sexta-feira, 15 de novembro de 2024

TEXTO: SERMÃO A SANTO ANTÔNIO - CAP. IV - (FRAGMENTO) - PADRE ANTÔNIO VIEIRA - COM GABARITO

 Texto: Sermão a Santo Antônio Cap. IV – Fragmento

            Padre Antônio Vieira 

        Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTWm1_ZRGhR5RsomURqHtLRNPNwjk9SE0dEpZtnPXsUs9DUDXV0KfD9Phz67a4_8vAk3xU_8bih3A9_wHRiSRgKHQRKrfe98n7efbr2HT-Bl6-sZqOGqPCap2gBdjykcUJH0x5_F9zlp_tDfISCLIMjFkZ3qr00yL2NeiJ3938fnqT7bTqLk_9cFpr6Jk/s320/PADRE.jpg


        Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer e como se hão de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-a a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.

        [...]

Padre Antônio Vieira. www.nead.unama.br.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 366-367.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a principal crítica feita por Padre Antônio Vieira aos peixes, e por extensão, aos homens?

      A principal crítica é a cobiça e a ganância, representadas pela ação de se comerem uns aos outros. Vieira utiliza a metáfora dos peixes para denunciar a desigualdade social e a exploração dos mais fracos pelos mais poderosos.

02 – Qual a função da comparação entre os peixes e os homens no sermão?

      A comparação serve como um recurso retórico para tornar a crítica mais incisiva e eficaz. Ao mostrar que os mesmos vícios que condenam nos peixes também estão presentes nos homens, Vieira busca despertar a consciência do ouvinte e levá-lo à reflexão sobre suas próprias atitudes.

03 – Quais os diferentes grupos sociais que Vieira critica ao descrever a forma como os homens "se comem uns aos outros"?

      Vieira critica diversos grupos sociais, como herdeiros, testamenteiros, legatários, credores, oficiais, médicos, sangradores, mulheres, coveiros, etc. A crítica se estende a todos aqueles que se beneficiam da morte ou da miséria alheia.

04 – Qual o significado da frase "Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários"?

      Essa frase representa a cobiça pela herança e a disputa por bens materiais após a morte de alguém. Os herdeiros, testamenteiros e legatários são vistos como predadores que se aproveitam da fragilidade do falecido para obter vantagens pessoais.

05 – Qual a importância do contexto histórico para a compreensão do sermão?

      O contexto histórico é fundamental para compreender a profundidade da crítica de Vieira. A sociedade da época era marcada por grandes desigualdades sociais e pela exploração dos mais pobres. O sermão reflete essa realidade e busca denunciar os excessos e os vícios daquela época.

06 – Que tipo de linguagem Vieira utiliza para construir sua crítica?

      Vieira utiliza uma linguagem rica em figuras de linguagem, como metáforas, comparações e antíteses. Essa linguagem expressiva e vívida contribui para a força e a eficácia da sua crítica.

07 – Qual a mensagem central que Vieira quer transmitir ao seu público?

      A mensagem central é um chamado à reflexão sobre a condição humana e a necessidade de superar os vícios da cobiça e da ganância. Vieira busca despertar a consciência do ouvinte para a importância da justiça, da solidariedade e da compaixão.

 

TEXTO: DROGAS X DIRIGIR - ADAPTADO DE DETRAN.SP.GOV.BR - COM GABARITO

 Texto: Drogas X Dirigir

        Na campanha contra o uso de bebidas alcoólicas e outras, todos devem participar, a sociedade em geral como também comerciantes e fabricantes.

        As estatísticas revelam que a maioria dos acidentes ocorrem porque o condutor está alcoolizado, com taxa de álcool acima do limite permitido por lei (6 decigramas de álcool por litro de sangue), mas o mais grave é que muitos menores alcoolizados estão provocando esses acidentes.

        A lei é clara: a venda de bebidas alcoólicas para menores pode resultar em prisão para quem comercializar o produto. Quanto ao menor dirigir sem Habilitação, a penalidade recai sobre os pais.

        A situação também é grave no que se refere ao uso de outras drogas, por exemplo:

·        Maconha – reduz a capacidade de dirigir por até oito horas após seu consumo.

·        Cocaína – aumenta a sensibilidade à estimulando externa, distorcendo o conceito da realidade, e leva o organismo à exaustão.

·        Anfetaminas (conhecidas pelos motoristas como rebite) – apesar dos graves riscos causados ao organismo, alguns motoristas de caminhão se utilizam desse tipo de droga para inibir o sono e manter seu estado de alerta para dirigir por longos percursos.

        As vítimas da cocaína e da maconha no trânsito são em geral pessoas de 20 a 39 anos, e o pior é que os adolescentes de 13 a 17 anos constituem o segundo grupo de maior consumo dessas drogas, sem citar as anfetaminas e o crack. As reações provocadas no organismo pelo álcool e outras drogas são, de fato, uma ameaça ao motorista.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXbPWLt4BJL_rI9bTTD85yygMNa7eRhvZ1bZWWcFUCN3neTuXyk-gsVjlNesP2MI71C_fevs5IgdV8P7jcZ8OXTjdYME5S1KKjMRo-Ixh8Rqeor1MQNR2NjtwlYIob7CtxFEnETX0H2EweQLIWvQ2nm2hgAcDZ1Tan9q6CHrCiXQi6FltALVwRM8hKXh0/s320/CARRO.jpg


Adaptado de: http://www.detran.sp.gov.br/

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 161.

Entendendo o texto:

01 – Qual a principal causa dos acidentes de trânsito de acordo com as estatísticas mencionadas no texto?

      Essa pergunta direciona a atenção para o fator álcool como principal causador dos acidentes, enfatizando a importância da conscientização sobre os riscos.

02 – Além do álcool, quais outras drogas são mencionadas no texto como fatores de risco para acidentes de trânsito?

      A questão busca ampliar a compreensão sobre a variedade de substâncias que podem comprometer a capacidade de dirigir, indo além do álcool.

03 – Quais são os principais efeitos da maconha, cocaína e anfetaminas no organismo do condutor, de acordo com o texto?

      Essa pergunta aprofunda o conhecimento sobre os impactos específicos de cada droga, auxiliando na compreensão dos riscos envolvidos.

04 – Qual a relação entre o consumo de drogas e a faixa etária dos envolvidos em acidentes de trânsito?

      A questão destaca a vulnerabilidade de diferentes grupos etários, especialmente jovens, e a necessidade de ações preventivas direcionadas a cada faixa etária.

05 – Quais são as consequências legais para quem vende bebidas alcoólicas para menores e para os pais de menores que dirigem sem habilitação?

      Essa pergunta chama a atenção para as responsabilidades legais envolvidas e a importância da fiscalização e punição dos infratores.

06 – Por que alguns motoristas de caminhão utilizam anfetaminas para dirigir por longos percursos, mesmo sabendo dos riscos?

      A questão busca entender os motivos que levam ao uso de drogas nesse contexto, como a pressão por resultados e a necessidade de manter-se acordado.

07 – Quais medidas podem ser adotadas para reduzir o número de acidentes de trânsito causados pelo consumo de álcool e outras drogas?

      Essa pergunta incentiva a reflexão sobre possíveis soluções para o problema, como campanhas educativas, fiscalização mais rigorosa e políticas públicas mais eficazes.

 

 

SONETO: DESCRIÇÃO DA CIDADE DE SERGIPE DEL-REI - IN.DIMAS,ANTÔNIO(ORG) - COM GABARITO

 Soneto: Descrição da Cidade de Sergipe Del-Rei

Três dúzias de casebres remendados,

Seis becos, de mentrastos entupidos,

Quinze soldados, rotos e despidos,

Doze porcos na praça bem criados.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSSTeFZGtfVYPDWHjBqSkdFWeQ5ej6PaYzsLCh1__9THmceLVrChV1PSlASfFW5GGJlDSRTaIcplg_hCH_0iHdTZR336rwj3mHt2NvMh_4s2FIQVbLbVlnsr8bvQ1-nru8QmOmircUBWJROr66jVZpWHTnITCJ5B7kGRYWJG3cXMu7s8mEydM9hIkI2gI/s320/SERGIPE.jpg

Dois conventos, seis frades, três letrados,

Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,

Três presos de piolhos carcomidos,

Por comer dois meirinhos esfaimados.

 

Damas com sapatos de baeta,

Palmilha de tamanca como frade,

Saia de chita, cinta de raqueta.

 

O feijão, que só faz ventosidade,

Farinha de pipoca, pão que greta,

De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade.

In: DIMAS, Antônio (Org.). Literatura comentada. São Paulo: ed. Abril, 1981.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 368.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal característica da cidade de Sergipe del-Rei que o poeta destaca no soneto?

      A principal característica da cidade, segundo o poeta, é a miséria e o abandono. Ele descreve um lugar com casas em ruínas, ruas sujas, pessoas mal vestidas e uma vida marcada pela pobreza e pela falta de recursos.

02 – Que elementos irônicos o poeta utiliza para descrever os habitantes da cidade?

      O poeta utiliza uma série de elementos irônicos para caracterizar os habitantes da cidade, como a descrição dos soldados "rotos e despidos" e dos presos "de piolhos carcomidos". A ironia também está presente na descrição das damas com "sapatos de baeta" e na menção ao feijão que "só faz ventosidade".

03 – Qual a função da enumeração de detalhes no soneto?

      A enumeração de detalhes serve para criar uma imagem vívida e detalhada da cidade. Ao listar os elementos que compõem o cenário, o poeta intensifica o efeito de crítica e realça a miséria e a decadência do lugar.

04 – Qual a importância histórica desse soneto?

      O soneto de Gregório de Matos é importante por ser um documento histórico que retrata a realidade de uma cidade colonial. Através de sua obra, o poeta nos permite vislumbrar a vida cotidiana, os costumes e as condições de vida da população da época. Além disso, o soneto é considerado um marco da poesia barroca brasileira e um exemplo da crítica social presente na obra de Gregório de Matos.

05 – Qual a sua interpretação sobre o verso final: "De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade"?

      O verso final resume toda a descrição feita pelo poeta. Ele afirma categoricamente que a cidade de Sergipe del-Rei é caracterizada pela miséria e pela decadência, transformando o soneto em uma espécie de retrato irônico da cidade. A repetição da palavra "cidade" enfatiza a generalização da crítica, indicando que toda a cidade está imersa nessa realidade.

 

CRÔNICA: A ESTRELA SOBE (FRAGMENTO) - MARQUES REBELO - COM GABARITO

 Crônica: A estrela sobe – Fragmento

             Marques Rebelo

        Vai um dia, uma semana, um mês. Vai o inverno, o verão. As mesmas festas, os mesmos clubes, os mesmos cinemas. Os amiguinhos é que mudam. Não suportava uma semana a mesma cara, a mesma voz, os mesmos beijos. Vem o carnaval, fantasiou-se de camponesa russa – que loucura! Para as noites de casa tem os romances emprestados, as revistas, os jornais dos hóspedes. Tem o rádio do vizinho também. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3KXnhsu40FiZfUhMT3TdAJzMzdNpzyErchGT_GNnDhp1dizyCdQjjGJJ1LnJwEevno8Sqt3GkjALsQ7oJ-d56T7TToE5Y9YTo17K63MoO9yabSGXT94KIgKFn0u3qb_dFpMuhF49YXgL4tEVIqr7VLIJpidUWQ3fjF-VAsGD_ApznmVN7iUoBMGhoOWA/s320/TEMPO.jpeg

É desgraçado de fanhoso, mas é rádio. Tem Seu Alberto sempre amigo, sempre de violão, animando-a:

        -- Que linda voz!

        -- Pelo senhor eu já estava no rádio, não é, Seu Alberto?

        -- Por que não? Há muitas piores que lá estão.

        Leniza confundia-o:

        -- Está ouvindo, mamãe? Piores.

        Dona Manuela ria, ele ria também:

        -- É uma maneira de dizer.

        -- Eu sei!...

REBELO, Marques. A estrela sobe. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 228.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal característica da personagem principal, Leniza, em relação aos seus amigos?

      Leniza demonstra uma certa insatisfação e impaciência com seus amigos, buscando constantemente novas companhias e experiências.

02 – Quais são as principais fontes de entretenimento de Leniza?

      Leniza encontra diversão em festas, clubes, cinemas, romances, revistas, jornais, rádio e nas conversas com Seu Alberto.

03 – Qual a relação de Leniza com Seu Alberto?

      Leniza e Seu Alberto possuem uma relação de amizade e admiração mútua. Ele a elogia e a incentiva, enquanto ela o procura para conversar e se divertir.

04 – Qual a importância do rádio na vida de Leniza?

      O rádio representa uma forma de escape e de contato com o mundo exterior para Leniza. Ele a diverte e a alimenta seus sonhos de fama.

05 – Qual o significado da frase "Pelo senhor eu já estava no rádio, não é, Seu Alberto?" dita por Leniza?

      Essa frase revela a ambição de Leniza de se tornar famosa e reconhecida, e a busca por aprovação e reconhecimento de seus talentos. Ela sonha em ter sua voz ouvida por um público maior.

 

 

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

MÚSICA(ATIVIDADES): ATRÁS DA PORTA - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

 Música(ATIVIDADES): Atrás da Porta

             Chico Buarque

Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi343B2S2OVnkbPSSq32R1vw_1NY5nDNLWev82hPtr3yiVMp4-bpZeg-jhSP5_3MFGmdOWCeOK06tjEq308YJ1NPSF8mUAmjL1jXdEwyiDW1uWEk_YtQckwpiuZ__C7_0WXQOd27Eg93qtCD5y3cncooVKWoo6gyQonpNEVRYmJcEB5Ztn_vf6cdPUhFDE/s320/CHICO.jpg


Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua.

Composição: Chico Buarque / Francis Hime.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 320.

Entendendo a música:

01 – Qual a principal emoção transmitida pela música?

      A principal emoção transmitida pela música é a angústia da separação. O eu lírico demonstra intensa dor, raiva e desespero diante da iminência do fim do relacionamento. A letra retrata uma luta desesperada para manter o outro, marcada por ações impulsivas e destrutivas.

02 – Qual o papel do ambiente na construção da atmosfera da música?

      O ambiente da música é crucial para a construção da atmosfera de sofrimento e desespero. A descrição do "tapete atrás da porta" e da ausência de carinho e coberta cria uma imagem de solidão e abandono. O espaço íntimo do casal se transforma em um palco de uma luta dolorosa, intensificando o sofrimento do eu lírico.

03 – Como a relação entre o eu lírico e o outro se transforma ao longo da música?

      A relação entre o eu lírico e o outro passa por uma transformação radical. Inicialmente, há a negação da separação e a tentativa de reconciliação. No entanto, à medida que a letra avança, essa tentativa se transforma em uma espiral de destruição e autoflagelação. O amor se transforma em ódio, e a paixão em vingança.

04 – Qual o significado da frase "Te adorando pelo avesso"?

      A frase "Te adorando pelo avesso" é uma das mais poderosas da música. Ela expressa a complexidade dos sentimentos do eu lírico, que ao mesmo tempo ama e odeia o outro. A adoração "pelo avesso" indica um amor distorcido e destrutivo, que se manifesta através da dor e da humilhação.

05 – Quais as características da linguagem utilizada por Chico Buarque nessa música?

      A linguagem utilizada por Chico Buarque é direta, intensa e visceral. As palavras são escolhidas de forma precisa para transmitir a força das emoções. A repetição de palavras e expressões, como "teus", "teu" e "atrás da porta", cria um ritmo frenético que acompanha a agitação emocional do eu lírico. A ausência de metáforas complexas e a utilização de um vocabulário cotidiano contribuem para a universalidade da mensagem.

 

 

CANTIGA: PARTINDO-SE - JOÃO ROIZ DE CASTELO-BRANCO - COM GABARITO

 Cantiga: Partindo-se

 

Senhora, partem tam tristes

meus olhos por vós, meu bem,

que nunca tam tristes vistes 

outros nenhuns por ninguém.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlXPmarth5rQY44uaXwji3zkKaZ8DLvpKn9XuYHcYZpUanL3WAV3OjWRLwmTtgPXnE3NRnw3Uomq3lXCYeqFc7pD910NvgXig4P4qqbcJR5bQvv3UuVcDQiukHAU-XYnLYxKxKr8iMWxnVCNeukYruP3hrZS6MCqjNRaXd-qnoAZs_ZE07i7tXewutFew/s320/PARTIR.jpg

Tam tristes, tam saudosos,

tam doentes da partida,

tam cansados, tam chorosos,

da morte mais desejosos

cem mil vezes que da vida.

Partem tam tristes os tristes,

tam fora d’esperar bem,

que nunca tam tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

 João Roiz de Castelo-Branco.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 328.

Entendendo a cantiga:

01 – Qual a principal emoção transmitida pela cantiga?

      A principal emoção transmitida pela cantiga é a saudade profunda e a dor da separação. O eu lírico expressa um sofrimento intenso ao se despedir da senhora amada, enfatizando a tristeza e o desejo de morte em comparação com a vida.

02 – Como o eu lírico descreve seus olhos?

      O eu lírico descreve seus olhos como tristes, saudosos, doentes, cansados e chorosos. Essa descrição vívida e repetitiva reforça a intensidade do sofrimento causado pela partida da amada. Os olhos se tornam o espelho da alma, refletindo a dor profunda que o amante sente.

03 – Qual o significado da repetição da frase "nunca tam tristes vistes outros nenhuns por ninguém"?

      A repetição dessa frase enfatiza a singularidade e a intensidade da dor sentida pelo eu lírico. Ele afirma que nunca se viu alguém tão triste quanto ele por causa de uma partida. Essa repetição cria um efeito de insistência, reforçando a ideia de que o sofrimento é incomensurável.

04 – Qual a relação entre a vida e a morte na cantiga?

      A relação entre a vida e a morte na cantiga é marcada pela desvalorização da vida em comparação com a morte. O eu lírico demonstra um desejo de morte tão intenso que o faz desejar a morte "cem mil vezes que da vida". Essa atitude extrema revela a profundidade do sofrimento causado pela separação e a incapacidade de encontrar consolo na vida sem a amada.

05 – Qual o papel da repetição na construção da cantiga?

      A repetição é um recurso fundamental na construção da cantiga. Ela cria um ritmo e uma sonoridade que intensificam a expressão dos sentimentos. A repetição de palavras e expressões como "tristes", "saudosos" e "nunca tam tristes" reforça a ideia de sofrimento e cria uma atmosfera de melancolia. Além disso, a repetição contribui para a memorização da cantiga, facilitando sua transmissão oral.

 

 

CANTIGA: ACHO QUE DEUS ME DEU TUDO - FRANCISCO DE SOUSA - COM GABARITO

 Cantiga: Acho que Deus me deu tudo

              Francisco de Sousa

Acho que Deus me deu tudo
Para meu padecer
Os olhos – para vos ver,
Coração – para sofrer,
E língua – para ser mudo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiagl58ymqS8RhnZDxYRX1eF-Hj4WUPB483XJct94X_rIp_8nVt-OSTzx7xyOVtwcAAxoKJkUXtOUytA5e_uNjRtYolCKBjy3HifxsW30uGmq7zJxXrSVWdnYReNqWOK_cGbOhpxX4Q1gqgzZeF6k1UQfGZkM32ZyFYU9tzOVUzLqa-Y1aIdFY8ntXU0Z8/s1600/DEUS.jpg



Olhos com que vos olhasse,
Coração que consentisse
Língua que me condenasse:
Mas não já que me salvasse
De quantos males sentisse.

Assim que me Deus tudo
Para meu padecer:
Os olhos – para Vos ver,
Coração – para sofrer,
E língua – para ser mudo.

Francisco de Souza.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 328.

Entendendo a cantiga:

01 – Qual a principal emoção transmitida pela cantiga?

      A principal emoção transmitida pela cantiga é a angústia amorosa. O eu lírico expressa um sofrimento profundo e intenso, causado pelo amor não correspondido ou por uma paixão impossível. A repetição da ideia de "padecer" reforça a intensidade desse sofrimento.

02 – Como os sentidos são utilizados para expressar o sofrimento amoroso?

      Os sentidos são utilizados de forma poética para expressar o sofrimento amoroso. Os olhos são utilizados para ver a amada, o coração para sentir a dor e a língua para a incapacidade de expressar plenamente o que se sente. Essa personificação dos sentidos intensifica a experiência emocional do eu lírico.

03 – Qual a relação entre o divino e o humano na cantiga?

      A relação entre o divino e o humano é ambivalente. Por um lado, Deus é visto como aquele que concede os sentidos, ou seja, a capacidade de amar e sofrer. Por outro lado, essa mesma capacidade de amar se torna uma fonte de sofrimento, levando o eu lírico a questionar o porquê de Deus ter lhe dado tais dons se eles apenas lhe trazem dor.

04 – Qual o significado da última estrofe?

      A última estrofe repete a primeira, criando um efeito de circularidade e intensificando a ideia de sofrimento eterno. A repetição enfatiza a incapacidade do eu lírico de escapar da dor amorosa, sugerindo que ele está preso a um ciclo de sofrimento.

05 – Qual o papel da linguagem poética na construção do sentido da cantiga?

      A linguagem poética desempenha um papel fundamental na construção do sentido da cantiga. A utilização de metáforas, como a personificação dos sentidos, e a repetição de palavras e estruturas criam um ritmo e uma sonoridade que intensificam a expressão dos sentimentos. A simplicidade da linguagem, aliada à profundidade dos sentimentos expressos, torna a cantiga uma obra marcante e atemporal.

 

POESIA: VALSA - CARLINHOS VERGUEIRO - COM GABARITO

 Poesia: Valsa

            Carlinhos Vergueiro

Eu não vim de longe
Eu não sou um monge
Eu não faço ioga
Eu não sei de tudo
Não estou em voga
Eu não fico mudo
Não sufoco o riso
Eu não apregoo
Não aperfeiçoo
Eu nunca medito
Eu estou na rua
Eu não sou maldito
E quem bebe
Bebe a dor
E quem joga
Joga a dor
Quem se agita
Agita a dor
Quem trabalha
Engana a dor.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2Lg5gKuOuUMkvu_z9nc8pSkd7F4sbu5Te6kJVAXABWRKHMozxLbkT1DMTtrKWJ6wPyoj71-Hx6xJRT3oM8EVeSMp6FfIYvVkTbrWxh73MmU9gWp6tA8X0IhnXVzYL-mUEb5ecplpJO_mGlxirM9wUou4QqHeb_IhoYbbHor2ksThPQh5vOYkKJ3wNOY4/s320/VALSA.jpg


Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 305.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal mensagem transmitida pelo poema?

      A principal mensagem do poema é uma crítica à postura intelectualizada e distante da vida, representada por figuras como o monge, o iogue e o intelectual que "sabe de tudo". O poeta contrapõe essa figura a uma postura mais simples, autêntica e engajada com a realidade, representada pelo "eu" lírico que "está na rua" e "não é maldito". A valsa, como ritmo musical, serve como metáfora para a vida, que é marcada por altos e baixos, alegrias e tristezas.

02 – Como o poeta constrói a oposição entre a figura do intelectual e a figura do "eu" lírico?

      O poeta constrói essa oposição através da negação de características típicas do intelectual, como o estudo aprofundado, a busca pela perfeição e a meditação. Em contrapartida, ele afirma sua presença no mundo real, sua autenticidade e sua capacidade de sentir e expressar suas emoções. A repetição da negação ("Eu não...") enfatiza essa oposição e cria um ritmo poético que contrasta com a seriedade do discurso intelectual.

03 – Qual o papel da dor na visão de mundo do poeta?

      A dor é um elemento central na visão de mundo do poeta. Ela é universal e inevitável, presente em todas as esferas da vida: quem bebe, joga, se agita ou trabalha, de alguma forma, "engana a dor". A dor não é vista como algo negativo, mas como uma parte integrante da experiência humana, que nos torna mais fortes e autênticos.

04 – Qual a relação entre o título "Valsa" e o conteúdo do poema?

      O título "Valsa" sugere uma dança leve e elegante, que contrasta com a temática da dor e do sofrimento presente no poema. Essa contradição pode ser interpretada como uma metáfora para a vida, que é marcada por momentos de alegria e tristeza, de leveza e de peso. A valsa, como ritmo musical, representa a complexidade da experiência humana, que não se resume a momentos de felicidade ou de sofrimento, mas a uma constante oscilação entre ambos.

05 – Qual o papel da linguagem poética na construção do sentido do poema?

      A linguagem poética desempenha um papel fundamental na construção do sentido do poema. A repetição de estruturas sintáticas e a utilização de versos curtos e rimados conferem ao texto um ritmo musical que evoca a dança da valsa. A simplicidade da linguagem e a ausência de adjetivos rebuscados contribuem para criar uma atmosfera de informalidade e autenticidade, aproximando o leitor do "eu" lírico.

 

 

POESIA: ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poesia: Romance II ou Do Ouro Incansável

             Cecília Meireles

Mil BATEIAS vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzArYc3xGdTp-fqBCI9GdV51N18ibAdZDqCNF6QOVV8yGbQiSzkpq5nben-RC1dhL7RIRk3xkhJmKD_pslBJg6aybjVjIC2H_S_JNGvvsfoZgN2T7ZSZGBz6-LmYqETHeoKk34M4DexGP5GhGl-Kuuz9wHWNPNQgrL4eVkDHTsATPTdtPXqFX6awKRLG4/s1600/FLOR.jpg


De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho . . .
É tão claro! — e turva tudo:
honra, amor e pensamento.

Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.

Pelos córregos, definham
negros a rodar bateias.
Morre-se de febre e fome
sobre a riqueza da terra:
uns querem metais luzentes,
outros, as redradas pedras.

Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.

Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
— mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.

Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.

Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.

Cecilia Meireles. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 288.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal atividade descrita no poema e quais são suas consequências?

      A atividade principal descrita é a mineração do ouro. Suas consequências são diversas e abrangentes, indo desde a transformação da paisagem (com a abertura de minas e galerias) até a transformação da sociedade, com o surgimento de desigualdades sociais, crimes e conflitos. O ouro, inicialmente visto como algo valioso e desejável, acaba por corromper e destruir.

02 – Como o ouro é retratado no poema? Quais são seus poderes e suas perversões?

      O ouro é retratado como uma força ambígua. De um lado, é visto como um metal precioso, capaz de trazer riqueza, poder e prestígio. De outro, é apresentado como a raiz de todos os males, corruptendo aqueles que o buscam e causando sofrimento e morte. O ouro é capaz de transformar a natureza, a sociedade e até mesmo a alma humana.

03 – Quais são os diferentes grupos sociais retratados no poema e como eles são afetados pela busca pelo ouro?

      O poema retrata diversos grupos sociais, como os mineradores, os proprietários de terras, os contrabandistas, os reis e o povo em geral. Todos são afetados pela busca pelo ouro, cada um à sua maneira. Os mineradores sofrem com as condições de trabalho, as doenças e a morte. Os proprietários de terras se enriquecem, mas vivem em constante disputa por mais poder. Os contrabandistas exploram a situação caótica para obter lucros. Os reis exigem cada vez mais tributos, enquanto o povo sofre com a miséria, a opressão e a violência.

04 – Qual a relação entre o ouro e a natureza no poema?

      A relação entre o ouro e a natureza é marcada pela destruição. A busca pelo ouro leva à exploração desenfreada dos recursos naturais, causando danos irreversíveis ao meio ambiente. As minas e as galerias destroem a paisagem, enquanto a contaminação dos rios e do solo afeta a vida de todos os seres vivos.

05 – Que sentimentos e emoções são transmitidos pelo poema?

      O poema transmite uma ampla gama de sentimentos e emoções, como a ambição, a cobiça, a inveja, o ódio, a tristeza, a angústia e a desesperança. A busca pelo ouro é retratada como uma força destrutiva que corrompe os corações dos homens e leva à ruína da sociedade.

06 – Qual a crítica social presente no poema?

      A crítica social presente no poema é direcionada à sociedade colonial, marcada pelas desigualdades sociais, pela exploração, pela violência e pela corrupção. A busca pelo ouro é utilizada como metáfora para denunciar os excessos e os vícios daquela época.

07 – Qual o papel da linguagem poética na construção do sentido do poema?

      A linguagem poética desempenha um papel fundamental na construção do sentido do poema. As metáforas, as comparações, a musicalidade dos versos e a escolha cuidadosa das palavras contribuem para criar uma atmosfera densa e carregada de significado. A linguagem poética permite que o leitor visualize as cenas descritas, sinta as emoções dos personagens e compreenda a complexidade da temática abordada.

 

 

POEMA: O CORVO - (FRAGMENTO) - EDGARD ALLAN POE - COM GABARITO

 Poema: O CORVO – Fragmento

             Edgar Allan Poe

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipGcUt4JT05ur9UMKW1TEUQZ7VmdULJB4so5flWFWm087eArDd4IAUpinvchEzJkd47fAG0JRN1HrsBRXWiF0rbhv2bNotcymTI7R7Y_eWufkqhYftd3jTb8RSN__mN2Qp7X6DS9CwDWnQrMl20CTcxEIewRzh-tALKGLhu5W9FY-JgE1ZmhhGDhtpjsE/s320/Corvus-brachyrhynchos-001.jpg 


.
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

[...]

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o Corvo, “nunca mais”.

[...]

“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta! –
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida,
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.

“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo”, eu disse. “Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.

E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh’alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!

POE, Edgar Allan. Três poemas e uma gênese com traduções de Fernando Pessoa. Lisboa: & etc. Você encontra o texto original, em inglês, e a tradução completa de Fernando Pessoa no endereço http://www.lsi.usp.br/art/pessoa/coligidas/trad/theraven.html No endereço http://thorns.com.br/HTM_Noticias/EdgarAllanPoeHistoria.htm você encontra a tradução de Fernando Pessoa e a de Machado de Assis.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 298-299.

Entendendo o poema:

01 – Qual a atmosfera predominante no início do poema? Como o poeta a constrói?

      A atmosfera predominante no início do poema é de melancolia, solidão e mistério. Poe a constrói através da descrição de uma noite escura e tempestuosa, da leitura de livros antigos e obscuros, e da evocação da figura da amada falecida. A escolha de palavras como "agreste", "triste", "ancestrais", "morrendo negro" e "umbrais" contribui para criar esse clima sombrio e introspectivo.

02 – Qual o papel do corvo na história? O que representa para o narrador?

      O corvo representa um símbolo da morte, da perda e da melancolia para o narrador. Sua aparição na escuridão da noite e sua insistente repetição da frase "nunca mais" intensificam a angústia do protagonista, que busca em vão um alívio para sua dor. O corvo pode ser interpretado como uma personificação da própria morte, que atormenta o narrador com a lembrança da amada perdida.

03 – Qual a importância da repetição da frase "nunca mais" no poema?

      A repetição da frase "nunca mais" tem um efeito hipnótico e obsessivo, reforçando a ideia de que o narrador está preso a um ciclo de dor e sofrimento do qual não consegue escapar. Essa repetição também enfatiza a irreversibilidade da morte e a impossibilidade de reencontrar a amada.

04 – Como a figura da amada falecida é representada no poema? Qual o seu papel na história?

      A amada falecida é representada como uma figura idealizada e inalcançável. Seu nome não é revelado, o que a torna ainda mais misteriosa e desejada. A presença da amada na memória do narrador intensifica sua solidão e sofrimento, e a impossibilidade de reencontrá-la o leva a uma profunda depressão.

05 – Quais as emoções predominantes no narrador? Como elas se manifestam no poema?

      As emoções predominantes no narrador são a tristeza, a angústia, a solidão e a desesperança. Essas emoções se manifestam através de suas reflexões sobre a morte da amada, da busca por um alívio para sua dor e da interação com o corvo. A linguagem poética, marcada por imagens sombrias e vívidas, contribui para transmitir a intensidade dessas emoções.

06 – Qual o papel da atmosfera gótica na construção do poema?

      A atmosfera gótica, caracterizada por elementos como o mistério, o terror, a morte e o sobrenatural, desempenha um papel fundamental na construção do poema. Ela cria um clima de suspense e angústia, intensificando as emoções do narrador e do leitor. A presença do corvo, da noite escura e da figura da amada falecida são elementos típicos do gótico que contribuem para a construção dessa atmosfera.

07 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema pode ser interpretada como uma reflexão sobre a natureza da dor, da perda e da morte. Poe explora a intensidade do sofrimento humano diante da finitude e da impossibilidade de controlar o destino. A história do narrador serve como um alerta sobre os perigos da obsessão e da melancolia, e a importância de buscar um significado para a vida mesmo diante da dor.