quarta-feira, 16 de setembro de 2020

CONTO: CAPÍTULO ZERO E MEIO - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

 Conto: CAPÍTULO ZERO E MEIO


        Pedro Bandeira

        A uma vez, há muitos, muitos anos atrás mais vinte e cinco anos, uma senhora de cabelos negros como o ébano, onde já começavam a aparecer alguns fios brancos como a neve, bem da cor da pele dela, que também era branca como a neve.

        O nome da tal senhora era Branca Encantado. Nos tempos de solteira, o sobrenome dela era "De Neve", mas, depois que se casou com o Príncipe Encantado, Dona Branca passou a usar o sobrenome do marido.

        Dona Branca estava com uma barriga enorme, esperando o seu sétimo filho, para ser afilhado do sétimo anãozinho, que vivia reclamando pelo fato de todos os outros anões já serem padrinhos de filhos de Dona Branca e faltar um para ser afilhado dele.

        Dali a uma semana ia fazer vinte e cinco anos que Dona Branca havia se casado para ser feliz para sempre. E, como você sabe, quem fica vinte e cinco anos casado com a mesma pessoa faz uma bruta festa para comemorar as Bodas de Prata.

        Feliz com tudo isso, Dona Branca tricotava um casaquinho de lã para o principezinho que ia nascer, sozinha no grande salão do castelo, forrado de mármore cor-de-rosa e veludo vermelho. Os filhos maiores estavam na escola e os menores com as amas.

        O Príncipe Encantado, como sempre, estava caçando. Foi aí que a grande porta do salão abriu-se e entrou Caio, o lacaio, anunciando:

        -- Alteza, a Senhorita Vermelho acaba de chegar ao castelo e pede...

        -- Chapeuzinho?! – interrompeu Dona Branca. – Que ótimo! Peça para ela entrar. Vamos, Caio, rápido!

        Caio, o lacaio, inclinou-se numa reverência e foi buscar a visitante.

        Chapeuzinho Vermelho era a mais solteira das amigas de Dona Branca e uma das poucas que não era princesa. A história dela tinha terminado dizendo que ela ia viver feliz para sempre ao lado da Vovozinha, mas não falava em nenhum príncipe encantado. Por isso, Chapeuzinho ficou solteirona e encalhada ao lado de uma velha cada vez mais caduca.

        Dona Chapeuzinho entrou com a cestinha pendurada no braço e com o capuz vermelho na cabeça. Dona Branca correu para abraçar a amiga.

        -- Querida! Há quanto tempo! Como vai a Vovozinha?

        -- Branca, querida!

        As duas deram-se três beijinhos, um numa face e dois na outra, porque o terceiro era para ver se Chapeuzinho desencalhava.

        -- Minha amiga Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?

        -- Ora, deixe de besteira, Chapéu!

        -- Ahn... quer dizer... desculpe, Branca. É que eu sempre me distraio... – atrapalhou-se toda a Chapeuzinho. – Sabe? É que eu estou sempre pensando na minha história. Ela é tão linda, com o Lobo Mau, tão terrível, e o Caçador, tão valente...

        -- Até que a sua história é passável, Chapéu – comentou dona Branca, meio despeitada. – Mas linda mesmo é a minha, que tem espelho mágico, maçã envenenada, bruxa malvada, anõezinhos e até caçador generoso...

        -- Questão de gosto, querida...

        Dona chapeuzinho sentou-se confortavelmente, colocou a cestinha ao lado dela, não largava aquela bendita cestinha, tirou um sanduíche de mortadela e pôs-se a comer (aliás, Dona Chapeuzinho tinha engodado muito desde aquela aventura com o Lobo Mau).

        -- Aceita, um brioche? – ofereceu a comilona, de boca cheia.

        -- Não, obrigada.

        -- Quer uma maçã?

        -- Não! Eu detesto maçã!

        Dona Chapeuzinho acabou o lanche e olhou para a amiga com aquele olhar que as comadres usam quando estão conversando por cima do muro do quintal.

        -- Menina, você não imagina o que aconteceu...

        Dona Branca arregalou os olhos negros como ébano:

        -- Aconteceu? O que foi que aconteceu? Ah, vamos, conta logo! Sou doida por uma fofoca. Vai ver foi aquela sirigaita da Gata que...

        -- Branca, Branca! – censurou Chapeuzinho, balançando a cabeça. – Você sabe que Cinderela Encantado detesta ser chamada de Gata Borralheira...

        -- Ah, deixa pra lá. Continue!

        Olhando em volta, para ver se ninguém a ouvia, Chapeuzinho perguntou:

        -- O Príncipe está no castelo?

        -- O Príncipe? Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Seu marido.

        -- Ah, não está não. Foi à caça.

        -- Pois então vamos ao assunto. Eu falei com Rapunzel Encantado e ela me disse que o Príncipe...

        -- Príncipe? Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Marido da Rapunzel.

        -- Ah...

        -- Pois é. O marido da Rapunzel encontrou-se com o Príncipe...

        -- O Príncipe? Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Marido da Cinderela.

        -- Ah...

        A família Encantado tinha fornecido muitos príncipes para casar com as heroínas dos contos de fada. Por isso, quase todas as princesas tinham o mesmo sobrenome e eram cunhadas entre si. É claro que isso trazia uma certa confusão.

        -- Resumindo: o Príncipe da Rapunzel encontrou-se com o Príncipe da Cinderela, que tinha passado pelo castelo da Feiurinha...

        -- A Feiurinha! – exclamou Dona Branca. – Há quanto tempo não vejo minha querida Feiurinha Encantado...

        -- Pois é exatamente essa a fofoca: há muito tempo ninguém vê a Feiurinha!

        -- Ela desapareceu?

        -- Isso mesmo. O Príncipe deve estar desconsolado...

        -- Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Marido da Feiurinha.

        -- Ah...

        -- Dona Branca interpretou à sua maneira o desaparecimento da Feiurinha.

        -- Será... será que ela abandonou o marido?

        -- E fugiu com outro? Acho difícil. A essa altura não existe mais nenhum Príncipe Encantado solteiro. Eu que o diga! Estou cansada de ser solteirona e aguentar aquela Vovó caduca. Tenho procurado feito louca, mas só encontro príncipe casado...

        Dona Branca raciocinou:

        -- Então, se Feiurinha desapareceu, isso significa que ela pode estar correndo perigo. E, se isso for verdade, será a primeira vez que uma de nós corre perigo desde que casamos para sermos felizes para sempre!

        -- Menos eu... – suspirou Dona Chapeuzinho. 

        [...]

       Pedro Bandeira. O fantástico mistério de Feiurinha. São Paulo, FTD, 1993.

Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 86-90.

Entendendo o conto:

01 – Pelo título do texto é possível prever que a história terá um conteúdo humorístico? Justifique.

      Sim. O “número” “zero e meio”, por não existir, dá uma informação absurda e antecipa, assim, a ocorrência de situações humorísticas.

02 – Logo no primeiro parágrafo, o que o narrador insinua, isto é, dá a entender de maneira indireta, a respeito da senhora de cabelos negros? Transcreva desse parágrafo trechos que confirmem sua resposta.

      O narrador insinua que ela está ficando velha. Trechos: “muitos anos atrás mais vinte e cinco anos”; “onde já começavam a aparecer alguns fios brancos como a neve” e a própria palavra “senhora”.

03 – Releia: “...Dona Branca tricotava um casaquinho de lã para o principezinho que ia nascer, sozinha no grande salão do castelo, forrado de mármore cor-de-rosa e veludo vermelho. Os filhos maiores estavam na escola e os menores com as amas.

        O Príncipe Encantado, como sempre, estava caçando.”. Ao usar a expressão “como sempre”, o narrador faz uma insinuação meio maldosa a respeito do príncipe. Explique-a.

      O narrador insinua que o príncipe não faz nada. Ele apenas se diverte, caçando.

04 – Releia este trecho do diálogo.

        “-- Minha amiga Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?

        -- Ora, deixe de besteira, Chapéu!”.

a)   Na história original, a quem Chapeuzinho faz a pergunta?

Essa pergunta ela faz ao Lobo Mau.

b)   Por que Branca diz para Chapéu deixar de besteira?

No diálogo com Branca, Chapéu faz uma pergunta que, na história original, ela faz ao Lobo. Como elas estão em outra história, a pergunta não faz sentido, é uma “besteira”.

05 – Releia esta passagem do texto.

        “-- Aceita, um brioche? – ofereceu a comilona, de boca cheia.

        -- Não, obrigada.

        -- Quer uma maçã?

        -- Não! Eu detesto maçã!”

a)   Quem pergunta “— Quer uma maçã?”?

Chapeuzinho pergunta a Branca.

b)   Quem responde “— Não! Eu detesto maçã!”?

Branca de Neve.

c)   O que aconteceu na história original dessa personagem que a levou a detestar maçã?

Na história original, Branca de Neve come a maçã envenenada e dorme profundamente.

06 – Chapeuzinho afirma que “Cinderela Encantado detesta ser chamada de Gata Borralheira...”. Lembre-se da história original de Cinderela e explique por que ela detesta esse apelido.

      Porque, na história original, esse apelido maldoso foi dado a ela antes de se casar com o príncipe, quando ainda era pobre e vivia sempre suja.

07 – Releia os dois últimos parágrafos e responda.

a)   O que Dona Chapéu quis dizer com “— Menos eu...”?

Ela quis dizer que ela era a única que não tinha se casado com um príncipe para ser feliz para sempre.

b)   Que sentimento Dona Chapéu revela ao suspirar?

Ela revela desânimo, decepção, frustação, etc.

08 – O narrador diz que Branca de Neve e Chapeuzinho são fofoqueiras. Releia este parágrafo.

        “Dona chapeuzinho sentou-se confortavelmente, colocou a cestinha ao lado dela, não largava aquela bendita cestinha, tirou um sanduíche de mortadela e pôs-se a comer (aliás, Dona Chapeuzinho tinha engodado muito desde aquela aventura com o Lobo Mau).” O que esse trecho permite concluir a respeito do próprio narrador? Justifique.

      Que ele também é fofoqueiro. Ele interrompe o que está contando para fazer comentários negativos sobre Dona Chapéu.

     

 

 

 

 

TEXTO: A FESTA DE ENCERRAMENTO - SEMPÉ E GOSCINNY - COM GABARITO

 Texto: A festa de encerramento

          Sempé e Goscinny

        O diretor disse que ele nos via partir com um monte de emoções e que tinha certeza de que a gente dividia as emoções com ele, e que ele desejava que a gente tivesse muito prazer nas férias, porque na volta às aulas não ia mais ser hora de brincadeira, que a gente ia ter que trabalhar pra burro, e a festa de encerramento acabou.

        Foi uma festa de encerramento muito legal. Nós chegamos de manhã na escola, com os nossos pais e as nossas mães, que tinham vestido a gente que nem bonecos. Todo o mundo estava de terno azul, de camisa branca de um pano que brilha como a gravata vermelha e verde do papai, que a mamãe comprou para o papai e que o papai nunca usa pra não sujar. [...] A gente também estava com o cabelo grudado na cabeça – eu tenho um remoinho –, com as orelhas limpas e as unhas cortadas. Nós estávamos incríveis.

        Eu e os meus colegas não aguentávamos mais esperar a festa de encerramento. Não era tanto por causa dos prêmios, não; isso até que estava deixando a gente um pouco preocupado, mas é que depois da festa de encerramento a gente não vai mais para a escola, e são as férias. Faz muitos e muitos dias que eu fico perguntando para o papai, lá em casa, se as férias vão chegar logo e se eu vou ter que ir à escola até o último dia, porque eu tenho alguns colegas que não vão mais e que isso não é justo, e que de todo o jeito a gente não faz mais nada na escola e que eu estou muito cansado, aí eu choro e o papai fala que é para eu ficar quieto, que eu vou deixar ele louco.

        Teve prêmio pra todo o mundo. O Agnaldo, que é o primeiro da classe e o queridinho da professora, ganhou o prêmio de matemática, o prêmio de história, o prêmio de geografia, o prêmio de gramática, o prêmio de ortografia, o prêmio de ciências e o prêmio de comportamento. O Agnaldo é louco. O Eudes, que é muito forte e que gosta de dar soco no nariz dos colegas, ganhou o prêmio de ginástica. O Alceu, um colega gordo que fica comendo o tempo todo, ganhou o prêmio de assiduidade; [...], porque a mãe do Alceu não quer saber dele na cozinha, e se não for pra ficar na cozinha ele prefere vir para a escola mesmo. O Godofredo, aquele que tem um pai muito rico que compra tudo que ele quer, ganhou o prêmio de elegância, porque ele está sempre bem vestido. [...] O Rufino ganhou o prêmio de desenho, porque ele ganhou uma caixa grande de lápis de cor de presente de aniversário. O Clotário, que é o último da classe, ganhou o prêmio de camaradagem e eu ganhei o prêmio de eloquência. Meu pai ficou muito contente, mas parece que ele ficou meio desapontado quando a professora explicou que, no meu caso, o prêmio era pela quantidade, e não pela qualidade. Preciso perguntar para o papai o que quer dizer isso.

        A professora também ganhou prêmios. Cada um de nós deu um presente para ela, que os nossos pais e as nossas mães tinham comprado. Ela ganhou quatorze canetas e oito caixas de talco. Ela ficou supercontente e disse que nunca tinha ganho tantas, nem nos outros anos [...] Nós todos saímos da escola e na calçada os pais e as mães começaram a conversar uns com os outros. Eles diziam um monte de coisas, como: “O seu foi muito bom” e “O meu ficou doente” e também “O nosso é preguiçoso, é pena, porque ele tem muita facilidade” e depois “Quando eu tinha a idade desse cretino eu sempre era o primeiro, mas hoje em dia as crianças não se interessam mais pelos estudos, é por causa da televisão”. E aí eles agradavam a gente, davam tapinhas na nossa cabeça e limpavam as mãos por causa da brilhantina.

        [...] as mães riam muito, contando as coisas que nós tínhamos feito durante o ano, e nós ficamos admirados, porque quando nós fizemos essas coisas as mães não riram nem um pouco, elas até bateram na gente.

        Os colegas e eu, a gente estava falando das coisas incríveis que nós íamos fazer nas férias e o que estragou tudo foi quando o Clotário disse que ele ia salvar as pessoas que estavam se afogando, como no ano passado. Eu disse que aquilo era mentira, que eu tinha visto ele na piscina: ele não sabe nadar, e deve ser difícil salvar alguém sem largar a prancha. Então o Clotário bateu na minha cabeça com o livro que ele tinha ganho de prêmio de camaradagem. O Rufino começou a rir e eu dei um tapa nele, e aí ele começou a chorar e a dar pontapés no Eudes. Todo mundo começou a empurrar e estava muito divertido, mas os pais e as mães vieram correndo, eles iam pegando as mãos dentro da confusão, iam puxando e dizendo que a gente era incorrigível e que aquilo era uma vergonha. Aí cada pai e mãe pegou o colega que era dele e todo mundo foi embora.

        No caminho para casa eu fui pensando como era tudo legal, que a escola tinha terminado, que não ia mais ter lição de casa, nem castigo, nem recreio e que eu ia ficar um monte de tempo sem ver os meus colega, que a gente não ia mais fazer palhaçada junto e que eu ia me sentir sozinho toda vida.

        -- Então, Nicolau, você não vai dizer nada? – O papai perguntou – Afinal, chegaram as benditas férias!

        Aí eu comecei a chorar e o papai disse que eu ia deixar ele louco.

           Sempé e Goscinny. O pequeno Nicolau no recreio. São Paulo, Martins Fontes, 1991.

Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 64-8.

Entendendo o texto:

01 – Releia o primeiro parágrafo.

a)   Esse parágrafo permite ao leitor supor que a festa foi igual às festas comemorativas que geralmente acontecem nas escolas? Por quê?

Sim, pois o fecho da festa ficou a cargo do diretor, que fez um discurso. Geralmente é isso que acontece nas festas tradicionais.

b)   A continuidade do texto confirma ou contradiz (nega) essa suposição?

Confirma. “As crianças e os pais estavam todos com roupas novas”; “Houve entrega de prêmios”; etc.

02 – Segundo Nicolau, ele e seus colegas estavam vestidos iguais a bonecos.

a)   O que ele quis dizer com isso?

Ele dá a entender que todos estavam iguais e com a roupa bem arrumada. Isso os obrigava a ficar quietos, parados, para que as roupas não amassassem nem sujassem.

b)   Se você fosse a uma festa, gostaria de ir vestido como boneco? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: não, bonecos não têm vontade própria; não tem personalidade.

03 – Releia.

        “... como a gravata vermelha e verde do papai, que a mamãe comprou para o papai e que o papai nunca usa pra não sujar. [...] A gente também estava com o cabelo grudado na cabeça – eu tenho um remoinho –, com as orelhas limpas e as unhas cortadas.”

a)   O pai de Nicolau tem, em relação a roupas novas, a mesma atitude que pode ser observada em muitos adultos. Qual é essa atitude?

É comum as pessoas comprarem coisas e depois deixa-las guardadas, evitando que se estraguem.

b)   Os alunos estarem com as orelhas limpas e as unhas cortadas é um fato rotineiro na vida deles? Justifique.

Não. Se fosse rotina, o garoto certamente não faria referência a ele. Ao dizer que tinham as orelhas limpas e as unhas cortadas, Nicolau revela que os pais prepararam as crianças para a festa.

04 – Nicolau diz que eles estavam ansiosos pela festa, mas, ao mesmo tempo, estavam preocupados com os prêmios.

a)   Por que eles queriam que a festa acontecesse logo?

Eles queriam que a festa se realizasse logo porque, começariam as férias. Na verdade, eles estavam ansiosos pelas férias, não pela festa.

b)   Qual dos prêmios estava realmente preocupando os alunos? Por quê?

O prêmio de camaradagem, porque ele é dado ao aluno de pior desempenho. Quem ganhou esse prêmio foi o Clotário, que é o último da classe.

05 – Releia.

        “...eu ganhei o prêmio de eloquência. Meu pai ficou muito contente, mas parece que ele ficou meio desapontado quando a professora explicou que, no meu caso, o prêmio era pela quantidade, e não pela qualidade. Preciso perguntar para o papai o que quer dizer isso.”

a)   O que a professora quis dizer ao pai de Nicolau ao explicar que o garotinho ganhara o prêmio de eloquência pela quantidade, e não pela qualidade?

Ela quis dizer que Nicolau fala exageradamente, mas do que ele fala pouco é aproveitado, isto é, não tem qualidade.

b)   Considerando que o narrador desse texto é o próprio Nicolau, você acha que ele mereceu mesmo o prêmio? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, pois Nicolau é um tagarela, fala demais.

06 – Segundo Nicolau, depois da festa os pais e as mães ficaram conversando e alguém disse: “Quando eu tinha a idade desse cretino eu sempre era o primeiro, mas hoje em dia as crianças não se interessam mais pelos estudos, é por causa da televisão”.

a)   Escreva as palavras que, por estarem no gênero masculino, deixam claro que foi um pai que falou essa frase.

“O” e “primeiro”.

b)   O “modo de falar” dessa pessoa (a linguagem que ela utiliza) também permite supor que foi um pai que usou a frase. Por quê?

Porque normalmente os homens são mais duros / exigentes com os filhos, indicando a expressão “esse cretino” para exemplificar esse comportamento.

07 – No final da festa, Nicolau e seus colegas conversavam a respeito do que pretendiam fazer as férias; de repente, começou a confusão.

a)   Como Nicolau concluiu que Clotário estava mentindo?

Ele tinha visto Clotário brincando na piscina com uma prancha e notou que o colega não sabia nadar.

b)   A atitude de Clotário foi coerente, isto é, combinou com o prêmio que ele havia recebido? Justifique.

Não. Clotário ganhou o prêmio de camaradagem. E esse título é uma atitude d amizade, de companheirismo, e não de alguém mentiroso e briguento.

08 – É válido afirmar que Nicolau tem, em relação às férias, um sentimento ambíguo, ou seja, duplo? Por quê?

      Sim. Por um lado, ele está feliz com a chegada das férias, porque não terá que ir à escola; por outro, está triste, pois sabe que ficará sozinho e sentirá falta dos colegas e das brincadeiras de sua turma.

CRÔNICA: ALEGRIA! U.G.OLIVEIRA - COM GABARITO

 Crônica: Alegria!  

  U. G. Oliveira

        Alegria é coisa séria. Por isso não ria quando a gente diz que a alegria não traz felicidade. Às vezes um favelado vê que nasceu uma flor de beldroega entre as touceiras de capim gordura do fundo do seu barracão e sorri, desdentado e feliz. Já o rico rilha os dentes por não ter Mercedes à pronta entrega na cor de sua preferência – mas, como também é humano, é capaz de se afogar em risos à beira da piscina do country, ao saber da desgraceira de seu concorrente.

        Nessa vida há muitas alegrias. Tem alegria que é brisa leve refrescando a boa alma. Outra, ruidosa e fervente, nos arreganha os dentes sem pedir licença. Há a alegria secreta de fazer o bem. Há a alegria bruta de levar vantagem em tudo. Alegria de suplente é o sumiço do titular. No Brasil, a alegria é tão compulsória que criaram até uma bateria de feriados para que o carnaval nos bombardeie completamente de felicidade.

        O som ambiente da rádio e da TV é tão euforicamente alegre que chega a deprimir.

        Nossa imagem também é toda sorrisos: rimos diante da piada sem graça do chefe e prendemos a gargalhada diante das hilárias anedotas de velório. O Brasil, em seu transe permanente, parece uma Paris eternamente festejando a saída dos nazistas. Ingênua alegria que nos salva e redime, estupidamente entusiasmados. Agora, sim pode chorar de rir.

                   OLIVEIRA, U.G; WOJCIECHOWSKI, A. T., PRADO, R. Alegria. Gazeta do Povo, Curitiba, 25 jan.1999. Caderno G.

      Fonte: Língua Portuguesa. Linguagens no Século XXI. 5ª série. Heloísa Harue Takazaki. Ed. IBEP. 1ª edição, 2002. p. 98 e 101.

Entendendo a crônica:

01 – Para você. Alegria é o mesmo que felicidade?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Alegria não traz felicidade. Essa frase lembra um provérbio popular muito conhecido. Que provérbio é esse?

      Dinheiro não traz felicidade.

03 – Em que momento do texto argumenta-se que a alegria não depende de bens materiais?

      “Às vezes um favelado vê que nasceu uma flor de beldroega entre as touceiras de capim gordura do fundo do seu barracão e sorri, desdentado e feliz.”

04 – A hipocrisia e a falsidade também podem estar por trás dos sorrisos? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Por que a euforia demasiada do rádio e da TV pode deprimir?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – A alegria também pode estar relacionada a sentimentos nem um pouco nobres? De que forma?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – A alegria do povo brasileiro é ingênua e estúpida como afirma a parte final do texto? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Qual é o assunto dessa crônica?

      Os contadores de piadas em geral.

09 – Quais as características de um bom contador de piadas, segundo o cronista?

      Segundo o cronista, precisa perceber o momento exato, o tom certo e o local adequado para contar a piada.

10 – Que adjetivos o cronista usou para caracterizar os diferentes contadores de piadas? Escreva em seu caderno por que Mário Prata se refere a eles assim.

·        Chato: porque vai contar a piada e ri antes.

·        Desagradável: porque começa a contar uma piada que já se conhece.

·        Compulsivo: porque quando um acaba a piada, vai logo contando outra.

·        Pretensioso: porque pergunta “entendeu?” no final da piada.

 

CRÔNICA: PRIMAVERA -CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Crônica: Primavera

              Cecília Meireles

        A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

        Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

        Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

        Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

        Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

        Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

        Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

        Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

        Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Cecília Meireles

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, assinale a alternativa INCORRETA:

a)   Na primavera natural há sussurro de passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.

b)   A primavera não é efêmera.

c)   A inclinação do sol marca outras sombras com a chegada da primavera.

d)   A terra se enfeita para as festas da sua perpetuação.

e)   A amendoeira encontra-se coroada de flores, com vestidos e braços carregados de flores.

02 – Através da leitura da crônica nos traz que imagem a mente?

      A imagem da inevitabilidade do ciclo sazonal – movimento e vida perpétuos.

03 – E para você, o que é a primavera?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O texto é construído com base nas informações que percorre cotidianamente. De acordo com isso responda:

a)   Que fato desencadeou os acontecimentos narrados na crônica?

A chegada da primavera.

b)   Em que parágrafo a autora menciona o acontecimento que derivou esta crônica?

No primeiro parágrafo.

05 – Onde aconteceu o fato narrado?

      Na natureza, com as plantas, animais e insetos.

06 – De que trata a crônica?

      As mudanças no meio ambiente, na natureza, com a chegada da primavera.

 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

TEXTO: "POR PARTE DE PAI" (FRAGMENTO) - BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS - COM GABARITO

 Leia o fragmento extraído do livro “Por parte de pai”

                                 Bartolomeu Campos Queirós

            Debruçado na janela meu avô espreitava a Rua da Paciência,  inclinada e estreita. Nascia lá em cima, entre casas miúdas e se espichava preguiçosa, morro abaixo. Morria depois da curva, num largo com sapataria, armazém, armarinho, farmácia, igreja, tudo perto da escola Maria Tangará, no Alto de São Francisco. Não me lembro onde ficava a casa paroquial e vivia o vigário vestido com batina preta e sapato de verniz e elástico. Em horas certas, operários desciam e subiam a Paciência. Eles se revezavam nos muitos turnos da fábrica de tecidos. Meus avós trabalharam nela, sem muitos embaraços. Escolheram o mesmo horário para dormir e acordar juntos, contavam. Isso foi antes, quando criavam os filhos presos em caixotes, para dar sossego à minha avó nos deveres da cozinha e na lida da casa. Um menino do grupo dizia que educação vinha do berço e eu me sentia mal-educado. [...]

          Todo acontecimento da cidade, da casa, do vizinho, meu avô escrevia nas paredes. Quem casou, morreu, fugiu, caiu, matou, traiu, comprou, juntou, chegou, partiu. Coisas simples como a agulha perdida no buraco do assoalho, ele escrevia. A história do açúcar sumido durante a guerra estava anotada. Eu não sabia por que os soldados tinham tanta coisa a adoçar. Também desenhava tesouras desaparecidas, serrotes sem dentes, facas perdidas. E a casa, de corredor comprido, ia ficando bordada, estampada de cima a baixo. As paredes eram o caderno do meu avô. Cada quarto, cada sala, cada cômodo, uma página. Ele subia em cadeira, trepava em escada, ajoelhava na mesa. Para cada notícia escolhia um canto. Conversa mais indecente, ele escrevia bem no alto. Era preciso ser grande para ler, ou aproveitar quando não tinha ninguém em casa. Caso de visitas, ele anotava o dia, a hora, o assunto ou a falta de assunto. Nada ficava no esquecimento, em vaga lembrança: “A Alice nos visitou às 14 horas do dia 3 de outubro de 1949 e trouxe recomendações da irmã Júlia e do filho Zé Maria, lá de Brumado”.(...).

Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro. (...) Apreciava meu avô e sua maneira de não deixar as palavras se perderem.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ, 1995.

 

ENTENDENDO O TEXTO

1)   Observe o título do texto e responda às questões.

a)   Você já ouviu essa expressão?

Resposta pessoal.

b)   A expressão “por parte de” significa “partindo de”, “vindo de”. Com base nessa informação, explique título.

O título remete ao parentesco em relação à família do pai.

c)   Na continuação da narrativa, o autor contará que tem medo de descobrir que seu pai não é, de fato, seu pai, mas o medo dele não se resume apenas a perder o pai.

Leia:

[,,,] Meu avô pregava todas as palavras na parede, com lápis quadrado de carpinteiro, sem separar as mentiras das verdades. Tudo era possível para ele e suas letras. Não ser filho do meu pai era perder meu avô. O pesar estava aí. E se isso estivesse no teto, em alguma parte bem alta da casa onde eu só pudesse ler depois de grande?

      Bartolomeu Campos de Queirós. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ, 1995. p. 18-19.

O substantivo pesar, no contexto, quer dizer “tristeza”, “mágoa”, “desgosto”. Qual era o grande pesar do menino?

Era perder o avô.

d)   Considerando a passagem transcrita no item c e o título da obra, descubra o que é revelado sobre o parentesco entre o autor e o avô dele.

O autor conta sobre seu avô paterno, que pode não ser seu avô biológico.

O apreço do menino pelo avô é tão grande que ele tem medo de perdê-lo.

2)   Releia o sentido da palavra espreitar no dicionário e explique a ação do avô no trecho: “Debruçado na janela meu avô espreitava a Rua da Paciência”.

O avô ficava debruçado na janela observando o movimento da rua, espiando o que acontecia na rua.

3)   Observe a passagem: “Não me lembro onde ficava a casa paroquial e vivia o vigário vestido com batina preta e sapato de verniz e elástico”.

a)   Que expressão indica que o autor esqueceu alguns detalhes de suas recordações?

“Não me lembro”

b)   Do que ele se esqueceu?

Da localização da casa paroquial.

c)   Que detalhes ela conserva na memória?

Os detalhes das roupas e sapatos do vigário.

d)   Em sua opinião, as memórias narradas são recentes ou antigas? Por quê?

Resposta pessoal.

4)   Em: “Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede”.

a)   Identifique as personagens a que se referem os pronomes  eu e ele.

Eu refere-se ao autor, e ele, ao avô.

b)   Qual era a atitude do autor diante das anotações?

Ele inventava histórias.

5)   Identifique a finalidade das paredes da casa para o avô do narrador do texto:

            “As paredes eram o caderno do meu avô.”.

    6)  Marque a passagem em que se percebe a importância das escritas nas paredes, feitas pelo avô, na formação do narrador-personagem:

a) “Era preciso ser grande para ler [...]”.

b) “[...] eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede.”.

c) “A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.”.

d) “Apreciava meu avô e sua maneira de não deixar as palavras se perderem.”. 

 

    7)  Assinale a alternativa em que a classe do termo sublinhado não foi corretamente identificada nos colchetes:

a) “Coisas simples como a agulha perdida no buraco do assoalho, ele escrevia.”. [substantivo]

b) “A história do açúcar sumido durante a guerra estava anotada.”. [verbo de ligação]

c) “E a casa de corredor comprido, ia ficando bordada [...]”. [preposição]

d) “Conversa mais indecente ele escrevia bem no alto.”. [adjetivo].

 

8) Observe:

Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.”.

O conectivo destacado instaura uma relação de:

a) adversidade

b) simultaneidade

c) reciprocidade     

d) afetividade

 

9) Justifique o emprego da forma evidenciada em: “Eu não sabia por que os soldados tinham tanta coisa a adoçar.”:

A forma “por que” foi empregada na construção de uma interrogativa indireta.

 

10) Assinale a alternativa em que a razão gramatical, que justifica o acento gráfico da palavra destacada, não foi identificada corretamente:

a) avô [monossílabo tônico]

b) história [paroxítona terminada em ditongo]

c) açúcar [paroxítona terminada em “r”].

d) cômodo [proparoxítona].

 

11) Em “Conversa mais indecente ele escrevia bem no alto.”, o prefixo sublinhado indica:

a) restrição

b) negação

c) exclusão

d) acréscimo

 

12)  Identifique a forma pronominal utilizada para a referência a “meu avô”:

A forma pronominal que retoma “meu avô” é: “ele”.

 

13) Prevalecem no texto as sequências do tipo:

a) expositivo

b) argumentativo

c) descritivo

d) narrativo