terça-feira, 10 de março de 2020

HISTÓRIA: O LIMOEIRO E AS LAGARTAS - NEUZA PEREIRA RODRIGUES - COM GABARITO


História: O limoeiro e as lagartas
        
     Neuza Pereira Rodrigues

  A balança, o brinquedo favorito da menina, ficava num limoeiro que foi tomado por lagartas. Assustada, ela primeiro fugiu, mas aprendeu depois a compartilhar seu espaço com as visitantes

   Quando era menina, por volta dos 6 anos, morava num bairro simples da periferia de São Paulo. Meus irmãos e eu íamos a pé para a escola sozinhos e minha mãe ficava tranquila de que nada nos aconteceria porque sabia que, ao longo da caminhada de 1 quilômetro, encontraríamos muitos conhecidos.
        Não havia como não se sentir bem ali no bairro, pois todas as famílias eram amigas. Meu pai trabalhava numa indústria de vidros e minha mãe era doméstica na casa da dona do empório da esquina. Como o salário deles dava apenas para as despesas com comida – não sobrava para comprar brinquedos –, nós nos contentávamos em brincar de corda, de roda e de passa anel.
        Minha irmã, a quem chamávamos de Dinda, tinha 8 anos. Um pouco retraída, nunca revelava seus sonhos ou suas preferências. Lembro apenas que, às vezes, disputávamos o brinquedo de que eu mais gostava: a balança feita com um pedaço de corda que a patroa da minha mãe dera para esse fim. Meu pai a amarrara num dos galhos do limoeiro do nosso quintal. Mas nós duas não brigávamos pela balança. Eu apenas tinha de esperar minha irmã se balançar: ela logo se cansava e, então, eu podia aproveitar.
        Todas as manhãs, sem exceção, eu ia me balançar. O vento batia em meu rosto e eu, intrigada, tentava entender como de um pé de limão, que dava frutos tão azedos, podiam nascer flores com um perfume tão doce. Muitas vezes, nem sequer notava que o pedaço de tábua ou almofada, que eu colocava para não machucar a perna, tinha caído. Eu já não trocava minha balança por nada. Não entendia como minha irmã podia preferir brincar de casinha, e meu irmão, de bolinha de gude.
        Numa certa manhã, corri para a minha balança. Lembro-me de que chovera na noite anterior e a corda, ainda molhada, deixava marcas na minha roupa. Depois de duas ou três balançadas saltei, espantada, para trás, ao perceber que o tronco do limoeiro estava repleto de lagartas. Fiquei indignada! Aquele era o meu limoeiro! Como aquelas lagartas tinham aparecido? Quando iriam embora? E se uma delas pulasse em cima de mim?
        Senti que perdera meu brinquedo favorito e que meu doce limoeiro me traíra, dando abrigo àqueles vermes. Passei três dias observando, de longe, o que acontecia. As lagartas eram feias, moles, passavam umas por cima das outras mas pareciam nem se importar comigo. Tentei brincar de casinha, assistir à TV, mas nada se comparava à minha balança, onde eu flutuava e me divertia com as dezenas de personagens criadas pela minha imaginação.
        Concluí, então, que eu podia dividir com as lagartas o meu limoeiro porque, se estavam ali, havia alguma razão que só a natureza conhecia. Elas não iriam me expulsar, me fazer abrir mão do único brinquedo que me proporcionava infinitas horas de sonho e prazer. Hoje, trinta anos depois, ainda me lembro com saudades daquele limoeiro e também de suas lagartas, que todos os anos surgiam e com as quais aprendi a compartilhar um precioso espaço da infância.
              Depoimento de Neuza Pereira Rodrigues, São Paulo (SP)
             Revista Cláudia, São Paulo, Abril, 1996.
                            Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 163-5.
Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Periferia: região distante do centro da cidade.

·        Empório: tipo de comercio de gêneros alimentícios e materiais de limpeza.

·        Retraída: tímida.

·        Proporcionar: oferecer.

·        Infinitas: sem fim.

·        Compartilhar: dividir.

02 – Situe a ação do texto no tempo e no espaço.
      A ação do texto acontece na infância da narradora, na periferia de São Paulo.

03 – Como vimos, uma história pode ser contada das seguintes maneiras: Em primeira pessoa do singular, na segunda pessoa do singular ou na terceira pessoa do singular. Depois de ter lido o texto “O limoeiro e as lagartas”, como você o classificaria quanto ao ponto de vista do narrador?
      É narrado em primeira pessoa pela personagem principal da história.

04 – Por que as crianças se contentavam em brincar de corda, de roda e de passa anel?
      Porque os pais não dispunham de dinheiro para comprar brinquedos.

05 – A balança era o brinquedo preferido da narradora. Quais eram os dos seus irmãos?
      A irmã gostava de brincar de casinha e o irmão, de bolinha de gude.

06 – Como se sente a menina no balanço?
      Ela se sentia muito feliz e nele vivia momentos de encantamento.

07 – Por que as lagartas atrapalhavam a brincadeira da menina?
      A menina sentia ciúmes da árvore e não queria dividir àquele espaço mágico com as lagartas.

08 – Como a menina resolveu o problema das lagartas?
      Ela aprendeu a dividir o limoeiro com as lagartas, pois concluiu que elas faziam parte da natureza.

09 – Como você entendeu: “... ainda me lembro com saudades daquele limoeiro e também de suas lagartas, que todos os anos surgiam e com as quais aprendi a compartilhar um precioso espaço da infância”?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Copie em seu caderno as afirmações verdadeiras em relação ao texto:
a)   A narradora teve uma infância triste porque sua família era pobre.
b)   A narradora cresceu em ótimo ambiente, protegida pelos amigos e pelos pais.
c)   A irmã da narradora era muito tímida.
d)   A narradora aprendeu a conviver com a natureza.
e)   Havia oito crianças na numerosa família da narradora.
f)    Enquanto se balançava, a narradora criava personagens com a imaginação.

11 – A narradora do texto é uma garotinha bastante observadora. Que observações ela demonstra ter feito a respeito da natureza enquanto brincava?
      Sentia o cheiro das flores do limoeiro e se questionava como um pé de frutas tão azedas podia das flores com um perfume tão doce. Percebe que chovera na noite anterior por encontrar as cordas molhadas do balanço. Verifica que o tronco do limoeiro estava repleto de lagartas.
       

domingo, 8 de março de 2020

POEMA: O PALHAÇO SANHAÇO - ELIAS JOSÉ - COM GABARITO

Poema: O palhaço Sanhaço
              Elias José

No circo, é um só coro.
No circo, é um só berro:
É ouro, é ouro, é ouro,
É ferro, é ferro, é ferro,
É aço, é aço, é aço
Ninguém pode com o Sanhaço.

E o palhaço Sanhaço
leva cada tombaço
de quebrar o espinhaço.

E o Sanhaço não se cansa
e pula e cai na dança.
E diz cada besteira! ...
Sanhaço vira criança
e não há criança
que não caia na brincadeira.

Todo pachola, anda e rebola.
Bate ferro na cachola,
equilibra-se numa bola,
cai, grita, chora r rola.
Depois, o corpo todo balança
e diz que amassou a poupança.

Levanta-se fingindo de dor,
costela quebrada, corpo dolorido.

Logo recomeça o estardalhaço
e o circo fica todo colorido.
Sanhaço não conhece cansaço.

Hoje tem goiabada?
Tem, sim sinhô.
Hoje tem marmelada?
Tem, sim sinhô.
E o Sanhaço o que é?
É ladrão de muié.

O palhaço Sanhaço
não conhece o fracasso.
O palhaço Sanhaço
parece feito de aço. 
                          Namorinho de portão. São Paulo, Moderna, 1986. Coleção Girassol.
                             Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 140-1.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Espinhaço: Coluna vertebral; dorso; costas.
·        Pachola: Cheio de si, orgulhoso, vaidoso, elegante.
·        Cachola: Cabeça, juízo.

02 – Encontre no texto palavras que rimem:
a)   Na primeira estrofe: coro, berro, aço.
Ouro, ferro, Sanhaço.

b)   Na segunda estrofe: Sanhaço.
Tombaço, espinhaço.

c)   Na terceira estrofe: cansa, besteira.
Dança, criança; brincadeira.

d)   Na quarta estrofe: pachola, balança.
Rebola, cachola, bola, rola; poupança.

e)   Na quinta estrofe: dolorido.
Colorido. (6ª estrofe).

f)    Na sexta estrofe: estardalhaço.
Cansaço.

g)   Na sétima estrofe: goiabada, é.
Marmelada, muié.

h)   Na oitava estrofe: Sanhaço.
Fracasso, aço.

03 – Observe as palavras que rimam. O que há de semelhante e de diferente entre elas?
      A rima pode ser feita:
·        Entre palavras que tem o mesmo som e são escritas de forma diferente (fracasso/Sanhaço)
·        Entre palavras que na pronúncia tem o som semelhante, mas que na escrita tem uma letra a mais (ouro/coro).
·        No final do verso ou entre a palavra do final e a do meio (pachola/rebola/cachola/bola/rola).
·        E, finalmente, a palavra rimada pode estar inteira dentro daquela com a qual rima (rebola/bola).

04 – Observe no texto que a maioria das palavras exprime alegria, e algumas poucas dão um tom triste, melancólico ao poema. Retire do texto três palavras que exprimem alegria e três que exprimem tristeza.
      Alegria: berro, dança, colorido.
      Tristeza: fracasso, cansaço, tombaço.

05 – No poema há um trecho em que a fala não é do “eu poético” e sim do próprio palhaço. Copie em seu caderno a fala do palhaço Sanhaço.
      “Hoje tem goiabada?”
      “Hoje tem marmelada?”
      “E o Sanhaço o que é?”

06 – Como é o palhaço Sanhaço? Justifique sua resposta com versos do poema.
      Ele é forte, ágil, engraçado e incansável.
      Forte: “Parece feito de aço”.
      Ágil: “Não se cansa / e pula e cai na dança”.
      Engraçado: “Todo pachola, anda e rebola”.
      Incansável: “Não conhece o cansaço”.

07 – A plateia participa da apresentação do palhaço? Justifique sua resposta com trechos do poema.
      Sim. São falas da plateia: “É ouro, é ouro, é ouro”; “Tem, sim sinhô”.

08 – Passe o poema O palhaço Sanhaço para prosa. Observe que o texto em prosa não é escrito em versos e não apresenta rima.
      Resposta pessoal do aluno.




CRÔNICA: O ÍNDIO EM PERIGO - ASSIS BRASIL - COM GABARITO

Crônica: O índio em perigo         

                   Assis Brasil

        Mais alguns minutos, naquela andadura de cavalo marchadeiro. 
        De tanto olhar para a pista na vereda, eu já podia distinguir muito bem os sinais do índio e os cascos dos cavalos, quase que praticamente uns em cima dos outros. Dava até mesmo para perceber que o índio ia um pouco na frente, por causa de seus pés que apareciam quase desfeitos pelas ferraduras.
        --- O índio já está fraquejando, Zé Amâncio? – tornei a perguntar.
        --- Qual nada, o bicho é duro na queda. Tenho até a impressão de que ele está se distanciando mais ainda.
        --- É mesmo? Tem certeza? – perguntei satisfeito.
        --- É quase certo, Gavião Vaqueiro: as pegadas do índio estão mais fracas.
        --- Não é sinal de cansaço, de esmorecimento?
        --- Não, é porque ele está mais longe, ou está mais leve.
        Zé Amâncio ainda tinha uma dúvida.
        --- Pode ser que tenha deixado de lado algum carregamento que levava.
        --- Mantimento? – perguntei.
        --- Pode ser.
        Ficamos em silêncio e continuamos no mesmo ritmo.
        Na trilha, os rastos se repetiam, e eu até mesmo já podia notar que os pés do índio pisavam com mais leveza, embora os sulcos dos calcanhares continuassem mais fortes.
        Será que Zé Amâncio está lendo os sinais direito? Era a minha grande dúvida, porque quem tinha fama de rastreador na fazenda era João Vermelho, o falecido.
        --- Por que o índio não se esconde? – indaguei.
        --- Ele sabe que é pior. Em cima de uma árvore ou detrás de algum tronco, numa moita, fica sem proteção alguma. Se fossem dois ou três índios, poderiam armar uma emboscada para os jagunços, mas este um está sozinho. Mas lhe digo uma coisa, Gavião Vaqueiro.
        --- O que é, Zé Amâncio?
        --- Pela insistência em correr sempre na mesma direção, e deixando assim sua pista clara, ele pode estar atraindo os homens para algum lugar.
        --- Será, Zé Amâncio?
        --- Este índio não é bobo, garanto. Tem a determinação de um pajé e o sangue de uma fera.
        --- Ele não cansa nem nada? – eu continuava apreensivo, temendo que a qualquer momento acontecesse o pior.
        --- Olhe! – Zé Amâncio apontou par alguma coisa ao lado do caminho, perto de umas moitas.
        Ele se aproximou com cuidado, eu mais atrás, a carabina engatilhada, protegendo o vaqueiro.
        --- É o mantimento do índio – ele disse. – Um paneiro de farinha, e dos grandes.
        Cheguei mais perto. Zé Amâncio disse:
        --- Era a sua comida para a fuga. Como estava pesando muito no seu ombro, ele jogou fora.
        O vaqueiro ajeitou o paneiro no burro de carga e continuamos.
        Os rastos ainda eram os mesmos e na mesma direção.
        --- Alguma coisa tem que acontecer logo – disse Zé Amâncio. – Ninguém aguenta tanto tempo correndo na frente de três cavalos. É certo que os homens não podem ir mais depressa, por causa deste terreno esburacado e enlameado, mas acho que o velho índio já correu demais.
        --- Não estará indo para a aldeia dele? – perguntei. – Para pedir socorro?
        --- Nenhum índio em perigo faz isso. Só o branco bom e conhecido deles pode entrar onde moram. Mesmo tem as mulheres e crianças que podem sair feridas ou mortas num tiroteio.
        --- Tem razão, Zé Amâncio.
        O sol estava muito quente em cima da nossa cabeça. O calor que subia do chão úmido ardia nos meus olhos. Não sabia quanto, mas há muito tempo a gente estava naquela perseguição. Então alguma coisa clareou dentro de mim: eu precisava salvar aquele índio, como se devesse isso a Paricá. Era uma questão de honra, sabia. E também porque admirava aquela gente perseguida e humilhada pelo branco invasor de suas terras.
        Minha ânsia aumentava cada vez mais, eu vendo a todo instante as marcas dos pés daquele índio fugitivo – ele corria para a liberdade e para a vida, sem um minuto de descanso.
             O velho feiticeiro. São Paulo, Melhoramentos, 1980. p. 20-23.
                                      Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 150-2.
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo.
·        Andadura: maneira de andar.

·        Marchadeiro: cavalo de passo largo e compassado.

·        Vereda: caminho.

·        Esmorecimento: enfraquecimento, desânimo.

·        Rastreador: aquele que segue rastros.

·        Insistência: perseverança.

·        Paneiro: cesto de vime.

·        Paricá: índio a quem Gavião Vaqueiro devia favores.

·        Ânsia: aflição, angústia.

02 – Procure o significado da expressão duro na queda e escreva uma frase empregando-a.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Quem é o narrador do texto? Que tipo de narrador é esse? 
      O narrador é a personagem Gavião Vaqueiro, um narrador em primeira pessoa.

04 – Quais as principais características do espaço onde a história acontece?
      O espaço do texto é o campo, terra dos índios invadida pelos brancos. É um espaço vasto, no meio da floresta, que permite ao índio fugir e ao mesmo tempo se isolar.

05 – Por que o índio está fugindo?
      Ele está fugindo dos jagunços que desejam mata-lo.

06 – Algumas da qualidades do índio são destacadas sem que ele apareça diretamente no texto. Quais são elas?
      Ele é valente e esperto e tem senso de responsabilidade para com a tribo.

07 – Por que um índio em perigo nunca volta à sua aldeia?
      Porque eles só revelam o lugar onde moram aos amigos; não querem colocar em risco a vida das mulheres e das crianças.

08 – Como se comportam Gavião Vermelho e Zé Amâncio em relação ao índio? Por que?
      Eles queriam ajudar o índio a salvar-se por admirarem o povo indígena e porque, por uma questão de honra, Gavião Vaqueiro devia isso a Paricá.

09 – O que o autor do texto quer nos transmitir através das palavras de Gavião Vaqueiro a respeito dos conflitos entre brancos e índios?
      O branco persegue e humilha os índios. Invade suas terras e se apropria delas, deixando-os sem opção alguma.

REPORTAGEM: CAÇA AO TESOURO AMEAÇA INDÍGENAS - FABRIZIO RIGOUT - COM GABARITO

Reportagem: Caça ao tesouro ameaça indígenas
          
             FABRIZIO RIGOUT da Redação

        O quintal dos índios nambiquara foi invadido por milhares de homens à procura de ouro. Os garimpeiros, como são chamados, chegaram à terra nambiquara há três meses e hoje já são 10 mil.
        Os nambiquara vivem no oeste do Estado do Mato Grosso, perto da fronteira com a Bolívia.
        Até 1960, eles tiveram pouco contato com brasileiros não-índios. Desde então, com a chegada das fazendas e das estradas, a terra nambiquara vem sendo ameaçada.
        O garimpo de ouro é um trabalho que atrai muita gente muito rápido.
        As pessoas vão para os garimpos porque ouvem falar de outros que ficaram ricos escavando a terra e os rios.
        Há histórias de gente que achou 300 gramas de ouro em um só dia.
        O garimpo avança pela floresta, principalmente pelas beiras de rios e córregos desviados. Máquinas fazem o trabalho pesado de lavar e dragar (chupar) o solo que fica no fundo dos rios. Os garimpeiros procuram ouro em meio à lama que é retirada.
        Para agregar (juntar) as pedras de ouro e separá-las do barro, é preciso usar mercúrio, um metal líquido que polui rios onde índios pescam.
        Os garimpeiros também trazem doenças como malária e diarreia, a que os índios tem baixa resistência.
        Em 1972, após contato com os homens da cidade, mais da metade dos nambiquara morreu doente de sarampo.
Colaborou Rubens Valente, free-lance para a Agência Folha, na reserva Sararé (MT)

     
          Nambiquara caem no conto da madeira
                                         da Redação
        A floresta dos nambiquara vem sendo derrubada por comerciantes de madeira. Eles invadem a reserva dos índios à noite e roubam árvores enormes para depois vender.
        O mogno, uma madeira escura que serve para fazer móveis de luxo, é a árvore mais procurada.
        A exploração do mogno é controlada por lei, além de ser proibida em reservas de índios.
        Os nambiquara usam a floresta para caçar, colher e plantar.
        Existe um órgão, chamado Funai (Fundação Nacional do Índio), que ajuda a proteger o território dos nambiquara.
        Mas os fiscais são poucos e têm dificuldades para localizar os madeireiros, que usam uma técnica especial para conquistar os indígenas.
        Eles costumam dar presentes, como enlatados, gasolina e armas, em troca de permissão para cortar madeira.
        Só agora, com a destruição de sua floresta, os índios perceberam que entraram numa encrenca. (FR)


          Reserva é para manter costumes
        Hoje a maioria dos índios mora em reservas como a dos nambiquara, criada em 1985.
        Reservas são territórios onde não se pode construir cidades nem montar fazendas. Lá só usam a terra os indígenas, isto é, os nativos da terra.
        As reservas são necessárias pois os indígenas precisam de espaço para caçar, pescar ou mudar suas aldeias de lugar.
        As reservas também evitam que os índios tenham de alterar seu modo de vida. Se fossem trabalhar em sítios, garimpos ou fábricas, não saberiam. Além disso, perderiam seus costumes, que são a contribuição mais importante que dão aos outros povos. (FR)
       
          Criança nunca apanha dos pais
      A criança nambiquara tem um grande privilégio: nunca apanha dos pais.
        Os adultos perdoam seus filhos quando eles aprontam, pois são considerados “apenas crianças”. Só aos grandes são dadas responsabilidades.
        A brincadeira preferida dos nambiquarinha é imitar gente grande, principalmente os pais. Eles também nadam no rio e brincam com pequenos animais do mato, como macaquinhos e quatis.
        O funcionário da Funai Ariovaldo J. Santos, que viveu 12 anos com os índios, conta que as crianças aprendem na escola muitas brincadeiras da cidade.
        “O jogo de futebol virou passatempo em várias aldeias. Quando vão à escola, fora da aldeia, as crianças nambiquara brincam de cantiga de roda e pique. Elas gostam de toda brincadeira que tenha música ou canto”, diz.
        Na escola, os nambiquara aprendem a ler e escrever sua língua e também o português. É na sala de aula que as crianças da aldeia ficam conhecendo como vivem os outros brasileiros. (FR)
                                  Folha de São Paulo, 3 jan. 1997. Folhinha.
                 Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 153-5.
Entendendo a reportagem:

01 – Onde vivem os índios nambiquara?
      A oeste do Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia.

02 – O que são reservas? Por que são importantes para os índios?
      Reservas são territórios demarcados pelo governo para os indígenas viverem. São necessárias para os índios manterem seus hábitos culturais como caçar, pescar ou mudar suas aldeias de lugar, sem alterar seu modo de vida.

03 – De que maneira o garimpo tem ameaçado a vida dessa tribo?
      Em primeiro lugar, as aldeias se viram ameaçadas com a chegada das fazendas e das estradas. Depois, os garimpeiros invadiram as terras em busca do ouro, poluíram os rios e levaram às tribos doenças contra as quais os índios não tem defesas orgânicas.

04 – Além do garimpo, os índios enfrentam também a derrubada das matas em busca da madeira. Explique essa afirmação.
      Os comerciantes de madeira tem invadido a reserva dos índios, derrubando as florestas, roubando árvores enormes à noite para depois vende-las.

05 – Por que a Funai (Fundação Nacional do Índio) não consegue controlar essas invasões?
      Porque os fiscais são poucos para o espaço ocupado pelos invasores, além do fato de muitos índios se deixarem seduzir por presentes como gasolina, enlatados e armas em troca da permissão para invadir sua reserva.


sexta-feira, 6 de março de 2020

POEMA: O JOVEM FRANK - CARLOS QUEIROZ TELLES - COM GABARITO

POEMA: O JOVEM FRANK
                 Carlos Queiroz Telles

Às vezes eu me pergunto
que diabo de papel
estou fazendo aqui.

Não pedi para nascer,
não escolhi o meu nome,
e tenho um corpo montado
com pedaços de avós,
fatias de pai
e amostras de mãe.

Nas reuniões de família
o esporte predileto
é dissecar Frankenstein:

“Os olhos são dos Arruda...”
“Os pés lembram os Botelho...”
“Tem as mãos do velho Braga!”
“...e o nariz é dos Fonseca!”

Certamente o resultado
de um tal esquartejamento
não pode ser coisa boa,
pois tantos retalhos colados
não inteiram uma pessoa.
Sendo assim... eu não sou eu.
Sou outra coisa qualquer:
um personagem perfeito
para filme de terror,
um androide, um mutante,
um bicho extraterrestre,
um berro de puro pavor!

Graças a Deus meu espelho
não é daqueles que falam...
Diante dele, com cuidado,
posso até reconhecer
este rosto que é só meu
e sorrir aliviado:

Cheio de cravos e espinhas,
pode não ser um modelo
de perfeição ou beleza,
mas com certeza é alguém
e esse alguém... sou eu, sou eu!
(Sementes de sol. São Paulo, Moderna, 1992.Coleção Veredas.)
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série- MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p.129,130.

Entendendo o poema

1)   Identifique o eu-poético no poema.
É um menino que detesta quando o “dissecam” nas reuniões de família, atribuindo a ele certas características de parentes.

2)   Que sentimentos do jovem Frank o eu-poético revela?
O eu-poético revela certo descontentamento por ter sido feito com “pedaços de avós, fatias de pai, amostras de mãe”, revela também uma afirmação da própria identidade.

3)   O que o eu-poético quis dizer com esquartejamento?
Porque seu corpo tinha várias partes de outros corpos, segundo sua família.

4) Quantos versos e estrofes há  no poema?

Há trinta e nove versos e oito estrofes.