos caracterizadores do Arcadismo é o cenário em que se encontra o eu lírico. Que cenário é apresentado no poema? Como é descrito?
      O cenário apresentado é bucólico. O inverno se foi e a “fértil Primavera” enche o prado de flores, as aves voam e o vento nordeste torna o céu e o rio Tejo azuis.

a)   Explique que tema da poesia árcade é a apresentado na descrição desse cenário.
O tema árcade presente nessa descrição é o locus amoenus, isto é, a natureza é apresentada como um lugar tranquilo e agradável onde os amantes se encontram.

03 – Observe a forma e o conteúdo do poema. Que elementos evocam o Classicismo? Explique.
      Há dois elementos que retomam a poesia clássica: na forma, o uso do soneto; no conteúdo, a referência a elementos da mitologia clássica (os Zéfiros e os Amores).

04 – Releia.
      “Deixa louvar da corte a vã grandeza:
       Quanto me agrada mais estar contigo
       Notando as perfeições da Natureza!”
a)   Nessa estrofe, o eu lírico opõe dois cenários. Quais são eles e como são caracterizados?
Os cenários que se opõem são a cidade (simbolizada pela corte) e a natureza. A corte é caracterizada pela sua grandeza falsa, oca, e a natureza, pela perfeição.

b)   Que outro tema árcade é desenvolvido a partir dessa oposição? Explique.
O tema desenvolvido é o fugere urbem. O eu lírico convida a sua amada a abandonar a grandeza vazia da cidade, da urbanização, e a desfrutar da perfeição que o cenário bucólico oferece aos amantes.

05 – O poema pode ser dividido em duas partes: uma que enfatiza o cenário, e outra em que eu lírico faz um convite à sua amada. Quais estrofes compõem essas partes e o que é apresentado em cada uma delas?
      O cenário bucólico, com a descrição da natureza como um lugar agradável, é apresentado nas duas primeiras estrofes; o convite a amada, nos dois tercetos.

a)   É possível afirmar que a construção do cenário tem como objetivo preparar o desenvolvimento do segundo tema árcade do poema. Explique.
A construção do cenário, além de desenvolver o tema do locus amoenus, serve de base para a apresentação do fugere urbem. A natureza, apresentada como modelo de perfeição, é o argumento para que a amada aceite o convite do eu lírico, abandonando a “falsa” grandeza da corte.

06 – Na linha do tempo, quais acontecimentos e ideias geram, nas manifestações artísticas do Arcadismo, a busca pelo racionalismo e o retorno aos modelos clássicos da Antiguidade? Justifique sua resposta.
      Espera-se que os alunos, ao observarem os acontecimentos apresentados na linha do tempo, percebam a importância das novas ideias surgidas na Europa que se opõem à força da religião na determinação dos comportamentos humanos.



SONETO: RECREIOS CAMPESTRES NA COMPANHIA DE MARÍLIA - BOCAGE - COM GABARITO

Soneto: Recreios Campestres na companhia de Marília
             Bocage


Olha Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para,
Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

                                                         Bocage, Manoel M. Barbosa du.
                        Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968. p. 152.

Interpretação do texto:
01 – Leia o soneto abaixo. Nele, o poeta português Bocage constrói um cenário muito específico com os elementos da natureza.
a)   A quem se dirige o eu lírico?
O eu lírico se dirige a uma mulher, chamada Marília.

b)   Que convite ele faz a essa pessoa?
Que observe, com ele, as perfeições da natureza.

02 – Como a natureza é apresentada no poema?
      A natureza é apresentada de modo positivo: o rio Tejo “sorri”, as borboletas coloridas brincam, enquanto o rouxinol e a abelhinha voam; o campo é “alegre” e a manhã é clara. Em resumo, o cenário apresentado pelo eu lírico é alegre e acolhedor.

a)   No último terceto, a caracterização da natureza funciona como argumento para convencer Marília do quanto ela é amada. Explique qual é a relação estabelecida entre a natureza e os sentimentos do eu lírico.
O eu lírico usa a natureza para mostrar como o seu estado de espírito depende da visão de Marília. Quando caracteriza a natureza de modo positivo, definido um ambiente marcado pela alegria e pelo otimismo, está preparando a apresentação do argumento final: “Tudo o que vês, se eu não te vira, / Mais tristeza que a morte me causara”. A alegria e o bem-estar promovidos pelo lugar agradável em que se encontram perderiam o significado se ele não pudesse ver a sua amada Marília.

03 – Observe os verbos associados aos elementos da natureza e o diminutivo empregado no texto. O que eles demonstram?
     Os verbos associados aos elementos da natureza demonstram ações simples e inocentes: o rio sorri, o vento brinca, o rouxinol suspira, a abelhinha gira. O diminutivo abelhinha transmite uma certa infantilização e, portanto, marca inocência.  
  
a)   Explique de que modo a linguagem foi utilizada para sugerir um espaço agradável e inocente.
A combinação da descrição positiva, das ações associadas à natureza e do diminutivo provoca uma sensação de que há um clima de festa, de brincadeira que se desenrola naquele campo alegre diante do olhar de Marília.

04 – Há, no cenário natural do soneto, uma evidente artificialidade. Em que ela pode ser percebida?
      A perfeição do cenário sugere tratar-se de uma natureza artificial. O modo infantilizado como os elementos da natureza são referidos no poema também reforça a ideia de uma natureza pouco natural.

a)   Essa artificialidade pode ser comparada aos jardins do Palácio de Versalhes? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Espera-se que o aluno perceba que, no poema, a natureza é tão “construída” pelo olhar de Bocage quanto os jardins do palácio.