sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

CONTO: O ESPETO - J.SIMÕES LOPES NETO - COM GABARITO

CONTO: O ESPETO


          Fazia um frio de rachar pedras.
     Acendeu-se uma grande fogueira e cada um tratou de chamuscar o seu pedaço de carne.
       Eu saí a procurar um espeto para o meu assadinho. A noite era muito escura, mas graças ao clarão da fogueira descobri uma pequena reboleira de mato, ali perto. Aproximei-me e quando ia cortar um galho qualquer, caiu-me ao chão a faca, abaixei-me para apanhá-la dentre as ervas, e com tal sorte, que ao lado dela encontrei um pedaço de pau tal e qual como eu queria: duma meia braça, grossinho, liso, e o que mais é, já com a ponta feita.
       Por certo que seria um espeto já pronto que algum dos camaradas perdera; melhor para mim! E ainda bati com ele no chão para limpá-lo duns capins secos, e terra que estava pegada.
          Voltando, atravessei o meu churrasco no meu espeto achado, e finquei-o na beirada do fogo.
          Vinha clareando o dia.
       Por toda a parte branqueava a geada, alta de dois dedos, geada farinhenta, que é a mais fria de todas. Estava eu um pouco arriado, conversando, quando um cabo, baiano, que viera acender o cigarro numa brasa, gritou, olhando para o chão, admirado:
         – Olha o assado com o espeto, cadete Romualdo, que vai-se embora! …
         Julguei que era algum gaiato que pretendia furtar-me o churrasco; mas o baiano repetiu:
         – Acuda, seu cadete, que o assado vai de trote! …
          Corri, e que vi? …
         O churrasco, sim senhor, borrifado de salmoura, já chiando na gordura, que ia andando pelo chão… dava a ideia de um cágado sem pernas, mas de cabeça e cauda mui compridas! …
          Acudiram então outros rapazes, muitos, quase todos; e todos viram o churrasco arrastando-se, fugindo da fogueira.
          Então rompeu o sol. Foi quando se pôde verificar a cousa: o espeto era uma cobra!

J. Simões Lopes Neto, Casos do Romualdo. Porto Alegre, Editora Globo, 1973.

Vocabulário:
Reboleira – grupo de arbustos
Meia braça – medida antiga equivalente a 1 metro e dez centímetros (1,10 m)
Arriado – abaixado, acocorado, agachado
Cabo – militar superior ao soldado
Cadete – estudante militar
Gaiato – brincalhão, travesso
De trote – depressa, rapidamente.

Entendendo o texto:
01 – Romualdo é uma personagem criada pelo escritor gaúcho J. Simões Lopes Neto. Sua especialidade é contar casos diversos, sempre exagerando a verdade… Nesse texto, Romualdo aparece no tempo da Guerra do Paraguai (entre 1865 e 1870), fazendo parte de um regimento. Que posto ocupava Romualdo?
      Cadete.

02 – Embora fizesse muito frio naquela noite, Romualdo afastou-se da fogueira. Por quê?
      Porque precisava providenciar um espeto.

03 – Romualdo ia cortar um galho para fazer um espeto, mas não cortou. Por quê?
      Porque, ao pegar a faca que caíra, achou um pedaço de pau como queria.

04 – Quando o cabo baiano gritou admirado que o assado com os espeto ia-se embora, Romualdo correu para perto da fogueira. Que cena presenciou?
      O assado já chiando na gordura ia andando pelo chão, fugindo da fogueira.

05 – O acontecimento só se esclareceu quando rompeu o dia. O que havia acontecido?
      Como estava escuro, Romualdo encontrara um pau, mas na verdade era uma cobra congelada e a usou como espeto. No calor do fogo, ela descongelou-se e fugiu levando a carne que estava espetada no seu corpo.

06– É característica de Romualdo apresentar testemunhas dos casos que conta. Isso acontece nesse texto? Explique.
      Sim. Ele cita o testemunho de quase todos os companheiros.

CRÔNICA: A RECOMPENSA - LOURDES STROZZI - COM GABARITO

CRÔNICA: A RECOMPENSA
                      Lourdes Strozzi


     Josias usava a abusava da solicitude da mulher. Costumava levar uma pá de clientes para jantar, em sua casa, e com eles chegava em cima da hora, sem que Isaura os esperasse. Uma noite apareceu com três.
       Enquanto bebericavam, Isaura vasculhou a geladeira e constatou que a carne e a sobremesa estava “no aro”. Chamou os filhos e recomendou:
          – Escutem aqui: o pai trouxe os amigos dele para jantar, a carne está no fim, não vai chegar para todos nós; por isso, quando a mãe oferecer bife à milanesa para vocês, não aceitem. Vejam bem: vocês não vão querer carne, mesmo que a mãe insista. Certo?
          – Certo, sim senhora.
         Achando que fora bem explícita para aquelas cuquinhas de sete, seis e quatro anos, reforçou o prato com um encorpado molho parmesão e serviu o jantar.
          A recusa dos pequerruchos era tão veemente que…
          – Josias, não sei o que está havendo com essas crianças; na certa andam lambiscando por aí…
         Correu tudo muito bem, Isaura relaxou o seu estado interior… e lembrou-se da sobremesa.
          Era o pudim de que os meninos mais gostavam e com o problema gravíssimo da carne, a pobre se esquecera do outro.
          À hora de servi-lo, encarou os filhos: olhinhos arregalados e sorridentes, esperavam o doce, o prêmio de bom comportamento e obediência. Dominou o pequeno pânico incipiente, juntou os sobrolhos e disse com firmeza:
          – Vocês digam boa-noite e subam já, já, para o quarto; é um castigo; quem não come carne não ganha sobremesa…

 Lourdes Strozzi. Aspas, parênteses e reticências. Curitiba, 1977.


Entendendo o texto:
01 – No texto, a palavra bebericavam significa:
a. (   ) molhavam os lábios sem beber.
b. (X) bebiam de pouquinho em pouquinho.
c. (   ) engoliam a bebida num só gole.

02 – Identifique, no texto, as palavras que tenham os significados abaixo:
a) clara, visível, expressa: Explícita.
b) forte, enérgico, vigoroso: Veemente.
c) terror, medo incontrolável: Pânico.

03 - Josias costumava levar clientes para jantar em sua casa e…
a. (   ) trazia comida pronta
b. (X) nunca avisava Isaura
c. (   ) sempre avisava a esposa
d. (   ) raramente avisava Isaura.

04– Isaura fez um acordo com os filhos. Qual foi esse acordo?
      Eles deviam recusar o bife à milanesa.

05– Por que Isaura propôs esse acordo?
      Porque a carne era insuficiente para todos.

06– Tudo correu bem até que surgiu outro problema. Qual foi esse problema?
      A sobremesa de que os meninos mais gostavam também era insuficiente para todos.

07 – Os meninos sofreram um castigo por culpa:
a. (X) de Josias, que levou três clientes para jantar e não avisou a esposa.
b. (   ) de Isaura, que conhecia o costume de Josias e não se preparou.
c. (   ) deles mesmos, pois não conseguiram cumprir o acordo feito.
d. (   ) dos três clientes de Josias, que chegaram sem ter avisado.


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES): RAP DA FELICIDADE - MC CIDINHO E MC DOCA - COM GABARITO

Música(Atividades): Rap da Felicidade

                                                 Cidinho e Doca
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Fé em Deus, DJ

Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço a autoridade um pouco mais de competência

Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

Diversão hoje em dia não podemos nem pensar
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de côco
E o pobre na favela vive passando sufoco
Trocaram a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança
O povo tem a força, precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui

Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu
Eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar, é
O pobre tem o seu lugar

Diversão hoje em dia, nem pensar
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de côco
E o pobre na favela, passando sufoco
Trocada a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança
O povo tem a força, só precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui

Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é
Eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.

Interpretação da canção:

01 – Que mensagem essa música se propõe a transmitir?
      Ela transmiti a insegurança urbana, a discriminação social e as consequências da má distribuição de renda da população brasileira.

02 – Quais os sentimentos que o eu lírico revela ao cantor os versos da música?
      Ele quer ser feliz no lugar onde nasceu e se orgulha deste lugar.

03 – Pode-se afirmar que a música é uma crítica aos governantes do nosso país? Explique.
      Sim. Pois pede as autoridades um pouco mais de competência.

04 – Em que versos o autor pede ajuda a santa protetora? Cite-os.
      “Eu faço uma oração para uma santa protetora mas sou interrompido à tiros de metralhadora”.

05 – A quem o eu poético se refere nestes versos? “Diversão hoje em dia não podemos nem pensar / Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.”
      Os policiais.

06 – Que outro termo pode se usar para substituir o termo grifado neste verso?
“E o pobre na favela vive passando sufoco.”
      Passar necessidades financeiras.

07 – Que versos o autor convoca o povo para lutar?
      “O povo tem a força, precisa descobrir / Se eles lá não fazem nada, faremos tudo aqui.”

08 – De acordo com o verso: “O gringo vem aqui e não conhece a realidade.” O que significa gringo para o autor?
      Turistas que veem de outros países.


09 – O texto está em forma de poesia. E tem como finalidade de discutir as desigualdades sociais e a violência.

10 – Você conhece a dupla da música?
      Resposta pessoal do aluno.

11 – Que estilo musical é usado pelos cantores?
      Rap (significa rhythm and poetry) – ritmo e poesia.

12 – O assunto que trata a música é:
a)   O racismo.
b)   A infelicidade.
c)   A moradia.
d)   A violência.

13 – Que tipo de felicidade o compositor retrata a música?
      Refere-se a ter segurança, como diz nos versos: “Andar tranquilamente na favela onde eu nasci.”

      


CONTO: FIAPO DE TRAPO - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

CONTO: FIAPO DE TRAPO
                Ana Maria Machado


       Espantalho tão bonito e elegante nunca se tinha visto por aquelas redondezas. Nem por outras, que ele era mesmo carregado de belezas. Precisava só ouvir a conversinha do Dito Ferreira enquanto montava o espantalho, todo orgulhoso do seu trabalho:
      - Nunca vi coisa igual. O patrão caprichou de verdade. Vai botar no campo um espantalho com roupa de gente ir à festa na cidade.
       E era mesmo. Tudo roupa velha, claro, como convém a um espantalho que se preza. Mas da melhor qualidade, roupa de se ir à igreja em dia de procissão e reza.
        Dito Ferreira mostrava todo prosa:
        --- Esse chapéu é de um tal de veludo. E vejam que beleza essa camisa cor-de-rosa. Tem até coração bordado... O patrãozinho pensou em tudo. Com uma gravata de seda, fez esse cinto estampado. Até a palha do recheio é toda macia e cheirosa.
        Não é que era mesmo, a danada? Tinha um perfume forte, que ajudava a espancar a passarada.
        Ah, porque é preciso também dizer que aquilo tudo dava certo, funcionava tanto... O espantalho elegante era mesmo um espanto. Passarinho nem chegava perto. E lá ficava sozinho, espetado no milharal deserto.
        O patrão ficava feliz com um defensor tão eficiente. Dito Ferreira se alegrava com aquela figura imponente. Que espantalho diferente! Só que eles nem sabiam que diferença era essa.
        Como todo espantalho, esse não andava nem falava, mas tinha o dom de poder sentir as coisas ao seu jeito --- para um boneco de palha, isso era um grande defeito.
        E era só por causa de desenho que tinha bordado no peito. Linhas de cor em forma de coração --- e pronto, lá estava o pobre espantalho sofrendo com a solidão! Ninguém se aproximava dele, ninguém fazia um carinho, e ele ficava tão triste, só, espantando passarinho...
        De longe via uma passarada, de todo tipo e feição. Pintassilgo e saíra, cambaxirra e corruíra, rolinha e corrupião. Pássaro de toda cor, de todo canto e tamanho, de todo a-e-i-o-u --- sabiá, tié, bem-te-vi, curió e nhambu. Vontade de chamar:
        --- Vem cá me ver, bem-te-vi!
        Vontade de mostrar:
        --- Tico-tico, olha lá o teco-teco!
        Mas não adiantava. Ninguém chegava perto. E o tempo passava. Horas e dias, dias e semanas, semanas e meses, meses e anos.
        E o espantalho ficava no tempo. No bom tempo e no mau tempo. No sol que queimava e na chuva que molhava. No mormaço que fervia e no vento que zunia.
        E seu cheiro se gastava, sua cor se desbotava, sua seda desfiava, seu veludo se puía.
        Até que um dia...
        No tempo tem sempre um dia. Um dia em que muda o tempo e um tempo novo se inicia.
        Pois foi o que aconteceu. Houve um dia em que choveu. Mas não foi chuva miúda, foi pra valer, de verdade, foi mesmo um deus-nos-acuda, uma imensa tempestade, de granizo, raio, vendaval, com aguaceiro e temporal, chuva de muito trovão que virou inundação.
        Quando a chuvarada passou e o sol voltou, um arco-íris no céu se formou. E na beleza do dia novo, azul lavado, vieram os pássaros, em bando assanhado, ocupando todo o campo, ciscando no milharal. Livres, soltos, à vontade, numa alegria sem igual.
        Foi aí que Dito Ferreira reparou:
        --- Cadê o espantalho velho?
       Saiu todo mundo procurando. Não acharam. Nem podiam achar. Ele tinha desmanchado, tinha sido carregado, pelo vento espalhado, pela chuva semeado, com a terra misturado, plantado naquele chão, sua palha adubando muito pé de solidão.
        Do que sobrou por aí, foi tudo virando ninho, protegendo com carinho filhotes que iam nascer. Veludo em trapos, seda em farrapos, coração bordado em fiapos, maciezas boas de se aquecer.
        E hoje em dia, sua palha misturada na terra ajuda a plantação a crescer.
        Os trapos de sua seda, o seu forro de bom cheiro, farrapos de seu veludo se espalham desde o galinheiro até a mais alta árvore que tenha um ninho barbudo.
        E em cada ovo que nasce ali por aquele lugar, cada ninhada que se achega à procura de calor, em cada vida a brotar, em cada marca de amor, seu coração sobrevive num fiapinho de cor.

                                      MACHADO, Ana Maria. Quem perde ganha.
                                                 Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

Entendendo o texto:
01 – Releia a frase do texto:
      “O espantalho elegante era mesmo um espantalho”.
      A palavra espanto vem do verbo espantar. Veja dois significados dessa palavra:
      Espanto. s. m. 1. O que causa medo, assombro, susto.
                          2. Qualidade do que provoca admiração, maravilha.
      Em qual desses sentidos a palavra espanto foi usada na frase do texto?
      A palavra foi usada no sentido de qualidade que causa admiração, maravilha.
02 – Leia:
      “--- Nunca vi coisa igual. O patrão caprichou de verdade. Vai botar no campo um espantalho com roupa de gente ir à festa na cidade.
      E era mesmo. Tudo roupa velha, claro, como convém a um espantalho que se preza. Mas da melhor qualidade, roupa de se ir à igreja em dia de procissão e reza.
     a) De quem é a fala que aparece introduzida por travessão?
      Da personagem Dito Ferreira.

     b) De quem é o restante do comentário a respeito da roupa do espantalho?
      De quem conta a história. Educador: pode aparecer como resposta o / a autor / a. Vamos estudar o narrador na narrativa mais adiante, ainda nesta unidade. Se o aluno já souber, a resposta pode ser “do narrador”.

     c) Pela fala e pelo comentário, podemos perceber algumas características da personagem e dos costumes do lugar onde a história se passa. Que características são essas?
      A personagem parece ser alguém do campo habituado a formas de vestir de pessoas que moram na cidade. A história se passa num lugar em que as pessoas cuidam mais especialmente do seu modo de vestir apenas nos dias de festa ou de eventos religiosos.

03 – Segundo Dito Ferreira, por que o espantalho era tão deferente?
      Porque era um espantalho vestido com roupa da gente ir à festa na cidade: chapéu de veludo, camisa bordada, gravata de seda. Além disso, sua palha era cheirosa e macia.

04 – E, para você, por que o espantalho era diferente?
      Espera-se como resposta que, além da roupa, o que tornava o espantalho diferente era o fato de sentir solidão, ter sentimentos.

05 – Releia o parágrafo para responder à pergunta a seguir.
      “Como todo espantalho, esse não andava nem falava, mas tinha o dom de poder sentir as coisas ao seu jeito --- para um boneco de palha, isso era um grande defeito”.
      Por que o dom de poder sentir era um grande defeito
      Porque, por ser um espantalho, sua tarefa era afugentar os passarinhos, em vez de acolhê-los como amigos e, assim, acabar com a solidão. Por isso, ter sentimentos, era um defeito.

06 – Releia:
      “Do que sobrou por aí, foi tudo virando ninho, protegendo com carinho filhotes que iam nascer”.
      Explique como o espantalho se transformou em ninhos para filhotes de passarinhos.
      Educador: A resposta exige a atenção do leitor para o processo de transformação --- do veludo em trapos, da seda em farrapos, do coração bordado em fiapos. Com os fiapos, os passarinhos fizeram seus ninhos.

07 – Leia o título Fiapo de trapo em voz alta e responda:
     a) Qual é o recurso que a autora utilizou para que ele tivesse um efeito sonoro?
      A rima.

     b) O que significa “fiapo de trapo”?
      “Fiapo de trapo” é um fio curto, ou um pequeno fio, de um pedaço de pano velho, gasto.

     c) Releia o início da história:
“Espantalho tão bonito e elegante nunca se tinha visto por aquelas redondezas”.
Relacione esse início com título Fiapo de trapo. Qual terá sido a intenção da autora ao dar esse título ao texto?
      Espera-se que os alunos percebam que o título é um indício, uma antecipação do final da história: o “espantalho tão bonito” do início da história, depois da tempestade que o destruiu, sobrevive num fiapinho que sobrou do tecido de seu coração

CONTO: PAPO DE IRMÃO - RICARDO RAMOS - COM GABARITO

CONTO: PAPO DE IRMÃO
                Ricardo Ramos


       O que é melhor: ser filho único ou ter irmãos? Ter tudo para si, brinquedos e atenção dos pais, avós e tios, ou dividir tudo com irmãos mais velhos e mais novos? É possível partilhar espaço e segredos, brinquedos e brincadeiras? É possível ser amigo de todas as horas, promover a união? Ou irmão/irmã é sinônimo de problema?
          
                              O REI DOS CACOS
         Quando saio por aí, com meu irmão, brincamos de tudo: subimos em todas as árvores, principalmente nas mangueiras, corremos atrás de todos os bichos, principalmente das galinhas, e apanhamos todas as frutas, principalmente as verdes. Mas existe uma brincadeira que é diferente de todas as outras, e é a melhor delas: andar dentro do córrego, pra baixo e pra cima. Minha mãe não gosta muito, nem minha avó, mas a gente anda assim mesmo. Meu pai nem vê, porque fica trabalhando o dia inteiro, tratando das vacas, correndo de jipe, tirando leite, passeando a cavalo, cuidando dos porcos. Ele só para depois do almoço, pra ler uns jornais ou um livro.
         Enquanto isso, nós dois, eu e meu irmão, no córrego, andamos pra baixo e pra cima. Mas nós não brincamos disso só por causa da água. É que lá no fundo, brilhando, sempre tem uns pedaços de vidro. Minha mãe diz, e minha avó concorda com ela, que o nome certo é louça, e louça antiga, mas nós já estamos acostumados, meu irmão e eu, a dizer que são cacos de vidro. Eles são grandes, pequenos, quebrados, redondos, compridos, grossos, finos, de todo jeito. Às vezes são coloridos, às vezes são brancos. Quando são brancos nós jogamos fora. Que graça tem guardar um caco de vidro branco? Os mais bonitos são os que tem umas florzinhas ou umas listinhas. Minha mãe diz, e minha avó concorda com ela, que são pedaços de aparelhos de jantar, tudo louça antiga, dos antigos donos da fazenda, tudo do tempo dos escravos. Quando ela fala isso, eu fico pensando nos escravos deitados uns por cima dos outros, naqueles porões imensos que existem debaixo da casa. Toda vez que tenho que passar lá dentro, eu e meu irmão, eu me agarro nele, com medo de ver algum escravo me espiando, escondido por ali. Mas não falo nada, senão meu irmão vai dizer que menina é assim mesmo, tem medo de tudo, até das coisas que não existem.
         No córrego, procurando os cacos de vidro, não tenho medo de nada. Nem de fazer as apostas que fazemos todos os dias: quem é que vai achar o mais bonito, o mais colorido, o maior, o mais antigo. Meu irmão, que é maior do que eu, sempre diz que achou o mais bonito, o mais colorido, o mais antigo. Para saber quem achou o maior, medimos os cacos. E às vezes eu acho.
         No fim do dia, quando chega a hora de ir para dentro de casa, passamos, antes, numa casinha onde moram todos os cacos. Meu pai disse que lá, antigamente, era um tanque onde se fabricava polvilho, depois de colhida a mandioca. Esse tanque é grande, de cimento, e todo coberto de tábuas. Meu pai fez isso para nós, eu e meu irmão, senão os bichos entrariam lá dentro. Então todas as tardes, antes de irmos para casa, nós afastamos as tábuas, entramos dentro do tanque, e guardamos, em mesinhas feitas com pedacinhos de outras tábuas e tijolos, os cacos do dia. Quase todos estão lá. Falta um só, pequeno, branco, com listas cor-de-rosa que meu irmão insiste em dizer que são de outra cor. Esse ele guarda separado, dentro de uma caixinha pequena, que é guardada dentro de uma caixinha grande, junto com outras coisas só dele: pedrinhas, penas de passarinho, apitos, felipes de café, que são dois grãos de café juntos, pedacinhos de cuia com goma esticada que chamamos de viola, e caixas e mais caixas de fósforos. Meu irmão diz que foi ele quem achou o caco de vidro que é guardado separado. Mas é mentira dele, fui eu, e guardei na casinha do tanque, junto com os outros. Mas meu irmão é maior do que eu, foi lá e tirou. E guardou junto com as coisas só dele. E pôs nome dele: O rei dos cacos.
         O rei dos cacos não pode ser visto a qualquer hora. Só em dias muito especiais, quando meu irmão resolve arrumar a caixinha grande cheia de coisas. Ele tira todas, uma por uma, posso ver tudo desde que não ponha a mão em nada, guarda de novo, fecha, pronto, acabou. Durmo pensando no rei dos cacos, e ele também.
         No outro dia, vamos de novo, bem cedo, andar no córrego. De vez em quando pulamos de alegria dentro d`água quando achamos um caco igual a outros que já temos. Vamos correndo ver se encaixa no pedaço que está guardado dentro do tanque. O meu maior sonho na vida é achar a outra metade do rei dos cacos. E acho que é, também, o maior sonho do meu irmão.

                   In: Ricardo Ramos e outros. Irmão mais velho, irmão mais novo.
                                                                        São Paulo: Atual, 1992, p. 74-7.

 Entendendo o texto:
01 – Esse texto narra o dia-a-dia de dois irmãos que vivem em uma fazenda.
     a) Quem faz a narração?
     A irmã mais nova.

     b) Como é a fazenda?
     Uma fazenda antiga.

02 – Os pais contam para os filhos como era a fazenda antigamente.
     a) Desde quando a fazenda existe?
     Desde a época da escravidão.

     b) O que a fazenda conserva desse tempo?
     O tanque onde era fabricado o polvilho.

03 – Os irmãos moram com a mãe, o pai e a avó.
     a) Com quem eles convivem mais? Justifique sua resposta.
     Com a mãe e a avó. Porque elas estão ali dentro da casa.

     b) Na sua opinião, por que a mãe e a avó não gostam muito que as crianças andem no córrego?
     Resposta pessoal.

     c) De acordo com o texto, o pai está sempre ausente? Justifique sua resposta com elementos do texto.
      “Meu pai nem vê, porque fica trabalhando o dia inteiro, tratando das vacas, correndo de jipe, tirando leite, passeando a cavalo, cuidando dos porcos.”

04 – A narradora fala do relacionamento dela com o irmão.
     a) Como é o relacionamento entre eles?
      São amigos, porque brincam juntos.

     b) O que ela busca no irmão ao se agarrar nele quando passa pelo porão da casa?
      Segurança.

     c) Por que, na sua opinião, a menina, embora tenha achado o rei dos cacos, permite que o irmão fique com ele?
      Resposta pessoal.

05 – O rei dos cacos não fica com os outros, guardado na casinha, mas numa caixa, junto com outras coisas do irmão.
     a) Por que, na sua opinião, o garoto guarda o rei dos cacos dentro de duas caixas?
      Resposta pessoal.

     b) As coisas guardadas nessa caixa têm algum valor material?
      Não.

     c) Apesar disso, por que, na sua opinião, a irmã não pode tocar em nada, quando ele mostra a ela o conteúdo da caixa?
      Resposta pessoal.

06 – O maior sonho na vida da menina é achar a outra metade do rei dos cacos. Na sua opinião, por que ela acha que esse é também o maior sonho do irmão?
      Resposta pessoal.

07 – Quais dos termos que seguem indicam características da relação entre os irmãos?
       - respeito           - falsidade            - cumplicidade        - orgulho
       - companheirismo     - afeto        - inveja           - camaradagem.