domingo, 6 de janeiro de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): MÁGOA DE BOIADEIRO - SÉRGIO REIS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Mágoa de Boiadeiro

  Sérgio Reis

Antigamente nem em sonho existia
Tantas pontes sobre os rios
Nem asfalto nas estradas
A gente usava quatro ou cinco sinuelos
Pra trazer o pantaneiro no rodeio da boiada
Mas hoje em dia tudo é muito diferente
Com o progresso nossa gente nem sequer faz uma ideia
Que entre outros fui peão de boiadeiro
Por este chão brasileiro os heróis da epopeia

Tenho saudade de rever nas currutelas
As mocinhas nas janelas acenando uma flor
Por tudo isso eu lamento e confesso
Que a marcha do progresso é a minha grande dor
Cada jamanta que eu vejo carregada transportando
Uma boiada me aperta o coração
E quando olho minha traia pendurada de tristeza
Dou risada pra não chorar de paixão

O meu cavalo relinchando pasto a fora
Que por certo também chora na mais triste solidão
Meu par de esporas meu chapéu de aba larga
Uma bruaca de carga um berrante um facão
O velho basto o sinete e o apero, o meu laço e o cargueiro
O meu lenço e o gibão,
Ainda resta a guaiaca sem dinheiro
Deste pobre boiadeiro que perdeu a profissão

Não sou poeta, sou apenas um caipira
E o tema que me inspira é a fibra de peão
Quase chorando embuído nesta mágoa
Rabisquei estas palavras e saiu esta canção
Canção que fala da saudade das pousadas
Que já fiz com a peonada junto ao fogo de um galpão
Saudade louca de ouvir o som manhoso de um berrante
Preguiçoso nos confins do meu sertão

                                         Composição: Índio Vago / Nonô Basílio
Entendendo a canção:
01 – A música “Magoa de Boiadeiro” fala da saudade de um tempo que já passou. Que tempo é esse descrito na música?
      De um tempo em que a boiada era tocada pelas estradas, pelos peões de boiadeiro, descrito na canção.

02 – Qual a profissão citada na música? Porque ela desaparece?
      A profissão é boiadeiro. Desapareceu com o progresso, a chegada dos caminhões para transportar as boiadas.

03 – Qual a profissão que vem substituir a profissão que você identificou?
      A profissão de motorista.

04 – Podemos identificar na música o que chamamos de progresso? Cite trechos da música que comprovem sua resposta.
      “Tantas pontes sobre os rios / Nem asfalto nas estradas.”
      “Cada jamanta que eu vejo carregada transportando / Uma boiada me aperta o coração.”

05 – Quais os “instrumentos” de trabalho utilizados pelo profissional descrito na música?
      Usava quatro ou cinco sinuelos, o cavalo, par de esporas, chapéu, uma bruaca de carga, um berrante, um facão, o velho basto, o sinete, o áspero, laço e o cargueiro.

06 – Na sua opinião a modernidade pode cada vez mais acabar com certas profissões e dar lugar a outras? Cite um exemplo.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Qual é a maior magoa do boiadeiro retratado na canção?
      É revoltado com a chegada do progresso a sua cidade no interior de São Paulo com o progresso chegaram os caminhões, que agora transportam os bois.

08 – Pesquise no dicionário o significado das seguintes palavras:
·        Sinuelos: gado manso utilizado nos trabalhos rurais.

·        Currutelas: pequenas vilas sempre à beira de estrada em locais isolados.

·        Jamanta: carreta (caminhão grande).

·        Tralha: reunião de objetos com um propósito específico.

·        Bruaca: bolsa de couro cru que se usa a tiracolo.

·        Mateiro: recipiente de couro semelhante a uma bolsa, usada para guardar erva mate.

·        Sinete: pequeno sino que as vacas madrinhas levam no pescoço.

·        Guaiaca: cinto largo de couro ou de camurça, com bolsos onde se guardam dinheiro e objeto miúdos.

·        Gibão: espécie de casco curto, semelhante ao colete, que se veste sobre a camisa.

·        Cargueiro: (geralmente o burro), que levam a cozinha, as malas (de couro), algumas tralhas, enfim o “burro de carga”.

·        Ginete: aquele que monta a cavalo (cavalheiro).

09 – Explique o título “Magoa de Boiadeiro”.
      Mágoa que advém do fato dos boiadeiros, aqui apresentados como pioneiros do progresso, não terem mais lugar no mundo que este progresso ajudou a construir. Trata-se, portanto, de uma evidente manifestação do saudosismo transfigurado que alude a um passado glorioso em contraposição a um presente marcado pela exclusão e pela perda da dignidade ecoando, de maneira explícita.


POESIA: TESTAMENTO - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poesia: Testamento
    Manuel Bandeira

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os…
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!… Não foi de jeito…
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde…
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
   BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira; poesia reunidas.
Rio de Janeiro, José Olympio, 1970. p. 107.
Entendendo a poesia:
01 – Siga o modelo:
        Não tive medo porque os animais de seis patas pareciam tão tolos e amigáveis quanto as vacas que eu conhecia na Alemanha.
        Não tive medo: os animais de seis patas pareciam tão tolos e amigáveis quanto as vacas que eu conhecia na Alemanha.

a)   O marujo sentiu-se aliviado, pois havia sobrevivido a um naufrágio.
O marujo sentiu-se aliviado: havia sobrevivido a um naufrágio.

b)   Os milucos deixaram o marujo perplexo, já que ele nunca havia visto nada igual em sua vida.
Os milucos deixaram o marujo perplexo: ele nunca havia visto nada igual em sua vida.

c)   A fauna e a flora da ilha eram deslumbrantes porque todos os seres tinham tamanhos e cores incomuns.
A fauna e a flora da ilha eram deslumbrantes: todos os seres tinham tamanhos e cores incomuns.

d)   As borboletas gigantes emocionaram o náufrago porque emitiam um som parecido com o de uma orquestra de flautas.
As borboletas gigantes emocionaram o náufrago: emitiam um som parecido com o de uma orquestra de flautas.

02 – Siga o modelo:
        Ele já tinha ouvido falar de tartarugas daquele tamanho. Era a primeira vez que as via.
        Embora ele já tivesse ouvido falar de tartarugas daquele tamanho, era a primeira vez que as via.
a)   Muitas pessoas afirmam preferir a vida nas grandes cidades. Viajam para as cidades do interior nos feriados.
Embora muitas pessoas afirmem preferir a vida nas grandes cidades, viajam para as cidades do interior nos feriados.

b)   Os moradores de cidades agitadas vivem momentos de tensão em seu cotidiano. Muitos deles não desejam mudar de vida.
Embora os moradores de cidades agitadas vivam momentos de tensão em seu cotidiano, muitos deles não desejam mudar de vida.

c)   A paisagem da ilha causava sustos ao marujo a cada passo. Ele não desistiu de caminhar.
Embora a paisagem da ilha causasse sustos ao marujo a cada passo, ele não desistiu de caminhar.

d)   Os milucos lembravam cavalos e vacas. Eles eram completamente inusitados, pois tinham seis patas.
Embora os milucos lembrassem cavalos e vacas, eles eram completamente inusitados, pois tinham seis patas.



POEMA: INSEGURANÇA MÁXIMA - CARLOS QUEIROS TELLES - COM GABARITO

Poema: Insegurança Máxima         


Ser ou não ser,

Ter ou não ter,

Comer ou não comer,
Beber ou não beber,

Viajar ou não viajar,
Beijar ou não beijar,

Vestir ou não vestir,
Sair ou não sair,

Amar ou odiar,
Dormir ou acordar,
Brigar ou namorar,
Passear ou estudar,
Aceitar ou protestar
Afinar ou encarar,
As grandes dúvidas desta vida:

Será que eu sei o que eu sou?
Será que eu sei o que eu quero?
Será que eu sei o que eu sinto?

Será que essa cuca confusa
Cheia de isso ou aquilos...
Será...
Será que isso sou eu?

 Carlos Queiros Telles. Semente de sol, 2. ed. São Paulo: Moderno, 2003. Coleção Girassol.

Entendendo o poema:
01 – Considerando o título e as ideias gerais do poema, responda:
a)   Quem é o eu lírico: uma criança, um adolescente ou um adulto?
Provavelmente um adolescente.

b)   Como o eu lírico do poema se sente? Indique um verso que justifique sua resposta.
Ele se sente confuso em relação às coisas da vida, como comprova o verso “Será que essa cuca confusa”.

02 – Observe os versos deste trecho do poema:
“Amar ou odiar,
Dormir ou acordar,
Brigar ou namorar,
Passear ou estudar,
Aceitar ou protestar.”

Como se nota, o poema é quase inteiramente construído de pares de verbos (ou orações) e de uma conjunção que se repete várias vezes.

a)   O que os verbos desse trecho exprimem no plano da vida do eu lírico?
Exprimem ações e escolhas que ele tem de realizar na vida.

b)   Que tipo de relação existe entre os verbos de cada um dos versos do trecho acima?
Há uma relação de oposição de ideias entre os verbos.

c)   Qual é a conjunção que liga esses verbos ou orações?
A conjunção ou.

d)   Indique entre os itens a seguir aqueles que traduzem o sentido da conjunção que se repete no poema.
Alternância            exclusão            adição
Explicação           oposição            dúvida, incerteza.

03 – O eu lírico faz referência às “grandes dúvidas desta vida”. Quais são essas dúvidas?
      De acordo com o verso “Será que eu sei o que sou” e os dois seguintes, as dúvidas são: o que ele é, o que quer e o que sente.

04 – Releia os quatro últimos versos do poema. De acordo com o último verso, o que o eu lírico busca?
a)   Sua liberdade.
b)   Sua identidade.
c)   Um futuro promissor.
d)   Um amor.

05 – O poema intitula-se “Insegurança máxima”.
a)   Que relação existe entre o título do poema e a busca do eu lírico?
Ele se sente inseguro quanto à sua identidade, quanto ao que pretende ser.

b)   Conclua: Que importância tem a conjunção ou para a construção da ideia do conflito existencial em que se encontra o eu lírico?
Ao mesmo tempo que reforça a ideia da incerteza vivida pelo eu lírico, a conjunção ou dá a entender que a vida nos obriga a fazer escolhas, opções, já que é impossível conciliar todos os nossos desejos.

06 – O eu lírico, em sua trajetória de vida, precisa optar por algumas coisas e abrir mão de outras. Você acha que o ser humano, para crescer e amadurecer, precisa necessariamente abrir mão de algumas coisas? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Através do texto é uma boa oportunidade para resolver alguma situação que possa estar vivendo.

MENSAGEM ESPÍRITA: PACIÊNCIA ANTES DA CRISE - JOANNA DE ÂNGELIS-LIVRO DOS ESPÍRITOS - ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS - PARA REFLEXÃO


Mensagem: Paciência Antes da Crise
                                 Joanna de Ângelis

        O homem moderno tem urgente necessidade de cultivar a paciência, na condição de medicamento preventivo contra inúmeros males que o espreitam.
        De certo modo, vitimado pelas circunstâncias da vida ativa em que se encontra, sofre desgaste contínuo que o leva, não raro, a estados neuróticos e agressivos ou a depressões que o aniquilam.
        A paciência é-lhe reserva de ânimo para enfrentar as situações mais difíceis sem perder o equilíbrio.
        A paciência é uma virtude que deve ser cultivada e cuja força somente pode ser medida, quando submetida ao teste que a desafia, em forma de problema.
        O atropelo do trânsito; a balbúrdia geral; a competição desenfreada; o desrespeito aos espaços individuais; a compressão das horas; as limitações financeiras; os conflitos emocionais; as frustrações e outros fatores decorrentes da alta tecnologia e do relacionamento social levam o homem a inarmonias que a paciência pode evitar.
        Exercitando-a nas pequenas ocorrências, sem permitir-se a irritação ou o agastamento, adquirirá força e enfrentará com êxito as situações mais graves.
        A irritação é sinal vermelho na conduta e o agastamento é arma perigosa pronta a desferir o golpe.
*
        Todas as criaturas em trânsito pelo mundo são vítimas de ciladas intencionais ou não.
        Saber enfrentá-las com cuidado, é a única forma de passar incólume.
        Para tanto, faz-se mister desarmar-se das ideias preconcebidas, infelizes, que geram os conflitos.
*
        Se te sentes provocado pelos insultos que te dirigem, atua com serenidade e segue adiante.
        Se erraste em alguma situação que te surpreendeu, retorna ao ponto inicial e corrige o equívoco.
        Se te sentes injustiçado, reexamina o motivo e disputa a honra de não desanimar.
        Se a agressão de alguma forma te ofende, guarda a calma e a verás desmoronar-se.
        A convivências com as criaturas é o grande desafio da evolução porque resulta, de um lado, da situação moral deles, e de outro, do seu estado emocional.
        O amor ao próximo, no entanto, só é legítimo quando não se desgasta nem se converte em motivo de censura ou queixa, em relação às pessoas com quem se convive.
        É fácil amar e respeitar aqueles que vivem fisicamente distantes.
        O verdadeiro amor é o que se relaciona sempre bem com as demais criaturas, quando, porém, o indivíduo pacientemente amar-se a si mesmo, podendo compreender as dificuldades, do ponto de vista do outro, antes que da própria forma de ver.
*
        Fariseus e saduceus, simbolicamente estarão pelo caminho das pessoas robustecidas pelos ideais superiores, tentando, armando-lhes ciladas.
        Ama, em toda e qualquer situação, assim logrando a tua própria realização, que é a meta prioritária da tua existência atual, vivendo com paciência para evitares as crises devastadoras.
De "Alegria de Viver"
De Divaldo Pereira Franco
Pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo I
        SOBRE OS ESPÍRITOS
ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

76 – Que definição se pode dar dos Espíritos?
      -- Pode-se dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo fora do mundo material.
      Nota: A palavra Espírito é aqui empregada para designar as individualidades dos seres extracorpóreos, e não mais o elemento inteligente universal.

77 – Os Espíritos são seres distintos da Divindade ou são, na realidade, apenas emanações ou porções da Divindade, e por essa razão chamados de filhos de Deus?
      -- Ó Deus! Eles são Sua obra, precisamente como um homem que faz uma máquina; essa máquina é obra do homem, e não ele próprio. Sabes que quando o homem faz uma coisa bela e útil, ele a chama de Seu filho, sua criação. Pois bem! O mesmo se dá em relação a Deus: somos Seus filhos, pois somos obra d’Ele.

78 – Os Espíritos tiveram um princípio ou, assim como Deus, existem desde sempre?
      -- Se os Espíritos não tivessem tido um princípio, seriam iguais a Deus, mas são Sua criação e submetidos à sua vontade. Deus existe desde sempre, isso é incontestável. Porém, quando e como Ele nos criou não o sabemos. Podes dizer que não tivemos um princípio, se com isso entendes que, por ser eterno, Deus deve ter criado ininterruptamente. No entanto, quando e como cada um de nós foi feito, eu insisto, ninguém o sabe – nisto consiste o mistério.

79 – Visto que há dois elementos gerais no Universo, o elemento inteligente e o elemento material, poderíamos dizer que os Espíritos são formados pelo elemento inteligente, da mesma forma que os corpos inertes são formados pelo elemento material?
      -- É evidente. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, assim como os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo dessa formação é que são desconhecidos.

80 – A criação dos Espíritos é permanente ou só ocorreu na origem dos tempos?
      -- Ela é permanente, o que quer dizer que Deus nunca parou de criar.

81 – Os Espíritos se formam espontaneamente ou se originam uns dos outros?
      -- Deus os criou, assim como todas as outras criaturas, por Sua vontade; mas – mais uma vez – sua origem é um mistério.

82 – É correto dizer que os Espíritos são imateriais?
      -- Como se pode definir uma coisa quando faltam termos de comparação, e com uma linguagem insuficiente? Um cego de nascença pode definir a luz? Imaterial não é a palavra adequada; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, por ser uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. Trata-se de uma matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós, tão etérea que não pode ser percebida pelos vossos sentidos.
      Dizemos que os Espíritos são imateriais porque sua essência difere de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos não teria termos para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença julga ter todas as percepções pela audição, o olfato, o paladar e o tato; ele não compreende as ideias que lhe indicaram o sentido que lhe falta. Da mesma forma, em relação à essência dos seres sobre-humanos, somos verdadeiros cegos. Só podemos defini-los por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço de nossa imaginação.

83 – Os Espíritos têm um fim? Compreende-se que o princípio de que eles emanam seja eterno, mas o que perguntamos é se sua individualidade tem um término e se, num certo tempo, mais ou menos longo, o elemento de que são formados não se dissemina, retornando à massa, como ocorre com os corpos materiais. É difícil compreender que uma coisa que teve começo possa não terminar.
      -- Há muitas coisas que não compreendeis, porque vossa inteligência é limitada, e esta não é uma razão para rejeitá-las. A criança não compreende tudo o que seu pai compreende, nem o ignorante tudo o que compreende o sábio. Nós te dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim; é tudo que podemos dizer agora. 

CRÔNICA: CHEGAM OS SUPER-HERÓIS - WALCYR RODRIGUES CARRASCO - COM GABARITO

CRÔNICA: CHEGAM OS SUPER-HERÓIS     

Walcyr Rodrigues Carrasco

    O Super-Homem chegou à cidade!
  Não só ele, não! Um monte de super-heróis!
  Foi assim. A Heloísa estava lendo o jornal da mãe dela quando viu, na primeira página, o Super-homem. Correu a ler. E ficou sabendo que ele e mais uma porção de heróis americanos tinham feito um filme, chamado Legião de Super-Heróis contra os invasores do espaço. O filme ia começar a passar naqueles dias e todos os super-heróis estavam num grande hotel da cidade falando com repórteres e desfilando pelas ruas.
        – Que maravilha! – disse o Tomé quando soube.
        E só porque a Heloísa tinha visto no jornal, ele abriu o coração. Contou como tinha vontade de conhecer os super-heróis de perto, e ser um deles também. De voar, de ver mundos, de segurar trem com uma mão só! Ele pensou que a Heloísa ia rir. Mas não riu não.
        – Eu sempre achei que você era mesmo vidrado em super-herói! – disse ela.
        Então o Tomé viu que não tinha outro jeito.
        – É agora ou nunca! Heloísa, eu vou até o hotel em que eles estão.
        – Eu vou com você.
        Tomé não gostou muito da ideia.
        – Mas será que eles vão deixar os dois se transformarem em super-heróis?
        – Ué, por que não?
        – Mas fica feio... você é menina.
        – E daí? Tem mulher que é super-herói também, não tem?
        Tomé decidiu:
        – Tá, você vai. Mas, se só puder ser um, eu estou na frente. Tive a ideia primeiro!
        – Certo!
        Mas Tomé pensou uma coisa:
        – Heloísa! Nenhum Homem-Fogo, nenhum super-herói vai querer ajudar a gente assim sem mais nem menos, vai? Mas e se eu mostrar que sou um grande cientista? Vou levar minha barata!
        – E eu, minha bola! Vou mostrar meu chute!
        Heloísa correu a pegar a bola, Tomé vestiu a fantasia de Super-Tomé, que andava esquecida no fundo do armário, pegou a panela cheia de baratas. Se o antídoto ainda não tivesse funcionando, ele ia mostrar um baratão! Juntaram todo o dinheiro que tinham e foram até o centro da cidade. Pergunta daqui, pergunta dali encontrou o hotel. Que era, por sinal, enorme, com escadarias e um homem todo fardado, mais fardado que polícia, parado na porta.
        – Onde é que vocês vão?
        – Falar com o Super-Homem.
        – Não pode, ele tá muito ocupado! – riu o homem.
        Heloísa e Tomé se olharam. Nesse instante ia saindo um casal cheio de malas. O homem foi obrigado a abrir a porta. E os dois entraram correndo. O homem foi atrás, gritando:
        – Voltem aqui! Moleques!
        Tomé e Heloísa corriam no meio das pessoas com malas, e mais uma porção de homens e mulheres uniformizados. No meio da confusão, eles viram que estavam na frente do elevador vazio. Entraram e apertaram o último botão.
        Bem a tempo! O porteiro já estava chegando. Mas as portas se fecharam e ele começou a subir, subir tanto que até dava vertigem. Ainda mais porque o elevador era todo transparente, e dava pra ver até o chão!
        –- Tomé, como a gente vai fazer pra ir embora? O homem vai chamar a polícia.
        –- Depois que a gente virar super-herói, ninguém mais vai nos prender!
        Subiram, subiram.
        As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, todo cheio de tapetes. E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduíches, croquetes, coxinhas, mil sanduichinhos que garçons serviam em bandejas, estavam ELES! Sim, os super-heróis, vestidos como nos filmes, conversando com jornalistas de pé que escreviam tudo o que eles diziam. 
        [...]
        Um fotógrafo que estavam perto começou a bater fotos. Alguns jornalistas se aproximaram, perguntaram o nome completo do Tomé e da Heloísa, em que colégio eles estudavam, quantos anos tinham. Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando sem parar numa língua esquisita, que devia ser inglês, e abriram a maior bocona no maior sorriso pra tirar fotos. Tomé estava emocionado. Nunca pensou que fosse ser tão bem recebido. Mas sabia que tinha alguma coisa a explicar:
        – Heloísa, eles não estão entendendo nada!
        – Eles pensam que a gente é fã!
        Foi ela quem teve a ideia primeiro.
        – Mostre pra eles, Tomé!
        – Mostrar o quê?
        – A tua barata poderosa! Assim eles vão ver que estão falando com um cientista de verdade!
        – É mesmo!
        Tomé estendeu a panela.
        O Homem-Aranha riu, entusiasmado:
        – What is this, popcorn?
        Estendeu a mão.
        Tomé abriu a panela! As baratas saíram voando em todas as direções ao mesmo tempo. E com elas foi um corre-corre, uma gritaria danada. Os super-heróis corriam como um bando de gansos assustados!
        – Help me, help me! – gritavam todos.
        O Super-Homem, que no cinema todo mundo pensa que é o máximo, subiu numa mesa, gritando e dando tapinhas numa baratona que estava pousada na capa. O Homem-Aranha correu pra trás da cortina. As super-heroínas saltaram em direção ao elevador. Os jornalistas foram para baixo das mesas. Os garçons derrubaram as bandejas.
        Ninguém voou, ninguém lançou raios, nada!
        Tomé e Heloísa não conseguiram entender. Que decepção!
        Se eles tinham poderes, por que não usavam? Ou só faziam truque de cinema?
        Que bobagem! E como eram medrosos! Tanto barulho por umas baratinhas de nada!
        Tomé jogou a panela num canto, Heloísa segurou a bola. Foram para o elevador.
        Nem conseguiram falar nada. Quando desceram, o porteiro gritou:
        – Ah! Achei! Fora daqui!
        Nem ligaram. Saíram de cabeça baixa.
        Que decepção!
        Como podia ser?
           CARRASCO, Walcyr Rodrigues. Cadê o super-herói?
6. ed. São Paulo, Global, 1988. (Título nosso).
Entendendo o texto:
01 – Quem viu primeiro a notícia de que os super-heróis chegariam à cidade?
      Foi Heloisa.

02 – O que o narrador quer dizer ao afirmar que Tomé “abriu o coração”?
      O narrador quer dizer que Tomé revelou um desejo muito íntimo, o qual ele não contava a ninguém por receio de parecer ridículo.

03 – Qual era o grande desejo de Tomé?
      Tornar-se um super-herói.

04 – Tomé tenta fazer Heloísa desistir de acompanha-lo ao hotel onde estão hospedados os super-heróis. Mas acaba consentindo com isso mediante uma condição. Qual a condição?
      A condição era que, se apenas um deles pudesse se transformar em super-herói, seria ele que se transformaria.

05 – Por que o menino se vestiu de Super-Tomé?
      Porque ele pensava que desse modo chamaria a atenção dos verdadeiros super-heróis.

06 – Como as crianças conseguiram fugir do porteiro e entrar no hotel?
      Aproveitaram a saída de um casal carregado de malas para entrar correndo.

07 – Por que Tomé e Heloísa ficaram incomodados com a ideia de parecerem fãs dos super-heróis?
      Porque eles não queriam simplesmente tirar fotos ou obter o autógrafo dos super-heróis. Eles queriam ser um deles também.

08 – Qual foi a grande decepção de Tomé e Heloísa?
      Foi ver que os super-heróis eram medrosos e não tinham superpoderes.

09 – O narrador conta a história como se fosse um menino falando, com expressões da linguagem informal do dia-a-dia. Cite dois exemplos dessa linguagem no texto, nas falas do narrador.
      “... um homem todo fardado, mais fardado que polícia...”; “... o elevador era todo transparente, e dava pra ver até o chão!”; etc.

10 – As expressões propositalmente exageradas do texto são um recurso que o autor usa para dar ao leitor a ideia do entusiasmo e ansiedade dos garotos por causa da chegada dos super-heróis.
Em vez de dizer, por exemplo, “vários super-heróis”, o autor escreve “Um monte de super-heróis”.
Encontre no texto as expressões que substituem os trechos destacados abaixo, reescrevendo as frases:

a)   As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, com muitos tapetes.
As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, todo cheio de tapetes.

b)   E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduíches, croquetes, coxinhas, vários sanduichinhos... estavam ELES!
E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduiches, croquetes, coxinhas, mil sanduichinhos... estavam ELES!

c)   Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando muito...
Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando sem parar.

d)   ... e abriram a boca num sorriso largo para tirar fotos.
... e abriram a maior bocona no maior sorriso pra tirar fotos