domingo, 4 de março de 2018

TEXTO: O TEXTO ESCRITO - REGINA H.A.DURIGAN - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

O TEXTO ESCRITO 


        A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito especial. Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas começam a surgir quando esse aluno tem necessidade de se expressar formalmente e se agravam no momento de produzir um texto escrito. Nesta situação, ele deve ter claro que há diferentes marcantes entre falar e escrever.

        Na linguagem oral o falante tem claro com quem fala e em que contexto. O conhecimento da situação facilita a produção oral. Nela o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de pedir esclarecimentos, ou até de mudar o curso da conversação. O falante pode ainda recorrer a recursos que não são propriamente linguísticos, como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita a falta desses elementos extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se deve organizar de forma a garantir a sua inteligibilidade.
        Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato de um texto escrito não ser satisfatório não significa que seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo da linguagem cotidiana e sim que ele não domina os recursos específicos da modalidades escrita.
        A escrita tem normas próprias, tais como regras de ortografia – que, evidentemente, não é marcada na fala –, de pontuação, de concordância, de uso de tempos verbais. Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garante o sucesso de um texto escrito. Não basta, também, saber que escrever é diferente de falar. É necessário preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido aqui como um ato de linguagem que representa uma interação entre o produtor do texto e o seu receptor; além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para a qual o texto foi produzido.
        Para que esse discurso seja bem-sucedido deve constituir um todo significativo e não fragmentos isolados justapostos. No interior de um texto devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão ao discurso. Considera-se coeso o texto em que as partes referem-se mutuamente, só fazendo sentido quando consideradas em relação umas com as outras.

                 DURIGAN, Regina H. de Almeida et alii. A dissertação no
                Vestibular. In: A magia da mudança – vestibular Unicamp:
                     Língua e literatura. Campinas, Unicamp, 1987. p. 13-4. 

Entendendo o texto:
01 – O primeiro parágrafo nos fala da capacidade de expressão dos alunos. Qual o contraste apontado?
      O contraste apontado é entre a facilidade para a expressão coloquial falada e a dificuldade para a expressão formal, particularmente na forma escrita.

02 – Quais as diferenças entre o falar e o escrever levantadas no segundo parágrafo?
      Linguagem oral: são claros o interlocutor e o contexto, o que propicia o uso de recursos mímicos e a facilidade na modificação dos rumos da conversa. 
      Linguagem escrita: a falta desses elementos extralinguísticos deve ser suprida pelo texto.

03– Um texto escrito mal formulado não representa necessariamente falta de domínio da linguagem cotidiana. Justifique essa afirmação com base no terceiro parágrafo.
      “O fato de um texto escrito não ser satisfatório não significa que seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo da linguagem cotidiana e sim que ele não domina os recursos específicos da modalidade escrita.”

04 – Releia o quarto parágrafo e responda:
     a) O que é um discurso?
      “... ato de linguagem que representa uma interação entre o produtor do texto e seu receptor...”.

     b) Quando você fala ou escreve, produz discursos? Comente.
      O aluno deve refletir sobre seu trabalho de produção textual, notadamente no que diz respeito às preocupações com o receptor da mensagem.

     c) O simples conhecimento das normas próprias da escrita não garante o sucesso de um texto escrito. Por quê?
      Porque o texto escrito deve constituir um discurso, ou seja, deve ser eficiente na interação com o receptor, cujas característica sociais e psicológicas devem ser consideradas na elaboração do texto. Além disso, as finalidades a que se propõe o texto devem ser determinantes na sua elaboração.

05 – No seu trabalho de produtor de textos, você tem levado em conta a figura do receptor e a finalidade a que se propõe seu texto? Qual a importância desses elementos para a confecção do seu trabalho?
      O aluno deve refletir sobre esses dois elementos da elaboração textual em seu trabalho de produtor de textos.

06 – Releia atentamente o último parágrafo e responda:
     a) O que um texto não deve ser?
      O texto não deve ser, nunca, uma coleção de fragmentos isolados justapostos.

     b) O que é um texto coeso?
      O texto coeso é aquele em que as partes se relacionam mutuamente, só fazendo sentido quando consideradas umas em relação às outras.

07 – Releia atentamente o texto. A seguir, elabore um esquema em que apareçam as ideias principais contidas em cada parágrafo. Observando seu esquema, comente o percurso seguido pelo autor para expor suas ideias.
      1º parágrafo: considerações sobre as dificuldades de expressão escrita.
      2º parágrafo: diferenças entre a fala e a escrita.
      3º parágrafo: especificidade da escrita diante da fala.
      4º parágrafo: recursos da língua escrita e necessidade de constituição de um discurso.
      5º parágrafo: conceito de texto coeso.

      O autor parte do contraste entre a facilidade de expressão coloquial e a dificuldade de expressão formal e escrita; comenta as diferenças entre a fala e a escrita; ressalta as especificidades da escrita; vincula o sucesso do texto escrito; vincula o sucesso do texto escrito à constituição de um discurso (do qual participam a figura do interlocutor e as finalidades a que se propõe o texto); e chega, finalmente, ao conceito de texto coeso, fundamental à eficiência da comunicação escrita.

08 – Você, ao escrever, fiscaliza seu trabalho, procurando construir textos coesos? como?
      Despertar no aluno a preocupação com o fato de que o texto é um conjunto articulado de elementos, e não um amontoado de frases ligadas apenas pela proximidade física.



TEXTO: EXCURSÃO - GANYMÉDES JOSÉ - COM GABARITO

Texto: EXCURSÃO
          Ganymédes José


    O sol apontou atrás dos eucaliptos.
    Os quatro marchavam em silêncio: Toninho na frente. Atrás, com vestido vermelho e tranças em pé, a Neide. Depois, Ovídio, gordo, baixo e suando feio. Por fim, a Cláudia, de olhos azuis.
 O capim estava molhado pelo sereno. Fim de agosto. Lá pelas bandas do cemitério, o bambual erguia uma fortaleza verde. Vermelha e amarela, o sol rabiscava os contornos dos morros azulados. De repente, um João-de-barro voou gritando. A Cláudia deu um pulo, e os quatro caíram na risada.
        --- Ontem, quando cheguei da escola, tinha gente em casa – disse a Neide.
        --- Sabem quem era? A mulher do doutor Alexandre. Ela pediu pra eu tomar conta do nenê dela. É verdade que em casa de doutor a gente come morango todo dia?
        --- Sei lá! Quando eu crescer, vou ser doutor – respondeu Ovídio.
        --- Doutor de quê?
        --- Doutor médico. Que outro doutor podia ser?
        O campo estava pura flor, porque era agosto; e a Cláudia tinha colhido um maço de margaridas amarelas. Enquanto isso, a Neide subia em um arbusto e, como uma macaca, ficava se balançando nos galhos. Como gostava de contar mentiras! Uma delas tinha sido a vez em que havia dado nó no rabo de duas cobras-cegas só para ver a confusão das coitadas.
        Ovídio só sabia reclamar do calor e dos mosquitinhos; afinal, já estava arrependido de haver topado aquela excursão na manhã de domingo... sair de casa sem avisar os pais! Ah, quando voltasse, seria aquele barulhão! afinal, Ovídio não era dono nem de ir à esquina, sem pedir licença à mãe.
        Apesar de tudo, a manhã estava sendo diferente. Eles visitaram a lagoa do Olivares, passaram pelo campo do Peres, onde cresciam os derradeiros pés de quiabo, e desceram pelo córrego das capivaras.
        O sol já queimava. O cheiro da terra, quente e puro. As cores focalizavam-se melhor. E foi bem na baixada, bem no meio – plantada como guarda-chuva aberto – que a árvore despontou de repente. Era alta, imponente como rainha.
        Neide arregalou os olhos.
        --- Gente, olha o ipê!
        Os quatro estacaram. Era um espetáculo de emudecer, tanta beleza!
        De repente, como se despertando para a vida, a Neide saiu correndo e foi dar um abraço na árvore.
        Aí, todo mundo imitou.
        O chão era tapete de flor caída, onde as abelhas voavam. A Cláudia fez um colar. Ovídio resmungava e o Toninho não desgrudava os olhos da copa, tão fechada que parecia novelo de lã. Vez em quando, o vento de agosto soprava, e uma chuva de flores caía em cima deles. Havia paz. Paz que não existia na cidade, onde os homens corriam, os carros corriam, o tempo corria...

                  Ganymédes José. Quando florescem os Ipês. 15ª edição.
                                Págs. 6-7. Editora Brasiliense, São Paulo, 1984.

Entendendo o texto:
01 – As personagens que participam da excursão eram:
      (   ) Adultos                           (X) Adolescentes.

02 – Copie passagens do texto que dão ideia do tempo em que ocorreu o fato:
      O sol apontou atrás dos eucaliptos. Aquela excursão na manhã de domingo. Apesar de tudo, a manhã estava sendo diferente.

03 – Os jovens excursionaram:
      (   ) Pela mata virgem, longe da cidade.
      (X)  Pelo campo, nos arredores da cidade.
      (   ) Pelos morros próximos de suas moradias.

04 – Identifique as personagens pelas suas ações:
     a)   Subia nos arbustos e se balançava.
      NEIDE.
b)   Resmungava, queixando-se do calor e dos mosquitinhos.
      OVÍDIO.
c)   Não se cansava de contemplar o lindo ipê florido.
      TONINHO.
d)   Colhia margaridas amarelas.
      CLÁUDIA.

05 – Por que Ovídio estava preocupado?
      Porque saiu de casa sem avisar os pais.

06 – “Ah, quando voltasse, seria aquele barulhão”. O que é que o autor quis dizer com essa frase?
      Quis dizer que Ovídio, quando voltasse, seria severamente repreendido pela mãe.

07 – Já no final do passeio, que espetáculo deixou os quatro maravilhados?
      Um ipê todo florido, belo e imponente, no meio da planície.

08 – Com que gesto eles demonstraram sua admiração e seu amor pela árvore florida?
      Demonstraram sua admiração e seu amor pela árvore abraçando-a.

09 – O ambiente onde se erguia o ipê era o oposto do ambiente urbano. Por quê?
      Porque a cidade havia barulho e agitação, ao passo que ali reinavam o silêncio e a paz.

10 – O texto poderia ter outro título. Dos três seguintes, qual o mais adequado?
      (  ) O ipê.
      (  ) Viagem de recreio.
      (X) Passeio campestre.



CRÔNICA: BANHOS DE MAR - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

CRÔNICA: BANHOS DE MAR
                  CLARICE LISPECTOR


        Meu pai acreditava que todos os anos se devia fazer uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda.
        Meu pai também acreditava que o banho de mar salutar era o tomado antes do sol nascer. Como explicar o que eu sentia de presente inaudito em sair de casa de madrugada e pegar o bonde vazio que nos levaria para Olinda, ainda na escuridão?
        De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa. E de puro alvoroço, eu acordava às quatro e pouco da madrugada e despertava o resto da família. Vestíamos depressa e saíamos em jejum. Porque meu pai acreditava que assim devia ser: em jejum. (...)
        Eu não sei da infância alheia. Mas essa viagem diária me tornava uma criança completa de alegria. E me serviu como promessa de felicidade para o futuro. Minha capacidade de ser feliz se revelava. Eu me agarrava, dentro de uma infância muito feliz, a essa ilha encantada que era a viagem diária.

        O mar de Olinda era muito perigoso. Davam-se alguns passos em um fundo raso e de repente caía-se num fundo de dois metros, calculo.
        Outras pessoas também acreditavam em tomar banho de mar quando o sol nascia. Havia um salva-vidas que, por uma ninharia de dinheiro, levava as senhoras para o banho: abria os dois braços, e as senhoras agarravam-se a eles para lutar contra as ondas fortíssimas do mar.
        O cheiro do mar me invadia e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum, com o sol se levantando pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão emocionada que não consigo escrever. O mar de Olinda era muito iodado e salgado. E eu fazia o que no futuro sempre iria fazer: com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele.
        Não demorávamos muito. O sol já se levantara todo, e meu pai tinha que trabalhar cedo. Mudávamos de roupa nas cabinas, e a roupa ficava impregnada de sal. Meus cabelos salgados me colavam na cabeça.
        Então esperávamos, ao vento, a vinda do bonde para Recife. No bonde a brisa ia secando meus cabelos duros de sal.
        A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais?
        Nunca mais. Nunca.

                                         Clarice Lispector. A descoberta do Mundo.
                              Págs. 249-251. Editora Nova fronteira, Rio, 1984.

Entendendo o texto:
01 – Para o pai da autora os banhos de mar eram uma forma de fazer ou uma terapia (tratamento de doenças)?
      Para eles os banhos de mar eram uma terapia.

02 – Segundo ele, quais as duas condições para que o banho de mar fosse bom para a saúde?
      Devia ser tomado em jejum e antes do sol nascer.

03 – No texto, a autora dá maior destaque:
      (   ) Ao prazer físico que os banhos de mar lhe davam.
      (X)  À grande alegria e felicidade que as temporadas de banhos de mar lhe proporcionavam.
      (   ) À animação e alegria dos banhistas na praia.

04 – Aponte as afirmativas que estão de acordo com o texto.
Para a menina Clarice Lispector (que morava em Recife), a viagem diária às praias de Olinda era:
      (X) Um presente extraordinário.
      (  ) A melhor maneira de passar as férias.
      (X) Uma promessa, um sinal de felicidade futura.
     (X) Uma ilha encantada, onde esquecia as amarguras de menina pobre.

05 – Releia o quarto parágrafo e diga se a infância da autora, na época, era feliz ou infeliz.
      A infância da autora, na época, era muito infeliz.

06 – Ao relembrar aqueles momentos felizes de sua infância, a autora sente-se:
      (   ) Triste.         (   ) Desanimada.      (X) Emocionada.

07 – Cite a frase em que a autora fala do encantamento, do enlevo que ela sentia no contato com o mar.
      O cheiro do mar me invadia e me embriagava.

08 – A autora interrompe frequentemente a sua narrativa para fazer comentários, falar de si mesma, expor seus sentimentos. Comprove isso com frases do texto.
       E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda.
      Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum.


sábado, 3 de março de 2018

MÚSICA: BRIGITTE BARDOT - ZECA BALEIRO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Música: Brigitte Bardot
                                      Zeca Baleiro
A saudade
É um trem de metrô
Subterrâneo obscuro
Escuro claro
É um trem de metrô
A saudade
É prego parafuso
Quanto mais aperta
Tanto mais difícil arrancar
A saudade
É um filme sem cor
Que meu coração quer ver colorido

A saudade
É um trem de metrô
Subterrâneo obscuro
Escuro claro
É um trem de metrô
A saudade
É prego parafuso
Quanto mais aperta
Tanto mais difícil arrancar
A saudade
É um filme sem cor
Que meu coração quer ver colorido

A saudade
É uma colcha velha
Que cobriu um dia
Numa noite fria
Nosso amor em brasa
A saudade
É Brigitte Bardot
Acenando com a mão
Num filme muito antigo

A saudade vem chegando
A tristeza me acompanha!
Só porque... só porque...
O meu amor morreu
Na virada da montanha
O meu amor morreu
Na virada da montanha
E quem passa na cidade
Vê no alto
A casa de sapé
Ainda...
A trepadeira no carramanchão
Amor-perfeito pelo chão
Em quantidade...


Entendendo a canção:

01 – Esta canção é de uma doçura inigualável, mas afinal do que se trata?
      De uma história de amor e medo.

02 – O eu poético no primeiro momento podemos perceber que sentia muita falta de sua amada. E no segundo momento que leitura podemos fazer?
       Que ele tem medo de morrer sem mais ver a figura amada.

03 – A canção tem muitas metáforas, cite algumas.
      “A saudade é (como) um trem de metrô / Um filme sem cor / Uma colcha velha.”

04 – Em que versos encontramos a figura de linguagem personificação?
      “... meu coração quer ver / ... acenando com a mão.”

05 – Nos versos:
      “A saudade
       É uma colcha velha
       Que cobriu um dia
       Numa noite fria
       Nosso amor em brasa.”

      O eu poético fala de que?
      Que possivelmente ele e sua amada assistiram um filme e a colcha velha que cobrira o amor em brasas.

06 – O encontro entre o eu poético acontece?
     O encontro jamais acontece, entre a figura homenageada com juras de saudade e o eu poético saudosista que lamenta sua triste história de amor.

07 – Encontre na letra da canção as seguintes figuras de linguagem:
Gradação ou clímax = Nosso amor em brasa...

Comparação = Quanto mais aperta...

Antítese = Escuro claro.

08 – Por que o autor desta canção deu a ela o título: Brigitte Bardot?
      Para Zeca Baleiro, Brigitte Bardot encarna a saudade, a mulher que bordou a autenticidade, brindou a beleza e bradou a liberdade.

09 – Pesquise quem foi Brigitte Bardot.
      Resposta pessoal do aluno.

     




FÁBULA: O HOMEM DAS ISCAS - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

Fábula: O HOMEM DAS ISCAS
               Millôr Fernandes


    Um homem tinha uma fazenda perto de um rio. Certo dia o rio começou a subir e ele percebeu que sua fazenda ia ficar submersa.
      Transferiu toda sua família e todo seu gado e todos os utensílios e móveis para o alto da montanha mais próxima.
    Havia, na sua fazenda, exatamente 284 quilômetros de cerca de arame farpado. Era um arame de sete farpas por metro, num total de mil farpas por quilômetro e, portanto, toda a cerca somava 1.988.000 farpas.
        O homem arranjou um empregado e, sem comer nem dormir, colocou em cada uma dessa farpas um pedacinho de carne, uma isca qualquer. Quando terminou, ele e o empregado mal tiveram tempo de subir à montanha. Veio o dilúvio.
        Durante noventa e três horas choveu ininterruptamente durante noventa e seis horas e rio esteve três metros acima da cerca. Mas logo as águas cederam e rapidamente o rio voltou ao normal.
        O homem desceu e examinou a cerca. Encontrou, maravilhado um peixe pendente de cada farpa, exceto três. Ou seja, um total de 1.987.997 peixes. Havia tainhas, e havia robalos, corvinas, namorados, galos e muitas outras espécies que ele nunca vira.
        Cada peixe pesava, em média, duzentos e cinquenta gramas, de modo que o homem tinha um total de 496.999.250 gramas de peixe fresco, ou seja, 496.999 quilos de peixe. Isso tudo, vendido a 10 cruzeiros o quilo, vocês façam a conta e ...
        Ah, naturalmente o empregado foi despedido porque colocou mal as iscas nas três farpas que falharam.

                                                 Millôr Fernandes. Fábulas Fabulosas.
                                                         Pg. 69. Editorial Nórdica, 1973.

Entendendo a fábula:
 01 – A história narrada por Millôr Fernandes refere-se a um fato:
      (   ) Real.          (   ) Histórico.        (X) Fictício.

 02 – Transcreva do quinto parágrafo a frase que nos informa a causa de o rio ter começado a subir:
      Durante noventa e três horas choveu ininterruptamente.

 03 – O fazendeiro transferiu sua família e pertences para o alto da montanha, por que?
      Percebeu que sua fazenda ia ficar submersa.

 04 – Por fazer isso, o fazendeiro mostrou seu um homem:
          a)   Ambicioso.
          b)   Prevenido.
         c)   Precipitado.
         d)   Medroso.

 05 – Assinale as afirmações absurdas (fatos impossíveis):
      (   ) Transferiu todo o seu gado para o alto da montanha mais próxima.
      (X) O homem, sem comer, sem dormir, colocou em cada uma das farpas um pedacinho de carne.
      (   ) Durante 93 horas choveu ininterruptamente.
      (X) Encontrou, maravilhado, um peixe pendente de cada farpa, exceto três.

   06 – Por que a segunda afirmação do item 5 é absurda?
      Porque para colocar um pedacinho de carne nas farpas todos os dois homens levariam, pelo menos, um mês. Ora, ninguém é capaz de aguentar tanto tempo sem comer nem dormir.

   07 – O fazendeiro agiu bem, despedindo o empregado? Justifique a sua resposta:
      Não, agiu mal, foi injusto, porque despediu o empregado por um motivo à-toa.


POEMA: HOMEM LIVRE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: HOMEM LIVRE
              Carlos Drummond de Andrade

Atanásio nasceu com seis dedos em cada mão.
Cortaram-lhe os dois excedentes.
Cortassem quatro, seria o mesmo
Admirável oficial de sapateiro, exímio seleiro.
Lombilho que ele faz quem mais faria?
Tem prática de animais, grande ferreiro.


Sendo tanta coisa, nasceu escravo,
O que não é bom para Atanásio nem para ninguém.
Então foge do Rio Doce.
Vai parar, homem livre, no Seminário de Diamantina,
Onde é cozinheiro, ótimo sempre, esse Atanásio.
Meu parente Manuel Chassim Drummond não se conforma.
Bota anúncio do Jequitinhonha, bem explicadinho:
Duzentos mil-réis a quem prender crioulo Atanásio!
Mas quem vai prender homem de tantas qualidades?

                                                          Carlos Drummond de Andrade.
                                                                Jornal do Brasil, 3-10-1970.

Entendendo o texto:
01 – Situe no tempo (em que época foi?) e no espaço (em que lugar?) a história de Atanásio.
      No tempo da escravidão, em Minas.

02 – Baseado no texto, mostre que Atanásio era “homem de muitas qualidades”.
      Era admirável oficial de sapateiro, seleiro exímio, grande ferreiro, ótimo cozinheiro e sabia lidar com animais.

03 – A pior infelicidade de Atanásio era:
      (   ) Ter nascido com mãos defeituosas.
      (X) Ter nascido escravo.
      (   ) Ter fugido de sua terra.

04 – Por que Atanásio fugiu do Rio Doce?
      Porque ele queria ser homem livre.

05 – Cite o verso em que o autor condena a escravidão.
      “O que não é bom para Atanásio nem para ninguém”.

06 – Depois que fugiu, para onde foi Atanásio e que profissão passou a exercer?
      Atanásio foi para Diamantina e passou a exercer a profissão de cozinheiro no seminário dessa cidade.

07 – Quem era o dono de Atanásio e que fez ele para capturar o escravo?
      Era Manuel Chassim Drummond, parente do autor destes versos, o qual botou anúncio num jornal com detalhadas informações sobre o escravo e prometendo um prêmio a quem o capturasse.

08 – A quantia de duzentos mil-réis (o prêmio pela captura de Atanásio), naquela época, era muito ou pouco dinheiro?
      Era muito dinheiro.

09 – A resposta às perguntas dos versos 5 e 15 seria:
      (X) Ninguém.       (   ) Qualquer um.      (   ) Muitos.

10 – A oração “Cortassem quatro”, no verso 3, exprime:
      (   ) Dúvida.     (X) Hipótese, concessão.    (   ) Admiração.

11 – Para dar ao fato narrado um sabor de atualidade, o autor usou os verbos no tempo:
      (X) Presente.       (   ) Pretérito.         (   ) Futuro.