domingo, 27 de abril de 2025

SONETO: O ASSINALADO - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

 Soneto: O Assinalado

             Cruz e Sousa

Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH3yTSH8rMVBS5muSsXZeBtc8LPVlCjKT1WEiSVAcuieVeGxdZpQe4Hyi-I9l32UTppRGqXg82mZx2G48c1EacW0XFmcdtr-4EDK4sFIiJLMM3_BPlafSC8ye69I55tYsJB6U3B_N45KGKGJOZIF8d-d17KuWUi5xt8aff4Pwc8wUBL6S_MJN-ZkZJVp0/s320/Melancolia-Redon.jpg



Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tua alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco...

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

Poesias completas de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 109.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 354.

Entendendo o soneto:

01 – Quem é o "louco" a quem o poeta se dirige no início do soneto e qual a característica principal dessa loucura?

      O "louco" a quem o poeta se dirige é o próprio poeta, Cruz e Sousa, identificado como um ser tomado por uma loucura imortal e suprema, que transcende a loucura comum.

02 – De acordo com o soneto, qual é a "negra algema" que aprisiona o poeta e qual a consequência dessa prisão?

      A "negra algema" que aprisiona o poeta é a Terra, representando a realidade terrena e as dificuldades da existência. Essa prisão o submete à "extrema Desventura".

03 – Apesar da "algema de amargura" e da "Desventura extrema", que transformação ocorre na alma do poeta?

      Apesar do sofrimento, a alma do poeta suplica e geme, mas essa dor se transforma e "rebente em estrelas de ternura", sugerindo que a sua angústia é a fonte de sua sensibilidade e poesia.

04 – Como o poeta é caracterizado na segunda parte do soneto e qual a sua função no "mundo despovoado"?

      O poeta é caracterizado como o "grande Assinalado", aquele que possui uma marca distintiva. Sua função no "mundo despovoado" é povoá-lo, pouco a pouco, com "belezas eternas" através de sua poesia.

05 – O que justifica os "espasmos imortais de louco" do poeta na "Natureza prodigiosa e rica"?

      A "audácia dos nervos" do poeta, impulsionada pela "Natureza prodigiosa e rica", justifica seus "espasmos imortais de louco". Isso sugere que a intensidade de suas emoções e sua percepção aguçada da beleza natural são a origem de sua genialidade poética, que pode parecer loucura aos olhos comuns.

 

 

NOTÍCIA: POR QUE CERTOS ALIMENTOS SÃO ARDIDOS OU REFRESCANTES? MUNDO RSTRANHO - COM GABARITO

 Notícia: Por que certos alimentos são ardidos ou refrescantes?

        Por mais diferentes que sejam, as sensações provocadas por um prato apimentado e por uma bala de menta têm a mesma origem. Isso porque a mucosa da boca e a língua possuem milhares de nervos sensíveis à dor: os nocirreceptores. 

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFALQV1hW1bS8YEBl6ffcfZdfmLZ2c7OeUHBVYrMl9IYEb9Q2UaHDGLtLHZqQowtE8eVPhJcY_KS5XvvVEAsU638T6Hmkl8XiJOphgoWB7R2r_sk6hypuRvjDoFpHClJ18bci6gd3LNXsAXgWdOe2UGwIdMZyd5XGtN0PFwQY_SuZ4Tyo3WEmaD42Y8sM/s1600/images.jpg


Quando se queima ou se espeta a língua, esses nervos são acionados e enviam para o cérebro a sensação de dor. Nesses dois casos, a origem da dor é física. Acontece que certos alimentos contêm substâncias que também estimulam os nocirreceptores – só que por uma reação química. As mais conhecidas dessas substâncias são justamente a capsaicina, presente nas pimentas, e o mentol, encontrado nas várias espécies de menta e hortelã. “Quando adicionado aos alimentos ou ao cigarro, o mentol entra em contato com os nocirreceptores da boca, promovendo uma sensação de frio que consideramos refrescante. Da mesma forma, a capsaicina da pimenta provoca um ardor apreciado por muitas pessoas”, diz a neurofisiologista Débora Fior Chadi, da Universidade de São Paulo (USP).

        Só não vá exagerar. Um prato muito apimentado pode causar lacrimejamento, salivação excessiva, e muita, muita dor.

Mundo Estranho, nº 7.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 342.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é a origem comum das sensações de ardor e frescor provocadas por certos alimentos, de acordo com a notícia?

      A origem comum é a estimulação dos nocirreceptores, que são nervos sensíveis à dor presentes na mucosa da boca e na língua.

02 – Como as substâncias presentes na pimenta e na menta estimulam esses nervos sensíveis à dor?

      A capsaicina, presente nas pimentas, e o mentol, encontrado na menta e hortelã, estimulam os nocirreceptores através de uma reação química, diferente da dor causada por um estímulo físico como uma queimadura ou um corte.

03 – De que maneira o mentol causa a sensação de frescor na boca?

      Ao entrar em contato com os nocirreceptores da boca, o mentol promove uma sensação de frio que é interpretada como refrescante pelo cérebro.

04 – Qual substância presente na pimenta é responsável pela sensação de ardor?

      A substância responsável pela sensação de ardor na pimenta é a capsaicina.

05 – Quais são os possíveis efeitos de exagerar no consumo de alimentos muito apimentados, segundo a notícia?

      Exagerar no consumo de alimentos muito apimentados pode causar lacrimejamento, salivação excessiva e muita dor.

 

 

POEMA: SPLEEN - LXXVII - CHARLES BAUDELAIRE - COM GABARITO

 Poema: Spleen – LXXVII

             Charles Baudelaire

Quando, pesado e baixo, o céu como tampa
Sobre a alma soluçante, assolada aos açoites,
E que deste horizonte, a cercar toda a campa
Despeja-nos um dia mais triste que as noites;

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEZ056BKwYSI17Mjcqu8-QnVUjoajATusOZUljkIWpM4W20x0BRjxCZiM6kBGvrl6vwyk8G13JwXiQh9IIIGurve3BNwg91RzZ-fRk7QWZPKtWqKPD5fNC9ZvYybKa_kNes3NvVWGANryEl3On1n5kFoxyWL6wB601kmdWF7viw_cAVZ8C4t9uTcY1C-w/s320/7384234-fundo-ceu-azul-e-nuvens-brancas-vetor.jpg



Quando se transformou a Terra em masmorra úmida,
Por onde essa esperança, assim como um morcego
Vai tangendo paredes ante uma asa túmida
Batendo a testa em tetos podres, sem apego;

Quando a chuva estirou os seus longos filames
Como as grades de ferro em uma ampla cadeia,
E um povoado mudo de aranhas infames
Até os nosso cérebros estende as teias,

Súbito, os sinos saltam com ferocidade
E atiram para o céu um gemido fremente,
Tal aquelas errantes almas sem cidades
Que ficam lamentando-se obstinadamente.

-- E féretros sem fim, sem tambor ou pavana,
Lentos desfilam dentro mim; e a Esperança.
Vencida, chora, a Angústia, feroz e tirana,
A negra flâmula em meu curvo crânio lança.

Charles Baudelaire. In: José Lino Grunewald, org. e trad. Poetas franceses do século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. p. 63.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 357.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a imagem central que domina a primeira estrofe do poema e qual a sensação que ela evoca?

      A imagem central é a de um céu "pesado e baixo" como uma tampa, oprimindo a alma do poeta, que é descrita como "soluçante" e "assolada aos açoites". Essa imagem evoca uma sensação de sufocamento, angústia e opressão.

02 – Na segunda estrofe, como a esperança é personificada e qual a sua condição dentro da "masmorra úmida" que se tornou a Terra?

      A esperança é personificada como um morcego que tangencia as paredes da masmorra úmida, batendo a testa em tetos podres, sem encontrar apoio ou apego. Sua condição é de fragilidade, desorientação e inutilidade em meio à escuridão e decadência.

03 – Que imagens são utilizadas na terceira estrofe para intensificar a sensação de aprisionamento e invasão?

      A chuva é comparada a longos filamentos como grades de ferro em uma ampla cadeia, simbolizando o aprisionamento. Um "povoado mudo de aranhas infames" estende suas teias até os cérebros, representando uma invasão insidiosa e perturbadora da mente.

04 – O que representa o súbito soar dos sinos na quarta estrofe e a que são comparadas as almas que lamentam no céu?

      O súbito soar dos sinos, com ferocidade e um gemido fremente, representa uma explosão de dor ou um grito desesperado. As almas que lamentam no céu são comparadas a almas errantes, sem lugar fixo ("sem cidades"), que persistem em seu sofrimento de forma obstinada.

05 – Qual é a imagem final que resume o estado interior do poeta e quais são as forças que o dominam?

      A imagem final é a de um desfile interminável de "féretros sem fim" dentro do poeta, sem alegria ("sem tambor ou pavana"). A Esperança é vencida e chora, enquanto a Angústia, feroz e tirana, lança sua "negra flâmula" sobre o crânio curvo do poeta, simbolizando a vitória da opressão e do sofrimento em sua alma.

06 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Assolar: pôr por terra, destruir, arruinar.

-- Campa: laje sepulcral; sino de pequeno tamanho, sineta.

-- Filame: amarras que prendem a âncora de um navio.

-- Pavana: composição musical; palmatória (instrumento de castigo).

-- Spleen: tédio, melancolia.

-- Túmido: saliente, inchado, proeminente.

 

NOTÍCIA: AS REVELAÇÕES SOBRE O CÉREBRO ADOLESCENTE - FRAGMENTO - MÔNICA TARANTINO, MONIQUE OLIVEIRA E LUCIANI GOMES - COM GABARITO

 Notícia: As revelações sobre o cérebro adolescente – Fragmento

Mônica Tarantino, Monique Oliveira e Luciani Gomes

        [...]

        Na tentativa de elucidar por que os jovens atravessam o período de crescimento como se estivessem em uma montanha-russa, um dos aspectos mais estudados é a tendência de se expor a riscos. No começo da empreitada científica para decifrar os segredos do cérebro adolescente, acreditava-se que a falta de noção do perigo iminente estivesse associada à falta de amadurecimento do córtex pré-frontal, área ligada à avaliação dos riscos que só atinge o desenvolvimento pleno por volta dos 20 anos. O avanço das pesquisas, porém, está demonstrando que por volta dos 15 anos os jovens conseguem perceber o risco da mesma forma e com a mesma precisão que um adulto.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi82x_iHW1g3cM7MN5hopAB4akGEY_NcgndktMsqrcNPCwJb-uwvlHLfc3FIex1weqtYsvESinkD5CldqPjJPobm9cmDGCU8RbP9TCU80LfFJZxr2O3i9bgKGMvw2NuoSdmJ4QYn-juBe8t3bmHvkc6AKOEqBwJK_eBNvmbvwcCeXmkNRE4WDCzFbZI6UA/s1600/images.jpg


        Se sabem o que está acon­tecendo, por que os jovens se colocam em situações ameaçadoras? Embora as habilidades básicas necessárias para perceber os riscos estejam ativas, a capacidade de regular o comportamento de forma consistente com essas percepções não está totalmente madura. “Na adolescência, os indivíduos dão mais atenção para as recompensas em potencial vindas de uma escolha arriscada do que para os custos dessa decisão”, disse à ISTOÉ Laurence Steinberg, [...], um dos mais destacados estudiosos da adolescência na atualidade.

        A afirmação do pesquisador está sustentada em exames de imagem que assinalam, no cérebro adolescente, uma intensa atividade em áreas ligadas à recompensa. Por recompensa, entenda-se a sensação prazerosa que invade o corpo e a mente após uma vitória, como ganhar no jogo ou ser reconhecido como o melhor pelo grupo. Esse processo coincide com alterações das quantidades de dopamina, um neurotransmissor (substância que faz a troca de mensagens entre os neurônios) muito importante na experiência do prazer ou recompensa. [...]

        Ele também foi buscar na teoria da evolução a justificativa para o mecanismo cerebral que premia os jovens com sensações agradáveis por se arriscarem. “No passado, levavam vantagem sobre outros da espécie aqueles que se deslocavam e assumiam riscos em busca de um lugar com mais alimento”, pontua. “A busca por novidade e fortes emoções representaria, à luz da teoria da evolução, um sinal da capacidade de adaptação dos seres humanos a novos ambientes.” [...]

        A busca de emoções e o desejo de ser aceito e admirado pelos outros – duas características do adolescente – podem se converter numa mistura explosiva. O psicólogo Steinberg demonstrou claramente esse mecanismo com o auxílio de um jogo de videogame cuja proposta era dirigir um carro pela cidade no menor tempo possível. No percurso, os sinais mudavam de verde para amarelo quando o carrinho se aproximava. Se o competidor cruzasse o sinal antes de ele ficar vermelho, ganhava pontos. Se ficasse no meio da pista ou na faixa, perdiam-se muitos pontos. Ao disputarem os jogos a sós em uma sala, os jovens assumiram riscos na mesma proporção que os adultos. Mas com a presença de um ou mais amigos no ambiente houve mudança nos resultados. “Nessa circunstância, os adolescentes correram o dobro dos riscos dos adultos”, observou o pesquisador.

        O papel do grupo na adolescência também está sendo examinado. “Por volta dos 15 anos, registra-se o pico de atividade dos neurônios-espelho, células ativadas pela observação do comportamento de outras pessoas e que levam à sua repetição”, diz o neurologista Erasmo Barbante Casella, do Hospital Albert Einstein e do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo. Esse é um dos motivos pelos quais os jovens adotam gestos e roupas similares. Além disso, há a grande necessidade de ser aceito pelos amigos e o peso terrível da rejeição. [...] Estudos apontam que há também uma grande quantidade de oxitocina, hormônio relacionado às ligações sociais e formação de vínculos, circulando no organismo, o que favoreceria a tendência de andar em turma.

        Afora o prazer de correr perigo e dos altos e baixos humorais, a adolescência pode ser vista como uma fase de altíssima resiliência, que é a capacidade de se adaptar e sobreviver às dificuldades. Mas há desvantagens. O lado complicado é que o adolescente que passa por tantas transformações está mais vulnerável ao aparecimento de alterações como depressão, ansiedade e transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia. [...].

Mônica Tarantino, Monique Oliveira e Luciani Gomes – Fonte: Isto É Independente.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 362.

Entendendo a notícia:

01 – Qual era a crença inicial sobre a razão da tendência dos adolescentes a se exporem a riscos e como as pesquisas recentes modificaram essa visão?

      Inicialmente, acreditava-se que a falta de noção do perigo nos adolescentes estava ligada ao amadurecimento incompleto do córtex pré-frontal. No entanto, pesquisas recentes demonstraram que por volta dos 15 anos, os jovens conseguem perceber o risco com a mesma precisão que um adulto.

02 – Segundo Laurence Steinberg, qual fator leva os adolescentes a se colocarem em situações de risco, mesmo tendo a capacidade de perceber o perigo?

      Steinberg afirma que, na adolescência, os indivíduos tendem a dar mais atenção às recompensas potenciais de uma escolha arriscada do que aos custos ou consequências negativas dessa decisão.

03 – Que evidências neurológicas sustentam a afirmação de Steinberg sobre o foco na recompensa no cérebro adolescente?

      Exames de imagem revelam uma intensa atividade nas áreas do cérebro adolescente ligadas à recompensa. Esse processo coincide com alterações nas quantidades de dopamina, um neurotransmissor importante na experiência do prazer e da recompensa.

04 – Qual a justificativa evolutiva apresentada para o mecanismo cerebral que recompensa os jovens por se arriscarem?

      A teoria da evolução sugere que, no passado, aqueles que se deslocavam e assumiam riscos em busca de mais alimento tinham vantagem. A busca por novidade e fortes emoções representaria uma capacidade de adaptação a novos ambientes.

05 – Como a presença de amigos influencia o comportamento de risco dos adolescentes, de acordo com o experimento com o jogo de videogame?

      No experimento, quando jogavam sozinhos, os adolescentes assumiram riscos na mesma proporção que os adultos. No entanto, com a presença de amigos, os adolescentes correram o dobro dos riscos dos adultos, demonstrando a influência do grupo nesse comportamento.

06 – Qual o papel dos neurônios-espelho e da oxitocina no comportamento social dos adolescentes, segundo a notícia?

      Os neurônios-espelho, com pico de atividade por volta dos 15 anos, levam os jovens a repetir comportamentos observados em outras pessoas, influenciando a adoção de gestos e roupas similares. A oxitocina, hormônio ligado às ligações sociais, também está em alta, favorecendo a tendência de andar em grupo e a necessidade de aceitação pelos amigos.

07 – Além da busca por emoções, como a adolescência é caracterizada em termos de capacidade de adaptação e quais são as possíveis desvantagens dessa fase de intensas transformações?

      A adolescência é caracterizada como uma fase de altíssima resiliência, ou seja, grande capacidade de se adaptar e sobreviver a dificuldades. No entanto, as intensas transformações tornam os adolescentes mais vulneráveis ao desenvolvimento de alterações como depressão, ansiedade e transtornos alimentares.

 

POEMA: NAVEGANDO EM REDE - SÉRGIO CAPPARELLI - COM GABARITO

 Poema: Navegando em rede

           Sérgio Capparelli

Cibernauta de mar aberto,
Por que navegas tão perto?

Faço declarações de amor,
Em rede, pelo computador.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIcUUmX-2noi2TbXFsoD1LMKtkbnWzOEouOWMnKxUA-oPUHCDXdFvzeIIAr31v0WuFiz3ctVBB3AdIU4ZTojJczE-zxaqy0PG3AL-UYojC6y_KbWYJSmOyS294puqOKpzWRCHOij8VM_59QY5I1bS33zfXwI2xKyPwjFI5KJ-j637LOIeOolXkzcgTS-g/s320/616npKX5CTL._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg


Cibernauta de mar bravio,
Por que navegas no frio?

Esse frio não enregela
O canto que fiz para ela.

Cibernauta, muito cuidado,
Com um bit equivocado.

Trago, em meio à tormenta,
Carinhos sabor de menta.

33 ciberpoemas e uma fábula virtual. Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 32.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 369.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a metáfora central utilizada no poema para descrever a atividade do cibernauta?

      A metáfora central é a da navegação marítima. O cibernauta é comparado a um navegador que se aventura em um "mar aberto" e um "mar bravio" da internet.

02 – Qual é a motivação do cibernauta para navegar tão perto, de acordo com a primeira estrofe?

      A motivação do cibernauta para navegar tão perto é fazer declarações de amor "em rede, pelo computador".

03 – Como o cibernauta reage ao "frio" mencionado na segunda estrofe durante sua navegação?

      O cibernauta afirma que o frio não consegue "enregelar" o canto (suas declarações de amor) que ele fez para a pessoa amada. Isso sugere que seus sentimentos são intensos e o aquecem, mesmo em um ambiente virtual potencialmente frio e distante.

04 – Qual o alerta dado ao cibernauta na terceira estrofe e qual a "carga" que ele carrega apesar da "tormenta"?

      O alerta dado ao cibernauta é para ter cuidado com um "bit equivocado", ou seja, com um erro ou mal-entendido na comunicação online. Apesar da "tormenta" (possíveis dificuldades ou desafios na comunicação virtual), ele carrega "carinhos sabor de menta", uma imagem que evoca algo doce, refrescante e afetuoso.

05 – Qual a impressão geral que o poema transmite sobre as relações amorosas na era digital?

      O poema transmite a impressão de que, apesar da natureza virtual e potencialmente fria da comunicação online, sentimentos como o amor podem ser expressos de forma intensa e carregada de afeto, mesmo enfrentando desafios e a necessidade de cuidado na interação. A metáfora da navegação sugere uma jornada emocional e comunicativa no ambiente digital.

POEMA: FILHOS DA ÉPOCA - FRAGMENTO - WISLAWA SZYMBORSKA - COM GABARITO

 Poema: FILHOS DA ÉPOCA – Fragmento

              Wislawa Szymborska

Somos filhos da época

e a época é política.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-m0MsCj-tRFJtqWe4E9lJyhxWDb6LX0zCHiikOvsrE6_GYaVW3geIdACLIlEmSfXYRkFhRhEUC-_zMgkykv5aoQslG_LnvWy2hOVRISQlYQUkVOgMOZbzV0XkGoGsMJH6RExVDnFhxjUsbyhrnR_Y7QNXYCDYJ0Nx6Vx52sMCPUKa8jNxfXypZoXY3qM/s320/POLITICA.jpg

Todas as tuas, nossas, vossas coisas

diurnas e noturnas,

são coisas políticas.

 

Querendo ou não querendo,

teus genes têm um passado político,

tua pele, um matiz político,

teus olhos, um aspecto político.

 

O que você diz tem ressonância,

o que silencia tem um eco

de um jeito ou de outro, político.


Até caminhando e cantando a canção

você dá passos políticos

sobre um solo político.


Versos apolíticos também são políticos,

e no alto a lua ilumina

com um brilho já pouco lunar.

Ser ou não ser, eis a questão.

Qual questão, me dirão.

Uma questão política.

[...]

                           Wislawa Szymborska, Poemas.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 377.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal afirmação feita logo nos primeiros versos do poema sobre a relação entre os indivíduos e a época em que vivem?

      A principal afirmação nos primeiros versos é que somos "filhos da época" e que "a época é política", estabelecendo uma conexão intrínseca e inevitável entre a existência individual e o contexto político.

02 – De acordo com o poema, quais aspectos da vida cotidiana são considerados "coisas políticas"? Cite exemplos presentes no texto.

      Segundo o poema, "todas as tuas, nossas, vossas coisas diurnas e noturnas" são consideradas coisas políticas. Isso abrange desde ações cotidianas até mesmo características biológicas como os genes, a cor da pele e o aspecto dos olhos, que carregam consigo uma dimensão política.

03 – O que o poema sugere sobre a neutralidade ou a ausência de posicionamento em relação à política?

      O poema sugere que a neutralidade é ilusória. Mesmo o silêncio e os "versos apolíticos" possuem uma dimensão política, seja pela ressonância do que é dito ou pelo eco do que é silenciado. Até mesmo ações aparentemente neutras, como caminhar e cantar, são descritas como "passos políticos sobre um solo político".

04 – Como o poema aborda a famosa questão shakespeariana "Ser ou não ser"? Qual a perspectiva apresentada?

      O poema recontextualiza a questão "Ser ou não ser", afirmando que, na verdade, trata-se de "uma questão política". Isso implica que até mesmo as reflexões existenciais mais profundas estão imersas e influenciadas pelo contexto político da época.

05 – Qual a mensagem central que o poema busca transmitir sobre a influência da política na vida dos indivíduos?

      A mensagem central do poema é a de que a política é onipresente e inescapável na vida dos indivíduos. Desde os aspectos mais íntimos e biológicos até as ações e omissões cotidianas, tudo está imerso em um contexto político, quer se tenha consciência disso ou não. A época em que vivemos molda profundamente a nossa existência, tornando-nos, inevitavelmente, "filhos da época" e, portanto, seres políticos.

 

 

ARTIGO DE OPINIÃO: EM BUSCA DA POLÍTICA - ZYGMUNT BAUMAN - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: Em busca da política

        As instituições políticas vigentes (por exemplo, partidos políticos, parlamentos, governos) vivem hoje um processo de abandono ou diminuição do seu papel de criadoras de agenda de questões e opções relevantes e, também, do seu papel de propositoras de doutrinas. O que não significa que se amplia a liberdade de opção individual. Significa apenas que essas funções estão sendo decididamente transferidas das instituições políticas (isto é, eleitas e, em princípio, controladas) para forças essencialmente não políticas, primordialmente as do mercado financeiro e do consumo. A agenda de opções mais importantes dificilmente pode ser construída politicamente nas atuais condições. Assim esvaziada, a política perde interesse.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqFqu2Ek-BtaTqaA_50f0k9WNWGO_GW0MFaFi7rpPuPmcXj9sY3_hSBxphGPg9eF_zGOvwGigNiWRcYep6Tu2eIYdzenzyi5cEpz4KdgnDKGsHFAf8u7P9nkqOtR_MdNndVW5fwhqULhCBtSVX8cBkNn5FGpuWtNONTGab6Un1SCXdKTuSAMD7lxlpZ2I/s320/historico-dos-partidos.jpg


Zygmunt Bauman. Em busca da política. Adaptado.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 377.

Entendendo o texto:

01 – Segundo o texto, qual o principal processo que as instituições políticas tradicionais estão vivenciando atualmente?

      De acordo com o texto, as instituições políticas vigentes, como partidos, parlamentos e governos, estão passando por um processo de abandono ou diminuição do seu papel como criadoras de agenda de questões e opções relevantes, bem como de propositoras de doutrinas.

02 – O texto afirma que a diminuição do papel das instituições políticas leva a uma ampliação da liberdade de opção individual? Justifique sua resposta com base no texto.

      Não, o texto afirma explicitamente que a diminuição do papel das instituições políticas não significa uma ampliação da liberdade de opção individual. Em vez disso, essa perda de função das instituições políticas eleitas e, em princípio, controladas, resulta na transferência dessas funções para forças essencialmente não políticas, como o mercado financeiro e o consumo.

03 – Quais são as principais forças não políticas que estão assumindo o papel de definir a agenda de questões e opções relevantes, de acordo com o texto?

      Conforme o texto, as principais forças não políticas que estão assumindo o papel de definir a agenda de questões e opções mais importantes são primordialmente as do mercado financeiro e do consumo.

04 – Qual a consequência da dificuldade em construir politicamente a agenda de opções mais importantes, conforme apontado no texto?

      Segundo o texto, a consequência de a agenda de opções mais importantes dificilmente poder ser construída politicamente nas atuais condições é o esvaziamento da política, o que leva à perda de interesse por parte da população.

05 – Em suma, qual a principal crítica ou constatação apresentada pelo autor em relação ao papel da política na sociedade contemporânea?

      Em suma, a principal constatação apresentada pelo autor é a de que a política, representada por suas instituições tradicionais, está perdendo sua capacidade de influenciar e definir as questões e opções mais relevantes na sociedade, tendo seu papel transferido para forças não políticas, o que resulta em um enfraquecimento e perda de interesse pela própria política.

MÚSICA(ATIVIDADES): MEU AMIGO, MEU HERÓI - GILBERTO GIL - COM GABARITO

 Música (Atividades): Meu Amigo, Meu Herói

             Gilberto Gil

Oh meu amigo, meu herói
Oh como dói saber que a ti também corrói
A dor da solidão
Oh meu amado, minha luz
Descansa tua mão cansada sobre a minha
Sobre a minha mão

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLlziaVxROPOaQ4rcr10rjZhUCinixvhPa8yR7597z9f0DXqZUHA3d45wJ5KvwS7FqeyggSicW6pTTUW7fm-NvR8Xp3yid4RuC26PSOanYc5Ee2Gs4tXlb4oeExHDarAbExjjk5nY_wkzYxo37U2aZm_D1nO_XVarvoaPN_0DLtTxbHpocTqr7wVRjIz0/s320/MUSICA.jpg


A força do universo não te deixará
O lume das estrelas te alumiará
Na casa do meu coração pequeno
No quarto do meu coração menino
No canto do meu coração espero
Agasalhar-te a ilusão
Oh meu amigo, meu herói
Oh como dói.
Oh como dói.

Composição: Gilberto Gil. “Meu amigo, meu herói”. In: http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/46220.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 383.

Atividades da música:

01 – Qual o sentimento predominante expresso na canção em relação ao amigo/herói?

      O sentimento predominante é de profunda empatia e dor, expresso na repetição da frase "Oh como dói", revelando a tristeza compartilhada pela solidão do amigo/herói.  

02 – Que tipo de apoio o narrador oferece ao amigo/herói na canção?

      O narrador oferece apoio emocional e um refúgio seguro, convidando o amigo a descansar sua "mão cansada" sobre a sua e oferecendo o "coração pequeno" como um lugar de acolhimento para "agasalhar-te a ilusão".  

03 – Quais elementos da natureza são mencionados na canção e qual o seu significado simbólico?

      A "força do universo" e o "lume das estrelas" são mencionados, simbolizando esperança, proteção e orientação. Eles representam a crença de que, apesar da dor e da solidão, o amigo/herói não está desamparado.

04 – Como a canção descreve o coração do narrador e qual a sua função na relação com o amigo/herói?

      O coração do narrador é descrito como "pequeno", "menino" e um lugar de espera, sugerindo fragilidade, sinceridade e disponibilidade para acolher e confortar o amigo/herói, oferecendo um espaço seguro para suas emoções.

05 – Qual a mensagem central transmitida pela canção sobre amizade e apoio mútuo?

      A mensagem central é a de que a amizade verdadeira implica em compartilhar a dor e oferecer apoio incondicional, mesmo diante da solidão e do sofrimento. A canção celebra a força do vínculo afetivo e a importância de oferecer um refúgio seguro para aqueles que amamos.

 

 

CRÔNICA: POLÍTICA - PARA NÃO SER IDIOTA - M.S. CORTELLA - COM GABARITO

 Crônica: Política – Para não ser idiota

           M. S. Cortella

        O termo “idiota” aparece em comentários indignados, cada vez mais frequentes no Brasil, como “política é coisa de idiota”. O que podemos constatar é que acabou se invertendo o conceito original de idiota, pois a palavra “idiótes”, em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGa0j50JjOWzY2wyAJmxz9NHNHHbqRYvZwtBSeuVJQOrLtDMk0qPkp3u4u0VtnNsSxEMQh0wK9CT1X3_UH16oWxannny2Vay55JCA8lSI5c89qkSrgPvPVQ0ywYWKqak_UsDObVo9R5URWX7_I1fK8tFyaa0AoocAtZm1b0CEH9L-JLfbLlZhuGmd85Y0/s1600/idiota.jpg


        Talvez devêssemos retomar esse conceito de idiota como aquele que vive fechado dentro de si e só se interessa pela vida no âmbito pessoal. Sua expressão generalizada é: “Não me meto em política”.

M. S. Cortella e R. J. Ribeiro, Política – para não ser idiota. Adaptado.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 377.

Entendendo o texto:

01 – Qual a constatação inicial do autor sobre o uso da palavra "idiota" em relação à política no Brasil?

      O autor observa que a expressão "política é coisa de idiota" tem se tornado cada vez mais frequente em comentários indignados no Brasil.

02 – Qual o significado original da palavra grega "idiótes" e como ele se relaciona com a recusa à política?

      Em grego, "idiótes" significava aquele que só vive a vida privada, que se recusa a participar da política, que diz não à política. Portanto, originalmente, o "idiota" era aquele que se isolava da esfera pública.

03 – Segundo o autor, como o conceito original de "idiota" se inverteu no contexto brasileiro atual?

      O autor argumenta que o conceito original de "idiota" se inverteu, pois hoje em dia a palavra é usada para se referir à própria política, enquanto o verdadeiro "idiótes" seria aquele que se afasta e desinteressa pela vida política.

04 – Qual a característica principal daquele que se encaixa no conceito original de "idiota", de acordo com o texto?

      A característica principal daquele que se encaixa no conceito original de "idiota" é viver fechado dentro de si, interessando-se apenas pela vida no âmbito pessoal. Sua expressão generalizada é "Não me meto em política".

05 – Qual a implicação de retomar o conceito original de "idiota" para a nossa compreensão da relação entre indivíduo e política?

      Retomar o conceito original de "idiota" nos leva a refletir que a recusa à política e o isolamento na vida privada, longe de serem sinais de inteligência ou sabedoria, representariam uma forma de "idiotia" no sentido clássico do termo. Isso sugere a importância da participação e do engajamento na esfera política para não se enquadrar nessa definição.

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): GENI E O ZEPELIM - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

 Música (Atividades): Geni e o Zepelim

              Chico Buarque

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3LCChjH-Bpf-Yv7WZm7quRNnsJBf28Wym3VfGE_FiJyi6Xyc-GO2RBZc444o7CJfV8L87PLaJjrNsP_VsjfgzJ_liNiAFI85rh0sXENKe5eM5GtUUc4DtFBfiQnLldoGkEqUWsPyGlzyC6GP0rTzwqiu50_37LWC-o1BunpobwgOrCBVhjxSCX5xd6h8/s1600/GENI.jpg


Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato

E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim

A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: Mudei de ideia!

Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro

Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco

Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado

Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Chico Buarque. Geni e Zepelim.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 392.

Atividades da música:

01 – Como a figura de Geni é inicialmente apresentada na música em relação à sociedade e a quem ela se dedica?

      Geni é apresentada como uma figura marginalizada, ligada a locais como o mangue e o cais do porto, e que se relaciona intimamente com os excluídos da sociedade: errantes, cegos, retirantes, detentos, loucos, lazarentos, moleques de internato, velhinhos doentes e viúvas. Ela é descrita como alguém que se doa a todos eles.

02 – Qual a atitude da cidade em relação a Geni, expressa no refrão, e como essa atitude se justifica na narrativa?

      A atitude da cidade em relação a Geni é de agressão e desprezo, expressa no refrão "Joga pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!". Essa atitude se justifica pela sua promiscuidade e pela forma como ela se relaciona com os marginalizados, sendo vista como impura e merecedora de punição.

03 – Qual o evento extraordinário que interrompe a rotina da cidade e qual a ameaça que ele representa?

      A chegada de um enorme zepelim brilhante e armado com dois mil canhões interrompe a rotina da cidade. A ameaça é de destruição total, pois o comandante do zepelim anuncia sua intenção de explodir a cidade devido à "tanto horror e iniquidade" que presenciou.

04 – Qual a condição imposta pelo comandante do zepelim para poupar a cidade da destruição e quem é a pessoa escolhida para cumprir essa condição?

      A condição imposta pelo comandante para poupar a cidade é que "aquela formosa dama" o sirva naquela noite. Essa dama é Geni.

05 – Qual a reação inicial da cidade ao saber que Geni é a pessoa que pode salvá-los e como essa reação se transforma ao longo da negociação?

      A reação inicial da cidade é de incredulidade e repulsa, expressa na repetição do refrão depreciativo sobre Geni. No entanto, diante da ameaça iminente, a cidade muda radicalmente sua atitude, implorando para que Geni aceite a proposta do comandante, chegando a beijar sua mão e chamá-la de "Bendita Geni!".

06 – Qual a preferência íntima de Geni em relação aos seus amantes e como essa preferência se manifesta na noite em que ela se entrega ao comandante?

      Geni preferia amar com os bichos a deitar com um homem "tão nobre" e "cheirando a brilho e a cobre". Apesar de seu asco, ela se entrega ao comandante como quem se entrega a um carrasco, motivada pelos pedidos da cidade para salvá-los.

07 – Como a cidade reage após a partida do zepelim e do comandante, e qual a ironia presente nessa reação final?

      Após a partida do zepelim, a cidade sente um suspiro aliviado, mas logo ao raiar do dia, volta a hostilizar Geni com ainda mais intensidade, jogando pedras e bosta, e repetindo o refrão maldizente. A ironia reside na completa falta de gratidão e na persistência da crueldade da cidade em relação àquela que se sacrificou para salvá-los, mostrando a hipocrisia e a ingratidão da sociedade.