quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

CONTO: PAPO DE IRMÃO - RICARDO RAMOS - COM GABARITO

CONTO: PAPO DE IRMÃO
                Ricardo Ramos


       O que é melhor: ser filho único ou ter irmãos? Ter tudo para si, brinquedos e atenção dos pais, avós e tios, ou dividir tudo com irmãos mais velhos e mais novos? É possível partilhar espaço e segredos, brinquedos e brincadeiras? É possível ser amigo de todas as horas, promover a união? Ou irmão/irmã é sinônimo de problema?
          
                              O REI DOS CACOS
         Quando saio por aí, com meu irmão, brincamos de tudo: subimos em todas as árvores, principalmente nas mangueiras, corremos atrás de todos os bichos, principalmente das galinhas, e apanhamos todas as frutas, principalmente as verdes. Mas existe uma brincadeira que é diferente de todas as outras, e é a melhor delas: andar dentro do córrego, pra baixo e pra cima. Minha mãe não gosta muito, nem minha avó, mas a gente anda assim mesmo. Meu pai nem vê, porque fica trabalhando o dia inteiro, tratando das vacas, correndo de jipe, tirando leite, passeando a cavalo, cuidando dos porcos. Ele só para depois do almoço, pra ler uns jornais ou um livro.
         Enquanto isso, nós dois, eu e meu irmão, no córrego, andamos pra baixo e pra cima. Mas nós não brincamos disso só por causa da água. É que lá no fundo, brilhando, sempre tem uns pedaços de vidro. Minha mãe diz, e minha avó concorda com ela, que o nome certo é louça, e louça antiga, mas nós já estamos acostumados, meu irmão e eu, a dizer que são cacos de vidro. Eles são grandes, pequenos, quebrados, redondos, compridos, grossos, finos, de todo jeito. Às vezes são coloridos, às vezes são brancos. Quando são brancos nós jogamos fora. Que graça tem guardar um caco de vidro branco? Os mais bonitos são os que tem umas florzinhas ou umas listinhas. Minha mãe diz, e minha avó concorda com ela, que são pedaços de aparelhos de jantar, tudo louça antiga, dos antigos donos da fazenda, tudo do tempo dos escravos. Quando ela fala isso, eu fico pensando nos escravos deitados uns por cima dos outros, naqueles porões imensos que existem debaixo da casa. Toda vez que tenho que passar lá dentro, eu e meu irmão, eu me agarro nele, com medo de ver algum escravo me espiando, escondido por ali. Mas não falo nada, senão meu irmão vai dizer que menina é assim mesmo, tem medo de tudo, até das coisas que não existem.
         No córrego, procurando os cacos de vidro, não tenho medo de nada. Nem de fazer as apostas que fazemos todos os dias: quem é que vai achar o mais bonito, o mais colorido, o maior, o mais antigo. Meu irmão, que é maior do que eu, sempre diz que achou o mais bonito, o mais colorido, o mais antigo. Para saber quem achou o maior, medimos os cacos. E às vezes eu acho.
         No fim do dia, quando chega a hora de ir para dentro de casa, passamos, antes, numa casinha onde moram todos os cacos. Meu pai disse que lá, antigamente, era um tanque onde se fabricava polvilho, depois de colhida a mandioca. Esse tanque é grande, de cimento, e todo coberto de tábuas. Meu pai fez isso para nós, eu e meu irmão, senão os bichos entrariam lá dentro. Então todas as tardes, antes de irmos para casa, nós afastamos as tábuas, entramos dentro do tanque, e guardamos, em mesinhas feitas com pedacinhos de outras tábuas e tijolos, os cacos do dia. Quase todos estão lá. Falta um só, pequeno, branco, com listas cor-de-rosa que meu irmão insiste em dizer que são de outra cor. Esse ele guarda separado, dentro de uma caixinha pequena, que é guardada dentro de uma caixinha grande, junto com outras coisas só dele: pedrinhas, penas de passarinho, apitos, felipes de café, que são dois grãos de café juntos, pedacinhos de cuia com goma esticada que chamamos de viola, e caixas e mais caixas de fósforos. Meu irmão diz que foi ele quem achou o caco de vidro que é guardado separado. Mas é mentira dele, fui eu, e guardei na casinha do tanque, junto com os outros. Mas meu irmão é maior do que eu, foi lá e tirou. E guardou junto com as coisas só dele. E pôs nome dele: O rei dos cacos.
         O rei dos cacos não pode ser visto a qualquer hora. Só em dias muito especiais, quando meu irmão resolve arrumar a caixinha grande cheia de coisas. Ele tira todas, uma por uma, posso ver tudo desde que não ponha a mão em nada, guarda de novo, fecha, pronto, acabou. Durmo pensando no rei dos cacos, e ele também.
         No outro dia, vamos de novo, bem cedo, andar no córrego. De vez em quando pulamos de alegria dentro d`água quando achamos um caco igual a outros que já temos. Vamos correndo ver se encaixa no pedaço que está guardado dentro do tanque. O meu maior sonho na vida é achar a outra metade do rei dos cacos. E acho que é, também, o maior sonho do meu irmão.

                   In: Ricardo Ramos e outros. Irmão mais velho, irmão mais novo.
                                                                        São Paulo: Atual, 1992, p. 74-7.

 Entendendo o texto:
01 – Esse texto narra o dia-a-dia de dois irmãos que vivem em uma fazenda.
     a) Quem faz a narração?
     A irmã mais nova.

     b) Como é a fazenda?
     Uma fazenda antiga.

02 – Os pais contam para os filhos como era a fazenda antigamente.
     a) Desde quando a fazenda existe?
     Desde a época da escravidão.

     b) O que a fazenda conserva desse tempo?
     O tanque onde era fabricado o polvilho.

03 – Os irmãos moram com a mãe, o pai e a avó.
     a) Com quem eles convivem mais? Justifique sua resposta.
     Com a mãe e a avó. Porque elas estão ali dentro da casa.

     b) Na sua opinião, por que a mãe e a avó não gostam muito que as crianças andem no córrego?
     Resposta pessoal.

     c) De acordo com o texto, o pai está sempre ausente? Justifique sua resposta com elementos do texto.
      “Meu pai nem vê, porque fica trabalhando o dia inteiro, tratando das vacas, correndo de jipe, tirando leite, passeando a cavalo, cuidando dos porcos.”

04 – A narradora fala do relacionamento dela com o irmão.
     a) Como é o relacionamento entre eles?
      São amigos, porque brincam juntos.

     b) O que ela busca no irmão ao se agarrar nele quando passa pelo porão da casa?
      Segurança.

     c) Por que, na sua opinião, a menina, embora tenha achado o rei dos cacos, permite que o irmão fique com ele?
      Resposta pessoal.

05 – O rei dos cacos não fica com os outros, guardado na casinha, mas numa caixa, junto com outras coisas do irmão.
     a) Por que, na sua opinião, o garoto guarda o rei dos cacos dentro de duas caixas?
      Resposta pessoal.

     b) As coisas guardadas nessa caixa têm algum valor material?
      Não.

     c) Apesar disso, por que, na sua opinião, a irmã não pode tocar em nada, quando ele mostra a ela o conteúdo da caixa?
      Resposta pessoal.

06 – O maior sonho na vida da menina é achar a outra metade do rei dos cacos. Na sua opinião, por que ela acha que esse é também o maior sonho do irmão?
      Resposta pessoal.

07 – Quais dos termos que seguem indicam características da relação entre os irmãos?
       - respeito           - falsidade            - cumplicidade        - orgulho
       - companheirismo     - afeto        - inveja           - camaradagem.




CRÔNICA: OS JORNAIS - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

CRÔNICA: OS JORNAIS
                        Rubem Braga

    Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz:
         -- Chega! Houve um desastre de trem na França, um acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desgraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenham conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime. “Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz...” Você sabia disso? O jornal nunca publica uma nota assim:
         “Anteontem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda, no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos, de 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraça-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: Meu amor, ao que ele retorquiu: Deolinda. Na manhã seguinte, Augusto Ramos foi visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal.”
         A impressão que a gente tem, lendo os jornais – continuou meu amigo – é que “lar” é um local destinado principalmente à prática de “uxoricídio”. E dos bares, nem se fala. Imagine isto:
         “Ontem, cerca de 10 horas da noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar Flor Mineira, à rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amâncio de Araújo, residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas, Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto, insistiu, seguindo-se uma disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando sambas. Reina a maior paz no subúrbio do Encantado, e a noite foi bastante fresca, tendo dona Maria, sogra do comerciário Adalberto Ferreira, residente à rua Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegando a puxar o cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de goiabada.”
         E meu amigo:
         -- Se um repórter redigir essas duas notas e leva-las a um secretário de redação, será chamado de louco. Porque os jornais noticiam tudo, tudo, menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida...

                                    Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro:
                                                                  Record, 1997, p. 109-111.

Entendendo o texto:
01 – Observe: a crônica, quase toda ela, é constituída de falas de uma amigo.
     a) Identifique as únicas frases da crônica que não são falas do amigo.
      A primeira: Meu amigo lança fora...; a segunda: ...continuou meu amigo..., no quarto parágrafo; e, no final: E meu amigo:

     b) Dê sua opinião:
- O autor (o cronista) assume o papel de narrador para contar o ponto de vista que um amigo (que existe mesmo) tem a respeito das notícias que os jornais publicam?
Ou:
- O autor cria um personagem – o amigo – para, por meio dele, expressar seu ponto de vista pessoal a respeito das notícias que os jornais publicam?
      A expectativa é que o aluno escolha a segunda opção, mas a primeira pode ser aceita, se adequadamente justificada.

02 – O amigo cita:
       -- Alguns exemplos de fatos que os jornais noticiam – fatos que tem “conteúdo jornalístico”, são notícias.
       -- Dois contraexemplos: fatos que os jornais não noticiam – não tem “conteúdo jornalístico”, são não notícias.
        a) Que exemplos o amigo dá de notícias?
            Desastre, acidente de mina, surto de peste, crime.

        b) Que exemplos o amigo dá de não notícias?
             Felicidade de um casal no lar, encontro alegre de amigos num bar, noite de paz num subúrbio, sonho de uma avó.

03 – O amigo encontra no jornal o crime de um sapateiro que matou a mulher que o traía.
        - Segundo o amigo, o que é que o jornal não noticia a respeito desse crime? Por que não notícia?
         Não noticia a felicidade em que viveu o casal anteriormente, porque esse fato não tem conteúdo jornalístico.

04 – Localize as frases na crônica e responda às questões:
      “Você acredita nisso que os jornais dizem?”
     a) Nisso: em que não se deve acreditar?
      Que no mundo só acontecem desastres e desgraças.

           “Eu não afirmo que isso seja mentira.”
     b) Isso: o que não é mentira?
      O crime do sapateiro ou, mais genericamente, os fatos que o jornal notícia.

     c) Observe a aparente contradição entre estas duas frases:
- Não se deve acreditar no que os jornais dizem.
- Não se pode afirmar que seja mentira o que os jornais dizem.
Mostre que a contradição é só aparente – segundo o amigo:
- Lendo os jornais, há algo em que não se deve acreditar. O quê?
- Lendo os jornais, há algo em que se pode acreditar. O Quê?
      Não se deve acreditar que no mundo só acontecem desastres e desgraças. Pode-se acreditar no que o jornal notícia.

05 -  Recorde a primeira frase da crônica e observe a palavra destacada:
       “Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz:”
       - Se, em seguida, o amigo reclama contra o que lê no jornal, que só anuncia desastres e desgraças, de onde vem essa sua alegria?
       Da lembrança de que no mundo acontecem também coisas boas, que os jornais não noticiam; da percepção de que a imagem negativa que o jornal dá do mundo é falsa, não acontecem apenas desastres e desgraças.


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

FÁBULA: A RAPOSA E A CEGONHA - ESOPO - COM GABARITO

FÁBULA: A RAPOSA E A CEGONHA
                   ESOPO

     Um dia a raposa convidou a cegonha para jantar. Querendo pregar uma peça na outra, serviu sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o menor problema, mas a pobre cegonha, com seu bico comprido, mal pôde tomar uma gota. O resultado foi que a cegonha voltou para casa morrendo de fome.
   A raposa fingiu que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto da cegonha, mas a cegonha não disse nada. Quando foi embora, agradeceu muito a gentileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte.
        Assim que chegou, a raposa se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para ver as delícias que a outra ia servir. O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de gargalo estreito, onde a cegonha podia beber sem o menor problema. A raposa, amoladíssima, só teve uma saída: lamber as gotinhas de sopa que escorriam pelo lado de fora da jarra.
        Ela aprendeu muito bem a lição. Enquanto ia andando para casa, faminta, pensava: “Não posso reclamar da cegonha. Ela me tratou mal, mas fui grosseira com ela primeiro.”

MORAL DA HISTÓRIA: trate os outros tal como deseja ser tratado.

Fábulas de Esopo. Tradução de Heloísa Jahn, São Paulo,
Companhia das Letrinhas, 1994.

Entendendo o texto:
01 – O objetivo da raposa, ao convidar a cegonha para jantar, era:
a. (   ) fazer as pazes, porque elas haviam brigado
b. (   ) ser gentil com a cegonha
c. (X) fazer uma brincadeira de mau gosto
d. (   ) comer a cegonha, pois as raposas são caçadoras de aves.

02 – A cegonha:
a. (   ) gostou do jantar
b. (X) não conseguiu tomar a sopa
c. (   ) não compareceu ao jantar
d. (   ) não tomou a sopa, mas comeu outras comidas.

03 – No trecho: “Quando foi embora, agradeceu muito a gentileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte.”  A palavra em destaque significa, nesse contexto, que:
a. (   ) a cegonha demonstrou ser gentil com a raposa, convidando-a para outro jantar.
b. (   ) a cegonha convidou a raposa para jantar porque queria despedir-se, pois ia viajar
c. (X) a cegonha repetiu o convite e a brincadeira de mau gosto
d. (   ) a cegonha ficou zangada e não quis mais falar com a raposa.

04 – A frase: “Trate os outros tal como deseja ser tratado” pode ser substituída por:
a. (   ) Boa romaria faz quem na sua casa fica em paz.
b. (   ) Quem tudo quer, tudo perde.
c. (   ) Na casa do ferreiro, o espeto é de pau.
d. (X) Não faça aos outros aquilo que não quer que lhe façam.

05 – A palavra “bulling” é inglesa e quer dizer fazer troça, humilhar, constranger, fazer brincadeira de mau gosto. Na sua opinião, a raposa praticou o “bulling”? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

FÁBULA PARA SÉRIES INICIAIS: O URSO E A RAPOSA - ESOPO - COM GABARITO

FÁBULA: O URSO E A RAPOSA
                   ESOPO


         Um urso passava o tempo contando como gostava dos homens. Não vou lá perturbar nem estraçalhar os homens quando eles morrem disse ele.
          A raposa respondeu com um sorriso: Eu ia ficar mais convencida de sua bondade se você não costumasse comer os homens vivos.


        Moral: mais vale ter pena dos vivos que respeito com os mortos.

                     Fábulas de Esopo. Compilação de Russell ash e Bernard Higton.
                                              São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994, p. 57.


INTERPRETAÇÃO DO TEXTO:
01 – Qual os personagens da fala?
       O urso e a raposa.

02 – Qual era o assunto preferido do urso?
       Contando como gostava dos homens.

03 – retire da fábula quatro verbos de ação.
       Passava, gostava, estraçalhar, perturbar.

04 – O que a raposa respondeu com um sorriso para o urso?
       Eu ia ficar mais convencida de sua bondade se você não costumasse comer os homens vivos.

05 – Qual a moral da história?
      Mais vale ter pena dos vivos que respeito com os mortos.

06 – Invente uma pequena história em que haja um diálogo entre duas ou mais personagens. Você pode imaginar, por exemplo, um diálogo entre amigos, entre pai, mãe e filho ou filha, entre o lápis e o papel, entre personagens de histórias em quadrinhos, entre um animal preso em gaiola ou jaula e um animal que vive solto, etc. Quando terminar, leia seu texto para os colegas e ouça o deles.


FÁBULA: A MOSCA E A FORMIGUINHA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

FÁBULA: A MOSCA E A FORMIGUINHA
                   MONTEIRO LOBATO


    - Sou fidalga! – dizia a mosca à formiguinha que passava carregando uma folha de roseira. – Não trabalho, pouso em todas as mesas, lambisco de todos os manjares, passeio sobre o colo das donzelas – e até me sento no nariz. Que vidão regalado o meu...
   A formiguinha arriou a carga, enxugou a testa e disse:
         -- Apesar de tudo, não invejo a sorte das moscas. São mal vistas. Ninguém as estima. Toda gente as enxota com asco. E o pior é que tem um berço degradante: nascem nas esterqueiras.
         -- Ora, ora! – exclamou a mosca. – Viva eu quente e ria-se a gente.
         -- E além de imundas são cínicas – continuou a formiga – não passam de umas parasitas – e parasita é sinônimo de ladrão. Já a mim todos me respeitam. Sou rica pelo meu trabalho, tenho casa própria e nada me falta durante o rigor do mau tempo. E você? Você, basta que fechem a porta da cozinha e já está sem o que comer. Não troco a minha honesta vida de operária pela vida dourada dos filantes.
         -- Quem desdenha quer comprar – murmurou ironicamente a mosca.
         Dias depois a formiga encontrou a mosca a debater-se numa vidraça.
         --Então, fidalga, o que é isso? – perguntou-lhe.
         A prisioneira respondeu aflita?
         -- Os donos da casa partiram de viagem e me deixaram trancada aqui. Estou morrendo de fome e já exausta de tanto me debater.
         A formiga repetiu as empáfias da mosca, imitando lhe a voz: “Sou fidalga! Pouso em todas as mesas... Passeio pelo colo das donzelas...” e lá seguiu seu caminho, apressadinha como sempre.

        Moral: Quem quer colher, planta. E quem do alheio vive, um dia se engasga.

                                Monteiro Lobato. Fábulas e histórias diversas:
     São Paulo: Brasiliense, 1960, p. 91-2.


Entendendo o texto:
01 – Quantos parágrafos há no texto?
       Quatro parágrafos.

02 – Nos textos narrativos, há geralmente várias vozes. Uma é a do narrador, que conta a história, e as outras são das personagens, que conversam entre si. No primeiro parágrafo qual a fala do narrador:
     a) O trecho que corresponde à voz do narrador;
     b) O autor da fala: “—Sou fidalga!”.

03 – Observe o diálogo entre a mosca e a formiguinha.
     a) Que sinal de pontuação indica o início da fala das personagens?
      Travessão.

     b) Para indicar quem está falando, o narrador emprega certos verbos, como dizer, presente neste trecho: “A formiguinha arriou a carga, enxugou a testa e disse:”.
Identifique no texto outros verbos que marcam a fala das personagens.
      Sentar, pousar, viver, perguntar.

04 – No último parágrafo, há um trecho em que a formiguinha repete o que a mosca disse, imitando lhe a voz. Que sinal de pontuação marca o início e o fim desse trecho?
       Reticências.


FÁBULA: A GALINHA DOS OVOS DE OURO - JEAN DE LA FONTAINE - COM GABARITO

FÁBULA: A GALINHA DOS OVOS DE OURO
                     JEAN DE LA FONTAINE


A avarice só perde
Pensando que tudo pode ganhar!
A fábula da galinha
Esta ideia vem ilustrar.
Pois não é que um homem rico,
Achando que por dia um só ovo
Era pouco, era nada, era um tico,
Resolveu ter tudo de uma vez só?!
Acreditando que, por ovos de ouro botar,
De ouro fosse feita a galinha inteira,
Sem dó, piedade e consideração
Matou-a numa panela certeira.
Que decepção! Que raiva! que dor!
Encontrou-a igualzinha a todas as galinhas
Que punham ovos de qualquer cor!
Nada havia que mostrasse o seu mistério.
Para as pessoas mesquinhas
É, sem dúvida, uma boa lição.
Quantos amanhecem pobres, hoje,
Por ontem terem tido tanta ambição?

                                   Jean de La Fontaine. Fábulas de La Fontaine.
             Adaptação de Regina Drummond. São Paulo: Paulus, 2004.

Avarice: apego excessivo ao dinheiro, mesquinharia.

Entendendo o texto:
01 – Elabore uma frase que sirva de moral para o texto “A galinha dos ovos de ouro”. Em seguida, leia-a para a classe.
       Resposta pessoal. Educador: é importante verificar a coerência entre a moral construída pelos alunos e a fábula.

02 – Que características do gênero “poema” podemos identificar nessa fábula?
       O fato de estar escrita em versos com algumas rimas, agrupados em estrofes.

03 – No texto “A galinha dos ovos de ouro”, aparecem as características de outro gênero textual: a fábula. Quais são essas características?
        Há animais como personagens e uma moral.

04 – Nos versos a seguir, os adjetivos indicam as características dos elementos em destaque, Identifique os adjetivos e transcreva-os.
        - “Pois não é que um homem rico” rico
        - “Matou-a numa panela certeira” certeira
        - “Para as pessoas mesquinhas” mesquinhas
        - “É, sem dúvida, uma boa lição”. Boa

05 – Leia os trechos a seguir, retirados das fábulas que você leu. Identifique a classe a que pertencem as palavras destacadas e substitua-as por outras com significado semelhante.
        - “Mas suas pernas eram mais fortes e mais ligeiras do que as do lobo [...]”
        Adjetivos. Mas suas pernas eram mais vigorosas e mais velozes do que as do lobo [...]

        - “Foi de lá que avistou uma parreira com lindos cachos de uvas bem maduras e suculentas”.
        Adjetivos. Foi de lá que avistou uma parreira com belos cachos de uvas bem amadurecidas e sucosas.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

POEMA: ESTAÇÃO CAFÉ - SÉRGIO CAPPARELLI - COM GABARITO

POEMA: ESTAÇÃO CAFÉ

Pastéis Santa Clara,
Bem-casados com ambrosia
Caramelados com nozes
E bombas de baunilha
Senhora dona doceira,
Me tira dessa agonia!
Mil-folhas e broinhas
Com geleias e pavê
Fios de ovos, apfelstrudel
Maçãs flambadas, não vê?
Qual é o doce mais doce?
O doce mais doce? Você!
Pães de queijo, ovos moles,
Olho-de-sogra, doce de abóbora
Pingos de chuva, algodão doce,
Doce, oh doce, senhora!
Senhora dona doceira,
Doce aqui e agora
E agora, bem no fim,
Eu recuso maria-mole,
Mas nós dois, bem juntim,
Agarradinho, rocambole.

                                                    Sergio Capparelli... 111 poemas para crianças.
                                                                          Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 26.

Entendendo o texto:
01 – Em todo o poema, há diversos nomes de doces. A que classe gramatical pertencem as palavras usadas para nomeá-los?
       Nomes próprios.

02 – Na segunda estrofe, o eu lírico pede à doceira que o tire de uma agonia. Por que ele está agoniado?
       Pela variedade dos doces.

03 – No final da terceira estrofe, o eu lírico parece perder o interesse pelos doces. O que o faz mudar de ideia?
      A doceira.

04- No verso “O doce mais doce? Você!”, a palavra doce aparece repetida. Em uma e outra ocorrência ela pertence a classes gramaticais diferentes. Quais são essas classes?
      Substantivo e adjetivo.

05 – O plural das palavras noz e maçã é formado da mesma maneira? Explique.
       Não. Noz acrescenta es e em maçã apenas s.

06 – Qual é o singular da palavra pastéis? Quais outras palavras que você conhece tem o plural formado da mesma maneira?
       Pastel. Anéis, papéis, méis.

07 – Identifique no poema um substantivo que quando pluralizado sofre variação na pronúncia semelhante à que ocorre no caso de jogo (ô) e jogos (ó)?
       Ovo – ovos.

08 – O plural do substantivo composto pé-de-moleque é pés-de-moleque. Comparando esse substantivo olho-de-sogra, responde: qual é o plural de olho-de-sogra?
       Olhos-de-sogra.

09 – O poeta empregou nas palavras juntim agarradim uma forma de diminutivo própria do modo coloquial de falar. Como é o diminutivo dessas palavras na variedade padrão?
       Juntinho e agarradinho.

10 – No final do poema, o eu lírico escolhe um doce, porém diferente dos demais; rocambole. Por que esse doce é diferente dos outros?
        Porque ele é todo enrolado.