ARTIGO DE OPINIÃO: HISTÓRIA: POR QUE E PARA QUÊ?
CAIO BOSCHI
Várias são as
evidências da atual avidez pelo conhecimento histórico. Em outras
palavras, a História está na moda! Filmes, séries televisivas, revistas de
ampla divulgação, obras de caráter biográfico e temático são algumas das expressões que atestam a
receptividade que a produção de cunho histórico vem obtendo no universo sócio
cultural brasileiro.
Tal panorama
parece indicar que, entre nós, a História atinge sua maioridade, suas pesquisas
ganham consistência e adquirem respeitabilidade. Verdade é que tudo isso pode ser atribuído,
em grande parte, ao fato de os historiadores, cada vez mais, ampliam seus
diálogos com as demais ciências.
Por isso,
instigado pelo nome desta seção da nossa História, ponho-me a pensar sobre as
responsabilidades daqueles que se deixam seduzir pelos encantos de Clio, a musa
dos historiadores, fazendo dessa disciplina sua opção profissional.
Afloram em mim
leituras e ensinamentos, a começar pela recorrente profissão de fé legada por
MarcBloch nas anotações que, publicadas postumamente, resultaram na sua
Apologia pela História ou o ofício do historiador. Belo título! Incontornável
leitura!
De imediato, relembro
o parágrafo inicial. Nele, uma criança, se dirigindo ao pai historiador,
indaga-lhe: “Diga-me, para que ser a História?”. Pergunta desconcertante que
(felizmente, a meu ver) inquieta e atormenta estudantes, estudiosos e diletantes
de História. Capacitados ou não a respondê-la, importa registrar a permanência
desse desafio ao longo de nossa trajetória profissional.
Com efeito,
perceber e introjetar
o sentido e a função sociais da História, compromisso do profissional da área,
é também dever de consciência, de cada um de nós, na condição de agentes da
nossa História, pois nunca é demasiado salientar que esta só se justifica e se
explica porque tem os homens vivos como sua razão de ser. Estudamos História
para conhecer e transformar a vida. Nossas angústias e interrogações são a
força-motriz que nos impulsiona a conhecer o passado e, daí, tentar identificar
e analisar criticamente as condições de e para a compreensão do nosso presente.
[...]
O passado e os
mortos se constituem no objeto de nossos estudos, mas é das indagações e das
perplexidades do presente que a História vai sendo reescrita e compreendida. É
a partir do contexto em que nos situamos e do qual somos partícipes que construímos a nossa
História.
Cuidado em não
resvalarmos
para a prática do anacronismo, é no questionamento do passado que
buscamos detectar e delinear nossas identidades. Essas, por seu turno,
obviamente, só se delineiam por contratação, por antinomia. Vale dizer: o estudo da
História objetiva captar e exprimir, predominantemente, nossas diferenças e não
nossas afinidades.
Assim, o
conhecimento do passado, não sendo em si mesmo a História, antes de iluminar o
futuro, deve proporcionar aos homens viverem melhor o seu presente.
Propiciar-nos referências para a constituição de uma almejada sociedade mais
justa e solidária.
Refletindo
dessa maneira, tenho como horizonte primeiro as pessoas e o mundo que me
cercam. Não faço abstração do que está longe de mim. Bem sei e reconheço que
necessito aprender o todo. No entanto, como incita o poeta, é mister
que eu conheça e (com) viva com o rio de minha aldeia para que alcance e
dimensione a extensão e a profundidade do oceano. A evocação final, igualmente
lição assimilada, busco-a em Josef Fontana, quando afirma: “Entender melhor o
mundo em que vivemos e ajudar os outros a entende-lo, a fim de contribuir para
melhorá-lo, (é) o que nos faz falta. Porque como disse Tom Payne há mais de 200
anos, e essas são palavras que cada um de nós deveria gravar na sua consciência:
está em nossas mãos recomeçar o mundo outra vez”.
BOSCHI,
Caio. Revista Nossa História. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional/Ministério da Cultura,
Ano
1, n. 11, set. 2004, p. 98.
1 – A respeito do primeiro parágrafo, responda:
a) Qual é a informação que,
aparentemente, responde à pergunta que dá título ao texto?
“Em outras palavras, a
História está na moda!”.
b) Após a primeira leitura, você
confirma que essa é a resposta do autor à questão que ele propõe no título? Por
quê?
Sim, essa é apenas uma
constatação afeita pelo autor, mas não é a posição que ele defende.
2 – No parágrafo 6, o autor revela seu posicionamento. A esse
respeito, responda:
a) Qual é a informação que pode ser
indicada como resposta ao título?
“Estudamos História para
conhecer e transformar a vida”.
b) Que palavras, logo no início do
parágrafo, dá (dão) pistas de que se trata da posição do autor?
A expressão “com efeito”
indica uma provável conclusão do autor.
3 – No oitavo parágrafo, o autor retoma o argumento
apresentado no parágrafo 6. Copie do texto o trecho em que essa retomada
acontece.
“... é
no questionamento do passado que buscamos detectar e delinear nossas
identidades.”