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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

CRÔNICA: A FUGA - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS


Crônica: A FUGA
                Fernando Sabino
       
                        
   Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.
   -- Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.
  Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
        -- Pois então para de empurrar a cadeira.
        -- Eu vou embora - foi a resposta.
        Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa – a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
        A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
        -- Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
       -- Saiu agora mesmo com uma trouxinha – informou ele.
       Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, iam deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e - saíra de casa prevenido - uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à Avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia à distância.
        -- Meu filho, cuidado!
        O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:
        -- Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito, comovido.
        -- Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
        Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
        -- Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
        -- Me larga. Eu quero ir embora.
        Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
        -- Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
        -- Fico, mas vou empurrar esta cadeira.  E o barulho recomeçou.

                           SABINO, Fernando. A vitória da infância. São Paulo, Ática, 1995. p. 43.

Entendendo a crônica:
01 – No trecho: “Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira”, o que significa dizer que o garoto “sabia reagir como homem”?
      Significa que ele já sabia tomar uma atitude quando se sentia injustiçado; sabia defender-se de uma acusação. Que ele não iria apenas ficar chorando como uma criança.

02 – O que é na sua opinião injustiça?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – De que forma o garoto reagiu à repreensão do pai?
      Resolveu fugir de casa.

04 – O pai teve uma atitude responsável ao deixar a porta aberta?
      Não, porque poderia ter acontecido coisa piores.

05 – Que valores há nos pertences que a criança levou consigo ao sair de casa?
      Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa – a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.

06 – Na sua opinião, o fato de o menino estar arrastando a cadeira teve algum motivo além de fazer barulho?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – A repreensão feita pelo pai no início do texto pode ser considerada justa ou injusta dependendo do ponto de vista. Responda:
a)   De acordo com o ponto de vista do garoto, por que ela foi injusta?
Porque ele não tinha a intensão de fazer barulho, seu objetivo era apenas empurrar uma cadeira.

b)   De acordo com o ponto de vista do pai, por que ela foi justa?
Porque o filho, ao empurrar a cadeira, estava fazendo barulho e atrapalhando o seu trabalho.

08 – Quem são personagens do texto?
      O pai, a mãe, o filho e o operário.

09 – Durante a história, as atitudes do pai em relação ao filho se modificam. Transcreva do texto trechos que comprovem as atitudes do pai abaixo relacionadas:

a)   Desatenção: “Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras”.

b)   Carinho: “O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho”; “— Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito, comovido”.

c)   Indecisão: “Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas”.

10 – No final da história, o garoto foi bem-sucedido? Ele conseguiu realizar seu desejo inicial?
      Ele foi bem-sucedido, pois continuou empurrando a cadeira.



segunda-feira, 5 de novembro de 2018

CRÔNICA: O MISTÉRIO DA CASA ABANDONADA - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: O mistério da casa abandonada
            Fernando Sabino

        Quando chegamos em frente à casa abandonada, ouvimos o sino da Igreja de Lourdes das pausadamente doze badaladas, meia-noite! [...]. Fazia frio e vi que Anairan tremia tanto quanto eu, mas ainda assim levamos em frente a nossa aventura.
        Não foi difícil transpor o portão: um ligeiro empurrão e ele se abriu, devagar, rinchando nas dobradiças. Fomos avançando por entre o mato do jardim. Alguma coisa deslizou junto a meus pés – um rato, certamente, ou mesmo um lagarto. Engoli em seco e prossegui a caminhada ao lado de minha companheira, seguido dos outros dois agentes.
        Ao chegar a varanda, ordenei a ambos que ficassem ali e nos esperassem. Não convinha entrarmos todos ao mesmo tempo. Alguém tinha de ficar de sentinela do lado de fora.
        Subimos os degraus de pedra em plena escuridão e tateamos pela parede à procura da porta. Tínhamos trazido conosco uma caixa de fósforos e uma vela, mas não era prudente acendê-la ali: poderíamos chamar a atenção de alguém na rua, algum guarda-noturno rondando por lá.
        Encontramos a porta e forçamos o trinco. Estava trancada por dentro, não houve jeito de abrir. Era tão fraca, a madeira parecia podre, e eu seria capaz de arromba-la com um pontapé, só que faria muito barulho. Preferimos forçar a janela que dava também para a varanda. Era só quebrar o vidro, meter a mão e puxar o trinco.
        Tirei o sapato e bati fortemente com o salto no vidro, que se espatifou num tremendo ruído. Assustando, Hindemburgo latiu no jardim, por sua vez nós assustando tanto, que nosso primeiro impulso foi fugir correndo.
        Como não acontecesse nada, ao fim de algum tempo resolvemos continuar a nossa missão. Aberta a janela, fui o primeiro a pular. Depois ajudei Anairan a entrar também. Só então, já dentro de casa, nos arriscamos a acender a vela.
        Era uma sala grande, onde não tinha nada, a não ser poeira e manchas de mofo pelas paredes forrados de papel estampado. A chama da vela, trêmula, projetava sombras que se mexiam, pelos cantos, ameaçadoras, enquanto avançávamos.
        Em pouco vimos que ali embaixo só havia uma cozinha, onde várias baratas fugiram correndo pelo chão de ladrilhos encardidos, um quartinho e com janelões dando para rua, mais nada.
        Restava subir as escadas e investigar o que havia nos quartos lá em cima.
        Subimos devagarinho, eu na frente, conduzindo a vela, a agente Anairan se agarrando na minha blusa. Procurava não fazer barulho, mas os degraus de madeira da escada, já meio podres, rinchavam, dando estalinhos debaixo de nossos pés.
        No segundo andar, empurramos a porta do primeiro quarto no corredor e entramos. Era um quarto grande, mas a vela não dava para ver nada, a não ser a nossa própria sombra, projetada na parede. Foi quando, de súbito, a luz acendeu e tudo se iluminou.
        No primeiro instante ficamos deslumbrados com aquela claridade e nós voltamos para ver quem tinha acendido a luz. Soltamos junto um grito de pavor – parado junto a porta estava um velho horrendo, alto barba suja, cabelos desgrenhados, a nos olhar, mãos na cintura:
        --- Que é que vocês dois estão fazendo aqui? Quem são vocês?
                                                                   Fernando Sabino.
Entendendo a crônica:
01 – Em: “O mistério da casa abandonada”, as ações das personagens e a maneira como elas são caracterizadas ajudam a compor o clima de suspense e de aventura da narrativa.
a)   Que ações do narrador-personagem e de seus companheiros ajudam na construção desse clima?
Que eles faziam parte de uma sociedade secreta e de encararem muitos mistérios.
b)   Qual é o papel assumido pelo narrador-personagem e por seus companheiros nessa aventura?
A de ir visitar uma casa que diziam ser mal assombrada.
02 – Uma missão secreta de investigação a uma casa abandonada é o tema da narrativa.
a)   Qual o termo usado, isto é, como era chamado, quando o narrador-personagem se refere:
- Ao grupo de amigos
- A  Mariana, Hindemburgo .
Agentes.

- Aos nomes Odnanref e Anairan.
Que Odnanref era o seu nome de guerra e Anairan era de Mariana.

- À casa abandonada.
A misteriosa casa na Avenida João Pinheiro.

b)   Encontre no texto o emprego de outros termos relacionados à situação de investigação e mistérios dessa narrativa.
O velho.

c)   Se você fosse escrever uma história, cujo tema fosse uma aventura na selva, que palavras escolheria para compor o clima de sua narrativa?
Escura, sombria, ar denso, plantas mortas e barulhos estranhos.

03 – De acordo com a narrativa, o casarão é tido como mal assombrado. A descrição que faz dele no texto destaca exatamente os aspectos sinistros do lugar.
a)   Releia o trecho em que o casarão é descrito e escreve as características de cada parte destacada
·        As paredes: Era estampada, tinha manchas de mofo, paredes descascando.
·        O portão: Rinchava nas dobradiças e se abria devagar, enferrujado.
·        A fachada: Hera subindo pela fachada.
·        A varanda: Teias de aranha.
·        O telhado: Morcegos vivam na frinchas do telhado.
·        As janelas: Apodrecidas e desconjuntadas.

b)   Na sua opinião, que impressões a descrição do casarão provoca no leitor?
Medo.

04 – Ao entrarem no primeiro quarto, no andar superior, algo surpreendeu os agentes secretos. Releia o trecho que corresponde a essa passagem – do 21° parágrafo ao 26° em voz alta, de maneira que o tom da fala da personagem seja coerente com a situação descrita e a intenção de surpreender, ameaçar, assustar as crianças.
a)   Para transmitir o tom ameaçador da personagem e aumentar a tensão da narrativa, que recurso foi empregado no texto?
O de usar palavras que indicasse coisas feias.

b)   Que outras informações sobre a personagem ajudam a transmitir a tensão no momento?
As suas caraterísticas.

c)   A aparência e a voz dessa personagem podem nos remeter a que outras personagens da história de ficção?
A de um cientista doido, a um mendigo, a um guarda, um bruxo.

05 – Por que será que as crianças ficaram quietas e sem se encontrarem no dia seguinte ao do episódio narrado? Levante hipóteses.
      Elas ficaram quietas e nem se encontraram para não causar suspeitas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

CRÔNICA: MENINO - FERNANDO SABINO- COM QUESTÕES GABARITADAS

CRÔNICA: Menino

                        Fernando Sabino

        Menino, vem pra dentro, olha o sereno! Vai lavar essa mão. Já escovou os dentes? Toma a benção a seu pai. Já pra cama!
        Onde aprendeu isso menino? – coisa mais feia. Toma modos. Hoje você fica sem sobremesa. Onde é que você estava? Agora chega, menino, tenha santa paciência.
        De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe? Isso, assim que eu gosto: menino educado, obediente. Está vendo? É só a gente falar. Desce daí, menino! Me prega cada susto...para com isso! Joga isso fora. Uma boa surra dava jeito nisso. Que é que você andou arranjando? Quem te ensinou esses modos? Passe pra dentro. Isso não é gente para ficar andando com você.
        Avise seu pai que o jantar tá na mesa. Você prometeu, tem de cumprir. Que é que você vai ser quando crescer? Não, chega: você já repetiu duas vezes. Por que você está quieto aí? Alguma coisa está tramando...não anda descalço, já disse! – vai calçar o sapato. Já tomou remédio? Tem de comer tudo, você tá virando um palito. Quantas vezes já te disse para não mexer aqui? Esse barulho, menino! – teu pai tá dormindo. Para com essa correria dentro de casa, vai brincar lá fora. Você vai acabar caindo daí. Pede licença a seu pai primeiro. Isso é maneira de responder à sua irmã? Se não fizer, fica de castigo. Segura o garfo direito. Põe a camisa pra dentro da calça. Fica perguntando, tudo você quer saber! Isso é conversa de gente grande. Depois eu te dou. Depois eu deixo. Depois eu te levo. Depois eu conto. Agora não, depois!
        Deixa seu pai descansar – ele está cansado, trabalhou o dia todo. Você precisa ser muito bonzinho com ele, meu filho. Ele gosta tanto de você. Tudo que ele faz é para seu bem. Olha aí, vestiu essa roupa agorinha mesmo, já está toda suja. Fez seus deveres? Você vai chegar atrasado. Chora não filhinho, mamãe está aqui com você. Nosso Senhor não vai deixar doer mais.
        Quando você for grande, você também vai poder. Já disse que não, e não, e não! Ah, é assim? – pois você vai ver só quando seu pai chegar. Não fale de boca cheia. Junta a comida no meio do prato. Por causa disso é preciso gritar? Seja homem. Você ainda é muito pequeno pra saber essas coisas. Mamãe tem muito orgulho de você. Cale essa boca! Você precisa cortar esse cabelo.
        Sorvete não pode, você tá resfriado. Não sei como você tem coragem de fazer assim com sua mãe. Se você comer agora, depois não janta. Assim você se machuca. Deixa de fita. Um menino desse tamanho, que é que os outros hão de dizer? Você queria que fizessem o mesmo com você? Continua assim que eu te dou umas palmadas. Pensa que a gente tem dinheiro pra jogar fora? Toma juízo menino!
        Ganhou agora mesmo e já acabou de quebrar. Que é que você vai querer no dia de seus anos? Agora não, depois, tenho mais o que fazer. Não fica triste não, depois mamãe te dá outro. Você teve saudades de mim? Vou contar só mais uma, tá na hora de dormir. Vem que a mamãe te leva pra caminha. Mamãe te ama, viu! Dá um beijo aqui. Dorme com Deus meu filho!

                                                                             (Fernando Sabino)
Entendendo a crônica:
01 – Qual o título da crônica?
      Menino.

02 – Quantos parágrafos possui na crônica?
      Possui 08 parágrafos.

03 – Em qual parágrafo o menino fica sem sobremesa, como castigo?
      No segundo parágrafo. “Onde aprendeu isso menino? – coisa mais feia. Toma modos. Hoje você fica sem sobremesa.”

04 – “... Toma a bênção a seu pai. Já pra cama”, a expressão destacada é:
a)   Uma ameaça.
b)   Uma ordem.
c)   Um elogio.
d)   Um convite.

05 – “Agora deixa seu pai descansar – ele está cansado, trabalhou o dia todo”. A expressão destacada indica:
a)   Tempo.
b)   Lugar.
c)   Modo.
d)   Dúvida.

06 – “Ponha a camisa pra dentro da calça”. O termo destacado é marca da linguagem:
a)   Formal.
b)   Informal.
c)   Regional.
d)   Científica.

07 – “Quantas vezes já lhe disse para não mexer aqui?”. A palavra destacada refere-se:
a)   Ao menino.
b)   Ao pai.
c)   À mãe.
d)   Ao senhor.

     


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

CRÔNICA: HORA DE DORMIR - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Hora de Dormir
                Fernando Sabino


— Por que não posso ficar vendo televisão?
— Porque você tem de dormir.
— Por quê?
— Porque está na hora, ora essa.
— Hora essa?
— Além do mais, isso não é programa para menino.
— Por quê?
— Porque é assunto de gente grande, que você não entende.

— Estou entendendo tudo.
— Mas não serve para você. É impróprio.
— Vai ter mulher pelada?
— Que bobagem é essa? Ande, vá dormir que você tem colégio amanhã cedo.
— Todo dia eu tenho.
— Está bem, todo dia você tem. Agora desligue isso e vá dormir.
— Espera um pouquinho.
— Não espero não.
— Você vai ficar aí vendo e eu não vou.
— Fico vendo não, pode desligar. Tenho horror de televisão. Vamos, obedeça a seu pai.
— Os outros meninos todos dormem tarde, só eu que durmo cedo.
— Não tenho nada ver com os outros meninos: tenho que ver com meu filho. Já para a cama.
— Também eu vou para a cama e não durmo, pronto. Fico acordado a noite toda.
— Não comece com coisa não, que eu perco a paciência.
— Pode perder.
— Deixe de ser malcriado.
— Você mesmo que me criou.
— O quê? Isso é maneira de falar com seu pai?
— Falo como quiser, pronto.
— Não fique respondendo não: cale essa boca.
— Não calo. A boca é minha.
— Olha que eu ponho de castigo.
— Pode pôr.
— Venha cá! Se der mais um pio, vai levar umas palmadas.
—  ...
— Quem é que anda ensinando esses modos? Você está ficando é muito insolente.
— Ficando o quê?
— Atrevido, malcriado. Eu com sua idade já sabia obedecer. Quando é que eu teria coragem de responder a meu pai como você faz. Ele me descia o braço, não tinha conversa. Eu porque sou muito mole, você fica abusando... Quando ele falava está na hora de dormir, estava na hora de dormir.
— Naquele tempo não tinha televisão.
— Mas tinha outras coisas.
— Que outras coisas?
— Ora, deixe de conversa. Vamos desligar esse negócio. Pronto, acabou-se. Agora é tratar de dormir.
— Chato.
— Tome, para você aprender. E amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai.
—...
— E não adianta ficar aí chorando feito bobo. Venha cá.
— Amanhã eu não vou ao colégio.
— Vai sim senhor. E não adianta ficar fazendo essa carinha, não pense que me comove. Anda, venha cá.
— Você me bateu...
— Bati porque você mereceu. Já acabou, pare de chorar. Foi de leve, não doeu nem nada. Peça perdão a seu pai e vá dormir.
—...
— Por que você é assim, meu filho? Só para me aborrecer. Sou tão bom para você, você não reconhece. Faço tudo que você me pede, os maiores sacrifícios. Todo dia trago para você uma coisa da rua. Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e quando chego em casa para descansar um pouco, você vem com essas coisas. Então é assim que se faz?
—...
— Então você não tem pena do seu pai? Vamos! Tome a bênção e vá dormir.
— Papai.
— Que é?
— Me desculpe.
— Está desculpado. Deus te abençoe. Agora vai.
— Por que não posso ficar vendo televisão? 
                                                                     (Fernando Sabino)
Entendendo a crônica:

01 – Responda:
a) Quem são as personagens do texto?
      O pai e o filho.

b) Há um narrador que apresenta as personagens e informa ao leitor quem
      O autor.

02 – Releia o seguinte trecho da conversa:
“— Por que não posso ficar vendo televisão?
— Porque você tem de dormir.
— Por quê?
— Porque está na hora, ora essa.
— Hora essa?
— Além do mais, isso não é programa para menino.
— Por quê?
— Porque é assunto de gente grande...”

Responda:
a) Qual é o motivo da discussão entre as personagens?
      É que o filho queria continuar assistindo a televisão.

b) O garoto insiste em perguntar por que não pode continuar vendo televisão. Como você explica a insistência dele?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Quais são os argumentos que o pai utiliza para convencer o filho a desligar a tevê?
      São: Hora de dormir – O programa impróprio – Assunto de adulto.

04 – O menino aceita os argumentos dados pelo pai? Justifique sua resposta.
      Não. Porque ele quer de toda maneira continuar assistindo a televisão.

05 – Releia algumas falas do menino:
“—Também vou para a cama e não durmo, pronto.”
“—Pode perder [a paciência].”
“— Falo como quiser, pronto.”
“—Não calo. A boca é minha.”
Essas falas revelam a atitude de resistência do menino em relação ao pai. Copie em seu caderno a alternativa que melhor traduz a atitude do menino:
a) O menino não aceita os argumentos, mas respeita a autoridade do pai.
b) O menino não aceita os argumentos e desafia a autoridade do pai.
c) O menino aceita os argumentos, mas desafia a autoridade do pai.
d) O menino aceita os argumentos e respeita a autoridade do pai.

06 – Copie a frase que melhor traduz a reação do pai diante da atitude do filho:
a)  Fica calmo e continua a argumentar a favor da necessidade de dormir do filho.
b) Perde a calma, mas continua a argumentar a favor da necessidade de dormir do filho.
c)  Fica calmo, mas usa as palmadas como recurso para fazer valer os seus argumentos.
d) Perde a calma e usa as palmadas como recurso para fazer valer os seus argumentos.

07 – A certa altura do texto, o menino diz:
       “—Você me bateu...” 
       Transcreva a frase do diálogo que revela o momento em que o pai bate no filho.
      “— Tome, para você aprender. E amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai.”

08 – Releia:
“— Papai.
 — Que é?
 — Me desculpe.
 — Está desculpado. Deus te abençoe. Agora vai.”
a) Se o pai tivesse terminado nesse ponto, quem teria vencido na troca de argumento?
      O pai.

b) Entretanto, o texto não termina nesse ponto. Releia a frase final do texto e explique a que conclusão se pode chegar:
“— Por que não posso ficar vendo televisão?”
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O filho mesmo não tendo razão ainda continua insistindo a ver televisão.


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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

CRÔNICA: A MULHER DO VIZINHO - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A mulher do vizinho
                           
               Fernando Sabino

     Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.
     O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.
    O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:
        — O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: duralex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.
        Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:
               — Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?
        O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
        — Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?
        Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:
        — Da ativa, minha senhora?
        E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
        — Da ativa, Motinha! Sai dessa…

(Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872. Tudo sobre Fernando Sabino em "Biografias".)

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, o que gerou a situação conflituosa do texto?
      Os filhos do sueco jogando futebol com bola de meia, e às vezes a bola caía no carro do general.

02 – No primeiro parágrafo do texto, o narrador usa alguns recursos que o eximem da veracidade dos fatos narrados. Observe o trecho inicial do conto:
        “Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.”
a) Que pessoa do discurso indica o pronome me em destaque?
      1ª pessoa.

b) Por que da expressão “contaram-me”, o leitor é capaz de identificar com precisão a origem da história? Explique.
      Porque percebe-se que a história foi contada por outra pessoa.

c) O conto “A mulher do vizinho” é narrada em 1ª ou 3ª pessoa?
      3ª pessoa.

d) Qual seria a diferença de sentido, se o trecho inicial do conto tivesse sido iniciado desta forma?
        “Na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general do nosso exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.”
      Porque percebe-se que a história foi contada por outra pessoa.

e) Por que podemos afirmar que o uso da 1ª pessoa pelo narrador, no início do conto, é um recurso para se descomprometer da veracidade dos fatos?
      Ao fato dele atribuir na história que contaram para ele, nesse caso ele se descompromete totalmente do assunto contado.

03 – Qual é o assunto tratado nesse texto?
      O espanto do delegado ao conhecer a mulher do vizinho.

04 – Em que momento da narrativa se dá o clímax da história?
      8° e 9° parágrafo.

05 – Que tipo de discurso foi usado nesse conto: direto ou indireto?
      Indireto.

06 – Com que objetivo foi escrito esse conto?
      Para mostrar que se deve conhecer as pessoas antes de falarem alguma a seu respeito ou intimá-la para uma eventual situação. 

07 – Algumas expressões presentes no conto não fazem parte do vocabulário cotidiano de grande parte das pessoas; no entanto, analisando o contexto, é possível identificar a ideia que cada uma sugere. Então, escreva o que significam, nesse contexto, as seguintes expressões:
a) Passar uma chamada: Convocar.                       
b) Casa da sogra: Fazer o que bem quiser.
c) Ir em cana: Preso.                                           
d) Morou? Sacou, agora?

08 – Faça o resumo do texto, retirando de cada parágrafo sua ideia principal.
      O autor no primeiro parágrafo se descompromete da veracidade dos fatos narrados. E ainda ocorre a situação conflituosa do texto. O sueco e a mulher comparece à delegacia, obedecendo a convocação do delegado. Este repreende o sueco pela má disciplina dos filhos. A mulher do sueco apresenta uma descompostura para com o delegado. Este desalentado ficou sem palavras ao conhecer que aquela mulher era peixe grande.  E deu o caso por encerrado.

09. De acordo com o texto, o problema ocorrido entre o general e os filhos do sueco se  deu devido  

         (A)  a bola cair no carro do general.

         (B)  os meninos passarem o dia jogando futebol.

         (C)  ser um conhecido e antipático general do exército.

         (D)  o sueco ser um estrangeiro.

 10.  O trecho “... outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou?” A palavra CANA pode ser substituída por

       (A) preso.

       (B)  cachaça.

       (C)  colmo de várias plantas gramíneas.

       (D) sumarento.

 11. No fragmento a seguir: “O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio: ...” A palavra “INTERVEIO” pode ser substituída por

       (A) interferiu.

       (B)  acudiu.

       (C)  ingeriu.

       (D) sobreveio.

 12. De acordo com a leitura do texto, o sueco era um homem

           (A) bem parecido e dono de uma grande fábrica de papel.

           (B)  tímido, meio descuidado no vestir, porém, humilde.

           (C)  culto, avarento e soberbo.

           (D) de poucas palavras, porém, gentil.