quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

TEXTO: QUE PAÍS...RICARDO BOECHAT - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: QUE PAÍS...

        Dissecando os gastos públicos no Brasil, um economista descobriu barbaridades no Orçamento da União no ano de 2001. Por exemplo: Considerada a despesa geral da Câmara, cada deputado federal custa ao país, diariamente, R$ 3.700. Ou R$ 1,3 milhão por ano. 
        Entre os senadores, a loucura é ainda maior, pois o custo individual diário pula para R$ 71.900. E o anual, acreditem, para R$ 26 milhões. 
        Comparados a outras “rubricas”, os números beiram o delírio. É o caso do que a mesma União despende com a saúde de cada brasileiro - apenas R$ 0,36 por dia. E, com a educação, humilhantes R$ 0,20.
                                                         (Ricardo Boechat, JB, 6/11/01)

Entendendo o texto:
01 – Considerando o sentido geral do texto, o adjetivo que substitui de forma INADEQUADA os pontos das reticências do título do texto é: 
a)   Autoritário. 
b)   Injusto.  
c)   Estranho. 
d)   Desigual. 
e)   Incoerente.

02 – O termo “gastos públicos” se refere exclusivamente a:
a)   Despesas com a educação pública. 
b)   Pagamentos governamentais. 
c)   Salários da classe política. 
d)   Gastos gerais do Governo. 
e)   Investimentos no setor oficial.

03 – A explicação mais plausível para o fato de o economista citado no texto não ter sido identificado é:
a)   Não ser essa uma informação pertinente. 
b)   O jornalista não citar suas fontes de informações sigilosas. 
c)   Evitar que o economista sofra represálias. 
d)   Desconhecer o jornalista o nome do informante. 
e)   Não ser o economista uma pessoa de destaque social.

04 – O item do texto em que o jornalista NÃO incluiu termo que indique sua opinião sobre o conteúdo veiculado pelo texto é: 
a)   “...um economista descobriu barbaridades no Orçamento da União...”  
b)   “Entre os senadores, a loucura é ainda maior...” 
c)    “E com a educação, humilhantes R$ 0,20. 
d)   “...os números beiram o delírio.” 
e)   “...cada deputado federal custa ao país, diariamente, R$ 3.700.”

05 – O Orçamento da União é um documento que: 
a)   Esconde a verdade da maioria da população. 
b)   Só é consultado nos momentos críticos.
c)   Mostra a movimentação financeira do Governo. 
d)   Autoriza os gastos governamentais. 
e)   Traz somente informações sobre as casas do Congresso.

06 – Os exemplos citados pelo jornalista:
a)   Atendem a seu interesse jornalístico. 
b)   Indicam dados pouco precisos e irresponsáveis. 
c)   Acobertam problemas do Governo. 
d)   Mostram que os gastos com a classe política são desnecessários. 
e)   Demonstram que o país não dispõe de recursos suficientes para as despesas.

07 – “Considerada a despesa geral da Câmara, cada deputado federal custa ao país, diariamente, R$ 3.700.”; o cálculo para se chegar ao custo diário de cada deputado federal foi feito do seguinte modo: 
a)    A despesa geral da Câmara foi dividida pelo número de deputados federais. 
b)    A despesa com os deputados federais foi dividida igualmente por todos eles. 
c)     Os gastos gerais da Casa foram repartidos por todos os funcionários. 
d)    Os gastos da Câmara com os deputados foram divididos pelo seu número total.
e)     As despesas gerais da Câmara foram divididas entre os deputados federais.

08 – “Comparados a outras ‘rubricas’, os números beiram o delírio.”; o comentário correto sobre o significado dos elementos desse segmento do texto é: 
a)   O termo rubricas, escrito entre aspas, tem valor irônico. 
b)   O delírio refere-se aos gastos ínfimos com saúde e educação. 
c)   As outras rubricas referidas no texto são a educação e a saúde. 
d)   Comparados com a educação, os gastos citados são humilhantes.
e)    Os números referem-se à grande quantidade de deputados e senadores.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

FILME(ATIVIDADES): O PESCADOR DE ILUSÕES - TERRY GILLIAM - COM QUESTÕES GABARITADAS

Filme(ATIVIDADES): O PESCADOR DE ILUSÕES

Duração 2h 15min
Direção: Terry Gilliam
Nacionalidade EUA
Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.eovideolevou.com.br%2Fdetalhe%2Fcompleto.asp%3Fcp%3D37345&psig=AOvVaw2XE07l0Ysge0NATf3xkyEG&ust=1619289365767000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLik6Z6BlfACFQAAAAAdAAAAABAJ

SINOPSE E DETALHES
        Jack Lucas (Jeff Bridges) é um locutor de rádio egocêntrico, que fala o quer em seu programa sem pensar nas possíveis consequências. Um dia um ouvinte conversa com ele ao vivo, dizendo que conheceu uma mulher por quem se apaixonou em um bar yuppie. Jack de imediato descarta que ela tenha se interessado por ele, dizendo que todos os yuppies deveriam morrer. O ouvinte não pensa duas vezes: pega o rifle, vai até o bar e mata seis pessoas, antes de se suicidar. A tragédia provoca forte impacto em Jack, que desaba no alcoolismo e larga a carreira. Três anos depois, Jack conhece Parry (Robin Williams), um mendigo que o salva de ser espancado. Logo Jack descobre que Parry enlouqueceu após sua esposa ser assassinada, no bar yuppie onde seu ouvinte provocou uma tragédia. Disposto a ajudá-lo para livrar-se do peso na consciência, Jack conta com o apoio de sua namorada Lydia (Amanda Plummer), que o sustenta.

Entendendo o filme:
01 – Que nomes Jack Lucas pensa em dar a sua biografia quando se vê como mendigo?
      “Não era uma festa – A História de Jack Lucas” ou “Uma Droga de Festa Nouveau”.

02 – O filme aborda que temática?
      Aborda a Esquizofrenia, a questão do outro e as Relações Humanas.

03 – Em que ele se estrutura?
      Basicamente em três aspectos conflitantes e de extrema importância como por exemplo, a depressão, diferentes formas de psicose e as consequências de um trauma.

04 – Em que contexto histórico este filme foi produzido?
      Por volta da década de 80 e retrata algumas instituições, meios de comunicação, modos de vida e outros aspectos da sociedade contemporânea.

05 – Jack estava embaixo de uma estátua, conversando com o boneco Pinóquio que ganhou de uma criança e pergunta para o Pinóquio se ele leu Nietzsche, e ele mesmo responde o quê?
      Que Nietzsche disse que há dois tipos de pessoa. Gente destinada à grandeza, como Walt Disney e Hitler e há o resto, nós.

06 – Jack sofre um atentado, onde vândalos tentam ateá-lo fogo, mas ele é salvo. Por quem?
      Por Parry (um morador de rua) que aparece e resgata Jack, espantando os vândalos.

07 – Jack acorda onde?
      Acorda na casa de Parry que acredita que o Jack é um cavaleiro medieval e tem a “missão” de recuperar o Santo Graal.

08 – O que Jack fica sabendo pelo zelador do prédio sobre Parry?
      Que na verdade, chama-se Henry Sagan e que era professor de história medieval em uma faculdade antes da tragédia que ele, Jack, havia “começado”. Parry perdeu sua esposa nessa noite.

09 – Desde a morte de sua esposa Parry sofre de transtornos psicóticos, como: delírios, alucinações, fala desorganizada entre outros. Que nome se dá a este transtorno?
      Esquizofrenia.

POEMA: CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO


Poema: Congresso Internacional do Medo 
              Carlos Drummond de Andrade
                                    

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade. Antologia Poética. 12ª edição.
Rio de Janeiro: José Olympio. 1978. p. 108 e 109.
Entendendo o poema:

01 – A partir da leitura desse poema e do conhecimento dos poemas da Antologia poética, de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA:
a) O poema “Congresso internacional do medo”, como a maioria dos poemas que compõem a Antologia poética drummondiana, volta-se para uma temática mais subjetiva.
b) A ideia de congresso internacional expressa no título do poema sugere o caráter de universalidade do sentimento de medo. Se se considerar que Drummond vivenciou as duas guerras mundiais do século XX, fica mais clara essa opção por cantar o medo em vez do amor ou do ódio.
c) O advérbio “provisoriamente” (1º verso) expressa, de certa forma, uma mensagem de esperança, pois sugere que cantar o amor ainda é possível.
d) O verso cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas apresenta ambiguidade, pois sugere que os ditadores e democratas tanto causam medo como têm medo.
e) Além de cantar o medo, Drummond, em sua antologia poética, também canta o amor, a família, os amigos, a província e o próprio fazer poético.

02 – O poema acima apresenta aspectos de continuidade a algumas características presentes na 1ª fase modernista, mas por outro lado também apresenta diferenças básicas em relação a essa fase. Considerando essas informações, assinale as afirmativas abaixo que correspondem às características convergentes nas duas fases:
(X) Valorização de aspectos do cotidiano.
(X) Linguagem simples.
(   ) Temática social, que fala sobre as mazelas de sua época.
(X) Estruturação com versos livres.
(   ) Questionamento de valores da existência humana.

03 – Assinale a alternativa que apresenta os versos que melhor exemplificam a recusa do eu lírico em explorar uma temática mais alienante, e em seu lugar, mostrar uma poética da temática social, engajada nas causas de seu tempo.
a) “Provisoriamente não contaremos o amor, / que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.”
b) “Contaremos o medo, que esteriliza os abraços, / não contaremos o ódio porque esse não existe.”
c) “Existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, / o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos.”
d) “O medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas / cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas.”

04 – Apesar de “cantar o medo”, nas várias acepções que esse sentimento pode se manifestar, o eu lírico deixa transparecer uma esperança pelo uso:
a) Do advérbio “apenas”, no 5° verso, demonstrando que o medo é somente um sentimento prejudicial ao ser humano.
b) Do verbo “refugiar”, no 2° verso, expressando que ainda há um lugar para o ser humano fugir da condição de mundo apresentada.
c) Dos adjetivos “amarelas” e “medrosas”, no 11° verso, argumentando que até as flores são prejudicadas pelo sentimento humano de medo.
d) Do advérbio “provisoriamente”, expressando que a ausência do canto ao amor não se perpetuará no tempo.
e) Do advérbio “não”, repetido várias vezes no poema para demarcar a negação e resistência frente ao sentimento humano.

05 – Por se tratar de um poema crítico reflexivo, percebemos, por fim, que através de uma linguagem simples e de usos constantes de repetições, o que pode provocar no leitor?
      Uma reflexão profunda, pois o medo torna-se tão poderoso que chega a ser agressivo.

06 – O medo está vigorando em vários lugares e em várias ações no poema. O que este sentimento gera?
      Gera desequilíbrio, angústia, dúvida e insegurança.

07 – Podemos perceber que o medo serve paradoxalmente, como um verdadeiro pai e seguidor, por quê?
      Devido ao contexto social da época, pois o período que o poema foi escrito tinha um pano de fundo em clima de Guerra Mundial, túmulo, morte, dor, sofrimento e muito medo.

08 – O poeta utiliza diversas vezes o verbo cantaremos. Qual é o sujeito? Como esse sujeito é classificado?
      O sujeito é o pronome pessoal reto nós; sujeito oculto.

09 – No verso “não cantaremos o ódio porque esse não existe”, há duas orações.
a)    Qual é o sujeito da segunda oração?
      Esse.

b)   Do ponto de vista morfológico, qual é a classe da palavra que exerce a função de sujeito?
      Pronome de demonstrativo.

c)    A que outra palavra do texto ela está se referindo?
      Refere-se a ódio.

10 – No trecho “existe apenas o medo [...]” (verso 5), qual é o sujeito?
      O medo. Sujeito simples.

11 – Coloque a oração a seguir (verso 11) em ordem direta (sujeito + predicado). Em seguida, classifique o sujeito e o predicado, destacando os seus núcleos.
      E flores amarelas e medrosas nascerão sobre nossos túmulos.
      Sujeito simples: flores amarelas e medrosas.
      Predicado verbal: nascerão sobre nossos túmulos.



CONTO: O CASAMENTO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: O casamento
         
 Luís Fernando Veríssimo

        — Eu quero ter um casamento tradicional, papai.
        — Sim, minha filha.
        — Exatamente como você!
        — Ótimo.
        — Que música tocaram no casamento de vocês?
        — Não tenho certeza, mas acho que era Mendelssohn. Ou Mendelssohn é o da Marcha Fúnebre? Não, era Mendelssohn mesmo.
        — Mendelssohn, Mendelssohn...  Acho que não conheço. Canta alguma coisa dele ai.
        — Ah, não posso, minha filha. Era o que o órgão tocava em todos os casamentos, no meu tempo.
        — O nosso não vai ter órgão, é claro.
        — Ah, não?
        — Não. Um amigo do Varum tem um sintetizador eletrônico e ele vai tocar na cerimônia. O Padre Tuco já deixou. Só que esse Mendelssohn, não sei, não...
        — É, acho que no sintetizador não fica bem...
        — Quem sabe alguma coisa do Queen...
        — Quem?
        — O Queen.
        — Não é a Queen?
        — Não. O Queen. E o nome de um conjunto, papai.
        — Ah, certo. O Queen. No sintetizador.
        — Acho que vai ser o maior barato!
        — Só o sintetizador ou...
        — Não. Claro que precisa ter uma guitarra elétrica, um baixo elétrico...
        — Claro. Quer dizer, tudo bem tradicional.
        — Isso.
        — Eu sei que não é da minha conta. Afinal, eu sou só o pai da noiva. Um nada. Na recepção vão me confundir com um garçom. Se ainda me derem gorjeta, tudo bem. Mas alguém pode me dizer por que chamam o nosso futuro genro de Varum?
        — Eu sabia...
        — O quê?
        — Que você já ia começar a implicar com ele.
        — Eu não estou implicando. Eu gosto dele. Eu até o beijaria na testa se ele algum dia tirasse aquele capacete de motoqueiro.
        — Eles nem casaram e você já está implicando.
        — Mas que implicância? É um ótimo rapaz. Tem uma boa cabeça. Pelo menos eu imagino que seja cabeça o que ele tem debaixo do capacete.
        — É um belo rapaz.
        — E eu não sei? Há quase um ano que ele frequenta a nossa casa diariamente. É como se fosse um filho. Eu às vezes fico esperando que ele me peça uma mesada. Um belo rapaz. Mas por que Varum?
        — E o apelido e pronto.
        — Ah, então é isso. Você explicou tudo. Obrigado.
        — Quanto mais se aproxima o dia do casamento, mais intratável você fica.
        — Desculpe. Eu sou apenas o pai. Um inseto. Me esmigalha. Eu mereço.
        — Aí xará!
        — Ôi, Varum, como vai? A sua noiva está se arrumando. Ela já desce. Senta aí um pouquinho. Tira o capacete...
        — Essa noivinha...
        — Vocês vão ao cinema?
        — Ela não lhe disse? Nós vamos acampar.
        — Acampar? Só vocês dois?
        — É. Qual é o galho?
        — Não. E que... Sei lá.
        — Já sei o que você tá pensando, cara. Saquei.
        — É! Você sabe como é...
        — Saquei. Você está pensando que só nós dois, no meio do mato, pode pintar um lance.
        — No mínimo isso. Um lance. Até dois.
        — Mas qualé, xará. Não tem disso não. Está em falta. Ôi, gatona!
        — Oi, Varum. O que é que você e papai estão conversando?
        — Não, o velho aí tá preocupado que nós dois, acampados pode pintar um lance. Eu já disse que não tem disso.
        — Ô, papai. Não tem perigo nenhum. Nem cobra. E qualquer coisa o Varum me defende. Eu Jane, ele Tarzan.
        — Só não dou o meu grito para proteger os cristais.
        — Vamos?
        — Vamlá?
        — Mas... Vocês vão acampar de motocicleta?
        — De motoca, cara. Vá-rum, vá-rum.
        — Descobri por que ele se chama Varum.
        — O quê? Você quer alguma coisa?
        — Disse que descobri por que ele se chama Varum.
        — Você me acordou só para dizer isto?
        — Você estava dormindo?
        — É o que eu costumo fazer às três da manhã, todos os dias. Você não dormiu?
        — Ainda não. Sabe como é que ele chama ela? Gatona.
        Por um estranho processo de degeneração genética, eu sou pai de uma gatona.
        Varum e Gatona, a dupla dinâmica, está neste momento, no meio do mato.
        — Então é isso que está preocupando você?
        — E não é para preocupar? Você também não devia estar dormindo.
        A gatona é sua também.
        — Mas não tem perigo nenhum!
        — Como, não tem perigo? Um homem e uma mulher, dentro de uma tenda, no meio do mato?
        — O que é que pode acontecer?
        — Se você já esqueceu, é melhor ir dormir mesmo.
        — Não tem perigo nenhum. O máximo que pode acontecer é entrar um sapo na tenda.
        — Ou você está falando em linguagem figurada ou eu é que estou ficando louco.
        — Vai dormir.
        — Gatona. Minha própria filha...
        — Você também tinha um apelido pra mim, durante o nosso noivado.
        — Eu prefiro não ouvir.
        — Você me chamava de Formosura. Pensando bem, você também tinha um apelido.
        — Por favor. Reminiscências não. Comi faz pouco.
        — Kid Gordini. Você não se lembra? Você e o seu Gordini envenenado.
        — Tão envenenado que morreu, nas minhas mãos. Um dia levei num mecânico e disse que a bateria estava ruim. Ele disse que a bateria estava boa, o resto do carro é que tinha que ser trocado.
        — Viu só? E você se queixa do Varum. Kid Gordini!
        — Mas eu nunca levei você para o mato no meu Gordini.
        — Não levou porque meu pai matava você.
        — Hummmm.
        — “Hummmm” o quê?
        — Você me deu uma ideia. Assassinato...
        — Não seja bobo.
        — Um golpe bem aplicado... Na cabeça não porque ela está sempre bem protegida. Sim. Kid Gordini ataca outra vez...
        — O que você tem é ciúme.
        Nisso tudo, tem uma coisa que me preocupa acima de tudo que é o que me tira o sono.
        — O quê?
        — Será que ele tira o capacete para dormir?
        — Bom dia.
        — Bom dia.
        — Eu sou o pai da noiva. Da Maria Helena.
        — Maria Helena... Ah, a Gatona!
        — Essa.
        — Que prazer. Alguma dúvida sobre a cerimônia?
        — Não, Padre Osni. E que...
        — Pode me chamar de Tuco. E como me chamam.
        — Não, Padre Tuco. E que a Ga... A Maria Helena me disse que ela pretende entrar dançando na igreja. O conjunto toca um rock e a noiva entra dançando, é isso?
        — É. Um rock suave. Não é rock pauleira.
        — Ah, não é rock pauleira. Sei. Bom, isto muda tudo.
        — Muitos jovens estão fazendo isto. A noiva entra dançando e na saída os dois saem dançando. O senhor sabe, a Igreja hoje está diferente. É isto que está atraindo os jovens de volta à Igreja. Temos que evoluir com os tempos.
        — Claro. Mas, Padre Osni...
        — Tuco.
        — Padre Tuco, tem uma coisa. O pai da noiva também tem que dançar?
        — Bom, isto depende do senhor. O senhor dança?
        — Agora não, obrigado. Quer dizer, dançava. Até ganhei concurso de chá-chá-chá. Acho que você ainda não era nascido. Mas estou meio fora de forma e...
        — Ensaie, ensaie.
        — Certo.
        — Peça para a Gatona ensaiar com o senhor.
        — Claro.
        — Não é rock pauleira.
        — Certo. Um roquezinho suave. Quem sabe um chá-chá-chá? Não. Esquece, esquece.
        — Você está nervoso, papai?
        — Um pouco. E se a gente adiasse o casamento? Eu preciso uma semana a mais de ensaio. Só uma semana.
        — Eu estou bonita?
        — Linda. Quando estiver pronta vai ficar uma beleza.
        — Mas eu estou pronta.
        — Você vai se casar assim?
        — Você não gosta?
        — É... diferente, né? Essa coroa de flores, os pés descalços...
        — Não é um barato?
        — Um brinde, xará!
        — Um brinde, Varum.
        — Você estava um estouro entrando naquela igreja. Parecia um bailarino profissional.
        — Pois é. Improvisei uns passos. Acho que me sai bem.
        — Muito bem!
        — Não sei se você sabe que eu fui o rei do chá-chá-chá.
        — Do quê?
        — Chá-chá-chá. Uma dança que havia. Você ainda não era nascido.
        — Bota tempo nisso.
        — Eu tinha um Gordini envenenado. Tão envenenado que morreu. Um dia levei no...
        — Tinha um quê?
        — Gordini. Você sabe. Um carro. Varum, varum.
        — Ah.
        — Esquece.
        — Um brinde ao sogro bailarino.
        — Um brinde. Eu sei que vocês vão ser muito felizes.
        — O que é que você achou da minha beca, cara?
        — Sensacional. Nunca tinha visto um noivo de macacão vermelho, antes. Gostei. Confesso que quando entrei na igreja e vi você lá no altar, de capacete...
        — Vacilou.
        — Vacilei. Mas aí vi que o Padre Tuco estava de boné e pensei, tudo bem. Temos que evoluir com os tempos. E ataquei meu rock suave.

                 VERÍSSIMO, Luís Fernando. In: Para gostar de ler.
São Paulo, Ática, 1994. v. 13, p. 71-6.
Entendendo o conto:
01 – Ao conversar com o pai a respeito do casamento, a filha afirma querer um casamento tradicional, no entanto não é exatamente isso o que ocorre. Selecione do texto pelo menos três detalhes que provam que o casamento não foi tradicional.
      Sugestão: A música ser tocada com sintetizador, baixo e guitarra; a noiva casar descalça; o noivo usar macacão vermelho; o pai e a noiva entrarem na igreja dançando rock; o padre celebrar o casamento usando um boné.

02 – O pai tem uma curiosidade: saber por que seu futuro genro é chamado de Varum. Explique o porquê de tal apelido e transcreva o trecho em que você se baseou para dar sua resposta.
      Porque o rapaz sempre andava de moto e o barulho do motor é vá-rum. O apelido é, na verdade, uma onomatopeia. O trecho é: “—Mas... Vocês vão acampar de motocicleta? – de motoca, cara. Vá-rum, vá-rum”.

03 – Durante a conversa que mantém com o padre, qual a grande preocupação do pai?
      Ele está preocupado porque terá que entrar dançando na igreja.

04 – Como o pai da noiva se saiu no casamento? Que fala do noivo comprovaria isso?
      O pai da noiva saiu-se bem ao entrar na igreja dançando. A fala do noivo que mostra isso é: “Um brinde ao sogro bailarino”.

05 – Embora o texto todo seja formado por diálogos em linguagem coloquial, há momentos em que a linguagem se torna muito mais informal. Que momentos são esses? Por que isso ocorre?
      São os momentos em que Varum fala. Isso ocorre porque Varum é jovem e usa gírias e também porque ele tem intimidade com o pai de Maria Helena.

06 – Selecione um trecho que sirva para comprovar que a linguagem do texto chega a ser bastante informal, havendo inclusive a presença de gírias.
      “Já sei o que você tá pensando, cara. Saquei”.

07 – Procure refazer o diálogo inicial entre Varum e seu sogro, usando uma linguagem menos informal.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – O fato de Maria Helena dizer que queria um casamento tradicional fez com que seu pai pensasse que o desejo da filha era ter um casamento parecido com o dele. No entanto, não era essa ideia de “tradicional” que ela tinha em mente. Na sua opinião, as tradições devem ser mantidas ou os costumes devem ser modernizados? Explique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.