sexta-feira, 19 de setembro de 2025

MINICONTO: AS MARAVILHAS DE CADA MUNDO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Miniconto: As Maravilhas de cada mundo

                Clarice Lispector

        Tenho uma amiga chamada Azaléia, que simplesmente gosta de viver. Viver sem adjetivos. É muito doente de corpo, mas seus risos são claros e constantes. Sua vida é difícil, mas é sua.

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        Um dia desses me disse que cada pessoa tinha em seu mundo sete maravilhas. Quais? Dependia da pessoa.

        Ela então resolveu classificar as sete maravilhas de seu mundo.

        Primeira: ter nascido. Ter nascido é um dom, existir, digo eu, é um milagre.

        Segunda: seus cinco sentidos que incluem em forte dose o sexto. Com eles ela toca e sente e ouve e se comunica e tem prazer e experimenta a dor.

        Terceira: sua capacidade de amar. Através dessa capacidade, menos comum do que se pensa, ela está sempre repleta de amor por alguns e por muitos, o que lhe alarga o peito.

        Quarta: sua intuição. A intuição alcança-lhe o que o raciocínio não toca e que os sentidos não percebem.

        Quinta: sua inteligência. Considera-se uma privilegiada por entender. Seu raciocínio é agudo e eficaz.

        Sexta: a harmonia. Conseguiu-a através de seus esforços, e realmente ela é toda harmoniosa, em relação ao mundo em geral, e a seu próprio mundo.

        Sétima: a morte. Ela crê, teosoficamente, que depois da morte a alma se encarna em outro corpo, e tudo começa de novo, com a alegria das sete maravilhas renovadas.

Clarice Lispector. A Descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 65.

Entendendo o miniconto:

01 – Quem é Azaléia e qual a sua característica principal, apesar de suas dificuldades?

      Azaléia é uma amiga da narradora que "simplesmente gosta de viver". Apesar de ser muito doente de corpo e ter uma vida difícil, ela é caracterizada por seus "risos claros e constantes".

02 – Qual a ideia central que Azaléia compartilha com a narradora sobre as "maravilhas"?

      Ela diz que cada pessoa tem sete maravilhas em seu próprio mundo, e que essas maravilhas são particulares de cada indivíduo.

03 – De acordo com Azaléia, qual é a primeira maravilha e por que ela a considera assim?

      A primeira maravilha é o fato de ter nascido. Para ela, ter nascido é um dom, e a narradora complementa, dizendo que "existir... é um milagre".

04 – Como Azaléia descreve a "capacidade de amar" e a "intuição" em sua lista?

      Ela considera a capacidade de amar uma maravilha por ser menos comum do que se pensa, e por meio dela, seu peito se "alarga" com amor por muitas pessoas. Já a intuição é uma maravilha porque alcança o que o raciocínio e os sentidos não conseguem perceber.

05 – Qual é a sétima maravilha de Azaléia e por que ela a inclui na lista?

      A sétima maravilha é a morte. Azaléia a inclui porque, por meio de sua crença teosófica, ela acredita que após a morte a alma se reencarna, e a vida e suas sete maravilhas recomeçam com alegria.

 

CRÔNICA: JAGUATIRICAS A BORDO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: JAGUATIRICAS A BORDO

              Fernando Sabino

        De repente, em pleno voo a caminho de Lisboa, passa por mim um comissário de bordo carregando uma jaguatirica.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-AnuPJMJHKQxe8XsHMbc49ggGQLC21Gsr7lXjwWf3pzNz9DEmyu7ysjwlK17laMPFVGQiv9ujmwU2L2MoEmQEAjk4_1_QTN9peN63Z9ziH8v_KhHBeOdoEq1ZLCVC2cjM48HpyrjdZbEaSBWGJTnE71V-w2O3Z4JT8jz7Ri0-lzJDuJgTGWs_y1vo1mw/s320/JAGUA.jpg


        Os demais passageiros dormem na penumbra do avião, eu também cochilava ainda há pouco. Estarei sonhando? Nada disso, já vem o homem de volta com o bicho no colo.

        -- Que bicho é esse? – pergunto.            

        -- Uma jaguatirica – responde ele simplesmente, erguendo o felino nos braços para que eu o veja de perto: – filhote ainda. Parece um gato, não parece?

        -- Tira isso pra lá! – reajo, encolhendo-me na poltrona. – Parece uma jaguatirica.

        -- Pois é uma jaguatirica.       

        -- Você me disse.

        Penso comigo: nada mais perecido com uma jaguatirica do que uma jaguatirica. A longa viagem dentro da noite, os passageiros dormindo, tudo conspira para me deixar vagamente idiota, os passageiros flutuando no ar.

        -- E posso saber o que está fazendo essa sua jaguatirica aqui no avião? – pergunto, cauteloso.

        -- Não é minha não – explica ele: – É de um passageiro. Trouxe do Pará, vai levar para morar com ele em Lisboa. A minha deixei no Rio, lá no meu apartamento, um amigo da comida pra ela enquanto viajo.
        -- A sua o quê?

        -- A minha jaguatirica.

        -- Ah! Quer dizer que você também tem uma.

        -- Tenho. Por que? O senhor não gosta de jaguatiricas?

        -- Gosto, gosto... Eu não sabia é que estava na moda ter jaguatiricas. Confesso que no momento não tenho nenhuma.

        -- Quem é que não gosta? – torna ele, entusiasmado, procurando conter a fera, que se mexe ameaçadoramente nos seus braços. – Um amigo meu lá em Teresópolis tem um leãozinho, mas leão dá muito trabalho, o senhor não acha?

        -- Sem dúvida – concordo, sacudindo a cabeça: – Cortar as unhas, pentear a juba, essa coisa toda...

        -- Jaguatirica não: mandei fazer umas luvas, embaixo é peludinho, em cima é de náilon. Para não arranhar o sinteco, sabe? Eu mesmo dou banho nela, é divertido, acredite.

        -- Eu acredito – torno a concordar, sem grande entusiasmo.

        -- Não tem perigo nenhum – insiste ele: – De morder, que eu digo. Só morde quando está com raiva. Pode é arranhar sem querer. Mas não aparo as unhas dela, acho uma pena.

        -- Realmente, seria uma pena.

        Ele continua a dissertar animadamente sobre o assunto:

        -- Esse cara, por exemplo, vai se dar mau com a jaguatirica dele. Porque, como o senhor sabe, jaguatirica não pode viver só com o dono. Chega uma hora lá, tem de casar, não é isso mesmo?

        -- Isso mesmo: não vai ser fácil arranjar em Lisboa um jaguatirica.

        -- É o que eu estou dizendo: como é que ele vai casar a bichinha? Já tive uma que era solteira, foi ficando maluca, acabei tendo de matar a tiro, uma pena.

        Como ele não diz mais nada, olhando embevecido a jaguatirica, me arrisco a perguntar:

        -- Isso aí não é uma espécie de onça não?

        -- Não é não: é uma espécie de jaguatirica mesmo.

        E ele acrescenta, procurando me tranquilizar:

        -- Pode ter certeza de uma coisa: bicho nenhum come gente a não ser que esteja com muita fome. Com fome até o homem é capaz de tudo, inclusive de comer gente. Ouça o que estou lhe dizendo. Ouço o que ele está me dizendo, nos confraternizamos à base do nosso amor às jaguatiricas, e volto a cochilar.

O gato sou eu. Rio de Janeiro, Record, 1984.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 80.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a situação inicial que causa a surpresa do narrador?

      O narrador, em pleno voo noturno para Lisboa, é surpreendido ao ver um comissário de bordo passando com uma jaguatirica no colo.

02 – Como o comissário descreve a jaguatirica para o narrador?

      O comissário diz que é um filhote e o ergue para que o narrador veja de perto, comparando-o a um gato. No entanto, o narrador reage com medo, afirmando que o animal "parece uma jaguatirica".

03 – A jaguatirica que está no avião pertence a quem e para onde está indo?

      O comissário explica que o animal pertence a um passageiro que o trouxe do Pará e o está levando para morar com ele em Lisboa.

04 – O que o narrador descobre sobre a relação do comissário com as jaguatiricas?

      O narrador descobre que o comissário também tem uma jaguatirica em seu apartamento no Rio de Janeiro. Isso o surpreende, e ele confessa que não sabia que "estava na moda ter jaguatiricas".

05 – Quais são os cuidados que o comissário tem com sua jaguatirica, de acordo com o texto?

      O comissário explica que fez luvas especiais para a jaguatirica, com pelinho por baixo e náilon por cima, para não arranhar o sinteco. Ele também diz que ele mesmo dá banho no animal e não apara suas unhas.

06 – Qual o problema que o comissário aponta para o passageiro que leva a jaguatirica para Lisboa?

      O comissário aponta que o passageiro terá dificuldades em Lisboa, pois "jaguatirica não pode viver só com o dono". O animal precisa casar, e o comissário questiona como o passageiro vai arranjar um par para a jaguatirica na nova cidade. Ele ainda relata um caso anterior em que teve que matar uma jaguatirica que ficou "maluca" por ser solteira.

07 – Qual a última afirmação que o comissário faz para o narrador?

      A última afirmação do comissário é que "bicho nenhum come gente a não ser que esteja com muita fome". Ele compara o comportamento do animal ao do ser humano, dizendo que "com fome até o homem é capaz de tudo, inclusive de comer gente".

 

POESIA: AS LUAS - MARIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poesia: As LUAS

 

Andou fazendo nevoeiro. De noite...

que lindo! Parece que estiveram passando borracha na paisagem.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkzxruxhEA62E7B7KIsItOvP5hUc0g_TK3OE9llSGM_Y64P7HhjIgBxVoUyqViyBgMUEg-0og3Oc-sXPduawCTrUKM52icGXPglxcLz1mbOUL0KOBDmPk8fmTqjl5eXKS8TLDjrksZCRPz6c9N0FrhFTJ2e49MCk1C323iqLNa1uw7ICNtqPU1ZYF50eY/s320/NEVOEIRO.jpg


Apenas sobravam os lampiões. Minto! Só os focos dos lampiões

sobravam, luas soltas no ar. De modo que ontem pela madrugada

eu ia andando por uma noite cheia de luas. Tu nem imaginas o

que é uma noite com uma porção de luas... A gente...

-- Já sei! Fizeste um poema...

-- Não. Caí num buraco.

Mario Quintana. Porta Giratória. São Paulo, Globo, 1988.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 69.

Entendendo a poesia:

01 – Como a poesia descreve o efeito da neblina na paisagem?

      A poesia descreve a neblina como se alguém tivesse "passando borracha na paisagem", apagando os contornos e deixando apenas os pontos de luz visíveis.

02 – O que o eu lírico compara aos pontos de luz que sobraram na noite com neblina?

      O eu lírico compara os focos dos lampiões, que eram os únicos pontos de luz visíveis, a "luas soltas no ar".

03 – Qual foi a sensação do eu lírico ao andar por essa noite?

      O eu lírico se sentiu como se estivesse caminhando por "uma noite cheia de luas". A experiência é tão extraordinária que ele diz que a pessoa com quem fala "nem imagina" o que é isso.

04 – No final do poema, qual é a suposição da outra pessoa sobre a experiência do eu lírico?

      A outra pessoa, após ouvir a descrição poética da noite, supõe que o eu lírico "fez um poema".

05 – Qual é a resposta final e surpreendente do eu lírico, que quebra a expectativa do leitor?

      A resposta final do eu lírico é "Não. Caí num buraco." Essa resposta inesperada e cômica quebra a atmosfera poética criada e traz um contraste com a beleza da cena descrita.

 

 

POEMA: O POETA E A POESIA - FRAGMENTO - CORA CORALINA - COM GABARITO

 Poema: O poeta e a poesia – Fragmento

            Cora Coralina

Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8Mug8j3HxA0sYEBfczhM5J5i03vY9TylJuhGSUpSCy5wDUS1cMvVPbv2PNdpyYK9pqG1pqXssAbI7FFxj03U0lu_jV939r3NQc9lHRSL7E92ZOLUbs7ngN10UjJfLcS9G6T7tT3mjK5nVoAeaoKFOcWEyTJwVkcsSiksks7tb0mKhEOqrFzKYfZbHOMo/s320/POETA.jpg


Poeta é a sensibilidade acima do vulgar.
Poeta é o operário, o artífice da palavra.
E com ela compõe a ourivesaria de um verso.

Poeta, não somente o que escreve.
É aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado
de uma rima, à autenticidade de um verso.

Poeta é ser ambicioso, insatisfeito,
procurando no jogo das palavras,
no imprevisto texto, atingir a perfeição inalcançável.

O autêntico sabe que jamais
chegará ao prêmio Nobel.
O medíocre se acredita sempre perto dele.

Alguns vêm a mim.
Querem a palavra, o incentivo, à apreciação.
Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro…

Tão pobre ainda a sua bagagem cultural,
tão restrito seu vocabulário,
enxugando lágrimas que não chorou,
dores que não sentiu,
sofrimentos imaginários que não experimentou.

Falam exaltados de fome e saudades, tão desgastadas
de tantos já passados.
Primário nos rudimentos de sua escrita
e aquela pressa moça de subir.
Alcançar estatura de poeta, publicar um livro,

Oriento para a leitura, reescrever,
processar seus dados concretos.
Não fechar o caminho, não negar possibilidades.
É a linguagem deles, seus sonhos.
A escola não os ajudou, inculpados, eles.

[...]

Vintém de cobre – Meias confissões de Aninha. Editora da Universidade Federal de Goiás, 1983.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 105.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com a autora, qual é a verdadeira relação entre o poeta e a poesia?

      Para Cora Coralina, não é o poeta que cria a poesia. É a poesia que "condiciona o poeta", sugerindo que a poesia é uma força maior que molda e define quem o poeta é.

02 – Como a autora define um poeta em relação à sua sensibilidade e ao seu ofício?

      Ela o define como uma "sensibilidade acima do vulgar" e o compara a um "operário, o artífice da palavra". O poeta usa a palavra para criar a "ourivesaria de um verso".

03 – Segundo o texto, quem é o verdadeiro poeta?

      O verdadeiro poeta não é apenas aquele que escreve. É também aquele que sente a poesia, que se emociona com a rima e a autenticidade de um verso.

04 – Qual a diferença que a autora aponta entre o poeta autêntico e o medíocre?

      O poeta autêntico é ambicioso e insatisfeito, buscando uma perfeição inalcançável e sabendo que jamais alcançará um prêmio Nobel. Já o medíocre "se acredita sempre perto dele", mostrando uma falta de autocrítica.

05 – O que a autora observa nos jovens poetas que a procuram?

      Ela nota que muitos jovens têm uma "sede precoce de lançar um livro" e uma "pressa moça de subir". No entanto, a autora percebe que eles têm uma "pobre... bagagem cultural" e um vocabulário restrito, escrevendo sobre sentimentos e dores que não vivenciaram de fato.

06 – Que tipo de sentimentos esses jovens poetas costumam abordar em suas obras?

      Eles escrevem sobre temas como "fome e saudades", que a autora considera "desgastadas" de tanto serem exploradas por poetas de outras épocas.

07 – Qual é o conselho que a autora dá aos jovens escritores?

      A autora os orienta a ler mais, reescrever seus textos e a processar seus "dados concretos", ou seja, a escrever sobre suas próprias experiências. Ela também ressalta a importância de não negar as possibilidades de cada um, mesmo que a "escola não os ajudou".

 

 

CRÔNICA: TERESA - FRAGMENTO - ÁLVARO CARDOSO GOMES - COM GABARITO

 Crônica: Teresa – Fragmento

              Álvaro Cardoso Gomes

        A Teresa voltou da praia, e estive a pique de lhe dizer que queria acabar nosso namoro. Mas ela estava tão contente, contando as novidades, que terminei ficando com dó e adiei a decisão. Sem contar que o sol lhe tinha feito muito bem. Os olhos da Teresa pareciam mais bonitos com a pele bronzeada.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpWg4f87xdm780z98beQwIQiMzAThV0flRN3um5qOscg8VSV0JAw6z7juykphmKoAcKPpI11JoWsAlXfj87x-F04P8ZApJkIjRNEGyOeEtKZ7anP5_13Z4bm9PYMhepSnVHT_2OUv84guVrxxVbZD8FnIrpTJXPgSx_4B3eOl6MJnaIKNN6NZm30vnD8c/s320/PRAIA.jpg


        A Teresa não parava de falar, e eu só escutando, com vontade de estar longe dali. Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê.

        -- Estou triste por sua causa.

        -- Por minha causa? Por quê?

        Hesitei um pouco. Dizia ou não dizia que não gostava mais dela?

        -- Estava com saudades.

        Na hora em que disse aquilo, me senti o pior sujeito do mundo. Mas o que podia fazer, se já tinha falado?

        -- Mas eu estou aqui, Sérgio.

        -- Pois é, você voltou.

        -- O que você está querendo dizer com isto?

        -- Nada, Teresa, nada...

        -- Serginhooô...

        O difícil era que a Teresa não entendia nada do que lhe dizia. Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer “Serginhooô”, que me deixava com mais raiva. Mas ela logo esqueceu do que estávamos falando e começou a contar do biquíni que havia comprado, das praias de Santos, do novo carro do pai etc. E eu com a cabeça em outro lugar, só pensando na Cybelle e nas coisas que ela tinha me dito. “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, falei baixinho.

        -- O que foi que você disse? – Teresa me perguntou.

        -- Nada não...

        Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa. Seria mais um motivo para uma briga. E dessa vez eu terminaria com aquele namoro que já me chateava. Mas a Teresa não disse nada e continuou a falar de Santos, dos passeios na praia. E eu ali a seu lado com a cabeça nas nuvens, que tomavam a forma da Cybelle, do corpo da Cybelle, do sorriso da Cybelle. “Tão bela...”

        -- Serginho, você ficou maluco?

        -- Maluco por quê?

        -- Você não para de falar sozinho.

        Olhei bem para a Teresa, para aqueles olhos verdes, e dei-lhe um beijo.

        -- Tem razão, Teresa, estou completamente maluco.

        Amor & cuba-libre. São Paulo, FTD, 1980.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 82.

Entendendo a crônica:

01 – Qual era a intenção inicial de Sérgio, o narrador, no início do texto?

      A intenção inicial de Sérgio era terminar o namoro com Teresa.

02 – Por que Sérgio adia sua decisão de terminar com Teresa?

      Ele adia a decisão porque ela estava muito feliz, contando as novidades da praia. Ele sentiu dó e achou que o sol a tinha deixado ainda mais bonita, com a pele bronzeada e os olhos mais bonitos.

03 – Quando Teresa percebe a tristeza de Sérgio, o que ele responde de forma evasiva?

      Quando Teresa pergunta por que ele está triste, Sérgio hesita em dizer a verdade e, em vez disso, responde que estava com saudades dela.

04 – Quem é Cybelle e qual o papel dela na história?

      Cybelle é a pessoa em quem Sérgio está pensando o tempo todo. Ele tem uma conversa mental com ela, dizendo que não a merece, e a imagina como se estivesse nas nuvens, mostrando que está apaixonado por ela e por isso quer terminar o namoro com Teresa.

05 – O que Teresa estava fazendo enquanto Sérgio estava com a cabeça em outro lugar?

      Teresa estava falando sem parar sobre sua viagem à praia, contando sobre o biquíni que comprou, as praias de Santos e o carro novo do pai dela.

06 – O que Sérgio fala baixinho que surpreende Teresa?

      Sérgio fala baixinho: "Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você". Ele estava falando consigo mesmo, pensando em Cybelle, mas Teresa ouve a fala.

07 – No final da crônica, o que acontece entre Sérgio e Teresa?

      Teresa percebe que ele está "maluco" por falar sozinho. Sérgio a olha, dá um beijo nela e concorda que está "completamente maluco". O texto termina sem que ele de fato termine o namoro, deixando a decisão em aberto.

 

PIADA: PÃO DE ONTEM - COM GABARITO

 Piada: Pão de Ontem

        Uma cliente furiosa foi à padaria onde eu trabalhava, para se queixar da dureza do pão que tinha comprado na véspera.

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        -- Senhora – disse meu patrão, indignado –, faço pão há quinze anos!

        -- Ah, é? – retorquiu ela prontamente. – Pois não devia ter esperado tanto tempo para vender.

Seleções – Reader’s digest, nº 235. Lisboa, Lis Gráfica, abril, 1991.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 84.

Entendendo a piada:

01 – Qual é o motivo da reclamação da cliente?

      A cliente está furiosa e reclama que o pão que ela comprou no dia anterior estava duro.

02 – Como o patrão da padaria reage à queixa da cliente?

      Ele responde de forma indignada, afirmando: "Senhora... faço pão há quinze anos!". A fala sugere que ele se orgulha de sua experiência e considera a reclamação injusta.

03 – Qual é o trocadilho ou a "sacada" da resposta da cliente?

      A cliente faz um trocadilho com a palavra "fazer" (no sentido de produzir) e o tempo que o padeiro leva. Ela interpreta a fala do padeiro de forma literal e irônica, como se ele tivesse "feito" o pão há quinze anos e só agora o tivesse vendido, por isso ele estaria duro.

04 – Quem é o narrador da piada?

      O narrador é um funcionário da padaria que presenciou a cena. Isso é indicado pela frase "Uma cliente furiosa foi à padaria onde eu trabalhava...".

05 – Qual a principal característica do humor nesta piada?

      O humor da piada surge da quebra de expectativa e do mal-entendido intencional. A cliente ignora a intenção do padeiro (que se refere à sua longa experiência) e usa o que ele disse para fazer uma observação espirituosa e surpreendente, transformando a reclamação em uma crítica engraçada.

 

PIADA: O GOLEIRO FIEL - COM GABARITO

 Piada: O Goleiro Fiel

        O time estava se preparando para disputar a final do campeonato brasileiro de futebol. Um jogo duríssimo que em todos os treinos sempre faltava um ou outro jogador. No último treino, às vésperas do jogo final, o treinador, bastante irritado, disse a todos:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyPBsVEnB7Ii8_79CjYDWp6mYO84G4BjjKyB3E3pWo1WZZx7JgdD91bx09RPlufGNmjlSTI_CHvylYmoq3z1S6sCEovlPJ1Mi-OR8Y4x5YixsQJXPv1RzrMz04dJnX-D0yZ3tIL45sClcaMaq12YD4tJBBLQL96GMLxKNBuNyzIKAvWSVLo2UUgQ23-kI/s320/GOLEIRO.jpg


        -- Gostaria de agradecer ao goleiro, que foi o único presente a todos os treinos.

        O garotão ficou todo feliz com o elogio e aproveitou pra avisar:

        -- Fiz questão de comparecer a todos os treinos porque não vou poder vir ao jogo, amanhã.

As melhores piadas e anedotas da praça. São Paulo, Green, s/d.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 85.

Entendendo a piada:

01 – Qual era a ocasião que a piada descreve?

      A piada se passa no último treino de um time de futebol, às vésperas da final do campeonato brasileiro.

02 – Qual era a principal preocupação do treinador com o time?

      O treinador estava irritado porque, em todos os treinos, sempre faltava um ou outro jogador.

03 – Qual foi a atitude do treinador para motivar o time?

      Ele decidiu elogiar publicamente o goleiro, que foi o único jogador a comparecer a todos os treinos, como um exemplo para o resto da equipe.

04 – Como o goleiro reagiu ao elogio do treinador?

      O goleiro ficou muito feliz com o reconhecimento.

05 – Qual é a reviravolta ou o ponto cômico da piada?

      O ponto cômico é a resposta inesperada do goleiro. Após ser elogiado por sua dedicação nos treinos, ele aproveita o momento para avisar que, apesar de toda a sua presença nos treinos, não poderá ir ao jogo final.

 

DIÁLOGO: NAMORADO CAPAZ DE TUDO - GENOLINO AMADO - COM GABARITO

 Diálogo: Namorado capaz de tudo

        -- Oh! Como és romântico!

        -- Não é romantismo. É apenas sinceridade, devotamento do meu coração. Queres que eu desafie o mundo inteiro, por tua causa? Desafiarei!...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvPWz-Pq0xfdt6sOZXB0jDI8Y-usFlDRel7XnkLT-Tu1RjEDqB0jqs1HhXmnn7-340gyGQZJj0R_Cd_1xwMPZdbQyYj9u-Wwmt-2vHPXwW6qO8D12xU5Qv4JRf3756lAnZjY_mi61uJJoaeuDxb4Ql1SjantQI7HKTRr69rEnI13GXpo031jgUKtk_T90/s320/NAMORO.jpg


        -- E por que então não vieste me ver ontem de noite?

        -- Ah! Choveu...

        -- Ah! Choveu... Foi só por isso?...

        -- E acha pouco? Não estava disposto a apanhar um resfriado...

        -- Ah! É assim? Tu te ofereceste para apanhar uma estrela no céu, uma pérola no fundo do mar, mas não podes apanhar um resfriado... E ainda dizes que o teu amor é ardente... Não, mentiroso! O que tens é muito sangue-frio...

Genolino Amado. Namorado capaz de tudo. Revista da Rádio Nacional, nº 1. Rio de Janeiro, agosto, 1950.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 86.

Entendendo o diálogo:

01 – No início do diálogo, o que o namorado declara para sua parceira?

      Ele declara ser sincero e devotado, e que está disposto a "desafiar o mundo inteiro" por ela.

02 – Qual pergunta a namorada faz para testar a sinceridade dele?

      Ela pergunta: "E por que então não vieste me ver ontem de noite?".

03 – Qual a desculpa que o namorado usa para justificar sua ausência?

      Ele responde que não foi vê-la porque "choveu".

04 – A namorada acredita na justificativa dele? O que ela sugere com suas perguntas?

      Não, ela não acredita na justificativa. Com a frase "Foi só por isso?", ela insinua que a desculpa é trivial.

05 – Qual é a contradição que a namorada aponta no discurso do namorado?

      Ela aponta que ele diz ser capaz de fazer grandes feitos, como "apanhar uma estrela no céu" ou "uma pérola no fundo do mar", mas não foi capaz de enfrentar uma simples chuva para vê-la. Ela conclui que seu amor não é "ardente", e sim "sangue-frio".

 

 

POESIA: O PASSO NA ESCADA - MARIA EUGÊNIA CELSO - COM GABARITO

 Poesia: O passo na escada

            Maria Eugênia Celso

        Depois... muito depois... o ruído de um passo. Um passo forte, límpido, vivo, familiar.

        Um passo que vem vindo e que sobe depressa os degraus de uma escada. Um passo que ouço extasiada e espero numa ânsia sem palavras, reconhecendo entre todos os outros o seu pisar, ágil e diferente; que a tudo, como a mim, enche de segurança.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzY3CjgJogMZsMWrssaLYErGwgYc9ChJ-T6Le3weDRNKTu07daauUI-r4AMXpQxjKvyWTlZQom5KsP2RKcAfegV7L6e02hShL2NCaF3nJdcah2GmAM5fRvPehXP0cxLsEk-D3UWQ5FfqlpQEWdJFSUVQMKmxbp-gfSy0ZIZTMLEVUIrp3WxtvU0Ght2cw/s320/capa-escadas.jpg


        Sei que para chegar não encontra embaraços; pula os degraus de dois em dois, correndo. Sinto-o ao longe, ouço vir, quero-lhe bem. Subindo, escuto-o definir-se, aproximar-se, entrar...

        É um passo que me encontra, me conforta e me atrai. É de súbito, o passo toma corpo, tornam-se dois braços que me arrebatam do chão, faz-se um rosto de homem, sorridente, belo, moço, um rosto de carinho e de alegria que eu não canso de ver e rever todo o dia, um rosto que se inclina sobre a minha pequenez com  adoração. Um rosto que resume todas as minhas ideiazinhas de força e de confiança, o símbolo de toda proteção: PAPAI!

Maria Eugênia Celso, Poesia para a infância. Lisboa, Ulisséia, 1983.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 115.

Entendendo a poesia:

01 – O que o eu lírico ouve no início do poema e como ele descreve esse som?

      O eu lírico ouve o ruído de um passo, que é descrito como "forte, límpido, vivo, familiar".

02 – Qual a sensação que o som do passo causa no eu lírico?

      O eu lírico sente-se extasiado e espera o som com uma "ânsia sem palavras". Ele o reconhece entre todos os outros, e o som "enche [a ele] de segurança".

03 – Como o eu lírico descreve a velocidade e a agilidade do passo?

      Ele descreve o passo como vindo "depressa", subindo a escada, sem encontrar embaraços e pulando "os degraus de dois em dois, correndo".

04 – Em que momento o passo se transforma em uma pessoa, e quais são as características dessa pessoa?

      De repente, o passo "toma corpo" e se transforma em uma pessoa com dois braços que a arrebatam do chão. Essa pessoa tem um rosto "sorridente, belo, moço, um rosto de carinho e de alegria".

05 – Qual é a revelação final do poema e o que essa pessoa representa para o eu lírico?

      A revelação final é que a pessoa que subia a escada é o papai. Ele representa para o eu lírico o símbolo de "força e de confiança" e de "toda proteção".

 

 

MINICONTO: HOJE - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

 Miniconto: Hoje

            Ignácio de Loyola Brandão

        Nas noites de verão, ou todas as noites, depois do jantar, o pai abandona a mesa. Ainda com a xícara de café na mão, ele se dirige à caixa quadrada. A deusa dos raios azulados espera o toque. Para emitir som e luz, imagem e movimento. Todos se ajeitam. O lugar principal é para o pai. Ninguém conversa. Não há o que falar. O pai não traz nada da rua, do dia-a-dia do escritório. Os filhos não perguntam, estão proibidos de interromper. A mulher mergulha na telenovela, no filme. Todos sabem que não virá visita. Se vier alguma, chegará antes da telenovela. Conversas esparsas durante os comerciais. A sensação é que basta estar junto. Nada mais. Silenciosa, a família contempla a caixa azulada. Os olhos excitados, cabeças inflamadas. Recebendo, recebendo. Enquanto o corpo suportar, estarão ali. Depois, tocarão o botão e a deusa descansará. Então, as pessoas vão para as camas, deitam e sonham. Com as coisas vistas. Sempre vistas através da caixa. Nunca sentidas ou vividas. Imunizadas que estão contra a própria vida.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwJxsGwYQZxeL7OOf7xCBBQeAb7I54dyRcZKMNUzn04F_iZBPMmmARNjP2g4_mBjlnvZstKXG3AlS2qdo2x4o9PQb7PYrQBRoJjtyoTAo9Ta-k1WVdK0v_MLPQzXQSwToUHIfgsqgIkUJfslkOO3x64Xb2OmsgoIR-iwtiW1Q1aADK2XHHCSKeqymFZOI/s320/NOITE.jpg


Dentes ao sol. Rio de Janeiro, Codecri, 1980.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 108-109.

Entendendo miniconto:

01 – Qual é a rotina da família descrita no texto, todas as noites, após o jantar?

      Depois do jantar, o pai da família se levanta e liga a "caixa quadrada" (a televisão). Todos se ajeitam e se posicionam para assistir, em silêncio.

02 – Por que a família não conversa durante o ritual de assistir TV?

      Não há o que falar porque o pai não compartilha nada de seu dia no escritório, e os filhos são proibidos de interromper o momento. O silêncio é a regra, exceto por conversas esparsas durante os comerciais.

03 – Como a crônica descreve a interação da família com a "caixa azulada"?

      A família se senta junta, mas não há comunicação. Eles se tornam espectadores passivos, com "olhos excitados, cabeças inflamadas", apenas "recebendo, recebendo" o que a televisão transmite, em uma atitude de total passividade.

04 – O que acontece depois que a família desliga a televisão e vai dormir?

      Depois de desligar a TV, as pessoas vão para a cama e sonham. No entanto, elas sonham "com as coisas vistas" na televisão, e não com as próprias experiências, sentimentos ou vidas.

05 – Qual a crítica principal do autor sobre o estilo de vida da família?

      O autor critica a passividade e a falta de conexão real entre os membros da família. Eles vivem de forma "imunizada... contra a própria vida", preferindo a realidade mediada pela tela em vez de vivenciar e sentir suas próprias experiências. A televisão se torna a única fonte de conteúdo para seus pensamentos e até mesmo seus sonhos.