Texto: PUBERDADE – O
INÍCIO DAS COMPLICAÇÕES
Flávio Gikovate
Se na infância as crianças querem mais
do que tudo se sentir iguais à outras da “turma”, a partir da puberdade
queremos mais do que tudo ser diferentes de todas as outras pessoas. É
evidente que isso nos impulsiona na direção da busca da individualidade [...] É
fato também que isso provoca um aumento da solidão, que pede um “grande amor”.
O grande amor é fantasiado como uma coisa extraordinária, fato que também
agrada à vaidade: é uma forma de ser especial e único a dois! [...]
A vaidade traz esse esforço da
individualidade, traz uma preocupação muito maior com a aparência física, com
os sinais externos de posição social – grife nas roupas, por exemplo – e traz
consigo uma nova dor: a humilhação. Não sei se ela é completamente nova, mas
durante o período infantil, o sentir-se por baixo, o ser colocado num plano
mais submisso, o fato de perder uma disputa, tudo isso dói muito menos do que a
fase adulta. Ter sucesso faz bem para a vaidade, porém fracassar é uma
humilhação terrível. Isso vale para qualquer assunto: para as paqueras, para o
jogo de futebol, para o vestibular e assim por diante. A dor é muito forte.
Onde existe dor forte costumamos levar as coisas a sério, porque queremos nos
proteger contra essa dor, tentar evitá-la. Dessa forma, a partir da puberdade
todas as coisas da vida passam a ser coisa séria. O que era “jogo-treino”
passou a ser jogo “válido pelo campeonato”. A partir daí, tudo é para valer.
É evidente também que ninguém se acha
perfeito e completamente equipado para esse jogo. Ninguém acha que Deus foi
suficientemente generoso e lhe deu tudo com que sonharia. Uns acham que são
baixos demais, outros, que o nariz é muito grande; para outros, o problema é o
cabelo crespo ou liso demais. Alguns se revoltam contra a posição social e
econômica da família, se tornam adolescentes difíceis e não raramente buscam
nas drogas e nas turmas de colegas o consolo para suas insatisfações e
incompetências. Buscam, por aí, a saída errada, um caminho de maus resultados.
A época é difícil mesmo. Os sentimentos de inferioridade são inevitáveis. Tudo
dói muito. Tudo dá medo, mas é preciso coragem e força interior para seguir
viagem.
Ah!
Este corpo...
Seu corpo está mudando tão depressa que
pode parecer que tudo – cabelo, formas e pele – está errado. Você pode se
sentir desajeitado e acanhado, ou preocupado por não ser tão atraente. Todo
mundo tem seus atrativos, seja um sorriso, sardas, olhos brilhantes ou covinhas
no rosto. E nós todos sabemos que não é só a aparência que torna uma pessoa
atraente: senso de humor e simpatia, por exemplo, são também muito importantes.
(Elizabeth Genwick e Richard
Walker. O sexo em sua vida. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-1).
Flávio Gikovate. Namoro –
Relação de amor e sexo. São Paulo: Moderna, 1993. p. 19-20.
Fonte: Livro- PORTUGUÊS:
Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – Atual Editora
-1998 – p. 81-3.
Entendendo o texto:
01 – No primeiro parágrafo
do texto, o autor afirma que, em relação ao grupo a que pertencem, o
comportamento das crianças e o comportamento dos adolescentes é diferente. Qual
é essa diferença?
Na infância, as
crianças desejam ser iguais ao grupo; já os adolescentes desejam se diferenciar
do grupo.
02 – Segundo o texto, a busca da individualidade é uma
consequência inevitável do processo de crescimento.
a)
O que você entende por “busca da
individualidade”?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Definir a própria identidade.
b)
Você concorda com a visão do autor de que a
“busca da individualidade” provoca solidão? Por quê?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Definir uma identidade própria
é uma experiência individual e intransferível que cada pessoa tem de viver; por
mais que se dividam as angústias desse processo, é o próprio indivíduo quem tem
de vivê-lo.
c)
Segundo o texto, a fantasia de um “grande
amor” agrada à vaidade por ser “uma forma de ser especial e único a dois”.
Explique essa afirmação.
O indivíduo, em sua fantasia, se imagina amado, admirado pelo outro.
É uma forma indireta de gostar de si mesmo.
03 – No 2° parágrafo do
texto, o autor faz uma distinção entre o “jogo-treino” e o jogo “válido pelo
campeonato”.
a)
Qual desses jogos corresponde à fase infantil
e qual corresponde à fase adolescente?
O “jogo-treino” equivale a infância; o jogo “válido pelo
campeonato”, à fase adolescente e adulta.
b)
Por que a humilhação passa a ser um
sentimento muito presente na vida das pessoas a partir da adolescência?
Porque, a partir dessa fase, as derrotas não são aceitas com
maturidade, pois proporcionam muita dor ao derrotado.
04 – Releia o último
parágrafo do texto e o quadro intitulado “Ah!
Este corpo...”.
a)
Qual a semelhança de ideias entre eles?
Ambos tratam da insatisfação das pessoas – principalmente dos
adolescentes – quanto ao seu próprio corpo.
b)
Com base no último parágrafo do texto,
Justifique o título: “Puberdade, o início das complicações”?
As complicações se iniciam na puberdade porque é nessa fase que
começa o processo de definição da identidade e o sofrimento por causa dos
desejos não alcançados.
c)
Segundo esse parágrafo, qual a origem de
alguns tipos de revolta dos jovens?
Insatisfação com o próprio corpo e com sua posição econômica e
social.
d)
Que argumentos positivos o texto “Ah! Este
corpo...” aponta para combater o inevitável sentimento de inferioridade?
Que a aparência não é tudo, já que a simpatia e o senso de humor são
importantes; além disso, todo o mundo tem algum tipo de atrativo.
05 – Segundo o autor, a adolescência
é uma fase difícil e dolorosa. Alguns jovens, revoltados, buscam saídas como as
drogas e as turmas de colegas.
a)
Qual a posição do autor sobre esse tipo de
saída? Comprove sua resposta com uma frase do texto.
O autor considera que essas saídas são inadequadas. “Buscam, por aí,
a saída errada, um caminho de maus resultados”.
b)
O que é necessário para superar as
dificuldades naturais do processo de crescimento e definição da identidade?
Coragem e força interior.