quinta-feira, 3 de agosto de 2017

CRÔNICA URBANA - TÍPICO DE CARIOCA - COM GABARITO

TEXTO: TÍPICO DE CARIOCA

        Um vídeo sobre o “jeitinho carioca” virou hit na internet por retratar manias e formas bem características de se levar a vida no Rio de Janeiro. O termômetro marca 20° e o carioca já inventa de fazer fondue. Diz para qualquer conhecido que encontra na rua “vamos marcar alguma coisa?”, mas o programa fica por isso mesmo. Reclama do trânsito, do metrô lotado e pondera: “imagina isso aqui na Copa!”. Fui na onda e pedi ajuda ao meu grupo “Agenda Carioca” no Facebook para ampliar essa lista com ideias simples e engraçadas que viessem à cabeça. O resultado dessa pesquisa foram 361 posts publicados em quatro dias. Aqui surge uma crônica escrita a centenas de mãos! 
           Cariocas não gostam de dias nublados, nem de sinal fechado, mas disso todo mundo já sabe... O que mais? Eles têm certeza de que esta é a cidade mais linda do mundo, mesmo sem conhecer nenhuma outra. Reclamam de tudo daqui, mas não admitem que ninguém fale mal do Rio. Encontram com artistas na rua e mostram cara de paisagem para não “pagar mico”. Afinal, somos todos vizinhos, né? Cariocas não mentem, mandam “caô”. Chamam todos de “meu irmão”. Falam “cara”, seja para um homem ou uma mulher. 
           Não dizem obrigado, é quase sempre um “valeu”. “Demorô” ou seria “jaé”? E o “tem, mas acabou”, um clássico do carioca! Ele nunca diz simplesmente “não temos”. Garçom é sempre “amigo” e a conta é pedida com aquele movimento de mão como se assinasse um cheque no ar. Quase todo carioca tem um garçom pra chamar de “seu”. A malandragem é uma marca registrada. Está atrasado para um encontro e liga dizendo que já está chegando, quando ainda nem saiu de casa. Compra 300 coisas que não precisa na padaria para entregarem um único cigarro! 
           Não lhes falta gentileza para dar a frente a uma mulher grávida. Eles seguram a bolsa de quem está em pé no ônibus e se unem de forma rápida e organizada para ajudar em momentos de crise. O esforço daqueles que não falam inglês em dar informações aos gringos é comovente, apesar de adorarem falar tocando nas pessoas, para desespero dos estrangeiros. O sorriso do carioca é um artigo que nunca falta quando ele chega. Impressionante a facilidade de conversar com estranhos e se meter na conversa alheia. Cariocas detestam ficar em filas formando uma reta, fazem sempre um desenho original. 
          Pessoas que andam na praia e que não se conhecem passam a se cumprimentar pela habitualidade em se cruzarem. A maioria conversa tudo com seus próprios porteiros, eles são quase parte da família. Dão dois beijinhos em paulistas e ficam sempre no ar. Vivem em contradição. Acham o Desfile das Escolas de Samba imperdível, mas passam todos os carnavais na casa de praia ou de serra. Adoram a vista do Pão de Açúcar, embora só tenham subido no bondinho uma única vez, na infância. 
              Comemoram dia de tudo quanto é santo, mas, no aniversário do Rio de Janeiro, 1º de março, tudo funciona normalmente sem grandes festas e nem feriado. Carioca cria os filhos na praia à base de água de coco e biscoito Globo. Fazem divisões imaginárias da areia, “por tribos”, e convivem com as diferenças com muita paz e alto astral. Escolhem um barraqueiro e são fiéis a ele. Pedem na maior confiança para qualquer estranho “dar uma olhadinha” nas suas coisas, enquanto dão um mergulho no mar (fazendo o sinal da cruz antes). 
             Não têm hora pra chegar e nem hora pra sair da praia e, muitas vezes, emendam o programa direto da noitada. A negociação começa na combinação do preço com o guardador “mermão”, e continua com o pedido de “chorinho” no limãozinho do mate. Seus pequenos rituais são únicos, como aplaudir o pôr do sol visto da pedra do Arpoador, marcar encontro na estátua do Bellini, no Maracanã, decretar feriado no dia de São Jorge, o santo de fé da maioria dos cariocas, tomar um açaí após corrida ou praia e combinar o almoço de domingo depois da praia. Mas se o tempo fechar, de uma hora para outra tudo muda. Basta chover e o carioca começa a cancelar compromissos. Mesmo uma chuvinha fina já causa uma onda de cancelamentos. 
                  O frio polar nos restaurantes durante o verão combina com um jeito de vestir muito peculiar. Choveu, é casacão pra cá, meia calça, bota, não importa o cheiro de naftalina nas roupas e que seja apenas uma chuva de verão (quase sempre é) e que esteja fazendo 35 graus... short e chinelo com casaco é um hit do carioca com frio, que adora uma roupa confortável e não está nem aí para o que os outros vão achar. O polêmico meião feminino que só se vê nas academias cariocas é um belo exemplo. Muitas delas retocam o cabelo de mês em mês e quando olham o resultado a frase é sempre a mesma: “Estou superloira!!!”. As cariocas não precisam subir no salto para estarem lindas. As rasteirinhas e havaianas lhes caem muito bem em qualquer situação! 
             Nosso trânsito tem suas peculiaridades. Pegar aquele engarrafamento no final de tarde, voltando para casa exausta e com um “buraco” no estômago e ter a felicidade de ser abordada por aqueles vendedores de biscoito de canudinho compridinho, que esfarela todo no carro e na roupa, fazendo com que a criatura faminta se sinta saindo de um rodízio, não tem preço. Carioca, suburbano ou da zona sul, quando vai à Região dos Lagos, nos feriados, fica concorrendo com os “colega” para ver quem fica mais tempo no engarrafamento da ponte. 
           Chamam o motorista do ônibus de “piloto” e pedem pra descer fora do ponto, normalmente no sinal fechado. Fazem da bike uma parceira, as laranjinhas do Itaú já são mais do que parte da paisagem. Cariocas não se cumprimentam, fazem festa. Adoram ir para a janela e gritar: “Gooooool”. Para o típico anfitrião carioca, convidado pontual é o cúmulo da inconveniência. O Rio é o único lugar do mundo que tem uma matemática muito própria para calcular a hora certa de se chegar a um evento: “Se está marcado às 9 é para chegar às 10, 10 e meia...”, diz o convidado. “Vou marcar às 9 que é para o pessoal chegar umas 10...”, pensa o anfitrião. Carioca diz: “eu vou ali e já volto” e fica três horas. Carioca anda com guarda-chuva debaixo da marquise, onde os ambulantes se instalam com um minuto de início de chuva. De onde eles surgem? Todo brasileiro torce por um time de futebol. O carioca tem um time de futebol. E ainda adere com alegria a um projeto como esse e, em menos de cinco minutos, consegue material para muitas crônicas.

                                        (Crônica Urbana – Antônia Leite Barbosa –
                                                                  Magazine Casa shopping).

Após a leitura atenta do Texto I, realize as questões propostas. 

1ª QUESTÃO: De acordo com o texto, que finalidade a autora da crônica tinha ao pedir ajuda ao seu grupo no Facebook?
       A – ( ) Dessa maneira faria seu grupo trabalhar um pouco.
       B – ( ) Ficaria sabendo o que seu grupo pensava sobre os cariocas.
       C – (X) Tinha em mente ampliar sua lista de manias engraçadas dos cariocas.
       D – ( ) Não sabia o que escrever e por isso precisou da ajuda do grupo.
       E – ( ) Queria que o grupo participasse efetivamente da crônica.

2ª QUESTÃO: “Encontram com artistas na rua e mostram cara de paisagem...”  A expressão destacada quer dizer que:
       A – ( ) estão reconhecendo.
       B – ( ) não reconhecem.
       C – ( ) não querem falar.
       D – (X) fingem não estar ligando.
       E – ( ) não gostam do artista.

3ª QUESTÃO: O que faz com que as pessoas que caminham na praia e não se conhecem se cumprimentem?
       A – ( ) A intenção de tornar os estranhos pessoas da própria família.
       B – (X) O fato de se encontrarem todos os dias caminhando.
       C – ( ) A vontade de aumentar o círculo de amizade.
       D – ( ) Querem passar uma boa imagem dos moradores da cidade.
       E – ( ) O fato de gostarem dos cumprimentos.

4ª QUESTÃO: “Acham o Desfile das Escolas de Samba imperdível, mas passam todos os carnavais na casa de praia ou de serra.” A palavra destacada dá ideia de:
       A – ( ) adição.
       B – ( ) finalidade.
       C – ( ) causa.
       D – ( ) consequência.
       E – (X) oposição.

5ª QUESTÃO: Leia as afirmativas e, em seguida, marque a opção correta:
I – O texto “Típico de carioca” foi escrito em forma de prosa.
II – O texto não possui discurso direto.
III – Há no texto marca da oralidade.
       A – ( ) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
       B – ( ) Apenas a afirmativa III está correta.
       C – ( ) Só a afirmativa I está correta.
       D – (X) A afirmativa II é a única errada.
        E – ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

6ª QUESTÃO: Identifique a opção cuja palavra destacada não pertença à mesma classe gramatical da grifada na frase destacada abaixo. “...mas o programa fica por isso mesmo.”
       A – ( ) “Fui na onda e pedi...”
       B – (X) “Cariocas não gostam de dia nublado, ...”
       C – ( ) “...que ninguém fale mal do Rio.”
       D – ( ) “A malandragem é uma marca registrada.”
       E – ( ) “...em pé no ônibus...”

7ª QUESTÃO: Assinale a opção em que a correlação entre o termo destacado e sua respectiva explicação dentro dos parênteses está errada:
       A – ( ) “Cariocas não gostam de dia nublado, ...” (A palavra Cariocas é um adjetivo pátrio de quem nasce no estado do Rio de Janeiro.)
       B – (X) “A maioria conversa tudo com seus próprios porteiros...” (A palavra próprios pertence à classe dos pronomes.)
       C – ( ) “Vivem em contradição.” (Contradição é mesmo que atitude oposta.)
       D – ( ) “O sorriso do carioca é um artigo que nunca falta quando ele...” (A palavra artigo refere-se ao sorriso.)
       E – ( ) “Escolhem um barraqueiro e são fiéis a ele.” (A palavra fiéis pode ser substituída pela palavra leais sem sofrer alteração no sentido da frase.)


FÁBULA: O MACACO E O GOLFINHO - ESOPO - COM GABARITO

FÁBULA: O MACACO E O GOLFINHO
                   ESOPO

        Na antiguidade, os navios eram pequenos barcos a remo ou à vela, e as viagens, é claro, uma grande aventura. O tempo não contava: ao embarcar, era impossível prever a duração da viagem... 
   Para se entreterem nessas grandes travessias, os viajantes recorriam a tudo o que fossem capazes de imaginar: uns jogavam dados ou xadrez, outros dormiam todo o tempo, alguns conversavam entre si ou com a tripulação, e ainda havia os que levavam consigo seus bichos de estimação para fazer companhia: cachorros, macacos ou corvos amestrados. 
      Um mercador ateniense emigrado da Sicília – que, na época, chamava-se Magna Grécia – fizera fortuna em poucos anos. E decidira regressar à pátria para gozar a riqueza. Enquanto esperava que carregassem sua bagagem para o interior do navio, reparou em um marinheiro fenício que passava por ali com um macaco ao ombro.
       — Ei, moço! – chamou. – O que esse seu simpático bichinho sabe fazer?        O outro achou graça:
     — Khala? Esse é o mais esperto macaco da face da Terra! Trepa no mastro do navio e me avisa quando avista alguma embarcação. Além disso, sabe dançar quando ouve música. Quer ver? 
      Sem esperar resposta, tirou uma flauta do bolso e começou a tocar uma música típica do seu país. 
     Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a dançar, dando várias cambalhotas e até um salto mortal.
     — Quanto você quer por ele? – perguntou o mercador, sem muito interesse, para o preço não vir. Muito alto.
        — Uma mina ateniense não bastaria, pois, além de ele ser muito esperto, gosto demais dele ... – o outro se fez de rogado, para fazer seu produto valer mais. 
        Depois de alguma discussão, o marinheiro deu o preço:
        — Cem dracmas.
      — Cem dracmas! – exclamou o mercador, roxo e gago, de raiva. – Você deve estar maluco! 
     Depois de regatear, as cem dracmas reduziram-se a quatro e logo uma moeda de prata trocada de mãos, ao mesmo tempo em que o macaco trocava de dono.
       — Adeus, Khala! – suspirou o fenício. – Odeio me separar de você, mas é preciso...– e, passando a cordinha no pescoço do macaco, entregou-o ao mercador, acrescentando: — É um bichinho muito especial, você vai ver. Boa viagem!
        — Adeus, marinheiro, e obrigado! 
     E os dois, o macaco e o mercador, começaram a subir a prancha que servia de ponte entre o navio e o cais. 
       Khala era obediente e não reclamou.
   O fenício tinha razão: já no primeiro dia, Khala tornara-se o grande divertimento da tripulação e dos passageiros: saltava, dançava, trepava no mastro e apanhava comida das mãos das pessoas. Não parava um minuto. 
       Naquele mês de julho, o tempo estava maravilhoso. O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria agradável, sem atropelos. 
      No décimo dia, porém, quando o navio preparava-se para dobrar o último cabo, um forte vendaval levantou-se, com vento a noroeste, e o céu cobriu-se de nuvens negras. A pequena embarcação balançava terrivelmente. Todos receavam que ela não fosse aguentar ou que, a qualquer momento, batesse nos rochedos. 
       O capitão mandou que todos os passageiros fossem para o porão. 
       Ao preparar-se para obedecer, o mercador percebeu que não via Khala.
       — Onde você está, Khala? – chamou, apreensivo. – Khala! Khala!
     Em cima do mastro, Khala, animadíssimo, fazia seu melhor número. Por não ter medo da tempestade, saltava, corri, dançava, parecendo muito alegre com aquilo que lhe parecia uma festa... 
     O mercador nem teve tempo de abrir a boca, uma onda mais violenta ainda abateu-se sobre a popa do navio, que se empinou, permanecendo suspenso sobre a crista da onda, voltando a cair de popa. Ouviu-se um estrondo: o mastro partira-se, caindo de lado sobre a ponte. Quebrou os cabos que o prendiam e perdeu-se na fúria das águas. Khala caiu de cabeça para baixo e, por um longo momento, ficou parado, bebendo água, bebendo, bebendo...
       Estava quase morto, quando ouviu uma voz que dizia:
        — Suba nas minhas costas.
     Ele só entendeu por ter sido criado por marinheiros e estar habituado à linguagem do mar, pois era um golfinho que assim lhe falava, naquela estranha mistura de ruídos e assobios. 
      Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer: 
    Como é bom respirar! Agora, sim, o macaco voltara à superfície e podia conversar com o amigo que lhe salvara a vida:
    — Obrigado! Eu não sei o que teria acontecido comigo, se não fosse você...Ou melhor, até sei! – disse Khala.
      — De nada! Você vai para Atenas? – perguntou o golfinho.
      — Vou.
      — Você é ateniense?
     — Ateniense? – surpreendeu-se o macaco. – Acho que esse idiota pensa que eu sou um homem... – e continuou, em voz alta: - Sim, sou. E ateniense de uma das melhores famílias!
     — Ah, sim? – o golfinho não parecia muito surpreso. – E a quem tenho a honra de transportar na minha garupa?
     — Filostrato, filho de Pisandro, neto de Timóteo, bisneto de Electeu e de Licurgo.
     — Estranho... – pensou o golfinho. — Nunca tinha ouvido falar... – e perguntou em voz alta: — E o que você faz na vida?
   — Vivo de rendas. Possuo casas, terrenos e navios. Ah, estava me esquecendo: também sou animador...
    — Animador? – pensou o golfinho. – Não deveria ser “armador”? Hum, deve ser algum espertinho...  Espere, que já vamos ver ... – e em voz alta perguntou:  — Se você é animador, deve conhecer bem o Pireu, não é verdade? 
     Já envolvido por suas próprias mentiras, Khala nem parou para pensar, pois, se o tivesse feito, teria se lembrado de que Pireu é o nome do porto de Atenas. Com grande entusiasmo, exclamou: 
     — Pireu! Pireu! Você também conhece aquele grande malandro? Uma pessoa fantástica, divertidíssima... Sabia que ele não anda bem ultimamente?
       — Sério? Você tem certeza? – o golfinho fingiu interesse.
       — Absoluta! – respondeu o macaco.
      — Pois eu tenho certeza é de outra coisa! – disse, com raiva, o golfinho, diante de tamanho descaramento. – Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu querido amigo Pireu, vai ter de ir a nado! 
   E o golfinho sacudiu as costas, derrubando Khala na água e desaparecendo num mergulho rápido, sem ouvir os desesperados pedidos de socorro do macaco.

Moral: Os ignorantes têm a mania de tentar enganar quem sabe mais do que eles, mas isso quase nunca á certo.

(LIVRO FÁBULAS DE ESOPO – EDITORA PAULUS) VOCABULÁRIO:

Dracmas: nome do dinheiro usado na época.
Fenício: natural ou habitante da antiga Fenícia, região litorânea da atual Síria.
Ateniense: natural ou habitante da cidade de Atenas (Grécia).
Armador: construtor de navios.


1ª QUESTÃO: Para se distraírem em suas viagens, os marinheiros faziam várias atividades. Marque a opção que apresenta uma atividade que não foi citada no texto:
       A – ( ) Eles jogavam dados.
       B – ( ) Alguns dormiam.
      C – ( ) Outros conversavam.
      D – (X) Jogavam cartas.
      E – ( ) Levavam seus animais de estimação.

2ª QUESTÃO: “O capitão mandou que todos os passageiros fossem para o porão.”  O capitão deu essa ordem porque ...
       A – ( ) o sol estava muito forte e os passageiros passavam mal.
      B – ( ) os marinheiros estavam jogando e precisavam de espaço.
      C – (X) a embarcação corria risco de naufragar.
      D – ( ) a comida seria servida no porão.
      E – ( ) era norma do navio.  

3ª QUESTÃO: “Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer:”  A palavra destacada poderá ser substituída, sem alterar o sentido da frase, por:
       A – ( ) agitado.
       B – (X) desmaiando.
      C – ( ) disposto.
      D – ( ) esperto.
      E – ( ) atento.

4ª QUESTÃO: Marque a opção correta:

       A – (X) “O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria agradável...” Na frase acima, o mar foi personificado.
       B – ( ) “Em cima do mastro, Khala, animadíssimo, fazia seu melhor número.” O adjetivo animadíssimo encontra-se no grau comparativo de igualdade.
       C – ( ) “Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a dançar...” Imediatamente é o mesmo que nervosamente.
       D – ( ) “Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu...” O vocábulo é classifica-se como monossílabo átono.
       E – ( ) “— Ei, moço!...” A vírgula foi usada para separar a palavra que indica uma explicação.

5ª QUESTÃO: De acordo com o Texto , o macaco conseguiu entender o que o golfinho dizia, porque:
       A – ( ) ele falava a língua dos golfinhos.
       B – ( ) entendia qualquer idioma.
       C – (X) estava habituado à linguagem do mar.
       D – ( ) viveu algum tempo entre os golfinhos.
       E – ( ) era o rei do mar.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

CONTO: O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE
                 Luís da Câmara Cascudo
 

        Um estudante e um padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo. Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo dividi-lo, mesmo porque chegaria um pequenino pedaço para cada um, o padre resolveu que todos dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito, pensando engabelar todos com os seus recursos oratórios. Todos aceitaram e foram dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
        Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e cada qual teve de contar o seu sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia. O caboclo sorriu e falou:
        --- Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava:
        --- Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo.
        Então, Vosmincês respondiam de longe, do céu:
        --- Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos do céu, não queremos queijo.
        O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me enquanto vosmincês dormiam e comi o queijo...

          CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil.           Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp. 1986. p. 213.

1 – O primeiro parágrafo nos mostra todo um percurso narrativo. Divida-o nas partes estudadas.
     Apresentação: primeiro período.
     Complicação: de “Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra” até “Todos aceitaram e foram dormir”.
     Clímax: o caboclo comeu o queijo.
     O desfecho: coincide com o clímax.

2 – Os tempos verbais utilizados nesse primeiro parágrafo estabelecem um jogo temporal semelhante ao que ocorre no texto “Segura a onça que eu sou caçador de preá”? Comente.
     Essencialmente, o jogo temporal é o mesmo, baseando-se no perfeito e no imperfeito do indicativo. O aluno deve observar, no entanto, que nesse texto surge o futuro do pretérito, outro tempo típico da narração.

3 – Que tipo de narrador o texto utiliza? Retire dele uma passagem em que se perceba a profundidade com que são apresentados os personagens.
     O narrador é de terceira pessoa, onisciente. O aluno deve perceber que ele é capaz de relatar até mesmo pensamentos íntimos do padre (“... pensando engabelar todos com seus cursos oratórios...”).

4 – No segundo parágrafo surge a forma verbal sonhara. Justifique o emprego desse tempo analisando-o no período em que aparece.
     Sonhara (assim como ter sonhado) é forma do mais-que-perfeito do indicativo, apropriada para exprimir um fato passado em relação a outro dato passado. No caso o ato de sonhar foi anterior ao ato de narrar.

5 – Em que partes do texto ocorre discurso direto? Releia atentamente as manifestações desse tipo de discurso e responda:
     O discurso direto surge no final do texto, no momento em que o caboclo conta seu sonho.

a)   Elas servem para a caracterização mais completa de algum personagem?
Sem dúvida, o discurso direto acentua o caráter “caipira” do caboclo.

b)   Há uma relação entre o uso dos discursos direto e indireto e o papel de cada um dos personagens do texto?
O narrador utilizou o discurso direto para apresentar a fala do personagem que centraliza as atenções. Dessa forma, o narrador conta o que o padre e o estudante disseram, mas mostra aquilo que o caboclo disse.

6 – Aponte o início do trecho em que o caboclo assume o papel de narrador do próprio sonho dando início a uma narrativa em primeira pessoa dentro da narrativa maior.
     “Eu sonhei que via...”

7 – O desfecho do texto é surpreendente em relação ao que se esperava que acontecesse entre três personagens apresentados e caracterizados? Comente.
     Sem dúvida, o desfecho é surpreendente. Deve-se comentar com o aluno que se trata de uma narrativa popular bastante comum, em que a sabedoria “caipira”, aparentemente ingênua, consegue superar as artimanhas da escolaridade.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

TEXTO: NARRAÇÃO E NARRATIVAS - SAMIRA N. MESQUITA - COM GABARITO


TEXTO:NARRAÇÃO E NARRATIVAS

        Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioculturais têm prazer de ouvir e de contar histórias. Um romancista e ensaísta inglês, E. M. Forster, chama essa atividade de atávica, isto é, transmitida desde a idade mais remota da humanidade, ligada aos rituais pré-históricos do Homem de Neanderthl, força de vida e de morte, conforme sua capacidade de manter acordados ou de adormecer os membros de um grupo, nas noites dos primeiros dias... O mesmo autor cita ainda a protagonista de As mil e uma noites, Xerazade, que se salvou da morte contando histórias que, a cada noite, eram interrompidas em momentos de calculado suspense, a fim de motivar a curiosidade do sultão. A tal ponto chegou a habilidade da narradora, que, depois de mil e uma noites, o poderoso rei não só não a mandou matar, como também apaixonou-se e com ela se casou. Lembra o autor que todos nós somos como o sultão. Interessamo-nos intensamente pelo desenrolar de uma história bem contada. (Estão aí as novelas de TV, impondo a milhares de pessoas em todo o país, e até no exterior, um tipo massificante de lazer, num horário igualmente imposto).
        Todas as atividades que o inventar/narrar, ouvir/ler histórias envolvem podem ser associadas também à natureza lúdica do homem. O jogo é uma atividade muito presente em todas as situações do homem em sociedade. Sob as mais diversas formas, o fenômeno lúdico mantém um dignificado essencial. É um recorte na vida cotidiana, tem função compensatória, substitui os objetos de conflito por objetos de prazer, obedece a regras, tem sentido simbólico, de representação. Com realização, supõe agenciamentos manipulações, mecanismo, movimentos, estratégias.
        Constituir um enredo é começar um jogo. O narrador é um jogador, e forma, com o leitor e o próprio texto, o que se pode chamar uma comunidade lúdica.
        No ritual de se pegar um livro para ler ou de se sentar à volta ou diante de um narrador, uma tela de cinema ou de TV, para ler/ouvir contar-se uma história, desenrolar-se um enredo, tal como no exercício do jogo, há a busca de prazer, há tensão, competição, há a máscara, a simulação, pode haver até a vertigem.
                                           MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo.
                                                            São Paulo, Ática, 1986. p. 7-8.

1 – Podemos dizer que a primeira afirmação do texto é de caráter histórico?
     SIM. Pois coloca a questão abordada numa perspectiva temporal.

2 – Generalização é a “extensão de um princípio ou de um conceito a todos os casos a que se pode aplicar”. Podemos dizer que no início do texto é apresentada uma generalização? Explique.
     SIM. Pois os dois primeiros períodos do texto estendem o prazer de contar e ouvir histórias ao homem de todas as épocas e de todas as condições socioculturais.

3– Explique o significado da palavra atávica a partir do próprio texto.
     Atávico é aquilo que permanece no homem desde as origens da espécie humana.

4– O texto se refere a E. M. Forster para comprovar suas primeiras colocações. De que forma os fatos indicados pelo escritor inglês se relacionam com os dois primeiros períodos do texto?
     O caráter atávico da atividade narrativa, apontado por Forster, liga-se à afirmação de caráter histórico que abre o texto; já a alusão a Xerazade e ao sultão relaciona-se diretamente com o segundo período do texto, que estende a atividade narrativa a todas as camadas sociais. O aluno deve observar como a citação das proposições de Forster está simetricamente relacionada com o início do texto.

5 – Xerazade é caracterizada, no texto, por duas palavras. Aponte-as e explique seus significados.
     Protagonista: personagem principal de uma narrativa.
     Narradora: aquela que, numa narrativa, conta a história. São palavras que serão muito utilizadas no capítulo.

6 – Qual é, na sua opinião, a função do trecho colocado entre parênteses no final do primeiro parágrafo?
     Há uma função óbvia, que é a exemplificação; ao lado dela, percebe-se, no entanto, uma evidente intenção crítica. Foi provavelmente essa a razão pela qual a autora optou pelo uso dos parênteses.

7 – Relacione as ideias de suspense, história bem contada e novelas de TV.
     As novelas de TV são histórias bem contadas quando consideradas do ponto de vista das interrupções e momentos de calculado suspense.

8 – Explique o significado da expressão natureza lúdica a partir do próprio texto.
     É a parte da natureza humana ligada ao jogo, à brincadeira, à diversão.

9 – Qual o significado essencial das atividades lúdicas?
     É a sua capacidade de substituir os objetos de conflito por objetos de prazer, ou seja, aquilo que, na vida cotidiana, causa conflitos, disputas, insegurança é substituído, durante o jogo, por motivos de alegria e fruição.

10 – Explique o último período do segundo parágrafo, relacionando-o com o período que o antecede.
     A realização dos jogos gera a necessidade de manipulações, de mecanismos, de estratégias de ação; essa necessidade já está anunciada no período anterior, quando se fala das regras e do valor simbólico e representativo das atividades lúdicas.

11 – Explique o que é uma comunidade lúdica.
     É um conjunto de seres humanos e de instrumentos empenhados num jogo. No caso do jogo narrativo, compreende o narrador, o leitor e o próprio texto.

12 – Releia atentamente o texto e elabore um esquema capaz de mostrar o encadeamento das ideias colocadas pela autora. Para facilitar seu trabalho, procure extrair de cada parágrafo a ideia ou as ideias principais. A seguir, comente a importância da palavra também no segundo parágrafo.
     1º parágrafo: “Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioeconômicas têm prazer de ouvir e de contar histórias”.
     2º parágrafo: “Todas as atividades que o inventar/narrar... podem ser associadas também à natureza lúdica do homem”.
     3º parágrafo: “Constituir um enredo é começar um jogo”.
     4º parágrafo: Nas atitudes narrativas, há todas as manifestações típicas das atividades lúdicas.
     É a palavra também que conecta os dois momentos principais do texto: Aquele em que predomina a visão histórica e social da narração, e aquele em que a narração é vista como atividade essencialmente lúdica.

13 – Você concorda com a afirmação final do texto? Como tem sido sua experiência de jogador nas comunidades lúdicas de que participa.

     O aluno deve procurar refletir sobre sua vivência como emissor e receptor de textos narrativos na prática cotidiana. Deve-se observar que os adolescentes têm por hábito contar suas experiências uns aos outros, às vezes em grupos que atravessam noites narrando.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

CRÔNICA:UM IDOSO NA FILA DO DETRAN - ZUENIR VENTURA - COM GABARITO

crônica:UM IDOSO NA FILA DO DETRAN


 Zuenir Ventura


"O senhor aqui é idoso", gritava a senhora para o guarda, no meio da confusão na porta do Detran da Avenida Presidente Vargas, apontando com o dedo o tal "senhor". Como ninguém protestasse, o policial abriu o caminho para que o velhinho enfim passasse à frente de todo mundo para buscar a sua carteira.
Olhei em volta e procurei com os olhos 0 velhinho, mas nada. De repente, percebi que o "idoso" que a dama solidária queria proteger do empurra-empurra não era outro senão eu.
Até hoje não me refiz do choque, eu que já tinha me acostumado a vários e traumáticos ritos de passagem para a maturidade: dos 40, quando em crise se entra pela primeira vez nos "entra"; dos 50, quando, deprimido, salte que jamais vai se fazer outros 50 (a gente acha que pode chegar aos 80, mas aos 100?); e dos 60, quando um eufemismo diz que a gente entrou na "terceira idade". Nunca passou pela minha cabeça que houvesse uma outra passagem, um outro marco, aos 65 anos. E, muito menos, nunca achei que viesse a ser chamado, tão cedo, de "idoso", ainda mais numa fila do Detran.
Na hora, tive vontade de pedir à tal senhora que falasse mais baixo. Na verdade, tive vontade mesmo foi de lhe dizer: "idoso é o senhor seu pai. O que mais irritava era a ausência total de hesitação ou dúvida. Como é que ela tinha tanta certeza? Que ousadia! Quem lhe garantia que eu tinha 65 anos, se nem pediu pra ver minha identidade? E 0 guarda paspalhão, por que não criou um caso, exigindo prova e documentos? Será que era tão evidente assim? Como além de idoso eu era um recém-operado, acabei aceitando ser colocado pela porta adentro. Mas confesso que furei a fila sonhando com a massa gritando, revoltada: "esse coroa tá furando a fila! Ele não é idoso! Manda ele lá pro fim!" Mas que nada, nem um pio.
O silêncio de aprovação aumentava o sentimento de que eu era ao mesmo tempo privilegiado e vítima — do tempo. Me lembrei da manhã em que acordei fazendo 60 anos: "Isso é uma sacanagem comigo", me disse, "eu não mereço." Há poucos dias, ao revelar minha idade, uma jovem universitária reagira assim: "Mas ninguém lhe dá isso." Respondi que, em matéria de idade, o triste é que ninguém precisa dar para você ter. De qualquer maneira, era um gentil consolo da linda jovem. Ali na porta do Detran, nem isso, nenhuma alma caridosa para me "dar" um pouco menos.
Subi e a mocinha da mesa de informações apontou para os balcões 15 e 16, onde havia um cartaz avisando: "Gestantes, deficientes físicos e pessoas idosas." Hesitei um pouco e ela, já impaciente, perguntou: "O senhor não tem mais de 65 anos? Não é idoso?"
— Não, sou gestante — tive vontade de responder, mas percebi que não carregava nenhum sinal aparente de que tinha amamentado ou estava prestes a amamentar alguém. Saí resmungando: "não tenho mais, tenho só 65 anos."
O ridículo, a partir de uma certa idade, é como você fica avaro em matéria de tempo: briga por causa de um mês, de um dia. "Você nasceu no dia 14, eu sou do dia 15", já ouvi essa discussão.
Enquanto espero ser chamado, vou tentando me lembrar quem me faz companhia nesse triste transe. Ai, se não me falha a memória — e essa é a segunda coisa que mais falha nessa idade —, me lembro que Fernando Henrique, Maluf e Chico Anysio estariam sentados ali comigo. Por associação de ideias, ou de idades, vou recordando também que só no jornalismo, entre companheiros de geração, há um respeitável time dos que não entram mais em fila do Detran, ou estão quase não entrando: Ziraldo, Dines, Gullar, Evandro Carlos, Milton Coelho, Jânio de Freitas (Lemos, Cony, Barreto, Armando e Figueiró já andam de graça em ônibus há um bom tempo). Sei que devo estar cometendo injustiça com um ou com outro — de ano, meses ou dias —, e eles vão ficar bravos. Mas não perdem por esperar: é questão de tempo.
Ah, sim, onde é que eu estava mesmo? "No Detran", diz uma voz. Ah, sim. "E o atendimento?" Ah, sim, está mais civilizado, há mais ordem e limpeza. Mas mesmo sem entrar em fila passa-se um dia para renovar a carteira. Pelo menos alguma coisa se renova nessa idade.

1.  O texto promove uma discussão sobre:
    a) a velhice, de forma dissertativa e crítica
    b)      a velhice, com humor e desprendimento
    c)    a qualidade do serviço público no país
    d)     os limites de idade para conceder benefícios a idosos
    e)    os serviços prestados pelo DETRAN

2.            “O silêncio de aprovação aumentava o sentimento de que eu era ao mesmo tempo privilegiado e vítima — do tempo.” O fragmento em destaque demonstra uma atitude de:
    a)  melancolia
    b)   resignação
    c)  raiva
    d)  revolta
    e)   pena

3.           Ao longo do texto, o autor encontra um motivo para aceitar de forma mais calma sua condição. Esse é:
     a)   o fato de ser atendido mais rapidamente
     b)  o bom nível do atendimento na repartição pública
     c)   o longo tempo de vida
     d)  a possibilidade de viver ainda mais
     e)  outras pessoas que estariam na mesma situação que ele

4.           A classificação mais adequado para o gênero do texto é:
     a)  conto
     b)     romance
    c)    artigo
    d)   crônica
    e)  reportagem

5.           No terceiro parágrafo do texto, o autor se refere a um eufemismo, que pode ser assim interpretado:
    a)   a terceira idade é somente uma forma suave de dizer que você está velho
     b)   passar dos sessenta não é entrar na terceira idade, pois esta só ocorre depois dos oitenta anos.
     c)   a terceira idade é o momento da maturidade e também da liberdade, já que não há mais a obrigação do trabalho nem do sustento dos filhos. É, portanto, o melhor momento da vida.
     d)   não existe terceira idade. O que há é a infância e a velhice, nada mais
      e) na terceira idade, você ganha o direito de ser chamado de idoso, e não mais de velho, consistindo aí o eufemismo apontado pelo autor.