segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): NENHUM MOTIVO EXPLICA A GUERRA - AFROREGGAE - RAP TY - COM GABARITO

Música(Atividades): Nenhum Motivo Explica A Guerra

                                   Afroreggae  - Rap Ty

Nenhum motivo explica a guerra
Nem a grana
Nem a ganância
Nem a vingança, nem avanço industrial

Nem esperança, nem o ideal
Nem em nome do bem, contra o mal

Nenhum motivo explica a guerra
Nem a sede de poder
Nem o medo de perder

Nem a ira
Nem a mentira
Nem a conquista territorial

Ninguém tem que fazer o que não quer
Nenhum motivo explica a guerra
Ninguém precisa ser o que não é
Nada justifica não

Nenhum motivo explica a guerra
Nem cobiça, nem controle populacional
Nem vergonha, nem orgulho nacional

Nem a crença, nem a defesa
Nem a raça, nem a fé

Ninguém tem que seguir o que não crê
Nenhum motivo explica a guerra

Ninguém tem que fazer o que não quer…

Grana, ganância
Sede de poder

Ira, mentira
Medo de perder

Defesa, vingança
Raça, fé
Esperança.
                                                              Arnaldo Antunes.
Entendendo a canção:
01 – O título da canção é “Nenhum motivo explica a guerra”.
a)   A letra da canção faz uma enumeração. O que ela enumera?
As razões ou motivos normalmente utilizados para justificar a guerra.

b)   Qual é a posição do eu lírico a respeito da guerra?
Ele se diz contra a guerra e rejeita todos os motivos alegados para justifica-la.

02 – Acrescente complementos nominais aos seguintes versos da canção. Veja o exemplo:
Nem a vingança _____________
Nem a vingança contra populações inimigas.
a)   Nem a ganância pelo poder.
b)   Nem a cobiça por dinheiro.
c)   Nem a vergonha da derrota.
d)   Nem a crença em um novo futuro.

03 – Reescreva as frases a seguir, transformando o verbo destacado em substantivo. Faça as adaptações que forem necessárias. Depois identifique na nova frase o objeto (direto ou indireto) e o complemento nominal. Veja o exemplo:

Não quero me vingar de ninguém.
Não quero a vingança de ninguém. / OD: vingança; CN: de ninguém.
a)   Todos esperam um mundo melhor.
Todos têm a esperança de um mundo melhor. / OD: a esperança; CN: de um mundo melhor.
b)   Os navegantes conquistaram novos territórios.
Os navegantes fizeram a conquista de novos territórios. / OD: a conquista; CN: de novos territórios.

c)   Muitos cobiçam as riquezas dos países vizinhos.
Muitos têm cobiça das riquezas dos países vizinhos. / OD: cobiça; CN: das riquezas dos países vizinhos.

d)   Muitos de nós já não creem na humanidade.
Muitos de nós já não têm a crença na humanidade. / OD: a crença; CN: na humanidade.

e)   É preciso defender a moralidade pública.
É preciso fazer a defesa da moralidade pública. / OD: a defesa; CN: da moralidade pública.

04 – De acordo com o poeta, que motivos levam os homens a ter motivos para a guerra?
      Nenhum motivo explica a guerra.

05 – Podemos ver que também coisas "boas" podem ser motivos de guerra. Identifique essas "coisas" e justifique sua resposta:
      As “coisas” boas são: a esperança, o ideal, o bem, a crença, a defesa, a raça e a fé.

06 – Que argumentos, que buscam justificar a guerra, são combatidos na música?
      Os motivos são: a grana, a ganância, a vingança, o avanço industrial, a ira, a mentira, a conquista territorial, a cobiça, o controle populacional, a vergonha, o orgulho nacional e a sede de poder.

07 – Você relaciona algum desses argumentos a conflitos do cotidiano e da história do mundo? Comente:
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Você já foi obrigado a fazer o que não queria? Comente:
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Você acredita que o ser humano muitas vezes faz coisas que não gostaria de fazer? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – O "Afroreggae" é um grupo de uma comunidade criado com um objetivo. Você sabe que objetivo é esse?
      O Grupo Cultural Afroreggae é uma organização não governamental fundada em 1993 com a missão de promover a inclusão e a justiça social por meio da arte, da cultura afro-brasileira e da educação. Um dos principais objetivos é despertar as potencialidades artísticas de jovens das camadas populares.

MENSAGEM ESPÍRITA: ESFORÇO E DEDICAÇÃO - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ESCALA ESPÍRITA - PARA REFLEXÃO


Mensagem: Esforço e dedicação


 De maneira clara, percebemos que a tecnologia vem, a passos largos, diminuindo o tempo para se fazer muitas coisas.
  

      Analisemos quanto tempo gastávamos na cozinha, quando não se dispunha de tecnologia para processar alimentos.
        Se havia carne na refeição, era porque o abate fora feito no quintal da própria casa, e as verduras vinham da horta plantada ao fundo.
        Quanto tempo levávamos para nos comunicar com alguém distante?
        Era o tempo de escrever o texto manualmente, refazê-lo algumas vezes, quando encontrávamos algo grafado errado, postar a carta nos correios, e esperar o longo tempo de entrega ao destinatário.
        E quando desejávamos uma informação, um dado qualquer, um texto informativo para o trabalho profissional ou escolar?
        A busca da fonte segura, em alguma biblioteca especializada, levava o tempo do deslocamento, a dificuldade em se obter cópia das informações, longo tempo de transcrição.
        Hoje, a velocidade necessária para essas e tantas outras atividades tornou-se muito pequena, e temos a impressão de que tudo pode se obter de maneira rápida, imediata, quase que instantânea.
        Assim, não é de se estranhar que, aqueles que nasceram a partir da década de noventa, que já contavam com os computadores pessoais incorporados ao seu cotidiano, tenham, algumas vezes, a falsa impressão de que tudo é rápido, fácil, sem dificuldades.
        Criaram a ilusão de que a velocidade da tecnologia atinge a tudo, e também a todos.
        Esquecem eles, e quase todos nós, que a tecnologia avançou e nos ofereceu conforto, diminuindo as velocidades externas.
        Iludidos com a capacidade tecnológica do mundo, esquecemos que as velocidades internas permanecem as mesmas e que ainda é necessário o esforço pessoal para as conquistas da mente e do coração.
        Não raros são os que imaginam ser possível dispensar horas de estudo, esforço e dedicação para o aprendizado escolar.
        Creem, falsamente, que os capazes, os inteligentes, os sábios, têm apenas um dom natural, e nenhum esforço a mais.
        Acreditam que as horas de reflexão e análise, o exercício intelectual contínuo, ao longo dos anos, o sacrifício das longas horas dedicadas ao estudo, tudo isso é desnecessário.
        Não se recordam que os grandes inventos são fruto do esforço pessoal; que o virtuosismo é a consequência de perseverantes horas de dedicação e estudo; que a beleza das apresentações artísticas requer intensos treinamentos e renúncias.
        Portanto, se a tecnologia nos facilita e acelera as atividades cotidianas, as nossas conquistas permanecem sendo fruto do nosso esforço.
        Assim, não nos iludamos que tudo seja fácil como o toque de um botão, e que o esforço e dedicação são virtudes hoje dispensáveis.
        A velocidade de nossa mente e de nosso coração permanecem as mesmas, intocadas pela tecnologia.
        E ainda aguardam, mente e coração, o empenho de cada um de nós para que se desenvolvam, ganhando amplitudes nos potenciais que guardamos em gérmen dentro de nós mesmos.

                                   Redação do Momento Espírita. Em 31.8.2013.

Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo I
        SOBRE OS ESPÍRITOS

ESCALA ESPÍRITA

100 – Observações preliminares. A classificação dos Espíritos é baseada no grau de seu adiantamento, nas qualidades que adquiriam e nas imperfeições das quais ainda precisam livrar-se. Essa classificação, contudo, nada tem de absoluta; se considerada em seu conjunto, cada categoria representa um caráter bem definido. Porém, a transição é imperceptível de um grau a outro, e, nos limites, a nuança se apaga, como acontece nos reinos da Natureza, nas cores do arco-íris ou ainda nos diferentes períodos da vida do homem. Pode-se, portanto, formar um maior ou menor número de ordens conforme o ponto de vista sob o qual a questão é considerada. Ocorre aqui o mesmo que em todos os sistemas de classificações científicas: esses sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos à inteligência; mas seja como for, nada alteram na essência da Ciência. Portanto, os Espíritos interrogados sobre essa questão podem ter variado no número de categorias, sem que isso tenha maiores consequências. Alguns detiveram-se nesta aparente contradição, sem pensar que os Espíritos não dão a menor importância ao que é meramente convencional. Pra eles, o pensamento é tudo: deixam conosco a forma, a escolha dos termos, as classificações; numa palavra, os sistemas.
        Acrescentemos ainda esta consideração, que nunca se deve perder de vista: a de que entre os Espíritos, assim como entre os homens, há grandes ignorantes, e nunca será demais se prevenir contra a tendência de acreditar que, por serem Espíritos, devem saber tudo. Toda classificação exige método, análise e profundo conhecimento do assunto. Ora, no mundo dos Espíritos, aqueles que têm conhecimentos limitados são, como os ignorantes deste mundo, incapazes de apreender um todo e formular um sistema. Eles só conhecem ou compreendem uma classificação qualquer de uma maneira imperfeita. Para eles, todos os Espíritos que lhes são superiores são da primeira ordem, sem que consigam apreciar as nuanças de saber, de capacidade e de moralidade que os distinguem, da mesma forma que, entre nós, um homem rude considera os homens civilizados. Mesmo aqueles que são capazes de apreender um todo e formular um sistema podem variar nas classificações, conforme seu ponto de vista, sobretudo quando uma divisão nada tem de absoluta. Lineu, Jussieu e Tournefort tiveram cada um o seu método, e nem por isso a Botânica mudou, pois não foram eles que inventaram as plantas nem suas características; observaram as analogias, a partir das quais formaram os grupos ou ordens. Foi assim que procedemos; não inventamos os Espíritos nem seus caracteres. Vimos e observamos; julgamo-los por suas palavras e seus atos; depois os classificamos pelas semelhanças, baseando-nos nos dados que eles forneceram.
        Os Espíritos admitem, geralmente, três categorias principais ou três grandes divisões. Na última, a que fica na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda são caracterizados pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: São os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, os que atingiram o grau supremo de perfeição.
        Essa divisão nos parece perfeitamente racional e apresenta caracteres bem definidos; restou-nos apenas ressaltar, com um número suficiente de subdivisões, as principais nuanças do conjunto. Foi o que fizemos com a cooperação dos Espíritos, cujas instruções benevolentes nunca nos faltaram.
        Com a ajuda desse panorama, será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos com os quais podemos relacionar-nos e, por consequência, o grau de confiança e a estima que merecem. Esta é, de certa forma, a chave da Ciência Espírita, pois só ela pode dar conta das anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as desigualdades intelectuais e morais dos Espíritos. Chamaremos a atenção, no entanto, para o fato de que os Espíritos nem sempre pertencem exclusivamente a esta ou àquela ordem. Seu progresso só se faz gradualmente, e muitas vezes mais num sentido que em outro; podem reunir características de diversas categorias, o que é fácil perceber por sua linguagem e seus atos.

CONTO: FAMIGERADO - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: Famigerado
Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIP8tqe4ScolwJ52gjkbF3aLGOXnMNOSUi6nupNFTSnN1ge3H5VULI7YveB23C3nyNdmNiX26mCUnhs4XzIFeSyhTSaijejDEmxX5Fw6DJFqgNejLPT3C71HP8ClHkUsbz2jR5aiqNrcY/s320/FAMIGERADO.jpg
          João Guimarães Rosa

        Foi de incerta feita – o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pé nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranquilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.
        Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse – o oh-homem-oh – com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto, pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.
        Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.
        Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:
        -- “Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada…”
        Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.
        — “Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras… Estou vindo da Serra…”
        Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:
        — “Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso… Saiba que estou com ele à revelia… Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade… O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado…”
        Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.
        O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:
        — “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz-megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…?
        Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?
        — “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…”
        Se sério, se era. Transiu-se-me.
        — “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras…
        É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?”
        Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:
        — Famigerado?
        — “Sim senhor…” — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara.
        — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:
        — “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…”
        Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.
        — Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”…
        — “Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?”
        — Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos…
        — “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?”
        — Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…
        — “Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?”
        Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:
        — Olhe: eu, como o sr. Me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!…
        — “Ah, bem!…” — soltou, exultante.
        Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — “Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição…” — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d’água. Disse: — “Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!” Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — “Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não…” Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — “A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças… Só pra azedar a mandioca…” Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

                                          ROSA, João Guimarães. Famigerado. In: Primeiras estórias. 15. ed.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 56-61.
Entendendo o conto:

01 – Quem conta a história?
      Um narrador em primeira pessoa que, vai se saber mais tarde, tem o “poder” da linguagem. Tal como o autor do texto.

02 – Como a história começa?
      Com a chegada de quatro homens a cavalo.

03 – Observe como, no início do conto, o narrador estuda o valentão. O que a aparência do visitante denota?
      Rudeza, violência, esperteza, braveza, perversidade.

04 – Todos os visitantes tinham a mesma aparência? Explique.
      Não. Os outros três pareciam ser prisioneiros do primeiro.

05 – Depois da identificação do visitante, o personagem-narrador ficou mais ou menos apreensivo?
      Ficou com muito mais medo. Afinal, o visitante era conhecido como homem perigosíssimo, já havia matado muita gente.

06 – O que queria o valentão?
      Saber o significado de uma palavra: famigerado.

07 – O que pensava o visitante sobre o significado da palavra?
      Pensava ele que poderia ser uma ofensa.

08 – Qual foi sua atitude quando soube do real significado da palavra?
      Sorriu, libertou seus prisioneiros, agradeceu e foi embora.

09 – “Certa vez” é uma fórmula muito usada para iniciar contos populares. De que maneira o autor inverte essa expressão?
      Utilizando a expressão “incerta feita”.

10 – Releia a seguinte frase: “Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado.” Observe que a frase aproxima-se da poesia. Por quê?
      Por causa da rima, da organização rítmica e das relações originais que o autor estabelece entre as palavras.

11 – A expressão “O medo me miava” foi criada pelo autor. A leitura do conto, porém, permite atribuir-lhe sentido. Que significado pode ser dado a tal expressão?
      Fiquei com muito medo. A expressão intensifica o medo do personagem narrador.

12 – A expressão “cabismeditado” também é uma criação linguística do autor. O que pode significar?
      Cabisbaixo, o personagem meditava.

13 – “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-me-gerado... famisgerado... familhasgerado...?” Observe a criatividade linguística de Damázio: não dominando o sentido da palavra, ele a desdobra em várias possibilidades de significação. Relacione a palavra “famanasse” com o sentido de famigerado.
      “Famanasse” se relaciona com “fama”.

14 – “Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes.” O que sugere essa frase sobre o estado de espírito do narrador?
      Medo e indecisão. Por um triz, ele poderia ser morto por Damázio.

15 – Observe que, depois do pedido de Damázio para que o narrador explicasse o sentido da palavra, o narrador pergunta duas vezes: “Famigerado?” Por que faz isso?
      O narrador procura encontrar formas para retardar a sua explicação.

16 – “Não há como que as grandezas manchas duma pessoa instruída.” Essa frase foi um elogio ao narrador? Explique.
      Sim. Damázio louva o poder de linguagem do narrador, o qual considera uma “grandeza macha”.

17 – O narrador analisa os gestos, atitudes e expressões faciais do valentão. Não só o que ele diz, mas também como diz significa muito. De que forma essa ideia também pode ser aplicada à literatura?
      Na literatura, também importa o como se dizem as coisa.

REPORTAGEM: FALAR E ESCREVER, EIS A QUESTÃO - JOÃO GABRIEL DE LIMA - COM GABARITO

REPORTAGEM: FALAR E ESCREVER, EIS A QUESTÃO

  Expressar-se em português com clareza e correção é uma das maiores dificuldades dos brasileiros. A boa notícia é que muitos estão conscientes disso e querem melhorar
                                                               João Gabriel de Lima

        Roberto Carlos, Romário, Sílvio Santos, Vera Fischer, Carla Perez. Os famosos no Brasil em geral jogam futebol, atuam na televisão ou cantam música popular. O professor paulista Pasquale Cipro Neto, de 46 anos, tornou-se um nome nacional de uma forma bem diferente: ensinando português. Há duas semanas ele estreou um quadro no Fantástico, da Rede Globo. Já na estreia, E Agora, Professor? (Esse é o nome do quadro) recebeu uma enxurrada de e-mails de telespectadores – cerca de 300 –, que queriam tirar dúvidas sobre o uso do idioma. Pasquale é um fenômeno de mídia. Além de levantar a audiência na TV, ele ajuda a vender publicações. Quando produziu um encarte com exercícios de português para O Globo, provocou um aumento de 40% na circulação dominical do jornal carioca. Republicada mais tarde na revista Época, pertencente à mesma empresa, a série fez com que a vendagem em bancas do semanário quase dobrasse. Pasquale também é um sucesso no rádio, em livros, em palestras e em CD-ROM. Ele não é o único que ficou conhecido nacionalmente por ensinar os brasileiros a falar e escrever melhor. Dono de uma escola de expressão oral, o economista Reinaldo Polito também faz um sucesso impressionante. Tem 1600 alunos por ano, já vendeu mais de 570000 livros e suas palestras estão cotadas em 9500 reais.
        Seria errado concluir, a partir desses dois exemplos, que a língua portuguesa é uma paixão dos brasileiros, assim como o futebol, a televisão e a música. A verdade é que as pessoas finalmente perceberam que precisam dominar a norma culta do idioma. Principalmente na vida profissional. Nunca, no mundo corporativo, houve tantas reuniões e apresentações. Quem não consegue articular pensamentos com clareza e correção tem um grande entrave à ascensão na carreira. A invenção do e-mail contribuiu para este quadro, ao incrementar também a comunicação por escrito dentro das empresas. Na Nestlé, por exemplo, o número de mensagens eletrônicas trocadas entre os funcionários dobra a cada ano. Foram 2 milhões em 1999, 4 milhões em 2000 e, até o fim de 2001, esse número deve chegar a 8 milhões. É óbvio que é péssimo para a imagem de alguém enviar a seu chefe um e-mail confuso ou com erros de português. “O domínio da língua culta é importantíssimo para qualquer profissional, tanto que, na hora de admitir novos funcionários, costumamos fazer um teste de expressão escrita”, informa Carlos Faccina, diretor de recursos humanos da Nestlé. José Paulo Moreira de Oliveira, especialista em português, ligado à empresa de consultoria MVC, estima que, em carreiras nas quais a internet é ferramenta de trabalho, os profissionais despendam 25% de seu dia atualizando a correspondência eletrônica. Fora do trabalho, o e-mail é também cada vez mais usado na vida particular. A tendência é que sua utilização fique cada vez mais restrita à parcela da população que tem computador em casa. Recentemente, os Correios criaram um programa piloto de internet. No Rio de Janeiro e em São Paulo, várias agências contam com terminais para quem quiser enviar e-mails em vez de cartas. Quem não tiver endereço eletrônico pode obter um de graça, aderindo ao programa. Os correios prometem colocar esse equipamento em todas as agências do país até 2003.
        As angústias dos brasileiros em relação ao português são de duas ordens. Para uma parte da população, a que não teve acesso a uma boa escola e, mesmo assim, conseguiu galgar posições, o problema é sobretudo com gramática. É esse o público que consome avidamente os fascículos e livros do professor Pasquale, em que as regras básicas do idioma são apresentadas de forma clara e bem humorada. Para o segmento que teve a oportunidade de estudar em bons colégios, a principal dificuldade é com a clareza. É para satisfazer a essa demanda que um novo tipo de profissional surgiu: o professor de português especializado em adestrar funcionário s de empresas. Antigamente, os cursos dados no escritório eram de gramática básica e se destinavam principalmente a secretárias. De uns tempos para cá, eles passaram a atender primordialmente gente de nível superior. Em geral, os professores que atuam em firmas são acadêmicos que fazem esse tipo de trabalho esporadicamente, para ganhar um dinheiro extra. “É fascinante, porque deixamos de viver na teoria para enfrentar a língua do mundo real”, diz Antônio Suárez Abreu, livre-docente pela Universidade de São Paulo que já deu cursos em empresas como a Mercedes-Benz, a Nortel e a Companhia Paulista de Força e Luz. Abreu até lançou um livro voltado para esse público, A Arte de Argumentar – Gerenciando Razão e Emoção, que está na segunda edição.
        Já existe no país até uma escola voltada para o ensino da língua para profissionais. É o Curso Permanente de Português, de Porto Alegre. O CPP, como é conhecido, foi fundado em 1976 por Édison de Oliveira, uma espécie de precursor gaúcho de Pasquale Cipro Neto. Ele se notabilizou com aulas de gramática no rádio e na televisão do Rio Grande do Sul. Até recentemente, o CPP funcionava como um curso especializado em redação para o vestibular. Há cinco anos, resolver atacar o filão das empresas. “É um trabalho bastante complexo, porque nós temos de entrar no universo das profissões para saber os problemas específicos que cada uma apresenta”, analisa a professora Maria Elyse Bernd, diretora do CPP. O curso mescla aulas de gramática com atividades práticas direcionadas para as diferentes carreiras. Médicos aprendem a escrever laudos; advogados, petições; economistas, relatórios e assim por diante. O CPP tem como clientes bancos, tribunais e até um hospital. Algumas empresas procuram o curso incentivadas pelos próprios funcionários. “Fizemos uma pesquisa e descobrimos que conhecer melhor as regras do idioma era uma demanda de todos os níveis hierárquicos”, diz Josué Vieira da Costa, da área de recursos humanos do Banrisul, banco estatal gaúcho que contratou os serviços do CPP. Costa lembra que as dificuldades com português chegaram a entravar a burocracia do banco. “Uma vez, um funcionário quase foi promovido erroneamente por causado parecer dúbio de um executivo. É incrível que esse tipo de coisa atrapalhe o funcionamento de uma empresa.”
        A dificuldade com a clareza é um traço cultural no Brasil. “Num país com tantas carências educacionais, falar de maneira rebuscada é indicador de status, mesmo que o falante não esteja dizendo coisa com coisa”, afirma o professor Francisco Platão Savioli, da Universidade de São Paulo, autor de nove livros sobre o ensino do idioma. Esse amor pelas palavras difíceis tem origem na época da transição do Império para a República, no fim do século XIX. Conforme explica Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico Raízes do Brasil, com o advento da República o curso superior passou a ser o principal parâmetro de reconhecimento social. Na época, estavam em voga as escolas de direito. Assim, para ser alguém na sociedade daquele tempo, era necessário não apenas ser advogado, mas também falar como advogado. É daí que surge, segundo Sérgio Buarque, a linguagem bacharelesca. Esse estilo floresceu no começo do século XX e, a partir do modernismo, seu prestígio foi decaindo. O português empolado persiste, no entanto, até hoje, em formas degeneradas. Uma delas é o chamado “burocratês”, a linguagem dos memorandos das empresas, nos quais mesmo para solicitar a compra de uma caixa de clipes são necessárias várias saudações e salamaleques. Outra é a retórica de parte dos políticos. O linguajar pomposo também sobrevive nas teses acadêmicas e, como era de esperar, no discurso dos advogados.
        Há vários indícios, no entanto, de que essa tradição de rebuscamento está fadada a ir para a lata de lixo da História. Na área do direito, por exemplo, existe uma corrente que defende a simplificação da língua. Há duas semanas, o desembargador João Wehbi Dib ganhou as manchetes de jornais pelo tom que redigiu seu voto num processo contra o escritor Ruy Castro, acusado de difamar Garrincha no livro Estrela Solitária. Entre as provas arroladas pelos advogados dos herdeiros do jogador, havia uma descrição feita por Castro da anatomia íntima do craque. Para choque de muitos, o desembargador Wehbi Dib discorreu sobre o assunto sem meias palavras. “As novas gerações de advogados perceberam que o discurso empolado, muitas vezes, atrapalha a argumentação lógica”, diz Éster Kosovski, professora da área de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outro golpe no barroquismo vem da própria popularização do e-mail. “A linguagem da correspondência eletrônica, nas empresas, tem de ser mais concisa e mais clara que a do memorando, porque em geral tem o objetivo de provocar uma ação imediata”, analisa o professor paranaense Artur Roman, autor de dissertação de mestrado sobre o assunto e funcionário do setor de treinamento do Banco do Brasil.
        A clareza também se tornou a prioridade dos cursos de oratória. O professor Reinaldo Polito, que há 26 anos tem em são Paulo uma escola de expressão verbal para profissionais de várias áreas, constatou, ao longo de sua carreira, uma mudança significativa. Segundo ele, até pouco tempo atrás a maior parte de sua clientela era formada por executivos na faixa dos 45 anos, que se preocupavam, antes de tudo, com a impostação de voz e a gestualidade. Recentemente, ele passou a ser procurado principalmente por jovens em início de carreira que querem aprender a se expressar de forma clara e simples. “Para atender esse pessoal, que hoje é o grosso do meu público, tive de reorientar o curso. Passei a enfatizar o encadeamento da ideias e a coerência da argumentação”, conta Polito. A demanda é tanta que, em março passado, ele inaugurou outra unidade de sua escola, no bairro paulistano do Ipiranga. Nela, há auditórios de vários tamanhos para simular diferentes tipos de conferências. Polito tem entre seus alunos o senador do PT Eduardo Suplicy. “Ele é um homem inteligentíssimo, só precisa aprender a se expressar melhor. É um grande desafio para mim”, avalia Polito.
        A dificuldade do brasileiro em falar e escrever de forma a se fazer entender não é apenas consequência da formação bacharelesca. Há outros fatores. Para começar, lê-se pouco no Brasil. O parâmetro de comparação que costuma ser utilizado nessa área é a média de livros publicados per capita, que resulta da divisão do total da produção pela população do país. No Brasil se produzem 2,4 livros por habitante, contra sete na França e onze nos Estados Unidos. Esse indicador, no entanto, é imperfeito, porque ignora a taxa de analfabetismo, a proporção de livros didáticos no universo editorial e a quantidade de volumes que vai parar em bibliotecas. A Câmara Brasileira do Livro divulgou recentemente um estudo que mostra que, na verdade, os brasileiros leem em média apenas 1,2 livro por ano. Não cultivar a leitura é um desastre para quem deseja expressar-se bem. Ela é condição essencial para melhorar a linguagem oral e escrita. Quem lê interioriza as regras gramaticais básica se aprende a organizar o pensamento.
        As escolas poderiam ensinar a escrever, mas não o fazem. Não que as aulas de redação sejam em menor número do que o desejado. O problema é que essa matéria é ensinada de forma errada, por meio de assuntos distantes da vida real. “Em vez de escrever redações sobre temas vagos, como ‘Minhas férias’ ou ‘Meu cachorro’, o aluno deveria ser adestrado nos diferentes gêneros da escrita: a carta, o memorando, a ficção, a conferência e até o e-mail”, opina o professor Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco. Por último, há a questão do nível dos professores. “A maior parte da mão-de-obra nessa área é de baixa qualificação”, diz o professor Pasquale Cipro Neto. “Como o aluno vai entender a diferença entre sujeito e predicado se nem o professor entende direito? Infelizmente, não existem bons professores de português em número suficiente para atender à imensa demanda que o país tem.”
        Pasquale conhece bem as carências nessa área. Ele percorre o Brasil para dar palestras. Transformou-se em estrela de magnitude nacional depois de atuar em comerciais da rede de lanchonetes McDonald’s em 1997. Pasquale, no entanto, não é uma unanimidade. Esteja em São Paulo, Macapá ou Passo Fundo, inevitavelmente ouve críticas. Elas ecoam o pensamento de uma certa corrente relativista, que acha que os gramáticos preocupados com as regras da norma culta prestam um desserviço à língua. De acordo com essa tendência, o certo e o errado em português não são conceitos absolutos. Quem aponta incorreções na fala popular estaria, na verdade, solapando a inventividade e a autoestima das classes menos abastadas. Isso configuraria uma postura elitista. Trata-se de um raciocínio torto, baseado num esquerdismo de meia-pataca, que idealiza tudo o que é popular – inclusive a ignorância, como se ela fosse atributo, e não problema, do “povo”. O que esses acadêmicos preconizam é que os ignorantes continuem a sê-lo. Que percam oportunidades de emprego e a consequente chance de subir na vida por falar errado. “Ninguém defende que o sujeito comece a usar o português castiço para discutir futebol com os amigos no bar”, irrita-se Pasquale. “Falar bem significa ser poliglota dentro da própria língua. Saber utilizar o registro apropriado em qualquer situação. É preciso dar a todos a chance de conhecer a norma culta, pois é ela que vai contar nas situações decisivas, como uma entrevista para um novo trabalho.” Felizmente, a maior parte das pessoas não está nem aí para a conversa mole dos relativistas. Quer saber, isso sim, de falar e escrever direito. A julgar pela máxima do filósofo Ludwig Wittgenstein – “os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento” –, os brasileiros que tentam melhorar seu português estão também aprendendo a pensar melhor.

         LIMA, João Gabriel. Falar e escrever, eis a questão.
In: Veja, Abril, São Paulo, p. 104-112, 7 nov. 2001.
Entendendo o texto:

01 – Qual é o assunto dessa reportagem?
      A língua portuguesa.

02 – Para conferir credibilidade a uma reportagem sobre um determinado assunto, em geral, consultam-se especialistas. Quem foram os especialistas consultados? O que é dito sobre eles que supostamente os autoriza a falar sobre o assunto?
      Pasquale Cipro Neto, professor de cursinho; Antônio Suárez Abreu, livre-docente da Universidade de São Paulo; Luiz Marcuschi, professor na Universidade Federal de Pernambuco.

03 – O autor da reportagem usa um fato da atualidade como ponto de partida de seu texto. Quê fato, atual na época da publicação da revista, introduz o texto?
      O fato de o apresentador Pasquale iniciar, na época, um quadro sobre língua portuguesa em um programa televisivo de grande audiência.

04 – Qual é, segundo o autor da reportagem, o maior incentivo para se aprender a norma culta do idioma?
      A carreira profissional.

05 – Quais são os maiores problemas em relação à língua portuguesa, segundo a reportagem?
      Gramática e clareza.

06 – No quarto parágrafo desse excerto, a reportagem aborda a questão da escola que seria, em tese, a responsável pelo pouco domínio que se tem da língua. Qual é a opinião dos “especialistas” entrevistados?
      Luiz Marcuschi diz que o problema é o “como” essa matéria é ensinada: o aluno deveria escrever diferentes gêneros textuais. Pasquale diz que os professores de língua portuguesa é que são de baixa qualificação porque não sabem a diferença entre sujeito e predicado.

07 – O que cada um dos entrevistados revela sobre sua concepção de ensino de língua portuguesa na escola?
      O professor Luiz Marcuschi acredita que língua portuguesa se aprende na prática: escrevendo diferentes textos. Pasquale acha que língua portuguesa se aprende decorando nomenclatura gramatical e classificando termos de orações.

08 – O último parágrafo faz referência às críticas que Pasquale recebe de uma “certa corrente relativista”. O que é relativismo? Quem seria os relativistas?
      Relativismo é não considerar nada com valor absoluto. Os acadêmicos seriam os defensores dessa posição.

09 – Qual é a crítica dirigida a essas pessoas?
      A de defenderem a posição de não ensinar a língua culta.

10 – O texto da reportagem é favorável às opiniões de Pasquale ou procura manter-se neutro?
      É claramente favorável às posições de Pasquale.

POEMA: BOLETIM - CARLOS QUEIROZ TELLES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Boletim 
                     Carlos Queiroz Telles

Chega uma hora
em que não dá mais
pra gente fugir do assunto.
Meio mundo da família,
pai e mãe, irmão e tia,
com olhares de cobrança,
pedem o troco da esperança
que jogaram sobre nós.

E então começa a guerra
É a equação conjugada
em português matemático
são matérias inexatas
e ciências desumanas



É a cara da professora
que brigou com o namorado.
São as noites mal dormidas
de estudo ou de medo.
É o tormento renovado
do semestre que se acaba
ou do ano que termina.

Tempo de unha roída
de culpa e de sofrimento.
Coração sempre apertado,
dias com dor de barriga,
noites com falta de ar.

A vida fica um sufoco
até a hora temida
em que a angústia vira nota.
Amanhã...hoje...agora!
O olhar sabe de cor
onde o nome está na lista.
E então...lá vamos nós
com a cara e a covardia.

Um, dois, três...não acredito!
Aquela nota é um oito!
Não é possível meu Deus!
É possível! É possível!
Aquele oito sou eu.

Entendendo o poema:

01 – Separe das palavras abaixo os antônimos, formando pares.
Felicidade, coragem, encorajador, tomento, covardia, exata, devolução, inexata, cobrança, temido.
      Felicidade, tormento.
      Coragem, covardia.
      Encorajador, temido.
      Exata, inexata.
      Devolução, cobrança.

02 – Empregue adjetivos equivalentes às locuções adjetivas:
a) É o tormento do semestre = Semestral.
b) É o perímetro de cidade = Urbano.
c) É um amor de mãe = Maternal.
d) É a prova do bimestre = Bimestral.
e) É a mesma faixa de idade = Faixa etária.
f) É o globo do olho = Ocular.

03 – Empregue adequadamente a vírgula.
Meio mundo da família,
Pai e mãe, irmão e tia,
Com olhares de cobrança,
Pedem o troco da esperança
Que jogaram sobre nós.

04 – O verso “com cara e a covardia” lembra uma expressão muito usada mas, o poeta fez uma troca dessa expressão por outras palavras. Por que o poeta fez essa troca?
      É “com a cara e a coragem”. Ele trocou as palavras tentando dizer que é covarde, não tem coragem.

05 – Quem escreveu o poema Boletim?
      Carlos Queiroz Telles.

06 – Quem é o narrador do texto?
      O narrador é o eu- poético (pessoa que fala no texto).

07 – De que o assunto os estudantes não podem fugir?
      Os estudantes não podem fugir do boletim, isto é, das notas.

08 – Em que época o sofrimento do estudante é maior?
      No final do semestre e final do ano.

09 – O que os membros da família esperam do estudante?
      Esperam que ele consiga boas notas.

10 – Que palavra o autor usa para demonstrar a luta do estudante pela nota? Você acha a palavra adequada?
      Guerra. Sim, porque o estudante tem de enfrentar uma verdadeira batalha para conseguir boas notas.

11 – Explique com que intensão o autor combina estas palavras: “equação conjugada” e “português matemático”.
      Ele mistura assuntos da duas matérias para dizer que tudo fica muito confuso na “cabeça dos alunos”.

12 – Veja o que o autor diz em lugar de matérias exatas e ciências humanas. Por que ele faz isso?
      Quer dizer que nem sempre consegue resultados exatos em seus cálculos. As ciências são desumanas porque exigem esforço exagerados de sua parte.

13 – Explique os versos: “A vida fica um sufoco / até a hora temida / em que a angústia vira nota”.
      Resposta pessoal do aluno.
14 – O poema apresenta fatos e sentimentos da vida de um aluno. Parecem com os seus?
      Resposta pessoal do aluno.