segunda-feira, 8 de maio de 2023

CRÔNICA: O CORONEL E O LOBISOMEM - JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO - COM GABARITO

 CRÔNICA: O CORONEL E O LOBISOMEM

         Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem – era sexta-feira.

Já um estirão era andado quando, numa roça de mandioca, adveio aquele figurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pêlo e raiva…

Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCrQIdV5Kx0335zRERbdRYXVq6OlDAJG9f3U4p8zG5zbFD_biOAPzTxWFG5gTR7ukkRuXMMiOHn1zxw13t9TunN9pq_wAw-HH7OTIXuENhLq86Pb1JTnmfCxHsQnkOc_0qjmfjRYrM6SEImM8qBWeoIy57dTS09eHVQl8M7oLYtavmMxMTT-MeFI0h/s433/O%20CORONEL.jpg


– São Jorge, Santo Onofre, São José!

Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azeredo Furtado. Dos olhos do lobisomem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente. Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira e de lá de cima, do galho mais firme aguardava a deliberação do lobisomem. Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha. O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei.

(JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO. O Coronel e o Lobisomem. José Olympio, 11a Edição, Rio de Janeiro)

COMPREENSÃO DO TEXTO

01.               Dê o significado das seguintes palavras que aparecem no texto:

                a) estirão –  caminhada longa

                b) carecia – precisava, necessitava

                c) macega – qualquer erva daninha

                d) negaças – engodo, isca

                e) súcia –  multidão de bandidos, malfeitores

                f) denegrir – tirar a fama ou o crédito, infamar

02.               O tempo (momento em que transcorre a ação) e o espaço (local onde ocorre a ação) estão adequados ao fato narrado? Justifique.

Sim. Pois descreve o encontro de um lobisomem, personagem folclórica que segundo seus criadores, só aparece à noite em lugares ermos ou florestas. O texto informa que era “noite de lobisomem – sexta-feira… numa roça de mandioca”.

03.               Em que pessoa é narrado o texto? Quem é o narrador?

É narrado em 1a pessoa. O narrador é Ponciano de Azeredo Furtado.

04.               Pode-se afirmar que o lobisomem é esperto? Justifique sua resposta com elementos do texto.

Sim. O texto informa que o lobisomem era “sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha.”

05.               Aponte uma passagem do texto que indica que o coronel sentiu medo do lobisomem.

“Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira e lá de cima, do galho mais firme aguardava a deliberação do lobisomem.”

06.               Quais nomes o narrador emprega para designar o lobisomem?

“figurão de cachorro”, “peste”, “penitente”, “assombrado”, “sabidão”, “par de brasas”, “galhofista”.

07.               Indique passagens do texto que revelam a fúria do lobisomem.

“Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais.” “Dos olhos do lobisomem pingava labareda…”

08.               Na frase: “Sujeito especial em lobisomem como eu, não ia cair em armadilha de pouco pau”, qual o sentido das expressões em destaque?

Especial – a palavra se refere ao narrador que se considerava um profundo conhecedor de lobisomem;

         Armadilha de pouco pau – emboscadas fáceis de serem descobertas antes de ser cair nelas.

       09.               Pode-se afirmar que o coronel é vaidoso? Justifique sua resposta com elementos do texto.

Sim. “Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azeredo Furtado.” “…eu, coronel de ânimo desenfreado…”, “Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau.”

10.               Aponte duas características do ambiente sociocultural em que se desenrola a ação.

      As características socioculturais que se pode identificar no texto: a) A crença em figuras folclóricas existente entre as pessoas simples e de pouco conhecimento científico que moram na zona rural das cidades;   b) A figura de um protetor rural – o coronel – muito comum em lugares onde as autoridades não fazem chegar a sua ação.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Olá. Primeiramente gostaria de parabenizar seu trabalho aqui disponibilizado e segundo dar uma sugestão: não deixar aqui os gabaritos para que nossos alunos não tenham acesso e desvalorizem ainda mais o nosso trabalho ao encontrarem as respostas prontas.

    ResponderExcluir