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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): LINHAS TORTAS - GABRIEL O PENSADOR - COM GABARITO

Música(Atividades): Linhas Tortas

                                                Gabriel O Pensador
Alguns às vezes me tiram o sono
Mas não me tiram o sonho
Por isso eu amo e declamo, por isso eu canto e componho
Não sou o dono do mundo, mas sou um filho do dono
Do verdadeiro Patrão, do verdadeiro Patrono

- E aí, Gabriel, desistiu do cachê?
- Cancelei um trabalho aí pra não me aborrecer
- Explica melhor, o que foi que você fez?
- Tá, tudo bem, eu explico pra vocês

Tudo começou na aula de português
Eu tinha uns cinco anos, ou talvez uns seis
Comecei a escrever, aprendi a ortografia
Depois as redações, para a nossa alegria
Professora dava tema-livre, eu demorava
Pra escolher um tema, mas depois eu viajava
E nessas viagens os personagens surgiam
Pensavam, sentiam, choravam, sorriam
Aí a minha tia-avó, veja só você
Me deu de aniversário uma máquina de escrever
Eu me senti um baita jornalista, tchê
Que nem a minha mãe, que trabalhava na TV
Depois, já aos quinze, mas com muita timidez
Fiquei muito sem graça com o que a professora fez
Ela pegou meu texto e leu pra turma inteira ouvir
Até fiquei feliz, mas com vontade de fugir
Então eu descobri que já nasci com esse problema
Eu gosto de escrever, eu gosto de escrever, crer, ver
Ver, crer, eu gosto de escrever e escrevo até até poema

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

- Ih, pensador, isso é grave, hein!

É, vovó dizia que eu já escrevia bem
Tentei me controlar, me ocupar com um esporte
Surf, futebol, mas não era o meu forte
Um dia eu fiz uns raps e achei que tava bom
Me batizei de Pensador e quis fazer um som
Ficar famoso e rico nunca foi minha meta
Minha mãe já era isso, eu só queria ser poeta
Meu pai, um homem sério, um gaúcho de POA
Formado em medicina, não podia acreditar
Ao ver o seu garoto Gabriel
Com um fone nos ouvidos, viajando com a caneta no papel
- O que cê tá fazendo? Vai dormir, moleque!
- Ah, pai, peraí, eu só tô fazendo um rap!
Ninguém sabia bem o que era, mas eu tava viciado naquilo
E viciei uma galera!

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

Não tô vendendo crack, não tô vendendo pó
Não tô vendendo fumo, não tô vendendo cola
Mas muitos me disseram que o que eu faço é viciante
E vicia os estudantes quando eu entro nas escolas
Até os professores às vezes se contaminam
Copiam minhas letras e textos e disseminam
Sementes do que eu faço, já não sei se é bom ou mau
Mas sei que muito aluno começa a fazer igual
Escrevendo poemas, escrevendo redações
Fazendo até uns raps e umas apresentações
Me lembro dos meus filhos e a saudade é cruel
Solidão me acompanha de hotel em hotel
Casamento acabou, eu perdi na estrada
O amor que ainda tenho é o amor da palavra
É falar e cantar, despertar consciências
Dediquei a vida a isso e a maior recompensa
É servir de referência pra quem pensa parecido
Pra quem tenta se expressar e nunca é ouvido
É olhar pra minha frente e enxergar um mar de gente
E mergulhar no fundo dos seus corações e mentes
É esse o meu mergulho, não é o do Tio Patinhas
É esse o meu orgulho, escrever as minhas linhas
Escrevo em linhas tortas, inspirado por alguém
Que me deu uma missão que eu tento cumprir bem
Escuto os corações, como um cardiologista
Traduzo o que eles dizem como faz qualquer artista
Que ganha o seu cachê, que é fruto do trabalho
De cigarra e de formiga, e eu não sei o quanto eu valho
Mas sei que quando eu ganho, divido e multiplico
E quanto mais eu vou dividindo, mais fico rico
Rico da riqueza verdadeira que é de graça
Como um só sorriso que ilumina toda a praça
Sorriso emocionado de um senhor experiente
Em pé há duas horas debaixo do sol quente
Ouvindo os meus poemas em total sintonia
Eu sou ele amanhã, e hoje é só poesia.

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão

Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão.

Interpretação do texto:
01 – Em torno de qual assunto gira a história?
      Estimula a prática da leitura e escrita, e de uma melhor educação para o país.

02 – O autor conta algo pessoal ou alheio? Justifique com trechos da letra.
      Algo pessoal. Relata quando começou a escrever no trecho:
      “Tudo começou na aula de português
      Eu tinha uns cinco anos, ou talvez uns seis.
      Comecei a escrever, aprendi a ortografia”.

03 – Que pessoas influenciaram a vida do autor no que diz respeito à sua escrita? Descreva algumas situações.
      “Aí a minha tia-avó, veja só você
      Me deu de aniversário uma máquina de escrever.”
      “Meu pai, eu confesso, eu faço prosa e verso”
      “É, vovó dizia que eu já escrevia bem.”

04 – O autor diz que nasceu com um problema, que gosta de escrever, ver e crer. Qual a relação entre essas três atividades?
      Ver o título a que pretende escrever.
      Crer que aquelas palavras são as ideais para a prosa e versos.
      E por fim escrever a poesia, onde ele coloca todos seus sentimentos.

05 – Ao lermos a canção, vemos que o autor trata sobre a poesia e a arte de escrever. Mas não só o conteúdo traz isso, a forma e a escrita da música também. Aponte recursos poéticos presentes na música, como rimas ou figuras de linguagem.
      Rimas imperfeitas.
Metáfora nos versos. “Algumas às vezes me tiram o sono”, “Professora dava tema-livre, eu demorava pra escolher um tema, mas depois eu viajava...” “Com um fone nos ouvidos, viajando com a caneta no papel”.
Assíndeto – “E nessas viagens os personagens surgiam, pensavam, sentiam, choravam, sorriam”.
Assonância – Predominância de em toda a música.
                                 
06 – Durante a música, o autor fala sobre seus anseios e desejos. Qual o maior desejo do poeta? Do que ele tem medo?
      Seu maior desejo é despertar consciências, dedicou a vida a isso e a maior recompensa é servir de referência pra quem pensa parecido. Quanto ao medo de não cumprir a missão que lhe foi dada, segundo os versos: “Escrevo em linhas tortas, inspirado por alguém que me deu uma missão que eu tento cumprir bem.

07 – Escreva um parágrafo contendo um de seus sonhos.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – No trecho: “Meu pai, um homem sério, um gaúcho de POA”, o que significa POA?
      Porto Alegre – RS.

09 – Qual era o grande sonho do autor?
      Amar, declamar, cantar e compor.

10 – Copie um verso escrito na fala coloquial-popular.
      "Ah, pai, perai, eu só tô fazendo um rap!"



domingo, 31 de outubro de 2021

TEXTO INFORMATIVO: ENSINAR PROGRAMAÇÃO É A NOVA ALFABETIZAÇÃO - CAMILA ACHUTTI - COM GABARITO

 Texto: Ensinar programação é a nova alfabetização

            Camila Achutti


  Eu queria começar... refletindo com vocês: Quando que a gente decidiu aprender a ler e escrever? Existiu algum momento em que os nossos pais foram chamados na escola e perguntaram pra eles se tudo bem, se eles transformassem radicalmente o cérebro dessas crianças para desenvolverem grafomotricidade? Outra boa pergunta seria... a gente lá, bem pequenininha com três anos: “Oi fofura! Então, a gente vai mudar um pouco seu cérebro, tá? A gente vai colocar uma área nova que a gente vai apelidar de caixa de correio para você poder salvar todas as letras que você vai aprendendo, tá bom? Mas só tem mais um detalhezinho: vai ser do meu jeito, no meu tempo, tudo bem? Mas pode ficar tranquilo porque a gente é bem bom nisso.

        Não, pessoal, essas perguntas não acontecem. E, quando eu falo assim, elas soam absurdas.

        Imagina, ninguém mais questiona a necessidade da gente aprender a ler e escrever. Apesar disso não ser um processo nem um pouco natural. Aliás, ele não é nem um pouco simples. A gente tem todo um processo. A gente tem que começar se familiarizando, como que a gente segura no lápis? Eu, por exemplo, decidi segurar com a mão esquerda, outros com a mão direita. Aí a gente começa a passar por cima de linhas pontilhadas. Aí a gente reconhece letra, junta em palavra, faz sentença, começa a complicar, vira texto, aí vira uns textos muito grandes, vira uns livros, certo? Não é fácil, pessoal! E a gente tem que passar por todo esse processo, porque o nosso cérebro não nasceu preparado pra isso, diferente da linguagem oral, certo?

        A gente tem que passar por uma reciclagem neural, olha que nome bonito, onde vastas áreas do nosso cérebro passam a desempenhar funções que elas não foram criadas para isso. Só que a gente acha isso tão, mas tão importante, que a gente desenvolveu área de pesquisa, cartilha, método, livro, professores especialistas em alfabetizar crianças. A gente de fato manda muito bem. Só que agora eu queria que vocês pensassem comigo, que, apesar de a nossa taxa de analfabetização ter caído muito desde a época dos escribas, a gente está revivendo essa época. Só que agora eles são digitais. Alguns poucos dominam como conversar muito bem com as máquinas, conseguem se valer disso, e têm sucesso. Enquanto outros tantos, eles são meros usuários.

        Usuários que estão sendo programados, usuários que estão só usando o que é imposto no trabalho ou pela sociedade. A gente precisa se dedicar para a alfabetização digital, assim como a gente se dedicou para a alfabetização tradicional. E essa discussão não é nem um pouco nova, aliás é uma das mais velhas, que é: “O que é que a gente tem que ensinar na escola?”. Na Roma antiga, a gente decidiu que a gente precisava de sete artes liberais. Que na época eram ciências, mas pra gente é tudo a mesma coisa. A gente decidiu que tinha que ter gramática, tinha que ter retórica, tinha que ter dialética, tinha que ter música, astronomia... É importante, afinal, pra humanidade continuar se desenvolvendo; a gente precisava daquilo. Aí vem a Renascença, séculos XV e XVI, a gente colocou algumas outras matérias.

        A gente começou a ensinar as crianças a soletrar, mas a gente evoluiu mesmo nessa época em como ensinar as coisas. A gente inventou a pedagogia didática foi bem nessa época. Veio o século XVIII, a gente começou a ensinar várias outras coisas... História, geografia, línguas estrangeiras também começaram a fazer sentido, o mundo tinha crescido. Mas a nossa surpresa veio nos séculos XIX e XX. Aí deslanchou, pessoal, tudo se acelerou! A gente avançou muito, muito mesmo, em arte, ciência e tecnologia, a gente estava manjando de tudo. Só que aí a gente teve que industrializar... Inclusive a escola, a gente fez uma escola de massa, e colocou uns 40, 50 alunos por turma, colocou cada matéria na sua caixinha, cada professor superespecializado naquilo, ele era um mestre, certo?

        Ele tinha que ser o mestre, eu precisava saber tudo, eu precisava saber biologia, história, geografia... Como que eu ia suportar todo o desenvolvimento que a gente teve? A gente... inclusive uma parte que eu adoro, que a gente inventou, que foi a avaliação. A gente agora tinha avaliação matemática. Era ponto. Só que era totalmente baseado na subjetividade de uma pessoa só. O mestre, certo, pessoal? Só que eu tenho uma notícia, e ela não é fácil... nada disso faz sentido no século XXI... E aí? Eu vou dar um exemplo bem simples, só que é do meu trauma de biologia. Decorar: em qual filo e classe estão os animais e as plantas?

        Faz sentido? Fazia, porque vai que eu estava no meio da floresta, eu tinha que decidir se eu comia a frutinha rosa ou se eu cor ria do bichinho peludo. Beleza, eu tinha que identificar algumas características, pôr numa caixinha e falar: Humm, esse aí come carne vou correr! Agora, pessoal, qualquer criança de 10 anos, com smartphone, tira uma foto, procura no Google, voilà... Sabe até como o bicho se reproduz, bem rápido, certo, pessoal? O que importa agora, no século XXI, no século da internet, no século do smartphone, do software, o que importa é a gente saber criar relação, é a gente ser criativo, é a gente ter senso crítico do que tudo isso funciona, de como tudo isso funciona. É isso que importa. Mas a escola, a escola ainda está ensinando pra gente: decoreba.

        Saber como as coisas são feitas muda como a gente usa. Eu garanto pra vocês, pessoal, que se vocês soubessem como a gente salva as senhas de vocês, e todo o trabalho que a gente tem para mantê-las seguras lá, eu garanto que vocês iam pensar umas dez vezes antes de sair criando conta por aí. Só acho. Reflitam, certo? A gente precisa começar a ensinar essa criançada como se valer disso. A gente precisa ensinar a linguagem do século XXI. A gente precisa ensinar nossas crianças a programar. E, olhando assim, vocês vão pensar: “Que fofa, ela vem aqui, critica o sistema inteiro, acha que pode e não vai dar nem um plano?”. Calma, eu tenho um plano.

        Para a gente mudar qualquer situação, a gente precisa de três coisas: Primeiro, uma crítica de como as coisas estão. Segundo, uma visão de como a gente acha que as coisas deveriam ser. E, por último, e mais difícil, uma teoria de mudança... que é a par te mais complicada.

        Primeiro vou começar pela minha crítica, que, na verdade, não é uma só, vocês já perceberam... Mas eu vou resumir ela. A gente não pode continuar acreditando que as nossas crianças, simplesmente porque a gente chama elas de nativos digitais, sabem tudo de tecnologia. Pessoal, saber de tecnologia não é sentar pra almoçar ou jantar e bem rapidinho pegar o tablet e colocar o desenho. Isso não é saber de tecnologia. Nenhuma dessas crianças sabe explicar por que... Como que aquele aplicativo foi feito?

        Elas não têm senso crítico. Eu vou dar um exemplo pra vocês. Quando eu pergunto pra uma criança: O que é dar um share, que é aquele compartilhar no Facebook, para quem não está ligado nas coisas, que é apertar o botão lá. E eu não estou falando isso da boca pra fora, pessoal. Nesses últimos anos, passaram pela minha mão pelo menos 15 mil jovens. De todos os gêneros, idades, origens... E se a gente perguntar pra eles, nativos digitais, que são aqueles que nasceram depois de 2000, o que é dar um share, eles olham pra você: “Nossa, tia, você não sabe que é apertar um botão?”. Nós, imigrantes digitais que estamos aqui – e, apesar dos meus 24 anos e da minha profissão, eu me encaixo nesse grupo –, a gente sabe que dar um share quer dizer muito mais do que isso. Quer dizer que eu estou dando apoio, quer dizer que eu estou endossando aquela opinião.

        Não ter essa leitura crítica, pessoal, é muito perigoso. Bom, depois do meu resumo das minhas 9 milhões de críticas, vamos à minha visão, que é bem simples. A gente precisa colocar programação, pensamento computacional, vida digital no currículo comum de todas as crianças no sistema educacional brasileiro. A gente não pode mais evitar essa discussão.

        Pra acabar, a parte mais difícil, que é a teoria de mudança, e ela já começa enrolada. Porque vamos supor que a gente decidiu aqui que a gente vai ensinar todas as crianças a programar. Quem que vai fazer isso? Quem que vai decidir o conteúdo? A gente não tem mão de obra suficiente, pessoal, para suprir o mercado.

        Que dirá o sistema educacional brasileiro. A gente precisa de uma verdadeira revolução. A gente precisa pegar os nossos professores que já estão lá, que são apaixonados por aquilo, e tirar deles a pressão de ser expert. A gente tem que transformar eles em facilitadores. A gente tem que ajudar eles com material bacana, com treinamento show, a acompanhar a jornada desses jovens. Eles vão aprender como eles podem ficar seguros na internet, eles vão aprender: Como que a gente faz um aplicativo? Com esses mesmos mestres que se sentem inseguros e que acham que programação são letrinhas verdes numa tela preta, que o menino do Vale do Silício aprendeu com cinco anos e aí ele ficou milionário com 18, só com isso. A gente tem que quebrar essas barreiras. E eu queria aproveitar esse momento e os poucos minutos que me faltam pra chamar vocês pra se juntar nessa revolução.

        A gente que está em alguma instância relacionada com o sistema educacional, a gente tem três opções. A primeira, se a gente for parte do sistema, a gente pode gerar alguma mudança, estando no sistema. Por exemplo, se vocês chegarem na sala de aula de vocês e discutirem com seus alunos, plantarem aquela pulguinha de: “Como que nasce um aplicativo, como se faz um aplicativo?”. Hoje tem muita coisa na internet. Vocês já podem fazer essa mudança, e se juntar a esse movimento. Segunda situação possível: vocês podem pressionar o sistema, e aí eu vou dar uma dica ótima! Vai na escola do seu bairro e pergunta se a sala de informática está joia. Provavelmente ela não vai estar. Mas, só pra vocês saberem, isso é lei, pessoal. Todas as escolas têm que ter sala de informática aberta ao público.

        Vocês podem pressionar o sistema. Por último, você pode simplesmente... evitar entrar no sistema e tomar atitudes fora dele, que é o que eu tenho feito, vou confessar. E aí você pode simplesmente sentar com seus filhos e conversar sobre tecnologia e perguntar quais sites ele está acessando. Perguntar se ele tem ideia de como o Facebook funciona. Busquem juntos, aprendam juntos. Bom, era isso que eu tinha pra falar pra vocês. Espero que cada um de vocês continue me ajudando, e ajudando o mundo nessa revolução. O que eu posso garantir pra vocês é que eu vou continuar... tentando, nem que seja convencer uma pessoa de cada vez a fazer essa revolução. Obrigada!

ACHUTTI, Camila. Ensinar programação é a nova alfabetização. TEDxSão Paulo, jun. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zBqPg80l7xA>. Acesso em: 29 abr. 2019.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 195-204.

Entendendo o texto:

01 – Agora que você leu a transcrição da fala da palestrante Camila Achutti, retome as discussões iniciais que fez com seus colegas: 

a)   Que tipo de linguagem a palestrante empregou: mais formal ou informal? Era a que você havia suposto? Que tom a pesquisadora utiliza para convencer a plateia de que nos dias de hoje deve-se ensinar programação nas escolas?

Resposta pessoal do aluno.

b)   As suas hipóteses quanto às mudanças que devem acontecer no sistema escolar estão de acordo com o que Camila Achutti apresenta no seu discurso?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Com base nas afirmações feitas pela palestrante, você acha que as sugestões de mudança são ou não praticáveis?

Resposta pessoal do aluno.

02 – O texto que você leu foi apresentado em uma sessão de TED x São Paulo realizada no Estádio Palestra Itália, em São Paulo. Esse formato de palestras pode ser considerado inovador? Por quê?

      Sim porque se trata de comunicar um assunto em tempo recorde, 18 minutos, de modo criativo, objetivo e persuasivo, com o objetivo de comunicar o essencial com embasamento científico.

03 – Considere o formato da TED em comparação ao do seminário e responda:

a)   Por que as palestras da TED possuem 18 minutos? Faça uma breve pesquisa para descobrir o motivo.

Os idealizadores da TED acreditam que esse seja um tempo médio de concentração possível a um ser humano. Porém, não existem estudos que comprovem essa métrica.

b)   Quais são as dificuldades que você reconhece na preparação de uma apresentação com caráter científico em 18 minutos?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Como o formato da TED pode contribuir para aprimorar uma apresentação em seminário?

Ele pode servir como modelo para despertar o interesse da plateia para o tema, além de ser um formato útil para apresentar um tema de forma sintética.

04 – Pergunta retórica é uma interrogação que não tem como objetivo obter uma resposta, mas sim estimular a reflexão do indivíduo sobre determinado assunto.

a)   Camila Achutti inicia sua palestra lançando mão de perguntas retóricas. Quais?

As perguntas retóricas encontram-se no 1° parágrafo da transcrição.

b)   Qual pode ser a razão dessa linha de argumentação adotada.

Provavelmente o público-alvo composto de educadores preocupados em entender o efeito retroativo das tecnologias no sistema escolar.

05 – Em sua fala, a palestrante tece brevemente uma retrospectiva histórica da formação das disciplinas escolares.

a)   O que ela pretende ao fazer essa retrospectiva?

Ela pretende invalidar a força dessa tradição histórica, considerando a existência da tecnologia e levar o espectador a concordar com suas ideias.

b)   Ironia é um recurso de crítica comuns em textos orais ou escritos, charges, cartuns, etc. que possibilita ao ouvinte perceber a intenção do falante. Qual pode ter sido a intenção de Camila ao empregar ironia em sua fala?

A intenção de criticar de forma humorada o sistema escolar vigente.

c)   Selecione partes do texto ou expressões que comprovem isso.

“Vai ser do meu jeito”; “a gente é bem bom nisso”; “Ele tinha que ser o mestre, eu precisava saber tudo, eu precisava saber biologia, história, geografia... Como que eu ia suportar todo o desenvolvimento que a gente teve? A gente... inclusive uma parte que eu adoro que a gente inventou, que foi a avaliação. A gente agora tinha avaliação matemática. Era ponto. Só que era totalmente baseado na subjetividade de uma pessoa só. O mestre, certo, pessoal?”.

06 – Em explanação, a autora utiliza um argumento como fio condutor.

a)   Qual é esse argumento?

O argumento de que é necessário repensarmos as formas de ensinar e as adaptarmos ao século XXI, principalmente no que se refere à alfabetização digital.

b)   Que palavras ou expressões do texto justificam a resposta anterior?

Possibilidades de trechos: “nada disso faz sentido no século 21...”, “A gente precisa se dedicar para a alfabetização digital, assim como a gente se dedicou para a alfabetização tradicional...”, “Não ter essa leitura crítica, pessoal, é muito perigoso”, etc.

07 – Pelo discurso da palestrante, é possível saber qual seria o público-alvo na palestra.

a)   Que parte do texto nos dá essa pista?

Sim, a palestrante se dirige a educadores. “A gente que está em alguma instância relacionada com o sistema educacional, a gente tem três opções.”.

b)   Se você estivesse presente nessa conferência como você reagiria ao que ela propõe? O que ela propõe?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, ela apresenta uma proposta e quer ser aceita em suas ideias revolucionárias de formar uma geração que saiba lidar com as informações digitais de forma crítica, ativa, responsiva e que atribua significado a cada ação realizada virtualmente.

08 – Na transcrição da fala da palestrante existem muitas marcas características da oralidade. Complete a tabela com exemplos dessas marcas. Características – Marcas de oralidade.

Repetições: “A gente precisa colocar programação...”; “A gente não pode mais evitar...”; “A gente precisa de uma verdadeira revolução...”; “A gente precisa... pegar os nossos professores...”; “A gente tem que transformar...”; “A gente tem que ajudar eles...”; “A gente tem que quebrar essas barreiras...”; “A gente que está em alguma...”; “A gente tem três opções...”; “A gente pode gerar alguma mudança...”.

Diálogo com o interlocutor: “Eu queria começar... refletindo com vocês...”; “Eu garanto pra vocês, pessoal, que se vocês soubessem como a gente salva as senhas de vocês, e todo o trabalho que a gente tem para mantê-las seguras lá, eu garanto que vocês iam pensar umas dez vezes antes de sair criando conta por aí. Só acho, reflitam, certo?”; “E eu queria aproveitar esse momento e os poucos minutos que me faltam pra chamar vocês pra se juntar nessa revolução...”.

Discurso de referência a si mesmo: “E, olhando assim, vocês vão pensar: ‘Que fofa, ela vem aqui, critica o sistema inteiro, acha que pode e não vai dar nem um plano?’. Calma, eu tenho um plano.”.

Contrações de palavras: “... nossos pais foram chamados na escola e perguntaram pra eles se tudo bem”; “Eu garanto pra vocês, pessoal”.

Colocações pronominais ou recursos de regência fora do padrão formal: “...mas eu vou resumir ela”, “questiona a necessidade da gente aprender”; “A gente tem que transformar eles em facilitadores. A gente tem que ajudar eles com material bacana, com treinamento show, a acompanhar a jornada desses jovens.”.

Gírias: “material bacana”; “treinamento show”; “... que é aquele compartilhar no Facebook para quem não está ligado nas coisas”; “tira uma foto, procura no Google, voilà...”; “Beleza, eu tinha que identificar algumas...”.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

CRÔNICA: MUAMBAS DE LUXO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Muambas de Luxo

                Walcyr Carrasco

 

HÁ DUAS SEMANAS FIZ as malas e parti para os Estados Unidos. Férias! Ainda sou do tipo caipira, que quando vai pegar um avião anuncia aos quatro ventos. Nunca mais farei isso. Mal contei, começaram as encomendas:

— Você me compra creme de barbear? — pediu um.

— Aqui existem tantas marcas...

— O que eu gosto é americano. Nas lojas, cobram 7 reais.

  Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-tEsKkRkvqNOBAMPkyPYiWifPeA0z-1U1bhOYQtnlPnkhOccsOe9dWGueDOd_deI3RzF5XNjIozvi2SW91woM0PQviSqW84AYqEOnNSv33V_QjH8HlO4l8cAC2kR9IzMV465SSFsrkbtt8pdfXL8h7SMu5efo4NAyIbwQowmu5_a1KU95W0UjU2c-qsY/s1600/MUAMBAS.jpg



         No free shop, só 4!      .        .

Nos dias seguintes recebi uma enxurrada de telefonemas:

— Eu uso um perfume que é caríssimo no Brasil.

— Uma vez eu ganhei um relógio com um cachorrinho que late ao despertar. Da Disney. Arruma um para o meu sobrinho?

É um constrangimento. As pessoas se comportam como se estivessem no interior da selva amazônica, ávidas por gotas de civilização. Há pedidos completamente estapafúrdios. Meses atrás, um ator de voz afinada pediu a um amigo meu que ia a Nova York: "Não poderia trazer partituras musicais para um show?". O turista passou duas tardes correndo a cidade e achou algumas. Ao entregá-las, ouviu um rosnado:

— Só essas? Se tivesse procurado com vontade teria encontrado mais.

O show nunca foi montado. A amizade esfriou. Muitas vezes tentei

recusar, explicando:

— Vou a trabalho, nem sei se terei tempo...

A pessoa sempre insiste. Age como se fosse desfeita. Entre . o pedido e a entrega existem várias armadilhas capazes de acabar com uma amizade. Como a questão do preço. Certa vez um rapaz insistiu para que eu trouxesse um gravadorzinho. Comprei na primeira loja. Ainda me lembro do sorriso do chinês do balcão. Ao chegar, entendi o porquê de tanta alegria.

— Aqui no Brasil é muito mais barato!

— Você ainda queria que eu pechinchasse? -— admirei-me.

Ele me olhou torto, como se eu estivesse tirando algum por fora. Algumas situações ficam muito desagradáveis. Um advogado, conhecido meu, esqueceu-se de procurar um xampu. Ao voltar, comprou num shopping e o entregou à colega de escritório como se fosse trazido do exterior. Cobrou metade do que pagou. Só para não ficar chato. Foi pior: agora vai viajar de novo e a moça lhe deu uma lista enorme, para aproveitar o preço.

Pavoroso é o amigo que encomenda pôster. Não adianta bater o pé, dizer que não cabe em mala nenhuma, que serei obrigado à trazer na mão.

— E leve, qual o problema de carregar? — ouço de volta.

Nem sei como reagir diante da observação. Carregar tralha é horrível até em viagens curtas de ônibus, como de São Paulo a Santos. Quanto mais em aeroportos, onde se deve chegar duas horas antes, esperar para embarcar etc, etc. Será que ninguém pensa que em vez de fazer compras eu quero aproveitar a viagem? Bem, minha mãe dizia que pimenta nos olhos dos outros é refresco.

A frase mais terrível certamente é:

— Você traz que depois a gente acerta.

Por causa dela, cheguei a dar calote. Há alguns anos uma produtora teatral me pediu para encontrar um diretor em Nova York e pegar um texto com ele. Pagaria as despesas, explicou. Esperei no hotel, o homem não chegava. Eu tinha um compromisso, saí correndo. Voltei, encontrei o texto e um bilhete com a conta. Era um livro caríssimo, fora dos catálogos. Telefono para ele, não encontro. Ele liga de volta, deixa recado. Acabei partindo sem pagar. Foi a sorte. A produtora pegou o livro, sorriu, agradeceu, disfarçou e nem perguntou quanto custara. Ou seja: eu também não iria receber.

Finalmente aprendi. Ao desembarcar em Cumbica, fui ao free shop tratar das encomendas. Fiquei uma hora escolhendo licores, chocolates, latinhas de patê, telefones sem fio. Cheguei aos perfumes. De todos, só não havia o meu. Senti-me injustiçado. Estava lá, camelando com as compras, e para mim nada? Podem me chamar de egoísta. Abandonei o carrinho.

Os amigos fazem de tudo para transformar o turista em ás do contrabando. Decidi: encomendas, não mais. Sei de gente que ficará de nariz torcido. Assumo: odeio peregrinar pelas lojas, carregar malas, esfalfar-me nos aeroportos. Para muambeiro de luxo, nunca tive vocação.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema principal abordado na crônica "Muambas de Luxo" de Walcyr Carrasco?

a. Comportamento dos turistas em viagem.

b. A experiência de compras em free shops.

c. Dicas de viagem para os Estados Unidos.

d. Histórias engraçadas de malas extraviadas.

   02. Qual é o sentimento do autor em relação às encomendas feitas por amigos e conhecidos durante sua viagem?

          a. Alegria por ajudar.

          b. Indiferença.

          c. Frustração e irritação.

          d. Entusiasmo por fazer compras.

   03. Por que o autor descreve seus amigos como transformando-o em um "ás do contrabando"?

         a. Porque gostam de envolvê-lo em atividades ilegais.

         b. Porque o incentivam a trazer produtos de forma clandestina.

         c. Porque esperam que ele traga produtos de forma vantajosa durante suas viagens.

         d. Porque querem colecionar itens exóticos trazidos por ele.

   04. O que o autor menciona como um dos pontos negativos das encomendas que recebe durante suas viagens?

         a. O peso extra na bagagem.

         b. A falta de interesse dos amigos.

         c. O desinteresse das lojas em atender seus pedidos.

         d. A dificuldade de escolher os produtos certos.

 05. Qual foi a reação do autor ao descobrir que o gravador comprado no exterior era mais barato no Brasil?

         a. Ele ficou contente por ter conseguido um bom negócio.

       b. Ele se surpreendeu com a reação de seu amigo.

      c. Ele se sentiu mal por não ter pechinchado o preço.

      d. Ele achou engraçada a situação.

    06. O que aconteceu com o show que o autor ajudou a providenciar partituras musicais?

      a. O show foi um grande sucesso.

      b. O show foi cancelado.

      c. O autor não menciona o resultado do show.

      d. O autor não chegou a assistir ao show.

   07. Por que o autor decidiu não mais aceitar encomendas durante suas viagens?

      a. Porque seus amigos não apreciavam seus esforços.

      b. Porque ele não gosta de fazer compras.

      c. Porque a experiência se tornou desagradável e estressante.

      d. Porque ele prefere viajar sem bagagem.

  08.Qual foi a situação que levou o autor a dar um "calote" involuntário durante uma viagem?

      a. Ele esqueceu de pagar uma conta de hotel.

      b. Ele não conseguiu encontrar um diretor de teatro em Nova York.

      c. Ele foi enganado ao comprar um produto caro no exterior.

      d. Ele não recebeu o pagamento pelo livro que entregou.

  09. O que fez o autor abandonar suas compras no free shop ao final da crônica?

      a. Ele percebeu que estava gastando demais.

      b. Ele não encontrou o perfume que queria.

      c. Ele decidiu não mais comprar presentes para seus amigos.

      d. Ele sentiu-se injustiçado ao perceber que seus amigos não valorizavam seus esforços.

10. Qual é a conclusão principal que o autor tira ao final da crônica "Muambas de Luxo"?

       a. Ele decide viajar mais frequentemente para os Estados Unidos.

       b. Ele percebe que não gosta de fazer compras para os outros durante suas viagens.

       c. Ele conclui que seus amigos não são gratos por suas ajudas.

       d. Ele decide se mudar para o exterior permanentemente.

 

 

 

 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

CONTO: ROBBIE - (FRAGMENTO) - ISAAC ASIMOV - COM GABARITO

 Conto: Robbie – Fragmento

            Isaac Asimov

        — Noventa e oito, noventa e nove, cem.

        Gloria tirou o bracinho rechonchudo da frente dos olhos e ficou de pé por um instante, franzindo o nariz e piscando sob a luz do Sol. Então, tentando observar todas as direções ao mesmo tempo, ela se afastou com alguns passos cautelosos da árvore na qual estava encostada.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOvt1AbtK3sdgqcZb1HC4Nxp9x6Ld9mcRUANAYFR92jS6rassB-i3iMXvu_RIFdyMhHQpjwuEi_rlNLi_6yt4wbXLM51npRLarMUVJMu69cQs0uDyQmn47K9CT4GClD7uxjoV5LgJJHmG3OmXFixqDokCpUGgEbxVFI6X3LDPTQxkwNDcfn6uSR8eKKy8/s320/ROBO.jpg


        Ela levantou a cabeça para investigar as possibilidades de um amontoado de arbustos à direita, depois afastouse para obter um ângulo melhor a fim de ver seus vãos escuros. O silêncio era profundo, exceto pelo incessante zumbido de insetos e o ocasional gorjeio de um pássaro robusto, desafiando o sol do meio dia.

        — Aposto que ele foi para dentro de casa – disse Glória, fazendo beicinho –, e eu disse a ele um milhão de vezes que isso é justo.

        Apertando os pequenos lábios e fazendo uma carranca que lhe franzia a testa, ela seguiu de maneira resoluta para a construção de dois andares que ficava logo após a entrada da garagem para os carros.

        Ela ouviu, tarde demais, o farfalhar atrás de si, seguido pelo ploc-ploc característico e ritmado dos pés metálicos de Robbie. Ela se virou para ver seu companheiro triunfante sair do esconderijo e correr para a árvore a toda velocidade.

        Gloria gritou, aflita.

        — Espera, Robbie! Isso não foi justo, Robbie! Prometeu que não iria correr até eu encontrar você. – Seus pezinhos não conseguiriam fazer grandes progressos contra as passadas gigantescas de Robbie. Então, a pouco mais de três metros do alvo, as passadas de Robbie diminuíram de repente a um mero passo de tartaruga; com a última arrancada em velocidade, ela passou correndo por ele, ofegante, para tocar no tronco da árvore primeiro.

        [...]

        A sra. Weston esperou pacientemente por dois minutos, depois impacientemente por mais dois, e por fim quebrou o silêncio.

        -- George!

        -- Hum?

        -- George, estou falando com você! Quer fazer o favor de baixar esse jornal e olhar pra mim? 

        Farfalhando, o jornal caiu ao chão e Weston virou-se para a mulher com ar aborrecido.

        -- O que foi, querida?

        -- Você sabe o que é, George. É Gloria e aquela máquina terrível.

        -- Que máquina horrível?

        -- Não finja que não sabe do que eu estou falando. É aquele robô que Glória chama de Robbie. Ele não a deixa nem por um segundo.

        -- Bem, e por que ele deveria? Ele não deve deixá-la. E ele com certeza não é uma máquina horrível. É o melhor robô que dinheiro pode comprar e tenho certeza absoluta de que me custou a renda de seis meses. Mas ele valeu a pena, é muito mais esperto que metade do pessoal do meu escritório.

        Ele fez um movimento para pegar o jornal de volta, mas sua mulher foi mais rápida e o pegou com violência.

        -- Ouça o que eu digo, George. Não vou confiar a minha filha uma máquina, e não me importa quão esperta ela seja. Ela não tem alma e ninguém sabe o que pode estar pensando. Crianças simplesmente não foram feitas para serem protegidas por um coisa de metal.

        Weston franziu as sobrancelhas.

        -- Quando você decidiu isso? Ele está com Glória há anos e eu não vi você se preocupar até agora.

        -- Era diferente no começo. Era novidade, diminuiu a quantidade de trabalho que eu tinha e... e estava na moda. Mas agora não sei. Os vizinhos...

        -- Bom, o que os vizinhos têm a ver com isso? [...]

        A sra. Weston encontrou o marido à porta duas noites depois.

        -- Você precisa ouvir isso, George. Há um mau pressentimento na vizinhança.

        -- Sobre o quê? – perguntou Weston. Ele entrou no lavatório e sufocou qualquer resposta possível com o esguicho da água.

        A sra. Westoon esperou.

        -- Sobre Robbie – respondeu ela.

        Weston saiu do lavatório com a toalha na mão, o rosto vermelho e bravo.

        -- Do que você está falando?

        -- Ah, é algo que está ganhando cada vez mais força. Tentei fechar os olhos à questão, mas não vou mais fazer isso. A maioria dos moradores considera Robbie perigoso. As crianças estão proibidas de chegar perto da nossa casa à noite. [...]

        Dez vezes ao longo da semana seguinte ele gritou “Robbie fica, e esta é a minha última palavra”, e o grito era cada vez mais fraco e acompanhado por um gemido mais alto e mais agonizante. Chegou por fim o dia em que Weston se aproximou da filha de modo culposo e sugeriu que fossem a um “lindo” show visivox na cidade.

        Glória bateu palmas, alegre:

        -- Robbie pode ir?

        -- Não, querida – disse ele, e recuou diante do som da própria voz –, não vão permitir um robô no visivox; mas você pode contar tudo a ele quando voltar. – ele tropeçou sobre as últimas palavras e desviou o olhar.

        Glória voltou da cidade transbordando de entusiasmo, pois o visivox tinha sido de fato um espetáculo lindo. Ela esperou o pai colocar o carro a jato na garagem em desnível.

        -- Espere só até eu contar a Robbie, papai. Ele teria adorado o show. Principalmente quando Francis Fram, que estava se afastando tããão quietinho, acabou encostando em um dos Homens-Leopardo e teve que correr. Glória riu de novo. – Papai, existem de verdade Homens-Leopardo na Lua?

        -- É provável que não – disse Weston, distraído. – É só um faz-de-conta divertido. – Ele não demoraria muito mais tempo com o carro. Iria ter de encarar a situação.

        Glória correu pelo gramado. – Robbie! Robbie!

        Então ela parou de repente ao avistar um lindo collie que olhava para ela com sérios olhos castanhos enquanto abanava o rabo contra uma coluna da varanda.

        -- Ah, que cachorro lindo!

        Glória subiu os degraus, aproximou-se com cautela e o acariciou.

        -- É para mim, papai?

        A mãe tinha se juntado a eles.

        -- É sim, Glória. Não é lindo, macio e peludo? Ele é muito dócil e gosta de garotinhas.

        -- É claro. Ele sabe fazer inúmeros truques. Você gostaria de ver alguns deles?

        -- Agora mesmo. Quero que Robbie veja também. – Robbie! [...]

        -- Mamãe, Robbie não está no quarto. Onde ele está?

        Não houve resposta; George Weston tossiu e demonstrou, de repente, um interesse excessivo em uma nuvem que vagava a esmo.

        -- Onde está Robbie, mamãe? – perguntou Glória com voz trêmula, a ponto de chorar.

        A sra. Weston se sentou e puxou a filha delicadamente para perto de si.

        -- Não fique triste, Glória. Acho que Robbie foi embora.

        -- Foi embora? Para onde? Para onde ele foi embora, mamãe?

        -- Ninguém sabe, querida. Ele simplesmente foi embora. Procuramos, e procuramos, e procuramos por ele, mas não conseguimos encontra-lo.

        -- Quer dizer que ele nunca mais vai voltar? – Seus olhos estavam arregalados de terror.

        -- Pode ser que o encontremos logo. Continuaremos procurando por ele. E enquanto isso pode brincar com o seu novo cachorrinho lindo. Olhe para ele! O nome dele é Relâmpago e ele pode...

        Mas os olhos de Glória estavam marejados.

        -- Eu não quero esse cachorro nojento; quero Robbie. Quero que encontre Robbie pra mim.

        Seus sentimentos tornaram-se profundos demais para serem expressos por palavras e, balbuciando, ela soltou um gemido agudo. [...]

        -- Por que você está chorando, Glória? Robbie era só uma máquina, só uma máquina velha e asquerosa. Ele sequer estava vivo!

        -- Ele nem não era uma máquina! – gritou Glória de maneira furiosa e antigramatical. – Era uma pessoa como eu e você e era meu amigo.

       [...].

ASIMOV, Isaac (1920-1992). Eu, robô. Tradução: Aline Storto Pereira. São Paulo: Aleph, 2014. p. 20-33.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 72-75.

Entendendo o conto:

01 – Qual a relação entre Glória e Robbie?

      A relação entre Glória e Robbie é profunda e baseada em amizade. Robbie, um robô, é o melhor amigo de Glória, sendo uma figura presente e companheira em sua vida.

02 – Qual a reação dos pais de Glória em relação a Robbie?

      Inicialmente, os pais de Glória aprovam a presença de Robbie, mas com o tempo começam a se preocupar com a influência do robô na filha e com a opinião dos vizinhos.

03 – Por que os vizinhos se opõem à presença de Robbie?

      Os vizinhos se opõem à presença de Robbie por medo e preconceito. Eles veem o robô como uma ameaça e temem que ele possa causar algum mal.

04 – Qual o papel do medo na história?

      O medo é um elemento central na história, pois é ele que leva os pais de Glória a se separarem de Robbie. O medo do desconhecido, do diferente e da tecnologia gera uma reação de rejeição e exclusão.

05 – Qual a lição que a história nos ensina sobre a amizade?

      A história nos ensina que a amizade pode transcender as diferenças e que a lealdade e o companheirismo são valores importantes em qualquer relacionamento. A amizade entre Glória e Robbie mostra que a amizade pode existir entre humanos e máquinas.

06 – Como a história aborda o tema da tecnologia?

      A história aborda o tema da tecnologia de forma ambígua. Por um lado, Robbie é apresentado como um companheiro leal e inteligente, capaz de proporcionar alegria e conforto para Glória. Por outro lado, a história mostra como a tecnologia pode gerar medo e preconceito, e como ela pode ser utilizada para manipular as pessoas.

07 – Qual o papel da família na história?

      A família desempenha um papel fundamental na história, pois é através das relações familiares que os conflitos e as emoções são expressos. A decisão dos pais de Glória de se separar de Robbie gera um grande sofrimento para a menina e questiona os valores familiares.

08 – Como a história retrata a infância?

      A história retrata a infância de forma realista, mostrando as alegrias, os medos e as angústias de uma criança. A amizade entre Glória e Robbie é um reflexo da imaginação e da pureza da infância.

09 – Qual a importância da figura do robô na narrativa?

      O robô Robbie é uma figura central na narrativa, pois é através dele que são explorados temas como amizade, lealdade, medo e preconceito. Robbie representa a inocência e a pureza, em contraste com a complexidade e as contradições do mundo adulto.

10 – Qual a mensagem principal da história?

      A mensagem principal da história é que a amizade é um valor universal que transcende as diferenças e que o medo e o preconceito podem levar à perda de coisas importantes. A história também nos convida a refletir sobre a nossa relação com a tecnologia e a importância de valorizar os laços humanos.