sexta-feira, 1 de maio de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): CANTO DE OSSANHA - VINÍCIUS DE MORAES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Canto de Ossanha

                         Vinicius de Moraes

O homem que diz: Dou
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz: Vou
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz sou
Não é!
Porque quem é mesmo é
Não sou!
O homem que diz: Tô
Não tá!
Porque ninguém tá
Quando quer

Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha, traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor

Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou

Não!
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor

Amigo sinhô, Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!

Eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou

Não!
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!

Eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou

Não!
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!
                            Composição: Baden Powell / Vinícius de Moraes

Entendendo a canção:

01 – A letra da canção traz que elementos de que cultura?
      Traz elementos da cultura afro-brasileira, fazendo referência a deuses e orixás.

02 – Na primeira estrofe toda afirmação é negada, trazendo a melodia um tom de mistério. Copie alguns versos.
      “O homem que diz: Dou. / Não dá! / Porque quem dá mesmo / Não diz!”.

03 – Além da controvérsia do dizer e fazer desta canção há também a ideia de superioridade ilusória do conhecimento do homem, ressaltando a importância da humildade intelectual. Em que versos?
      “Coitado do homem que cai / No conto de Ossanha, traidor!”

04 – Pesquise e responda: Quem é a deusa Ossanha?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Ossanha é uma das mais difíceis e misteriosa deusa do candomblé, que sabe tudo sobre ervas e sobre o amor (é o orixá das folhas sagradas).

05 – Ossanha é a senhora do axé. Não há “trabalho” que possa ser realizado sem a sua evocação, sendo ele conhecedor de todas as ervas. Por que aqui na canção ele aparece como traidor?
      Sendo ela mediadora das mandingas, aquela de quem Xangô desconfia, mas sendo ela possuidora do axé, ela é também aquela que incita ao movimento, que a provoca.

06 – Que momento da canção percebe a provocação do orixá?
      A provocação surge no refrão da canção.

07 – No verso: “O homem que cai na mandiga de amor”, cai no canto de Ossanha. Por quê?
      Porque não é possível fazer qualquer encantamento, receita de cura, trabalho de toda espécie sem a mediação do conhecimento do orixá. E não basta apenas conhecer as ervas, mas saber como en-cantá-las.

POEMA: LIBERDADE - PAUL ELUARD - COM GABARITO

Poema: Liberdade
          
    Paul Éluard

Nos meus cadernos de escola
Nas carteira e nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página em branco
Pedra papel sangue ou cinza
Escrevo teu nome

Em toda imagem dourada
E nas armas dos guerreiros
Ou nas coroas dos reis
Escrevo teu nome

Na floresta e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas da noite
No pão branco da manhã
Nas estações em noivado
Escrevo teu nome

Em todo farrapo azul
No tanque de água mofado
No lago da lua viva
Escrevo teu nome

Nos campos e no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E nos moinhos da sombra
Escrevo teu nome

Em todo sopro da aurora
No mar e em cada navio
Na montanha adormecida
Escrevo teu nome

Na branca espuma das nuvens
Nos suores da tormenta
Na chuva densa e enfadonha
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos de várias cores
Em toda verdade física
Escrevo teu nome

Nos caminhos acordados
E nas estradas vistosas
Ou nas praças transbordantes
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

Na fruta cortada ao meio
Do meu espelho e meu quarto
No leito concha vazia
Escrevo teu nome

No meu cão guloso e terno
De orelhas que estão em guarda
Nas suas patas sem jeito
Escrevo teu nome

Na minha porta de entrada
Nos objetos familiares
Nas ondas de fogo lento
Escrevo teu nome

Em toda carne cedida
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
E nos lábios sempre atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Nas ausências sem desejo
Na solidão toda nua
Nesta marcha para a morte
Escrevo teu nome

Na saúde que retorna
No período que passou
Nas esperanças sem eco
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Reconheço minha vida
Nasci para conhecer-te
E chamar-te

Liberdade.
              In: Poemas da liberdade. Coletânea de Edmundo Moniz. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967. p. 7-9.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 124-7.
Entendendo o poema:

01 – Quantas estrofes tem o poema?
      Possui 21 estrofes.

02 – A quem o poeta se dirige?
      A liberdade.

03 – Na segunda estrofe, que sinal de pontuação deveria ocorrer, se fosse seguida à risca a gramática normativa?
      A vírgula, entre os termos da enumeração: pedra, papel, sangue.

04 – Que efeito resulta da não-utilização desse sinal?
      Os termos parecem se fundir numa única coisa.

05 – Que palavra da quarta estrofe revela que se trata de um adulto lembrando a infância?
      Ecos.

06 – No poema há várias antíteses, ou seja, imagens ou ideias que se opõem, como, por exemplo: “página lida/página em branco”; “noite/pão branco da manhã”; “sopro da aurora/montanha adormecida”. Na 6ª estrofe (21-24), identifique a antítese de “tanque de água mofado”.
      “Lago da lua viva”.

07 – O elemento água está presente em toda a 9ª estrofe (versos 33-36). Explique.
      Há referência a espuma, nuvens, suor, chuva.

08 – Leia este verso da 10ª estrofe e explique a expressão destacada: “Em toda verdade física/Escrevo teu nome”.
      Todas as coisas fisicamente concretas de que trata o texto.

09 – Identifique elementos não-físicos onde o poeta pretende escrever o nome que invoca.
      Entre outros: “maravilhas da noite”; “vidraça das surpresas”; “ausências”; “solidão”; “marcha para a morte”; “saúde”; “perigo”; “esperanças”.

10 – Qual a finalidade que o poeta atribui à sua própria vida?
      Conhecer a liberdade, confissão que faz na penúltima estrofes.

11 – O poema tem rima? e ritmo?
      Não apresenta rimas, mas apresenta ritmo.

12 – Identifique o refrão.
      “Escrevo teu nome”.

13 – Nesse contexto, como você entendeu o verbo escrever?
      Resposta pessoal do aluno.



PARÁBOLA(ALEGORIA): O MITO DA CAVERNA - JOSTEIN GAARDER - FRAGMENTO (O MUNDO DE SOFIA) - COM GABARITO

Texto: O mito da caverna
    
     Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte que tudo o que veem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxeleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe.
        Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. O que você acha que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passavam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede.
        Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que veem é tudo o que existe. Por fim, acabam matando-o.
                                              Jostein Gaarder. O Mundo de Sofia – Romance da história da filosofia. São Paulo, Cia. das Letras, 1995. p. 104-5.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 112-4.
Entendendo o texto:

01 – O texto lido é informativo ou ficcional? Justifique sua resposta, baseando-se apenas no título.
      Ficcional, pois se trata de um mito, isto é, uma lenda: relato, geralmente de tradição oral, em que as personagens podem representar forças da natureza, aspectos gerais da vida ou uma ideia.

02 – Trata-se de um texto predominantemente narrativo, descritivo ou dissertativo? Por quê?
      Narrativo, uma vez que o autor conta uma história.

03 – Nesse texto há elementos descritivos que são fundamentais para o entendimento do mito. Transcreva um exemplo do primeiro parágrafo.
      De: “Elas estão...” até “...borda do muro”.

04 – Um mito ou uma lenda nunca é um simples relato de fatos. Tem o objetivo de transmitir uma ideia, explicar um fenômeno da natureza, a origem da vida ou caracterizar algum aspecto do comportamento humano. Discuta em dupla e depois responda: o que você acha que Platão quis transmitir com o relato desse mito?
      Resposta pessoal do aluno.
   Sugestão: Dificuldade de enxergar a realidade em que vivemos; não perceber e não saber ouvir opiniões diferentes da nossa; pessoas que tem visão mais ampla e crítica da sociedade são banidas ou mesmo assassinadas, etc.  

05 – O texto está dividido em três parágrafos. Resuma cada um deles em apenas uma frase, de acordo com o desenvolvimento da narrativa.
      Sugestão: 1) Um grupo de pessoas está numa caverna subterrânea e o que vê da realidade externa são apenas as sombras. 
                       2) Um habitante sai da caverna e conhece a realidade exterior.                    3) Ao voltar para a caverna, ele conta o que viu mas ninguém acredita e ele acaba sendo assassinado.

06 – As pessoas que só enxergam as sombras da realidade exterior têm uma visão bastante limitada da vida. O que elas consideram como verdade é apenas uma pequena parte de uma verdade maior. De que maneira esse fato está relacionado com a epígrafe que abre esta unidade?
      Segundo o provérbio iraniano, cada pessoa pensa que o caco do espelho é o espelho todo. No mito da caverna, as pessoas acham que as sombras que conseguem ver são a única realidade existente.

07 – Em que situações do nosso cotidiano podemos agir como os homens da caverna? Discuta em grupo e depois fale para a classe.
      Resposta pessoal do aluno. 
     Sugestão: quando ficamos limitados ao mundo que nos rodeia sem criticar ou analisar as informações e opiniões que chegam até nós. Dessa maneira, estamos vendo apenas uma parcela da realidade, só um caco do espelho.

08 – Na sua opinião, por que as pessoas da caverna não acreditaram nas palavras do companheiro?
      Resposta pessoal do aluno. 
     Sugestão: Porque é difícil questionar opiniões e ideias estabelecidas. Mais fácil é afastar quem pensa de modo diferente.

09 – Você já deve ter estudado em História Geral e História do Brasil períodos em que pessoas com uma visão mais ampla e crítica da realidade foram banidas ou mesmo assassinadas. Dê alguns exemplos.
      Resposta pessoal do aluno. 
   Sugestão: Tiradentes, Giordano Bruno, Galileu Galilei, Joana D’Arc, pessoas que foram exiladas ou mortas na época da ditadura militar no Brasil, na Argentina, no Chile, etc.

REPORTAGEM: OS FILHOS DE NINGUÉM - JOAQUIM DE CARVALHO - COM GABARITO

Reportagem: Os filhos de ninguém
                 
      Joaquim de Carvalho

      M. S. M., de 03 anos, não se cansa de escutar elogios do tipo: “Que criança bonitinha”. Mas ela quer muito mais do que isso. No fim de semana passado, ela percorria todo o abrigo em que mora, em São Paulo, pilotando a bicicleta que acabara de ganhar. M. S. M. é uma daquelas crianças que o jargão dos assistentes sociais classifica de “institucionalizada”. M. é uma órfã. Ao nascer, ela foi abandonada pela mãe, também órfã. M. ainda tem dificuldade para falar, mas dá um jeito de dizer que quer uma família só sua – e é urgente. Ao ver um adulto, ela se aconchega, faz graça, prende e solta os cabelos. Se tem lápis e papel por perto, faz desenhos caprichosos. Para alguns, pede até que que lhe deem comida na boca. Com pouco mais de conversa, pergunta se o interlocutor vai leva-la dali. M. tem uma família interessada na sua adoção. Pode ser que deixe o orfanato. Pode ser que consiga esquecer que aprendeu a fazer fila antes mesmo de aprender a andar.
        Segundo estimativa da Secretaria de Assistência Social, órgão do Ministério da Previdência, existem no Brasil cerca de 200.000 meninos e meninas abandonados, dos quais 195.000 estão em entidades de amparo, públicas ou privadas. Dentre os que estão em orfanatos, a maioria, 120.000, tem mais de 6 anos e menos de 14 anos. Os demais, 75.000 crianças, tem menos de 6 anos de idade. Chamados em geral de orfanatos, o que menos há nesses abrigos são crianças órfãs. A maioria são meninos e meninas expelidos da família pela miséria material e pela loucura doméstica – um levantamento realizado nos orfanatos de Belo Horizonte revelou que 15% são filhos de mães que trabalham fora e moram nos empregos, 18% são filhos de pais sem-casa e 7% vêm de famílias paupérrimas, que não podem garantir o sustento da prole. Quinze por cento vão para os abrigos por ter sido vítimas de violência praticada por suas próprias famílias. Só 14% vão para essas instituições por morte ou ausência do pai ou da mãe.
        L. C. M., que passou cinco de seus 10 anos na Fundação Romão Duarte, no Rio de Janeiro, disfarça o trauma de ter sido abandonado pelos pais imaginando como seria uma nova mãe. Em tempo de sociedades globalizadas, ele, que assiste à TV todos os dias, estabelece seus critérios sobre a mãe ideal: “Ela tem de ser francesa e loira”. Mas por que francesa? “Porque na França tem neve”. L. sente saudade da mãe de carne e osso, negra como ele, mas prefere que ela não esteja por perto. “Não queria que minha mãe viesse aqui: ela me bate, faz o que quer, e eu prefiro outra”. Confundindo os tempos verbais, L. fala como se a mãe francesa estivesse por perto. “Eu gosto de abraçar a mãe que eu ainda vou ter”, afirma. A casa de L. é um prédio imponente, casarão construído ainda no tempo do império, com cômodos amplos. Tudo organizado e limpo. E também um tanto frio, apesar das boas intensões dos que nele trabalham.
        Nos grandes orfanatos, tirando o sapato do pé, tudo é coletivo. Roupa, brinquedo, toalha, sabonete, xampu – quando há –, lençol e cobertor pertencem a todos. “Estimulamos o espírito de grupo para facilitar a adaptação das crianças no caso de uma adoção”, explica o padre Clodoveo Piazza, diretor da Organização do Auxílio Fraterno, de Salvador. No Sampaio Vianna, em São Paulo, um dos maiores orfanatos brasileiros, com 350 internos, só se admite como objeto particular aquilo que couber num saco plástico de 5 quilos, que as crianças prendem no espaldar da cama. No caso das roupas, trocadas diariamente, quem faz a escolha é a educadora de plantão. Não há sequer um espaço privativo em armários. “As crianças exigem os sapatos como um bem particular e nós deixamos”, diz Wilson Barbalho da Fonseca Junior, diretor do Sampaio Vianna.
        A coletivização é uma exigência do gigantismo da instituição. Ela tem de funcionar como uma indústria de manter crianças em ordem. É por isso que até o próprio Fonseca acha que os grandes orfanatos deveriam ser desmembrados em unidades menores. “Nas pequenas unidades, as crianças poderiam ser atendidas como indivíduos, e não massa”, afirma ele. No Auxílio Fraterno, em Salvador, e no Romão Duarte, no Rio, os banhos são sempre coletivos e as refeições, servidas em horários rígidos. Se não comer no horário, passa fome. No Sampaio Vianna, em cada quarto dormem trinta crianças. O horário para dormir é livre, mas depois das 9 e meia da noite não se encontra ninguém acordado. As crianças podem assistir à televisão, mas o que elas preferem é que as educadoras contem ou leiam alguma história, ouvida em grupo.
        Para um garoto “institucionalizado”, por sua vez, a única riqueza possível é ter alguém que se preocupe especificamente com ele. Assim, os meninos e as meninas que são visitados pelos próprios pais, ainda que de vez em quando, se consideram mais importantes que outro que só tenha um voluntário a se preocupar com ele. E a criança que conta com a atenção de um profissional se julga em melhor conta do que aquela que não consegue sequer receber um presente de uma alma caridosa no Natal. Ser ou não objeto do afeto de alguém é o que distingue uma criança de outra.
        Uma das maneiras encontradas para substituir a família que os abandonou é inventar uma nova enquanto os pais adotivos não chegam – e eles raramente chegam.
        Embora haja mais adultos interessados na adoção do que crianças disponíveis, a adoção só se concretiza quando os candidatos a pai ou a mãe encontram uma criança próxima de seus sonhos. Em geral, a criança sonhada é ainda bebê e tem traços físicos parecidos com os do pai ou da mãe. Ou de ambos. Dificilmente, por exemplo, branco adota negro. E vice-versa.
        A realidade de uma adoção malsucedida é uma tragédia de consequências talvez ainda mais danosas do que a perda dos pais biológicos.
        Segundo o padre Piazza, é por volta dos 14 anos a fase mais aguda do desejo de conhecer os pais. Para os psicólogos, essa é uma curiosidade instintiva. A pessoa tem necessidade estrutural de saber de que corpo saiu. Sem essa informação, resta uma dúvida incômoda: qualquer namorado ou namorada pode ser seu irmão ou irmã. “Os pais adotivos devem informar seus filhos da adoção e compreender a curiosidade em relação aos pais biológicos”, afirma Antônio Carlos Gomes da Costa, ex-presidente da Febem de Minas Gerais.
        O orfandade tem uma longa história no Brasil. Em 1553, Dom João III, rei de Portugal, determina que as crianças órfãs tenham sua alimentação garantida pelos administradores da colônia. Não era apenas um ato humanitário do rei. Os órfãos tinham um papel fundamental no desenvolvimento da terra descoberta. Eram eles que aprendiam a língua indígena e serviam de intérpretes para os jesuítas e oficiais da coroa. Foi par isso que Portugal mandou uma legião de órfãos para o Brasil. Convivendo com os pequenos índios, arrancados de sua tribo, esses meninos e meninas aprendiam o novo idioma. Em razão de seu ofício, eram chamados de meninos-língua.
        A história da orfandade também registra a existência de um cilindro oco de madeira, com a abertura de um único lado, engenhosa inventada na França para facilitar o abandono de crianças. Era a Roda dos Expostos. Importada pelo Brasil em 1726, teve similares nas grandes cidades até 1948, quando foi desativada a unidade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Instalada no muro d fundo do hospital, girava no sentido da calçada para o interior da Santa Casa, levando um bebê, normalmente acompanhado de uma trouxa de roupas. Quem colocava o bebê na Roda não era visto por quem o apanhava, do outro lado do muro.
                 Revista Veja, 25 dez. 1996. p. 142-50. N° especial. (Texto adaptado).
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 166-71.
Entendendo a reportagem:

01 – O texto trata da orfandade. Que diferença você pode notar no enfoque dado ao assunto no primeiro e no segundo parágrafo?
      O primeiro apresenta uma situação particular de uma criança órfã; o segundo mostra dados estatísticos sobre crianças em entidades de amparo no Brasil.

02 – Se o autor tivesse invertido a ordem de apresentação desses dois parágrafos, você acha que o impacto da leitura seria o mesmo? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Na sua opinião, por que o nome das crianças foi omitido e substituído pelas iniciais correspondentes?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Na linha 2, na frase “Mas ela quer muito mais do que isso”, a que termo do texto se refere a palavra destacada?
      Ela quer elogios.

05 – O que o autor quer dizer com “[...] aprendeu a fazer fila antes mesmo de aprender a andar”?
      As crianças ficam “na fila” à espera de adoção, e nas entidades de amparo devem fazer fila para tudo; tomar banho, receber presentes, etc.

06 – De acordo com o texto, nos grandes orfanatos, todos os objetos são coletivizados. Como essa coletivização é explicada:
a)   Pelo diretor de um dos orfanatos?
Estímulo do espírito de grupo para facilitar a adaptação das crianças em caso de adoção.

b)   Pelo autor do texto?
Exigência do gigantismo das instituições, que tem de funcionar como uma indústria de manter crianças em ordem.

c)   Com qual dessas explicações você concorda? Concorda com as duas? Com nenhuma? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.

07 – “Nos grandes orfanatos, tirando o sapato do pé, tudo é coletivo.” Por que o autor usou a expressão “do pé”, já que ela poderia parecer redundante?
      A expressão “do pé” reforça a ideia do sapato que está em uso. Um outro par de sapatos provavelmente seria passado a outra criança.

08 – Textos informativos geralmente apresentam dados estatísticos a respeito do assunto de que tratam. Dos dados apresentados nessa matéria jornalística, qual foi o que mais o impressionou? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – As estatísticas apresentadas mostram que a palavra orfanato não é rigorosamente adequada para denominar as instituições onde se encontram tais crianças, explique.
      As maiorias das crianças não são órfãs, no sentido estrito do termo; são crianças abandonadas pelas famílias. Os que perderam os pais (ou um deles) constituem a minoria 14%.

10 – Uma característica do texto informativo é a objetividade. No texto lido, apesar de informativo, o autor dá sua opinião, e a própria escolha que faz dos depoimentos das crianças tem intenção de emocionar o leitor, além de servir para dar veracidade ao texto. No trecho seguinte, que parte traz a informação mais objetiva e que parte está mais carregada de emoção? Leia-o: “No Auxílio Fraterno, em Salvador, e no Romão Duarte, no Rio, os banhos são sempre coletivos e as refeições servidas em horários rígidos. Se não comer no horário, passa fome.”
      O primeiro período contém a informação objetiva.

11 – Numa das entidades citadas no texto, as crianças preferem ouvir histórias contadas pelas educadoras a assistir a televisão. Considerando a situação dessas crianças, qual pode ser uma das razões dessa preferência?
      O fato de receber a atenção de uma pessoa, ainda que essa atenção venha de um profissional e seja dividida com o grupo.

12 – Do ponto de vista dos garotos e garotas institucionalizados, a preocupação em possuir coisas parece ser a menor. Qual é a maior?
      Segundo o texto, é ter alguém que se preocupe exclusivamente com eles(as).

13 – Releia: “Ser ou não objeto do afeto de alguém é o que distingue uma criança de outra.”
a)   Por que, nos orfanatos, esse critério acaba pesando tanto na distinção de uma criança da outra?
Por um lado, elas são “massificadas” pela coletivização do espaço e dos bens materiais, bem como pela uniformização dos hábitos. Por outro, há uma extrema carência de afeto.

b)   Você acha que nas famílias esse critério é idêntico? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.

14 – Além de apresentar dados estatísticos e depoimentos de pessoas envolvidas, as boas matérias jornalísticas costumam apresentar informações históricas sobre o assunto de que tratam. O que mais o impressionou na história da orfandade no Brasil? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

15 – Que informações novas você obteve ao ler essa matéria jornalística? E que sentimentos essa matéria provocou em você?
      Resposta pessoal do aluno.

16 – Agora, releia a data de publicação da revista da qual retiramos a matéria. Considerando o calendário cristão, comente a relação entre essa data e o tema da matéria jornalística.
      A revista foi às bancas na época do Natal, festa cristã que comemora o nascimento de cristo.


RESENHA: HOMEM-ARANHA -FOLHA DE SÃO PAULO - COM QUESTÕES GABARITADAS


Resenha: Homem-Aranha 

 Filme ganha adaptação acertada   Sérgio Rizzo

     Você pode não saber onde estará nos próximos anos, mas os principais estúdios americanos já sabem o que vão lhe oferecer: Continuações de “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Matrix”, “X-Men” e, agora, ao menos mais duas sequências de “Homem-Aranha”. Tobey Maguire já havia assinado contrato para fazê-las, o que o tornará exclusivo do personagem por algum tempo, mas sempre havia a possibilidade – remota, é verdade – de fracasso do primeiro episódio. O estrondoso sucesso de bilheteria nos EUA, que deve se repetir no Brasil, pavimenta o caminho para outra série bem-sucedida – embora o adjetivo, aqui, não se restrinja apenas a números e cifrões.
        Para alegria dos fãs que o personagem em quadrinhos cultiva desde 1962, o diretor Sam Raimi (“Darkman – Vingança sem Rosto” e “Um Plano Simples”) acertou em cheio no conceito da adaptação. Eis, afinal, um super-herói diferente da média. Peter Parker é um adolescente franzino e órfão, que mora com os tios no Queens (bairro sem glamour de Nova York), usa óculos, é apaixonado pela vizinha e jogado para escanteio pelos colegas de escola. Até que um contato imediato com uma aranha radioativa muda-lhe a vida – e ele não sabe muito bem o que fazer com isso. Nasce um mutante com sérios problemas de consciência, no meio do rito de passagem da juventude para a maturidade.
        Os autores o conceberam como um herói “comum” com o qual o leitor de HQs pudesse se identificar, e foi assim que Raimi optou por leva-lo ao cinema. Manteve-se a fidelidade à trama de origens, com modificações inofensivas providenciadas pelo roteirista David Koepp (“O jornal”, “Missão Impossível”). O tom de aventura adolescente, com pitadas de romance, sustenta-se na escolha apropriada de Tobey Maguine (“Tempestade de Gelo” e “Garotos Incríveis”) para o papel principal e de Kirsten Dunst (a menina de “Entrevista com o Vampiro”) para o de sua amada, Mary Jane. Pode-se reclamar da obviedade de escalar o manjado Willem Dafoe como o vilão, o Duende Verde, mas aí também já seria exigir demais de um filme de ação que, com tudo para se enrolar nas dificuldades que a adaptação oferecia, saiu incólume até mesmo na avaliação de seus mais rigorosos críticos, os fãs do Aranha.
              Folha de São Paulo, 17-23 maio 2002. Guia da Folha, p. 6.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 229-30.
Entendendo a resenha:

01 – No final do primeiro parágrafo, o crítico afirma: “...outra série bem-sucedida – embora o adjetivo, aqui, não se restrinja apenas a números e cifrões”.
a)   A que adjetivo ele se refere?
Bem-sucedida.

b)   A que mais se refere o adjetivo, segundo o crítico?
A adaptação ao cinema.

02 – Por que, na opinião do crítico, a adaptação do Homem-Aranha para o cinema foi acertada?
      Porque o diretor manteve o conceito original de um herói comum, diferente, com o qual o leitor de HQ se identifica, manteve-se fiel à trama original; e conseguiu conservar o tom de aventura adolescente na escolha dos atores principais.

03 – Qual é a única crítica que o resenhista faz ao filme?
      A obviedade da escolha do ator que faz o papel de vilão.

04 – Por que ele diz que os críticos mais rigorosos do filme são os fãs do Aranha?
      São eles que conhecem características do herói e detalhes das histórias e, portanto, são mais exigentes em relação a coerência.

05 – Você já assistiu a esse filme? Se não, procure vê-lo em vídeo. Você concorda com o que o jornalista escreveu sobre o filme? Ou você faria diferente? Justifique. Se você já leu os quadrinhos do Homem-Aranha, seja rigoroso.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Escolha uma resenha crítica sobre um filme publicada num jornal de sua região e resuma em três ou quatro linhas a opinião do jornalista.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Durante uma semana leia o maior número possível de resenhas críticas que aparecerem nos jornais da sua região e em outros de grande circulação no país. A que filmes ou espetáculos você tem vontade de assistir com base nos comentários que leu?
      Resposta pessoal do aluno.