sexta-feira, 1 de maio de 2020

RESENHA: HOMEM-ARANHA -FOLHA DE SÃO PAULO - COM QUESTÕES GABARITADAS


Resenha: Homem-Aranha 

 Filme ganha adaptação acertada   Sérgio Rizzo

     Você pode não saber onde estará nos próximos anos, mas os principais estúdios americanos já sabem o que vão lhe oferecer: Continuações de “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Matrix”, “X-Men” e, agora, ao menos mais duas sequências de “Homem-Aranha”. Tobey Maguire já havia assinado contrato para fazê-las, o que o tornará exclusivo do personagem por algum tempo, mas sempre havia a possibilidade – remota, é verdade – de fracasso do primeiro episódio. O estrondoso sucesso de bilheteria nos EUA, que deve se repetir no Brasil, pavimenta o caminho para outra série bem-sucedida – embora o adjetivo, aqui, não se restrinja apenas a números e cifrões.
        Para alegria dos fãs que o personagem em quadrinhos cultiva desde 1962, o diretor Sam Raimi (“Darkman – Vingança sem Rosto” e “Um Plano Simples”) acertou em cheio no conceito da adaptação. Eis, afinal, um super-herói diferente da média. Peter Parker é um adolescente franzino e órfão, que mora com os tios no Queens (bairro sem glamour de Nova York), usa óculos, é apaixonado pela vizinha e jogado para escanteio pelos colegas de escola. Até que um contato imediato com uma aranha radioativa muda-lhe a vida – e ele não sabe muito bem o que fazer com isso. Nasce um mutante com sérios problemas de consciência, no meio do rito de passagem da juventude para a maturidade.
        Os autores o conceberam como um herói “comum” com o qual o leitor de HQs pudesse se identificar, e foi assim que Raimi optou por leva-lo ao cinema. Manteve-se a fidelidade à trama de origens, com modificações inofensivas providenciadas pelo roteirista David Koepp (“O jornal”, “Missão Impossível”). O tom de aventura adolescente, com pitadas de romance, sustenta-se na escolha apropriada de Tobey Maguine (“Tempestade de Gelo” e “Garotos Incríveis”) para o papel principal e de Kirsten Dunst (a menina de “Entrevista com o Vampiro”) para o de sua amada, Mary Jane. Pode-se reclamar da obviedade de escalar o manjado Willem Dafoe como o vilão, o Duende Verde, mas aí também já seria exigir demais de um filme de ação que, com tudo para se enrolar nas dificuldades que a adaptação oferecia, saiu incólume até mesmo na avaliação de seus mais rigorosos críticos, os fãs do Aranha.
              Folha de São Paulo, 17-23 maio 2002. Guia da Folha, p. 6.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 229-30.
Entendendo a resenha:

01 – No final do primeiro parágrafo, o crítico afirma: “...outra série bem-sucedida – embora o adjetivo, aqui, não se restrinja apenas a números e cifrões”.
a)   A que adjetivo ele se refere?
Bem-sucedida.

b)   A que mais se refere o adjetivo, segundo o crítico?
A adaptação ao cinema.

02 – Por que, na opinião do crítico, a adaptação do Homem-Aranha para o cinema foi acertada?
      Porque o diretor manteve o conceito original de um herói comum, diferente, com o qual o leitor de HQ se identifica, manteve-se fiel à trama original; e conseguiu conservar o tom de aventura adolescente na escolha dos atores principais.

03 – Qual é a única crítica que o resenhista faz ao filme?
      A obviedade da escolha do ator que faz o papel de vilão.

04 – Por que ele diz que os críticos mais rigorosos do filme são os fãs do Aranha?
      São eles que conhecem características do herói e detalhes das histórias e, portanto, são mais exigentes em relação a coerência.

05 – Você já assistiu a esse filme? Se não, procure vê-lo em vídeo. Você concorda com o que o jornalista escreveu sobre o filme? Ou você faria diferente? Justifique. Se você já leu os quadrinhos do Homem-Aranha, seja rigoroso.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Escolha uma resenha crítica sobre um filme publicada num jornal de sua região e resuma em três ou quatro linhas a opinião do jornalista.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Durante uma semana leia o maior número possível de resenhas críticas que aparecerem nos jornais da sua região e em outros de grande circulação no país. A que filmes ou espetáculos você tem vontade de assistir com base nos comentários que leu?
      Resposta pessoal do aluno.

terça-feira, 28 de abril de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): FESTA DA NATUREZA - (GEREBA/PATATIVA DO ASSARÉ) - FAGNER - COM GABARITO

Música(Atividades): Festa da Natureza

              Fagner

Chegando o tempo do inverno
Tudo é amoroso e terno
No fundo do pai eterno      
Sua bondade sem fim

Sertão amargo esturricado
Ficando transformado
No mais imenso jardim
Num lindo quadro de beleza

Do campo até na floresta
As aves lá se manifestam
Compondo a sagrada orquestra
Da natureza em festa

Tudo é paz tudo é carinho
No despertar de seus ninhos
Cantam alegres os passarinhos
O camponês vai prazenteiro

Plantar o seu feijão ligeiro
Pois é o que vinga primeiro
Nas terras do meu sertão
Depois que o poder celeste

Mandar a chuva pro nordeste
De verde a terra se veste
E corre água em borbotão

A mata com seu verdume
E as fulô com seu perfume
Se enfeita com vagalumes
Nas noites de escuridão

Nesta festa alegre e boa
Canta o sapo na lagoa
O trovão no ar reboa

Com a força desta água nova
O peixe e o sapo na desova
O camaleão que se renova
No verde-cana que cor

Grande cordão de borboletas
Amarelinhas brancas e pretas
Fazendo tanta pirueta
Com medo do bentiví

Entre a mata verdejante
Seu pajé extravagante
O gavião assartante
Que vai atrás da jurití

Nesta harmonia comum
Num alegre zum zum zum
Cantam todos os bichinhos...
                FESTA DA NATUREZA
(Gereba/Patativa do Assaré)
Gravadora: Sony Music
Editora: Direto/Nossa Música edições
Lançamento: 2002 (CD)
Disco: ''ME LEVE''
Entendendo a canção:

01 – De que trata a canção?
      Fala do bioma nordestino, pedindo que a chuva venha para deixar tudo mais verde.

02 – Nos versos: “Chegando o tempo do inverno / Tudo é amoroso e terno”, o que o poeta está dizendo?
      Está falando que quando o inverno chega, tudo fica em clima de festa.

03 – Copie da canção um verso que identifiquem a seca nordestina.
      “Sertão amargo esturricado”.

04 – Como as aves se manifestam no inverno?
      Se manifestam compondo a sagrada orquestra.

05 – Há estrofes na música? Quantas?
      Sim. Há doze estrofes.

06 – Copie da canção marcas de oralidade.
      Pro / fulô.

07 – Que figura de linguagem há nestes versos? “Num alegre zum zum zum / Cantam todos os bichinhos...”
      Onomatopeia.

08 – Identifique a opção que completa corretamente o enunciado a seguir. Pode-se afirmar que a letra da canção “Festa da Natureza” cumpre seu objetivo, pois:
a)   Simplesmente passa informações.
b)   Provoca emoções e reflexões.
c)   Serve de diversão.
d)   Modifica o comportamento.



POEMA: MUNDO GRANDE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Mundo Grande
               Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.
                                                          Carlos Drummond de Andrade
Entendendo o poema:

01 – No poema de Drummond, há uma metáfora que faz referência ao tipo de postura de sujeito romântico, rejeitada pelo poeta. O termo que indica esta METÁFORA é:
a)   Coração.
b)   Mundo.
c)   Fogo.
d)   Amor.

02 – Drummond refere-se a desajustes diante do mundo, que podem ser relacionados com o contexto histórico em que produziu o livro Sentimento do Mundo, do qual o poema “Mundo Grande” foi retirado. A opção que melhor caracteriza o contexto e a referência da época, que justificam a postura crítica do poeta no livro “Sentimento do Mundo” é:
a)   A implantação do Estado Novo.
b)   A Semana de Arte Moderna.
c)   O golpe militar de 1964.
d)   A primeira Guerra Mundial.

03 – Qual é a ânsia do eu poético?
      Em enlaçar destinos (o poeta / os outros), reunir os homens, nem que seja em forma de arquipélagos.

04 – Nos versos: “Fecha os olhos e esquece.
                             Escuta a água nos vidros,
                             tão calma, não anuncia nada.”
        De que se trata estes versos?
      Trata da alienação de uma classe privilegiada que se encontra protegida dentro de espaços fechados.

05 – O poeta percebe que o mundo cresce entre o “amor e o fogo”, entre “a vida e o fogo”, de que forma?
      Cresce todos os dias entre os homens, e que há esperança por trás de tanta maldade e sofrimento.

06 –Por que o poeta sabe que todos nós precisamos uns dos outros?
      Para criar uma vida futura mais melodiosa e agradável e fazer renascer as cidades submersas, inundando tudo de verdades e vidas futuras.


TEXTO: MODA PODRÃO - CHANTAL BRISSAC, IN REVISTA ISTO É - COM GABARITO

Texto: Moda Podrão
        
    Roupas de segunda mão e tênis remendados compõem o visual largado dos adolescentes

     Nos anos 70 foi a romântica fase do bicho-grilo, com muita sandalinha de couro, vestido de chita, cabelão, barba e bolsa. Em 90, foi a vez da era grunge, nascida com as bandas de Seattle, Washington – camiseta rota, tênis furado e cabelo ensebado tornaram-se obrigatórios. Agora, uma mistura desses visuais domina alguns redutos de jovens de classe média e de elite, colocando em alta o estilo sujo e pobre de ser. Não há apenas uma classificação possível para a tendência. Ripongas, esbagaçados ou largados, eles vão na direção oposta das patricinhas e playboys. Dizem abominar shopping centers, roupas de grife e consumismo. Integrantes de várias tribos, muitos garimpam sua indumentária em lojas nas galerias do centro das grandes cidades e em brechós. A facção esbagaçada, formada por garotos entre dez e quatorze anos, de boné, bermudas imensas e tênis remendados com silver-tape (um durex largo prateado), também não é muito chegada a água e sabão, gerando entre pais e familiares o sugestivo apelido de “podrões”. “É uma luta convencê-los a tomar banho”, diz Marina Cardoso, mãe de Tiago, doze anos, que insiste em usar camiseta por duas semanas. Na porta do colégio Rudolf Steiner, no bairro paulistano do Brooklin, os amigos Paolo, Vitor, Tayguara, Fernando e Miguel, todos de treze anos, explicam que o banho faz parte de sua rotina, mas escasseia no período de férias. “Aí, a gente também tira férias de banho”, diz Miguel fragues, vestido como os outros, com o uniforme padrão: bermuda big, tênis lesado e remendado com silver-tape e camiseta amarfanhada. “A gente é normal, os outros é que são estranhos”, resume Paolo Pascolo.
        Nessa idade, a aversão à água é compreensível. “Quando começam a se voltar para as meninas, a fase cascão acaba e começa uma produção daquelas, com perfume e tudo”, diz a psicopedagoga Josefina Faccioli. Entre os mais velhos, porém, mesmo com a aparência detonada, não falta uma cuidadosíssima produção.
        “É gostoso se vestir muito mal quando se sabe, entre aspas, que você pode se vestir bem. Dificilmente um garoto que não pode ter um tênis vai achar legal andar de sandália havaiana”, pondera Josefina Facioli.
        Na busca de uma identidade própria e da aceitação do grupo, vale tudo.
        Rica fase de experimentações, a adolescência hoje é vivida sem os radicalismos de outras épocas. As posturas são soft e as pessoas transitam pelos grupos sem muitas cobranças. Há convertidos, iniciantes, recorrentes.
        Para Josefina Faccioli, a adolescência é uma das mais privilegiadas fases da vida, quando se pode experimentar àa vontade. “Depois, inevitavelmente, surge a necessidade de se encaixar, enquadrar e assumir compromissos com a sociedade. Este período de liberdade deve ser compreendido pelos pais de maneira natural. Quando não há espaço e oportunidade para experimentar, há maior chance de se transformar em um adulto com problemas”.
                          Chantal Brissac, in revista IstoÉ, 20 nov. 1996.
                                 Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 76-8.
Entendendo o texto:

01 – Segunda a autora, o que determina a mudança do visual do adolescente, a cada década?
      Há influência de conjuntos ou bandas musicais que normalmente apresentam estilos bem diferentes, excêntricos, que agradam aos jovens.

02 – A seu ver, por que justamente os jovens de classe média e de elite adotam a “moda podrão”?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Justamente porque têm posses, podem escolher o que vestir, procuram mostrar-se extravagantes, como forma de contestação.

03 – Você faz parte de alguma “tribo”? Qual a sua opinião sobre esse tipo de comportamento em grupo?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – A moda de “tirar férias de banho” é uma rotina normal entre os jovens? O que você sabe a respeito desse costume?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Entre os jovens ocorre uma fase em que tomar banho é raro, pois acham que é desnecessário, mania de gente mais velha. Com o tempo, em geral, as coisas voltam ao normal.

05 – Segundo o texto, quando acaba a “fase cascão”?
      O jovem começa a se cuidar, tomar banho e até passar perfume, ao se interessar por alguma garota.

06 – Você considera a sua geração menos radical do que a de seus pais, quando tinham a sua idade? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – De acordo com o texto, por que o adolescente assume um comportamento tão estranho? Você concorda com essa resposta? Justifique sua resposta.
      A adolescência é uma fase de muitas mudanças, tanto físicas como psicológicas, e é difícil para o jovem adaptar-se a elas, com tranquilidade e segurança. Ele então procura se afirmar, questionando a tudo e a todos.

08 – A adolescência lhe parece uma fase privilegiada? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – O adolescente que vive com liberdade se torna um adulto mais equilibrado e feliz? Dê a sua opinião.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Em síntese, como se explica a irreverência do jovem no vestir e no falar? O que ele pretende na verdade?
      Ele procura se auto-afirmar, chamar a atenção, para se sentir prestigiando, menos carente de afeto e atenção.


CRÔNICA: ACHANDO O AMOR - PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

Crônica: Achando o amor

                  Paulo Mendes Campos

        Ele tem quinze anos, calça 42, usa cabelos razoavelmente compridos. Estava num bar do Leblon, na companhia de castigados adultos. Estes tomavam uísque; o rapazinho tomava a segunda coca média. Quando os homens feitos já tinham falado sobre mulheres, o time do Flamengo, o custo de vida, reviravolta política dum país africano, desastre espetacular no aterro, música da moda, o silêncio entrou no bar e empapou tudo como gordura. Um silêncio hepático ou pancreático ou esplenético. O silêncio que intoxica os etílicos. Para agravar o oleoso drama, era aquela hora da noite, já um pouco tarde para o jantar doméstico e ainda um pouco cedo para a irresponsabilidade. O encaroçado point of no return dos boêmios.
        Aí o jovem disse que estava juntando dinheiro para comprar um sabiá. Talvez não comprasse um sabiá, mas um curió. Ia para o colégio de ônibus porque sempre estava em cima da hora, mas voltava a pé. Não comia sanduíche no recreio. Sabiá tá caro! Vendedor de passarinho tem muito trambique. Ele chateou tanto um, ali naquela lojinha de Ipanema, pedindo abatimento para pintassilgo, que o homem acabou lhe ensinando onde se compra pintassilgo mais barato na cidade. Tinha em casa azulão, canário, coleiro, bigodinho... Teve bicudo, corrupião, mainá... O triste é que passarinho morre.
        Então os etílicos foram buscar passarinhos no fundão do tempo e começaram também a passarinhar. O bar noturno virou um viveiro de cantores e cores. O Silêncio voltou de novo mais limpo, exorcizado.
        O jovem retomou a palavra: o passarinho que mais o entusiasmou a vida toda não cantava nem era bonito. Até o dicionário dizia que ele era feio. Foi ao dicionário por não saber se o certo era chopim ou chupim.
        O chupim põe os ovos em ninho de tico-tico, e é este que cria os filhotes. Tinha descoberto numa árvore da lagoa Rodrigo de Freitas um ninho de tico-tico com um ovo de chupim. Quando o chupim nasceu, o problema era mantê-lo vivo: arranjou um conta gotas e, todas as tardes, depois das aulas, subia à árvore e descia alimentos líquidos pela goela do filhote. No momento certo, levou o chupim pra casa. O passarinho não ficava preso, pelo menos grande parte do tempo, mas pousado num galho de arbusto decorativo. Saía às vezes para passear com o chupim e a cachorrinha: ele na frente, o chupim andando atrás, a cachorrinha saltitando em torno. Bastava um gesto e um assovio para que o chupim decolasse e viesse pousar em seu ombro. Espetacular! Pouco depois, passou a lançar o passarinho pela janela; ele sumia durante uma ou duas horas, pousando à tarde na amendoeira de defronte; um assovio, e o passarinho entrava pela janela, pousando no ombro do dono. Como um falcão amestrado! Mas era um chupim, um feio e triste chupim!
        Uma tarde, quando o passarinho andava lá por fora, caiu a tempestade. O chupim não voltou. Ele ficou à janela até depois de escurecer; mas o chupim não voltou. Esperou ainda durante uma semana, sabendo que esperava sem motivo.
        Confesso que fiquei triste às pampas, disse o jovem.
        Aí o Silêncio que entrou parecia uma enorme bola de sabão, uma coisa que não vale nada, mas que nos inquieta de leve quando se desfaz.
        O jovem arrematou: É engraçado, eu senti por aquele chupim um negócio esquisito. Eu não tenho vergonha de dizer pra vocês: chorei por causa do meu chupim. Eu sentia uma afeição pelo chupim... uma coisa profunda mesmo... Ora, eu amava aquele chupim... Agora é que tou entendendo: o que eu tinha pelo chupim era amor.
     CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato e outras crônicas. São Paulo, Ática, 1998. p. 93-5.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 12-4.

Entendendo a crônica:

01 – O texto é narrado em primeira pessoa ou em terceira pessoa? Transcreva do primeiro parágrafo o pronome pessoal que justifica sua resposta.
      Terceira pessoa. Ele.

02 – Nesse mesmo parágrafo, o narrador emprega um adjetivo para caracterizar os adultos.
a)   Que adjetivo é esse?
Castigados.

b)   Que conotação pode ter essa palavra no texto?
Ao empregar essa palavra, o narrador possivelmente quis referir-se ao sofrimento das pessoas ou ao fato de já terem tido bastante experiência com fatos tristes na vida.

03 – “... o Silêncio entrou no bar e empapou tudo como gordura.” Por que a palavra silêncio está empregada como inicial maiúscula?
      A maiúscula personifica o silêncio, reforçando ideia da sua presença.

04 – O silêncio que toma conta do bar é caracterizado, no primeiro parágrafo, por adjetivos que se referem a três órgãos do corpo: baço, pâncreas e fígado.
a)   Transcreva do texto o adjetivo correspondente a cada um desses órgãos.
Baço: esplenético. Pâncreas: pancreático. Fígado: hepático.

b)   Por que o narrador faz referência a esses órgãos do corpo e não a outros? Considere que se trata de um grupo de boêmios.
Porque esses são os órgãos geralmente mais afetados pelas bebidas alcoólicas.

05 – Etílico significa “provocado pelo álcool; alcoólico”. No texto, quem são os etílicos?
      São os adultos que tomam bebidas alcoólicas.

06 – “... os etílicos fora buscar passarinhos no fundão do tempo...”. O que o autor quis dizer com essa afirmação?
      Os boêmios começaram a contar suas histórias de passarinho que tinham ocorrido muito tempo atrás.

07 – No segundo parágrafo, o narrador emprega uma frase que antecipa o final da história. Que frase é essa?
      “O triste é que passarinho morre”.

08 – No terceiro parágrafo, utiliza-se uma metáfora para caracterizar a atmosfera do bar depois que começaram as conversas sobre passarinho. Transcreva essa metáfora.
      “Viveiro de cantores e cores”.

09 – O que o narrador quer dizer ao afirmar que o silêncio voltara mais limpo?
      Todos já tinham falado sobre suas histórias com passarinho; não havia mais ambiente tenso, angustiante, em que não se sabe o que dizer.

10 – O narrador compara o silêncio que se instalou pela terceira vez no bar ao efeito provocado por uma enorme bola de sabão que se desfaz. Explique.
      A história contada pelo jovem era uma história comum, sem nenhum valor especial para as pessoas que a ouviam, como a bola de sabão, mas seu final e a confissão da tristeza causaram o silêncio inquietante, a inquietação da bola que se desfaz.

11 – Até chegar à constatação de que seu sentimento pelo chupim era amor, o jovem estabelece uma gradação de sentimentos. Transcreva essa gradação.
      Negócio esquisito / afeição / coisa profunda / amor.

12 – No texto, o silêncio sempre aparece com características de um ser vivo, é tratado como pessoa. Como se chama essa figura de estilo?
      Personificação ou prosopopeia.

13 – O verbo passarinhar pode significar “caçar passarinho”. No texto, esse verbo não foi empregado com esse sentido, mas sim com sentido figurado. Justifique essa afirmativa.
      No texto o verbo pode ter o sentido de contar histórias de passarinho, com a alegria e a algazarra que fazem os passarinhos quando estão em bando.

14 – “O chupim põe os ovos em ninho de tico-tico, e é este que cria os filhotes”.
a)   O comportamento do chupim pode caracterizar que tipo de gente?
Pode caracterizar pessoas que vivem à custa de outras ou que se aproveitam de outras.

b)   Na escola, o que seria um(a) chupim?
Alunos que não fazem trabalho e só assinam; alunos que não estudam e colam, e assim por diante.

     

MENSAGEM ESPÍRITA: A CORTINA DO "EU" -FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER (EMMANUEL) PARA REFLEXÃO

Reflexão: A Cortina Do “eu”

   “Porque todos buscam o que é seu e não o que é do Cristo Jesus.” – Paulo. (Filipenses, 2:21.)

   Em verdade, estudamos com o Cristo a ciência divina de ligação com o Pai, mas ainda nos achamos muito distantes da genuína comunhão com os interesses divinos.
 Por trás da cortina do “eu”, conservamos lamentável cegueira diante da vida.
 Examinemos imparcialmente as atitudes que nos são peculiares nos próprios serviços do bem, de que somos cooperadores iniciantes, e observaremos que, mesmo aí, em assuntos da virtude, a nossa percentagem de capricho individual é invariavelmente enorme.
           A antiga lenda de Narciso permanece viva, em nossos mínimos gestos, em maior ou menor porção.
           Em tudo e em toda parte, apaixonamo-nos pela nossa própria imagem.
        Nos seres mais queridos, habitualmente amamos a nós mesmos, porque, se demonstram pontos de vista diferentes dos nossos, ainda mesmo quando superiores aos princípios que esposamos, instintivamente enfraquecemos a afeição que lhes consagrávamos.
        Nas obras do bem a que nos devotamos, estimamos, acima de tudo, os métodos e processos que se exteriorizam do nosso modo de ser e de entender, porquanto, se o serviço evolui ou se aperfeiçoa, refletindo o pensamento de outras personalidades acima da nossa, operamos, quase sem perceber, a diminuição do nosso interesse para com os trabalhos iniciados.
        Aceitamos a colaboração alheia, mas sentimos dificuldade para oferecer o concurso que nos compete.
        Se nos achamos em posição superior, doamos com alegria uma fortuna ao irmão necessitado que segue conosco em condição de subalternidade, a fim de contemplarmos com volúpia as nossas qualidades nobres no reconhecimento de longo curso a que se sente constrangido, mas raramente concedemos um sorriso de boa-vontade ao companheiro mais abastado ou mais forte, posto pelos Desígnios Divinos à nossa frente.
        Em todos os passos da luta humana, encontramos a virtude rodeada de vícios e o conhecimento dignificante quase sufocado pelos espinhos da ignorância, porque, infelizmente, cada um de nós, de modo geral, vive à procura do “eu mesmo”.
        Entretanto, graças à Bondade de Deus, o sofrimento e a morte nos surpreendem, na experiência do corpo e além dela, arrebatando-nos aos vastos continentes da meditação e da humildade, onde aprenderemos, pouco a pouco, a buscar o que pertence a Jesus-Cristo, em favor da nossa verdadeira felicidade, dentro da glória de viver.

Francisco Cândido Xavier.
Fonte Viva – 4° livro da Coleção “Fonte Viva”.
(Interpretação dos Textos Evangélicos)
Ditado pelo Espírito – Emmanuel.


domingo, 26 de abril de 2020

POEMA: O POETA E A ROSA - VINÍCIUS DE MORAES - COM QUESTÕES GABARITADAS

POEMA: O Poeta E A Rosa
               Vinicius de Moraes
                                  
Ao ver uma rosa branca
O poeta disse: Que linda!
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda!

Qual não é sua surpresa
Ao ver, à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação.

É que a rosa, além de branca
(Diga-se isso a bem da rosa...)
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa.

– Que foi? – balbucia o poeta
E a rosa; – Calhorda que és!
Para de olhar para cima!
Mira o que tens a teus pés!

E o poeta vê uma criança
Suja, esquálida, andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência à rosa.

– São milhões! – a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu, na tua vaidade
Querendo usar do meu nome!...

E num acesso de ira
Arranca as pétalas, lança-as
Fora, como a dar comida
A todas essas crianças.

O poeta baixa a cabeça.
– É aqui que a rosa respira...
Geme o vento. Morre a rosa.
E um passarinho que ouvira

Quietinho toda a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda faz um cocozinho
Na cabeça do poeta.
                                         Compositor: Vinicius De Moraes
Entendendo a canção:

01 – Que tema é abordado no poema?
      Fala da vaidade do ser humano.

02 – Que estrofe do poema expressa mais claramente o entusiasmo do eu lírico pela rosa branca?
      Na primeira estrofe.

03 – Por que a rosa branca ficou indignada?
      Porque o poeta não tinha visto uma criança comendo um torrão da terra.

04 – De que espécie era a rosa branca?
      Era da espécie mais franca / E de seiva mais raivosa.

05 – A rosa branca berra – São milhões – milhões de quem?
      Milhões de crianças a morrer de fome.

06 – Que faz a rosa branca num acesso de raiva?
      Arranca as pétalas, lança-as / Fora, como a dar comida / A todas essas crianças.

07 – Que faz o passarinho que ouvirá toda a disputa quietinho?
      Faz um cocozinho na cabeça do poeta.