sábado, 24 de fevereiro de 2018

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO
                      Carlos Eduardo Novaes

   Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
    – Mas, minha senhora – desculpei-me -, eu não sou professor.
  – Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
        – A culpa não é deles. A falha é do ensino.
        – Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.
        – Obrigado – agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco as vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
        – Não faz mal – insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.
        – Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.
        – E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
        Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: ‘O estudante brasileiro não sabe escrever’. Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: ‘O estudante brasileiro escreve muito mal’. Impressionado, saí a procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes.
        Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
        – Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.
        – Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
        – Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
        – E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
        – Sei lá – dei com os ombros -, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
        – Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?
        Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:
        – Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.
        – Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.
        – E a senhorita não quer ler? – perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
        – O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
        – E o senhor, não está interessado nuns textos?
        – É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
        – E o senhor, vai? Leva três e paga um.
        – Deixa eu ver o tamanho – pediu ele.
        Assustou-se com o tamanho do texto:
        – O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?
Carlos Eduardo Novaes.

Entendendo o texto:
Com base no texto, responda ao que se pede:
01 – No diálogo entre a mãe e o autor do texto, percebe-se uma crítica velada a respeito dos professores no Brasil. Identifique a crítica.
           A mãe procurou uma pessoa que não era professor porque os professores de seu filho não conseguiam ensiná-lo a escrever, o que foi justificado pelo autor que não era culpa deles (dos professores), mas por causa da falha do ensino. Ora, se o ensino é falho (tem defeitos) e é realizado por professores, então a culpa é daquele que provoca essa falha, isto é, dos professores. O ensino em si não é autônomo, mas é o resultado da ação de alguém.

02-O texto apresenta a causa porque os estudantes brasileiros não sabem escrever. Qual é?
      Porque não leem.
03-Se os estudantes brasileiros, segundo o autor, não sabem escrever porque não leem, qual deve ser a estratégia que os professores devem utilizar para reverter essa situação?
      Resposta pessoal do aluno.
     04 – Que outras causas podem contribuir para que o estudante brasileiro tenha dificuldades para escrever?
           Resposta pessoal do aluno.
     05 – Por que o autor utilizou a grafia errada nas palavras do título do texto?
            Porque naturalmente ele quis chamar a atenção do leitor para o assunto do seu texto: a dificuldade dos estudantes brasileiros de escrever em português.
    
     06 – O autor se valeu dos fonemas e suas representações gráficas, em português, para chamar a atenção do leitor. Algumas palavras, em português, podem ter o seu sentido alterado (ou não) em razão da sua representação gráfica. No caso do título do texto, houve alteração de sentido? Justifique.
      Não. Se forem pronunciadas, essas mesmas palavras terão o mesmo som: regressão/regreção – redação/redassão. 



REPORTAGEM: PROFETAS DO SERTÃO MIRAM HORIZONTES PARA FAREJAR CHUVA - FLÁVIA MARREIRO - COM GABARITO

REPORTAGEM:

PROFETAS DO SERTÃO MIRAM HORIZONTES PARA FAREJAR CHUVA


 Encontro no Ceará reúne “meteorologistas naturais”
       “E aí, seu Chico Leiteiro, chove?”. Do alto da árvore. Francisco dos Santos mostrou: “Cupim com asa, sinal de chuva”.
  Era domingo sem nuvens – “descascado” –, pouco mais do meio-dia, e Chico Leiteiro (o apelido vem da ordenha e distribuição de leite que faz), 66, alcançara com agilidade o cupinzeiro, um dos elementos que usa para prever o “inverno” (a época das chuvas) na região de Quixadá, das mais secas do Ceará.
        No dia anterior, sábado, último dia 10, mesma roupa, chinelos e meio-sorriso, apesar de menos à vontade por falar ao microfone para quase cem pessoas, ele apresentou a previsão no encontro de Profetas Populares: a reunião que une em janeiro, desde 1996, meteorologistas profissionais e amadores, geógrafos e, em média, 20 “profetas da chuva” da região no auditório da associação de lojistas da cidade.
        Os “profetas”, convidados pelos organizadores entre os reconhecimentos por saber se vai ser ano de fartura ou seca, vieram, na edição de 2004, de quatro cidades: Quixadá, Banabuiú, Ibaretama e Camocim.
        Na plateia alguns agricultores, secretários municipais gente da cidade e uma dúzia de repórteres de jornais da TV e de rádios.
        Ao lado dos cupins de Leiteiro, as observações do horizonte, do comportamento dos animais e das pedras de sal ao ar livre (ver “experiências” em quadro) – métodos passados de pai para filho ou desenvolvidos ao longo do tempo –, sem contar predições em sonhos e visões.
        [...] As rádios da região e até os jornais, [...], acabam, ao final dos encontros, reproduzindo uma espécie de placar (ou a “profecia mais frequente”). O de 2004 ficou assim: 18 previsões para boas chuvas, contra 02 para tempo “desmantelado” (sem regra).
        [...]
        Foi em Quixeramobim, cidade da qual Quixadá se desmembrou, que nasceu Antônio Conselheiro (1830-1897), o profeta mais famoso do Nordeste.
        [...]
        Nesse cenário, a repercussão e a força dos “profetas” chegam a ser mais que curiosas. “Pela necessidade, na primeira chuva, o pequeno agricultor planta. Ele precisa comer. Se a previsão tiver sido ruim, ele reza para que ela esteja errada”, diz o meteorologista da Funceme, Namir Mello.
        As “experiências” dos profetas ainda não foram confirmadas cientificamente. Mas há indicativos, dizem os meteorologistas, de que o comportamento de animais pode sim, ajudar na previsão.
        [...].
                                            
Flávia Marreiro. Folha de São Paulo. 18 jan. 2004.

Entendendo o texto:
01 – Imagine que você é um dos agricultores presentes ao encontro e, ao ouvir as previsões dos profetas, fosse anotando os resultados num pedaço de papel, para poder lembrar depois.
      Resposta pessoal. Espera-se que sejam anotações rápidas e truncadas, contendo somente a informação relevante a ser lembrada.

    02 – Ainda como agricultor, você precisa mandar um bilhete urgente para casa, contando para os familiares as previsões do ano, explicando a situação.
      Resposta pessoal. Espera-se, no entanto, que seja um bilhete informal para uma audiência conhecida, que entre outros assuntos comunique sobre as profecias mais frequentes.

     03 – Imagine agora que a Fundação Cearense de Meteorologia esteja fazendo um levantamento dos agricultores interessados em receber informações diariamente, via rádio comunitária, sobre o tempo no sertão. Crie um formulário que poderia ser utilizado nessa situação.
      Espera-se que você siga modelos existentes de formulários, contendo dados pessoais; profissão; se lavrador, quais produtos planta. Se criador, quais animais cria. Em quais épocas acha mais importante receber informações meteorológicas. Espaço para observações.

    04 – Se você fosse um repórter e resolvesse enviar um cartão postal para uma amiga? Qual seria o texto?
      Porém, o texto teria que ter informações sobre o que anda fazendo além do trabalho, por exemplo, para se divertir e descansar.

     05 – Escreva um outro cartão, porém, desta vez, para o seu chefe.
      Porém pensa-se que se deveria comentar sobre aspectos da viagem, das acomodações, do trabalho na reunião e a preparação da reportagem.

     06 – Imagine que você precisará ficar mais alguns dias para completar a pesquisa. Escreva um breve relato sobre o desenvolvimento de seu trabalho na reunião, pedindo para estender sua estadia. A correspondência poderia ser enviada por fax, carta ou e-mail.
      O texto deveria seguir uma descrição das atividades desenvolvidas a fim de escrever a matéria. Importante notar que tipo de suporte estará usando para enviar o relatório com a requisição.

     07 – Desde o primeiro dia em que chegou à cidade, você estaria reclamando no hotel de que o ar refrigerado não estava funcionando bem. Os funcionários informaram que o gerente estaria viajando mas que chegaria de madrugada. Pediram então que você escrevesse uma carta explicando o defeito para que ele tome as providências necessárias.
      Espera-se, no entanto, que a queixa seja mais formal e se atenha a relatar o acontecimento, pedindo que providências sejam tomadas.

    08 – No texto final, imagine que você é um parente de um colega do jornalista de São Paulo e seu parente ligou pedindo que você acompanhasse o colega numa visita às belezas da região. Você não encontrou o jornalista no hotel e resolveu deixar um recado com seu contato.
      Mas como as pessoas em questão não se conhecem, seria esperado que você se apresentasse fizesse o convite talvez mencionando que é a região onde Antônio Conselheiro nasceu e deixando os contatos para que o jornalista marque o passeio.



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

PROPAGANDA/CONTO: O CHAPEUZINHO VERMELHO - CHARLES PERRAULT - COM GABARITO


Fonte da imagem - https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/4706007018374851054#
PROPAGANDA
Você pode ser o que quiser.

A história sempre se repete.
Todo Chapeuzinho Vermelho
Que se preze, um belo dia,
Coloca o Lobo Mau na coleira.
                    


CONTO: O CHAPEUZINHO VERMELHO

Fonte da imagem - https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/4706007018374851054#

        Havia, numa cidadezinha, uma menina que todos achavam muito bonita. A mãe era doida por ela e a avó ainda mais. Por isso, a avó mandou fazer um pequeno capuz vermelho que ficava muito bem na menina. Por causa dele, ela ficou sendo chamada em toda parte de Chapeuzinho Vermelho.
        Um dia em que sua mãe tinha preparado umas tortas, disse para ela:
        --- Vai ver como está passando sua avó. Pois eu soube que ela anda doente. Leva uma torta e este potezinho de manteiga.
        Chapeuzinho Vermelho saiu em seguida para ir visitar sua avó, que morava em outra cidadezinha.
        Quando atravessava o bosque, ela encontrou compadre Lobo, que logo teve vontade de comer a menina. Mas não teve coragem por causa de uns lenhadores que estavam na floresta.
        O lobo perguntou aonde ela ia. A pobrezinha, que não sabia como é perigoso parar para escutar um lobo, disse para ele:
        --- Eu vou ver minha avó e levar para ela uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe está mandando.
        --- Ela mora muito longe? --- perguntou o Lobo.
        --- Oh! Sim --- respondeu Chapeuzinho Vermelho. --- É pra lá daquele moinho que você está vendo bem lá embaixo. É a primeira casa a cidadezinha.
        --- Pois bem --- disse o Lobo ---, eu também quero ir ver sua avó. Eu vou por este caminho daqui e você vai por aquele de lá. Vamos ver quem chega primeiro.
        O Lobo pôs-se a correr com toda a sua força pelo caminho mais curto. A menina foi pelo caminho mais longo, distraindo-se a colher avelãs, correndo atrás de borboletas e fazendo ramalhetes com as florzinhas que encontrava.
        O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Bateu na porta: toc, toc.
         --- Quem está aí?
        --- É sua neta, Chapeuzinho Vermelho --- disse o Lobo, mudando a voz. --- Eu lhe trago uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe mandou pra você.
        A bondosa avó, que estava de cama porque não passava muito bem, gritou:
        --- Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
        O Lobo puxou a tranca e a porta se abriu. Ele avançou sobre a pobre mulher e devorou-a num instante, pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, fechou a porta e foi-se deitar na cama da avó. Ficou esperando Chapeuzinho Vermelho, que, um pouco depois, bateu na porta: toc, toc.
        --- É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz uma torta pra você e um potezinho de manteiga que minha mãe lhe mandou.
        O Lobo gritou para ela, adocicando um pouco a voz:
        --- Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
        Chapeuzinho Vermelho puxou a tranca e a porta se abriu.
        O Lobo, vendo que ela tinha entrado, escondeu-se na cama, debaixo da coberta, e falou:
        --- Ponha a torta e o potezinho de manteiga sobre a caixa de pão e venha se deitar comigo.
        Chapeuzinho Vermelho tirou o vestido e foi para a cama, ficando espantada de ver como sua avó estava diferente ao natural. Disse para ela:
        --- Minha avó, como você tem braços grandes!
        --- É pra te abraçar melhor, minha filha.
        --- Minha avó, como você tem pernas grandes!
        --- É pra correr melhor, minha menina.
        --- Minha avó, como você tem orelhas grandes?
        --- É pra escutar melhor, minha menina.
        --- Minha avó, como você tem olhos grandes!
        --- É pra ver melhor, minha menina.
        --- Minha avó, como você tem dentes grandes!
        --- É pra te comer.
        E, dizendo estas palavras, o Lobo saltou para cima de Chapeuzinho Vermelho e a devorou.

        MORAL
        Vimos que os jovens,
        Principalmente as moças,
        Lindas, elegantes e educadas,
        Fazem muito mal em escutar
        Qualquer tipo de gente.
        Assim, não será de estranhar
        Que, por isso, o Lobo as devore.
        Eu digo o Lobo porque todos os lobos
        Não são do mesmo tipo.
        Existe um que é manhoso,
        Macio, sem fel, sem furor.
        Fazendo-se de íntimo, gentil e adulador,
        Persegue as jovens moças
        Até em suas casas e seus aposentos.
        Atenção, porém!
        As que não sabem
        Que esses lobos melosos
        De todos eles são os mais perigosos.

                                      Charles Perrault. O Chapeuzinho Vermelho.
                                                               Porto Alegre: Kuarup, 1987.

01 – Anote o que você vê na propaganda (texto 1), conforme o que se pede a seguir.
     a) Quais são os elementos visuais que a compõem?
      Em destaque aparece uma moça de aspecto sedutor. O fundo atrás é azul celeste. No canto superior direito aparece a frase: “Você pode ser o que quiser”. Abaixo da frase, há um texto verbal.

     b) Qual é a cor que se destaca na propaganda? No que ela foi usada? O que sugere?
      A cor em destaque é a vermelha, usada na capa com capuz em tecido brilhante, semelhante à seda ou cetim. Sugere sedução.

     c) Que estratégias são usadas na propaganda para provocar sensações no leitor?
      O tecido acetinado brilhante e vermelho e o batom usado pela mulher. Ao mesmo tempo que sugerem sensualidade, imprimem um ar de mistério ao personagem, o que também contribui para criar a ideia de sedução.

     d) Descreva à expressão facial da mulher e o que ela sugere.
      A mulher não sorri e olha diretamente o observador, o que pode sugerir a determinação de quem sabe o que quer; os lábios são carnudos, vermelhos e aparecem semiabertos, sugerindo sensualidade. O texto verbal, que diz que toda Chapeuzinho Vermelho coloca o Lobo mau na coleira, pode confirmar essa ideia.

     e) Que ligação pode ser estabelecida entre o texto verbal e o texto visual da propaganda?
      Educador, se necessário, reveja com os alunos o conceito de texto verbal e texto visual.
A imagem da mulher, com todas as características que já foram descritas nas questões anteriores, busca representar o personagem Chapeuzinho Vermelho mencionada no texto verbal. Os alunos poderão estabelecer outras relações.

02 – Quais elementos da propaganda foram emprestados do conto. O Chapeuzinho Vermelho?
       Os personagens principais do conto (Chapeuzinho Vermelho e Lobo), as cores usadas na roupa do personagem, elementos visuais e verbais relacionados à sedução.

03 – Uma característica desse conto maravilhoso de Charles Perrault é a conter uma moral no seu final. Releia a moral do conto O Chapeuzinho Vermelho e responda às questões.
     a) O que você compreendeu sobre a moral do conto maravilhoso?
      Espera-se que o aluno mencione as artimanhas usadas pelo sedutor e o aconselhamento às moças que podem ser alvo dessas artimanhas.

     b) Cite uma situação da época atual a que essa moral pode se aplicar.
      Resposta pessoal.

     c) Qual é o papel do Lobo Mau no conto lido?
      O de um vilão sedutor que usa artimanhas para seduzir o personagem protagonista, Chapeuzinho Vermelho.

     d) Na propaganda, é possível dizer que Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau desempenham o mesmo papel que no conto maravilhoso? Justifique sua resposta.
      Não. Na propaganda a situação se inverte: enquanto no conto é o Lobo Mau que seduz, na propaganda é a mulher (com características de Chapeuzinho Vermelho) que assume esse papel.

     e) Releia o texto da propaganda. A moral da história é a mesma do conto? Explique.
      Não. O texto da propaganda diz: “Todo Chapeuzinho Vermelho que se preze, um belo dia, coloca o Lobo Mau na coleira”. Assim, a moral também se modifica por causa da troca de papéis assumidos pelas personagens: Chapeuzinho Vermelho passa a ser “dona” da situação.

04 – A propaganda, criada para veicular uma marca de produtos de beleza e perfumaria, foi publicada numa revista. Você conhece revistas que veiculam esse tipo de propaganda? Essas revistas normalmente são destinadas a que público?
      Resposta pessoal. Esse tipo de revista se destina especialmente ao público feminino, que costuma ser o seu público leitor e consumidor de produtos de beleza e perfumaria.

05 – Você considera a propaganda eficiente? Por quê?
       Resposta pessoal.

06 – Com base na relação existente entre os dois textos, responda.
     a) O público-alvo da propaganda poderia compreendê-la sem conhecer a história de Chapeuzinho Vermelho? Explique sua resposta.
      Espera-se que o aluno perceba que a propaganda só faz sentido se conhece o conto maravilhoso, especialmente os papéis assumidos pelas personagens.

     b) Leia o texto a seguir. Converse com seus colegas e seu educador a respeito da conclusão a que chegaram no item a.
intertextualidade se dá quando um texto estabelece um diálogo com outro texto. Como você pode observar, os elementos visuais e verbais da propaganda analisada estabelecem uma relação com o conto maravilhoso O Chapeuzinho Vermelho.
Conhecer esse conto permite ao leitor da revista compreender as relações entre ele e a propaganda. É possível dizer, portanto, que há intertextualidade entre a propaganda e o conto lido.

07 – Releia o slogan da propaganda.
      Você pode ser o que quiser.
      Considerando a noção de intertextualidade acima, responda: Qual é a intenção do slogan da propaganda?
      O aluno pode dar várias respostas: mas deve perceber que existe uma relação entre a expressão “ser o que quiser” e o jogo que a propaganda faz com o personagem representado: a mulher que usa produtos da marca veiculada pela propaganda pode ser bela, sedutora e exercer o papel de quem domina a situação; pode ser Chapeuzinho Vermelho sem ser vítima do Lobo Mau.


ANEDOTA: CHAMA O "AURÉLIO" - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

Anedota: Chama o “Aurélio”


          Certos casos da política, de tão inacreditáveis, acabam virando parte do anedotário. Ou vice-versa: algumas piadas traduzem tão bem determinadas características da cultura política que assumem ares de verdade.
      Em uma das hipóteses se encaixa a correspondência trocada, cerca de 20 anos atrás, entre o prefeito de Bom Sucesso (MG) e o então secretário estadual do Interior, Ovídeo de Abreu.
          Conta o deputado Elias Murad (PSDB-MG) que Abreu sempre gostou de falar difícil. Numa certa ocasião, o secretário recebeu a informação de que Bom Sucesso (MG) sofreria um tremor de terra capaz de quebrar copos e trincar pratos. Preocupado, expediu rapidamente um telegrama ao prefeito:
        Movimento sísmico previsto essa região. Provável epicentro movimento telúrico sua cidade.
              Obséquio tomar providências logísticas cabíveis.”
        O secretário esperou ansioso pela resposta. Quatro dias depois chegava o telegrama do prefeito:
        Movimento sísmico debelado. Epicentro preso, incomunicável, cadeia local. Desculpe demora. Houve terremoto na cidade.”

                                                      Folha de São Paulo, 24/Nov/1992.

Entendendo o texto:
Responda às questões de acordo com o texto.
01 – Para achar graça no texto, é fundamental conhecer o significado de certas palavras. Dê o significado de:
a) Sísmico: relativo a tremor no interior da Terra; terremoto.
           
b) telúrico: relativo à Terra, ao solo.
c) epicentro: ponto da superfície terrestre acima do local onde se origina um terremoto.

02 – Em que pessoa gramatical é narrado o texto?
      Na 3a pessoa gramatical ou do discurso.

03 – Tomando por base o ano em que o texto foi publicado, há quanto tempo ocorreu o fato relatado?
      Faça o cálculo tomando por base o ano atual. 

04 – O narrador conta a história baseado no relato de quem?
      No relato do deputado Elias Murad (PSDB-MG).

05 – Baseando-se exclusivamente no texto, responda se o fato narrado:
a. (   ) realmente aconteceu            
b. (X) trata-se de uma anedota.
Justifique sua resposta.
      Trata-se de uma anedota porque o texto indica que tal história envolvendo políticos não tem credibilidade (“de tão inacreditáveis”) por causa das características da nossa cultura política.

06 – Falar difícil não significa falar bem. Que fato narrado no texto comprova essa afirmação?
      O texto do telegrama mandado pelo secretário para o prefeito.

07 – Por que o fato narrado pode ser considerado uma anedota?
      Por envolver uma mensagem que deveria ser entendida por autoridades do governo. Parte-se do princípio que os governantes devem ser pessoas que saibam se fazer entender e que entendam as mensagens dadas.

08 – Pode-se afirmar que houve comunicação entre o secretário e o prefeito?
      Não.

09 – Por que razão o telegrama do secretário não foi entendido pelo prefeito?
      1° – o secretário usou de palavras pouco usadas pelas pessoas, mesmo    aquelas com algum conhecimento mais específico sobre o assunto;
          2o – o prefeito não sabia o significado de parte das palavras contidas no telegrama.



CONTO: O ESPETO - J.SIMÕES LOPES NETO - COM GABARITO

CONTO: O ESPETO


          Fazia um frio de rachar pedras.
     Acendeu-se uma grande fogueira e cada um tratou de chamuscar o seu pedaço de carne.
       Eu saí a procurar um espeto para o meu assadinho. A noite era muito escura, mas graças ao clarão da fogueira descobri uma pequena reboleira de mato, ali perto. Aproximei-me e quando ia cortar um galho qualquer, caiu-me ao chão a faca, abaixei-me para apanhá-la dentre as ervas, e com tal sorte, que ao lado dela encontrei um pedaço de pau tal e qual como eu queria: duma meia braça, grossinho, liso, e o que mais é, já com a ponta feita.
       Por certo que seria um espeto já pronto que algum dos camaradas perdera; melhor para mim! E ainda bati com ele no chão para limpá-lo duns capins secos, e terra que estava pegada.
          Voltando, atravessei o meu churrasco no meu espeto achado, e finquei-o na beirada do fogo.
          Vinha clareando o dia.
       Por toda a parte branqueava a geada, alta de dois dedos, geada farinhenta, que é a mais fria de todas. Estava eu um pouco arriado, conversando, quando um cabo, baiano, que viera acender o cigarro numa brasa, gritou, olhando para o chão, admirado:
         – Olha o assado com o espeto, cadete Romualdo, que vai-se embora! …
         Julguei que era algum gaiato que pretendia furtar-me o churrasco; mas o baiano repetiu:
         – Acuda, seu cadete, que o assado vai de trote! …
          Corri, e que vi? …
         O churrasco, sim senhor, borrifado de salmoura, já chiando na gordura, que ia andando pelo chão… dava a ideia de um cágado sem pernas, mas de cabeça e cauda mui compridas! …
          Acudiram então outros rapazes, muitos, quase todos; e todos viram o churrasco arrastando-se, fugindo da fogueira.
          Então rompeu o sol. Foi quando se pôde verificar a cousa: o espeto era uma cobra!

J. Simões Lopes Neto, Casos do Romualdo. Porto Alegre, Editora Globo, 1973.

Vocabulário:
Reboleira – grupo de arbustos
Meia braça – medida antiga equivalente a 1 metro e dez centímetros (1,10 m)
Arriado – abaixado, acocorado, agachado
Cabo – militar superior ao soldado
Cadete – estudante militar
Gaiato – brincalhão, travesso
De trote – depressa, rapidamente.

Entendendo o texto:
01 – Romualdo é uma personagem criada pelo escritor gaúcho J. Simões Lopes Neto. Sua especialidade é contar casos diversos, sempre exagerando a verdade… Nesse texto, Romualdo aparece no tempo da Guerra do Paraguai (entre 1865 e 1870), fazendo parte de um regimento. Que posto ocupava Romualdo?
      Cadete.

02 – Embora fizesse muito frio naquela noite, Romualdo afastou-se da fogueira. Por quê?
      Porque precisava providenciar um espeto.

03 – Romualdo ia cortar um galho para fazer um espeto, mas não cortou. Por quê?
      Porque, ao pegar a faca que caíra, achou um pedaço de pau como queria.

04 – Quando o cabo baiano gritou admirado que o assado com os espeto ia-se embora, Romualdo correu para perto da fogueira. Que cena presenciou?
      O assado já chiando na gordura ia andando pelo chão, fugindo da fogueira.

05 – O acontecimento só se esclareceu quando rompeu o dia. O que havia acontecido?
      Como estava escuro, Romualdo encontrara um pau, mas na verdade era uma cobra congelada e a usou como espeto. No calor do fogo, ela descongelou-se e fugiu levando a carne que estava espetada no seu corpo.

06– É característica de Romualdo apresentar testemunhas dos casos que conta. Isso acontece nesse texto? Explique.
      Sim. Ele cita o testemunho de quase todos os companheiros.