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domingo, 5 de maio de 2019

ROMANCE: SÃO BERNARDO 2 - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

Romance: São Bernardo 2 – (Fragmento)     
                  Graciliano Ramos

        Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.
        E, falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever.
        Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as ideias não vêm, ou vêm muito numerosas – e a folha permanece meio escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o papel.
        Emoções indefiníveis me agitam – inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração.
        Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas palavras, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão.
        Lá fora os sapos arengavam, o vento gemia, as árvores do pomar tornavam-se massas negras.
        -- Casimiro!
        Cassimiro Lopes estava no jardim, acocorado ao pé da janela, vigiando.
        -- Casimiro!
        A figura de Cassimiro Lopes aparece à janela, os sapos gritam, o vento sacode as árvores, apenas visíveis na treva. Maria das Dores entra e vai abrir o comutador. Detenho-a: não quero luz.
        O tique-taque do relógio diminui, os grilos começam a cantar. E Madalena surge no lado de lá da mesa. Digo baixinho:
        -- Madalena!
        A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a vejo com os olhos.
        Estou encostado à mesa, as mãos cruzadas. Os objetos fundiram-se, e não enxergo sequer a toalha branca.
        -- Madalena...
        A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente que mande algum dinheiro a mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é diferente das outras, é uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Loucura estar uma pessoa ao mesmo tempo zangada e tranquila. Mas estou assim. Irritado contra quem? Contra mestre Caetano. Não Obstante ele ter morrido, acho bom que vá trabalhar. Mandrião!
        A toalha reaparece, mas não sei se é esta toalha sobre que tenho as mãos cruzadas ou a que estava aqui há cinco anos.
        Rumor do vento, dos sapos, dos grilos. A porta do escritório abre-se de manso, os passos de seu Ribeiro afastam-se. Uma coruja pia na torre da igreja. Terá realmente piado a coruja? Será a mesma que piava há dois anos? Talvez seja até o mesmo pio daquele tempo.
      Agora seu Ribeiro está conversando com Dona Glória no salão. Esqueço que eles me deixaram e que esta casa está quase deserta.
        -- Casimiro!
        Penso que chamei Casimiro Lopes. A cabeça dele, com o chapéu de couro de sertanejo, assoma de quando em quando à janela, mas ignoro se a visão que me dá é atual ou remota.
        Agitam-se em mim sentimentos inconciliáveis: encolerizo-me e enterneço-me; bato na mesa e tenho vontade de chorar.

                                   São Bernardo. Rio de Janeiro, Record, 1983.

Entendendo o romance:
01 – De acordo com o texto, o que significa as palavras abaixo:
·        Arengar: discursar.
·        Mandrião: preguiçoso, vadio.
·        Assomar: aparecer.

02 – Nessa passagem de São Bernardo, o narrador-personagem, Paulo Honório, sente-se bloqueado para continuar sua história e, ao mesmo tempo, não consegue parar de escrever. Na sua opinião:
a)   Por que não consegue prosseguir?
Por lhe escapar o retrato moral de sua mulher, Madalena.

b)   Por que não consegue parar?
Por um estado emocional pesado e confuso, repleto de lembranças que precisam se externar.

03 – Que frase do texto sintetiza o sentimento de culpa de Paulo Honório?
      “A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.”

04 – De acordo com o texto:
a)   Do que Paulo Honório sente-se culpado?
Paulo Honório sente-se culpado por não ter compreendido Madalena e por ter provocado o seu suicídio.

b)   Que características de Paulo Honório apontam sua culpabilidade, tendo em vista as diferenças entre ele e Madalena? Cite uma passagem do texto que exemplifique sua resposta.
O autoritarismo e a prepotência, diante da bondade e da solidariedade de Madalena. Uma passagem do texto que exemplifica esta resposta é a referência a mestre Caetano, a quem ela lhe pede que ajude, mas que ele manda trabalhar.

c)   No trecho onde se encontra a referência a mestre Caetano, há fragmentos que indicam a confusão mental do narrador-personagem, perdido entre o passado e o presente, entre reafirmar o seu autoritarismo e reconhecer-lhe a estupidez. Identifique esses fragmentos.
Paulo Honório se diz irritado, mas é uma “irritação antiga”, que o deixa “inteiramente calmo”. Em seguida diz que, embora mestre Caetano tenha morrido, acha “bom que vá trabalhar”.

05 – Ao longo do texto, qual a função das menções à noite, ao barulho dos sapos, ao vento sacudindo as árvores e ao pio da coruja, enfim, aos elementos da natureza, tendo em vista o caráter de rememoração da narrativa de Paulo Honório?
      A função das menções aos elementos da natureza é trazer o passado ao presente, fazer com que aquele reapareça por meio da reprodução mental dos mesmos rumores, da mesma atmosfera, vivenciados no passado.

06 – Identifique no texto lido:
a)   Duas personagens que ainda se encontram no presente de Paulo Honório.
Casimiro Lopes e Maria das Dores.

b)   Três personagens que só existem no passado e nas lembranças de Paulo Honório.
Madalena, mestre Caetano e seu Ribeiro.

c)   A personagem que atravessa ambos os tempos. Caracterize o seu estado de espírito e cite dois momentos do texto em que fica mais explicita a confusão que estabelece entre o presente e o passado.
A personagem que atravessa ambos os tempos é Paulo Honório; seu estado de espírito é de saudade, remorso, raiva, solidão, angustia, confusão mental. Os momentos podem ser: “A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos...”; “Os objetos fundiram-se...”; ou “Terá realmente piado a coruja? Será a mesma que piava há dois anos?”

07 – Releia o trecho que se inicia com a exclamação: “--- Madalena!”, até o momento em que Paulo Honório chama por Casimiro. Comente a presença de Madalena e de seu Ribeiro, considerando a frase “Os objetos fundiram-se, e não enxergo sequer a toalha branca”.
      Em seu desespero e solidão, Paulo Honório evoca tão intensamente as personagens de seu passado que elas se tornam presentes, como fantasmas que o visitassem. A voz de Madalena parece chegar aos ouvidos, e a imagem, aos olhos, mas são alucinações. A toalha branca representa a realidade atual, que se apaga em sua visão. Mesmo quando reaparece, ele não sabe se é a toalha que está sob suas mãos ou a que ali estivera há cinco anos.

08 – Transcreva duas passagens metalinguísticas do texto.
      “Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever”; “Às vezes as ideias não vem, ou vem muito numerosas – e a folha permanece meio escrita, como estava na véspera.” Etc.


quinta-feira, 2 de maio de 2019

ROMANCE: VIDAS SECAS - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

Romance: VIDAS SECAS - (Fragmento)
                  GRACILIANO RAMOS

        Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.
        Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.

        -- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
        Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se, na presença dos brancos e julgava-se cabra.
        Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
        -- Você é um bicho, Fabiano.
        Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
        Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
        Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e semente de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.
        Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra baleia estavam agarrados à terra.
        Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.
        Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que demorava demais, tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.
                                        Vidas Secas. 27. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1970. p. 53-5.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, de o significado das palavras abaixo:
·        Aió: bolsa usada na caça.
·        Mucunã: trepadeira de grande porte, comum nas Guianas e em alguns Estados brasileiros.
·        Binga: isqueiro.
·        Camarinha: quarto de dormir.
·        Derrear-se: vergar-se, inclinar-se.
·        Quipá: planta brasileira da família dos cactos.
·        Gretado: rachado, com fendas.
·        Regalado: comprazer, satisfeito.

02 – Nesse episódio de Vidas Secas lido, é possível extrair algumas informações a respeito da personagem Fabiano e de sua família.
a)   Que razões teriam levado Fabiano e sua família à fazenda onde ele mora e trabalha como vaqueiro?
A fuga da seca.

b)   Portanto, que tipo de problema social é enfocado pela obra?
O problema da seca, da miséria, da migração, da falta de oportunidades sociais, etc.

03 – Além de abordar temas ligados à realidade nacional, outro traço do romance de 30 é a busca de uma linguagem brasileira. Observe a linguagem empregada no texto e as referências ao homem e à natureza.
a)   Que palavras do texto são típicas do português brasileiro e servem para designar elementos da paisagem nacional?
Aió, mucunã, quipá, mandacaru, xique-xique.

b)   Considerando o tema da obra e as descrições de Fabiano e da paisagem, levante hipóteses: Qual é a região brasileira retratada na obra?
O Nordeste.

c)   Predomina, nessa linguagem, a variedade padrão ou uma variedade não padrão da língua?
Predomina a variedade padrão.

04 – Ao longo do texto, a personagem é caracterizada de três formas diferentes. Observe:
        “-- Fabiano, você é um homem”.
        “...encolhia-se, na presença dos brancos e julgava-se cabra.”
        “-- Você é um bicho, Fabiano.”
        “Parecia um macaco”.

a)   A que elementos da natureza Fabiano é comparado no segundo e no terceiro fragmentos?
É comparado a animais.

b)   Essas comparações lembram procedimentos de outro movimento literário, que também enfocou as relações entre o homem e o meio natural e social. Qual é esse movimento?
O naturalismo.

05 – Observe o 2° e 3° parágrafos do texto. Fabiano, depois de preparar um cigarro de palha, exclama satisfeito: “— Fabiano, você é um homem”. Considerando o histórico da personagem, responda: Para Fabiano, o que é sentir-se um homem?
      É ter um emprego e uma casa para morar, sentir-se útil e ligado a um lugar e ter até direito a pequenos prazeres, como fumar.

06 – Observe estes dois trechos do texto:
        “Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. [...] estava plantado”.
        “Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano”.

Esses trechos mostram uma mudança no interior do pensamento de Fabiano, como se ele tomasse consciência de sua real condição.
a)   De que Fabiano toma consciência?
Toma consciência de que a terra não é sua e que, a qualquer momento, talvez aconteça outra seca e ele tenha de migrar novamente.

b)   Que tipo de problema social, amplamente denunciado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) no Brasil de hoje, se verifica na base da real condição de Fabiano?
O problema da propriedade rural, isto é, os lavradores não são donos da terra onde trabalham.

07 – Outro traço que caracteriza o romance de 30 é o emprego de novas técnicas narrativas, principalmente aquelas que sustentam a introspecção e a análise psicológica de personagens. É o caso, por exemplo, do discurso indireto livre, que funde a fala do narrador à fala ou ao pensamento da personagem. Observe os fragmentos abaixo:
        “Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se”.
        “Olhou os quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas”.
        “Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia!”

Identifique nesses fragmentos os trechos que correspondem ao pensamento de Fabiano.
      “Sim senhor, arrumara-se”; “Era mais forte [...] baraúnas”; “Considerar-se plantado em terra alheia!”.

08 – Com base no estudo de texto feito, conclua: De modo geral, como se caracteriza o romance de 30:
a)   Quanto aos temas e ao recorde da realidade?
Enfoca problemas sociais brasileiros, especialmente de algumas regiões, como Nordeste.

b)   Quanto à linguagem e às técnicas narrativas?
Predomina a variedade padrão; empregam-se técnicas narrativas como o discurso indireto livre.

c)   Quanto ao trabalho com as personagens?
Procura-se trabalhar a personagem do ponto de vista psicológico.






quarta-feira, 24 de outubro de 2018

CONTO: ALEXANDRE E A COBRA - GRACILIANO RAMOS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: ALEXANDRE E A COBRA
             GRACILIANO RAMOS

        De repente, quando mal me precatava, senti uma pancada no pé direito. Puxei a rédea, parei, ouvi um barulho de guiso, virei-me para saber de que se tratava e avistei uma cascavel assanhada, enorme, com dois metros de comprimento.
        -- Dois metros, seu Alexandre? inquiriu o cego preto Firmino. – Talvez seja muito.
        -- Espere, seu Firmino – bradou Alexandre zangado. – Quem viu a cobra foi o senhor ou fui eu?
        -- Foi o senhor – confessou o negro.
        -- Então escute. O senhor, que não vê, quer enxergar mais que os outros que têm vista. Assim é difícil a gente se entender, seu Firmino. Ouça calado, pelo amor de Deus. Se achar falha na história, fale depois e me xingue de potoqueiro.
        -- Perdoe – rosnou o cego. – É que eu gosto de saber as coisas por miúdo.
        -- Saberá, seu Firmino, – berrou Alexandre. – Quem disse que o senhor não saberá? Saberá. Mas não me interrompa, com os diabos. Ora muito bem. A cascavel mexia-se com raiva chocalhando e preparando-se para armar novo bote. Tinha dado o primeiro, de que falei, uma pancada aqui no pé direito. “-- Os dentes não me alcançaram porque estou bem calçado”, foi o que presumi. Saltei no chão e levantei o chicote, pois ali perto não havia pedra nem pau. A miserável enrolava-se, os olhos redondos pregados em mim, e a língua fora da boca. Zás! Desmanchei-lhe a rodilha com uma chicotada. Tentou endireitar-se, estraguei-lhe os planos com o chicote e fui batendo, batendo, até que, desanimada, ela meteu o rabo entre as pernas e botou-se devagarinho para um monte de garranchos de coivara.
        -- Como é isso, seu Alexandre? – perguntou o cego. – A cascavel meteu o rabo entre as pernas? Cascavel não tem pernas.
        -- Está claro que não tem – respondeu Alexandre. – Quando a gente diz que uma criatura mete o rabo entre as pernas, quer dizer que ela se encolhe, capionga, percebe? Foi o que se deu. Não é preciso um bicho ter pernas para meter o rabo entre as pernas. Seu Firmino é pessoa de entendimento curto e não compreende isso. A cascavel, que não tinha pernas, meteu o rabo entre as pernas e esgueirou-se para os garranchos e folhas secas que havia junto da estrada. Corri atrás dela e obriguei-a a voltar. Amiudei os golpes, a desgraçada bambeou e nem pediu fogo para o cachimbo. Machuquei-lhe a cabeça com o salto da bota. Estrebuchou, fez o que pôde para arrumar-se em novelo, depois se aquietou e ficou estirada na poeira. Baixei-me e medi o corpo mole: nove palmos e meio espichados. Isto é com o senhor, seu Firmino. Nove palmos e meio, entendeu? Mais de dois metros, penso eu.

Ramos, Graciliano. “O estribo de prata”. 18ª. ed. São Paulo. Ed. Record, 1979

Entendendo o conto:
01 – Estabeleça relação entre as colunas.
a- precatar                (b) mentiroso, loroteiro
b- potoqueiro            (e) agitar-se com violência, debater-se
c- rodilha                  (a) prevenir, precaver, acautelar
d- coivara                 (c) em forma de rolo, enrodilhado
e- estrebuchar          (d) pilha de ramagens que se queima, no
                                      campo, para limpar o terreno
f- inquiriu                   (h) vacilou
g- capionga               (f) perguntou
h- bambeou               (g) tristonha.

02 – “A cascavel mexia-se com raiva ... para armar um novo bote”. “Bote” tem aí o sentido de:
( ) pôr, colocar,
( ) embarcação pequena,
( ) salto do animal sobre a presa,
(X) ataque, investida.

03 – “A cascavel meteu o rabo entre as pernas?”, que explicação Alexandre deu a seu Firmino sobre a expressão “meteu o rabo entre as pernas”?
      “Quando a gente diz que uma criatura mete o rabo entre as pernas, quer dizer que ela se encolhe, capionga, percebe? Foi o que se deu.”

04 – Explique a expressão: “Seu Firmino é pessoa de entendimento curto e não compreende isto.”
      É uma pessoa que tem pouco estudo ou instrução.

05 – De acordo com o texto atribua as características, usando A para Alexandre e F para Firmino:
(A) mentiroso
(F) cego
(F) minucioso
(A) exagerado.

06 – O cego Firmino colocava em dúvida as histórias contadas por Alexandre. Retire do texto a passagem que comprova isto
1ª) “Dois metros, seu Alexandre.”
2ª) “Como é isso, seu Alexandre?”.

07 – “Saltei no chão e puxei o chicote”. Onde se encontrava Alexandre para ter saltado no chão? Retire do texto a passagem que comprova a sua resposta.
      De acordo com o texto, ele estava em cima do cavalo. “Puxei a rédea, parei, ouvi...”.

08 – Qual era a reação de Alexandre quando desconfiavam de suas histórias?
      Ele ficava zangado.

09 – “O senhor, que não vê, quer enxergar mais que os que têm vista?”. Para Alexandre, o cego queria:
( ) ser muito inteligente;
(X) conhecer bem o assunto;
( ) saber mais do que os outros
( ) adivinhar o futuro?

10 – De acordo com a descrição de Alexandre, como era a cascavel que ele encontrou?
      “Era uma cascavel assanhada, enorme, com dois metros de comprimento.”

11 – Algumas frases do texto estão colocadas abaixo, fora de ordem. Numere-as tendo em vista a sequência de acordo com o texto.
(3) “Se achar falha na história, fale depois e me xingue de potoqueiro.”
(1) “... avistei uma cascavel assanhada, enorme, com dois metros de comprimento.”
(5) “Amiudei os golpes, a desgraçada bambeou e nem pediu fogo para o cachimbo.”
(4) “Saltei no chão e levantei o chicote, pois ali perto não havia pedra nem pau.”
(2) “-- Dois metros, seu Alexandre?”

12 – De acordo com o texto a quem se referem as palavras abaixo destacadas?
a-“... e preparando-se para armar novo bote.”
b- “... os olhos redondos pregados em mim...”
c- “... estraguei-lhe os planos com o chicote ...”
d- “... e obriguei-a a voltar.”
e- “Baixei-me e medi o corpo...”
      As frases refere-se a cascavel.

13 – No texto foi utilizado o discurso direto. Retire um trecho que confirme essa afirmação.
      -- Espere, seu Firmino.
      -- Foi o senhor.

14 – Que tipo de narrador o texto apresenta? Comprove sua resposta.
      Narrador-personagem. Está no 1° parágrafo.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

FILME: VIDAS SECAS - (BASEADO NA OBRA DE GRACILIANO RAMOS) - NELSON P. DOS SANTOS - COM GABARITO

Filme: VIDAS SECAS

Data de lançamento 4 de maio de 1964 (1h 43min)
Gênero Drama
Nacionalidade Brasil

SINOPSE E DETALHES
        Uma família miserável tenta escapar da seca no sertão nordestino. Fabiano (Átila Iório), Sinhá Vitória (Maria Ribeiro), seus dois filhos e a cachorra Baleia vagam sem destino e já quase sem esperanças pelos confins do interior, sobrevivendo às forças da natureza e à crueldade dos homens. Adaptação da obra de Graciliano Ramos.

Entendendo o filme:

01 – Quais são os personagens principais de Vidas Secas?
a)   Fabiano, Sinhá Vitória Irmão mais velho, Irmão mais novo, Baleia e o papagaio.
b)   Leonardo Pataca, Leonardinho, Comadre, Compadre, Major Vidigal, Maria das Hortaliças, Dona Maria, Luisinha, Vidinha e José Manuel.
c)   João Ramão, Miranda, Bertoleza, Jerônimo, Rita Baiana, Leónie, Pombinha, Estela, Zulmira, Piedade e Capoeirista Firmo.

02 – Ao se fazer uma análise do filme, podemos concluir que:
a)   O autor faz um uso de um vocabulário rebuscado para retratar a vida da família com maior precisão.
b)   O filme não apresenta discurso indireto livre, pois a mescla da fala dos personagens com o discurso do narrador confundiria os leitores, deixando o romance difícil de ser compreendido
c)   O filme apresenta uma linearidade clara, já que apresenta começo, meio e fim.
d)   O autor não utiliza muitos adjetivos porque deseja exprimir a aridez do sertão.

03 – Vidas Secas faz parte de qual fase literária?
a)   Pré-modernismo.
b)   Primeira fase do modernismo.
c)   Segunda fase do modernismo.
d)   Terceira fase do modernismo.

04 – Entre as principais características de Vidas Secas, podemos citar:
a)   Falta de linearidade do tempo.
b)   Foco no nordestino, mostrando os problemas como a seca, a migração e a miséria do trabalhador rural.
c)   Presença de figuras de linguagem como metáfora, prosopopeia e zoomortização.
d)   Foco narrativo em terceira pessoa.
e)   Todas as anteriores.

05 – Sobre Fabiano, NÃO podemos afirmar que:
a)   Fabiano sonha com uma vida melhor.
b)   Fabiano consegue dominar o ambiente rural.
c)   Fabiano consegue se expressar com facilidade.

06 – Sobre o enredo de Vidas Secas, NÃO podemos afirmar que:
a)   Fabiano mata a cadela Baleia.
b)   O menino mais novo queria ser vaqueiro como o pai.
c)   Na cena Inverno inicia-se o período das chuvas.
d)   Fabiano é preso pelo Soldado Amarelo.

07 – UFMG 2003 – Com base no filme, é CORRETO afirmar que:
a)   No início, as personagens passam fome e, no final, sofrem com o frio.
b)   No início, predomina a desgraça da seca e, no final, e desgraça da estação chuvosa.
c)   No início, a família está em fuga e, no final, a mesma situação se repete.
d)   No início, a família se encontra íntegra e, no final, se mostra desfeita.

08 – Leia o fragmento abaixo transcrito da obra Vidas Secas e responda a questão a seguir.
        “Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas. (Graciliano Ramos).”
        O texto, no seu conjunto, enfatiza:
a)   A pobreza física do personagem.
b)   A falta de escolaridade do personagem.
c)   A miséria moral do personagem.
d)   A identificação do personagem com o mundo animal.
e)   N.D.A.

09 – “A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul, as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.”
        De acordo com o fragmento acima, é incorreto o que se afirma em:
a)   Tanto Sinhá Vitória quanto Fabiano tinham fé na providência divina.
b)   O enfoque é narrativo.
c)   O que se relata ao longo do parágrafo tem o objetivo de confirmar a afirmação da primeira frase.
d)   Há evidências de que Sinhá Vitória e Fabiano estão fragilizados, pois ela “benzia-se tremendo” e ele estava “encolhido no banco do copiar”.
e)   O tema predominante é a indagnação metafísica sobre a existência (inexistência) de Deus.

10 – EU – Maringá:
        “A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto...”
        O excerto acima apresenta uma cena da obra:
a)   Angústia.
b)   Vidas Secas.
c)   Doidinho.
d)   Dom Casmurro.
e)   Menino do Engenho.