quarta-feira, 21 de junho de 2023

CRÔNICA: O MARRECO QUE PAGOU O PATO - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

 CRÔNICA: O MARRECO QUE PAGOU O PATO

                    Carlos Eduardo Novaes

 Semana passada, São Paulo, apesar de toda fama de que não pode parar, parou. E não foi num congestionamento. Parou para discutir o caso do marreco Quércia e sua marreca Amélia, presos e engaiolados durante 24 horas sob a acusação de poluírem o meio ambiente. Diante do fato eu fico aqui pensando que os paulistas já devem ter resolvido todos os seus grandes problemas urbanos. Sim, claro: quando um povo começa a prender marrecos é porque não tem mais nada para fazer.

  

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O marreco Quércia - deixa-me explicar - ganha a vida honestamente como relações-públicas da casa Agro Dora, na Rua da Consolação, 208. Em seu trabalho passa os dias inteiros circulando pela calçada e atraindo fregueses para a loja. Na segunda-feira o gerente da loja foi surpreendido com a presença de um fiscal, que muito compenetrado perguntou se o marreco era de sua propriedade. Diante da resposta positiva, virou-se para o gerente e pediu:

"Seus documentos?". Leu atentamente um por um, devolveu-os e disse: "Agora deixe-me ver os documentos do marreco".

- O marreco não tem documentos - respondeu o gerente.

- Nenhum? Nem título de eleitor? Certificado de reservista? Nada? Então eu acho que vou ter que prender o seu marreco.

- O senhor não pode fazer uma coisa dessas - ponderou o gerente. - Não há nenhuma lei que obrigue marrecos a ter documento.

- Não há? - desconfiou o fiscal. - Então espere um momentinho.

Foi ao telefone e ligou para o chefe da repartição: "Alô, chefe? Encontrei um marreco passeando pela rua sem documento".

- Que está esperando? - vociferou o chefe. - Prenda-o por vadiagem.

- Mas, chefe, é um marreco. Precisamos de uma lei para enquadrá-lo. O senhor sabe qual é o número dessa lei?

- Não tenho a menor ideia.

- Então pergunta se alguém aí sabe.

 - Alguém aí sabe - perguntou o chefe, voltando-se para os funcionários da repartição - quais são os documentos que um marreco necessita para transitar livremente pelas ruas?

Não. Ninguém sabia. O chefe então sugeriu que o fiscal procurasse outro motivo para prender o marreco. "Mas que motivo?", perguntou o fiscal, que era meio duro de imaginação.

- O marreco está nu? - Indagou o chefe. - Então prenda-o por atentado ao pudor.

O fiscal parou um pouco, pensou e não se lembrou de ter visto jamais um marreco vestido. Não, essa era demais. O chefe, já pensando no almoço de domingo, insistiu: "O marreco está parado em cima da calçada?".

- Está.

- Então prenda-o por estacionar em local proibido.

"Boa ideia", pensou o fiscal. Voltou ao gerente, que estava parado na calçada ao lado do marreco, disfarçou, disse que iria perdoar, disse que iria perdoar a falta de documentos, "mas infelizmente tenho que levar o seu marreco por estar parado em local não permitido".

- Esta certo - concordou, irritado, o gerente -, mas então chama o guincho.

- Pra que guincho?

- Meu marreco só sai daqui rebocado.

Formou-se a maior confusão em torno do marreco. O fiscal querendo levá-lo de qualquer maneira, e o gerente, apoiado por dezenas de populares, defendendo a inocência do marreco. Nisso, chegou um segundo fiscal pouquinha coisa mais inteligente que o primeiro e decretou: "O marreco não pode ficar solto, é um agente da poluição".

- Agente de quem? - espantou-se um balconista da loja. - Garanto que não.

O Quércia trabalha aqui há mais de dois anos.

- E daí? - interveio um popular que estava do lado do fiscal. - Ele pode ter dois empregos. Vai ver que quando sai daqui faz um bico em alguma agência.

- E você acha que o marreco, com esse bico, ainda precisa fazer outro?

- A acusação é injusta - interrompeu o gerente -, o marreco não pode ser acusado de poluir. Se eu tivesse aqui um elefante soltando fumaça pela tromba está certo, mas o Quércia nem fuma.

- Não interessa - afirmou o segundo fiscal, meio agressivo -, isso o senhor explica lá para o chefe.

O marreco entrou na sede da Administração Regional da Sé cheia de ginga.

Imediatamente o chefe destacou um funcionário para qualificá-lo: nome, endereço, estado civil, essas coisas.

De gravata e camisa de manga curta, o burocrata sentou-se à máquina e começou: "Nome?". O gerente com o marreco no colo respondeu: "Quércia".

- Quércia de quê?

- De nada.

- Como de nada? Ele não tem família?

- Tem. É da família dos anatídeos.

- Então - prosseguiu o funcionário batendo na máquina -, Quércia Anatídeo.

Terminada a ficha o burocrata abriu uma gaveta e, enquanto procurava o material para tirar as impressões digitais, disse ao gerente:

- Me dá aí o polegar do marreco.

- O marreco não tem polegar - desculpou-se o gerente.

- Não? - disse o funcionário já contrariado porque não encontrava as almofadas para carimbos. - Então me dá o indicador.

- O marreco também não tem indicador.

- E o anular, tem?

- Também não, senhor.

- Poxa - chateou-se o burocrata -, então me dá aí qualquer dedo que estiver sobrando.

O gerente precisou explicar que marreco não tinha dedo. Tinha pata. Ainda assim o funcionário já meio perturbado entendeu que o gerente se referia à companheira do marreco e perguntou: "Uma pata?".

- Não. Duas.

- E ele vive bem com as duas?

Custou pouco para desfazer a confusão. Encerrada essa fase, o funcionário encaminhou-se para outra sala, onde o marreco teria que tirar umas fotos três por quatro de identificação.

O fotógrafo, repetindo gestos tão automáticos quanto a máquina, mandou o marreco subir na cadeira, esticar bem o pescoço, olhar para a frente e não se mexer. O marreco, mesmo sem entender nada, seguiu as instruções do fotógrafo. Quando enfiou a cabeça por debaixo do pano preto - a máquina era daquelas antigas -, observou pelo visor que alguma coisa estava errada. Tornou a levantar a cabeça e indagou do funcionário: "Nós vamos fotografá-lo assim?.

- Assim como? - indagou o funcionário sem entender.

- Sem gravata?

- Não sei - disse o funcionário meio reticente -, mas eu acho que marreco não precisa botar gravata.

- Acho melhor botar uma gravata nele - retrucou o fotógrafo -, você sabe como é o chefe: já disse que foto só de gravata.

O funcionário tirou sua gravata, pediu um paletó emprestado a um datilógrafo, tiraram as fotos necessárias e depois engaiolaram o marreco. E não é que no dia seguinte a poluição em São Paulo diminuiu sensivelmente...

NOVAES, Carlos Eduardo. A cadeira do dentista e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1995. p. 77-81.

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p 188-193.

Vocabulário

compenetrado: concentrado.

certificado de reservista: documento utilizado para comprovar

que o cidadão prestou serviço às Forças Armadas do Brasil.

ponderou: considerou, expôs com prudência e calma.

vociferou: berrou, reclamou aos gritos.

transitar: percorrer, caminhar.

atentado ao pudor: ato ofensivo à decência, honra, dignidade de alguém.

ginga: movimento de balançar o corpo de um lado para outro, expressão corporal de quem caçoa.

qualificar: avaliar, emitir opinião a respeito de algo.

burocrata: (pejorativo) pessoa que, por achar de grande prestígio seu cargo burocrático, exorbita de suas funções e assume atitudes intoleráveis no desempenho dessas funções.

anatídeos: família de aves que inclui patos, marrecos, cisnes.

reticente: que hesita ou age com cautela.

retrucou: respondeu de modo imediato.

ENTENDENDO O TEXTO

01. Essa crônica foi escrita por Carlos Eduardo Novaes, conhecido cronista brasileiro.

         a) Qual é a finalidade da crônica de Carlos Eduardo Novaes?

             Despertar reflexões e divertir o leitor.

         b) Qual é o assunto da crônica?

              A história de um marreco que foi preso sem motivo algum.

         c) Sua hipótese sobre o assunto da crônica foi confirmada? Explique.

             Resposta pessoal.

      02. O cronista narra um evento, um pequeno acontecimento, tomando o tema para discutir:

          a) a situação dos patos que são utilizados em atividades comerciais.

          b) a burocracia que leva a situações absurdas no dia a dia das pessoas.

         c) o envolvimento de pessoas estranhas ao caso no desenrolar do conflito.

     03. Converse com os colegas e verifique quais afirmações a seguir se referem adequadamente à crônica lida.

a) Trata-se de uma história curta, com narrador, personagens, tempo e espaço.

         b) Leva à reflexão sobre um problema social.

         c) Faz crítica por meio do humor.

         d) Apresenta trechos narrativos, mas não é considerada como narrativa por apresentar diálogos e descrições.

         e) Trata de um tema atual.

         f) Tem como ponto de partida uma cena ou uma questão do cotidiano.

  04. “O marreco que pagou o pato” é uma crônica narrativa, pois apresenta uma história com começo, meio e fim e tem elementos próprios das narrativas (personagens, tempo, espaço, narrador), assim como acontece no conto, na fábula, no causo, etc.

a) O cronista escolheu o ponto de vista da 3a pessoa. É um narrador que apenas observa e conta o que viu ou parece conhecer os sentimentos dos personagens? Identifique um trecho que exemplifique sua resposta.

Ele parece saber o que se passa no interior dos personagens. Possibilidades: “O fiscal parou um pouco, pensou e não se lembrou de ter visto jamais um marreco vestido.” / “’Boa ideia’, pensou o fiscal.”

b) As narrativas costumam organizar-se nestas partes, que você já conhece.

Situação inicial        Desenvolvimento (ações)      Complicação

Clímax (o ponto mais tenso)           Desfecho

Indique  que momento da narrativa corresponde à complicação e ao desfecho.

Complicação: Os marrecos são presos.

Desfecho: O marreco é fichado como se fosse um criminoso.

 05.Releia estes trechos.

Nisso, chegou um segundo fiscal [...] e decretou: “o marreco não pode ficar solto, é um agente da poluição”.

O funcionário tirou sua gravata, pediu um paletó emprestado a um datilógrafo, tiraram as fotos necessárias e depois engaiolaram o marreco. E não é que no dia seguinte a poluição em São Paulo diminuiu sensivelmente...

a)    Em sua opinião, o narrador acredita que a poluição tenha diminuído depois da prisão do marreco? Explique sua resposta.

Não, ele está zombando da atitude dos burocratas.

b)    Além do contexto, no segundo trecho, qual é a expressão que confirma sua resposta?

Espera-se que os alunos percebam que é a expressão “não é que”, que indica suposta surpresa.

Recursos expressivos

01. A história é narrada em 3a pessoa.

a)   Quem poderia ser esse narrador?

Uma pessoa que teria presenciado os acontecimentos.

b)   Como você o imagina?

Resposta pessoal. Possibilidade: Uma pessoa crítica, irônica e bem-humorada.

c)   Você acha que o narrador poderia ter mesmo presenciado tudo que narra? Explique.

Resposta pessoal.

02. As crônicas podem apresentar uma mistura de trechos narrativos, expositivos (em que se expõem informações para explicar algo), descritivos e opinativos. Indique no caderno se os trechos a seguir são narrativos, expositivos, descritivos ou opinativos.

a)   O marreco Quércia — deixa-me explicar — ganha a vida honestamente como relações públicas da casa A. D. [...]. expositivo

b)   Foi ao telefone e ligou para o chefe da repartição [...].

narrativo

c)    Formou-se a maior confusão em torno do marreco.

narrativo

d)   Sim, claro: quando um povo começa a prender marrecos é porque não tem mais nada para fazer.

opinativo

e)   Nisso, chegou um segundo fiscal pouquinha coisa mais inteligente que o primeiro [...].

opinativo

03. O fiscal e os policiais queriam que o marreco seguisse uma série de normas. Indique algumas dessas normas.

Sugestões: O marreco não pode andar sem documentos, a ave não deveria andar sem roupas nem estacionar em local proibido, o marreco não pode ficar solto, é um agente de poluição.

04. Há momentos em que o narrador conversa diretamente com o leitor, tornando o texto mais informal. Localize um deles.

“O marreco Quércia — deixa-me explicar — ganha a vida honestamente como relações públicas [...].”

CONTO: A HISTÓRIA DE BLIMUNDO (FRAGMENTO) - RECONTADO POR LEÃO LOPES - COM GABARITO

 CONTO: A história de Blimundo

       Recontado por Leão Lopes

[...]

          Era uma vez um boi. Um boi grande, um boiona que se chamava Blimundo.

Blimundo, filho das rochas, possante, calmo e sabedor do mundo, amante da vida e da liberdade, era boi respeitado por todos os seus iguais, e não só pelas ribeiras, pelos campos e pelas vertiginosas montanhas. Amigo da harmonia em todas as coisas, Blimundo nada fazia que contrariasse a justiça e a ordem natural da evolução da vida. Tinha seu próprio entendimento do mundo e da liberdade, que defendia no cotidiano, pelos picos, pelas bordeiras e assomadas.

          Senhor Rei, ao saber da existência de Blimundo, do seu comportamento, de suas convicções e atitudes, que considerava irreverentes em relação às leis estabelecidas no seu reino, não ficou nada tranquilo. Não admitia que boi algum do seu território fugisse à obediência, às demandas dele, senhor todo-poderoso, dono das ribeiras, dos campos, dos lombos e das vertiginosas montanhas, dono de todas as águas e dos trapiches.

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        — Que boi julgava ser Blimundo, que procurava, com o seu exemplo, tornar irreverentes ao Rei todos os outros bois do território real? Que bicho depois faria os trabalhos do campo, faria andar o trapiche […], daria carne para o sustento à grande e pomposa mesa real? Ainda por cima, ele não queria vagabundos no seu reinado, revoltosos e bichos que não acatassem as ordens!

Um Rei é um Rei

Um boi é um boi!

         — E, se mando cortar a cabeça de um boi para o meu jantar, têm que me obedecer! — pensava alto e irritado o Senhor Rei. — Guarda, reúne os soldados, e que tragam o Blimundo, vivo ou morto! — ordenou o Rei.

Saiu a tropa armada de machados, machadins, coletes de ferro, capacete, arpões e afins, espumando, na sede de cumprir a tão real missão.

Subiram rochas, desceram ribeiras, rebuscaram campos em busca de Blimundo. A um dado momento da penosa busca, e de um lombo estratégico, este os detectou e aguardou. No momento decisivo, pensando os heróis do reino – dentro de suas armaduras de ferro e cravo – apanhar o possante, calmo e sabedor do mundo, amante da vida e da liberdade que era Blimundo, não tiveram tempo para mais tarde saber contar como foi.

Blimundo deu conta deles num estilhaçar de machados, machadins, coletes de ferro, capacetes, arpões e afins, com a sabedoria que aprendera das rochas!

Não descansou o Senhor Rei quando soube da notícia.

Vendo que não podia arriscar mais do que restava dos seus heroicos soldados, reuniu os homens valentes do reino e disse:

— Súditos! Eu sou o vosso Rei! O reino está ameaçado por Blimundo, que, arrastando na sua irreverência outros bois, dignos servidores do reino, poderá nos levar à miséria e à fome! A conduta desse Blimundo é verdadeiramente perigosa para a nossa sobrevivência nesses lombos e nessas ribeiras! Quem depois poderá reinar quando todos os bois tomarem a liberdade? Quem fará andar os trapiches? De quem virá a carne para a minha mesa? De quem? Respondam! De quem? Morte ao Blimundo e viva o Rei! — berrou o Senhor Rei.

— Viva o Senhor Rei! — secundaram os súditos.

Estes, fiéis servidores do Rei, obedientes e tementes ao Senhor, armaram-se de facas e facões, paus e forquilhas, fisgas e enxadas e saíram à cata de Blimundo, o possante, calmo e sabedor do mundo, amante da vida e da liberdade, amigo da harmonia entre todas as coisas.

Os súditos, ingênuos e obedientes, galgaram lombos, desceram encostas, palmilharam ribeiras, revolveram furnas até que encontraram o procurado.

Fonte da imagem- https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp6cjFdyf6zFSMoyBtO5BeUSZWwJq5Y4JzvfaCXGMq3FrLeAcFVC3vs-G2Y1zvAbd2jEWnEZpgaK2kTQ0sfS9FhYa9FJGpxA7Kjk1xCnaF3s4SRV6dkiSEA29XhZ6ySMCWY5oD0NKZ2wgV5KbYshdDSAqXrmWy6RKCYGxQmmnRFnzH4gPI8G9vQ0stgL4/s1600/blimundo.jpg


Blimundo já os esperava. Sabia que, pela liberdade que tanto amava, teria que pagar tão alto preço e que o Senhor Rei não desistiria do intento de o transformar, vivo ou morto, num boi subserviente e sem personalidade, num boi que tivesse que acatar as demandas e os abusos do Rei sem se indignar, sem se revoltar.

Deixou os súditos se aproximar e esperou pelo ataque. Foi um encontro rápido e decisivo. Não ficou inteiro um só homem valente do reino, nem faca nem facão, nem pau nem forquilha, nem fisga nem enxada em postura de vir a contar como foi.

Blimundo respirou fundo e angustiado, afastando-se da cena.

Quando chegaram as notícias ao palácio, o Senhor Rei caiu em desespero.

Não tinha mais estratégias de combate ao Blimundo e não podia suportar a ideia de tão perigoso desafiador à solta. É nisto que lhe chega a notícia de um rapazinho criado no borralho de cinza que lhe promete ir buscar Blimundo.

— Quero vê-lo já! — ordenou o Senhor Rei.

Trouxeram o rapaz, e o Rei, espantando, pergunta:

— Tu, menino? Trazer Blimundo? Esse maldito que me desfez um exército e os melhores homens do reino? Como podes trazer-me Blimundo?

— Senhor Rei: dá-me um cavaquinho, um bli d’água e uma bolsa de prentém que eu trago Blimundo. E, como recompensa, quero metade da riqueza do reino e sua codizinha, para com ela casar!

E assim fez o Rei, comprometendo-se com a recompensa.

Com o seu saco de prentém, bli d’água a tiracolo e seu cavaquinho ao peito, sai o rapazinho do palácio, rumo aos campos e às ribeiras, os lombos e as furnas, os picos e atalhos, à cata de Blimundo com uma canção na boca, cantada com todo o sentimento e sem parar:

Oh, Blimundo

Senhor Rei mendé-me bem’shcóbe

Pa bô bé casá q’Vequinha de Praia

Tim-tim ne nhê cavequim

Cop-cop ne nhê prentém

Glu-glu ne nhê bli d’ága

Oh, Blimundo

Senhor Rei mendé-me bem’shcóbe

Pa bô bé casá q‘Vequinha de Praia

Tim-tim ne nhê cavequim

Cop-cop ne nhê prentém

Glu-glu ne nhê bli d’ága

A dada altura, Blimundo, do seu esconderijo, ouve a canção que o encanta.

Levanta as grandes orelhas e se põe à escuta com mais atenção. Quando entende bem a mensagem, deixa o rapazinho se aproximar, pedindo:

— Canta, canta outra vez! Toca o teu cavaquinho!

Oh, Blimundo

Senhor Rei mendé-me bem’shcóbe

Pa bô bé casá q’Vequinha de Praia

Tim-tim ne nhê cavequim

Cop-cop ne nhê prentém

Glu-glu ne nhê bli d’ága

— É verdade que eu vou casar com a Vaquinha de Praia? Não me estás a enganar?

— ingadou Blimundo.

 — Não! — respondeu o rapaz.

— Então vou contigo!

O rapaz pede a Blimundo que se abaixe todo e que o deixe ir montado, porque

o caminho é longo e duro. Blimundo obedece, mas exige:

— Mas... vais a cantar! É tão bonita essa canção...

E assim foram:

Oh, Blimundo

Senhor Rei mendé-me bem’shcóbe

Pa bô bé casá q’Vequinha de Praia

Tim-tim ne nhê cavequim

Cop-cop ne nhê prentém

Glu-glu ne nhê bli d’ága

Oh, Blimundo

Senhor Rei mandou buscar-te

Porque vais casar com a

Vaquinha de Praia

Tim-tim no meu cavaquinho

Cop-cop no meu milho torrado

Glu-glu na minha cabaça de água

De vez em quando, Blimundo perguntava:

— Mas... eu vou casar com a Vaquinha de Praia?

Foram andando, andando, em direção ao

palácio do Rei.

— Não pares de cantar! Canta mais perto do

meu ouvido! — pedia Blimundo.

Oh, Blimundo

Senhor Rei mendé-me bem’shcóbe

Pa bô bé casá q’Vequinha de Praia

Tim-tim ne nhê cavequim

Cop-cop ne nhê prentém

Glu-glu ne nhê bli d’ága

Entretanto, o Senhor Rei, pelo sim, pelo não, e com medo do que viesse a acontecer, mandara a tropa colocar-se em pontos estratégicos do lugar real e ordenara aos súditos que ninguém se mostrasse quando o rapaz aparecesse com Blimundo.

Já o Sol tinha passado para a outra ribeira, quando à entrada do lugar real surgiu Blimundo, pachorrento e feliz, e sobre ele o rapazinho com o seu cavaquinho.

Senhor Rei que esperava no sobrado não queria acreditar no que estava vendo. Impressionado pela grandeza de Blimundo, perguntava a si mesmo como conseguira o rapaz trazer-lhe tão arrostado e temido personagem que muitas noites de sono lhe roubara e muitos estragos ao reino causara.

Blimundo seguiu pela rua principal crivado de olhares de medo e respeito através das frestas das portas e janelas, devidamente trancadas.

Só um amor; só uma velha paixão; só essa grande força arrastaria Blimundo, feliz, calmo e confiante, pela rua que o levaria a enfrentar o Rei, que sempre o perseguira pelos ideais de amor e de liberdade.

Só a correspondente paixão da Vaquinha de Praia e a enorme vontade de a libertar das garras do Rei o levaram a enfrentar com suficiente tranquilidade esse chamado do dono de todas as terras, águas, ribeiras, atalhos, furnas e campos, rochas e lombos.

Chegados junto à entrada do palácio, o rapazinho pediu a Blimundo que o deixasse descer e que o esperasse, pois tinha que pedir o barbeiro ao Rei para lhe fazer a barba antes de o apresentar à Vaquinha de Praia.

O rapaz entra pelo palácio adentro e explica ao Rei o seu plano. Veio com ele um barbeiro com seus apetrechos. Atrás, o Senhor Rei, ansioso pelo desfecho do plano concebido pelo rapaz.

Blimundo, paciente, deixa-se envolver pela toalha e ensaboar, enquanto o Rei e o rapaz assistem com ar triunfante à cerimônia.

Blimundo fecha os olhos imaginando a impaciência da Vaquinha de Praia esperando, enquanto o pincel de barba envolve deliciosamente, com espuma branca e fresca, a sua barba selvagem.

Blimundo deixa-se embalar quase como num sonho, e, num ápice, com um terrível e certeiro golpe de navalha do barbeiro-carrasco, fica o plano consumado. É traiçoeiramente assassinado Blimundo. Seu corpo cai para um lado, e, num estrebuchar de revolta e violência, uma bela patada traseira de toneladas de força atinge o Senhor Rei, que perde aí o seu reinado.

O rapazinho e o barbeiro fogem despavoridos, mas jamais iriam esquecer o último olhar de revolta de Blimundo, o último olhar que os havia de perseguir eternamente.

Blimundo cantou no seu derradeiro fôlego. Cantou na agonia do momento a sua última canção, profunda e condenadora, bela e terrivelmente melancólica, que jamais deixaria de condenar seus assassinos.

E, no grande banquete após a tragédia, cada bocado de carne no prato dos convivas levava o sabor de revolta e da bela e condenadora canção que imortalizaria Blimundo, esse sabedor do mundo e das coisas, amante da vida e da liberdade, amigo da beleza e da harmonia e que nada fazia que contrariasse a justiça e as leis da natureza.

Esta é a história de Blimundo.

LOPES, Leão. A história de Blimundo In: GONÇALVES, Zetho Cunha et al. Dima, o passarinho que criou o mundo: mitos, contos e lendas dos países de língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2013. E-book.

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.166-172.

Vocabulário

arrostado: que desafia ou afronta o adversário.

fisga: atiradeira, estilingue.

borralho de cinza: origem pobre.

pachorrento: lento, calmo.

boiona (crioulo cabo-verdiano): boi muito grande.

bordeiras (crioulo): caminhos íngremes.

assomadas (crioulo): cumes.

lombos (crioulo): elevações no terreno.

machadins (crioulo): machadinhas, pequenos machados.

secundaram: responderam.

fisgas: atiradeiras, estilingues.

furnas: grutas.

Entendendo o texto

01. O narrador conta que Blimundo era calmo, sabedor das coisas do mundo, amante da vida e da liberdade, amigo da harmonia e da justiça e respeitado por todos os seus iguais.

a)   Como Blimundo era visto pelo Rei?

O Rei o considerava desobediente, revoltado, vagabundo e desrespeitoso.

b) Releia estes trechos da fala atribuída ao Rei, dirigindo-se a seus súditos.

A conduta desse Blimundo é verdadeiramente perigosa para a nossa sobrevivência [...]. Quem fará andar os trapiches? De quem virá a carne para a minha mesa?

 Considere a descrição de Blimundo e essa fala do Rei. Que tipo de comportamento o Rei espera de Blimundo?

O Rei espera um comportamento subserviente, que Blimundo obedeça a ordens, que trabalhe sem descanso e que sacrifique sua vida, se necessário, para alimentar os seres humanos.

02. A figura do boi Blimundo, na tradição oral de Cabo Verde, representa alguns ideais e é considerada uma alegoria de resistência à escravatura e ao poder absoluto de um rei autoritário. Quais são os ideais que Blimundo representa?

Espera-se que os alunos reconheçam em Blimundo o desejo de liberdade, de justiça e igualdade para todos.

03. No conto, apenas o boi, um animal, tem nome; os seres humanos são mencionados por sua designação genérica: o Rei, o rapazinho, o barbeiro, os soldados. Por que isso acontece?

Ao nomear um indivíduo mesmo que se trate, como no conto, de um boi, cria-se uma identidade para ele. Com a identidade cria-se também empatia.

É um recurso que aproxima o leitor do personagem.

04. Releia o primeiro e os últimos parágrafos do texto. Neles, o narrador repete uma mesma informação sobre Blimundo.

a) Que informações se repetem?

O narrador descreve Blimundo como um amante da vida e da liberdade, amigo da beleza e da harmonia, e diz que nada fazia que contrariasse a justiça e as leis da natureza.

b)   Que efeito essa repetição provoca no texto?

A repetição da descrição, que também acontece em outros trechos, enfatiza o caráter de Blimundo, reforçando os ideais que ele representa. 

05. A descrição do cenário é importante para o desenvolvimento da história de Blimundo.

a) Como o cenário é caracterizado?

Como um ambiente cheio de terrenos íngremes, formados por ribeiras, campos, vertiginosas montanhas, e com a presença dos trapiches.

           b)De que forma esse cenário contribui para acompanharmos o desenvolvimento da história?

O cenário mostra o alcance do poder do Rei na história e a trajetória de Blimundo, que caminha por lugares hostis, se mantém escondido e a salvo dos que o perseguem.

06. Depois de tentativas frustradas de capturar Blimundo, qual foi o plano proposto pelo personagem jovem para iludir Blimundo e levá-lo até o Rei?

Disse que o levaria para casar com a Vaquinha que ele amava.

07. Releia o texto observando os itens a seguir.

• Expressões utilizadas no início do texto.

• Local onde ocorre a ação.

• Tempo em que ocorre a ação.

• Caracterização dos personagens.

• Tipo de narrador.

• O autor do texto.

a) Qual é a expressão utilizada no início do texto?

    A expressão usada no início do texto é “Era uma vez...”.

           b)Onde ocorre a ação? O local é indeterminado.

               O local é indeterminado.

c)   Quando ocorre a ação? A ação ocorre em um tempo indeterminado.

A ação ocorre em um tempo indeterminado.

d) O narrador participa da ação?

     O narrador conta a história como quem a ouviu contar,

sem participar dos fatos narrados.

e) Em qual pessoa verbal (foco narrativo) o texto é narrado?

     O texto é narrado em 3ª pessoa.

f) Quem é o autor do texto?

    Essa versão é contada pelo escritor Leão Lopes; no

entanto, ele não criou a história, somente a recolheu da

tradição oral de Cabo Verde.

08. Os contos populares sempre motivam alguma reflexão. Sobre o que esse conto faz você refletir?

Possibilidades: Líderes poderosos podem se tornar opressores. Quem ama a liberdade pode se tornar uma ameaça para os poderosos.

09. Você vê alguma relação entre o ensinamento desse conto, de origem africana, com a sua realidade no Brasil? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal. Espera-se que os alunos compreendam o caráter universal dos ensinamentos de contos populares, independentemente de sua origem ou de seus personagens

NOTÍCIA: A GUERRA DOS RATOS NA INDIA - O ESTADO DE S.PAULO - COM GABARITO

 NOTÍCIA: A guerra dos ratos na India

A India é annualmente visitada pelo peor dos flagellos – a peste bubônica. Agora mesmo chegam notícias telegraphicas de que o mal está alli se alastrando cada vez mais.

Como está estabelecido scientificamente que os ratos são os mais perigosos vehiculos da infecção, na India se faz uma verdadeira guerra encarniçada contra os terríveis roedores.

E as estatísticas demonstram que a epidemia assume caracter decrescente na razão directa da destruição dos ratos.

Tempos atraz, os medicos se limitavam a aconselhar que se exterminassem os ratos, e assim a sua destruição prosseguia muito lentamente […]. Hoje, porém, a batalha é dirigida pelo departamento geral de sanidade e é conduzida segundo os criterios mais modernos e sem olhar as despesas. Para avaliar-se todo o mal que a peste tem causado á India basta lembrar que, no espaço de quatorze annos, só na cidade de Bombaim foram victimadas pela peste cerca de 169 000 pessoas.

[…]

A GUERRA dos ratos na India. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11 fev. 1911. p. 2.

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.159.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMtDsLYEZS8rateVmUqkvs2zaRYRKEaDXXLP2yOBL2aLc6HcSWNxF4jNa0qRIFstIHnB3LChPV6iO0vMfhJ670eBKMk1frTxT72vGVr_RURjOxll8C7voxgb4sp6gXGez-fTHhiqgGY-GVbZ7MUFsGxnSG_sTM0nXgf3HJ4-P8QbuP4RkOzfmTh2VhXew/s320/RATOS.jpg


Entendendo o texto

01. O texto foi escrito em 1911. Mesmo sem ter certeza em relação a algumas palavras, o que você entendeu dele?

A notícia relata o extermínio de ratos para acabar com a epidemia de peste bubônica que assolava a Índia no período citado.

02. Esse trecho não contém palavras que caíram em desuso, mas há nele outras cuja grafia foi modificada. Identifique essas palavras e anote-as no caderno.

India, annualmente, peor, flagellos, telegraphicas, alli, scientificamente, vehiculos, caracter, directa, atraz, medicos, criterios, á, annos, victimadas.

03. Em sua opinião, por que ocorreram essas mudanças?

Resposta pessoal.

terça-feira, 20 de junho de 2023

CORDEL: A HORA DA MORTE - CHICO SALLES - COM GABARITO

 CORDEL: A HORA DA MORTE

                 Chico Salles

Esta primeira história

Me contou Jota Canalha

Afirmando ser verídica

Se deu em Maracangalha

O conto do Carochinho

Foi com Nelson Cavaquinho

Que se passou a batalha.

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnEIHb0Laj3HptRJEfGc8zIVj92ShOhMpXNaX0yThdOhOSDJ7YX40JR5kbgVhW6nKd0-YcsUSI33gaFkUaXvrhH-IXp8b8U2azhkm5ZGLZXqkWMyEJBpAMMniqpom787xzO9XnAW_AUAjagiml77txc0tRymdmknB-EH15N4AivskPZ--i-otx7iTEfMw/s320/CORDEL.jpg


O sujeito teve um sonho
Do dia em que morreria
Seria na terça-feira
Vinte oito era o dia
Do primeiro fevereiro
Já estava em janeiro
Começou sua agonia.

No dia seguinte do sonho
Procurou a cartomante
Que confirmou a história
Ele mudou de semblante
Dizendo-lhe até o horário
Marcando no calendário
Ali naquele instante.

Seria às vinte e três horas
Reafirmou com certeza
O cara saiu dali
Carregado de tristeza
Murmurando repetia
Meu Deus mas que agonia
Mostre-me sua grandeza.

E com o passar dos dias
Aumentava a aflição
Ele cheio de saúde
E naquela situação
Meu Deus o que faço agora
Passava outra aurora
E nada de solução.

Quando chegou fevereiro
Seu peito alto batia
Procurou um hospital
E na cardiologia
Naquela dúvida infame
Fez tudo o que é exame
Até radiografia.

[...]

A saúde era perfeita
Não tinha nem dor de dente
Ficou um pouco animado
Mais ou menos sorridente
Outra semana passou
O calendário voou
Deixando-lhe impaciente.

Até que chegou o dia
Daquela interrogação
Foi então dormir mais cedo
Mas sua imaginação
Resolveu naquele instante
Tomar um duplo calmante
Haja, haja coração.

O relógio despertador
Em cima de uma banqueta
Ele embaixo do lençol
Aquela triste faceta
Um minuto era um mês
Olha o relógio outra vez
Batendo feito o capeta.

Depois, se passar das onze
Ele estaria salvo
Daquela situação
Não seria mais o alvo
Mas o tempo é assim
Quando quer fazer patim
Não dá nem um intervalo.

Passava das dez e meia
Quando chegou o destino
Bateu na sua cabeça
Feito badalo de sino
Ali naquele momento
Veio no seu pensamento
Sair daquele pepino.

Pegou o despertador
Atrasou em quatro horas
Em seguida adormeceu
Feito anjos na aurora
Isto já faz vinte anos
Vivinho e cheio de planos
Nem pensa em ir embora.

SALLES, Chico. A hora da morte. In: ______. 3 em 1. p. 2-6. Disponível em:<http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=cordel&pagfis=82741>. Acesso em: 12 jun. 2018.

 

 

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.136-9.

Vocabulário

verídico: verdadeiro.

agonia: sofrimento intenso.

cartomante: pessoa que, supostamente, faz adivinhações e previsões com base na leitura de cartas.

semblante: fisionomia, rosto.

cardiologia: no contexto do poema, setor do hospital que se ocupa das doenças do coração e dos vasos sanguíneos.

fazer pantim: dar notícias alarmantes; espalhar boatos.

Entendendo o texto

01. No início do cordel, a “voz” no poema fica mais evidente.

a)   Leve em conta essa voz e explique a diferença entre a primeira estrofe e o restante do trecho.

Na primeira estrofe, há a apresentação da história que será contada, indicando com quem ela ocorreu e quem contou o causo. No restante do cordel, temos a história em si sendo narrada.

b)   Considerando essas duas “partes” do cordel, responda: Qual é o assunto do poema?

O poema retrata um homem que, por meio de um sonho e da previsão de uma cartomante, fica sabendo o dia e a hora de sua morte, mas, pouco antes do momento final, encontra um jeito de se salvar.

02. No cordel “A hora da morte” é possível identificar alguns momentos-chave. Localize-os no trecho conforme pedido nos itens a seguir.

a)   Situação inicial da história.

O personagem teve um sonho sobre o dia em que morreria.

b)   Momento de complicação, de conflito.

Ele vai consultar uma cartomante, que confirma a data de sua morte, indicando também a hora exata em que aconteceria.

c)   Desenvolvimento dos acontecimentos.

O homem, cada vez mais aflito, vai ao médico, faz exames, implora a ajuda de Deus, toma calmantes, tudo para tentar escapar do problema.

03. Analise agora o final dessa história.

a)   O cordel termina como pareceu indicar o início da história?

Não. A profecia não se cumpriu, e o homem viveu tranquilo pelo resto da vida.

b)   O que o texto sugere sobre a relação entre as ações do personagem e o desfecho que você mencionou?

Segundo a história, a profecia não se cumpriu porque o homem atrasou o relógio, de modo que, quando o marcador mostrou as 23 horas do dia 28 de fevereiro, na realidade já era o dia 29.

c)   Você acredita que as ações do personagem foram a causa do desfecho? Explique.

Resposta pessoal. Possibilidade: Pode-se também pensar que o homem não morreu porque não havia perigo algum, pois a profecia não era real.

04. Analise agora outro componente essencial da narrativa: o foco narrativo.

a)   Nesse cordel, que foco narrativo foi usado? Que efeito de sentido essa escolha provoca?

O cordel é narrado em 3a pessoa. Possibilidade: O foco narrativo escolhido, juntamente com a introdução da história, indica certo distanciamento, deixando claro que é uma história que aconteceu com outra pessoa e que pode ou não ser verdadeira.

b)   A hora da morte” é um poema narrativo organizado na ordem cronológica? Justifique sua resposta.

Sim, a narrativa vai do fato mais antigo (a previsão da morte) para o mais recente (a vida do personagem depois do momento de “libertação”).

c)   O cordel apresenta alguma crítica direta em relação à maneira como o personagem enfrenta seu problema? Justifique sua resposta.

Não, em nenhum momento há crítica ao personagem. Os fatos são apenas apresentados ao leitor.

05. No cordel, pode-se dar voz aos personagens para que o leitor saiba o que pensam, o que sentem. No cordel lido, isso é feito em alguns momentos utilizando dois recursos diferentes.

a)   Identifique esses momentos.

Ao expressar as informações apresentadas pela cartomante e os pensamentos do personagem principal.

        b) Explique que recursos foram utilizados e dê um exemplo de cada caso.

Por meio de discurso direto ou indireto. Possibilidades: Discurso indireto: “Procurou a cartomante / Que confirmou a história [...] / Dizendo-lhe até o horário /Marcando no calendário.”. Discurso direto: “Meu Deus mas que agonia / Mostre-me sua grandeza.” e ”Meu Deus o que faço agora”.

06. Pense na caracterização do personagem central da história. Quais são os principais traços que o caracterizam? Explique.

Possibilidade: O personagem é supersticioso, pois acreditou que um sonho e uma cartomante pudessem prever o futuro. É também apresentado como esperto, pois conseguiu encontrar um jeito de enganar a morte.