sábado, 20 de janeiro de 2018

CRÔNICA: NAMORO E FUTEBOL - MOACYR SCLIAR - FOLHATEEN - COM GABARITO

CRÔNICA: NAMORO & FUTEBOL
                      Moacyr Scliar

Elas querem a sua chuteira. Desafiar os meninos para jogar futebol virou mania nas escolas; e não é que as garotas estão batendo um bolão? 
Folhateen, 12 de setembro de 2005

  Eles se conheceram na escola, onde cursavam a mesma classe.
 E foi o legítimo amor à primeira vista. Uma semana depois já estavam namorando, e namorando firme. Eram desses namorados que fazem as pessoas suspirae dizer baixinhomeu Deus, o amor é lindo. Ele, 17 anos, altoforte, simpático; ela, 16, umbeleza rara. Logo estavam e visitando ecasa. Os paidambos davam a maior forçpara o namoro e antecipavam um casamento no futuro: os dois formavam o casalzinhidealInclusive eles gostavadas mesmas coisas: ler, ir ao cinema, passear nparque.
    Maalguma coisa tinha de aparecernão é mesmo? Alguma coisa sempre aparece para perturbar mesmo o idílio mais perfeito.
         Foi o futebol.
        Ele ermaluco pelo esporte. Jogava num dos vários times da escola, no qual era o goleiro. Um grande e esforçado goleiro, cujas defesas muitas vezes arrancavam aplausos da torcida.
        Ela costumava assistir às partidas. No começnem gostava muito, mas então passou a se interessar. Um dia disse ao namorado que queria jogar também, no time das meninas da escola. Para surpresa dela, ele se mostrou radicalmente contrário à ideia. Disse qufutebol era coisa para homemque ela acabaria se machucando. Se queria praticaalguesportedeveria escolher o vôleiEla ficoabsolutamente revoltada com o que considerou uma postura machistdeleDissque iria começar a treinar de qualquer jeito.
    Começou mesmo. E levava jeito para a coisa: driblava bemtinha um chute potente. Só que aquilo azedava cada vez mais as relaçõeentrelesDiscutiam com frequênciacabaram decidindo dar um tempoUma notícia qudeixou a todos consternados.
      Passadas umas semanas, a surpresa: o time das meninas desafiou o timem que ele era goleiro para uma partida.
   Ele tentou o possível para convencer os companheiros a não jogar com elas. No fundoporémnão queria se ver frenta frente coa namorada, oex-namorada. Os outros perceberam isso, disseram que era bobagee o jogo foi marcado.
     Ele estavtensonervoso. E não podia tirar os olhos dela. Agora tinha de admitirjogava muitbem, a garotaErtão rápida, quanto graciosa eolhando-a, ele sentia queapesar das discussões, ainda gostavdela.
     Drepenteo pênalti. Pênalti contra o time dos garotos. elfoi designada para cobrá-lo. Ali estavam os doiselnervosoela absolutamente impassívelCorreu para a bola - no último segundo ainda sorriu e bateu forte. Um chutviolento que ele, bem posicionado, defendeu. Sob os aplausos da torcida.
     O jogo terminou zero a zero. Eles se reconciliarae agora estão firmes de novo.
   Mas umdúvida o persegueserá que ela não chutou a bola para que ele fizesse a brilhantdefesa? Não teria sido aquilo um gesto, par assim dizerde reconciliação?
    Ela se recusa a responder a essa perguntaDiz que upouco dmistério dá sabor ao namoroE talvez tenha razãoO fato é que, desde entãoela já cobrou vários pênaltis. E não errou nenhum.
                                                                            
ENTENDENDO O TEXTO

01 – Sobre o interesse da moça pelo futebol, é correto afirmar que ela:
(A) sempre fora maluca pelo esporte.
(B) começou a gostar vendo o namorado jogar.
(C) só se envolvequando precisou cobrar um pênalti.
(Dpassou a jogar obrigada pelas outras meninas.
                             
02 – No quinto parágrafouso dos advérbios "radicalmente" e "absolutamente" indica que:
       (A)  nem a moçnem o rapaz estavam convictos quanto à posição que assumiram na discussão.
(B)  embora o rapaz tivesse se excedido, a moça de forma alguma discordaria dele.
       (C)  a moça e o rapaz agiram de modo refletido e ponderado mesmo em situações controversas.
(D)  a uma posição extrema do rapaz correspondeu uma reação proporcional da moça.                           

03 – O sentido dos trechos "foi o legítimo amor à primeira vistae "os dois formavam o casalzinho idealretomado, no texto, pela expressão:   
(A) idílio mais perfeito.               (B) postura machista. 
(Cjeito para a coisa.                   (D) dar um tempo.                 

04 – O primeiro conflito qurompe a situação inicial de equilíbrio vivida pelos personagens localiza-se no:  
(Aprimeiro parágrafo. 
(B) sétimo parágrafo. 
(C) quinto parágrafo.              
(D) penúltimo parágrafo.                                                                         

05 – A afirmação, no segundparágrafo, de que "Alguma coisa sempre aparece para perturbar" é confirmada ntrecho do texto:     (A) E talvez tenha razão.               
(BMas uma dúvida o persegue.   
(C) Ele era maluco pelo esporte.         
(D) Sob os aplausos dtorcida.









ARTIGO DE OPINIÃO: POR QUE LER? DANIEL PISA - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: POR QUE LER?   
  
  
   Uma pergunta frequente em círculos de pedagogos é: por que o brasileiro lê tão pouco? Antes de mais nada, note-se, eles esquecem que ler não é apenas ler livros. Ler a imprensa também é primordial. Pode verificar as estatísticas: os maiores índices de leituras de jornais e revistas estão nos países mais desenvolvidos do mundo. E agora há a leitura pela  internet.        
      Mas, claro, a falta do hábito de ler livros é triste. Não vamos falar em analfabetismo funcional, pobreza etc. Pense nos que podem ler e não leem. Que desculpas dão? A mais comum é falta de tempo. Balela.
      Esta falta de tempo não as impede de ver em média mais de três horas de TV por dia. Outra desculpa: dinheiro. Concordo que livros são caros no Brasil, por um misto de razões (escala, cartelização, incompetência), mas muita gente que vai ao cinema duas vezes por semana - R$ 20, mais estacionamento - não compra um livro por semana ou por quinzena, ao mesmo preço. (...)   
      E há uma terceira e mais grave desculpa: preguiça. "Ah, tenho preguiça de ficar lendo aquela coisa lenta, chata, comprida." É curioso como o adjetivo "chato" se tornou autojustificável: "Então, você gostou do filme?" "Não, achei muito chato." Não se dão nem o crédito de perguntar se eles é que não perceberam o interesse que há naquele filme. Mas voltemos aos livros. As pessoas acham chato ler porque estão perdendo a capacidade de concentração, de sustentar em silêncio uma atenção contínua, num mundo carregado de trânsito, videoclipe e cançãozinha. Mas reservar meia horinha por dia ou duas horas no fim de semana para a leitura de bons livros é bem mais simples do que parece. (...)           
       Então quem é o bom leitor? É aquele que não troca o ardor pelo argumento, mas que sabe que bom argumento é o que tem ardor (entusiasmo). É o que não se ofende por uma opinião diferente e realmente está aberto a novas ênfases (ideias) (...). É o que se concentra nas grandes ideias, não nos pequenos erros. É uma ave rara. (...)

PISA, Daniel. Leituras, livros, leitores. São Paulo,
O Estado de S. Paulo,(adaptado)
Entendendo o texto:

01 – Segundo o autor, "ler imprensa" é, entre outras, a leitura:
(A)    de livros.
(B)    de jornal.         
(C)    pela internet.
(D)    de filmes.

02 – No segundo parágrafo, o autor insinua que um dos motivos do baixo número de leitores no Brasil é:
(A)    o analfabetismo funcional. 
(B)   a falta de motivação.
(C)   o tempo de TV.
(D)   a falta de dinheiro.

03 – Segundo o autor, as pessoas "acham chato ler", porque a leitura exige:
(A)   absorção e contemplação.
(B)   interesse e conforto.
(C)   consumo e consistência.
(D)   concordância e concessão.

04 – No último parágrafo, o autor afirma que bons leitores há poucos com a seguinte expressão:
(A)   "opiniões diferentes".
(B)   "grandes ideias".
(C)   "pequenos erros".
(D)   "ave rara".

05 – No texto, o autor defende a necessidade de se:
(A)   recuperar a atividade de leitura.
(B)   educar o leitor.
(C)   reduzir o preço do livro.
(D)   substituir a televisão pelo livro.

06 – No texto, o autor, para aqueles que "podem ler e não lêem", apresenta uma proposta direta:
(A)   vá menos ao cinema.
(B)   reserve um tempo para a leitura.
(C)   fundamente seus argumentos.
(D)   concentre-se nos pequenos erros.