segunda-feira, 24 de abril de 2017

DISCURSO DIRETO E INDIRETO - FONTE: DESCOBRINDO A GRAMÁTICA - FTD - COM GABARITO

DISCURSO DIRETO E INDIRETO - COM GABARITO
TEREZA
          A Teresa voltou da praia, e estive a pique de lhe dizer que queria acabar o namoro. Mas ela estava tão contente, contando as novidades, que terminei ficando com dó e adiei a decisão. Sem contar que o sol lhe tinha feito muito bem. Os olhos de Teresa pareciam mais bonitos com a pele bronzeada.
          A Teresa não parava de falar, e eu só escutando, com vontade de estar longe dali. Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê.
          --- Estou triste por sua causa.
          --- Por minha causa? Por quê?
          Hesitei um pouco. Dizia ou não dizia que não gostava mais dela?
          --- Estava com saudades.
          Na hora em que disse aquilo, me senti o pior sujeito do mundo. Mas o que podia fazer, se já tinha falado?
          --- Mas eu estou aqui, Sérgio.
          --- Pois é, você voltou.
          --- O que você está querendo dizer com isso?
          --- Nada, Tereza, nada...
          --- Serginhooô...
          O difícil era que a Teresa não entendia nada do que lhe dizia. Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer “Serginhooô”, que me deixava com mais raiva. Mas ela logo esqueceu do que estávamos falando e começou a contar do biquíni que havia comprado, das praias de Santos, do novo carro do pai etc. E eu com a cabeça em outro lugar, só pensando na Cybelle e nas coisas que ela tinha me dito. “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, falei baixinho.
          --- O que foi que você disse? --- Teresa perguntou.
          --- Nada não...
          Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa. Seria mais um motivo para uma briga. E dessa vez eu terminaria com aquele namoro que já me chateava. Mas a Tereza não disse nada e continuou a falar de Santos, dos passeios na praia. E eu ali a seu lado com a cabeça nas nuvens, que tomavam a forma da Cybelle, do corpo da Cybelle, do sorriso da Cybelle. “Tão bela...”
          --- Serginho, você ficou maluco?
          --- Maluco por quê?
          --- Você não para de falar sozinho.
          Olhei bem para a Teresa, para aqueles olhos verdes, e dei-lhe um beijo.
          --- Tem razão, Tereza, estou completamente maluco.
                                         Amor & cuba-libre. São Paulo, FTD, 1980.
1 – Escreva nos parênteses DD para discurso direto e DI para discurso indireto.
        (DI) “...estive a pique de lhe dizer que queria acabar nosso namoro”.
        (DI) “Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê”.
        (DD) “--- O que foi que você disse?”
        (DD) “--- Estou triste por sua causa”.
        (DI) “Dizia ou não dizia que não gostava mais dela”?

2 – Retire do texto mais três exemplos de discurso direto.
      Educador: Há mais outros exemplos.
      - Por minha causa? Por quê?
      - Estava com saudades.
      - Mas eu estou aqui. Sérgio.
3 – Transforme o discurso indireto abaixo em direto.
      “Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa.”
      Fiquei torcendo para que ela dissesse:
      --- Você não está prestando atenção na conversa.
4 – Observe:
      Ele disse:
      --- Estou triste por sua causa.
                              ou
      --- Estou triste por sua causa --- disse ele.
      Escreva uma segunda possibilidade para o discurso direto.
a)   Ela me perguntou: ---Por quê?
--- Por quê? --- ela me perguntou.
b)   Alguém lhe sugeriu: --- Seja honesto com Teresa.
--- Seja honesto com Teresa --- alguém lhe sugeriu.
c)   Ele decidiu: --- Agora, chega.
--- Agora, chega --- ele decidiu.
d)   Teresa me perguntou: --- O que foi que você disse?
---O que foi que você disse? --- Tereza me perguntou.
5 – Diga se há discurso direto ou indireto no período abaixo.
      “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, Falei baixinho.
      Discurso direto.
6 – Procure no texto dois verbos de elocução empregados no discurso direto e escreva-os abaixo.
      Perguntou e falei.
7 – Transcreva os discursos diretos em indiretos. Atenção ao tempo verbal e outras mudanças.
a)   Perguntei a ela: --- Você é irmã de Marina?
Perguntei a ela se era irmã de Marina.
b)   Minha filha argumentou:
--- Já tenho idade suficiente para sair sozinha.
Minha filha argumentou que já tinha idade suficiente para sair sozinha.
c)   O professor sugeriu:
--- Vocês deveriam ler Machado de Assis.
O professor sugeriu que deveríamos ler Machado de Assis.
d)   Benedita me pediu:
--- Traga-me uma vassoura nova.
Benedita me pediu que lhe trouxesse uma vassoura nova.
e)   Elisabete ponderou:
--- É perigoso sairmos sozinhas a esta hora.
Elisabete ponderou que era perigoso saírem sozinhas àquela hora.


PIADA   A

          Uma cliente furiosa foi à padaria onde eu trabalhava, para se queixar da dureza do pão que tinha comprado na véspera.
          --- Senhora --- disse meu patrão, indignado ---, faço pão há quinze anos!
          --- Ah, é? --- retorquiu ela prontamente. --- Pois não deveria ter esperado tanto tempo para vender.
                                                   Seleções – Reader´s digest, nº 235.
                                                           Lisboa, Lis Gráfica, abril, 1991.


PIADA    B
          O time estava se preparando para disputar a final do campeonato brasileiro de futebol. Um jogo duríssimo. Mas acontece que em todos os treinos sempre faltava um ou outro jogador. No último treino, às vésperas do fogo final, o treinador, bastante irritado, disse a todos:
          --- Gostaria de agradecer ao goleiro, que foi o único presente a todos os treinos.
          O garotão ficou todo feliz com o elogio e aproveitou pra avisar.
          --- Fiz questão de comparecer a todos os treinos porque não vou poder vir ao jogo, amanhã.
                                          As melhores piadas e anedotas da praça.
                                                                        São Paulo, Green, s/d.
1 – Retire o primeiro discurso direto da piada A.
      --- Senhora --- disse meu patrão, indignado ---, faço pão há quinze anos!
2 – Escreva os dois verbos de elocução que aparecem na piada A.
      Disse e retorquiu.
3 – Passe para o discurso indireto a resposta dada no item 1.
      Meu patrão disse, indignado, que há quinze anos fazia pão.
4 – Retire os dois verbos de elocução diretos da piada B.
       Disse e avisar.
5 – Passe os dois discursos diretos da piada B para indiretos.
      O treinador, bastante irritado, disse a todos que gostaria de agradecer ao goleiro, que fora o único presente a todos os treinos.
      O garotão aproveitou para avisar que fizera questão de comparecer a todos os treinos porque não poderia ir ao jogo no dia seguinte.

Fonte:
GIACOMOZZI, Gilio; VALÉRIO, Gildete; FENGA, Cláudia Reda. Descobrindo a Gramática. São Paulo: FTD, 2001, p. 82-85.

domingo, 23 de abril de 2017

CRÔNICA:CONVERSA DE COMPRA DE PASSARINHO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

CRÔNICA: CONVERSA DE COMPRA DE PASSARINHO
                       Rubem Braga
          Entro na venda para comprar uns anzóis e o velho está me atendendo quando chega um menino da roça, com um burro e dois balaios de lenha. Fica ali, parado, esperando. O velho parece que não o vê, mas afinal olha as achas com desprezo e pergunta: “Quanto?” O menino hesita, coçando o calcanhar de um pé com o dedo de outro. “Quarenta”. O homem da venda não responde, vira a cara. Aperta mais os olhos miúdos para separar os anzóis pequenos que eu pedi. Eu me interesso pelo coleiro do brejo que está cantando. O velho:
          – Esse coleiro é especial. Eu tinha aqui um gaturamo que era uma beleza, mas morreu ontem; é um bicho que morre à toa.
         Um pescador de bigodes brancos chega-se ao balcão, murmura alguma coisa: o velho lhe serve cachaça, recebe, dá troco, volta-se para mim: “- O senhor quer chumbo também?” Compro uma chumbada, alguns metros de linha. Subitamente ele se dirige ao menino da lenha:
          – Quer vinte e cinco? Pode botar lá dentro.
          O menino abaixa a cabeça, calado. Pergunto:
          – Quanto é o coleiro?
          – Ah, esse não tenho para venda, não…
          Sei que o velho esta mentindo; ele seria incapaz de ter um coleiro se não fosse para venda; miserável como é, não iria gastar alpiste e farelo em troca de cantorias. Eu me desinteresso. Peço uma cachaça. Puxo o dinheiro para pagar minhas compras. O menino murmura: “- O senhor dá trinta…?” O velho cala-se, minha nota na mão.
          – Quanto é que o senhor dá pelo coleiro?
          Fico calado algum tempo. Ele insiste: “- O senhor diga…” Viro a cachaça, fico apreciando o coleiro.
          – Se não quer vinte e cinco vá embora, menino.
          Sem responder, o menino cede. Carrega as achas de lenha para os fundos, recebe o dinheiro, monta no burro, vai-se. Foi no mato cortar pau, rachou cem achas, carregou o burro, trotou léguas até chegar aqui, levou 25 cruzeiros. Tenho vontade de vingá-lo:
          – Passarinho dá muito trabalho…
          O velho atende outro freguês, lentamente.
          – O senhor querendo dar quinhentos cruzeiros, é seu.
          Por trás dele o pescador de bigodes brancos me fez sinal para não comprar. Finjo espanto: “- Quinhentos cruzeiros?”
          – Ainda a semana passada eu rejeitei seiscentos por ele. Esse coleiro é muito especial.
        Completamente escravo do homem, o coleirinho põe-se a cantar, mostrando sua especialidade. Faço uma pergunta sorna: “- Foi o senhor quem pegou ele?” O homem responde: “- Não tenho tempo para pegar passarinho.”
          Sei disso. Foi um menino descalço, como aquele da lenha. Quanto terá recebido esse menino desconhecido, por aquele coleiro especial?
          – No Rio eu compro um papa-capim mais barato…
          – Mas isso não é papa-capim. Se o senhor conhece passarinho, o senhor está vendo que coleiro é esse.
          – Mas quinhentos cruzeiros?
          – Quanto é que o senhor oferece?
          Acendo um cigarro. Peço mais uma cachacinha. Deixo que ele atenda um freguês que compra bananas. Fico mexendo com o pedaço de chumbo. Afinal digo com voz fria, seca: “- Dou duzentos pelo coleiro, cinquenta pela gaiola.”
          O velho faz um ar de absoluto desprezo. Peço meu troco, ele me dá. Quando vê que vou saindo mesmo, tem um gesto de desprendimento: “Por trezentos cruzeiros o senhor leva tudo.”
          Ponho minhas coisas no bolso. Pergunto onde é que fica a casa de Simeão pescador, um zarolho. Converso um pouco com o pescador de bigodes brancos, me despeço.
          – O senhor não leva o coleiro?
          Seria inútil explicar-lhe que um coleiro do brejo não tem preço. Que o coleiro do brejo é, ou devia ser, um pequeno animal sagrado e livre, como aquele menino da lenha, como aquele burrinho magro e triste do menino. Que daqui a uns anos quando ele, o velho, estiver rachando lenha no inferno, o burrinho, menino e o coleiro vão entrar no Céu – trotando, assobiando e cantando de pura alegria.
(RUBEM BRAGA. Quadrante. Rio, Editora do Autor, 1962)
Após a leitura do texto, responda às questões abaixo:
1. Achas de lenha são _________________________________________
2. Quais os significados da palavra achas nas frases abaixo:
a) Achas interessante essa crônica? ______________________________
b) Procuras o troco nos bolsos e não achas nada. ____________________
3. Transcreva do texto a frase que equivale a:
a) Calado, o menino concorda. ____________________________________
b) O menino titubeia. ___________________________________________
4. Relacione as palavras aos seus significados, de acordo com o texto:
a. roça                             (   ) caolho
b. desprezo                     (   ) altruísmo; ação em que não se visa ao interesse próprio
c. miúdos                        (   ) sem maiores objetivos; indolente; preguiçosa
d. brejo                            (   ) terreno de lavoura; campo em oposição à cidade
e. sorna                           (   ) desdém
f. desprendimento        (   ) pequeno; espremido
g. zarolho                       (   ) banhado

5. Onde acontece o fato narrado no texto?
6. A atitude inicial do velho, dono da venda, para com o menino é:
a. (   ) atenciosa       b. (   ) simpática        c. (   ) de desprezo
7. Essa atitude era intencional?
a. (   ) Sim, porque desse modo, ele desvalorizava a mercadoria do menino, comprando-a por menor preço.
b. (   ) Não. O velho negociante era mesmo seco e de pouca conversa.
8. Ao perceber o interesse do narrador do texto, o velho demonstrou:
a. (   ) satisfação, pois também ele gostava de pássaros.
b. (   ) aparente desinteresse pelo negócio.
9. Pelas compras feitas pelo narrador, deduzimos que o mesmo iria ______
10. O que disse o velho negociante, quando o narrador perguntou pelo preço do coleiro?
11. A resposta dada pelo negociante a respeito da venda do coleiro é verdadeira? (   ) sim        (   ) não
Justifique sua resposta indicando passagens do texto.
12. A negociação empregada pelo velho, durante a compra da lenha, lhe parece justa e honesta?
a. (   ) Não. Ele estava explorando o menino, na certeza de que este não voltaria com a carga, já que tivera muito trabalho para cortar e trazer a lenha.
b. (   ) Sim, pois, como comerciante que era, procurava um modo de adquirir a mercadoria por menor preço e, assim, auferir maior lucro.
13. Quem o narrador julga que tivesse caçado o coleiro do brejo? Justifique com uma passagem do texto.
14. O narrador também usa da mesma técnica de negociação empregada pelo velho, para a compra do passarinho, isto é, desvalorizar a mercadoria com argumentos, demonstrar desinteresse com atitudes. Identifique sete trechos da narrativa que demonstram essa técnica de negociação usada pelo narrador.
15. Após tanta negociação, qual o abatimento que o narrador conseguiu quando desistiu da compra do passarinho?
16. Para onde se dirigiu o narrador com o material de pesca que adquiriu na venda?
17. Por que o narrador não compra, afinal, o coleiro?
18. Qual teria sido, na sua opinião, a atitude mais justa a ser tomada pelo narrador em relação ao coleiro? Justifique sua resposta.
19. Expresse, em poucas linhas, a mensagem que o texto sugere.
 ___________________________________________________
GABARITO
Questão 1. São pedaços de madeira seca para fazer fogo.
Questão 2. a) julgar ou considerar interessante          b) não encontrar
Questão 3.
a)      “Sem responder, o menino cede.” (parágrafo 12).
b)      “O menino hesita.” (parágrafo 1)
Questão 4.
a. roça                     ( g ) caolho
b. desprezo             (  f ) altruísmo; ação em que não se visa ao interesse próprio.
c. miúdos                ( e ) sem maiores objetivos; indolente; preguiçosa
d. brejo                   ( a ) terreno de lavoura; campo em oposição à cidade
e. sorna                  ( b ) desdém
f. desprendimento  ( c ) pequenos; espremidos
g. zarolho               ( d ) banhado

Questão 5. Numa casa de comércio.
Questão 6.  Alternativa c
Questão 7. Alternativa a.
Questão 8. Alternativa b.
Questão 9. Pescar.
Questão 10. Disse que o coleiro não estava à venda.
Questão 11. Não. Trechos que comprovam a resposta:
  • “Sei que o velho está mentindo; ele seria incapaz de ter um coleiro se não fosse para venda; miserável como é, não iria gastar alpiste e farelo em troca de cantorias.”
  • “O senhor querendo dar quinhentos cruzeiros, é seu”.
  • “Por trezentos cruzeiros o senhor leva tudo.”
  • “O senhor não leva o coleiro?”
Questão 12. Alternativa a.
Questão 13. Um menino pobre, morador da zona rural. Trecho que comprova a resposta:
  • “Sei disso. Foi um menino descalço, como aquele da lenha.”
Questão 14.
1.   “Eu me dessinteresso. Peço uma cachaça. Puxo o dinheiro para pagar minhas compras.
2.   “Fico calado algum tempo. Viro a cachaça.”
3.   “Passarinho dá muito trabalho.”
4.   “Finjo espanto. Quinhentos cruzeiros?”
5.   “No Rio compro um papa-capim mais barato.”
6.   “Acendo um cigarro. Peço mais uma cachacinha.”
7.   “Afinal, digo com voz fria, seca: Dou duzentos pelo coleiro, cinquenta pela gaiola.”
Questão 15. Duzentos cruzeiros.
Questão 16. À casa de Simeão, um pescador zarolho.
Questão 17. Porque, na sua opinião, um coleiro do brejo não tem preço, por ser um pequeno animal sagrado e livre, como o menino da lenha e seu burrinho.
Questão 18. Deveria tê-lo comprado e depois dar-lhe a liberdade, isto é soltá-lo na mata que é onde devem viver os animais silvestres.
Questão 19. Resposta pessoal.


TEXTO:AÍ EU CHAMO A COTA - EURICO DE ANDRADE - COM GABARITO

TEXTO – AÍ EU CHAMO A COTA

        Lá nas entranhas de Tabui tem uma serra. Serra do Urubu. No pé da serra, um rio, o Sorongo. Ladeando o Sorongo, a estrada de ferro. Bem antes da ponte, a estaçãozinha que desmoronou. Restou o desvio, com as alavancas e trilhos enferrujados. Entre as duas – estaçãozinha e ponte -, o corte, com um barranco de uns 30 metros e lá vai pedrada. Lá de cima do barranco, o velho Totonho aprecia o movimento dos trens que passam rápido, 20 a 30 km por hora, no máximo uma vez por dia. Totonho não perde um. Ouve o ronco do bicho, tá lá ele, de cima do barranco, dicocado, fazendo pitinho, vendo o trem passar.
        Turma da estrada de ferro resolve colocar Totonho pra cuidar do que restou da velha estação. Foram fazer teste com o velho.
        --- Totonho, se a ponte do Sorongo cair e o trem tá vindo, o que o senhor faz?
        --- Vô ali e mudo a chave da lavanca do desvio pro trem muda de rumo e pará, uai!
        --- E se a chave estiver estragada?
        --- Aí arranjo um pano vermeio, vô pra riba da linha e fico banano. Aí o maquinista ne vê e para o trem, uai!
        --- Mas, Totonho, e se o maquinista não o vir, se estiver cochilando?
        --- Aí acho que é mais mió eu tê sempre um apito, quinem desses de juiz de futebol, e apitá até o trem pará...
        --- Totonho foi ficando agoniado com tanto perguntamento. Doido pra garantir o emprego e ganhar uns trocados.
        --- Mas, Totonho, e se o trem vier à noite?
        --- Aí só tem um jeito: eu acendo uma fogueira pro maquinista me vê e grito e pulo até ele pará o trem! ...
        --- Mas, fogueira, Totonho!? E se estiver chovendo?
        --- Ai, meu Deus! ... Aí o recurso é ieu tê tamém uma lanterna e fazê pisca-pisca pro maquinista, uai! ...
        --- Tudo bem, Totonho! Suponhamos agora que você tem a lanterna, mas não tem pilha? ... O que você faz?
        Totonho entregou os pontos. Desanimou de ganhar o emprego.
        Oia, meu amigo, aí num tem jeito não! é muita disgraça prum cristão só. Aí eu chamo a Cota!
        --- Chama a cota? Que cota, Totonho?
        --- Oia, moço, Cota é minha muié. Chamo ela, a gente vai pra riba do barranco, acendo meu pitinho e vamo oiá e escuitá o trem disgringolá e virá pedaceira, todo espatifado, ali bem dento do Sorongo! ...

               Eurico de Andrade – Brasília/DF – eurico2002@uol.com.br
                                     Disponível em: http://eptv.globo.com/caipira/.
                                                                    Acesso em: 29 out. 2012.

1 – O ambiente em que acontece a história é urbano ou rural?
      O ambiente descrito é rural.

2 – No texto, alguém faz perguntas para Totonho. Responda:
a)   O modo falar de Totonho é igual ou diferente do falar de quem dialoga com ele?
O modo de falar de Totonho é diferente do falar de quem dialoga com ele.

b)   O falar de Totonho é uma variedade linguística mais característica de alguém que vive na área urbana ou na rural?
O falar de Totonho é uma variedade mais característica de alguém que vive na área rural.

3 – Explique o que você entendeu destas respostas de Totonho:
a)   “- Aí arranjo um pano vermeio, vô pra riba da linha e fico banano. Aí o maquinista me vê e para o trem, uai!”
Totonho arranjará um pano vermelho, irá para cima da linha do trem e ficará abanando o pano para que o maquinista o veja e pare o trem.

b)   “- Aí acho que é mais mió eu tê sempre um apito, quinem desses de juiz de futebol, e apitá até o trem pará...”
Totonho diz que acha melhor ter sempre um apito semelhante ao usado pelo juiz de futebol e apitar até que o trem pare.

c)   Transcreva das alternativas anteriores algumas palavras ou expressões que correspondem a marcas da variedade linguística que se buscou representar por meio da fala do personagem.
“vermeio”; “vô pra riba”; “banano”; “uai”; “mais mió”; “quinem”; “apitá”; “pará”. EDUCADOR: Algumas das palavras transcritas não são usadas exclusivamente por falantes da variedade que se buscou representar. Espera-se que os alunos percebam, por exemplo, que a supressão, na oralidade, do “r” e do “u” final das palavras é comum na fala de parte de falantes brasileiros, como ocorre no uso oral dos verbos vou (vô), apitar (apitá) e parar (pará).

4 – Qual o objetivo das perguntas feitas a Totonho pelo pessoal da estrada de ferro
        Fazer um teste com Totonho para verificar se ele estava preparado para cuidar do que restou da velha estação.

5 – O que o pessoal da estrada de ferro buscava saber de Totonho com essas perguntas
        Buscava saber quais providências Totonho tomaria, em diversas situações de risco, para evitar um acidente com trens que passassem por aquele trecho da estrada de ferro.

6 – Pressionado e já desanimado, Totonho dá uma resposta que provoca grande curiosidade em quem lhe faz perguntas e também no leitor. Que resposta foi essa?
        - Oia, meu amigo, aí num tem jeito não! É muita desgraça prum cristão só. Aí eu chamo a Cota!

7 – O que a última resposta de Totonho provoca no causo?

        A última resposta surpreende pelo seu conteúdo inesperado, revelando uma habilidade cômica com a qual o caipira se sai bem da situação em que estava sendo pressionado. Foi isso que gerou o momento mais engraçado do causo.