quinta-feira, 16 de abril de 2020

TEXTO: VIDA SIM, DROGAS NÃO! (FRAGMENTO) - FREI BETTO - COM GABARITO

Texto: Vida sim, drogas não! (Fragmento)
        
    Frei Betto
        (...)

    O narcotráfico movimenta por ano, no mundo, cerca de US$ 400 bilhões ­ pouco menos que o PIB brasileiro. Os cabeças escapam através da lavagem de dinheiro, do tráfico de influências, da compra de policiais, militares e juízes. Os pés-de-chinelo são caçados nas favelas, morrem crivados de balas ou padecem nas prisões.
        De 1980 a 1996, os assassinatos, no Brasil, dobraram de 13 para 25 por cada grupo de 100 mil habitantes. Entre jovens de 15 a 19 anos, o índice subiu para 44,8/100 mil. A maioria em decorrência do uso e do tráfico de drogas.
        Quem são os culpados? Todos nós somos responsáveis, até mesmo por omissão frente ao problema, e somos também vítimas (assaltos por drogados, acidentes de trânsito em consequência de bebidas, disseminação da Aids, políticos eleitos com o dinheiro do narcotráfico etc.). Inútil pensar que a questão da droga é um problema individual. É, sim, uma grave questão social.
        A droga não é causa, é efeito. Se quisermos erradicá-la, teremos de encarar de frente um desafio: a mudança da sociedade em que vivemos. Não se trata de ceder ao maniqueísmo ideológico e acreditar que o advento do socialismo porá fim ao problema. Também nas sociedades socialistas da Europa do Leste o narcotráfico atuava, como hoje opera em Cuba.
        Essa "civilização química" na qual vivemos resulta do nosso desencanto subjetivo. Uma pessoa destituída de valores espirituais ­ religião, utopia, ideologia etc. ­ tende a buscar sucedâneos que preencham o seu vazio interior. No fundo, recorre-se à droga para alterar o estado de consciência. Eis uma necessidade da qual nenhum ser pode prescindir. Ninguém aguenta ser "normal" o tempo todo.
        É uma exigência de nossa saúde espiritual cultivar a subjetividade, como o artista esteticamente febril diante de sua obra, o profissional encantado com o seu projeto, o militante guevarianamente empenhado em sua luta, a jovem apaixonada, o místico tocado pelo amor divino. São estados de plenitude e felicidade.
        Porém, não se encontram à venda na farmácia da esquina, nem merecem publicidade na mídia. Até porque são valores anticonsumistas. Quanto mais realizada uma pessoa, graças ao sentido que imprime à sua vida, menos ela sente necessidade de recursos artificiais que alteram momentaneamente o estado de consciência para, em seguida, passado o efeito, desabar no vazio de si mesmo, no abismo da própria frustração.
        Mudar a sociedade não é só transformar as suas estruturas. Isso é o prioritário: assegurar a todos alimentação, moradia, saúde e educação, trabalho, lazer e cultura, o que supõe distribuição de riqueza, partilha dos frutos do trabalho humano, soberania nacional, reforma agrária etc. Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida social. Essa revolução cultural certamente é mais difícil que a primeira, a social. Talvez por isso o socialismo tenha desabado como um castelo de cartas no Leste europeu. Saciou a fome de pão, mas não a de beleza. Erradicou-se a miséria, mas não se logrou que as pessoas cultivassem sentimentos altruístas, valores éticos, atitudes de compaixão e solidariedade. O resultado é assombroso: após 70 anos de socialismo, a Rússia hoje destaca-se pelas máfias de prostituição infantil e pela corrupção crônica em todos os escalões da sociedade.
        (...)
         FREI BETTO. In: O São Paulo. Jornal da Arquidiocese de São Paulo. 7 mar. 2001, p. 4.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 54-7.
Entendendo o texto:

01 – Logo no início do texto, o autor chama a atenção do leitor para um dado importante. Que dado é esse?
      A quantidade exorbitante de dinheiro movimentada pelo narcotráfico (cerca de 400 bilhões de dólares).

02 – Qual é a ideia principal desse parágrafo?
      Mostrar que as consequências são piores para os pobres que se envolvem com o narcotráfico, já que os ricos podem “comprar” a justiça.

03 – O que mostram os dados estatísticos no segundo parágrafo?
      Que a maioria dos assassinatos ocorridos entre jovens de 19 a 25 anos é decorrente do uso ou tráfico de drogas.

04 – No terceiro parágrafo, o autor apresenta seu ponto de vista sobre o problema das drogas:
a)   Como ele faz isso?
Inicialmente lança uma pergunta – “Quem são os culpados?” –, para depois responde-la.

b)   Segundo o autor, todos nós somos de algum modo responsáveis pela situação gerada pelas drogas. Explique.
Quem não toma nenhuma atitude é responsável por omissão diante do problema.

c)   Qual é a ideia principal apresentada pelo autor nesse parágrafo?
A droga é um problema social e não só individual.

05 – O que o autor quer dizer ao afirmar que o problema da droga é efeito e não causa?
      Não é a droga a responsável pelos males da sociedade, mas são os problemas sociais que acabam levando ao consumo de droga.

06 – Segundo ele, qual é a condição para se acabar com o problema da droga?
      A transformação total da sociedade.

07 – Maniqueísmo é uma doutrina segundo a qual tudo se baseia em dois princípios opostos: o bem e o mal. De acordo com uma visão maniqueísta, se o socialismo representasse o bem, qual seria o mal?
      O capitalismo.

08 – Vivemos numa sociedade capitalista. Ao propor uma transformação na nossa sociedade, o autor está propondo necessariamente o socialismo como alternativa? Explique.
      Não. Segundo ele, o problema das drogas também estava presente nas sociedades socialistas.

09 – O que o autor quer dizer com a expressão “civilização química”?
      Possivelmente quer dizer que nossa sociedade está dominada por produtos químicos, principalmente os que causam dependência.

10 – Qual é, segundo ele, a causa desse tipo de civilização?
      A falta de valores espirituais, que gera um vazio interior.

11 – Explique com suas palavras a frase: “Ninguém aguenta ser ‘normal’ o tempo todo”.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – No sexto parágrafo, de acordo com o autor, de que maneiras podemos cultivar nossa subjetividade, isto é, cultivar nossos valores espirituais?
      Por meio de uma atividade artística, da militância política, da paixão, da fé, etc.

13 – No sétimo parágrafo:
a)   “...não se encontram à venda na farmácia da esquina...”. O que o autor quis dizer com essa frase?
Que os valores espirituais não são facilmente encontráveis.

b)   Que palavras ou expressões do 5° e do 6° parágrafos podem-se relacionar ao termo farmácia?
“Civilização química”, droga, saúde, febril.

c)   Reescreva a frase que segue, começando com a expressão “Quanto menos...”, mantendo o mesmo sentido: Quanto mais realizada é uma pessoa, menos ela sente necessidade de recursos artificiais.
Quanto menos realizada é uma pessoa, mais ela sente necessidade de recursos artificiais.

d)   “Até porque são valores anticonsumistas”. Qual é o sentido, no texto, da palavra destacada?
Que não são de consumo rápido e efeito momentâneo.

14 – Do oitavo parágrafo, transcreva os dois períodos que resumem a opinião do autor sobre o tema.
      “Mudar a sociedade não é só transformar as suas estruturas”; “Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida social”.

15 – Segundo o autor, o que é mais fácil: fazer com que a população incorpore valores anticonsumistas ou passar de um governo capitalista para um socialista?
      A segunda alternativa é a resposta.     
      


segunda-feira, 13 de abril de 2020

FILME(ATIVIDADES): RAIN MAN - BARRY LEVINSON - (SOBRE AUTISMO) - COM QUESTÕES GABARITADAS

Filme(ATIVIDADES): RAIN MAN


Data de lançamento 24 de março de 1989 (2h 13min)
Direção: Barry Levinson
Nacionalidade EUA

SINOPSE E DETALHES

        Charlie (Tom Cruise), um jovem yuppie, fica sabendo que seu pai faleceu. Eles nunca se deram bem e não se viam há vários anos, mas ele vai ao enterro e ao cuidar do testamento descobre que herdou um Buick 1949 e algumas roseiras premiadas, enquanto um "beneficiário" tinha herdado três milhões de dólares. Curioso em saber quem herdou a fortuna, ele descobre que foi seu irmão Raymond (Dustin Hoffman), cuja existência ele desconhecia. Autista, Raymond é capaz de calcular problemas matemáticos com grande velocidade e precisão. Charlie sequestra o irmão da instituição onde ele está internado para levá-lo para Los Angeles e exigir metade do dinheiro, nem que para isto tenha que ir aos tribunais. É durante uma viagem cheia de pequenos imprevistos que os dois entenderão o significado de serem irmãos.

Entendendo o filme:

01 – Quais são as habilidades excepcionais de Rain Man?
      As habilidades estão na leitura e na matemática, sendo capaz de contar cartas nos jogos de cassino.

02 – Explique o porquê do título do filme ser “Rain Man”.
      Rain Man é a forma com que Charlie, aos três anos, se referia ao irmão, que, dentro de sua rotina de tarefas, protegia-o da solidão.

03 – Por que Charlie não conviveu com seu irmão Raymond?
      Porque sua mãe morreu quando ele tinha três anos e Raymond foi mandado para uma clínica, pois representava (segundo o pai) um perigo para o irmão.

04 – Como Charlie Babbit descobre que Raymond é seu irmão?
      Foi quando seu pai faleceu, e ele herdou apenas um carro e algumas roseiras, enquanto a fortuna de três milhões de dólares ficou para um “beneficiário” desconhecido.
      Charlie então sai em busca do tal beneficiário e descobre que se trata de Raymond, um irmão que ele não conhecia.

05 – Por qual motivo Raymond vive em uma clínica desde criança?
      Porque ele é autista.

06 – Que faz Charlie para tirar Raymond da clínica?
      Charlie “sequestra” o irmão para leva-lo a Los Angeles e exigir a metade da herança.

07 – Raymond se recusa a andar de avião. Como eles viajam, então?
      Os dois irmãos cruzam o país de carro. Com a convivência durante a viagem, Charlie começa a descobrir mais sobre seu irmão e deixa de ser frio e calculista, interessado apenas em bens materiais e passa a entender o real significado de se ter um irmão.

08 – Rain Man é dado como um indivíduo incapaz de viver em sociedade, sendo inapto de compreender a noção de dinheiro, entender o caos do cotidiano e criar estratégias para lidar com problemas. Como ele compensa essas dificuldades?
      Por meio de rotinas fixas, do que comer cada dia, das horas de seus programas de TV, e de seu horário de dormir.



CRÔNICA: PAREM DE MATAR CACHORROS! FABRÍCIO CARPINEJAR - COM QUESTÕES GABARITADAS


Crônica: PAREM DE MATAR CACHORROS! 
                   
      Fabrício Carpinejar

  Ou a memória é um retrovisor que não tem como arrancar

        Na BR-116, é certo que encontrarei engarrafamento e cachorro morto. A cada animalzinho estirado na mureta, tapo os olhos de meu filho Vicente – não é uma boa recordação para se levar à escola logo de manhã.
        Mas fui notando que teria que deixá-lo vendado o trajeto inteiro. No intervalo de 10 quilômetros, avistava um novo corpo já despossuído de alma e Deus, inchado e anônimo, sem a gentileza de cruz e o amparo da coleira.
        Cachorro atropelado na Grande Porto Alegre é tão frequente quanto as capivaras abatidas na BR-471.
        Procurava desvendar como o cão atingiu o miolo da estrada. Na minha idealização, o bicho esquecera o caminho de volta e não contara com sorte ao cruzar a mão dupla. Por uma série de tristes casualidades, fora jogado na loucura assassina de um autorama.
        Não me passava maldade pela cabeça. Sei o quanto um cachorro costuma cheirar caminhos e se distrair com facilidade.
        Até que descobri que existe um nazismo canino. Cachorros são abandonados na rodovia pelos próprios donos. Aquilo que vejo todo o dia não representa acidentes, é, sim, resultado de uma matança deliberada.
        Famílias compram ou recebem de presente um cãozinho, acham que é barbada cuidar, enfrentam uma semana de experiência, gastam demais com ração e higiene, e decidem sacrificar o hóspede. Sem tempo a perder, desaparecem com as provas de uma existência. E ainda raciocinam que não é um assassinato, que Palmira Gobbi é apenas o nome de uma avenida. Fingem acreditar que não cometeram mal nenhum, largaram o pequeno à mera provação do destino.
        O motivo é sempre gratuito. Matam o cão para prevenir incômodos. Ou porque ele adoeceu ou envelheceu. Ou porque o remédio e o veterinário são caros ou porque o abrigo é longe e não podem se atrasar para o trabalho.
        Que mundo é este? Pela janela, eliminam uma vida com a leviandade de alguém que arremessa longe uma bagana de cigarro, uma embalagem de picolé, um saco de salgadinho. Absolutamente crentes na impunidade.
        Quem faz isso não merece perdão. Não merece explicação. Não merece defesa. É um crime premeditado. A mais implacável execução que conheço, antecedida de lenta tortura emocional.
        Repare na insensibilidade: o dono mente ao seu cachorro que irão passear, para desová-lo no corredor da morte. Calcule o terror do bichinho quando não entende o castigo, e corre uivando, desesperado, atrás de um carro que nunca será mais o seu.
        Cansei de esconder os olhos de meu filho.
                                                                              Fabrício Carpinejar
Entendendo a crônica:

01 – O texto é construído com base nas informações que o cronista colhe nos lugares que percorre cotidianamente. De acordo com isso responda:
a)   Qual fato desencadeou os acontecimentos narrados na crônica?
O fato de todo dia o autor ter que por uma venda nos olhos de seu filho, no trajeto da escola porque sempre havia cachorro atropelado na rua.

b)   Em que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?
No sexto parágrafo.

c)   Descreva o lugar onde ocorreu o fato.
Na BR – 116, na Grande Porto Alegre e na rua Palmira Gobbi.

02 – Em que pessoa verbal o narrador conta o fato?
      O fato é contado em 1ª pessoa do singular.

03 – Quem são os personagens do fato narrado?
      O autor, seu filho e os cachorros atropelados.

04 – Quais características pertinentes ao gênero crônica podemos encontrar neste texto?
      Personagens – narrador – um fato – ações – clímax – desfecho – espaço.

05 – No texto estudado predomina a ação ou a reflexão? Comente.
      A ação, pois o cronista nos revela um crime premeditado de cães em plena rodovia pelos próprios donos, sem sequer direito de se salvarem.

06 – Existe uma relação entre a situação vivida pelas personagens da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.
      Sim, infelizmente deparamos com pessoas insensíveis que praticam tamanha atrocidades.

07 – Qual o desfecho da crônica?
     O autor diz que cansou de esconder os olhos de seu filho desta dura realidade.


QUADRO: MOÇAS À MARGEM DO SENA - GUSTAVE COUBERT - COM QUESTÕES GABARITADAS


Quadro:  Moças à Margem do Sena
A imagem em foco – Análise e apreciação
                          Quadro Moças à Margem do Sena: Verão (1857), de Gustave Courbet

Entendendo a pintura:

01 – O título do quadro dá pistas importantes para sua compreensão. Além disso, observe alguns detalhes da tela, como o buquê de flores que uma das moças tem sobre o corpo, uma bolsa com tom vermelho-vivo na parte direita superior e a presença de um barco ancorado na margem do rio.
a)   Em que lugar estão as moças retratadas?
A margem do Sena.

b)   Levante hipóteses: como provavelmente chegaram a esse lugar?
É possível que a pé ou de barco (no caso da outra margem).

c)   O que supostamente foram fazer lá?
Provavelmente foram se refrescar, pois é verão.

d)   O que provavelmente estavam fazendo, antes de se deitarem para descansar?
Colhendo flores, em virtude da presença de um buquê na mão de uma delas.

02 – Na pintura clássica, era comum as personagens e as cenas retratadas fazerem parte de uma história conhecida, quase sempre da mitologia. Na pintura romântica, havia uma inclinação para os painéis grandiosos, dramáticos, cheios de emoção. Tais características se verificam no quadro em estudo? Justifique sua resposta com características das personagens do quadro.
      Não. O quadro retrata uma cena comum, mostrando duas moças que descançam. Essas não são figuras históricas ou mitológicas.

03 – Na pintura romântica, tanto a natureza quanto os seres humanos são retratados de forma especial, elevada, grandiosa. As personagens, destacadas por sua beleza ou pela grandiosidade da situação que estão vivendo, dão sempre a sensação de estar posando para o pintor. Observe as personagens do quadro de Courbet e responda:
a)   As duas moças apresentam uma beleza idealizada?
Não. Formam um conjunto gracioso, mas não chegam a ser bonitas, tanto pelos critérios da época como pelos de hoje.

b)   Na sua opinião, o ambiente natural tem um papel decisivo na significação do quadro ou é um cenário comum?
É um cenário comum que não possui uma significação destacada no conjunto.

c)   As personagens parecem estar posando para o pintor ou parecem ter sido flagradas num momento de descontração e intimidade? Por quê?
Parecem ter sido flagradas num momento de descontração e intimidade, pois tem as roupas desalinhadas pela posição de descanso em que se encontram e, enquanto uma tem o olhar distante, a outra dorme.

04 – Quais dos seguintes sentimentos e sensações é possível depreender do quadro de Courbet?
·        Sentimento místico.
·        Sonolência.
·        Preguiça.
·        Sensualidade.
·        Amor.
·        Delicadeza.
·        Tédio.
·        Alegria.
·        Calor.

05 – Logo, o quadro parece estar interessado em captar uma dimensão física e material ou uma dimensão interior, espiritual?
      A obra em estudo é bem próxima ao real.

06 – Considerando as respostas dadas na questão anterior (4 e 5), conclua: a obra em estudo é mitológica, grandiosa, dramática e idealizada, ou é uma obra que se aproxima do real?
      A obra ilustra bem os dois comentários. Coubert é considerado o primeiro grande pintor do Realismo, rompendo com a tradição clássica e romântica, ele abriu as portas para a pesquisa em torno da cor e das técnicas de representação, traços que caracterizam o grande grupo de pintores impressionistas e simbolistas.

07 – Leia estes dois comentários, um do próprio Courbet e outro de um crítico de arte:
I – “A pintura é uma arte essencialmente concreta, e não pode consistir senão na representação de coisas reais e existentes.” (Gustave Courbet).
II – “Courbet quer viver a realidade como ela é, nem bela nem feia: para chegar a isso, não tendo outro caminho, desfaz-se de todos os esquemas, preconceitos, convenções, tendências do gosto. Para tocar a verdade, ele elimina a mentira, a ilusão, a fantasia. Tal é o seu realismo, princípio antes moral do que estético.” (Giulio C. Argan)
        Confronte-os com o quadro em estudo e responda: a tela Moças à margem do Sena; Verão corresponde aos princípios estéticos defendidos por Courbet e aos comentários feitos pelo crítico? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

CONTO: CIÚME FATAL - WILLIAM SHAKESPEARE - COM GABARITO

Conto: CIÚME FATAL
          
 William Shakespeare

     De volta ao castelo, Desdêmona correu a procurar o marido em todos os lugares onde ele poderia estar àquela hora. Porém não o encontrou em parte alguma.
        Um mau pressentimento lhe ocorreu; contudo, ela o afastou de imediato, lembrando-se de que Otelo não havia dormido na noite anterior. Com certeza ele havia ido descansar após o expediente da manhã e acabara dormindo, tendo se atrasado para o almoço.
        Reconfortada por essa ideia, ganhou o rumo do corredor e encaminhou-se para o quarto. Não chegou, porém, a caminhar dez passos e Otelo surgiu: o punhal na mão direita, o lenço e a carta na esquerda, os olhos vermelhos, a boca crispada, a respiração ofegante. Ao vê-lo, Desdêmona parou, estupefata, e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu a lâmina fria e fina penetrar-lhe o peito.
        -- Otelo... – gemeu, caindo sem vida.
        O mouro ficou parado, segurando a arma de seu crime e as falsas provas do crime da esposa. Contemplava o rosto de Desdêmona, imobilizado para sempre numa expressão de espanto e pavor.
        Nesse momento, Emília apareceu na outra ponta do corredor. Ao deparar com o quadro horrível, deteve-se por uma segundo, assustada, mas logo recuperou a coragem e aproximou-se depressa:
        – Oh, não... não ...
        A aia, ajoelhou-se ao lado da patroa e abraçou-a tão estreitamente que suas próprias roupas ficaram ensanguentadas. Otelo apenas olhava, talvez sem ver.
        Os soluços de Emília chegaram aos ouvidos de Montano, que caminhava pelo corredor externo, não longe dali, e em alguns instantes o capitão estava também diante da triste cena. Pouco depois surgiu Iago, ofegante por ter corrido, supostamente na tentativa de impedir o mouro de cometer a loucura para qual trabalhava com tanto esforço e astúcia. Os dois homens ficaram mudos, olhando para Desdêmona e Otelo que, por fim, parecendo recobrar a consciência, num fiapo de voz declarou, sem necessidade:
        – Fui eu quem a matei.
        A confissão fez os outros recuperarem a fala.
        – Mas... por quê? – gaguejou Montano.
        – Ela me traía... Com... Cássio! – completou, avançando na direção do tenente, que acabava de assomar ao corredor.
        Montano e Emília rapidamente saltaram sobre Otelo e agarraram-no pelos braços, com toda a força que tinham. Era evidente, porém, que, sozinhos, não conseguiriam segurá-lo por muito tempo. Precisavam de ajuda. Iago, mesmo contra a vontade, achou-se na obrigação de colaborar. Seu plano corria o risco de não se completar, pois incluía a morte de Cássio; no entanto, se não participasse daquela ação, acabaria por denunciar seu desejo de sangue.
        – Que loucura! – exclamou o tenente, acercando-se do corpo inanimado da prima. – Desdêmona amava o senhor, general, desde o momento em que a conheceu. O senhor foi seu primeiro e único amor!
        – Mentira! Vocês me usaram! – gritou o mouro, debatendo-se furiosamente entre as mãos que o prendiam. – O casamento não passou de um plano para ela sair da casa do pai e continuar esse romance sujo com você. Está aqui... eu li... – continuou, tentando estender para os outros as provas da traição. – Primeiro ela lhe deu o lenço, achando que com isso me afastaria. Depois escreveu a carta, contando que o plano avançava bem. Está tudo aqui... Veja! Vejam todos!
        Balançando a cabeça, inconformado, Cássio aproximou-se mais do comandante e apanhou os objetos que segurava.
        – Mas... onde estava isto? ... – balbuciou, pousando em Otelo um olhar carregado de angústia.
        – Ainda pergunta? – o general contorcia-se como uma fera amarrada. – Estava em seu quarto.
        – Mas... como?
        Cássio não entendia como aquelas coisas teriam ido parar em seu quarto. Entretanto, na cabeça de Emília, o enigma principiava a desvendar-se rapidamente.
        – Foi Iago quem pôs isso lá – declarou a mulher, com firmeza.
        (...)
        Era verdade. Emília tinha razão. O general de mil batalhas, de triunfos e glórias, de estratégias invencíveis, havia se deixado enganar por truques grosseiros. Otelo soltou um longo suspiro e deixou a cabeça altiva pender, desalentada, sobre o peito. Já não parecia merecer o título de “soberbo guerreiro” e em nada lembrava o Leão de Veneza. Ao contrário, mostrava-se tão abatido e inofensivo que os homens acabaram por soltá-lo
        (...)
        E, antes que alguém pudesse pensar em detê-lo, ergueu o punhal com ambas as mãos e cravou-o mortalmente na garganta.

     William Shakespeare, Otelo. Adaptação de Hildegard Feist, São Paulo, Scipione, 1992.
Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 95-8.

Entendendo o conto:

01 – Como se explica a atitude passiva de Desdêmona, apesar do seu “mau pressentimento”?
      Ela era uma mulher honesta, sem culpas, por isso não se preocupou com os maus pressentimentos que tivera.

02 – Ao descrever Otelo, no início do texto, qual é a imagem que o autor nos passa?
      De uma pessoa alucinada, completamente arrebatada pela dor do ciúme e da incerteza.

03 – Por que ele diz que “Otelo apenas olhava, talvez sem ver”?
      Seu desespero e ciúme eram tão intensos que ele apenas movia os olhos na direção de Desdêmona, mas não conseguia enxerga-la.

04 – Quem é Iago? Qual é o seu papel nessa trama?
      Iago é o mentor da trama. Para separar o casal, faz com que Otelo enlouqueça de ciúme e mate Desdêmona.

05 – O que ele fez para desencadear o ciúme no coração de Otelo?
      Simulou um romance entre Desdêmona e seu primo Cássio.

06 – Como se descobriu a inocência de Desdêmona?
      Emília, sua fiel camareira, sabia da trama e denunciou os planos de Iago, acusando-o de ter colocado o lenço e a carta no quarto de Cássio.

07 – Qual foi a reação de Otelo, ao constatar seu engano?
      Abatido pela tragédia, pela loucura do seu ato, se suicidou com um punhal.

08 – Otelo era um respeitado general, possuidor de vários títulos como e de “soberbo guerreiro” e o de “Leão de Veneza”; entretanto transforma-se num fraco, vencido pelo ciúme. Por que o ciúme é tão destrutivo?
      Além de enfraquecer as pessoas, ele tira a tranquilidade e obscurece a razão do ser humano, que passa a agir sem pensar.

09 – Algumas pessoas dizem que “o ciúme é o tempero do amor”. O que você pensa sobre isso?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – De que forma superamos certos sentimentos que nos impedem de crescer?
      Sendo mais forte e racionais. Analisando bem o que sentimos, antes de decidir qualquer coisa.