sábado, 11 de maio de 2024

CRÔNICA: REIS DO CONSUMO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Reis do Consumo

                Walcyr Carrasco

Tenho mania de comprar livros. É uma fixação, pois acabo levando para casa muito mais do que consigo ler. Frequentemente, faço a promessa de não adquirir mais nenhum. Não cumpro. Basta entrar em uma livraria para descobrir títulos essenciais. Como se o simples fato de ter os livros pertinho de mim aumentasse minha sapiência. (Nossa, há quanto tempo não via a palavra sapiência! Deve ser de algum livro que não li.) 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYAH7h8HYYcOMulJa57-s_LbxGr5UOv0QI02ErPdiEqch1g61aBNJqV6wHnLjqe5eGjoHCxHq-OgQC-Vai0d-Yf0xDBfsFsu-HByVJYvyoOekh5EabVby_PZi-_hlCzcw7bq7Rr8v1ArJbNy0M7vnDVvkO4XQrW6ZQaKfiCSW-S6X2wooyOVbc8ROrBwk/s320/HOMEM.jpg


Faço a festa de vendedores de livros. Cida, a simpática gerente de uma livraria na Vila Madalena, sorri feliz quando me vê entrar. Oferece cafezinho e começa:

         — Olha o que saiu!       

Já me convenceu a levar, certa vez, um catatau romântico de umas quinhentas páginas só porque comentei estar procurando um livro para "me distrair". Uma história tão melosa que botaria um diabético no hospital. Mas esse, pelo menos, li, embora não devesse confessar a ninguém ter gasto tempo com tão baixa literatura. (O pior é que torci pelos personagens!)

Lamentei-me com Cida. Segundo ela disse, meu caso não é dos mais graves.    

— Tive um amigo que comprava os dez volumes da obra completa de Marx, por exemplo. Ficava sem dinheiro para pagar a pensão. Era despejado e acabava deixando os livros. Ia para outra e, novamente, comprava a coleção. Era despejado mais uma vez. Dava pena.

Minha loucura é especial, pois se restringe a livros e, pasmem, sabonetes cheirosos. Não posso ver um sabonete diferente. Compro. Como sou alérgico, jamais posso usá-lo. Jogar fora, nem pensar. Seria desperdício demais. Dezenas de sabonetes empesteiam minhas gavetas. Um amigo é assim com roupas. Ligou-me para avisar de uma liquidação numa loja elegante. Expliquei que não precisava de nada.

— Mas você não pode perder as ofertas!

Recusei-me a ir. Ele me tratou como se eu tivesse uma grave falha emocional. Na sua opinião, só uma personalidade problemática não aproveitaria a chance de torrar uma grana em calças e camisas. Mais tarde veio me visitar feliz da vida.

— Comprei uma calça preta!

— Outra?

Tem quatro ou cinco. Nem usa todas. E incapaz de, resistir a uma roupa bonita. A mãe de outro amigo adorava sapatos. Mostrou-me o armário cheio. Nem que fosse a pé daqui até as Cataratas do Iguaçu gastaria tanta sola. Era capaz de se emocionar com um par de escarpins de couro de cobra.

— Não são lindos? — mostrava, os olhos marejados com tanta formosura.

Alguns nunca punha, para não estragar. Adorava contemplá-los, como Ali Babá ao tesouro.

A mania de comprar não tem nada a ver com classe social ou necessidade. Já vi gente com pouquíssimo dinheiro entrar em um brechó e sair de sacola carregada de inutilidades. A última loucura de consumo é a do sujeito que adora vinhos. Não estou falando de conhecedores, que identificam uma safra pelo aroma. Más de gente como eu, capaz de confundir qualquer vinagre mais encorpado com um tinto especialíssimo. Tornou-se chique conhecer vinhos, ter adega. Fui visitar um amigo em sua nova casa no Morumbi Lá pelas tantas me arrastou até um armário repleto. Mostrou garrafa por garrafa.

 — Esta custou tanto, esta tanto...

Observei, de olhos arregalados. Qual seria o sabor de vinhos daqueles preços? Comentei, amigável: Deve ser uma delícia tomar um vinho desses.

Assustou-se:

— Tomar? Nunca.

Não escondi minha surpresa. Explicou candidamente: Tenho dó. São muito caros para ficar bebendo.

Dá para entender?

Entendendo o texto

01. Qual é a fixação do narrador que é mencionada no texto?

a. Comprar livros e perfumes.

b. Comprar livros e roupas.

c. Comprar livros e vinhos.

d. Comprar livros e eletrônicos.

02. O que o narrador lamenta ter comprado, mesmo sendo alérgico e incapaz de usar?

a. Livros melosos.

b. Sabonetes cheirosos.

c. Roupas elegantes.

d. Garrafas de vinho caro.

03. Qual era a loucura de consumo do amigo do narrador que o levou a comprar os dez volumes da obra completa de Marx repetidamente?

a. Livros de arte.

b. Roupas de grife.

c. Perfumes raros.

d. Garrafas de vinho caro.

04. O que a mãe de outro amigo adorava colecionar?

a. Livros antigos.

b. Relógios de pulso.

c. Sapatos.

d. Brinquedos de infância.

05. O que o amigo do narrador adquiriu em uma liquidação, mesmo já tendo várias?

a. Livros.

b. Sabonetes.

c. Calças pretas.

d. Garrafas de vinho.

06. Qual era a reação do narrador ao ver o armário cheio de garrafas de vinho caro na casa do amigo?

a. Ficou impressionado e com vontade de experimentar.

b. Ficou surpreso e questionou se ele realmente os bebia.

c. Ficou desconfiado da autenticidade das garrafas.

d. Ficou com inveja da coleção do amigo.

07. Qual é a última loucura de consumo mencionada no texto?

a. Comprar livros raros.

b. Comprar roupas de grife.

c. Comprar garrafas de vinho caro.

d. Comprar itens inúteis em brechós.

08. O que o amigo mencionado no texto nunca faz com as garrafas de vinho caro que compra?

a. Vende.

b. Bebe.

c. Presenteia.

d. Exibe.

09. Qual é a conclusão final do narrador sobre a mania de comprar?

a. Está relacionada com classe social.

b. Está relacionada com necessidade.

c. Está relacionada com emoções e comportamento.

d. Está relacionada com a influência da mídia.

10. Qual é a característica marcante dos colecionadores e compradores mencionados no texto?

a. São todos conhecedores profundos de seus itens de coleção.

b. São todos incapazes de usar ou consumir seus itens.

c. São todos influenciados pela mídia e tendências sociais.

d. São todos impulsionados por emoções e impulsos de consumo.

 

 

CRÔNICA: A SEREIA E O MERGULHADOR - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: A Sereia e o Mergulhador

                Walcyr Carrasco

 Amor pela internet? Nada mais comum hoje em dia. Meg Ryan e Tom Hanks não se conheceram assim em Mensagem para Você. Por que eu não posso ter a mesma sorte? Teclar e dar de cara (ou melhor, de teclas) com Meg Ryan! Romeu e Julieta não se amaram em uma sacada de pedra? Muito mais confortável descobrir a alma gêmea numa cadeira macia, comendo batatinhas fritas e entrando nas salas de bate-papo da internet. Ouvi histórias. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMdxJlpA2YfIe6yPrCyhcqpANKoO0PpvUQZMvzypgM0Y3zXjBrbmF1T1Aa1efYy-eHybrb5Jm-EQm3_-3lVO-NwezxqzPuuOuuHjNPJBNpibkbuw6oUH3qp-r_nAr0-TpwAl14PA2oeegNRs2i0AmVkSVa5_tsOxziwZYBoMkr-rvrBnBstU5FyoOKMoY/s320/SEREIA.jpg


Uma jovem casou-se dessa forma com um alemão. Só se viram em Berlim, um ano depois do primeiro contato. Mandou um postal com letra trêmula, dizendo que estava muito feliz, embora nunca mais tenha enviado nenhuma outra notícia. Como conhecer alguém numa cidade onde todos são anônimos? Certa moça foi à luta pela internet. Buscou o amor sob o pseudônimo de "Gata Amorosa". Recebeu cantadas com detalhes impublicáveis da anatomia masculina. Tentou "Sereia". Entrou em uma sala de conversa para casais. Choveram mensagens. Descartou imediatamente o "Garanhão" e "Marido/SP", por oferecerem poucas perspectivas de amor eterno.

Foi quando o "Mergulhador 27/SP" respondeu:

— Tenho 1,80 metro, 71 quilos, cabelos castanho-claros.

Gosto de mergulhar. E você, como é?

   Por prudência, inspirou-se em "A Pequena Sereia", a original.

— Sou do tipo mignon, 1,60 metro, loira e muito romântica. Tenho 23 anos. Adoraria trabalhar em um programa infantil. 

Trocaram e-mails. Durante as semanas seguintes, escreveram-se todos os dias. Dispararam confidencias. Falaram de amor.

Só faltava um detalhe: conhecerem-se pessoalmente. Hesitaram.

A hora da verdade sempre dá medo. Finalmente, marcaram o encontro, na área de alimentação do Shopping Paulista. "Se for um estrangulador, é mais seguro", pensou a romântica, mas prática Sereia. 

Foi de preto, como combinado. Passou vinte minutos à procura do Mergulhador. Deveria estar com uma camiseta e casaco de couro. Finalmente, bateu os olhos em um sujeito calvo, de bigodes grisalhos, tipo cantor de tango aposentado. Quando ia fugir, ele ergueu a cabeça e... sorriu! Não de felicidade, mas de susto.

- Sereia????????????

— Mergulhador????????????.

— Pensei que você fosse mais magra.

— Eu era, mas andei comendo muito doce... Foram só uns quilinhos.

— Não me leve a mal, é que a idade também...

— Ih, será que bati o número errado? — disfarçou, inocente.

Falsa, sim. Irritadíssima também. Aquilo era barriga de mergulhador? Só se ele fosse a âncora do barco.

— E você, não se atrapalha com os bigodes na máscara, quando mergulha?

— Ah! Eu mergulhei uma vez, numa excursão em Cancún.

Gostei muito. Nunca esqueci.

         — E os 27?         .         

— Achei que fosse uma forma de começar a conversa. As pessoas são muito preconceituosas quando a gente conta a idade verdadeira. Não tenho ido muito à praia por falta de grana.

Era gerente comercial, mas agora montei uma microempresa, estou começando tudo de novo. Você gosta de praia? Quem sabe algum dia a gente vai numa que eu conheço. Tem uma pensão que dá desconto.

Se a moça pudesse, faria um raio cair naquela careca. Ele também a encarava com tristeza. Como ela ficaria de brilho e tiara da Pequena Sereia? Estaria mais para Orca, a baleia assassina, do que propriamente para uma sereia. Tinham vontade de chamar a polícia e acusar um ao outro de falsidade ideológica. Por educação, continuaram conversando. Quando viram, estavam rindo. Sereia, hein? Mergulhador? Pois sim!

Andam se encontrando até hoje. Ela comprou uma tiara da Pequena Sereia só para fazer piada. Amor pela internet é assim. Escreve-se por linhas tortas. Mas até acaba dando certo.

Entendendo o texto

01.Qual foi o pseudônimo usado pela moça para buscar amor na internet?

a. Gata Amorosa.

b. Sereia.

c.  Garanhão.

d. Marido/SP.

02. O que motivou a moça a escolher o pseudônimo "Sereia"?

a. Ela adorava a história da Pequena Sereia.

b. Era fã de mergulho.

c. Gostava de se identificar com personagens míticos.

d. Era apaixonada por histórias românticas.

03. Como o casal virtual decidiu se encontrar pessoalmente pela primeira vez?

a. Em um restaurante de luxo.

b. Na área de alimentação de um shopping.

c. Em um parque temático.

d. No aeroporto.

04. Como a moça se vestiu no primeiro encontro?

a. De branco.

b. De vermelho.

c. De preto.

d. De azul.

05. Qual foi a reação inicial da moça ao ver o "Mergulhador 27/SP" pessoalmente?

a. Ficou encantada com a aparência dele.

b. Ficou desapontada e surpresa com sua aparência.

c. Ficou intimidada.

d. Ficou indiferente.

06. Qual foi o motivo dado pelo "Mergulhador 27/SP" para o número 27 em seu pseudônimo?

a. Era sua idade.

b. Era seu número de mergulhos.

c. Era uma referência a algo pessoal.

d. Era um número aleatório.

07. O que a moça pensou em fazer ao ver a barriga proeminente do "Mergulhador"?

a. Fazer piadas sobre mergulho.

b. Chamar a polícia.

c. Fazer um raio cair na careca dele.

d. Fugir do encontro.

08. O que eles acabaram fazendo durante o encontro, apesar das primeiras impressões?

a. Brigaram e foram embora.

b. Riram juntos e continuaram conversando.

c. Decidiram nunca mais se falar.

d. Ficaram em silêncio o tempo todo.

09. Como a moça resolveu fazer piada depois do encontro?

a. Comprou uma fantasia de sereia.

b. Comprou uma tiara da Pequena Sereia.

c. Escreveu uma comédia sobre encontros online.

d. Publicou um meme na internet.

10.Qual foi a conclusão sobre o amor pela internet ao final da história?

a. Sempre acaba em decepção.

b. Pode ser imprevisível, mas às vezes dá certo.

c. É uma perda de tempo.

d. Nunca se deve confiar em relacionamentos virtuais.

 

 

quarta-feira, 8 de maio de 2024

CRÔNICA: GUERREIROS DOS MALOTES - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Guerreiros dos Malotes

                 Walcyr Carrasco

 Quatro horas da tarde. Estou subindo a avenida Rebouças e observo a montanha de carros à minha frente. Trânsito lento. Lentíssimo. Ouço música. De repente, sinto uma pancada no carro. Um motoboy acaba de arrasar com meu espelho. Nem se digna olhar para trás. Continua ondulando por entre os carros paralisados. Dá vontade de descer e persegui-lo. Não seria nem para reclamar o espelho de volta. Mas para exigir respeito. No mínimo, um pedido de desculpas. Tarde demais. Ele está longe. Eu, sem retrovisor.

Já sei. Vão acabar dizendo que tenho obsessão pelos problemas de trânsito.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-up1hlIFv1jC-K9R912hOAFEPpjsggMbSkjccO7_2IHsZ4K2O5STCwi6OaTjYB3QtrYH6x_7bcWu5meo3ppuEo94m6vrHDaKwX-GE-_ys9lRUHlinqa-2DPrxqFwqmpGh4oxcnIS5CdRNCMezhDbpsLFf0I74v5i_l6He2O-SrIBhyphenhyphenkUCiEQWR5B0a1g/s1600/REBOU%C3%87AS.jpg

Que durmo pensando em semáforos, assim como tenho pesadelos com minha barriga. Pode ser. Ando louco com os motoboys. Nada mais prático do que usar moto numa cidade como a nossa. Motoboys são uma categoria à parte. Encolhem se para passar entre os carros, atravessam as ruas em diagonal. Pintura raspada é detalhe sem importância. Outro dia uma amiga conversava comigo de janela aberta, o braço para fora. Ouviu um barulhinho, instintivamente puxou o braço. Por um triz não perdeu o cotovelo.

— Ei! Toma cuidado! — gritou.

Como sempre, o rapaz nem diminuiu a velocidade para conferir.

Quando o trânsito flui, também não é fácil. As motos parecem surgir do nada. Cortam pela direita, atravessam na frente, empinam para a esquerda. Sair no Itaim-Bibí domingo à noite é arriscadíssimo. O motivo: a maré de motoboys entregando pizzas. Paulistano que se preza adora uma pizza aos domingos. O Itaim-Bibi possui uma das maiores concentrações de devoradores de pizza do planeta. Pelo menos é o que me contou um morador do bairro. É uma correria total, para que as pizzas cheguem quentinhas. Enquanto isso, os transeuntes correm para não ser atropelados pelas calabresas, margheritas e mussarelas. Às vezes ocorrem tragédias. A família senta-se à mesa, os estômagos ronronam. Abre se a caixa. O presunto da meia portuguesa rolou sobre a meia mussarela. Â família passa parte do jantar arrumando o presunto e capturando as azeitoninhas pretas que se espalharam pela tampa toda. Motoboys têm seus truques. Um deles me explicou:

— E mole cortar ônibus. Presto atenção ao motor. Se está baixinho, é que ainda está pegando passageiro, e eu entro em cima. Se o barulho aumenta, danou-se!

Bela filosofia de vida, não?

Um amigo teve o capo atingido por um apressadinho. Desceu do carro pronto para pegar o número da chapa, fazer ocorrência. Todos os motoboys que passavam por perto perderam a pressa. Pararam em torno, ameaçadores. Unidos.

— Que foi aí?

O motorista passou de vítima a agressor. Em cinco segundos a história era outra. Começaram a ameaçar. Meu amigo refugiou-se no carro, antes que apanhasse.

E uma profissão sofrida. Não se ganha muito, trabalha-se no sol e na chuva. Existe uma complacência a respeito do assunto, devido à questão social. O que se lucra com isso? Entre eles, defendem-se como se pertencessem a uma tribo guerreira. Dirigir moto parece despertar esse tipo de reação. O sujeito se sente cavalgando um corcel árabe pelas dunas do deserto. Mesmo que esteja apenas entregando um malote de burocráticas cartas comerciais. Por baixo do capacete vive um tuaregue. Um beduíno prestes a enfrentar a guarda do sultão e resgatar uma odalisca do harém. Mas e eu, como fico? Só quero sair de um lugar e chegar inteiro a outro. Meu sonho é dirigir sem ter um infarto em cada cruzamento. A salvo dos guerreiros dos malotes.

 Entendendo o texto

 01. Qual é o incidente que acontece com o carro do autor enquanto ele está no trânsito?

a) Um pneu furado.

b) Uma colisão traseira.

c) Um arranhão na pintura.

d) O retrovisor é danificado por um motoboy.

    02. Qual é a reação do motoboy após danificar o retrovisor do carro do autor?

          a) Ele pára para  pedir desculpas.

          b) Ele continua seu caminho sem se importar.

          c) Ele volta para consertar o estrago.

          d) Ele chama a polícia para resolver a situação.

    03. Por que o autor menciona ter pesadelos com sua barriga no início da crônica?

          a) Ele se preocupa com sua saúde.

          b) Ele faz uma analogia entre suas preocupações e o trânsito.

          c) Ele tem medo de dirigir.

          d) Ele teme a má alimentação.

    04. O que o autor observa sobre os motoboys em relação ao trânsito?

          a) Eles obedecem rigorosamente às regras de trânsito.

          b) Eles são rápidos e eficientes para se locomover na cidade.

          c) Eles frequentemente causam acidentes e ignoram os outros motoristas.

          d) Eles preferem usar carros em vez de motos.

    05. O que acontece quando o trânsito flui, de acordo com o autor?

          a) As motos desaparecem.

          b) As motos parecem surgir repentinamente.

          c) Os carros se movem lentamente.

          d) As ruas ficam vazias.

    06. Qual é a situação específica que torna arriscado sair no Itaim-Bibí domingo à noite?

          a) A presença de pedestres distraídos.

          b) A alta concentração de motoboys entregando pizzas.

          c) O trânsito intenso de carros.

          d) O fechamento das ruas para eventos.

   07. Como os motoboys identificam se podem cortar um ônibus, de acordo com um deles?

         a) Pela cor do ônibus.

         b) Pelo motor do ônibus.

         c) Pelo barulho do motor do ônibus.

         d) Pela velocidade do ônibus.

    08. O que acontece quando um amigo do autor tenta resolver um acidente envolvendo um motoboy?

         a) O motoboy pede desculpas imediatamente.

         b) Os motoboys que passam ameaçam o amigo.

         c) A polícia intervém rapidamente.

         d) O autor convence os motoboys a resolverem pacificamente.

    09. Como o autor descreve a profissão de motoboy?

          a) Lucrativa e confortável.

          b) Difícil e pouco remunerada.

          c) Despreocupada e relaxante.

          d) Segura e estável.

   10. Qual é o sentimento do autor em relação aos motoboys ao final da crônica?

          a) Admiração pelo seu trabalho árduo.

          b) Incompreensão pela sua maneira de conduzir.

          c) Solidariedade por suas dificuldades.

          d) Frustração e desejo de evitar conflitos.

 

 

CRÔNICA: PEDESTRES À VISTA! WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Pedestres à Vista!

                 Walcyr Carrasco

 Espero ao volante. O semáforo parece demorar horas.

Finalmente, vem o amarelo. Engato a primeira. Vira para verde. Boto o pé no acelerador. Nesse instante, uma senhora pula da calçada para a faixa, correndo com uma criança na mão. Breco ruidosamente. O carro de trás buzina, furioso. Ela corre para aproveitar o último instante antes de os veículos darem a largada. Mostro a luz verde. Olha-me como se eu fosse um alienígena. Pior ainda, um ser sem coração, incapaz de compreender sua pressa em atravessar aquela faixa.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8K6LWuulVWD1bW7AkcrZCy_aAkBHpBZzXzIzA_U-wj1fEXouSzx_WULV8-sM7ZzfsB7qZSgCD3wXu_HCa3qAJpN4Xu1fPA4ShigXA9htd7C1rrMi7C_G2HdDVLcOqJ4-K1guKmckL-jtfrGJsrC60cIfvHtBHx8OdA22_K40TMt1CK2ZNq7cPYS2qMAk/s1600/FAROL.jpg

Compreendo, sim. É a mesma que eu tinha enquanto aguardava o semáforo. Dá vontade de sair do carro e armar um barraco. Não foi só a vida dela e a do filho que ela botou em risco. Como vou me sentir se atropelar alguém? Até poderia ser absolvido nos tribunais. Mas me sentiria péssimo pelo resto da vida. O novo Código de Trânsito tem ajudado a botar os motoristas na linha. E os pedestres?

Já se falou em multar quem anda a pé. Deve ser impraticável. O policial sairia correndo atrás da pessoa, pegaria o número do RG? No cruzamento de qualquer grande avenida, é uma loucura. Vendedores, pedintes, bichos da universidade, distribuidores de folhetos se atiram na frente dos carros com o semáforo fechado. Quando abre, saem em debandada, num salve-se-quem-puder. A polícia multa os carros. Nem liga para o. que vê. Durante muitos anos morei numa chácara próximo a São Paulo. Pegava a Raposo Tavares todas as noites. A maior preocupação que eu tinha era evitar as pessoas que atravessavam a estrada no escuro. Minha baixa velocidade funcionava como uma deixa. Sempre alguém corria na minha frente, cruzando para o outro lado. Dava um frio na barriga! Detalhe: isso acontecia nas áreas próximas a bairros onde existem passarelas. Sei muito bem que passarelas são desconfortáveis. Mas é melhor correr risco de vida?

Sair da garagem também não é fácil. Outro dia, estava dando ré. Um casal correu por trás do carro, como se não pudesse perder um único segundo. Brequei.

Botei a cabeça para fora, reclamei:         

— Ei, não viram que eu estava saindo?

O rapaz revidou de boca cheia:

— A rua é de todos!

Continuou vitorioso, como se tivesse conquistado um campeonato. Eu me pergunto: que pressa é essa? O que ganham com esse. mísero segundo? Dia desses eu estacionava na rua Pamplona. Subida. Tráfego intenso. No exato momento em que embiquei na vaga, um sujeito surgiu na traseira. Enfiei o pé no breque. O motor morreu. Um carro que descia quase levou minha dianteira. Xingaram minha mãe. O responsável nem notou o barulho.. Continuou adiante, feliz da vida. Muitas vezes, ao embicar numa garagem em calçadas movimentadas, vejo um batalhão se atirar no espaço mínimo entre o para-choque e a entrada. Um amigo me aconselhou:

-— Você é tonto. O negócio é acelerar, que eles saem correndo.

Sei que funciona. Também ando a pé. Já vi atirarem carros em cima dos pedestres. Mas que é isso, uma selva? O motorista sempre é visto como agressor. O pedestre, como vítima. No fundo, no fundinho, isso cheira à velha visão da luta de classes. O rico, que tem carro, é o malfeitor. O pobre pedestre, a vítima. Não é por possuir um automóvel que alguém deve ser encarado como um serial killer. Bem que está na hora de os pedestres darem a contrapartida, tornando a vida na cidade um pouco menos selvagem.

Entendendo o texto

01. Qual é a cena inicial descrita no texto?

a) Um semáforo ficando verde.

b) Uma senhora correndo com uma criança na mão.

c) Um carro buzina furiosamente.

d) Um motorista aguardando no volante.

   02. O que a senhora faz que causa a reação do motorista?

         a) Ela atravessa correndo a rua.

         b) Ela acelera quando o semáforo abre.

         c) Ela bloqueia a passagem do carro.

         d) Ela olha para o motorista como se ele fosse um alienígena.

   03. Como o motorista se sente ao ver a senhora correndo com a criança?

         a) Com raiva.

         b) Com compreensão.

         c) Com medo.

         d) Com impaciência.

  04. Qual é a preocupação do motorista ao dirigir próximo a grandes avenidas?

         a) A alta velocidade dos carros.

         b) A presença de vendedores e pedintes na rua.

         c) A necessidade de atravessar passarelas desconfortáveis.

         d) O risco de atropelar pedestres.

   05. Como o motorista descreve a reação das autoridades em relação aos pedestres no trânsito?

         a) Multam os pedestres imprudentes.

         b) Ignoram os problemas dos pedestres.

         c) Estão sempre presentes nas ruas.

         d) Ajudam os pedestres a atravessar.

  06. O que o motorista observa ao sair da garagem?

         a) Um carro em alta velocidade.

         b) Um casal correndo atrás do carro.

         c) Um pedestre distraído.

         d) Um semáforo fechado.

  07. Qual é a atitude do rapaz quando o motorista reclama da pressa dele?

         a) Ele se desculpa.

         b) Ele ri da situação.

         c) Ele responde de forma rude.

         d) Ele acelera ainda mais.

  08. O que o amigo aconselha o motorista a fazer ao sair da garagem?

         a) Acelerar para afastar os pedestres.

         b) Parar e aguardar pacientemente.

         c) Ignorar os pedestres.

         d) Usar buzina para afastar as pessoas.

  09. Qual é o sentimento do motorista em relação à situação descrita no texto?

         a) Indiferença.

        b) Raiva.

        c) Compreensão.

        d) Impaciência.

    10. Qual é a crítica principal do autor sobre o comportamento no trânsito?

         a) A falta de fiscalização sobre os pedestres.

         b) O desrespeito dos pedestres em relação aos motoristas.

         c) A falta de passarelas seguras para pedestres.

         d) A visão injusta da sociedade sobre motoristas e pedestres.

 

POEMA: MEU ANJO - ÁLVARES AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Meu anjo

              Álvares Azevedo

 Meu anjo tem o encanto, a maravilha     

Da espontânea canção dos passarinhos;         

Tem os seios tão alvos, tão macios

Como o pelo sedoso dos arminhos.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmcuL2u-fcxCVXJ7mY4ZR5szzmvKU4FXHyoUcsX_wLcO7FfhdHraAhYVWf7OdEGKJR5Bkhx9mBoxvm7MUHQgSPJRR_KKL-175pSaYUW8ZOzu3rjWmD1FqXHwmdfAxdX335ye4nNyupgFbl6-tOYIECdxxcBkkKWNYHCXculnKtRCwuKywTF0LJZEKf6rM/s1600/ANJO.jpg 

         

Triste de noite na janela a vejo

E de seus lábios o gemido escuto.          

É leve a criatura vaporosa     

Como a frouxa fumaça de um charuto.

 

Parece até que sobre a fronte angélica  

Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...

Formosa a vejo assim entre meus sonhos

Mais bela no vapor do meu cachimbo

 

Como o vinho espanhol, um beijo dela

Entorna ao sangue a luz do paraíso.

Dá morte n’um desdém, n’um beijo vida,

E celestes desmaios num sorriso!

 

 Mas quis a minha sina que seu peito

 Não batesse por mim nem um minuto,

 E que ela fosse leviana e bela

 Como a leve fumaça de um charuto!

 (Alvares de Azevedo)

Texto e questões extraídas da obra: Cereja, William Roberto. Português contemporâneo: diálogo, reflexão e uso, vol. 2. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p. 51-52)

 

Entendendo o texto

01. O poema apresenta em sua composição vários elementos antitéticos. Observe o retrato da figura feminina apresentado na primeira estrofe do poema.

a.   Que elementos, nessa estrofe, sugerem a pureza e a inocência da mulher amada?  

         Os elementos que sugerem a pureza e a inocência da mulher amada na primeira estrofe são "encanto" e "maravilha", comparando-a à canção espontânea dos passarinhos e descrevendo seus seios como "alvos" e "macios", como o pelo sedoso dos arminhos.

      b. Que elementos são indicativos da corporeidade e da sensualidade da mulher amada?  

          Os elementos indicativos da corporeidade e da sensualidade da mulher amada na primeira estrofe são a descrição de seus seios como alvos e macios, sugerindo uma imagem física e sensual.

02. A partir da segunda estrofe, o eu lírico passa a associar a figura feminina a elementos mais prosaicos.

       a. Quais são esses elementos?  

           Os elementos mais prosaicos associados à figura feminina na segunda estrofe são a tristeza noturna, o gemido dos lábios dela que o eu lírico escuta, e a comparação da criatura com a frouxa fumaça de um charuto.

      b. O que esses elementos prosaicos têm em comum?  

          Esses elementos prosaicos têm em comum a natureza efêmera e leveza, como a fumaça de um charuto.

      c. Considerando as respostas dos itens anteriores, levante hipóteses:  O que essas associações feitas pelo eu lírico sugerem quanto à figura feminina?  

           As associações feitas pelo eu lírico sugerem que a figura feminina, apesar de sua aparente pureza e encanto na primeira estrofe, é vista como algo fugaz e insubstancial, como a fumaça do charuto, denotando uma visão mais terrena e menos idealizada.

03. A imagem da mulher se modifica conforme o eu lírico esteja situado no mundo dos sonhos ou no mundo da realidade. Em que consiste essa mudança? Justifique sua resposta com elementos do texto.

A mudança na imagem da mulher ocorre conforme o eu lírico oscila entre o mundo dos sonhos e da realidade. Nos sonhos, ele a vê formosa e bela entre seus sonhos, mais sublime e idealizada. Na realidade, percebe sua leveza e fugacidade, comparando-a à fumaça do charuto, o que sugere uma visão mais terrena e desiludida.

04. No poema:

a. A mulher amada retribui o amor do eu lírico? Justifique sua resposta com trechos do texto.

       Não, a mulher amada não parece retribuir o amor do eu lírico. O trecho "Mas quis a minha sina que seu peito / Não batesse por mim nem um minuto" indica que o eu lírico lamenta que o sentimento não seja recíproco.

b. Que sentimentos o eu lírico expressa diante da postura de sua amada?

     O eu lírico expressa sentimentos de tristeza e desilusão diante da postura da amada, lamentando a falta de reciprocidade e a superficialidade da relação, representada pela comparação dela com a leve fumaça de um charuto.