sexta-feira, 26 de outubro de 2018

POESIA: ÓRION - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POESIA:  ÓRION
                    Carlos Drummond de Andrade

A primeira namorada, tão alta
Que o beijo não alcançava,
O pescoço não alcançava,
Nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.
Luzia na janela do sobradão.
                                                ANDRADE, Carlos Drummond de.
             Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

    1)Órion é uma constelação de estrelas brilhantes e visíveis. Com base nessa definição, responda:
     a)    O poeta faz uma comparação no poema. Que comparação é essa?
Ele compara a distância que existe entre ele e a sua primeira namorada com a distância que há entre ele, na Terra, e a constelação Órion.

   b)   O termo “Luzia” pode ser interpretado de duas maneiras diferentes no poema. Quais são elas? Identifique a classe gramatical a que essa palavra pertence em cada um dos sentidos.
No poema, “Luzia” pode ser o nome da namorada, um substantivo próprio, ou é o pretérito imperfeito do verbo “luzir”, isto é, brilhar.

    c)    Em seu caderno, interprete o seguinte verso: Luzia na janela do sobradão.
Há uma sobreposição de significados: “Luzia”, que estava na janela do sobradão, brilhava como Órion, como estrela, e “Luzia” (brilhava) na janela.

    d)    O que você compreendeu do verso: “Eram quilômetros de silêncio.”?
Resposta pessoal. Sugestão: entre o eu poético e a primeira namorada não havia comunicação, não havia um contato verbal.

    e)     Que recurso usado na estrutura do poema reforça a ideia de silêncio?
A separação das estrofes: o último verso está sozinho na 2ª estrofe, o que reforça a ideia de incomunicabilidade, solidão, silêncio sugerido pelo verso.

POEMA: A LUA NO CINEMA - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

A LUA NO CINEMA


A lua foi ao cinema,
Passava um filme engraçado,
A história de uma estrela
Que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
Uma estrela bem pequena,
Dessas que, quando apagam,
Ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
Ninguém olhava pra ela,
E toda a luz que ela tinha
Cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
Com aquela história de amor,
Que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!

Paulo Leminski. Distraídos venceremos. São Paulo, Brasiliense, 1993.

1 - Nos versos “Não tinha porque era apenas / uma estrela bem pequena” da segunda estrofe do poema, o uso da palavra “porque” introduz:
(A) a causa de não ter namorado. 
(B) uma oposição a um filme engraçado.
(C) a consequência de uma história de amor. 
(D) uma comparação do tamanho da estrela com a intensidade da luz.

2- Este poema:
(A) explica o nascimento do cinema. 
(B) faz a propaganda de um filme engraçado.
(C) apresenta as características de uma lua solitária.
(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.


CONTO: LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA - BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS - COM GABARITO

       LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA
  
    “A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio. Carregava sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro. Paninho bordado com flores, pássaros, borboletas. Ela passava o exercício e, de mesa em mesa, ia corrigindo. Um cheiro de limpeza coloria o ar quando ela passava. Sua letra, como era bem desenhada, amarradinha uma na outra!
         (...)
         Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto. E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz. Eu, como já sabia ler um pouco, fingia não saber e aprendia outra vez. Na hora da chamada, o silêncio ficava mais vazio e o coração quase parado, esperando a vez de responder “presente”. Cada um se levantava, em ordem alfabética e, com voz alta, clara, vaidosa, marcava sua presença e recebia uma bolinha azul na frente do nome. Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai. Queria ter mais nome, pra ela me chamar por mais tempo.
        O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios. E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas. Não acertando os deveres, Dona Maria elogiava a letra, o raciocínio, o capricho, o aproveitamento do caderno. A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.
         (...)
         Nas aulas de poesia, Dona Maria caprichava. Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas. Ninguém suspirava, com medo da poesia ir embora: Olavo Bilac, Gabriela Mistral, Alvarenga Peixoto e “Toc, toc, tamanquinhos”. Outras vezes declamava poemas de um poeta chamado Anônimo. Ele escrevia sobre tudo, mas a professora não falava de onde vinha nem onde tinha nascido.
        E a poesia ficava mais indecifrável.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de.  Ler, escrever e fazer conta de cabeça.
São Paulo: Global, 2004. pp. 34-35.

1.   Pelo texto é possível inferir que o narrador:
a)  (  ) Se interessava mais pela professora, seu modo de se vestir e escrever no quadro, do que pela aula em si.
b)  (X) Tinha uma profunda admiração pela professora e se esforçava em aprender, também, para agradá-la.
c)  (  ) Não se interessava pelas aulas que não fossem de poesia.
d)  (  ) Era o melhor aluno da classe.

2.   Assinale o trecho em que o autor usa o recurso da comparação para descrever poeticamente a forma como ele via o gosto da professora se vestir:
a)  (  ) Carregava sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro.
b)  (  ) Paninho bordado com flores, pássaros, borboletas.
c)  (X) A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio.
d)  (  ) O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios.

3.   Assinale o trecho em que está expressa uma relação de finalidade:
a)  (X) E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz.
b)  (  ) Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto.
c)  (  ) O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios.
d)  (  ) Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai.

4. A conjunção adversativa mas comumente indica ideias opostas. No trecho a seguir, no entanto, seu uso, associado à expressão “não só” sugere outra ideia, que não é a de oposição. Assinale a alternativa que expressa a ideia sugerida no seguinte trecho:
      “Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas.”
a) ( ) Concessão.  b)(X) Adição.     c)(  ) Oposição. d) (  ) Comparação.

5.   Por meio do trecho “E a poesia ficava mais indecifrável.”, é possível inferir:
a)  (  ) Para o narrador, o nome do autor dos poemas é fundamental para compreendê-las.
b)  (   ) A professora lia poesias muito difíceis para seus alunos.
c)  (X) O fato de ser indecifrável, para o narrador, é inerente à poesia e, como o “autor chamado Anônimo” tratava de temas diversos e não era possível saber sua origem, essas poesias eram ainda mais indecifráveis.
d)  (  ) Ele não gostava das poesias do “Anônimo”, porque não as conseguia compreender.

6. No trecho “A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.”, o termo em destaque pode ser substituído, sem alterar o sentido, por:
a) (  ) Entretanto. 
b) ( X ) Desse modo. 
c) (   )  Mas. 
d) (  )  Ainda que.

7. A ideia de proporção sugerida pelo trecho: “E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas.” significa que:
a) (X) À medida que a professora economizava espaço para escrever no quadro, os alunos economizavam espaço em seus cadernos.
b) (   ) A condição para que os alunos escrevessem menos era a de que a professora diminuísse o tamanho de sua letra no quadro.
c) (   ) Os alunos escreviam fora das margens para economizar o caderno porque a professora pedia, escrevendo sem deixar espaços no quadro.
d) (  ) Os alunos não deviam escrever nas “beiradinhas das folhas”, mas como a professora não fazia margens no quadro, eles não respeitavam as do caderno.


TEXTO: TELEVISÃO - JOSÉ PAULO PAES - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

 TELEVISÃO 


     Televisão é uma caixa de imagens que fazem barulho.
  Quando os adultos não querem ser incomodados, mandam as crianças irem assistir à televisão.
      O que eu gosto mais na televisão são os desenhos animados de bichos.
  Bicho imitando gente é muito mais engraçado do que gente imitando gente, como nas telenovelas.
    Não gosto muito de programas infantis com gente fingindo de criança.
   Em vez de ficar olhando essa gente brincar de mentira, prefiro ir brincar de verdade com meus amigos e amigas.
   Também os doces que aparecem anunciados na televisão não têm gosto de coisa alguma porque ninguém pode comer uma imagem.
  Já os doces que minha mãe faz e que eu como todo dia, esses sim, são gostosos.

      Conclusão: A vida fora da televisão é melhor do que dentro dela.

                                                                                             José Paulo Paes.
 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Marque um X na alternativa correta:
1) Qual o meio de comunicação ao qual o texto se refere?
a) rádio
b) livro
c) televisão
d) internet

2) A que conclusão o autor chega ao final do texto?
a) A televisão é o melhor passatempo que existe
b) É melhor ser criança do que adulto
c) A vida fora da televisão é melhor do que dentro dela
d) Os doces anunciados na televisão têm gosto de infância

3) A definição de “televisão” dada pelo autor é:
a) Uma fonte de conhecimento.
b) Uma ajuda na educação dos filhos.
c) Uma tela que revela paisagens.
d) Uma caixa de imagens que faz barulho.

4) Quem é o narrador da história?
a) Um bicho imitando gente
b) Um adulto
c) A televisão

5) No trecho: “A vida fora da televisão é melhor do que dentro dela” A palavra sublinhada refere-se a que:
a) Vida
b) Televisão
c)  A criança
d)  A novela

6) Retire do texto uma frase que confirma que o narrador não gostava de televisão:
      “Não gosto muito de programas infantis com gente fingindo de criança”.

7) Qual a crítica que o narrador faz em relação aos doces anunciados na televisão?
      Os doces não tem gosto de nada, pois não dá pra comer.

8) Coloque (V) para verdadeiro e (F) para falso:
(V) Segundo o texto, Bicho imitando gente é engraçado.
(V) O que o narrador mais gosta na televisão são os desenhos animados de bichos.
(F) O narrador não gosta dos doces que a mãe prepara.
(F) Os adultos não deixam as crianças assistir à televisão.
Þ A ordem correta da atividade acima é:
a)    F, F, F, V
b)   V, V, F, F
c)    F, V, F, V

9)   Relacione as palavras para formar substantivos compostos:
1) Cachorro                                            (2) vento                   
2) Amor                                                  (1) quente
3) Guarda                                               (3) sol
4) Gira                                                    (4) chuva



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

CONTO: A NEGRINHA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

Conto: A Negrinha
         
                           Monteiro Lobato

        Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
        Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
        Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as 16 banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
        Ótima, a dona Inácia.
        Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
        — Quem é a peste que está chorando aí? (...........................)

Entendendo o conto:

01 – O que sugere esse título? Qual é o tema do conto?
      O conto fala da vida de uma criança negra, nascida na senzala.

02 – Com base no conto, é possível imaginar o cenário e as personagens.
a)   Marque com cor azul as partes do texto que caracterizam o cenário.
b)   E em amarelo as características da negrinha.
c)   E de vermelho as da patroa.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Onde e quando se passam os fatos?
      Os fatos passam na fazenda. Quando a criança ainda era pequena.

04 – Você já conheceu alguém que viveu uma situação parecida com a da personagem Negrinha?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Nos dias atuais ainda existem crianças sendo exploradas e maltratadas pelos adultos? De que forma?
      Sim. Através dos serviços escravos de várias formas.

06 – Qual o órgão que protege os direitos da criança e dos adolescentes?
      Conselho Tutelar.

07 – A partir do que você entende e conhece do mundo em que vivemos, quais são as outras formas de violência sofridas pelas crianças e adolescentes?
      Tortura, violência psicológica, discriminação, violência sexual, violência física, negligência e abandono, trabalho infantil e tráfico de crianças e adolescentes.

08 – Alguns meios de comunicação e mídias induzem à violência. Fazer um levantamento de alguns fatos de violência contra crianças, na internet e nos meios de comunicação.
      Resposta pessoal do aluno.

09 – O bullying é uma violência contra a criança praticada pela própria criança e adultos. Cite passagens do texto onde houve a prática do bullying.
      “— Quem é a peste que está chorando aí?”


POEMA PARA SÉRIES INICIAIS: BRINCANDO DE NÃO ME OLHE - ELIAS JOSÉ - COM GABARITO

Poema: BRINCANDO DE NÃO ME OLHE
              ELIAS JOSÉ


Não me olhe de lado
Que eu não sou melado.

Não me olhe de banda
Que eu não sou quitanda.

Não me olhe de frente
Que eu não sou parente.



Não me olhe de trás 
Que eu não sou satanás.

Não me olhe no meio
Que eu não sou recheio.

Não me olhe na janela
Que eu não sou panela.

Não me olhe da porta
Que eu não sou torta.

Não me olhe do portão
Que eu não sou leitão.

Não me olhe no olho
Que eu não sou caolho.

Não me olho na mão
Que eu não sou mamão.

Não me olhe no joelho
Que eu não sou espelho.

Não me olhe no pé
Que eu não sou chulé.

Não me olhe de baixo
Que eu não sou riacho.

Não me olhe de cima
Que acabou a rima.
                                                      Elias José
Entendendo o poema:

01 – Qual é o nome do autor?
      O autor é Elias José.

02 – O texto é:


a) uma fábula.
b) um poema.
c) uma propaganda.
d) um conto de fadas.

03 – Qual parte do corpo o autor explorou nesse poema?
      Olho – mão – joelho – pé.

04 – O sentido correspondente à parte do corpo explorada no texto é:


a) a audição.
b) o tato.
c) o paladar.
d) o olfato.
e) a visão.

05 – O poema é composto de quantos versos?
      Possui 28 versos.

06 – No poema, quais são as partes da casa usada pelo autor?
      Janela – porta – portão.

07 – No verso: “Que acabou a rima”. O que o autor quis dizer?
      Que o poema tinha acabado naquele momento.


CRÔNICA: DIAS PERFEITOS - CECÍLIA MEIRELES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Dias perfeitos
                Cecília Meireles

        Dias perfeitos são esses em que Meteorologia afirma, vai chover e chove mesmo: não os outros, quando se anda de capa e guarda-chuva para cá e para lá, até se perder um dos dois ou os dois juntos.
        Dias perfeitos são esses em que todos os relógios amanhecem certos: o do pulso, o da cozinha, o da igreja, o da Glória, o da Carioca, excetuando-se apenas os das relojoarias, pois a graça, destes, é marcarem todos horas diferentes.
        Dias perfeitos são esses em que os pneus não amanhecem vazios: as ruas acordam com dois ou três buracos consertados, pelo menos; o ônibus não vem em cima de nós, buzinando e na contramão; e os sinais de cruzamento não estão enguiçados e os guardas estão no seu posto, sem conversa para as morenas nem para os colegas.
        Dias perfeitos são esses em que não cai botão nenhum da nossa roupa ou, se cair, uma pessoa amável aparecerá correndo, gastando o coração, para no-lo oferecer como quem oferece uma rosa, deplorando não dispor de linha e agulha para voltar a pô-lo no lugar.
        Dias perfeitos são esses em que ninguém pisa nos nossos sapatos, nem esbarra com uma cesta nas nossas meias, ou, se isso acontecer, pede milhões de desculpas, hábito que se vai perdendo com uma velocidade supervostokiana.
        Dias perfeitos são esses em que os guichês do Correio dispõem de gentis senhoritas e respeitáveis senhores que não estão fazendo crochê nem jogando xadrez sozinhos e não se aborrecem com o mísero pretendente à expedição de uma carta aérea, e até sabem quanto pesa a missiva e qual o seu destino, no mapa, e têm troco certo na gaveta, e não atiram os selos pelo ar como quem solta pombos da cartola. (Ah, esses são dias perfeitíssimos! ...)
        Dias perfeitos são esses em que o motorista do carro de trás não buzina como um doido, os da direita e da esquerda não dançam quadrilha na nossa frente, e os velhotes não leem jornal no meio da rua, e as mocinhas que carregam à cabeça seus tabuleiros de penteados não resolvem atravessar, com suas perninhas trepadas em metro e meio de saltos, justamente por lugares por onde nem a bola de futebol doméstico se arrisca.
        Dias perfeitos são esses em que se vai ao teatro, como mandam os amigos, e os atores sabem o que estão fazendo, e a vizinha de trás não conversa do prólogo ao epílogo sobre assuntos particulares, e a menina da frente não chupa, não mastiga e não assovia caramelos e o cavalheiro da esquerda não pega no sono, resvalando insensivelmente para cima de nós o seu mavioso ronco.
        Dias perfeitos, esses em que voltamos para a casa e a encontramos intacta, no mesmo lugar, e intactos estão os nossos tristes ossos, e podemos dormir em paz, tranquilos e felizes como se voltássemos apenas de um passeio pelos anéis de Saturno.

Cecília Meireles. Crônicas para jovens. São Paulo: Global, 2012.
Entendendo a crônica:

01 – De que trata esta crônica?
      Fala desse nosso desejo de que tudo esteja sempre no seu devido lugar.

02 – Após ler a crônica, percebemos que somos seres de expectativas. Que significa?
      Significa que esperamos da vida, dos outros, das coisas, de tudo. E cada vez que algo não corresponde a um desses nossos aguardos, emburramos, à maneira das crianças mimadas.

03 – Que conclusão podemos chegar para não se sentirmos frustrados, decepcionados ou desiludidos?
      De que não devemos criar expectativas em demasia. Deixemos a vida nos surpreender.

04 – Na crônica cita o tempo de relógio, mas se alguém mais prático perguntar: “Mas de que servem esses relógios se não marcam a hora certa”?
      O poeta responderia: Que tal se perder na hora, no tempo, de vez em quando, sem saber qual relógio está certo, qual relógio está errado? Afinal, que é o tempo?

05 – Onde podemos encontrar a beleza da vida?
      A beleza da vida está em enxergar perfeição nos dias, mesmo que não tenham sido nada do que esperávamos deles. Está em terminar cada jornada, entre o amanhecer e entardecer, um pouco mais maduros, mais conscientes, mais perfeitos, pois é a nossa própria perfeição que devemos buscar.

06 – O que acontece quando tornamos mais perfeitos?
      Os dias também o serão, independente de como se apresentam. Mudaremos a lente que os vê, simplesmente.

        Redação do Momento Espírita, com base em trecho da crônica Dias Perfeitos, de Cecília Meirelles, do Livro Crônicas para Jovens, ed. Global. Em 28/09/2017.