quinta-feira, 6 de agosto de 2020

POEMA: HOMEM COMUM - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

Poema: Homem Comum    

   Ferreira Gullar

Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento

ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião,
e a vida sopra dentro de mim
pânica, a vida sopra de mim de modo assustador,
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.

Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.

Que o tempo é pouco
e aí estão o Chase Bank,
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se lá quantos outros
braços do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.

Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.

Ferreira Gullar

Entendendo o poema:

01 – Para alargar e definir a imagem de “homem comum”, o autor não se utiliza:

a)   De comparações.

b)   Do efeito dos adjetivos.

c)   Da construção de versos livres.

d)   Da força dos verbos.

e)   Da beleza dos substantivos saudosistas.

02 – Nos últimos 5 versos, o poeta faz um hino de louvor a:

a)   Sermos pessoas comuns, do dia-a-dia.

b)   Vermos algum sentido na vida.

c)   Não nos desesperamos.

d)   Sermos pessoas ajustadas e felizes.

e)   Sermos gente, povo solitário e unido.

03 – No poema, ocorre uma aproximação entre a realidade social e o fazer poético, frequente no modernismo. Nessa aproximação, o eu lírico atribui à poesia um caráter de:

a)   Agregação construtiva e poder de intervenção na ordem instituída.

b)   Força emotiva e capacidade de preservação da memória social.

c)   Denúncia retórica e habilidade para sedimentar sonhos e utopias.

d)   Ampliação do universo cultural e intervenção nos valores humanos.

e)   Identificação com o discurso masculino e questionamento dos temas líricos.

04 – De acordo com o poema, quem é e como é o homem comum?

      Ele é de carne (busca coisas materiais); e de memória (busca coisas imateriais).

05 – O que se opõe a esse homem?

      O tempo é pouco...

06 – Observe o seguinte trecho do poema: “Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião e a vida sopra dentro de mim pânica / feito a chama de um maçarico”. No texto lido, o termo “pânica” tem o seguinte valor sintático e semântico:

a)   Predicativo do sujeito – sentido de assustada.

b)   Predicativo do sujeito – sentido de estática.

c)   Adjunto adnominal – sentido de amedrontada.

d)   Adjunto adverbial de modo- sentido de apavorada.

e)   Predicativo do sujeito – sentido de esquecida.

07 – Homem comum:

“Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
[...]

Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.”

Nos versos em destaque, o sujeito poético:

a)   Convida seus iguais a lutar por uma vida mais justa e digna.

b)   Relativiza a fragilidade humana diante da possibilidade de união.

c)   Deslumbra-se diante de sua capacidade de se tornar diferente dos demais.

d)   Traduz um sentimento melancólico e pessimista diante da fragilidade humana.

e)   Vê, na coletividade, o anonimato como algo que esfria ao ânimos para sonhos e lutas sociais.

08 – O que o sujeito poético nesse poema procura?

      Procura-se identificar e por isso vai em busca da sua identidade.

09 – O sujeito poético se apresenta como resultado das experiências que viveu. Que caminhos ele mapeou?

      Percursos materiais (representados pela carne) e imateriais (simbolizados pela memória).

10 – O eu lírico se aproxima do universo do leitor demonstrando partilhar com ele experiências cotidianas. Cite-as.

      “Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião”.

 

 


ARTIGO DE OPINIÃO: A COMPRA DE ARMAS PELO CIDADÃO COMUM DEVE SER PROIBIDA? NÃO - EDSON LUIZ RIBEIRO - COM GABARITO

Artigo de opinião: A compra de armas pelo cidadão comum deve ser proibida? - NÃO

                  (Edson Luiz Ribeiro, Juiz de Direito aposentado da Justiça do Estado de São Paulo e estudioso dos assuntos de segurança pública).

        Não. O direito à legítima defesa da vida e da integridade física, pessoal ou de terceiros, e do patrimônio é reconhecido por todas as religiões, civilizações há milênios; é um direito natural, inerente ao ser humano. [...] A lei reconhece a legítima defesa e procura acertadamente, garantir o acesso ao instrumento de defesa; se privado dos instrumentos adequados, o direito à legitima defesa virará letra morta. Na situação atual de violência, o instrumento é a arma de fogo. Em um estado democrático de direito nenhum cidadão que atenda aos requisitos legais pode ser impedido de, com a utilização dos meios adequados e necessários, defender a vida e a integridade física de sua pessoa e de seus familiares e os seus bens. Ademais, o desarmamento compulsório das pessoas idôneas em nada contribuirá para a diminuição dos índices de criminalidade, pois até as pedras de nossas ruas sabem que a quase totalidade dos crimes é praticada por bandidos, geralmente reincidentes, com armas ilegais que não serão entregues; os cidadãos de bem não se armam para cometer crimes, e sim para se defender. A questão é simples: é preciso desarmar e punir os criminosos, não os cidadãos honestos.

        Folha de São Paulo, Caderno Mais! São Paulo, 4 junho 2000, p. 3.

   Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 121/3.

Entendendo o artigo:

01 – A pergunta se refere à proibição de compra de armas pelo cidadão comum. Fica implícito na pergunta que as pessoas que, em relação à posse de armas, não se incluem entre os cidadãos comuns, são exceção.

        Relacionem a posse de armas com certas atividades e profissões e concluam: que cidadãos escapariam à proibição de compra de armas?

      São os colecionadores de armas, caçadores, atiradores esportivos, policiais e militares.

02 – O especialista contrário à proibição de compra de armas apoia-se no direito à legítima defesa.

a)   Qual é o significado da expressão legítima defesa?

Uso de meios para repelir agressão ou para defender direito próprio ou de outros.

b)   São citados três bens que o indivíduo tem o direito de defender. Identifiquem quais são esses três bens e determinem o que significa a defesa de cada um deles.

A vida: defesa contra ameaça de atentado que leve à morte;

A integridade física pessoal ou de terceiros: defesa contra a agressão física a si mesmo ou a outra pessoa;

O patrimônio: defesa dos bens, das posses, da propriedade.

c)   O especialista afirma que a legítima defesa é um direito natural, inerente ao ser humano. Em que ele se fundamenta para fazer essa afirmação?

No reconhecimento do direito à legítima defesa por todas as religiões, civilizações e legislações há milênios.

03 – A proibição de compra de armas tornaria letra morta o direito à legítima defesa; por quê?

      Porque os indivíduos não teriam acesso ao instrumento de defesa – a arma de fogo.

04 – A proibição de compra de armas significaria o desarmamento compulsório das pessoas idôneas:

a)   Por que seria um desarmamento compulsório?

Porque não seria opção das pessoas ter ou não ter armas, elas seriam obrigadas a não ter armas.

b)   Por que seria o desarmamento apenas das pessoas idôneas?

Porque as pessoas inidôneas, criminosas, têm ou conseguem armas ilegais.

05 – Proibir a compra de armas não diminuiria a criminalidade; por quê?

      Porque os crimes são praticados por bandidos que têm armas ilegais.

06 – A posição contrária à proibição de compra de armas pelo cidadão comum fundamenta-se em dois argumentos. Localizem na resposta a palavra ademais: ela separa o primeiro argumento do segundo.

a)   Releiam a parte da resposta que antecede a palavra ademais e identifiquem o primeiro argumento contra a proibição de compra de armas pelo cidadão comum.

O cidadão comum tem direito à legítima defesa e, portanto, ao instrumento de defesa: a arma.

b)   Releiam a parte da resposta introduzida pela palavra ademais e identifiquem o segundo argumento contra a proibição de compra de armas pelo cidadão comum.

A proibição de compra de arma não diminui a criminalidade.

07 – Das palavras finais do especialista, infere-se que ele propõe uma outra forma mais adequada para atingir o mesmo objetivo que teria a proibição da compra de armas.

a)   Que objetivo teria a proibição da compra de armas?

Combater a criminalidade.

b)   Que outra forma mais adequada atingiria o mesmo objetivo?

Desarmar e punir os criminosos.

 


ARTIGO DE OPINIÃO: A COMPRA DE ARMAS PELO CIDADÃO BRASILEIRO DEVE SER PROIBIDA? SIM - DALMO DE ABREU DALLARI - COM GABARITO

Artigo de opinião: A compra de armas pelo cidadão brasileiro deve ser proibida? - SIM

                  (Dalmo de Abreu Dallari, Advogado e Professor de Direito público na USP – Universidade de São Paulo).

        Estou convencido de que, em benefício da segurança de todo o povo, o comércio de armas deveria ser bastante restringido e rigorosamente controlado. Todos os argumentos usados, pelos meios de comunicação e no Congresso Nacional, em favor da ampla liberdade na venda e compra de armas procuram esconder o verdadeiro e real objetivo, que é o comércio de armas, altamente lucrativo e causa das maiores tragédias sociais e individuais da humanidade. É absolutamente falso dizer que o comércio deve ser livre para dar segurança aos cidadãos honestos, pois quem tem o dever legal de dar segurança ao povo é o governo, que recebe impostos e tem gente treinada para executar essa tarefa, estando realmente preparado para enfrentar criminosos. Se os organismos policiais são deficientes, o caminho é a mobilização de toda a sociedade exigindo eficiência – e não a barbárie da autodefesa, que fatalmente acaba gerando os justiceiros privados, arbitrários e violentos, não trazendo nenhum benefício para os que não têm dinheiro para comprar armas sofisticadas nem vocação para matadores. Não me parece necessário chegar ao extremo da proibição, mas a venda de armas aos cidadãos deveria se restringir a casos excepcionais, definidos em lei.

Folha de São Paulo, Caderno Mais! São Paulo, 4 junho 2000, p. 3.

        Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 123/4.

Entendendo o artigo:

01 – O especialista afirma que os argumentos em favor da liberdade na venda e compra de armas procuram esconder o verdadeiro e real objetivo.

a)   Segundo ele, qual é o verdadeiro e real objetivo dos argumentos em favor da livre compra de armas pelo cidadão comum?

Defender o comércio lucrativo de armas.

b)   Os argumentos procuram esconder o verdadeiro e real objetivo. Por que é preciso esconder o verdadeiro e real objetivo?

É constrangedor, vergonhoso discutir uma medida de interesse público com argumentos a favor do comércio, do lucro dos comerciantes.

02 – O comércio de armas é, segundo o especialista, causa das maiores tragédias sociais e individuais da humanidade.

a)   Por que o comércio de armas causa tragédias?

Porque a posse de armas possibilita atos criminosos, perversos.

b)   Qual é a diferença entre tragédias sociais e tragédias individuais?

Tragédias sociais atingem uma comunidade, um conjunto de cidadãos (por exemplo, um assalto a um banco, um incêndio criminoso); tragédias pessoais atingem um grupo restrito ou uma só pessoa (por exemplo, crime contra membros da família, do círculo de amigos).

03 – O especialista é contra a autodefesa.

a)   Que justificativas ele apresenta para sua oposição à autodefesa?

Gera justiceiros privados arbitrários e violentos; discrimina os que não têm dinheiro para comprar armas e os que não têm vocação para matadores. 

b)   A expressão usada pelo especialista é: a barbárie da autodefesa. Por que a autodefesa é uma barbárie?

Porque, em nome da autodefesa, indivíduos cometem crimes, atos violentos, arbitrários.

04 – O que é proposto pelo especialista em lugar da autodefesa? Que justificativa ele apresenta para apoiar essa proposta?

      Propõe que o governo, por meio dos organismos policiais, dê segurança ao povo; a justificativa é que este é um dever do governo, que recebe impostos para isso e tem gente treinada para executar essa tarefa.

05 – Das respostas às questões anteriores, vocês podem concluir: qual é o argumento fundamental do especialista para defender sua posição contrário à liberdade de compra de armas pelo cidadão comum?

      A liberdade de compra de armas ameaça a segurança do povo.

06 – Revejam a pergunta proposta ao especialista pelo jornal: “A compra de armas pelo cidadão comum deve ser proibida?” Ele é contra a liberdade de compra de armas, mas sua resposta à pergunta não é sim; qual é?

      A compra de armas deve ser rigorosamente controlada, deve ser restrita a casos excepcionais, definidos em lei.

07 – Para o especialista, qual é a alternativa adequada para o combate à criminalidade?

      A ação eficiente do governo, através dos organismos policiais.

 


CRÔNICA: NA ESCURIDÃO MISERÁVEL - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Na escuridão Miserável

                Fernando Sabino


        
“Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar, através do vidro da janela, junto ao meio-fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquítica, um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:

        – O que foi, minha filha? – perguntei, naturalmente pensando tratar-se de esmola.

        – Nada não senhor – respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.

        – O que é que você está me olhando aí?

        – Nada não senhor – repetiu. – Esperando o bonde…

        – Onde é que você mora?

        – Na Praia do Pinto.

        -- Vou para aquele lado. Quer uma carona?

        Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:

        – Entra aí, que eu te levo.

        Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade, ia olhando duro para a frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:

        – Como é o seu nome?

        – Teresa.

        – Quantos anos você tem, Teresa?

        – Dez.

        – E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?

        – A casa da minha patroa é ali.

        – Patroa? Que patroa?

        Pela sua resposta pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: lavava, varria a casa, servia a mesa. Entrava às sete da manhã, saía às oito da noite.

        – Hoje saí mais cedo. Foi jantarado.

        – Você já jantou?

        – Não. Eu almocei.

        – Você não almoça todo dia?

        – Quando tem comida pra levar, eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida para mim.

        – E quando não tem?

        – Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos – um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.

        – Mas não te dão comida lá? – perguntei, revoltado.

        – Quando eu peço eles me dão. Mas descontam no ordenado, mamãe disse pra eu não pedir.

        – E quanto você ganha?

        – Mil cruzeiros.

        – Por mês?

        Diminuí a marcha, assombrado, quase parei o carro, tomado de indignação. Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.

        – Como é que você foi parar na casa dessa… foi parar nessa casa? – perguntei ainda, enquanto o carro, ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da Praia do Pinto. Ela disparou a falar:

        – Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras e aí noutro dia pediu à mamãe pra eu trabalhar na casa dela então mamãe deixou porque mamãe não pode ficar com os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são soldados pode parar que é aqui moço, brigado.

        Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto.”

As melhores histórias. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 197-199.

         Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 143/8.

Entendendo a crônica:

01 – Ao ver a menina, o narrador pensou que ela queria esmola: “– O que foi, minha filha? – perguntei, naturalmente pensando tratar-se de esmola.”

a)   A menina não era uma pedinte: trabalhava, estava à espera de um ônibus, para voltar para casa; o que leva o narrador a pensar que ela queria esmola?

A aparência da menina: negrinha, mirrada, raquítica. 

b)   Por que o narrador considera natural que aquela menina estivesse pedindo esmola?

Porque negrinha, mirradas, raquíticas em geral estão nas ruas pedindo esmolas.

02 – Observe as comparações:

“... dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho...”.

“... um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho...”.

Por que a menina lembra um bicho, um animalzinho?

      Pelo seu aspecto físico (mirrada, raquítica), sua atitude (espiando com olhos grandes e parados), sua solidão (sozinha, junto ao meio-fio), não lembram um ser humano, mas um bicho, um animalzinho.

03 – Compare:

·        Impressão do narrador: “... não teria mais que uns sete anos...”

·        Resposta da menina ao narrador: “Quantos anos você tem, Teresa?” – “Dez”.

·        Como o narrador descreve a aparência da menina: “... suas feições de criança... podiam ser as de uma velha.”

a)   Por que do narrador achou que uma menina de dez anos tinha sete?

Porque era miúda, magrinha, desnutrida.

b)   Se o narrador pensou que a menina tinha set anos, por que acha que sua aparência podia ser a de uma velha?

Porque, embora parecendo uma criança de sete anos, não tinha feições de criança: eram feições pálidas, sem energia, sem viço, como as de pessoas velhas.

04 – Localize este trecho do diálogo em que o narrador quer saber o que acontece, quando a menina não tem comida:

“– E quando não tem?

 – Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez.”.

        Diante da pergunta, a atitude da menina muda: ela parece sorrir, ela olha pela primeira vez para o narrador. Por que a pergunta desperta na menina essa reação?

      Porque a pergunta lhe parece boba, ingênua, de resposta óbvia – nas condições em que ela vive, é rotina que, quando não se tem o que comer, simplesmente não se come.

05 – Recorde os sentimentos do narrador: “Eu não me continha mais de aflição...”; “... perguntei revoltado.”; “Diminui a marcha, assombrado...”. Localize esses trechos na crônica e explique cada um desses sentimentos:

a)   O que causou aflição?

A menina às vezes não tinha o que comer.

b)   O que causou a revolta?

Não davam comida à menina, no emprego.

c)   O que causou o assombro?

O salário insignificante que a menina ganhava.

06 – Recorde esta outra reação do narrador: “... um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.” Leia o significado das palavras:

·        Sentimentalismo – excesso de emoção ou sentimento.

·        Burguês – próprio de indivíduo pertencente à classe que tem situação social e econômica confortável.

Escolha a escreva, em seu caderno, a frase que, entre as seguintes, expressa como se sentia o narrador, afogado em sentimentalismo burguês:

·        Constrangido com a diferença entre seus filhos bem nutridos e a menina.

·        Comovido com o contraste entre a sua boa condição de vida e a pobreza da menina.

·        Desgosto por ter de tomar conhecimento da pobreza, da miséria, da fome.

07 – Recorde a reação do narrador, quando soube quanto a menina ganhava:

“Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.

        – Como é que você foi parar na casa dessa… foi parar nessa casa?”

a)   O narrador interrompe a frase: “na casa dessa...”

·        Por que ele não completa a frase?

Não completa a frase porque não quis dizer um palavrão; não quis criar na menina uma atitude negativa em relação à patroa; censurou a crítica à mulher.

·        Complete você a frase: que palavra você acha que ele ia falar?

São várias as palavras que podem completar a frase, desde palavrões até outras como megera, bruxa, desnaturada, exploradora de menores...

b)   Que “culpas” tinha a mulher, para irritar assim o narrador?

Colocar uma criança para trabalhar, pagar um salário insignificante, descontar do salário o que a menina comesse.

08 – Compare as atitudes da menina no início e no fim da história:

        NO INÍCIO = “respondeu-me, a medo”; “vacilou, intimidade”; “acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco”; “não ousava fazer o menor movimento”.

        NO FIM = “disparou a falar”; “ela abriu a porta e saltou”; “saiu correndo”.

        O que explica a mudança de atitude da menina, ao aproximar-se do lugar onde morava?

      Mais provável: ânsia de libertar-se do mundo da patroa e do narrador; vontade de voltar para casa, de reencontrar-se em seu próprio meio.

09 – A expressão “na escuridão miserável” aparece duas vezes na crônica:

·        Na frase final – “... perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto”.

·        No título: Na escuridão miserável.

a)   A que se refere a expressão, quando usada no final da crônica?

À escuridão da praia, da favela, sem iluminação, e à pobreza do local, à miséria dos que ali vivem.

b)   A que se refere a expressão, quando usada como título da crônica?

Às injustas condições de vida dos pobres, dos miseráveis. (O título toma a expressão como uma metáfora: escuridão representa a falta de condições razoáveis de vida, a escuridão em que vivem os miseráveis).

10 – Recorde a definição de crônica:

        Crônica – texto em geral curto, que faz o registro do cotidiano – fatos, sensações, impressões – mostrando ora seu lado pitoresco ou cônico, ora seu lado trágico, ora seu lado comovente, poético.

a)   Que lado do cotidiano o cronista mostra na crônica?

O lado trágico do cotidiano (sombrio, triste, chocante); é também possível ver, na crônica, o lado comovente do cotidiano.

b)   Entre os muitos fatos do cotidiano, o cronista escolhe, para tema de sua crônica, um fato aparentemente comum, trivial: a carona que deu a uma menina. Contando esse fato trivial, o que, na verdade, o cronista quis revelar ao leitor?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O absurdo do trabalho infantil; a injustiça social; a maldade humana; o contraste entre boas condições de vida e condições miseráveis de vida.

 

 


TEATRO: A VIDA NO PALCO - HILDEGARD FEIST - COM GABARITO

Teatro: A vida no palco

              Hildegard Feist

        A literatura conta histórias. Quando lê um romance, você viaja pelo mundo do autor: imagina aquelas pessoas que ele descreve, as paisagens, os ambientes... Já o teatro mostra histórias. Quando você assiste a uma peça, não precisa imaginar nada. As personagens e os cenários estão materializados diante da plateia.

      O texto no teatro é essencial, mesmo que os atores não abram a boca (nesse caso eles estariam representando com gestos uma história que teve de ser escrita por alguém).

        Mas no teatro o texto não é tudo, como acontece com a literatura. Você pode muito bem ler um livro, sozinho num canto, e imaginar à vontade. Também pode ler uma peça, sozinho do mesmo jeito, porém essa leitura solitária vai lhe dar apenas uma vaga ideia do que você veria no teatro. Porque uma peça só se realiza, só ganha vida, quando chega ao palco.

        Quando escreve para o teatro, o autor já está pensando em todas as pessoas que serão necessárias para dar vida ao seu texto. Seu trabalho de criação não termina no final da história, como no caso de um romance. O autor de um romance precisa de um editor para publicá-lo, de um livreiro para vende-lo e de um leitor para lê-lo, porém o que ele apresenta é uma obra acabada.

        O autor teatral, também chamado dramaturgo, precisa de muito mais gente: na verdade precisa de todo um batalhão de profissionais para mostrar o que escreveu. São atores, diretor, produtor, cenógrafo, figurinista, iluminador... sem falar no público.

        Vamos por parte.

          Os passos do processo

        Depois de escrever uma peça, o dramaturgo a leva para uma pessoa ligada ao teatro, geralmente um ator de prestígio ou um diretor.

        (...)

        Digamos que tudo corre às mil maravilhas. Os atores adoram o texto, identificam-se com suas personagens e no momento não têm nenhum compromisso que os impeça de participar do projeto.

        Agora precisam de um produtor, de alguém que banque o espetáculo, ou seja, que forneça o dinheiro para adquirir móveis, tecidos, roupas, acessórios – enfim, todo o material necessário para a montagem –, além de pagar despesas como o aluguel do teatro, a contratação de carpinteiros, eletricistas, costureiras e outros profissionais indispensáveis, a compra de espaço para publicidade nos jornais, revistas e TV...

        Mais uma vez dá tudo certo, e o trabalho pode começar. Primeiro se faz uma leitura dramática: todo o elenco se reúne, de preferência sentado em torno de uma mesa, e cada ator lê sua parte, já representado com a entonação de voz que pretende dar à personagem.

        O diretor vi corrigindo, vai mostrando a cada um como deve falar. Por exemplo, um simples “Eu te amo” pode ser dito com alegria, com tristeza, com fingimento, com desespero... depende da situação e também da maneira como o diretor imagina a cena.

        O diretor tem a visão geral do espetáculo e sabe qual é o resultado que quer conseguir. Alguns diretores simplesmente impõem sua opinião, porém a maioria conversa com os atores, explica o que tem em mente, escuta o que eles acham e todos chegam a um acordo (ou pelo menos é o que se espera).

        Não é só com os atores que o diretor dialoga. Ele também expõe seus objetivos aos demais membros da equipe, explicando o que espera de cada um. E, como cada um tem uma maneira de ver o espetáculo, seguem-se as discussões e as trocas de ideias. Tudo acertado, o cenógrafo trata de criar os cenários adequados; o iluminador estuda as várias formas de usar a luz; o figurinista concebe as roupas que cada personagem terá de vestir; e assim por diante.

        Depois de muito ensaio e muito trabalho, a peça está pronta para ser apresentada ao público. O dinheiro resultante da venda dos ingressos paga o salário do pessoal envolvido no espetáculo.

        Lance uma ideia em sua escola. Reúna uma turma para montar uma peça. É uma ótima experiência, pois, colocando-se na pele de uma personagem, você sai de si mesmo, esquece seus problemas e aprende a entender melhor essa complicada e maravilhosa criatura humana. Experimente.

    Pequena viagem pelo mundo da arte, Hildegard Feist.

                             Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 171/3.

Entendendo o teatro:

01 – Qual é a diferença entre um romance e o texto dramático (texto para ser representado)?

      1° parágrafo. “Quando lê um romance, você viaja pelo mundo do autor: imagina aquelas pessoas que ele descreve, as paisagens, os ambientes... Já o teatro mostra histórias.”

02 – Quando o teatro ganha realmente vida? Por quê? Justifique a partir do texto e de suas experiências e conhecimentos.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Qual é a diferença entre um autor de um romance e um autor de peças teatrais? Por quê? Argumente a partir do texto.

      “O autor de um romance precisa de um editor para publicá-lo, de um livreiro para vende-lo e de um leitor para lê-lo, porém o que ele apresenta é uma obra acabada.”

      “O autor teatral, também chamado dramaturgo, precisa de muito mais gente: na verdade precisa de todo um batalhão de profissionais para mostrar o que escreveu. São atores, diretor, produtor, cenógrafo, figurinista, iluminador... sem falar no público.”

04 – Do que precisa um romancista para que seu livro fique pronto?

      O romancista precisa de um editor para publicar seu livro.

05 – O que é necessário para o autor teatral, também chamado de dramaturgo, expor sua obra?

      O autor teatral precisa de atores, diretor, produtor, cenógrafo, figurinista, iluminador e público.

06 – Fale sobre os passos do processo: desde a criação da peça teatral até sua representação no palco.

      Resumo do texto “Os passos do processo”.

07 – Produtor, material, publicidade são essenciais no teatro. E por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Na região em que você vive, a atividade teatral é comum? Existem escolas de teatro, arte dramática? E a comunidade tem o hábito de frequentar o teatro? Fale a partir da sua realidade de vida e justifique suas respostas.

      Resposta pessoal do aluno.

            

 


CARTA: A MARIA JÚLIA - MARCOS BAGNO - COM GABARITO

Carta: A Maria Júlia

           José Romildo

        Recife, 7 de maio de 1990

        Prezada Maria Júlia,

        Bem que gostaria de ver a cara de surpresa que você deve estar fazendo enquanto lê este meu bilhetinho. Será que você ainda se lembra de mim? Vou ajudar: eu sou aquele pernambucano que falou com você nas férias, lá no Rio de Janeiro, junto da estátua do Cristo Redentor. E então, já se lembrou? A gente conversou durante mais de duas horas. Falamos de muitas coisas, mas, principalmente, de livros. Pois é exatamente por causa de livro que resolvi escrever para você. Hoje de manhã eu decidir dar um pouco d ordem à minha estante, para ver se achava nela algum espaço para uns livros novos que andei comprando. Não sou organizado, sabe, e tenho muita preguiça de colocar os livros em ordem alfabética ou separados por assunto. O resultado é uma confusão dos diabos: história com romance policial, matemática com inglês, álbum de retratos misturado com revista de esportes.

        Pois foi no meio dessa anarquia (como diz minha mãe) que encontrei as Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe. Ao ver o livro, lembrei logo de você. Quer saber por quê? Você me disse, lá no Rio, que nunca tinha lido uma história policial, e que não tinha o menor interesse por esse tipo de livro. Confesso que, na hora, fiquei muito espantado e pensei assim comigo: “Oxente, como é que alguém diz que gosta de ler e nunca se interessou por histórias policiais?” Eu adoro, simplesmente adoro, uma boa trama (sabe o que é?), um mistério bem misterioso, um segredo bem guardado. Esse livro do Poe (eu acho que a pronúncia é “pôu”) é muito bom, Maria Júlia, mas muito bom mesmo. Como já li e reli mais de dez vezes, achei que podia passar um tempo sem ele. É por isso que estou te mandando o livro. Se você ler e gostar, pode ficar com ele, é um presente. Se ler e não gostar tanto quanto eu, não se aperreie, pode me devolver, foi um empréstimo.

        Na hora de escrever no envelope, pintou a dúvida: eu só sei o teu nome, mas não tenho o teu endereço. Foi aí que me lembrei que você disse que sua mãe trabalha na agência dos Correios de Dores do Indaiá. Espero que minha ideia de escrever para lá tenha funcionado...

        Fico por aqui. Um abraço. Até qualquer dia.

        José Romildo.

BAGNO, M.; RESENDE, S. M. Os nomes do amor. São Paulo: Moderna, 1993, p. 5-6.

       Fonte: Língua Portuguesa. Linguagens no Século XXI. 5ª série. Heloísa Harue Takazaki. Ed. IBEP. 1ª edição, 2002. p. 33-4.

Entendendo a carta:

01 – Quem escreveu a carta? De onde ela foi escrita?

      José Romildo, de Recife. Pernambuco.

02 – Para quem é a carta? Onde mora esse destinatário?

      Para Maria Júlia, da cidade de Dores do Indaiá.

03 – Eles já se conheciam? Explique.

      Sim, encontraram-se uma vez, quando estavam de férias no Rio de Janeiro.

04 – O que levou José Romildo a escrever para ela?

      O fato de ela ter dito que não gostava de histórias policiais. Ele resolveu lhe mandar um livro.

05 – Há palavras ou expressões que você não conhece na carta de José Romildo? Quais?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Que idade você supõe que eles tinham?

      A idade dos dois está, aproximadamente, entre 12 e 18 anos. Isso pode ser comprovado através da linguagem usada (confusão dos diabos, pintou uma dúvida), das referências à escola e aos pais.

07 – Em alguns trechos, José Romildo faz perguntas para Maria Júlia como se ela estivesse conversando diretamente com ele. Em que trechos isso acontece? Copie-os em seu caderno.

      “E então, já se lembrou?”; “Quer saber por quê?”; “Sabe o que é?”