quarta-feira, 19 de maio de 2021

CONTO: BAÚ DE OSSOS (FRAGMENTO) - PEDRO NAVA - COM GABARITO

 CONTO: BAÚ DE OSSOS (FRAGMENTO)


  Pedro Nava

Não preciso recriar o sobrado de Joaquim Feijó de Melo porque este eu conheci. Basta recordar. Nele entrei pela primeira vez, em 1905, com pouco mais de dois anos, quando fui ao Ceará para me batizar.  Não tenho dessa viagem senão a vaga recordação da forma de uma escotilha - redonda e duramente luminosa, feito lâmpada cialítica - e, do lado de fora, alguma coisa oscilando como o ponteiro dum metrônomo, ponta de madeira e pano, decerto mastro de falua encostada em navio atracado. Dizia minha Mãe que era preciso não me perder de vista nem um instante, pois tudo que me caía às mãos (comida, uma pulseira, vários sapatos, mapa, um par de brincos de coral, escovas, todas as chaves das malas, duas bengalas, vários livros) era imediatamente atirado pelas escotilhas ou bordo acima - para meus amigos delfins e peixes-voadores. Nunca conheci madrinha de carregar, pois fui para o batismo com minhas próprias pernas, andando o trecho da Rua Formosa que vai até a Santa Casa de Misericórdia, em cuja capela recebi (em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo) o sal, o óleo, a saliva, a afusão e o nome de meu avô. Foram meus padrinhos a mãe e o padrasto do meu Pai. Não guardei lembrança, mas devo ter conservado no recôndito de minhas células a influência profunda das frutas da terra que, para terror de minha Mãe, minha avó me deixava comer até perder a respiração. Nu em pelo, para não manchar a roupa, eu ficava sentado na areia do terreiro, devorando pilhas de mangas e cajus. Quando não podia mais, quando já estava em ponto de arroto, regurgitação e vômito, besuntado dos pés à cabeça do caldo dourado e doce, vinha minha avó (para renovada angústia de minha Mãe, temente das câmaras  de sangue, dos catarros e do estupor) com um regador de água fria e me enxaguava torrencialmente. Em fevereiro de 1919 voltei à Rua Formosa (que já não era mais Formosa, mas Barão do Rio Branco) em viagem ao Ceará para conhecer melhor a mãe de meu Pai. Já era com Deus o velho Feijó, falecido a 21 de outubro de 1917. Na casa moravam minha avó, sua irmã Marout, suas filhas Dinorá e Alice, seu genro, marido da última, Antônio Salles. Como era simples, acolhedor e pacífico o sobrado de minha avó! Todo aberto ao sol, aos ventos, aos pregões, às visitas, aos mendigos.

NAVA, Pedro. Baú de ossos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 34-35.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.196-8.

 

 Glossário:

afusão: banho, aspersão, borrifo. Na cerimônia do batismo cristão, o padre asperge água benta sobre a cabeça de quem está sendo batizado.

câmara de sangue: (desusado) evacuação intestinal com sangue.

cialítico: luz que não projeta sombras, utilizada em cirurgia.

delfim: golfinho.

estupor: qualquer paralisia repentina.

metrônomo: instrumento que serve para regular os andamentos musicais.

pregão: voz ou pequena melodia, de ritmo livre, bastante próxima do recitativo musical, e com a qual os vendedores ambulantes anunciam suas mercadorias.

regurgitação: refluxo de substância do estômago para o esôfago.

Entendendo o texto

1.   Como é enunciador nesse conto?

O enunciador é uma pessoa real, trata-se de Pedro Nava, médico, nascido em Juiz de Fora, autor da obra de onde se retirou o fragmento. Portanto, nesse texto, enunciador e autor coincidem.

2.   Identifique no texto:

        a) uma passagem em que predomina a descrição;

            Possibilidades: "[...] uma escotilha - redonda e duramente luminosa, feito lâmpada cialítica - e, do lado de fora, alguma coisa oscilando como o ponteiro dum metrônomo, ponta de madeira e pano, decerto mastro de falua encostada em navio atracado."; "Como era simples, acolhedor e pacífico o sobrado de minha avó! Todo aberto ao sol, aos ventos, aos pregões, às visitas, aos mendigos."

     b) uma passagem em que predomina a enumeração;

         No trecho "[...] (comida, uma pulseira, vários sapatos, mapa, um par de brincos de coral, escovas, todas as chaves das malas, duas bengalas, vários livros) [...]"

c) um trecho em que o enunciador faz uma reflexão.

    "Não preciso recriar o sobrado de Joaquim Feijó de Melo [...]"
"[...] devo ter conservado no recôndito de minhas células a influência profunda das frutas da terra [...]"

3. Uma das características do gênero memorialista (tanto no ficcional quanto no não ficcional) é a organização cronológica dos acontecimentos. Por isso, as datas e os tempos verbais ajudam a situar os fatos. Responda: quais são os tempos verbais predominantes na narrativa lida? Identifique a função de cada um, exemplificando.

O pretérito perfeito e o pretérito imperfeito. O perfeito remete ao passado concluído do enunciador. Já o imperfeito situa, dentro desse passado, as ações e fatos progressivos, ou seja, habituais no tempo e no espaço descritos.

 4. Identifique no texto os verbos que situam o enunciador no presente da narrativa, ou seja, no tempo em que ele recorda o passado. Escreva-os.

Espera-se que os alunos identifiquem as formas verbais preciso; basta (recordar); tenho como índices do presente narrativo do enunciador.

5. Explique as expressões destacadas nos trechos seguintes:

a) "Nunca conheci madrinha de carregar, pois fui para o batismo com minhas próprias pernas [...]"

 O enunciador fala que não foi transportado no colo da madrinha, porque já andava quando foi batizado.

b) "Já era com Deus o velho Feijó [...]"

Já estava com Deus o velho Feijó/Já tinha morrido o velho Feijó.

6. Observe as expressões destacadas nos trechos a seguir:

[...] recebi (em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo) o sal, o óleo, a saliva, a afusão e o nome de meu avô.

[...] (para renovada angústia de minha Mãe, temente das câmaras de sangue, dos catarros e do estupor) [...]

era com Deus o velho Feijó [...]

Quando Nava escreveu Baú de ossos, as duas primeiras expressões destacadas, assim como o emprego do verbo ser (era) no lugar de estar já estavam em desuso. Por que Nava teria incorporado esses termos às suas memórias?

Ele usou esses termos na tentativa de tornar vivo o passado.

 

 

DIÁRIO: MINHA VIDA DE MENINA - HELENA MORLEY - COM GABARITO

 DIÁRIO: MINHA VIDA DE MENINA


1893

Domingo, 26 de novembro

Será que quando eu me casar vou gostar tanto de meu marido como mamãe de meu pai? Deus o permita. Mamãe só vive para ele e não pensa noutra coisa. Quando ele está em casa, os dois passam juntinhos o dia inteiro numa conversa sem fim. Quando meu pai está na Boa Vista, que é a semana toda, mamãe leva cantando umas cantigas muito ternas que a gente vê que são saudades e só arranjando-lhe as roupas, juntando ovos e engordando os frangos para os jantares de sábado e domingo. São dias de se passar bem em casa.

Segunda-feira tio Joãozinho levou meu pai para verem um serviço no Biribiri e voltarem no fim da semana. Terça-feira cedo, quando chegamos à janela, estava na porta a besta nossa conhecida, esperando a ração.

 Admirei a energia de mamãe. Ela foi logo dizendo: "Preparem-se para seguirmos amanhã de madrugada. Aconteceu alguma coisa a Alexandre". E com os olhos cheios de lágrimas mandou Cesarina matar dois frangos para a matalotagem.

De tarde pôs na maleta um vestido para cada uma de nós, uma roupa para meus irmãos e mandou chamar José Pedro para carregar a mala. O cesto da matalotagem Renato levava. Deitamos cedo, com a roupa ao lado, para nos levantar de madrugada, vestir e sairmos. Mamãe não se deitou dizendo que não podia dormir e passaria rezando. Nós não tínhamos ainda tirado um bom sono quando mamãe nos acordou: "Levantem que o galo já cantou duas vezes. Devem ser quatro horas. É bom que o dia clareie conosco para lá da Pedra Grande". Levantamos, tomamos o café e saímos, mamãe, meus irmãos e os dois crioulinhos, Cesarina e José Pedro.

Quando chegamos à rua achei o céu muito estrelado e a noite muito escura para quatro horas. Fomos andando, e nada do dia clarear. Quando já estávamos muito longe ouvimos o relógio da igreja do Seminário bater duas horas. Aí caímos todos no riso mas mamãe, a única responsável, não achou graça. Ela dizia: "O pior não é a hora. Até é bom viajar com a noite. Mas é que estou achando o caminho diferente. A estrada do Biribiri é bem mais larga". Fomos andando até não sabermos mais onde estávamos. Aí mamãe disse: "Esse caminho está estúrdio demais. É melhor sentarmos e esperarmos o dia clarear". Ela sentou-se numa pedra, estendeu o xale no chão para meus irmãos deitarem, colocou minha cabeça e a de Luisinha no colo, tirou o rosário e pôs-se a rezar enquanto dormíamos.

Quando o dia clareou, que abismo! Tínhamos errado o caminho. Estávamos num lugar de onde parecia que não seríamos capazes de sair. Era no alto da Serra dos Cristais e de lá de cima avistamos a estrada lá embaixo. Estávamos num precipício! Nós sempre confiantes em mamãe e suas orações; mas ela estava muda e só rezando. Perguntamos o que havíamos de fazer. Ela disse: "Esperem. Estou rezando a Santa Maria Eterna e só depois é que vou saber o que tenho de fazer". Esperamos. Pouco depois ela disse: "Voltar para trás está difícil, porque não sabemos o caminho. O que temos que fazer é seguir com fé em Deus, procurando sair daqui escorregando pela serra abaixo".

Nós, que parecíamos uns cabritos, escorregamos às vezes pedaços tão grandes, que só embaixo é que vimos o absurdo do que fazíamos. Renato quis fazer uma estripulia pendurando-se numa árvore pequena. Ela quebrou e ele caiu num buraco da serra e nós o perdemos de vista. Nessa hora pusemo-nos a chorar e a gritar. Mamãe, com os olhos cheios de lágrimas olhava para o céu e rezava: "Santa Maria Eterna, Virgem das Virgens, valei-me nesta ocasião, livrai-me desta aflição". Então o negrinho pediu o guarda-chuva, amarrou uma correia e deu a Renato para segurar e subir. Essa tentativa falhou umas três vezes. Por fim mamãe lhe deu o xale para segurar e ele subiu até em cima. Continuamos a rolar até cairmos na estrada.

Esta descida calculo que levou umas seis horas, pois o sol estava alto quando chegamos embaixo. Quando reparamos em nossas figuras rimos horrorizados. Nossos vestidos ensopados e em farrapos. Só nesta hora é que mamãe viu que Luisinha estava com o rosto disforme com caxumba! Estávamos com fome e não havia mais nada que comer; a matalotagem tinha acabado. Fomos para trás de uma moita, enquanto mamãe vigiava a estrada e mudamos a roupa.

Nesse lugar, enquanto descansávamos, passou um beija-flor-de-rabo-branco e aproximou-se de nós. Renato deu com o chapéu no pobrezinho e atirou-o morto no chão. Mamãe lhe disse: "Que malvado! Você vai ver o que te acontece. Afianço que você não vai ganhar nem um presentinho no Biribiri!". Sempre que vamos ao Biribiri voltamos carregados de presentes. Dona Mariana dá-nos das fazendas da fábrica; meu tio, dinheiro e latas de doces.

Depois de descansar seguimos para o Biribiri. Fomos recebidos com alegria e espanto. Quando mamãe contou a história do aparecimento da besta e as aventuras da viagem, todos riram à grande. Só então meu pai soube que a besta tinha fugido do pasto e voltado para casa.

Passamos lá dois dias e voltamos ontem para a cidade com um fardo dos presentes que todos nós ganhamos. Menos Renato, que não ganhou nem um lenço. Depois há gente que não acredita em castigo de quem mata beija-flor. Eu não poderei mais duvidar.

MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 73-75.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p. 193-6.

 Glossário:

afiançar: garantir.

à grande: demasiadamente; em excesso.

besta: animal irracional, quadrúpede, em geral doméstico.

fazenda: tecido.

matalotagem: provisão de mantimentos para ser consumida durante uma viagem.

Entendendo o texto

1. A narrativa de Helena Morley dá-se em uma fase em que a jovem transita da infância à maturidade. Identifique e escreva no caderno uma passagem em que se observa a "fala" de uma Helena mais madura.

Há três passagens explícitas: 1ª) "Quando meu pai está na Boa Vista, que é a semana toda, mamãe leva cantando umas cantigas muito ternas que a gente vê que são saudades [...]"; 2ª) "Admirei a energia de mamãe."; 3ª) "Esta descida calculo que levou umas seis horas, pois o sol estava alto quando chegamos embaixo."

2.Observe: "Esse caminho está estúrdio demais". Mesmo sem consultar o dicionário, você certamente consegue deduzir, pelo contexto, o sentido da palavra destacada. Qual é?

Estranho, esquisito.

3. Releia este trecho:

Será que quando eu me casar vou gostar tanto de meu marido como mamãe de meu pai? Ao utilizar a expressão destacada, o enunciador espera mesmo uma resposta? Explique.

Não. A expressão indica incerteza, dúvida.

4. Releia este outro trecho e responda no caderno:

[...] que a gente vê que são saudades [...]

A expressão destacada é mais comum na linguagem informal. Que palavra corresponde a essa expressão na linguagem formal?

Nós.

5.Reescreva este trecho, utilizando uma linguagem menos coloquial.

Fomos andando, e nada do dia clarear.

Sugestões de resposta: Fomos andando, mas o dia não clareava.

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

A CARTA DE RECLAMAÇÃO - COM GABARITO

 A CARTA DE RECLAMAÇÃO


O texto a seguir é uma carta de reclamação, publicada na Internet. 

Leia

As cartas argumentativas de reclamação e de solicitação

Senhores,

Comprei um apartamento, no condomínio C. I., em Salvador, BA, da construtora [...]. O imóvel foi adquirido na planta e o pagamento foi sendo feito de acordo com o avanço da construção.

Quando o empreendimento ficou pronto, com um atraso de 12 meses, restou um saldo devedor que deve ser quitado em prazo determinado pela construtora. Ciente deste prazo, procurei a construtora [...], proprietária e vendedora do imóvel, em 06/09 e 09/09/11, e apresentei uma proposta de pagamento deste saldo devedor. A proposta inclui a utilização de uma carta de crédito de  consórcio imobiliário, complementando o pagamento através de recursos próprios. Quando uma carta de crédito é usada na compra de um imóvel, a administradora do consórcio exige que este fique alienado em garantia. Em vista disso, o vendedor do imóvel é solicitado a fornecer uma relação de documentos, que devem ser apresentados para análise da administradora do consórcio.

O vendedor do imóvel também é informado que o valor da carta de crédito só será creditado em sua conta, em até 45 dias, se a documentação solicitada for entregue e estiver rigorosamente em ordem.

Para minha surpresa, a construtora [...] não atendeu a solicitação da administradora do consórcio em relação ao fornecimento da documentação necessária para que eu pudesse usar a carta de crédito quitando o saldo devedor do meu imóvel, tampouco emitiu qualquer comunicado informando os motivos dessa recusa ou a impossibilidade de atendimento. No entanto, manteve o cronograma relativo ao prazo para pagamento do saldo devedor, instalação do condomínio e condiciona a entrega das chaves do imóvel à quitação do saldo devedor. Dessa forma, como a construtora [...] não forneceu a documentação, necessária para viabilizar a utilização da carta de crédito, fico impossibilitado de efetuar a quitação do saldo devedor e receber as chaves do meu imóvel. Além disso, com a instalação do condomínio (1ª assembleia), iniciou-se a obrigação de pagar a taxa condominial, devida por todos os proprietários, estejam ou não com o saldo devedor quitado. E mais uma vez me considero prejudicado, pois irei pagar a taxa condominial sem estar morando no local. Considero a atitude da construtora [...] uma aberração, uma falta de respeito e uma prepotência sem limites, na medida em que seus prepostos parecem agir sem qualquer respeito à ética e à dignidade humana.

Meu objetivo com essa reclamação, especialmente nesse site, é alertar as pessoas que pretendem comprar imóveis na planta para que fiquem atentas às mirabolantes promessas de corretores e construtoras e que mais tarde se mostram falsas. Na ânsia de efetuar a venda, as construtoras e os corretores “paparicam” o comprador atendendo-o nos mínimos detalhes. Quando chega o momento de entregarem o prometido, aí tudo fica complicado, difícil e os personagens, sempre presentes e solícitos durante a venda, desaparecem, inclusive levando o tapete vermelho!

Obrigado,

E. S.

(Disponível em: www.reclamao.com/reclamacao/30600/construtora-oas-nao-entrega-documentacao-necessaria-para-utilizacao-de-cartade-credito-e-impede-que-o-comprador-quite-o-do-saldo-devedor-do-imovel/. Acesso em: 6/7/2012.).

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p.148 a 150.

Entendendo o texto

1. A carta argumentativa de reclamação apresenta, como o nome sugere, uma reclamação a respeito de algum problema enfrentado pelo remetente. Essas cartas são normalmente endereçadas a órgãos públicos, como ministérios, secretarias, Procon, ou sites especializados em divulgar reclamações.

Considerando que a carta lida foi publicada em um desses sites, responda:

a)   Qual é a função social de veículos como esse, que permitem aos cidadãos reclamar de um problema que estejam enfrentando?

Tornar públicos problemas que os cidadãos comuns enfrentam em seu dia a dia e que nem sempre são alvo dos grandes veículos de comunicação. Com isso, é possível conseguir uma maior mobilização das empresas responsáveis, que têm seus problemas expostos a todo o público consumidor.

 

b)   Você já utilizou ou conhece alguém que tenha utilizado algum desses meios para fazer uma reclamação? Houve alguma resposta?

Resposta pessoal.

2. Quanto à carta de reclamação lida:

a) Quem faz a reclamação?

        Um cidadão comum.

b)Do que ele reclama?

   De um problema na liberação de documentos por parte da construtora da qual comprou seu apartamento.

c)Por que o remetente se serviu de um espaço aberto — o site — para fazer sua reclamação?

Para que outras pessoas estejam informadas dos problemas que podem enfrentar ao comprar um apartamento na planta e possam se precaver em relação a eventuais transtornos, semelhantes aos relatados por ele.

 

3. Uma reclamação pode ser feita diretamente a um órgão público (como o Procon ou secretarias do município ou do Estado) ou à empresa que é alvo da reclamação. Entretanto, muitas pessoas preferem reclamar em espaços abertos, como sites.

Levante hipóteses: Qual é a intenção do produtor desse tipo de carta ao se servir desses meios para publicar sua reclamação?

Trazer seu problema a um grande público e, assim, expor a empresa a um julgamento popular. Espera-se, nesses casos, que a resposta e uma possível resolução sejam mais rápidas por parte da empresa, que tem interesse em se retratar publicamente para não ser alvo de críticas que podem prejudicar sua imagem e, consequentemente, suas futuras vendas.

4. As cartas, em geral, costumam ser datadas. Levante hipóteses: Por que não há data na carta lida?

Nas páginas da Internet costuma haver a indicação da data da postagem; provavelmente esse é o motivo de não constar data na carta lida.

5. Observe a linguagem utilizada pelo autor da carta. Que tipo de variedade linguística foi empregada?

Uma variedade de acordo com a norma-padrão.

domingo, 16 de maio de 2021

FÁBULA: O DINHEIRO NÃO TRAZ FELICIDADE - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

 FÁBULA: O DINHEIRO NÃO TRAZ FELICIDADE

                Millôr Fernandes

Só e triste vivia o pobre marceneiro José dos Andrajos. Sem parentes, ele morava na sua loja humilde, trabalhando dia e noite para ganhar o que mal e mal lhe bastava para sustentar-se (era como qualquer um).

Mesmo assim, porém, conseguia economizar cinquenta cruzeiros cada mês. No fim do ano, com seiscentos cruzeiros juntos, lá ia ele para o "Fasanelo... e nada mais", e comprava um bilhete inteiro.

Os que sabiam de sua mania riam dele, mas ele acreditava que era através da loteria e não do trabalho que iria fazer-se independente. E assim foi.

No quinto ano de sua insistência junto à loteria ("insista, não desista."), esta lhe deu cem mil contos. Surgiram fotógrafos e repórteres dos jornais, surgiram os amigos para participar do jantar que ele deu para comemorar sua sorte.

José fechou imediatamente a loja e, daí em diante, sua vida foi uma festa contínua. Saía em passeios de lancha pela manhã, à tarde ia para os bares, à noite para as boates e cabarés, sempre cercado por amigos entusiasmados e senhoras entusiasmadíssimas.

Mas, está visto, no meio de tanta efusão, o dinheiro não durou um ano. E, certo dia, vestido de novo com suas roupas humildes, o nosso marceneiro voltou a abrir sua humilde loja para cair outra vez em seu trabalho estafante e monótono. Tornou a economizar seus cinquenta cruzeiros por mês, aparentemente mais por hábito do que pelo desejo de voltar a tirar a sorte grande, o que, aliás, parecia impossível.

Os conhecidos continuavam zombando dele, agora afirmando-lhe que a oportunidade não bate duas vezes (a oportunidade só bate uma vez. Quem bate inúmeras vezes são as visitas chatas.).

No caso de nosso marceneiro, porém, ela abriu uma exceção. Pois no terceiro ano em que comprava o bilhete, novamente foi assaltado pelos amigos e repórteres que, numa algazarra incrível, festejavam sua estupenda sorte.

Mas, desta vez, o marceneiro não ficou contente como quando foi sorteado pela primeira vez. Olhou para os amigos e jornalistas com ar triste e murmurou: "- Deus do céu; vou ter que passar por tudo aquilo outra vez!?"

MORAL: PARA MUITA GENTE DÁ UM CERTO CANSAÇO TER QUE COMPARECER À FESTA DA VIDA.

(Fábulas fabulosas. Disponível em: www2.uol.com.br/millor/fabulas/039.htm. Acesso em: 17/6/2012.)

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p.124-5.

ENTENDENDO O TEXTO 

1. Observe o 1º parágrafo do texto.

a) Nele é apresentada a personagem principal da narrativa.

    Como ela é retratada?

    Como um marceneiro que vivia só e triste.

b) Há, nesse parágrafo, uma palavra que faz referência ao marceneiro. Qual é essa palavra?

O pronome pessoal ele.

c) Na frase “Sem parentes, ele morava na sua loja humilde”, o pronome sua indica posse.

No contexto, sua se refere à posse de quem?

À posse do marceneiro; indica que a loja era dele.

2. O 2º parágrafo tem com o 1º uma relação de oposição.

a) Que palavra do 2º parágrafo é responsável por marcar essa oposição?

A palavra porém.

b) Em que outros parágrafos se observa o mesmo tipo de relação? Que palavras marcam essa oposição entre parágrafos?

No 6º, no 8º e no 9º parágrafos. As palavras são mas, porém e mas, respectivamente.

3. Releia estes três fragmentos do texto:

“trabalhando dia e noite para ganhar o que mal e mal lhe bastava para sustentar-se”

“No quinto ano de sua insistência junto à loteria (“insista, não desista.”), esta lhe deu cem mil contos.”

“agora afirmando-lhe que a oportunidade não bate duas vezes”

a)   A que ou a quem se refere o pronome lhe em cada um dos fragmentos?

          Refere-se ao marceneiro.

 b)   A que se refere o pronome esta, no segundo fragmento?

         Refere-se à loteria.

4. O texto apresenta os fatos em sequência e de acordo com uma relação de causa e efeito. Além disso, situa-os em relação ao tempo e ao espaço.

a) O tempo verbal é um importante recurso na organização do texto. Que tempo verbal predomina? Justifique sua resposta.

Predomina o passado, como pode ser constatado no emprego das formas: vivia, morava, conseguia, fechou, tornou, olhou, etc.

b) Identifique no texto alguns indicadores temporais, isto é, palavras e expressões que marcam a passagem do tempo.

Entre outros: “no fim do ano”, “no quinto ano”, ”daí em diante”, “pela manhã”, “à tarde”, “à noite”, “certo dia”, “no terceiro ano”, “desta vez”, “quando foi sorteado pela primeira vez”.

5. Como foi observado, há no texto palavras que retomam outras, expressas anteriormente. Esse procedimento de retomada tem o objetivo de tornar o texto mais dinâmico, evitando repetições.

a) Que expressão foi usada no último parágrafo para retomar a ideia de exploração e frustração apresentada na história?

A expressão tudo aquilo, no trecho “passar por tudo aquilo outra vez”.

 b)Na moral dessa fábula, a que se refere a expressão “festa da vida”?

Ao assédio que a personagem sofreu por “amigos” e “senhoras” interesseiros.

c)A expressão “festa da vida” foi ou não usada de modo irônico?

Sim, foi usada de modo irônico, pois o assédio sofrido pela personagem por causa de seu dinheiro não era propriamente uma festa, já que o marceneiro, de certa forma, foi manipulado ou se deixou manipular pelos outros.

6. Na sua opinião, a moral da história é coerente com a abordagem realizada pelo autor? Por quê?

Sim. O autor é irônico e, de certa forma, faz uma crítica às pessoas que não aproveitam as oportunidades para mudar de atitude na vida.

CRÔNICA: RECADO PRO BOLSINHO DA CAMISA - LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

 CRÔNICA: RECADO PRO BOLSINHO DA CAMISA

                Lourenço Diaféria

 

Não sei como você se chama, garoto, mas te vi um dia atravessando o viaduto de concreto.

Caía chuvisco.

Teus cabelos estavam ensopados e a camisa de brim grudada no teu corpo magro e ágil como flecha disparada pelo arco do trabalho.
Você corria saltando no reflexo do asfalto molhado, como bolinha de gude rolada na infância.
Não deu tempo para perguntar teu nome. Tuas pernas finas tinham pressa. Você carregava a maleta de mão com fecho cromado, a dentro dela havia o peso da responsabilidade de papéis sérios e urgentes, que deveriam chegar a um ponto qualquer da Cidade, antes que se fechassem os guichês e portarias.
Outra vez te vi, garoto.
Fazia então um sol redondo e cheio pendurado no travessão do espaço.
Outra vez, teus cabelos úmidos de suor, a camisa de brim manchada, as calças rústicas mostrando a marca da barra que tua mãe soltou de noite, fio por fio, com um sorriso e um orgulho: - O moleque está crescendo!

Não sei como você se chama, garoto.

Te conheço de vista escalando os edifícios, alpinista de elevadores, abridor de picadas na multidão , ponta de lança rompedor nesta briga de foice que são as ruas da Cidade.

Garoto que cresce sob o sol e chuva carregando na maleta cheques, duplicatas, títulos, recibos, cartas, telegramas, tutu, bufunfa, grana e um retrato da menina que te espera na lanchonete.

Teu nome é: - gente.

Inventaram outro nome enrolado para dizer que você é garoto do batente.

Office-boy.

Guri que finta branco, escritório, repartição, fila, balcão, pedido de certidão, imposto a pagar, taxa de conservação, título no protesto e que mata no peito e baixa no terreno quando encontra os olhos da garota da caixa, que pergunta de modo muito legal:
– Tem dois cruzeiros trocados?

Moleque valente que acorda cedo, engole café com pão, fala tchau mesmo, vai pro ponto do ônibus ou estação, se pendura na condução, se vira mais que pião, tem sua turma, conta vantagem, lê jornal na banca, esquenta a marmita, discute a seleção, e depois do almoço bebe um refrigerante gelado e pede uma esfirra com limão.

E depois toca de novo a zunir pela Cidade, conhecido em tudo que é esquina, oi daqui, oi dali, até que a tarde chega e o garoto sai correndo de volta pra casa, vestir o guarda-pó, apanhar a esferográfica, enfiar os cadernos na sacola e enfrentar a escola, o sono, a voz do professor, o quadro-negro, a equação de duas incógnitas, depois de ter passado o dia inteiro gastando sola.

Guri, teu nome é: – gente

Menino de escritório, menino do batente, que agarra o trabalho com unhas e dentes, sem você a Cidade amanheceria paralisada como bicho enorme ao qual houvesse cortado as pernas.

Pois bem: este recado não é para ser entregue a ninguém, a não ser a você mesmo.

Se quiser, guarde-o no bolsinho da camisa.

Um dia, quando você estiver completamente crescido, quando tiver bigodes, telefones, papéis importantes para preencher, alguns cabelos brancos; e sua mãe não precisar (ou não puder mais) desmanchar a barra de suas calças que ficaram curtas; quando você tiver de dar ordens de serviço a outros garotos da Cidade, saberá que, para chegar a qualquer lugar, o segredo é não desistir no meio do caminho.

Mas não se esqueça de que as oportunidades não apenas se recebem ou se conquistam.

As oportunidades também devem ser oferecidas para que as pessoas pequenas saibam que seu nome é: – gente.

No futebol da vida, garoto, a parada é dura e a bola, dividida. Jogue o jogo mais limpo que você tiver. Jogue sério.

Não afrouxe se o passe recebido parecer longo demais.

Os mais bonitos gols da vida são marcados pelos que acreditam na força de seu pique.

Ponha esse recado no bolsinho da camisa, guri.

Um dia você descobrirá que a vida nem sempre é a conquista da taça.

A vida é participar do campeonato.

Vai nela, garotão!

  (Antologia da crônica brasileira – de Machado de Assis a Lourenço Diaféria. São Paulo: Moderna, 2005. p. 196-9.)

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p.35-7.

Entendendo o texto

1. A crônica é um gênero textual que oscila entre literatura e jornalismo e, antes de ser publicada em livro, costuma ser veiculada em jornal ou revista.

Na crônica lida, o cronista dirige-se diretamente à personagem que é tema do seu texto.

a)   A personagem é uma celebridade ou uma pessoa comum, encontrada no cotidiano da cidade grande?

É uma pessoa comum, encontrada no dia a dia das grandes cidades.

 b)   O assunto é originário de situações circunstanciais comuns ou de uma situação especial?

De situações circunstanciais comuns, que dizem respeito ao cotidiano dos jovens que trabalham como office-boys.

2. A crônica é quase sempre um texto curto, com poucas personagens, e que chama a atenção para acontecimentos ou seres aparentemente inexpressivos do cotidiano. Na crônica lida, o cronista focaliza uma personagem comum na vida urbana.

a) O que chama a atenção do cronista nessa personagem?

O fato de a personagem, que é um jovem, estar sempre correndo, sob sol ou chuva.

 b)O cronista diz que inventaram para essa personagem um “nome enrolado”: office-boy. Essa personagem é focalizada pelo cronista como um ser individual ou como um ser coletivo?

Como um ser coletivo, como representante de todos os office-boys que circulam nas cidades grandes.

c)Em que lugares e em que períodos de tempo o cronista situa sua personagem?

 O cronista situa a personagem nos lugares nos quais ela circula – a sua casa, as ruas, os estabelecimentos onde cumpre suas tarefas, a lanchonete onde namora, a escola noturna, etc. – no decorrer de um dia; e, no final da crônica, imagina-a no futuro, em situação de chefia em uma empresa.

3. Em uma crônica, o narrador pode ser observador ou personagem. Qual é o tipo de narrador na crônica em estudo? Justifique sua resposta.

Narrador observador, pois ele não participa dos fatos que narra, embora se imagine falando com a personagem.

4. O cronista costuma ter sua atenção voltada para fatos do dia a dia ou veiculados em notícias de jornal e os registra com humor, sensibilidade, crítica e poesia. Ao proceder assim, quais dos seguintes objetivos o cronista espera atingir com seu texto?

a) Informar os leitores sobre um assunto.

b) Entreter os leitores e, ao mesmo tempo, levá-los a refletir criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos.

c) Dar instruções aos leitores.

d) Tratar de um assunto cientificamente.

e) Argumentar, defender um ponto de vista e convencer o leitor.

f) Despertar no leitor solidariedade por um tipo humano.

 

5. Observe a linguagem empregada na crônica em estudo.

a) Como é retratada a vida da personagem: de forma impessoal e objetiva, isto é, em linguagem jornalística, ou de forma pessoal e subjetiva, ou seja, em linguagem literária?

De forma pessoal e subjetiva, em linguagem literária.

b)A crônica, quanto à linguagem, está mais próxima do noticiário de jornais e revistas ou mais próxima de textos literários?

Está mais próxima de textos literários.

 c) No diálogo imaginário que o cronista tem com sua personagem, há, no emprego das pessoas gramaticais, um desvio em relação à norma padrão formal. Veja:

“Não sei como você se chama, garoto, mas te vi um dia atravessando o viaduto de concreto.”

Como esse desvio pode ser explicado?

O emprego do pronome te em vez de lhe confere informalidade ao texto, contribuindo para a comunicação coloquial no diálogo fictício do cronista com o jovem.

c)O cronista emprega vários substantivos, sinônimos, para se referir à sua personagem. Quais são eles? E qual é, para ele, o substantivo que, de fato, corresponde ao nome do jovem?

Garoto, menino, moleque, guri/gente.

6. Ao retratar as andanças da personagem pela cidade, o cronista emprega um vocabulário relacionado ao campo semântico de um esporte.

a) Qual é esse esporte? Justifique.

 O futebol, de cujo campo semântico fazem parte expressões como “travessão”, “finta”, “mata no peito”, “bola dividida”, “jogo mais limpo”, “gols”, “campeonato”, etc.

b)Com que finalidade o cronista tem esse procedimento?

Estabelecer uma comparação entre a vida e o futebol, sintetizada na expressão “o futebol da vida”.

 7. Como a maioria dos gêneros ficcionais, a crônica pode ser narrada no presente ou no pretérito.

a) Que tempo verbal predomina na crônica em estudo?                                                            

O presente do indicativo.

b)Que efeito de sentido a escolha desse tempo verbal confere ao texto?

O de o leitor ser conduzido pelo cronista, envolver-se com os pensamentos dele e participar das cenas que ele descreveu.

 

POEMA: A IDEIA - AUGUSTO DOS ANJOS - COM GABARITO

 POEMA: A IDEIA

  Augusto dos Anjos


De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

 

Vem da psicogenética e alta luta

Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

 

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

 

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p.27.

Glossário

centrípeta: que busca o centro.

constringir: apertar.

cripta: caverna, gruta.

encéfalo: cérebro.

molécula: a menor partícula em que uma substância pode ser dividida sem que ocorra perda de suas propriedades químicas.

mulambo: molambo; farrapo, indivíduo fraco.

nebulosa: nuvem de poeira e gás em suspensão no espaço sideral.

psicogenética: qualidade do que é a origem dos processos mentais ou psicológicos da mente e da personalidade individuais.

tísico: tuberculoso, fraco.

 

Entendendo o texto

 

1. A linguagem do poema surpreende e modifica uma tradição poética brasileira, em grande parte construída com base em sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.

a) Destaque do texto vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados antipoéticos.

As palavras são: psicogenéticas, moléculas, encéfalo, laringe, tísica, centrípeta, paralítica

b) De que área do conhecimento humano provêm esses vocábulos?

Provêm da ciência, particularmente da Biologia e da Química.

 

2. O poema pode ser dividido em duas partes: na primeira, o eu lírico pergunta sobre a origem da Ideia; na segunda, apresenta uma resposta.

a) Na 1» estrofe, são empregadas uma metáfora e uma comparação para referir-se à Ideia. Quais são?

Metáfora: essa luz que sobre as nebulosas cai de incógnitas criptas misteriosas;

Comparação: como as estalactites duma gruta.

 

b) Como são a origem e o percurso da Ideia, conforme a descrição feita pelo eu lírico nas estrofes 2 e 3?

A Ideia origina-se da luta do feixe de moléculas nervosas, passa pelo encéfalo e chega à laringe.

c) Nesse percurso, a Ideia mantém-se como na origem ou sofre perdas?

Sofre perdas, pois o encéfalo a constringe e, ao chegar à laringe, encontra-se reduzida.

 

3. No último terceto, o eu lírico apresenta o momento em que a Ideia adquire forma.

a) Qual é o instrumento responsável por dar forma à Ideia?

A língua (órgão), responsável pela fala.

b) Nesse estágio, a Ideia é reproduzida em sua plenitude?

Não, pois a língua, órgão responsável pela fala (e pelo código), é frágil e inábil.

 

4. Segundo a concepção do eu lírico:

a) A Ideia tem uma origem material ou imaterial? Explique.

Material. Sua origem é bioquímica, nasce “do feixe de moléculas nervosas”

 

b) O vocabulário empregado pelo eu lírico está de acordo com essa concepção?

Sim. O eu lírico emprega o vocabulário da ciência.

c) Essa concepção retoma uma visão romântica do mundo interior do ser humano ou rompe com ela?

Rompe com a visão romântica de que o ser humano pode ser dotado de genialidade e de grande riqueza interior; a Ideia é vista como resultado da química do corpo humano.

 

5. Identifique no texto ao menos uma característica simbolista e outra naturalista.

A característica simbolista do texto está no emprego do termo Ideia com maiúscula, elevando-a a um conceito universal; além disso, há o desespero do eu lírico diante da impotência da língua para dar sentido a conceitos não prosaicos. A característica naturalista do poema encontra-se no cientificismo e na base bioquímica dos processos mentais.