LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA
“A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio. Carregava
sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para
limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro. Paninho bordado com flores,
pássaros, borboletas. Ela passava o exercício e, de mesa em mesa, ia
corrigindo. Um cheiro de limpeza coloria o ar quando ela passava. Sua letra,
como era bem desenhada, amarradinha uma na outra!
(...)
Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais
encanto. E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz. Eu, como já
sabia ler um pouco, fingia não saber e aprendia outra vez. Na hora da chamada,
o silêncio ficava mais vazio e o coração quase parado, esperando a vez de
responder “presente”. Cada um se levantava, em ordem alfabética e, com voz
alta, clara, vaidosa, marcava sua presença e recebia uma bolinha azul na frente
do nome. Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do
pai. Queria ter mais nome, pra ela me chamar por mais tempo.
O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando
os mistérios. E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também
aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das
folhas. Não acertando os deveres, Dona Maria elogiava a letra, o raciocínio, o
capricho, o aproveitamento do caderno. A gente era educado para saber ser com
orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.
(...)
Nas aulas de poesia, Dona Maria caprichava. Abria o
caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as
ideias mais eternas. Ninguém suspirava, com medo da poesia ir embora: Olavo
Bilac, Gabriela Mistral, Alvarenga Peixoto e “Toc, toc, tamanquinhos”. Outras
vezes declamava poemas de um poeta chamado Anônimo. Ele escrevia sobre tudo,
mas a professora não falava de onde vinha nem onde tinha nascido.
E a poesia ficava mais indecifrável.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Ler, escrever e
fazer conta de cabeça.
São Paulo: Global, 2004. pp. 34-35.
1. Pelo
texto é possível inferir que o narrador:
a) ( )
Se interessava mais pela professora, seu modo de se vestir e escrever no quadro,
do que pela aula em si.
b) (X)
Tinha uma profunda admiração pela professora e se esforçava em aprender,
também, para agradá-la.
c) ( )
Não se interessava pelas aulas que não fossem de poesia.
d) ( )
Era o melhor aluno da classe.
2. Assinale
o trecho em que o autor usa o recurso da comparação para descrever poeticamente
a forma como ele via o gosto da professora se vestir:
a) ( ) Carregava
sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para
limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro.
b) ( ) Paninho
bordado com flores, pássaros, borboletas.
c) (X) A
professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio.
d) ( )
O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando
os mistérios.
3. Assinale
o trecho em que está expressa uma relação de finalidade:
a) (X) E
todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz.
b) ( ) Ninguém
tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto.
c) ( ) O
giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando
os mistérios.
d) ( ) Ela
chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai.
4. A
conjunção adversativa mas comumente indica
ideias opostas. No trecho a seguir, no entanto, seu uso, associado à expressão
“não só” sugere outra ideia, que não é a de oposição. Assinale a alternativa
que expressa a ideia sugerida no seguinte trecho:
“Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas
escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas.”
a) ( ) Concessão. b)(X) Adição. c)( ) Oposição. d) ( ) Comparação.
5. Por
meio do trecho “E a poesia ficava mais indecifrável.”, é possível inferir:
a) ( ) Para
o narrador, o nome do autor dos poemas é fundamental para compreendê-las.
b) ( ) A
professora lia poesias muito difíceis para seus alunos.
c) (X) O fato de ser indecifrável,
para o narrador, é inerente à poesia e, como o “autor chamado Anônimo” tratava
de temas diversos e não era possível saber sua origem, essas poesias eram ainda
mais indecifráveis.
d) ( ) Ele
não gostava das poesias do “Anônimo”, porque não as conseguia compreender.
6. No
trecho “A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim,
a nota baixa não trazia tanta tristeza.”, o termo em destaque pode ser
substituído, sem alterar o sentido, por:
a) ( ) Entretanto.
b) ( X ) Desse modo.
c) ( ) Mas.
d) ( ) Ainda
que.
7. A
ideia de proporção sugerida pelo trecho: “E, se
economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as
margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas.” significa que:
a) (X) À
medida que a professora economizava espaço para escrever no quadro, os alunos
economizavam espaço em seus cadernos.
b) ( ) A
condição para que os alunos escrevessem menos era a de que a professora
diminuísse o tamanho de sua letra no quadro.
c) ( ) Os
alunos escreviam fora das margens para economizar o caderno porque a professora
pedia, escrevendo sem deixar espaços no quadro.
d)
( ) Os alunos não deviam escrever nas “beiradinhas das folhas”,
mas como a professora não fazia margens no quadro, eles não respeitavam as do
caderno.